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Nossa pesquisa se divide em duas etapas, das quais a primeira está concluída: avaliar as
diferentes possibilidades de adaptação narratológica de textos verbais para a linguagem
quadrinística, respeitadas as especificidades de cada um desses sistemas semióticos. A
segunda etapa consiste na análise das diferentes formas de mediação e de recepção das
adaptações literárias quadrinizadas nas escolas de Fortaleza, bem como as formas de
construção do sentido mobilizadas em torno desse objeto. Para essa segunda etapa,
visamos a “percepção narratológica” da recepção em relação ao objeto analisado. Isso
significa que certas convenções ditas narratológicas são tão susceptíveis a processos de
ressignificação por parte da recepção quanto o são os códigos e os textos. Em suma: a
percepção dos modos de contar de uma história (ficcional ou factual) depende das
diversas competências dos sujeitos sociais. Obviamente, essa percepção depende também
do projeto pedagógico adotado por cada escola e da postura do professor em sala de aula,
o que nos leva a outra questão: a linguagem quadrinística é vista nas escolas apenas como
uma forma (simplista ou simplória) de transmissão de conteúdos ficcionais para os alunos
ou é percebida como uma técnica de informação e de comunicação que pode ser
trabalhada com os alunos? Neste caso, vamos nos valer das ideias de autores como
Gregory Bateson e Eliseo Verón a respeito das imagens de si e do outro nas superfícies
textuais desses textos, a fim de percebermos se os alunos são convidados a participar de
uma interação simétrica ou se sua relação com o material adotado é uma relação
complementar.
O ponto de partida de nossa análise teórica foi construído a partir de dois autores:
Gérard Genette (s.d., 1983), cujos conceitos narratológicos (frequência, modo, voz etc.)
são resgatados, revisitados, questionados e/ou aprofundados particularmente por André
Gaudreault (no âmbito cinematográfico) e Albert Laffay (1966), que apresenta pela
primeira vez o conceito de “mostrador de imagens”. Na esfera quadrinística, autores como
Groensteen (2011), Miller (2007), Varillas (2009) e Munilla (2004) retomam a
conceituação de Genette e/ou questionam e/ou adaptam-na. Há ainda as obras de Matt
Madden (2006), que exemplificam, a partir dos Exercícios de Estilo de Raymond
Queneau, diferentes modos de narrar (ou melhor: mostrar) quadrinisticamente uma
mesma história, e de Caraballo (2010) que propõem uma narratologia visual específica
aos quadrinhos.
A partir do material adotado nas escolas, passaremos à etapa de discussões com alunos e
professores em seis instituições de ensino médio da cidade de Fortaleza (três públicas e
três privadas), ora individualmente, ora com uso de grupo focais (BAUER & GASKELL,
2002; DUARTE & BARROS, 2006), a fim de avaliar os modos de percepção (gêneros,
personagens, estruturas narrativas, aspectos narratológicos) desses agentes sociais. Sendo
assim, será necessária também uma revisão crítica das teorias e estudos de recepção e
mediação, a partir de algumas obras que as apresentam ou as revisitam (por exemplo,
DAYAN, 1997; ESCOSTEGUY & JACKS, 2005; ESQUENAZI, 2006;
NIGHTINGALE, 1999; OROZCO GÓMEZ, 2006; OROZCO GÓMEZ & GONZÁLEZ
REYES, 2012; SAINTOUT & FERRANTE, 2006). A partir daí, serão mais bem
delimitados os aspectos principais desse processo de interação junto a estudantes e
professores.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA