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ABSTRACT:This paper aims at giving an account of the results of a research based on the interaction between
Faculdades de Taquara – Faccat and the City Department of Education from Igrejinha, in RS. During the year
of 2006, municipal teachers and Faccat professors developed a research based on “terror and mystery tale” text
genre, which was put into practice with 7° grade students. The research indicates the advantages of a theoretical
conception worried about the teaching and learning of text genres instead of typological aspects. It also points
out how good the interchange between college institutions and municipal schools can be.
1. Introdução
1
Este trabalho contou com a colaboração especial das professoras Andrea Jaqueline Konrath e Fabiana Fischer,
da E. M. E. F. Machado de Assis, de Igrejinha-RS. Na Secretaria de Educação, as responsáveis pelo trabalho
foram Sigrid Becker e Flávia Corso.
O trabalho em questão, iniciado em março de 2006, tomou como base a proposta de
ensino de gêneros textuais em seqüências didáticas de Schneuwly e Dolz (2004). Nos
encontros do primeiro semestre, que eram realizados mensalmente, foram discutidos,
inicialmente, com os 30 professores envolvidos, textos teóricos sobre gêneros, como o de
Marcuschi (2002) e o de Schneuwly e Dolz (2004). Em seguida, foram elaboradas, a partir do
trabalho de Campani (2005), atividades para uma seqüência didática com o gênero textual
conto humorístico infantil. Já no segundo semestre, o grupo resolveu investir na preparação de
uma seqüência sobre um outro gênero, o conto de terror e mistério. São os resultados da
experiência com esse gênero textual que procuramos dividir com o leitor neste artigo.
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As idéias da teoria do ISD podem ser encontradas, entre outros trabalhos, em Bronckart (1999).
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O tempo de duração das oficinas e da seqüência fica a critério do professor.
3. A modelização do gênero
Após estudar essa proposta de trabalho, nosso grupo passou a organizar a construção
da seqüência didática sobre o gênero escolhido para os alunos de 7ª série do referido
município. Para isso, foi necessária uma pesquisa sobre o gênero em questão. Ele foi
escolhido devido ao desejo dos próprios alunos, que revelaram interessar-se por terror e
mistério. Após uma seleção de textos feita por todo o grupo, começaram a surgir os primeiros
desafios: quais seriam, de fato, as características do gênero? O que poderíamos chamar de
histórias de terror e mistério?
Logo de início, descartamos todas as narrativas relacionadas à solução de misteriosos
assassinatos, que pertencem à literatura policial. Porém, algumas dúvidas persistiram: essas
histórias teriam como característica básica a presença do elemento sobrenatural? Ou seriam
elementos fundamentais os crimes cometidos por personagens doentias, obsessivas,
fascinadas pela morte? O próprio nome do gênero suscitou questionamentos: “contos de
terror”, “contos de mistério”, ou “contos de terror e mistério”? Embora alguns autores façam
uma distinção entre esses elementos, a partir das discussões das oficinas, considerando
questões pedagógicas e a série a que se destinava o trabalho, resolvemos proporcionar aos
alunos a leitura de textos que tivessem algum desses elementos — crimes ou elementos
sobrenaturais — ou os dois juntos. Entendemos que as duas situações suscitam no leitor
sustos, horror e medo e levam-no a refletir sobre situações além da vivência cotidiana ou da
imaginação (NICOTTI, GONZAGA E GONZAGA, 2006).
Além dessas características específicas, é importante ressaltar algumas características
que o gênero em questão possui em comum com outros gêneros mais próximos a ele: o
gênero em questão, de acordo com a proposta de Schneuwly e Dolz (2004) pertencente ao
agrupamento do narrar, que se relaciona à cultura literária ficcional. O gênero, como as
demais narrativas ficcionais, apresenta uma seqüência narrativa de ações imaginárias como se
fossem reais, envolvendo personagens em um determinado tempo e em um determinado
espaço. Entretanto, é preciso ressaltar que a construção das descrições espaciais, nesse caso,
tem um papel crucial para a sugestão do clima de mistério e suspense.
De acordo com Gotlib (1985), o conto é uma forma narrativa breve, em que o autor
economiza meios narrativos, mediante, por exemplo, contração de impulsos e condensação de
recursos. Todos os elementos que não estiverem relacionados à conquista do efeito único para
atrair a atenção do leitor devem ser suprimidos. Ainda de acordo com autora, a brevidade,
característica presente em todas as tentativas de definição do conto, não tem a ver
propriamente e simplesmente com o tamanho do texto. A questão estaria ligada, sim, a
provocar ou não impacto no leitor. Assim, para a autora, a base diferencial do conto é a sua
contração: a condensação da matéria para que apenas os melhores momentos sejam
apresentados.
Para a construção das oficinas, combinamos que o trabalho realizado não seria,
necessariamente, o mesmo para todas as professoras. Todas realizariam as produções inicial e
final, mas as oficinas poderiam ser diferenciadas. Entretanto, sugerimos algumas atividades
que abordariam os seguintes aspectos:
5. Resultados parciais
Já nas produções finais, isso não mais ocorreu, já que os alunos, a partir das atividades
propostas pelas professoras, souberam criar espaço, tempo, personagem e ação conforme as
características do gênero estudado, o que comprova que os alunos, conhecendo o gênero, vão
conseguir lançar mão de sua criatividade, sem precisar recorrer a estereótipo.
6. Considerações finais
RECADO DE FANTASMA
Flávia Muniz
Tudo começou quando nos mudamos para aquela casa. Era um antigo sobrado, com uma
grande varanda envidraçada e um jardim. Eu me sentia tão feliz em morar num lugar espaçoso
como aquele, que nem dei atenção aos comentários dos vizinhos, com quem fui fazendo
amizade. Eles diziam que a casa era mal-assombrada. Alguns afirmavam ouvir alguém
cantando por lá às sextas-feiras.
— Deve ser coisa de fantasma! — falavam.
— Se existe, nunca vi! — E então contava a eles que as casas antigas, como aquela, com
revestimentos e assoalho de madeira, estalam por causa das mudanças de temperatura. Isso é
um fenômeno natural, conforme meu pai havia me explicado. Mas meus amigos não se
convenciam facilmente. Apostavam que mais dia menos dia eu levaria o maior susto.
Certa noite, três anos atrás, aconteceu algo impressionante. Meus pais haviam saído e eu
fiquei em casa com minha irmã, Beth. Depois do jantar, fui para o quarto montar um quebra-
cabeça de 500 peças, desses bem difíceis.
Faltava um quarto para a meia-noite. Eu andava à procura de uma peça para terminar a
metade do cenário quando senti um ar gelado bem perto de mim. As peças espalhadas pelo
chão começaram a tremer. Vi, arrepiado, cinco delas flutuarem e depois se encaixarem bem
no lugar certo. Fiquei tão assustado que nem consegui me mexer. Só quando tive a impressão
de ouvir passos se afastando é que pude gritar e sair correndo escada abaixo. Minha irmã
tentou me acalmar, dizendo que tudo não passava de imaginação, mas eu insisti e implorei
que ela viesse até o quarto comigo. Uma segunda surpresa me esperava: o quebra-cabeça
estava montado, formando a imagem de uma casa com um jardim bem florido. No entanto,
meu jogo formava o cenário de uma guerra espacial, eu tinha certeza!
No dia seguinte, fui até a biblioteca pesquisar o tema. Eu e Beth encontramos dúzias de
livros que tratavam de fatos extraordinários e aparições.
E a explicação para eventos desse tipo foi a seguinte:
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*
Hoje minha casa tem o jardim mais bonito da rua. Centenas de lindas margaridas
brancas florescem a maior parte do ano (para total espanto da vizinhança). O fantasma?
Nunca mais vi. Decerto passeia feliz pelo jardim, nas noites de lua cheia.
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2- O sobrado passa por uma transformação depois dos fatos ocorridos. Faça o mesmo que no exercício
anterior, porém agora contemplando a descrição do local feita ao final do texto.
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3- Que características do personagem principal podemos perceber no texto? Escreva-as nos quadrinhos
abaixo, justificando cada característica dada com passagens do texto.
Característica:_________________
Passagem do texto:
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Característica:_________________
Passagem do texto:
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4- No texto, não encontramos o nome do personagem principal. Que nome você daria a ele? Por quê?
1- 2-
3- 4-
5-
7- O texto apresenta fatos em seqüência. Complete o quadro abaixo de modo a resumir os
acontecimentos narrados.
9- Por que, no segundo e no terceiro parágrafo, usa-se o travessão? De quem são aquelas vozes?
10- Quanto tempo se passa desde o momento em que o fato impressionante aconteceu até o momento
em que o narrador conta os fatos?
11- O que, na sua opinião, era o “ar gelado” que o narrador sentiu bem perto de si?
12- Faça um levantamento de todos os fenômenos sobrenaturais que são mencionados no texto.
Nas histórias de terror e mistério, o espaço em que ocorrem os fatos narrados é muito importante
e contribui de maneira significativa para sugerir ao leitor o suspense e o mistério que o autor deseja
criar. Observe o fragmento abaixo, do conto “Venha ver o pôr-do-sol”, de Lygia Fagundes Telles:
“Ela subiu sem pressa a tortuosa ladeira. À medida que avançava, as casas iam rareando,
modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos baldios. No meio da rua sem
calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas crianças brincavam de roda. A débil
cantiga era a única nota viva na quietude da tarde.
(...)
– Podia ter escolhido um outro lugar, não? – Abrandara a voz. – E que é isso aí? Um cemitério?
Ele voltou-se para o velho muro arruinado. Indicou com o olhar o portão de ferro, carcomido
pela ferrugem.”
2- Agora, compare a descrição apresentada no primeiro exercício com a seguinte e, após, faça o que se
pede:
“Ela subiu sem pressa a bela ladeira. À medida que avançava, as casas iam ficando mais luxuosas. No
meio das ruas asfaltadas e seguras, as crianças brincavam tranqüilamente naquele belo dia de sol. A
animada cantiga misturava-se ao som dos pássaros e do movimento das árvores.”
a) Desenhe como você imagina o espaço em que ocorrem as ações narradas a partir das duas
descrições feitas:
Descrição 1: Descrição 2:
b) O que você percebe comparando essas duas descrições? Qual delas sugere maior mistério desde o
início ao leitor? Por quê?
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c) O que você concluiu, então, sobre a descrição do espaço nas narrativas de terror e mistério?
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3- Nos fragmentos abaixo, procure dar às descrições de espaço um tom de maior mistério,
completando as lacunas4:
c) Numa das ruas que davam na pracinha de Belém, na antiga cidade de Huaraz, havia uma casa dos
tempos coloniais que sempre estava ............................... e que vivia cercada de..............................
Diziam que estava repleta de ..................................., que era uma casa............................... (“O tesouro
enterrado”)
3- Agora faça o contrário. Reelabore os fragmentos abaixo, tirando a sua sugestão de mistério.
a) Nessa mesma noite, enquanto Maria Angula e o marido dormiam, escutaram-se uns gemidos nas
redondezas. Ela acordou sobressaltada. O vento zumbia misteriosamente nas janelas, sacudindo-as, e
de fora vinham uns ruídos muito estranhos, de meter medo a qualquer um. (“Maria Angula”).
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b) Pararam diante de uma capelinha coberta de alto a baixo por uma trepadeira selvagem, que a
envolvia num furioso abraço de cipós e folhas. A estreita porta rangeu quando ele a abriu de par em
par. A luz invadiu um cubículo de paredes enegrecidas, cheias de estrias de antigas goteiras. (“Venha
ver o pôr-do-sol”).
4
Os dois primeiros excertos foram adaptados do texto de Oscar Wilde, e os demais foram retirados de contos da
obra de Gonzalez (1998).
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5- Muitas vezes também um simples ato de um personagem, como um encontro amoroso, uma noite
de sono ou uma refeição, por exemplo, podem suscitar muito mistério. Transforme os seguintes atos
dos personagens em ações de muito mistério, a partir da descrição de espaço que sugira esse mistério.
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BRONCKART, Jean Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos. São Paulo: Educ,
1999.
CAMPANI, Daiana. Questões para além da didatização do gênero: um olhar para o ensino de
pontuação em seqüência didática sobre o gênero textual conto humorístico infantil.
Dissertação de Mestrado. São Leopoldo: UNISINOS, 2005.
GONZALEZ, Neide T. Maia (Org). Contos de assombração. São Paulo: Ática, 1998.
GOTLIB, Nádia Batella. Teoria do conto. São Paulo: Ática, 1985.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO,
Ângela Paiva, MACHADO; Anna Rachel, BEZERRA; Maria Auxiliadora. Gêneros textuais e
ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002, p. 19-36.
MUNIZ, Flávia. Recado de fantasma. Nova Escola: Edição Especial – Contos para crianças e
adolescentes. n. 153. São Paulo: Abril, jun-jul 2002.
NICOTTI, João Armando; GONZAGA, Sergius; GONZAGA, Pedro (Org.). Contos de
misterio e morte. Porto Alegre: Leitura XXI, 2006.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim et al. Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas: Mercado das Letras, 2004
Texto publicado no CD do 4º SIGET, Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais, em Tubarão, SC,
em agosto de 2007.