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Disciplina: Geometria Analítica

Professor: Raimundo de Souza


Aula 9: Cônicas e Quádricas

9. Cônicas e Quádricas

As cônicas e as quádricas são dois tipos de curvas e superfícies que desempenham um papel importante na
geometria e na álgebra linear. Elas têm características específicas que as tornam interessantes para várias
aplicações em matemática, física, engenharia e outras disciplinas.

9.1 Cônicas

As cônicas são um tipo de curva que podem ser obtidas como seções de um cone por um plano. Existem
várias formas de cônicas, dependendo da inclinação e da posição do plano em relação ao cone. As cônicas
mais comuns são:

1. Círculo: Quando o plano é paralelo à base do cone, resulta em um círculo.

2. Elipse: Quando o plano corta o cone em um ângulo oblíquo, mas não é paralelo à base ou perpendicular a
ela, cria uma elipse.

3. Parábola: Quando o plano é paralelo a uma das geratrizes do cone, resulta em uma parábola.

4. Hipérbole: Quando o plano é inclinado de tal forma que corta ambas as partes do cone, resulta em uma
hipérbole.

As cônicas são estudadas em geometria analítica, onde podem ser descritas por equações algébricas. Por
exemplo, a equação geral de uma elipse é:

[ ]
2 2
(x−h) ( y−k)
+ =1 . Onde (h, k) é o centro da elipse e "a" e "b" são os semieixos maior e menor,
a2 b2
respectivamente.

9.2 Quádricas

As quádricas são um tipo de superfície tridimensional que pode ser representada por uma equação
polinomial de segundo grau em três variáveis. Elas são chamadas de quádricas porque envolvem termos de
grau 2 (quadráticos) nas variáveis x, y e z. Existem várias formas de quádricas, incluindo:

1. Esfera: A equação de uma esfera centrada na origem é ( x + y + z =r ), onde "r" é o raio.


2 2 2 2

2. Elipsoide: Uma generalização da esfera, onde os eixos podem ter comprimentos diferentes. Sua equação é

( )
2 2 2
x y z
2
+ 2 + 2 =1 , onde "a", "b" e "c" são os comprimentos dos semieixos nas direções x, y e z.
a b c
( )
2 2
2 2 2 x y
3. Cilindro: Um cilindro pode ser descrito pela equação ( x + y =r ), onde "r" é o raio, ou 2
+ 2 =1 ,
a b
onde "a" e "b" são os semieixos.

( )
2 2 2
x y z
4. Cone: A equação de um cone é 2
+ 2 − 2 =0 .
a b c

As quádricas são estudadas em álgebra linear e geometria analítica, e suas propriedades são aplicadas em
física, engenharia, computação gráfica e em muitas outras áreas para modelar objetos e fenômenos
tridimensionais.

9.3 Conceitos Básicos sobre cônicas

Para entender o que são cônicas, devemos compreender que essas figuras geométricas planas são obtidas
pela intersecção de um cone de revolução com um plano.

9.3.1 Figuras de revolução

Figuras de revolução são sólidos tridimensionais que se formam ao girar uma figura bidimensional, chamada
de perfil, em torno de um eixo específico. Esse giro ou rotação cria uma forma tridimensional simétrica em
torno do eixo de rotação, e o resultado é frequentemente uma figura sólida com uma forma característica.

Figura 9.1: Rotação de um triângulo.

O processo de criar figuras de revolução é semelhante ao que acontece quando você gira um desenho ou
uma forma bidimensional em torno de um eixo. A forma bidimensional é chamada de perfil porque é a
forma que você "vê" quando olha para o sólido resultante de um ângulo específico.

Alguns exemplos comuns de figuras de revolução incluem:

1. Cilindro: Um cilindro é formado ao girar um retângulo em torno de um de seus lados. O eixo de rotação
pode ser perpendicular ao lado do retângulo, criando um cilindro reto, ou inclinado, produzindo um cilindro
oblíquo.
Figura 9.2: Cilindro de revolução.

2. Cone: Um cone é criado ao girar um triângulo em torno de um de seus lados como eixo de rotação.

Figura 9.3: Cone de revolução.

3. Esfera Uma esfera é formada ao girar um semicírculo em torno de seu diâmetro.

Figura 9.4: Esfera de revolução.

4. Toro: Um toro é gerado ao girar um círculo em torno de um eixo que está em um plano perpendicular ao
círculo, resultando em uma forma anelar.

Figura 9.5: Toro de revolução.

Esses são apenas alguns exemplos de figuras de revolução. O processo de rotação é frequentemente usado
na matemática, física e engenharia para criar modelos tridimensionais de objetos e para calcular
propriedades como volume, área de superfície e inércia. É uma técnica útil para visualizar e analisar objetos
simétricos em três dimensões.

9.3.2 Lugar geométrico

Como visto, acima, é necessário que se tenha um objeto planar para que este sofra uma rotação a fim de
criar um sólido espacial. Estes objetos planares são chamados de construções geometrias em especial o
triângulo, que ao rotacionar em um dos eixos tridimensionais cria o cone. Os sólidos gerados pelas rotações
podem ser seccionados por planos e apresentar estruturas planares que possuem certas características
próprias, a essas características damos o nome de lugar geométrico.

Um lugar geométrico é uma coleção de pontos que satisfazem uma ou mais condições específicas em uma
construção geométrica ou em um sistema de coordenadas. Em outras palavras, é o conjunto de pontos que
atendem a uma determinada regra ou conjunto de regras.

Lugares geométricos são usados para resolver problemas geométricos, modelar fenômenos matemáticos e
descrever objetos e formas de interesse em matemática e em várias áreas da ciência e engenharia. Eles são
uma ferramenta importante para visualizar e compreender relações geométricas e matemáticas.

O conceito de lugar geométrico é fundamental na geometria e é frequentemente usado para representar


objetos matemáticos ou resolver problemas geométricos. Aqui estão alguns exemplos para ilustrar o
conceito:

1. Circunferência: O lugar geométrico de todos os pontos que estão a uma distância fixa (raio) de um ponto
central é uma circunferência.

2. Elipse: O lugar geométrico de todos os pontos cuja soma das distâncias a dois pontos fixos (focos) é
constante é uma elipse.

3. Parábola: O lugar geométrico de todos os pontos que estão a uma distância igual de um ponto fixo (foco)
e de uma reta fixa (diretriz) é uma parábola.

4. Hipérbole: O lugar geométrico de todos os pontos cuja diferença das distâncias a dois pontos fixos (focos)
é constante é uma hipérbole.

5. Bissetriz: O lugar geométrico de todos os pontos que estão igualmente distantes de duas retas não
paralelas é a bissetriz do ângulo entre essas retas.

6. Curva de Koch: Um exemplo mais complexo é a curva de Koch, que é criada como o lugar geométrico de
todos os pontos gerados em uma construção recursiva.

7. Curva de Hilbert: Outro exemplo complexo é a curva de Hilbert, que é gerada como o lugar geométrico de
todos os pontos em uma construção iterativa baseada em quadrados.

9.4 O que são cônicas?

Cônicas são figuras geométricas planas, as quais seus lugares geométricos são definidos a partir da
intersecção de um cone duplo de revolução com um plano. As cônicas têm propriedades geométricas e
equações características que as tornam um tópico importante na geometria. As figuras que podem ser
obtidas nessa intersecção, e que podem ser chamadas de cônicas, são: circunferência, elipse, parábola e
hipérbole.

Definição: O lugar geométrico dos pontos (x,y)∈R2 que satisfazem à equação do segundo grau em duas
2 2
variáveis Ax + Bxy+Cy + Dx+ Ey +F=0 é chamado de cônica.

O cone duplo de revolução é conseguido com o giro de uma reta r sobre um eixo, que, por sua vez, é outra
reta concorrente à reta r. A imagem a seguir mostra a reta que foi girada, o eixo e a figura obtida a partir
dessa revolução.

Figura 9.6: Cones duplos de revolução.

Todas as definições do lugar geométrico das cônicas são baseadas na distância entre dois pontos, que pode
ser encontrado no plano por meio do teorema de Pitágoras.

9.4.1 Circunferência

Dado um ponto C e um comprimento fixo r, todo ponto que está a uma distância r do ponto C é um ponto da
circunferência. O ponto C é chamado de centro da circunferência e r é seu raio.

Figura 9.7: Circunferência no plano.


Definição formal: Dado um ponto C (o centro) e uma distância positiva r (o raio), o lugar geométrico da
circunferência é o conjunto de todos os pontos P no plano tal que a distância entre P e C seja igual a r:

|⃗
CP|=r
Essa definição é fundamental na geometria e é usada para descrever e representar geometricamente a
circunferência. A equação da circunferência no plano cartesiano com centro no ponto (h, k) e raio r é dada
pela fórmula:

- O centro C está no ponto (h, k).

- O ponto P é dado por (x, y).

Assim, ⃗
CP=(x , y )−(h , k)=(x−h , y−k). Então seu módulo é dado por:

CP|= √ (x−h)2 +( y−h)2=r


|⃗

Ou ainda, podemos dizer que:


2 2 2
( x−h) +( y−h) =r
Nessa equação, (x, y) são as coordenadas de um ponto na circunferência, (h, k) são as coordenadas do
centro da circunferência e r é o raio. Ela descreve todos os pontos cujas coordenadas satisfazem a condição
de distância fixa em relação ao centro no R2.

As circunferências são figuras geométricas importantes e são amplamente utilizadas em geometria,


trigonometria, álgebra e em várias aplicações práticas, como na descrição de órbitas planetárias, na criação
de rodas de veículos e em gráficos circulares, entre outras. Para obter uma circunferência a partir de um
cone basta seccionar o cone paralelamente a sua base, como na Figura 9.8.

Figura 9.8: Secção de um cone formando uma circunferência.

Exemplos: Qual a equação da circunferência de:

1) centro (3, -1) e raio 3?

2] C(2, 0) e r = 1.

3) r = √2 e centro (π, ½).

Exercício:

1) O centro de uma circunferência é o ponto médio do segmento AB, sendo A(4; –7) e B(–8; –3). Se o raio
dessa circunferência é 3, determine sua equação.
2) PUC-SP) O ponto P(3, b) pertence à circunferência de centro no ponto C(0, 3) e raio 5. Calcule o valor da
coordenada b.

3) (ITA-SP) Qual a distância entre os pontos de intersecção da reta 2x + y=20 com a circunferência x² + y² =
400?

4) Dada as equações das circunferências λ1: x² + y² – 4x – 8y – 5 = 0 e λ2: x² + y² – 2x – 6y + 1 = 0, determine


se elas possuem pontos em comum.

5) Temos que duas circunferências de equações λ1: x² + y² = 16 e λ2: x² + y² + 4y = 0 são tangentes, isto é,
possuem um ponto em comum. Determine a coordenada desse ponto.

9.5 A história das Cônicas

O estudo das seções cônicas e das suas propriedades geométricas começou na Grécia, como parte da busca
pela solução do problema da duplicação do cubo, após a redução deste por Hipócrates de Quio (c. 440 a. C.)
à construção de duas proporcionais médias entre dois segmentos de reta paralelos de razão 2.
Provavelmente na busca pelo local geométrico da solução do problema das proporcionais médias,
Menaecmo (c. 350 a. C.) resolveu o problema por meio das seções de um cone reto de revolução por planos
perpendiculares a alguma das geratrizes, possivelmente seguindo a solução de Arquitas de Tarento (c. 400 a.
C.) para o mesmo problema por meio da intersecção de um cone reto de base circular, um cilindro de base
circular e um toro de raio interno nulo. Menaecmo tornou-se então, como afirma uma carta de Eratóstenes
ao rei Ptolomeu Euergeta, o descobridor das seções cônicas.

Os primeiros estudos das cônicas limitaram-se à definição inicial de Menaecmo referentes ao cone reto de
revolução, e a sua classificação e nomenclatura seguiam a classificação desses cones. Assim, a elipse era a
“seção do cone acutângulo”, a hipérbole a “seção do cone obtusângulo” e a parábola a “seção do cone
reto”, referindo-se os termos “acutângulo”, “obtusângulo” e “reto” ao ângulo entre duas geratrizes opostas
no vértice do cone. Essa abordagem se manteve quase completamente até Euclides e Arquimedes, enquanto
a nomenclatura atual foi criada por Apolônio.

As contribuições de Euclides sobre as cônicas perderam-se. Existem, porém, referências a quatro livros de
uma obra euclidiana sobre as cônicas, da qual parte do conteúdo pode ser aferido de referências em
trabalhos posteriores, principalmente os de Arquimedes e Pappus.

Uma suposição aferida por referências posteriores é a de que, como Os Elementos, também as Cônicas de
Euclides seriam uma compilação de conhecimentos existentes, particularmente de uma obra, também
perdida, de Aristeu. Esses trabalhos caracterizariam as cônicas por meio de métodos de proporções, como os
postos por Euclides no livro V dos Elementos, e estabeleceriam suas propriedades fundamentais, citadas por
Arquimedes como presentes nos “elementos das cônicas”. Nos Fenômenos, ainda, Euclides reconhece a
“seção do cone acutângulo” como a seção formada por qualquer plano oblíquo cortando qualquer cilindro
ou cone6, mas sem expandir a generalização às outras seções cônicas.

Apesar de ter pouco avançado nos teoremas específicos das seções cônicas, Euclides estabelece as bases dos
maiores desenvolvimentos posteriores sobre o tema, concretizados por Apolônio e Pappus. O primeiro, além
de ter estudado entre os discípulos de Euclides em Alexandria, usou os quatro livros de Euclides sobre as
cônicas como base dos primeiros livros do seu próprio tratado. Além disso, o tratamento de áreas utilizado
para a caracterização das curvas por Apolônio foi o tema do sexto livro dos Elementos de Euclides.
Euclides (c. 295 a. C.) também seria o primeiro a trabalhar o problema dos lugares geométricos de três e
quatro linhas, no livro perdido dos Porismas, referido posteriormente por Pappus, de grande importância
nas evoluções futuras do tratamento das seções cônicas e da própria geometria.

A primeira série de teoremas sobre as seções cônicas confirmados, porém, apareceram nos trabalhos de
Arquimedes (c. 287 – 212 a. C.). De fato, suas contribuições levaram seu biógrafo Heracleides a acusar
Apolônio de roubar teoremas de Arquimedes para sua grande obra As Cônicas. Na obra de Arquimedes
encontram-se as primeiras referências a afirmações contidas nos “elementos das cônicas”, conhecimentos
atribuídos a Euclides e a Aristeu, além de determinar as áreas de elipses e segmentos de parábolas,
estabelecendo inclusive a quadratura da parábola, e empenhar um estudo sobre superfícies de revolução,
inclusive quádricas, e as suas seções no seu texto Sobre Conóides e Esferóides.

Foi porém Apolônio, na sua monumental obra As Cônicas, composta de oito livros dos quais apenas o último
se perdeu, que desenvolveu generalizações, aplicou novos métodos, descobriu e provou teoremas e
praticamente exauriu as conclusões puramente geométricas envolvidas nas seções cônicas, façanha pela
qual ficou conhecido na sua época como “O Grande Geômetra”.

Entre as façanhas de Apolônio está a de ter descoberto a possibilidade de se obter as cônicas a partir de
qualquer seção em qualquer cone, mesmo oblíquo, partindo de um cone de diâmetro geral e seção também
geral. Para tanto, foi preciso admitir o cone circular duplo, ligado pelo vértice, e as duas folhas da hipérbole
como uma única curva.

A seguir, Apolônio, na sua primeira proposição, estabelece as relações entre as seções cônicas por meio do
método das áreas. Para tanto, Apolônio estabelece um parâmetro AR para as seções cônicas, o hoje
chamado latus rectum, perpendicular ao eixo AB da cônica, passando pelo vértice, e a ele aplica um
retângulo de base AQ, sendo Q a projeção de um ponto P da cônica no eixo, e área (PQ). Estabelecido o
retângulo, Apolônio redefine a nomenclatura das seções cônicas conforme o retângulo excede, iguala ou fica
aquém do parâmetro, respectivamente a hipérbole, a parábola e a elipse.

Ao longo do tratado, Apolônio desenvolve diversos teoremas sobre as propriedades das cônicas, tangentes,
intersecções, limites, máximos e mínimos e mesmo evolutas das cônicas. Além disso, ao final do terceiro
livro, Apolônio resolve geometricamente o problema do lugar geométrico de três e quatro linhas, provando
que é uma cônica, completando o desenvolvimento de Euclides.

O próximo geômetra de peso a debruçar-se sobre os problemas das cônicas foi Pappus (c. 300 – 350 d. C.),
na maior parte dos seus trabalhos referindo-se aos trabalhos de autores anteriores. Suas compilações
“Coletânea” e o “Tesouro da Análise” permitem o conhecimento indireto e possíveis reconstituições de
diversos dos trabalhos perdidos de Euclides, como os Porismas e as Cônicas, além do oitavo livro das Cônicas
de Apolônio. Nessas compilações aparece pela primeira vez a propriedade foco – diretriz das cônicas,
atribuída por ele a Euclides mas curiosamente não apresentada por Apolônio.

A principal contribuição de Pappus, porém, foi a discussão do problema do lugar geométrico de três e quatro
linhas e seus estudos posteriores para mais linhas. O famoso problema do lugar geométrico de 4 linhas,
traduzido para a linguagem moderna, pede o lugar geométrico de um ponto p, sabendo-se que as distâncias
p1, p2, p3 e p4 de p a quatro retas dadas sejam proporcionais, i.e. p1.p2 = k.p3.p4 , sendo k uma constante.
A solução do problema é, como concluiu Apolônio, uma seção cônica. Pappus então buscou trabalhar a
generalização do problema para 5, 6 ou mais linhas, que não podem ser construídas apenas com régua e
compasso, e encontrou as curvas por métodos aproximados. Seus contemporâneos, no entanto, não
conseguiram avançar nos seus trabalhos.
No século XVII, recuperando os textos de Pappus, Descartes debruça-se sobre então chamado “Problema de
Pappus” e, incapaz de resolvê-lo de forma puramente geométrica, desenvolve ideias da sua geometria
analítica na solução e prova, na sua Geometria (1637) que o problema de 4 linhas era redutível à solução de
uma equação de segundo grau, tendo como caso particular linear o problema de 3 linhas, enquanto para 5
linhas a solução era a de uma equação de terceiro grau, não podendo ser resolvida por régua e compasso,
assim como os problemas para mais linhas correspondiam a equações de graus superiores. Nascia assim a
correspondência entre as curvas e equações segundo o método cartesiano.

Retirada do site: www.ime.unicamp.br/~apmat/historia-das-conicas

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