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Apresentação
As trajetórias circulares são facilmente encontradas num parque de diversões, como na roda-
gigante, e algumas vezes na montanha-russa, com o looping. Para descrever a trajetória, é preciso
analisar a maneira que um objeto varia a sua posição.
Nesta Unidade de Aprendizagem, vamos aprofundar nossos conhecimentos sobre uma importante
grandeza da Física: a velocidade.
Bons estudos.
MECÂNICA
Wolfgang Bauer
Gary D. Westfall
Helio Dias
B344f Bauer, Wolfgang.
Física para universitários [recurso eletrônico] : mecânica /
Wolfgang Bauer, Gary D. Westfall, Helio Dias ; tradução: Iuri
Duquia Abreu, Manuel Almeida Andrade Neto ; revisão técnica:
Helio Dias. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012.
CDU 531
(9.1)
= tg–1(y/x). (9.2)
A transformação inversa, de polar para cartesiana, é dada por (veja Figura 9.4)
x = r cos (9.3)
y = r sen . (9.4)
Capítulo 9 Movimento Circular 281
Também podemos verificar que esses dois vetores unitários têm comprimento de 1, como re-
querido:
Como a posição linear x, o ângulo pode ter valores positivos e negativos, Entretando, é
periódico; uma volta completa ao redor do círculo (2 rad ou 360º) retorna a coordenada de
no mesmo ponto no espaço. Exatamente como o deslocamento linear, Dx, é definido para ser
a diferença entre duas posições, x2 e x1, o deslocamento angular, D, é a diferença entre dois
ângulos:
D = 2 – 1.
282 Física para Universitários: Mecânica
y Um ponto tem a localização dada em coordenadas cartesianas (4, 3), como mostrado na Figura 9.5.
3 P
(4,3) PROBLEMA
2 Como representamos a posição desse ponto em coordenadas polares?
r
1 SOLUÇÃO
Usando a equação 9.1, podemos calcular a coordenada radial:
x
0
0 1 2 3 4
Figura 9.5 Um ponto localizado em
(4, 3) no sistema coordenado carte- Usando a equação 9.2 podemos calcular a coordenada angular:
siano.
= tg–1 (y/x) = tg–1 (3/4) = 0,64 rad = 37°.
Portanto, podemos expressar a posição do ponto P em coordenadas polares como (r, ) = (5,0,64
rad) = (5,37°). Note que podemos especificar a mesma posição adicionando (qualquer múltiplo
inteiro de) 2 rad, ou 360º, a :
(r, ) = (5,0,64 rad) = (5,37°) = (5,2 rad + 0,64 rad) = (5,360° + 37°).
Comprimento de arco
A Figura 9.3 também mostra (em verde) o caminho sobre a circunferência do círculo pela pon-
9.1 Pausa para teste ta do vetor indo do ângulo zero até . Esse caminho é chamado de comprimento do arco, s. O
Use coordenadas polares e cál- comprimento do arco está relacionado ao raio e ao ângulo por
culo para mostrar que a circun-
ferência de um círculo com raio s = r (9.7)
R é 2R. Para resolver numericamente essa relação, o ângulo deve ser medido em radianos. O fato é
que a circunferência do círculo 2r é um caso especial da equação 9.7 com = 2 rad, cor-
respondendo a uma volta completa ao redor do círculo. O comprimento do arco tem a mesma
unidade do raio.
9.2 Pausa para teste Para pequenos ângulos, medindo um grau ou menos, o seno do ângulo é aproximada-
Use coordenadas polares e cál- mente (para quatro algarismos significativos) igual ao ângulo medido em radianos. Devido a
culo para mostrar que a área de esse fato, bem como a necessidade do uso da equação 9.7 para resolver problemas, a unidade
um círculo com raio R é R2. preferida para as coordenadas angulares é o radiano. Mas o uso de graus é comum, e este livro
usa ambas as unidades.
r2 A trilha sobre um disco compacto (CD) é representada na Figura 9.6. A trilha é uma espiral ini-
ciando no raio mais interno r1 = 25 mm e terminando no raio mais externo r2 = 58 mm. O espaça-
mento entre sucessivas curvas da trilha é uma constante, Dr = 1,6 mm.
PROBLEMA
r1 Qual é o comprimento total dessa trilha?
Dr
Agora temos que multiplicar essa circunferência média pelo número de círculos para obter nosso
resultado:
Satisfatoriamente, essa solução baseada em cálculo concorda com a solução que obtivemos sem o
uso do cálculo. Você pode pensar que as condições tinham de ser encontradas para permitir o uso
do cálculo nesse caso. (Para um DVD, a propósito, a densidade de trilha é mais alta por um fator
de 2,2, resultando em uma trilha que mede quase 12 km.)
A Figura 9.7 mostra uma pequena porção das trilhas de dois CDs, com um aumento de 500
vezes. A Figura 9.7a mostra um CD prensado de fábrica com as saliências individuais de alumínio
visíveis. Na Figura 9.7b está um CD de leitura/gravação, o qual é queimado quando um laser induz
uma variação de fase na trilha contínua. A porção inferior direita desta figura mostra uma parte do
CD na qual nada ainda foi gravado.
(Trilha) (Trilha)
50 m 50 m
(a) (b)
Figura 9.7 Imagens microscópicas (aumento 500x) de (a) um CD prensado de fábrica e (b) um CD de leitu-
ra/gravação. A linha sólida indica a direção das trilhas.
Essa definição usa a notação 1 ≡ (t1) e 2 ≡ (t2). A barra horizontal acima do símbolo para
a velocidade angular, outra vez, indica um tempo médio. Tomando o limite dessa expressão, à
Direção da
medida que o intervalo de tempo se aproxima de zero, achamos o valor instantâneo da veloci-
velocidade dade angular:
angular Direção de
rotação
(9.8)
A unidade mais comum para velocidade angular é radianos por segundo (rad/s); graus por
segundo, geralmente, não é usado.
A velocidade angular é um vetor. Sua direção é aquela de um eixo através do centro do
caminho circular e perpendicular ao plano do círculo. (Esse eixo é um eixo de rotação, como
discutiremos em maiores detalhes no Capítulo 10.) Essa definição permite duas possibilidades
para a direção na qual o vetor pode apontar: para cima ou para baixo, paralela ou antiparale-
Figura 9.8 A regra da mão direita
la ao eixo de rotação. A regra da mão direita nos ajuda a decidir qual é a correta direção: quan-
para determinar a direção do vetor
velocidade angular.
do os dedos apontam na direção de rotação ao longo da circunferência do círculo, o polegar
aponta na direção de , como mostrado na Figura 9.8.
A velocidade angular mede o quanto varia o ângulo no tempo. Uma outra quantidade
também especifica o quanto varia esse ângulo no tempo – a frequência angular, ou simples-
mente frequência, f. Por exemplo, o número de rpm no tacômetro, em seu carro, indica quanto
tempo por minuto o motor faz seu ciclo e, assim, especifica a frequência de rotação do motor.
A Figura 9.9 mostra um tacômetro, com as unidades especificadas como “1/minuto x 1.000”; o
motor atinge a faixa vermelha em 6.000 rotações por minuto. Assim, a frequência, f, mede ci-
clos por unidade de tempo, em vez de radianos por unidade de tempo, como mede a velocidade
angular. A frequência está relacionada à velocidade angular, , por
(9.9)
Essa relação tem sentido, porque uma volta completa ao redor de um círculo requer uma va-
Figura 9.9 O tacômetro de um carro
riação de ângulo de 2 rad. (Seja cuidadoso – ambas, frequência e velocidade angular, têm a
mede a frequência (em ciclos por mi-
nuto) de rotação do motor.
mesma unidade inversa de segundos e podem ser facilmente confundidas.)
Devido à unidade inversa de segundo ser muito usada, foi dado a ela um nome próprio: o
hertz (Hz), nome do físico alemão Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894). Assim, 1 Hz = 1 s-1. O
período de rotação, T, é definido como o inverso da frequência:
(9.10)
O período mede o intervalo de tempo entre duas sucessivas instâncias, onde o ângulo tem o
mesmo valor; isto é, o tempo que leva para passar uma vez ao redor do círculo. A unidade para
o período é a mesma do tempo, ou seja, o segundo (s). Dadas as relações entre período e fre-
quência e frequência e velocidade angular, obtemos também
(9.11)
Agora podemos usar o fato de que, para o movimento ao longo de um círculo, a distância r à
origem não varia no tempo, mas é constante. Isso resulta em
Capítulo 9 Movimento Circular 285
Lembre-se de que essa relação considera somente os módulos das velocidades linear e angular. a) 0,197 rad/s d) 19,7 rad/s
Seus vetores apontam em direções diferentes e, para o movimento circular, são perpendiculares b) 1,24 rad/s e) 215 rad/s
entre si, com apontando na direção do eixo de rotação e tangencial ao círculo.
c) 5,08 rad/s
PROBLEMA
A Terra orbita o Sol e também gira sobre seu próprio eixo. Quais são as velocidades angulares, as
frequências e as velocidades lineares desses movimentos?
SOLUÇÃO
Qualquer ponto sobre a superfície da Terra se move em movimento circular ao redor do eixo de
rotação (de polo a polo), com um período de rotação de 1 dia. Expresso em segundos, esse período é
A Terra se move ao redor do Sol sobre uma trajetória elíptica, muito próxima de uma trajetória
circular. Então, vamos tratar a órbita da Terra como um movimento circular. O período orbital
para o movimento da Terra ao redor do Sol é 1 ano. Expressando esse período em segundos, temos
Ambos os movimentos circulares têm velocidade angular constante. Assim, podemos usar T = 1/f
e = 2f para obter as frequências e velocidades angulares:
Continua →
286 Física para Universitários: Mecânica
Note que o período de 24 horas que usamos como duração de um dia é quanto tempo leva o Sol
para atingir a mesma posição no céu. Se quiséssemos especificar as frequências e as velocidades
angulares com maior precisão, teríamos que usar o dia sideral, porque a Terra também está se mo-
vendo ao redor do Sol durante cada dia, ou o tempo que a Terra leva, de fato, para completar uma
rotação e trazer as estrelas para as mesmas posições no céu noturno. Esse é o dia sideral, com 23 h:
56 min e um pouco mais de 4 s, ou 86.164,09074 s = (1 – 1/365,2425) ⋅ 86.400 s. (Usamos o fato de
que leva uma fração de dia a mais do que os 365 para completar uma órbita ao redor do Sol – esse
é o porquê da necessidade de anos bissextos.)
Polo Norte Agora, vamos encontrar a velocidade linear na qual a Terra orbita o Sol. Por estarmos assu-
mindo um movimento circular, a relação entre a velociade orbital e a velocidade angular é dada
por v = r. Para ter nossa resposta, precisamos saber o raio da órbita. O raio dessa órbita é a dis-
r tância Terra-Sol, rTerra-Sol = 1,49 ⋅ 1011 m. Portanto, a velocidade orbital linear – a velocidade com a
qual a Terra se move ao redor do Sol – é
R
v = r = (1,49 ⋅ 1011 m)(1,99 ⋅ 10–7 s–1) = 2,97 ⋅ 104 m/s
Isso é acima de 66.000 mph!
Agora, podemos achar a velocidade de um ponto sobre a superfície da Terra que rotaciona
Equador em relação ao seu próprio centro. Notamos que pontos em diferentes latitudes têm diferentes
distâncias ao eixo de rotação, como mostrado na Figura 9.11. No equador, o raio de órbita é r =
RTerra = 6.380 km. Longe do Equador, o raio de rotação, como uma função do ângulo de latitude,
é r = RTerra cos ; veja a Figura 9.11. (A letra teta, , em manuscrito, é usada aqui para o ângulo
de latitude, a fim de evitar confusão com , o qual é usado para o movimento circular.) Em geral,
Polo Sul
obtemos a seguinte fórmula para a velocidade de rotação:
O valor instantâneo da aceleração angular é obtido pelo limite, na medida em que o tempo se
aproxima de zero:
(9.14)
Da mesma forma como relacionamos a velocidade linear à velocidade angular, podemos tam-
bém relacionar a aceleração tangencial à aceleração angular. Iniciamos com a definição do ve-
tor aceleração linear como a derivada temporal do vetor velocidade linear. Então, substituímos
a expressão para a velocidade linear no movimento circular da equação 9.12:
(9.15)
velocidade; essa é a aceleração tangencial. A segunda parte é devido ao fato de que o vetor y !0
velocidade sempre aponta na direção tangencial e tem que variar, assim, sua direção conti-
v
nuamente, à medida que a ponta do vetor posição radial se move ao redor do círculo; essa é a
aceleração radial. atr̂
a
Vamos olhar as duas componentes individualmente. Primeiro, podemos calcular a deriva-
da em relação ao tempo da velocidade linear, v, usando a relação entre a velocidade linear e a acrˆ
r
velocidade angular da equação 9.13 e, outra vez, invocando a regra do produto: x
(a)
Por r ser constante para o movimento circular, dr/dt = 0, e o primeiro termo na soma no lado y #0
direito é zero. Da equação 9.14, d/dt = , e, então, o segundo termo na soma é igual a r. As-
v
sim, a variação na velocidade está relacionada à aceleração angular por
(9.16) a
r
Entretanto, o vetor aceleração da equação 9.15 também tem uma segunda componente, propor- x
cional à derivada temporal do vetor tangencial unitário. Para essa quantidade, achamos
(b)
y "0
acrˆ atr̂
Portanto, encontramos que a derivada temporal do vetor tangencial unitário aponta na direção
r a
oposta daquela do vetor radial unitário. Com esse resultado, podemos, finalmente, escrever
x
para o vetor aceleração linear na equação 9.15
(t) = r – v (9.17) (c)
De novo, para o movimento circular, o vetor aceleração tem duas componentes físicas Figura 9.12 Relações entre a acele-
(Figura 9.12): a primeira resulta da variação na velocidade e aponta na direção tangencial, e a ração linear, aceleração centrípeta e
segunda, vem da variação contínua da direção do vetor velocidade e aponta na direção radial aceleração angular para (a) um au-
negativa, em direção ao centro do círculo. Esta segunda componente está presente mesmo se o mento de velocidade, (b) velocidade
movimento circular proceder com velocidade constante. Se a velocidade angular é constante, constante e (c) uma diminuição na
a aceleração angular tangencial é zero, mas o vetor velocidade ainda varia a direção continua- velocidade.
mente, conforme o corpo se move em seu caminho circular. A aceleração que varia a direção
do vetor velocidade sem variar seu módulo é frequentemene chamada de aceleração centrípe-
ta (centrípeta significa “procurando o centro”) e está apontada para dentro na direção radial.
Assim, podemos escrever a equação 9.17 para a aceleração de um corpo em movimento circu-
lar como a soma da aceleração tangencial com a aceleração centrípeta:
= at – a c . (9.18)
O valor da aceleração centrípeta é
(9.19)
A primeira expressão para a aceleração centrípeta na equação 9.19 pode ser simplesmente lida
da equação 9.17 como o coeficiente do vetor unitário apontando na direção radial negativa. As
segunda e terceira expressões para a aceleração centrípeta seguem, então, da relação entre as
velocidades linear e angular e o raio (equação 9.13).
Para o valor da aceleração no movimento circular, temos, assim, das equações 9.17 e 9.19,
(9.20)
288 Física para Universitários: Mecânica
Painel de controle e
Porta de acesso interface do usuário
Dissipador
de calor
PROBLEMA
Se você quer gerar 840.000 g de aceleração centrípeta em uma amostra que gira a uma distância de
23,5 cm do eixo de rotação da ultracentrífuga, qual é a frequência que você precisa programar nos
controles? Qual é a velocidade linear com a qual a amostra está, então, se movendo?
SOLUÇÃO
A aceleração centrípeta é dada por ac = 2r e a velocidade angular está relacionada à frequência
pela equação 9.11: = 2f. Assim, a relação entre a frequência e a aceleração centrípeta é ac =
(2f)2 r, ou
Outros tipos de centrífugas chamadas de centrífugas a gás são usadas no processo de en-
riquecimento de urânio. Nesse processo, os isótopos 235U e 238U, que diferem em massa por
pouco mais de 1%, são separados. Urânio natural contém mais do que 99% do inócuo 238U.
Mas se o urânio é enriquecido para conter mais do que 90% de 235U, ele pode ser usando em
armas nucleares. As centrífugas a gás usadas no processo de enriquecimento precisam girar a
aproximadamente 100.000 rpm, o que resulta em uma incrível tensão sobre os mecanismos e
materiais dessas centrífugas e as faz muito difíceis de projetar e fabricar. A fim de impedir a
proliferação de armas nucleares, o projeto dessas centrífugas é um segredo cuidadosamente
guardado.
Capítulo 9 Movimento Circular 289
Isso quer dizer que um tocador de CD tem que retardar a taxa de rotação do disco durante sua 9.5 Pausa para teste
execução. A aceleração angular média durante esse processo é
Como a aceleração centrípeta
de um CD, que está girando num
tocador, se compara à sua acele-
ração tangencial?
9.3 Exercícios vimento circular. Ela tem que apontar para dentro, em direção ao centro do círculo. Seu valor
de sala de aula é o produto da massa do corpo pela aceleração centrípeta requerida para forçá-lo ao caminho
circular:
Você está sentado num carrossel
que está em movimento. Onde
você deveria sentar de modo (9.21)
que a maior força centrípeta es-
tivesse atuando sobre você? Para chegarmos à equação 9.21, simplesmente escrevemos a aceleração centrípeta em termos
a) Perto da borda exterior. de velocidade linear v, a velocidade angular, , e o raio r, com na equação 9.19, e multiplicamos
pela massa do corpo forçado para um caminho circular pela força centrípeta.
b) Perto do centro. A Figura 9.14 mostra uma vista de cima de uma mesa girante com três fichas de pôquer
c) No meio. idênticas (exceto pela cor) sobre ela. A ficha preta está localizada perto do centro, a ficha ver-
melha perto da borda externa e a ficha azul no meio delas. Se girarmos a mesa vagarosamente,
d) A força é a mesma em qual-
quer lugar.
como na parte (a), todas as três fichas estarão em movimento circular. Nesse caso, a força de
atrito estático entre a mesa e as fichas fornece a força centrípeta requerida para manter as fi-
chas em movimento circular. Nas partes (b), (c) e (d), a mesa está girando progressivamente
mais rápido. Uma velocidade angular mais alta significa uma maior força centrípeta, de acordo
com a equação 9.21. As fichas deslizam quando a força de atrito não é grande o suficiente para
fornecer a força centrípeta necessária. Como você pode ver, a ficha mais externa desliza para
fora primeiro e a mais interna por último. Isso claramente indica que, para uma dada veloci-
dade angular, a força centrípeta aumenta com a distância em relação ao centro. A equação 9.21
na forma Fc = m2r pode explicar esse comportamento observado. Todos os pontos sobre a
superfície da mesa girante têm a mesma velocidade angular, , porque todos levam o mesmo
tempo para completar uma revolução. Assim, para as três fichas de pôquer, a força centrípeta é
proporcional à distância em relação ao centro, explicando por que a ficha vermelha desliza para
fora primeiro e a preta por último.
Pêndulo cônico
A Figura 9.15 é uma foto do Wave Swinger, um brinquedo num parque de diversões. As pessoas
se sentam em cadeiras que são suspensas por longas correntes de um disco sólido. No começo
da diversão, as correntes pendem direto para baixo, mas à medida que o brinquedo inicia seu
giro, as correntes formam um ângulo com a vertical, como você pode ver. Esse ângulo é inde-
pendente da massa da pessoa, dependendo somente da velocidade angular do movimento cir-
cular. Como podemos achar o valor desse ângulo em termos desta velocidade?
Consideremos uma situação similar, mas um pouco mais simples: uma massa suspensa do
teto por uma corda de comprimento l e realizando movimento circular tal que o ângulo entre
Figura 9.15 Wave Swinger num par- a corda e a vertical é . A corda delineia a superfície de um cone, pelo que essa configuração é
que de diversões.
chamada de pêndulo cônico (veja a Figura 9.16).
A Figura 9.16c mostra um diagrama de forças para massa. Existem somente duas forças
atuando sobre ela. Atuando verticalmente para baixo, está a força da gravidade, , indicada
pela seta vermelha no diagrama; como de costume, seu valor é mg. A outra força atuante sobre
a massa é a de tensão na corda, , a qual atua ao longo da direção da corda num ângulo com
a vertical. Essa tensão na corda é decomposta em suas componentes x e y (Tx = T sen , Ty = T
cos ). Não há movimento na direção vertical; logo, temos que ter força resultante zero naquela
direção, Fres,y = T cos – mg = 0, conduzindo a
T cos = mg.
Capítulo 9 Movimento Circular 291
<
r
m y
Ty T
m m
Tx x
r Fg
PROBLEMA
Suponha que o “loop” vertical tenha um raio de 5,00 m. Qual é a velocidade linear do carro, no
topo do “loop” da montanha-russa, para que os passageiros se sintam sem peso? (Assuma que o
atrito entre o carro e os trilhos é desprezível.)
SOLUÇÃO
PENSE
Uma pessoa se sente sem peso quando não há força de apoio, de uma cadeira ou uma restrição,
atuando para opor-se ao seu peso. Para uma pessoa se sentir sem peso no topo do “loop”, nenhu-
ma força normal pode estar atuando sobre ela nesse ponto.
DESENHE
O diagrama de forças na Figura 9.18 pode ajudar a conceituar a situação. As forças da gravidade e
normal, atuando sobre um passageiro no carro no topo do “loop”, são mostradas na Figura 9.18a.
Figura 9.17 Moderna montanha-rus-
Continua → sa com um ”loop” vertical.
292 Física para Universitários: Mecânica
A soma dessas duas forças é a força resultante, a qual deve igualar-se à força centrípeta no mo-
N vimento circular. Se a força resultante (força centrípeta aqui) é igual à força gravitacional, então
Fg a força normal é zero e o passageiro se sente sem peso. Essa situação é ilustrada na Figura 9.18b.
r PESQUISE
Afirmamos que a força resultante é igual à força centrípeta e que a força resultante é, também, a
soma entre a força normal e a força da gravidade:
(a)
Para o sentimento de ausência de peso no topo do “loop”, precisamos de = 0, e assim
(i)
Como sempre, temos Fg = mg. Para o valor da força centrípeta, usamos a equação 9.21
Fg
r
SIMPLIFIQUE
Após substituir as expressões para as forças centrípeta e gravitacional na equação (i), resolvemos
(b) para velocidade linear no topo do “loop”:
Figura 9.18 (a) Diagrama de queda
livre para um passageiro no topo do
“loop” vertical de uma montanha-
-russa. (b) Condição para a sensação
de ausência de peso. CALCULE
Usando g = 9,81 m/s2 e o valor de 5,00 m dado para o raio, temos
ARREDONDE
Arredondando nosso resultado para três dígitos de precisão, temos
vtopo = 7,00m/s.
S O L U Ç Ã O A LT E R N AT I VA
Obviamente, nossa resposta nos dá a mais simples verificação de que as unidades são aquelas de
velocidade, ou seja, metros por segundo. A fórmula para a velocidade linear no topo,
indica que um raio maior necessita de uma maior velocidade, o que parece plausível.
y A velocidade no topo de 7 m/s é razoável? Convertendo esse valor, nos dá 15 mph, o que pa-
vtop
2r rece claramente lento para uma pessoa que tipicamente está tendo uma experiência extraordina-
riamente rápida. Mas mantenha em mente que essa é a velocidade mínima necessária no topo do
v3 “loop” e que o operador do brinquedo não quer ficar muito perto desse valor.
r
Vamos dar um passo a mais e calcular o vetor velocidade nas posições 3 horas e 9 horas do
“loop”, assumindo que o carro da montanha-russa se move no sentido anti-horário ao redor do
v9 “loop”. As direções do vetor velocidade no movimento circular são sempre tangenciais ao círculo,
como mostrado na Figura 9.19.
0 x
Como obtemos o valor das velocidades v3 (às 3 horas) e v9 (às 9 horas)? Primeiro, lembramos
do Capítulo 6: a energia total é a soma das energias cinética e potencial, E = K + U; a energia ci-
Figura 9.19 Direções dos vetores ve-
locidade em vários pontos ao longo
nética é ; e a energia potencial gravitacional é proporcional à altura do solo, U = mgy. Na
do “loop” vertical da montanha russa. Figura 9.19, o sistema coordenado é posto de modo que o zero do eixo y esteja na base do “loop”.
Então, podemos escrever a equação para a conservação de energia mecânica, assumindo que ne-
nhuma força não conservativa está atuando:
(ii)
Podemos ver na figura que as coordenadas y e, portanto, a energia potencial, são as mesmas nas
posições 3 horas e 9 horas; logo, as energias cinéticas em ambos os pontos devem ser as mesmas.
Consequentemente, os valores absolutos das velocidades em ambos os pontos são os mesmos: v3
= v9. Resolvendo a equação (ii) para v3, obtemos
Capítulo 9 Movimento Circular 293
9.5 Exercícios
de sala de aula
No Problema Resolvido 9.1, a que
velocidade o carro da motanha-
Outra vez, as massas se cancelam. Além disso, a diferença das coordenadas y entra nessa fórmula -russa deve entrar no início do
para v3; logo, a escolha da origem do sistema coordenado é irrelevante. A diferença das coodenadas “loop” a fim de produzir a sensa-
y entre os dois pontos é ytopo – y3 = r. Inserindo o valor dado de 5,00 m e o resultado vtopo = 7,00m/s, ção de ausência de peso no topo?
que encontramos previamente, vemos que a velocidade nas posições 3 horas e 9 horas no “loop” é a) 7,00 m/s d) 15,7 m/s
b) 12,1 m/s e) 21,4 m/s
c) 13,5 m/s
Como você pode notar dessa discussão, praticamente qualquer força pode atuar como 9.7 Pausa para teste
força centrípeta. É o caso da força de atrito estático, para as fichas de pôquer sobre a mesa Qual velocidade o carro da mon-
girante, e da componente horizontal da tensão sobre a corda, no pêndulo cônico. Mas ela pode tanha russa, do Problema Resol-
também ser a força gravitacional, que força os planetas em órbitas (quase!) circulares ao redor vido 9.1, deve ter no topo do
do Sol (veja Capítulo 12), ou a força de Coulomb, atuando sobre os elétrons nos átomos. “loop” para completar a mesma
sensação de ausência de peso se
o raio do “loop” for dobrado?
Há uma força centrífuga?
É uma boa chance de esclarecer um importante ponto considerando a direção da força respon-
9.6 Exercícios
sável pelo movimento circular. Você frequentemente ouve pessoas falando sobre aceleração
centrífuga (ou “fugindo do centro”, na direção radial externa) ou força centrífuga (massa vezes de sala de aula
aceleração). Você pode experimentar a sensação de ser puxado aparentemente para fora em A Figura 9.18a mostra o diagra-
muitos brinquedos em parques de diversões. Essa sensação se deve à inércia de seu corpo, o ma geral de força para as forças
qual resiste à aceleração centrípeta em direção ao centro. Assim, você sente uma aparente força atuando sobre um passageiro no
topo do "loop" da montanha-
apontando para fora – a força centrífuga. Mantenha em mente que essa percepção resulta do
-russa, onde a força normal atua
movimento de seu corpo num sistema referencial acelerado; não há força centrífuga. A força
e tem um valor menor do que o
que realmente atua sobre seu corpo e o obriga a mover-se sobre um caminho circular é a força valor da força gravitacional. Dado
centrípeta, que aponta para dentro. que a velocidade do carro da mon-
Você também experimentou um efeito similar no movimento em linha reta. Quando você tanha-russa é de 7,00 m/s, qual
está sentado em seu carro, em repouso, e pisa no pedal do acelerador, você sente como se es- deve ser o raio do loop para o dia-
tivesse sendo pressionado de encontro ao banco do carro. Essa sensação, de uma força que o grama de forças estar correto?
pressiona para trás, também vem da inércia de seu corpo, o qual é acelerado para frente pelo a) menor do que 5 m
seu carro. Ambas as sensações de forças atuando sobre seu corpo – a força “centrífuga” e a força
“que o empurra” contra o banco – são o resultado de seu corpo experimentando uma acelera- b) 5 m
ção na direção oposta e colocando resistência – inércia – contra essa aceleração. c) maior do que 5 m
valores muito pequenos das velocidades angulares envolvidas nesses movimentos causam efei-
tos percebidos como desprezíveis.
Agora, faremos os mesmos passos, como no Capítulo 2, para derivar as equações equivalentes
para aceleração angular constante. Começamos com a equação 9.14 e integramos, usando a
convenção usual de notação 0 ≡ (t0):
Essa relação é o inverso da equação 9.14, e mantém-se em geral. Se assumirmos que a acelera-
ção angular, , é constante no tempo, podemos calcular a integral e obter
(9.24)
(9.25)
Capítulo 9 Movimento Circular 295
Comparar as equações 9.24 e 9.25 às equações (iii) e (i), para o movimento linear, mostra que
aquelas duas equações são equivalentes do movimento circular das duas equações cinemáticas
para o movimento linear em linha reta numa dimensão. Com as substituições diretas x→,
vx→ e ax→, podemos escrever cinco equações cinemáticas para movimento circular sob 9.8 Pausa para teste
aceleração angular constante:
A derivação foi dada para duas
dessas equações cinemáticas
para movimento circular. Você
pode dar a derivação para as
equações restantes? (Dica: a
(9.26) estratégia de raciocínio procede
exatamente ao longo da mesma
linha como a Derivação 2, no
Capítulo 2.)
PROBLEMA 1
Qual foi a aceleração angular média durante as sete voltas?
SOLUÇÃO 1
A fim de acharmos a aceleração angular média, adicionamos todos os intervalos de tempo para as
sete voltas, obtendo o tempo total: 50 dados
ajuste
40
ttotal =1,52 s + 1,08 s + 0,72 s + 0,56 s + 0,44 s + 0,40 s + 0,36 s = 5,08 s.
(rad)
30
Durante esse tempo, Litvinov deu sete voltas completas, resultando num ângulo total de
20
total = 7(2 rad) = 14 rad. 10
Como podemos assumir a aceleração constante, podemos determinar a aceleração angular dire- 0
0 1 2 3 4 5
tamente inserindo os dados obtidos:
t (s)
Figura 9.20 Ângulo como uma fun-
ção do tempo para o ganhador da
medalha de ouro no arremesso de
DISCUSSÃO martelo Sergey Litvinov.
Por conhecermos quanto tempo levou cada volta completa, podemos gerar um gráfico do ângulo
do martelo no plano horizontal como uma função do tempo. Esse gráfico é mostrado na Figura
9.20, com os pontos vermelhos representando os tempos de cada volta completa. A linha azul, que
é o ajuste para os dados dos pontos, na Figura 9.20, assume uma aceleração angular constante de
= 3,41 rad/s2. Como você pode ver, a suposição de aceleração angular constante é quase justifi-
cada, mas não o bastante.
PROBLEMA 2
Assumindo que o raio do círculo sobre o qual o martelo se move é 1,67 m (o comprimento do
martelo mais os braços do atleta), qual é a velocidade linear com a qual o martelo é solto?
Continua →
296 Física para Universitários: Mecânica
SOLUÇÃO 2
Com aceleração angular constante iniciando do repouso, para um período de 5,08 s, a velocidade
angular final é
= t = (3,41 rad/s2)(5,08 s) = 17,3 rad/s.
Usando a relação entre as velocidades linear e angular, obtemos a velocidade linear quando o
martelo é solto:
v = r = (1,67m)(17,3 rad/s) = 28,9m/s.
PROBLEMA 3
Qual é a força centrípeta que o arremessador tem que exercer sobre o martelo antes de soltá-lo?
SOLUÇÃO 3
A aceleração centrípeta antes do martelo ser solto é dada por
ac = 2r = (17,3 rad/s)2 = (1,67m) = 500. m/s2 .
Com a massa de 7,26 kg para o martelo, a força centrípeta requerida é
Fc = mac = (7,26 kg)(500 m/s2) = 3.630 N.
Essa é uma força espantosamente grande, equivalente ao peso de um corpo de massa 370 kg! Por
isso, os arremessadores de martelo de classe mundial serem muito fortes.
PROBLEMA 4
Após solto,para qual direção na qual o martelo se move?
SOLUÇÃO 4
É comum o conceito errôneo de que o martelo “espirala” em algum movimento circular com um
Figura 9.21 Vista aérea da trajetó- aumento constante do raio após ser solto. Essa ideia é errada, porque não há componente hori-
ria do martelo (pontos pretos, com zontal da força, uma vez que o atleta solta o martelo. A Segunda Lei de Newton nos diz que não
as setas indicando a direção do ve- haverá componente horizontal de aceleração e, daí, nenhuma aceleração centrípeta. O martelo se
tor velocidade) durante o tempo em move numa direção que é tangencial ao círculo no ponto de soltura. Se você estivesse olhando o
que o atleta o tem nas mãos (cami-
estádio de cima para baixo, de um pequeno dirigível, você veria que o martelo se move sobre uma
nho circular) e após ser solto (linha
linha reta, como mostrado na Figura 9.21. Vista de lado, a forma da trajetória do martelo é uma
reta). A seta branca marca o ponto
parábola, como mostrado no Capítulo 3.
de soltura.
PROBLEMA
Suponha que os carros se movam pela curva em U, mostrada na Figura 9.22a, a velocidade cons-
tante e que o coeficiente de atrito estático entre os pneus e a pista seja s = 1,2. (Como foi men-
cionado no Capítulo 4, pneus modernos de carros de corrida podem ter coeficientes de atrito que
excedam 1, quando são aquecidos até a temperatura de corrida, e ficam pegajosos.) Se o raio da
curva mais interna mostrada na figura é RB = 10,3 m, o raio da mais externa é RA = 32,2 m e os
carros se movem em velocidades máximas, quanto tempo levará para se moverem do ponto A ao
ponto A’ e do ponto B até B’?
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Dica do professor
Veja na Dica do Professor os fundamentos do movimento circular.
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Exercícios
1) Um carro em uma pista circular, partindo da posição Θ = 0 rad, descreve uma volta completa
com velocidade angular constante ω = π rad/s. Tendo retornado ao ponto de partida aciona
o freio, e para após percorrer ΔΘ = π/2 rad. Qual a aceleração angular desse movimento?
A) α=1 rad/s2.
B) α=-π rad/s2
C) α=0, afinal o que para o carro é a aceleração tangencial, que diminui o módulo.
D) α= π rad/s2
A) Não, pois para se manter em movimento circular deve haver uma aceleração centrípeta.
4) Um carro de 1000 kg faz uma curva em forma de U com velocidade constante. Se o raio da
curva mede 12 m e ele faz a curva, sem derrapar, com uma velocidade de 12 m/s, qual é a
força de atrito estático que atua no carro?
A) f = 12000N.
D) f = 1000N.
E) f = 144000N.
5) Dois carros A e B percorrem uma pista circular seguindo trajetórias de raios diferentes. O
raio da trajetória do carro A é RA = 20 m e o raio do carro B é RB = 24 m. Se os dois carros
partem juntos, com velocidades VA = 10 m/s e VB = 12 m/s, qual dos carros completa uma
volta primeiro?
D) Ambos os carros completam uma volta ao mesmo tempo, pois os dois têm a mesma
velocidade angular.
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