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Projecções Cartográficas

As projecções cartográficas têm por objectivo a representação plana da Terra por forma a que
medições (áreas, distâncias e ângulos) na carta permitam concluir da correspondente grandeza na
Terra ( ou no modelo adoptado para representa-la).

A representação cartográfica é realizada em duas fases (Fig. 2 ):

- A primeira diz respeito à geodesia – os pontos da superfície terrestre são “projectados” no


modelo adoptado, a esfera ou o elipsóide de referência (Redução ao elipsóide).
- A segunda diz respeito à cartografia matemática – os pontos do modelo são “projectados”
numa superfície plana ou planificável.

Uma projecção cartográfica pode ser considerada como a combinação de uma alteração de escala
e um sistema de transformação. Matematicamente, é definida como, a correspondência biunívoca1 entre
os pontos da superfície a projectar (modelo da Terra) e os pontos da superfície de projecção, é então uma
função expressa genericamente por:

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Correspondência biunívoca significa função bijectiva ou bijectora = amos supor que o conjunto A é composto pelo nome
dos alunos de uma turma. Vamos ainda partir do princípio, que nessa turma, não existem alunos com o mesmo nome, nem
com a mesma altura. Vamos agora criar um segundo conjunto, que designaremos por conjunto B, que contém a altura de cada
um dos alunos dessa turma. Facilmente criamos uma função, que a cada um dos nomes do conjunto A, corresponde a sua
altura em centímetros no conjunto B. Como todos os alunos tem alturas diferentes, esta função é um exemplo de uma função

bijetiva. Essa correspondência pode ser observada no seguinte diagrama:


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Consideremos a figura 3. O posicionamento da esfera ou elipsóide de referência e do plano
cartográfico é definido por intermédio de um ponto – Ponto Central (PC) - situado de preferência no
centro da região a cartografar.

Designaremos então por projecção cartográfica, uma aplicação bijectiva ( f : V0 → V ⊂ R2 ) de


uma vizinhança V0 do PC (sobre a esfera ou elipsóide), numa vizinhança V da origem do plano
cartográfico. Envolve:
- A escolha de um ponto sobre o modelo (esfera ou elipsóide) - Ponto Central (PC) - de coordenadas (ϕ0
, λ0 ) e consequentemente o meridiano central e o paralelo central ;
- Escolher uma vizinhança em torno do PC ;
- Encontrar uma função f que transforme os pontos de uma vizinhança do PC em pontos em torno da
origem do plano cartográfico, de modo que a imagem do PC seja a origem do plano cartográfico.

Na prática, torna-se necessário especificar alguns parâmetros:


- Datum (O DATUM é um termo muito utilizado quando se quer fazer menção ao sistema de referência; A
diferença de um DATUM para o outro estão baseadas em modelos matemáticos distintos da forma e dimensões
da Terra, bem como da projecção representada. O sistema de referência DATUM é de suma importância uma vez
que ele se prende à necessidade de projectar um objecto curvo e a 3 dimensões (a Terra) como referência, num
plano a duas dimensões mantendo no entanto os cruzamentos em ângulos rectos dos meridianos e paralelos (o
mapa), ou seja, o DATUM faz a medição a partir de parâmetros e pontos de controle utilizados para definir a forma
tridimensional da Terra.;
- Ponto Central;
- Factor de Escala;

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- Origem das Coordenadas Cartográficas;
Ao conjunto formado pela projecção e os parâmetros indicados designa-se por Sistema de Projecção.

Apesar de ser possível estabelecer as mais variadas funções como projecções cartográficas, uma
superfície esférica não pode ser transformada num plano sem que a sua geometria seja alterada. É do
âmbito da cartografia matemática o estudo das aplicações da esfera e do elipsóide num plano e
dasdeformações daí resultantes.

O grande problema no processo de transformação, são as deformações inerentes à passagem de


superfícies curvas ( esfera ou elipsóide) numa superfície plana (mapa ou carta). Quando uma superfície
esférica é transformada em uma superfície plana, as relações geométricas sobre a esfera são alteradas,
podendo ocorrer deformações de áreas, ângulos ou distâncias. As dificuldades surgem devido às
diferenças entre as superfícies envolvidas, as primeiras são curvas, tendo dois raios de curvatura finitos,
enquanto a superfície plana é caracterizada por dois raios de curvatura infinitos.
Devido a este facto pode-se recorrer a superfícies “intermédias auxiliares”, planificaveis (não são
introduzidas deformações na transformação para o plano), como é o caso do cone e do cilindro, sobre as
quais é feita uma transformação inicial.

Como já vimos, a classificação das projecções cartográficas pode obedecer a critérios muito diversos e
constitui um tema de relativa complexidade. No entanto, os critérios mais importantes estão relacionados
com as seguintes características :
- As deformações produzidas pela projecção ;
- A correspondência das fórmulas da projecção com uma projecção geométrica ou não, designar-se-ão,
respectivamente, geométricas e analíticas ;
- A forma da malha constituída pelas imagens dos meridianos e paralelos no plano cartográfico e a sua
orientação relativamente aos eixos cartográficos.

Obs: Existem projecções que não são baseadas em conceitos geométricos, como tal esta classificação
não as abrange.

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Na realidade, existem projecções que não obedecem a um conceito geométrico definido, embora sejam
"inspiradas" nas projecções cilindricas ou cónicas como são exemplo, respectivamente, a projecção de
Mercator e a projecção Policónica Americana.
Note-se, contudo, que a transformação da esfera ou elipsóide para aquelas superfícies não é um processo
isento de deformação.
Idealmente, uma carta deveria ser caracterizada por :
- Proporção constante entre áreas na carta e no modelo;
- Preservação da razão, distância na carta / distância no modelo ;
- Direcções e ângulos serem os verdadeiros ;
- Preservação das formas.
Contudo, a inexistência de uma projecção cartográfica livre de deformações, contraria a obtenção da
carta ideal. O máximo que o cartografo pode esperar, é verificar uma ou duas das características
mencionadas e controlar a deformação das restantes.

Existem variadas técnicas utilizadas para projectar o modelo da Terra (esfera ou elipsóide).
Então, quanto à técnica de projecção podemos classificar as projecções cartográficas em :
- Geométricas (Gráficas) - utilizam técnicas da geometria descritiva e perspectiva para estabelecer a
relação entre ponto objecto e ponto imagem, sudividindo-se em:
- Desenvolvimentos cilindricos e cónicos;
- Perspectivas, que consoante o "ponto de vista" (centro de perspectiva) utilizado se dividem em :

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- Centrográficas ou Gnomónicas - centro de perspectiva no centro da Terra , Fig. 7

- Estereográficas - centro de perspectiva num ponto da superfície da Terra, Fig. 7 ;


- Ortográficas - centro de perspectiva no infinito, Fig. 7 .
- Desenvolvimentos de perspectivas cilindricas e cónicas (projecção geométrica da Terra sobre um
cilindro ou cone que seguidamente é planificado)

- Geométricas modificadas (Semi-gráficas) - combinam técnicas geométricas com "leis" matemáticas.


Pode-se dar como exemplo, a projecção Policónoca Americana, em que, cada paralelo é planificado sem
deformação usando cones tangentes a cada paralelo, os meridianos resultam da união dos pontos
correspondentes, determinados nos vários paralelos. Na prática, usa-se um processo analítico;
- Convencionais ou Analíticas - baseadas em determinadas condições, em função dos quais é
estabelecida a sua definição matemática. São exemplos deste grupo as projecções Mercator, Gauss, UTM
e Azimutal Equidistante.

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PROJECÇÕES CARTOGRÁFICAS. EXEMPLOS.

I - Desenvolvimento cilindrico.
Resulta da planificação de um cilindro de revolução cujo eixo coincide com o eixo do modelo da Terra
(normalmente a esfera), e é tangente ao modelo ao longo do equador.

I.I - Projecção Ortográfica Cilindrica Equatorial (Regular).


É uma projecção geométrica.
Nesta projecção, o espaçamento entre as representadas dos paralelos é determinado de modo a que a área
projectada seja correspondente à área a projectar e que os meridianos sejam representados igualmente
espaçados, Fig. 8 .

Quadrícula :
- Os paralelos são represntados por linhas rectas;
- Os meridianos são representados por linhas rectas;
- As representadas dos paralelos são perpendiculares às representadas dos meridianos.

Exercício:
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1. (5V) Considere a projecção Ortográfica Cilíndrica Equatorial, para o modelo da terra de uma esfera de raio
6374 Km e para o Ponto Central (PC) o vértice de coordenadas geográficas φ0 = 00 , λ0= 90 W .

a) Determine:

i) As coordenadas cartográficas dos pontos , A situado a 10o a Norte e 10o a Oeste do PC e B situado 100
a Sul e 100 e 100 s Este do PC.

ii) O azimute Cartográfico de A para B.

b) Seria possível determinar o azimute verdadeiro? Sem recorrer a formulário da Geodesia, explica resumidamente
como o faria.

c) Se estivesse a utilizar outra projecção cartográfica obteria o mesmo azimute cartográfico de A para B? E o
verdadeiro ou geográfico? Justifique.

d) Se lhe fosse solicitada a construção de uma quadricula, que tipo de quadricula obteria? Justifica a sua resposta?

e) Para esta projecção, existe alguma linha ou ponto que possa ser considerado de deformacao nula? Justifique.

I.II - Projecção Centrográfica Cilíndrica ( Regular ou Equatorial). (Perspectiva Centrográfica


Cilindrica).

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Exercicio:

1. Considere a Projecção Centrográfica Cilíndrica Equatorial (ou Regular) expressa pelas seguintes
formulas de transformação:

x= Rλ

y = R tg φ ,

a) Classifique a projecção quanto a característica ( propriedade) preservada. justifique?

b) As coordenadas cartográficas dos pontos, A situado 300 a Norte e 300 a Este do PC e B situado 600 a
Norte e 600 a Este do PC.

i) Calcular o Azimute cartográfico de A para B para uma Projecção Centrográfica Cilíndrica


Equatorial (ou Regular).

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II - Projecção Ortográfica Polar. ( Perspectiva Ortográfica Polar ).

Nesta projecção, o centro da perspectiva é colocado no infinito, na direcção do eixo da Terra. Os "raios"
de projecção são perpendiculares ao plano colocado tangente ao pólo depois de intersectarem a esfera..
É uma projecção que pode ser desenvolvida recorrendo apenas a métodos gráficos. ( Fig. 10 ).

Neste caso, os meridianos são representados por linhas rectas e os paralelos por círculos concêntricos,
mais próximos uns dos outros à medida que nos aproximamos do equador.

Exercício:

1. Considere a projecção Ortográfica Polar, para o modelo da terra de uma esfera de raio unitário e com um Ponto
Central (PC) de vértice de coordenadas geográficas φ0 = 00 , λ0= 00; È dado dois pontos, A situado 600 a Norte e
600 a Este do PC e B situado 300 a Norte e 300 a Este do PC.

a) Classifique a projecção quanto a característica ( propriedade) preservada. justifique?

b)Determine as coordenadas cartográficas dos pontos A e B,

c) Calcular o Azimute cartográfico de A para B.

d) Se lhe fosse solicitada a construção de uma quadricula, que tipo de quadricula obteria? Justifica a sua resposta?
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III - Projecção Perspectiva Centrográfica - Gnomónica.
Numa projecção perspectiva centrográfica, o plano de projecção pode ser tangente à "superfície da
Terra", no pólo, num ponto sobre o equador ou num ponto qualquer, e o centro da perspectiva é sempre
o centro da Terra. Vamos exemplificar uma delas.

III.I - Projecção Centrográfica Polar. ( Perspectiva Centrográfica Polar ).

Neste tipo de projecção, o plano de de projecção é colocado tangente ao pólo (Fig. 11 ).

Nesta projecção, os círculos máximos são representados por linhas rectas e os paralelos são representados
por círculos concêntricos de raio ρ = R cotgϕ . O aspecto da quadrícula será :

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Exercício:

1. Considere a Projecção Centrográfica Polar expressa pelas seguintes formulas de transformação:

x= R cotg φ cos λ

y = R cotg φ sin λ

a) Classifique a projecção quanto a característica ( propriedade) preservada. justifique?

b) As coordenadas cartográficas dos pontos, A situado 300 a Norte e 300 a Este do PC e B situado 600 a
Norte e 600 a Este do PC.

i) Calcular o Azimute cartográfico de A para B para uma Projecção Centrográfica Polar.

IV - Projecção Estereográfica Polar. (Perspectiva Estereográfica Polar).

É uma projecção perspectiva azimutal. O plano de projecção é colocado tangente ao pólo e o centro da
perspectiva no ponto oposto. É considerada puramente geométrica. Os "raios" de projecção partem do
centro de perspectiva para o plano , Fig. 12 .

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Neste caso, os meridianos são representados por linhas rectas convergindo para o pólo, os paralelos são
representados por círculos concêntricos, de centro no pólo.

O espaçamento entre as representadas dos paralelos aumenta do pólo para o equador. A


quadrícula tem o aspecto da figura .

V - Projecção Azimutal Equidistante.

É uma projecção convencional, em que, os azimutes e distâncias de qualquer ponto em relação a um


ponto central tomado como origem, não sofrem deformações. No entanto, os azimutes entre quaisquer
outros dois pontos, apresentam deformações.
O ponto origem (centro da projecção), pode estar situado num ponto qualquer.

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VII.II - Projecção Centrográfica Cónica. (Perspectiva).

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