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CAPÍTULO 3.

ESTABILIDADES
SUBTERRÂNEAS E A CEU ABERTO

Table of Contents

CAPÍTULO 3. ESTABILIDADES SUBTERRÂNEAS (E A CEU ABERTO) ....................... 1

3.1 Apresentação de dados estruturais ................................................................................... 2

3.2 Introdução a projeção estereográfica................................................................................ 4

3.2.1 Projeção de área igual ................................................................................................ 6

3.2.2 TPC. ........................................................................................................................... 9

3.2.3 Solução do TPC ......................................................................................................... 9

3.3 Práticas geotecnicas relativas a rupturas controladas por estruturas geológicas em minas
subterrâneas .................................................................................................................. 11

3.4 Serviços de suportes de escavações subterrâneas .......................................................... 15

3.4.1 Objetivo de suporte .................................................................................................. 15

3.4.2 Casos ilustrativos e especificidades de parafusos de rochas ................................... 15

3.4.3 Critérios considerados para o suporte de cunhas de rochas ..................................... 18

3.4.4 Práticas para determinação de tipos de suportes em geral....................................... 23

3.4.5 Cálculos de interação de suporte de rocha............................................................... 28

3.5 Serviços sobre a estabilidade de escavações de mineração a céu aberto ....................... 30

3.5.1 Engenharia de taludes rochosos no contexto da saúde e segurança ........................ 31

3.5.2 Estabilidade de taludes rochosos em minas e pedreiras a céu aberto ...................... 32

3.6 Referências Bibliográficas ............................................................................................. 40

1
3.1 Apresentação de dados estruturais

Na área geotécnica, os serviços executados no âmbito de providenciar estabilidades de


escavações mineiras são múltiplas. É preciso começar com o mapeamento do maciço rochoso
como elucidado no capítulo 1 deste módulo. Os tipos de rupturas podem ser estructurais ou
induzidos, ou ainda dependendo de outros factos externos. Neste capítulo, vai se tratar de como
se faz os serviços geotécnicos ligados à estabilização de maciços rochosos que apresentam
descontinuidades estruturais. Em particular, vai se elaborar os serviços requeridos no caso de
estabilização de blocos de rochas formados devido a existências dessas irregularidades.

De outra maneira, a utilização efetiva dos dados geológicos por um engenheiro de minas ou
geotécnico requer que o engenheiro primeiro seja capaz de compreender e digerir os dados e
visualizar sua relação com a escavação de mineração proposta. É necessário que sejam
encontrados meios de apresentar os dados para que as relações geométricas tridimensionais
frequentemente complexas entre escavações e características estruturais possam ser
determinadas e retratadas. As principais características estruturais, como diques, falhas, zonas
de cisalhamento e juntas persistentes, podem ser representadas de várias maneiras. Seus traços
podem ser plotados diretamente nos planos de mina com as direções de mergulho e mergulho
marcados. Alternativamente, as descontinuidades estruturais são geralmente plotadas, nível por
nível, em sobreposições transparentes que podem ser colocadas sobre os planos de mina para
que sua influência possa ser avaliada no desenvolvimento de layouts de mineração. Entre as
formas de representar as principais características estruturais está o uso de sistemas modernos
de planejamento de mina baseados em computador, conforme representado na Figura 1 abaixo.

Figure 1 Representação computarizada de duas falhas intersectando as escavações


subterrâneas

2
Uma outra forma de representar um plano é por meio de uma projeção hemisférica. Este é um
método de representar e analisar as relações tridimensionais entre planos e linhas em um
diagrama bidimensional. Este método foi desenvolvido inicialmente como uma ferramenta
para uso em geologia estrutural, mas foi estendido e usado para resolver problemas de
engenharia. O princípio consiste no seguinte: Vamos imaginar uma esfera que é livre para se
mover em um espaço de modo que possa ser centralizada em um plano inclinado, conforme
ilustrado na figura 2.

Figure 2 O grande círculo e os seus polos definindo a orientação de um plano

A intersecção do plano e da superfície da esfera é um grande círculo (great circle). Uma linha
perpendicular ao plano e passando pelo centro da esfera cruza a esfera em dois pois
diametralmente opostos chamados de polos do plano.

Uma vez que o grande círculo e o polo que representa o plano aparecem nas partes superior e
inferior da esfera, apenas um hemisfério precisa ser usado para armazenar e manipular os dados
estruturais. Na mecânica das rochas, a projeção do hemisfério inferior é quase sempre usada.
A projeção do hemisfério superior é frequentemente usada em livros de geologia estrutural e
pode ser usada para estudos de mecânica de rochas apenas para casos específicos. A projeção
hemisférica fornece um meio de representar o grande círculo e o polo em um plano horizontal.
Isso é obtido conectando todos os pontos no grande círculo e o polo com o zênite (ponto no
qual uma vertical através do centro da esfera intercepta o topo da esfera), como mostrado na

3
figura 3. Assim, as projeções hemisféricas do grande círculo e do polo são dadas pelas
intersecções dessas linhas de projeção com o plano horizontal.

Figure 3 Projeção estereográfica de um grande círculo e o seu polo no plano horizontal a partir
do hemisfério inferior de referência

Na engenharia geotécnica, a projeção hemisférica pode ser representada por uma projeção
estereográfica (Wulff ou projeção de ângulo igual) usando um stereonet, ou pelo método de
Lambert (Schmidt ou projeção de área igual).

3.2 Introdução a projeção estereográfica

Este tipo de projeção tem a vantagem em termos de solução de alguns problemas de engenharia,
mas a maioria das construções a serem utilizadas são as mesmas para os dois tipos de projeção.
Para realizar a projeção, este método recorre a um stereonet, ver figura 4.

4
Figure 4 Projecção estereográfica meridional_Stereonet de área igual

A explicação dos elementos do stereonet, como os pequenos círculos, os grandes círculos, sua
construção, etc., já foi dada no curso de Geologia Estrutural. No entanto, o procedimento a ser
usado neste curso pode ser ligeiramente diferente daquele usado em Geologia Estrutural.
Envolve centrar um pedaço de papel vegetal sobre o stereonet com um alfinete, marcando o
ponto norte, marcando a direção do mergulho da descontinuidade medida em torno da periferia
do stereonet a partir do ponto norte, girando o papel vegetal de modo que a direção do mergulho
coincida com a direção leste ou oeste do stereonet, medindo o mergulho da descontinuidade
contando os grandes círculos da periferia do stereonet e desenhando o apropriado grande
círculo.

E o polo está traçado contando mais 90 graus ao longo do eixo leste-oeste a partir do grande
círculo com o papel vegetal ainda na posição de rotação. A projecção estereográfica apresenta-
se na prática como ilustrado na figure 5 a seguir.

5
Figure 5 Projecção estereográfica do grande círculo e do polo de um plano de descontinuidade.

No entanto, como dito anteriormente, essas manipulações podem ser realizadas por meio de
programas de computador.

3.2.1 Projeção de área igual


Esta projecção é mais adequada na análise de dados de orientação de descontinuidade. Aqui,
apenas os polos dos planos são traçados, em vez de grandes círculos. Isso permite traçar
rapidamente os dados para um grande número de descontinuidades em um diagrama, e esses
dados podem ser contornados para dar as orientações preferidas ou "médias" dos conjuntos de
descontinuidades dominantes e uma medida da dispersão das orientações sobre a "média". Para
alcançar este método de projeção, um stereonet polar devidamente anotado, como aquela
representada na figura 6, é usado.

6
Figure 6 Stereonet polar

Praticamente, por meio do stereonet polar, o papel vegetal no qual os dados devem ser plotados
não precisa ser girado na posição leste-oeste para plotar cada polo, conforme descrito na técnica
de projeção anterior. Aqui também, um pedaço de papel vegetal é centralizado sobre o stereonet
polar usando um alfinete. O ponto norte é marcado e os polos são plotados usando as direções
de mergulho fornecidas em negrito na mesma figura. Neste stereonet polar, os valores das
direções de mergulho são 180 graus a mais ou menos em comparação com o stereonet
meridional (ou somente stereonet). Além disso, os mergulhos devem ser medidos a partir do
centro do stereonet ao longo das linhas de direção de mergulho apropriadas. Um exemplo de
plotagem de polos é dado através da figura 7.

7
▲ : Planos de estratificação

o : Juntas

• : Falhas

Figure 7 Projecção de polos de 351 descontinuidades

Neste método, é contado o número de polos situados em áreas sucessivas, cada um constituindo
1% da área do hemisfério. As concentrações máximas de percentagem de polos são então
determinadas e os contornos da percentagem decrescente de concentrações de polos em torno
das concentrações principais são estabelecidos. Esses contornos são mostrados na figura 8. A
distribuição de orientações sobre as orientações centrais ou "médias" pode ser simétrica ou
assimétrica. Essas distribuições podem gerar modelos estatísticos capazes de fornecer medidas
de dispersão de orientações sobre a média. E a mais usada dessas distribuições é a distribuição
de Fisher, em que a constante de Fisher K é inversamente proporcional ao valor da dispersão.

8
Figure 8 Contornos das concentrações dos polos provenientes dos dados plotados na Figura 7

3.2.2 TPC.
1. Trace o grande círculo e o polo de um plano de 50/130

2. Determine o mergulho e a direção do mergulho da linha de interseção dos seguintes planos:


50/130 e 30/250.

3. Determine o ângulo entre as duas linhas seguintes: 54/240 e 40/140 no plano que as contém.

3.2.3 Solução do TPC

Figure 9 Solução TPC exemplo nº3

9
Com base no entendimento dos exemplos anteriores, a orientação (mergulho e direção do
mergulho) de um plano de descontinuidade pode ser determinada com base nas orientações dos
traços feitos pela interseção da descontinuidade com os limites de uma escavação. Para fazer
isso, as etapas descritas na figura 10 elaboram como determinar a verdadeira direção do
mergulho e do mergulho de um plano de descontinuidade em um caso simples.

Figure 10 Determinação da direcção de mergulho e o verdadeiro mergulho de um plano

Vamos considerar um túnel quadrado que tem paredes laterais verticais orientadas na direção
140-320 graus. O mergulho aparente de uma descontinuidade onde esta cruza a parede lateral
é de 40 graus SE (Sul-leste). A mesma descontinuidade cruza o tecto horizontal do túnel em
uma linha com tendência de 020-200. A seguir devem ser as etapas para a construção das
projeções:

1. Em um pedaço de papel vegetal localizado sobre o stereonet meridional, marque as


tendências (orientações) da parede lateral do túnel (140-320) e a intersecção da

10
descontinuidade com o teto horizontal (020-200) (Figura 10 a). Por definição, esta última linha
de intersecção representa a orientação (strike ) da descontinuidade.

2. Gire o papel vegetal de modo que a linha 140-320 fique no diâmetro leste-oeste do stereonet

3. Conte o mergulho aparente (40°) do perímetro do stereonet ao longo do diâmetro leste-oeste


e marque o ponto T (Figura 10 b).

4. Gire o papel vegetal de modo que a linha 020-200, que define a direcção (strike) da
descontinuidade, fique no diâmetro norte-sul do stereonet.

5. Com o papel vegetal nesta posição, desenhe o grande círculo em que se encontra a linha do
mergulho aparente T (Figura 10 c)

6. O verdadeiro mergulho da descontinuidade que, por definição, está perpendicular à


orientação (strike) do plano, é medido, sendo 44 graus do perímetro do stereonet ao longo do
diâmetro leste-oeste (Figura 10 c). Marque a linha de mergulho verdadeiro.

7. Gire o papel vegetal para que o ponto norte fique na posição inicial.

8. Leia a direção do mergulho, no sentido horário a partir do ponto norte, sendo 110 graus
(Figura 10 d)

3.3 Práticas geotecnicas relativas a rupturas controladas por estruturas geológicas em


minas subterrâneas

Nesta secção, apenas um caso simples de determinação do volume de cunha que cai sob a causa
estructural sera tratado, com recursco ao stereonet, tal como usado manualmente na mineração.

Considere um túnel através de um maciço rochoso caracterizado por blocos de rochas e juntas,
e parcialmente intemperizado (weathered). Para que um bloco de rocha caia livremente do tecto
(ou das paredes laterais) de uma escavação, é necessário que esse bloco seja separado do
maciço rochoso circundante por pelo menos três descontinuidades estruturais que se
intersectam.

Uma ruptura (falha) estruturalmente controlada é geralmente analisada por meio da projeção
estereográfica conforme ilustrado nas figuras 11 e 12. Neste exemplo, uma cunha (em bloco)
de rocha caindo do tecto de uma escavação em um maciço rochoso com juntas é mostrada.
Uma linha vertical desenhada através do ápice (apex ou vértice superior) da cunha deve cair

11
dentro da base da cunha para que a ruptura ocorra sem deslizar em pelo menos um dos planos
de junta.

Figure 11 Condições de queda por Figure 12 Condições de ruptura por


gravidade de uma cunha do tecto deslizamento de uma cunha do tecto

No gráfico estereográfico, a linha vertical através do vértice superior (apex) da cunha é


representada pelo ponto central do stereonet e as condições estabelecidas anteriormente são
satisfeitas se os grandes círculos que representam os planos conjuntos formarem uma figura
fechada ao redor do centro do stereonet.

É por meio dessa verificação cinemática simples que os engenheiros geotécnicos podem avaliar
o potencial de quedas do tecto durante os estudos preliminares de dados geológicos estruturais
coletados para o design de uma escavação subterrânea.

O método estereográfico também pode ser usado para uma avaliação muito mais detalhada da
forma e do volume de cunhas potencialmente instáveis, conforme ilustrado na figura 13.

12
Figure 13 Construção suplementar para a determinação da forma e do volume de uma cunha
definida pelas estruturas do maciço rochoso no tecto de uma escavação subterrânea.

Três planos são representados por seus grandes círculos, marcados A, B e C na figura 13. As
linhas de orientação desses planos são marcadas a, b, c, com os traços dos planos verticais
através do centro do stereonet e as intersecções do grande círculo são marcados ab, ac e bc.
Suponha que um túnel quadrado com largura (span) de S avança na direção de 290° - 110°,
como mostrado na segunda parte da figura 13. As direções das linhas de orientação
correspondem aos traços dos planos A, B e C no tecto horizontal do túnel. Essas linhas de

13
ataque podem ser combinadas para fornecer o tamanho máximo da figura triangular que pode
ser acomodada dentro da largura do tecto do túnel.

Na vista plana, o ápice (apex) da cunha é definido encontrando o ponto de intersecção das
linhas ab, ac e bc, projetadas a partir dos cantos da base da cunha triangular, como mostrado.
A altura h do ápice à base da cunha é encontrada tomando uma área através do ápice da cunha
e normal ao eixo do túnel. Esta seção, marcada como XX, cruza os traços a e c nos pontos
mostrados, e esses pontos definem a base do triângulo como visto na vista XX. Os mergulhos
aparentes dos planos C e A são dados pelos ângulos  e , medidos na projeção estereográfica
ao longo da linha XX, passando pelo centro do stereonet.

O volume da cunha é dado por [(1/3) .h x (área da base da cunha)], conforme determinado a
partir da vista plana na figura 13.

Se três juntas se cruzam para formar uma cunha no tecto de uma escavação subterrânea, mas a
linha vertical através do ápice da cunha não cai dentro da base da cunha, a falha só pode ocorrer
deslizando em uma das superfícies da junta ou ao longo de uma das linhas de intersecção. Esta
condição é representada estereograficamente se a figura da intersecção formada pelos três
grandes círculos cair para um dos lados do centro do stereonet, conforme ilustrado na figura 14
a seguir.

Figure 14 Representação estereográfica de uma cunha


cuja intersecção formada pelos três planos cai fora da
base (para um dos lados do centro do stereonet)

14
3.4 Serviços de suportes de escavações subterrâneas

3.4.1 Objetivo de suporte


O objetivo principal no design de suporte de escavação subterrânea é de ajudar o maciço
rochoso a se auto-suportar. No caso de recurso a aparafusamento, vários tipos são geralmente
usados. A figura a seguir ilustra alguns tipos de parafusos usados para o suporte de escavações
subterrâneas. Só para fins ilustrativos, a Figura 15 apresenta alguns tipos de rockbolt e dowels
(após Hadjigeorgiou e charette, 2001).

Figure 15 Alguns tipos de parafusos

Explicitando, mais figuras de parafusos e âncoras são apresentadas a seguir. Detalhes sobre os
critérios de uso são apresentados em anexo.

3.4.2 Casos ilustrativos e especificidades de parafusos de rochas

Figure 16 Pinos de madeira (paus) ou Dowels

15
Figure 17 Âncora mecânica de comprimento total e reutilizável

Figure 18 Âncora de atrito (fricção) ou Split set

Figure 19 Sistema “Perfo-bolt” (Perfu-Parafuso) usado pela ancoragem e cimentação de


Dowels

16
Figure 20 Dowel (Pino) cimentado e não tensionado

Figure 21 Parafuso com fenda associado a uma cunha

Figure 22 Parafuso ancorado mecanicamente, tensionado e cimentado

17
Figure 23 Parafuso tensionado com âncora cimentada

Figure 24 Barra de resina roscada e cimentada

3.4.3 Critérios considerados para o suporte de cunhas de rochas


O design racional de sistemas de suporte deve considerar a natureza interativa das
características de carga-deformação tanto do maciço rochoso quanto do sistema rochoso. Uma
análise completa da interação rocha-suporte representa um problema teórico extremamente
difícil. Uma solução aproximada para este problema será apresentada a seguir, que inclui um
certo número de suposições. Além disso, recomenda-se que o engenheiro faça uso de seu
julgamento, bom senso, antes de confiar nas respostas produzidas a partir desse tipo de análise
que, obviamente, mostrou um nível de confiabilidade aceitável (Hoek e Brown, 2005). Por
começar, ao escavar obras subterrâneas, é recomendado que essas sejam avançadas de modo
que se existe possibilidade de formação de blocos por razões estructurais, que esses sejam
pequenos possível ou que não se alonga por uma grande distancia. A figura 25 a seguir

18
apresenta casos de orientação favorável e desfavorável de planos de descontinuidade que
cortam uma escavação subterrânea.

Figure 25 Caso de orientação desfavorável e optimal de planos em relação a um túnel

3.4.3.1 Suporte de cunhas ou blocos susceptíveis para uma queda livre

Seja a figura 26, representando um suporte de cunhas ou blocos susceptíveis a uma queda livre.

Figure 26 Uso de parafusos ou cabos para suportar uma cunha susceptível para uma queda
livre

O suporte é projectado para resistir às deformações induzidas pelo peso morto da rocha solta,
bem como aquelas induzidas por um reajuste do campo de tensões na rocha ao redor da
escavação. No entanto, é perceptível em alguns casos de maciços rochosos articulados em
pouca profundidade, que as deformações induzidas por tensão podem ser insignificantes em

19
comparação com aquelas induzidas pelo peso da rocha quebrada. Uma vez que o peso a ser
suportado tenha sido estabelecido, resta projetar um sistema de suporte para resistir a esse peso.

Geralmente, é recomendado o uso de parafusos de rocha (rockbolt) ou cabos para apoiar as


cunhas ou blocos de rochas potencialmente instáveis que podem cair ou deslizar com o próprio
peso. Isso ocorre porque esses blocos ou cunhas de rochas se movem independentemente do
restante da massa rochosa e, portanto, aplicam carga concêntrica ou excêntrica ao sistema de
suporte. Os parafusos de rocha (rockbolt) e cabos são mais capazes de resistir a essas cargas
excêntricas do que os conjuntos de aço (steel set) ou revestimento de concreto e, portanto, o
último deve ser evitado se possível.

No design de suporte de rockbolt ou cabos para blocos ou cunhas, é recomendado que uma
tolerância liberal seja feita para variações na resistência do rockbolt ou cabo instalado e para
redução de resistência dependente do tempo devido à corrosão ou a fluagem (deformação a
carga constante ou creep) nos pontos de ancoragem. Normalmente, 100 parafusos de rocha
ancorados mecanicamente com uma carga de ruptura média de 30 toneladas (determinada a
partir de testes de arrancamento/ empuxo) seriam usados para apoiar um bloco de 1.500
toneladas. Isso dá um fator de segurança de 2 para o sistema. Quando os parafusos de rochas
ou cabos são cimentados, como deveriam ser para todas as instalações permanentes, esse factor
de segurança pode ser reduzido para cerca de 1,5.

O comprimento dos parafusos de rocha ou cabos é geralmente escolhido para garantir que eles
sejam ancorados bem além dos limites do bloco. A escolha de usar cem parafusos de 30
toneladas ou vinte cabos de 150 toneladas depende da natureza da junta no bloco e do maciço
rochoso ao redor do bloco. No caso de rocha dura maciça com suportes muito espaçados, o uso
de cabos pode ser a melhor e mais econômica solução. Por outro lado, se a rocha tiver juntas
estreitas, pode ser necessário usar parafusos para garantir que pequenas cunhas não caiam entre
esses parafusos. Portanto, é geralmente adotado que o espaçamento máximo entre os parafusos
ou cabos não excede três vezes o espaçamento médio da junta no maciço rochoso quando é
preciso suporte para o carregamento de peso morto.

20
3.4.3.2 Suporte de cunhas ou blocos que são livres para deslizar

Outro caso especial em que as deformações induzidas por tensões no maciço rochoso não são
significativas é o de cunhas ou blocos que podem deslizar livremente como ilustrado na figura
27. Este caso é semelhante ao discutido anteriormente, excepto que a resistência ao atrito da
superfície de deslizamento deve ser levada em consideração no design do sistema de suporte.
Mais uma vez, o uso de parafusos de rocha ou cabos é preferível a conjuntos de aço ou
revestimento de concreto.

Figure 27 Uso de parafusos ou cabos para suportar uma cunha susceptível de deslizar num
plano

O uso de técnicas estereográficas para determinar o peso (volume) e a direção de deslizamento


de cunhas no tecto ou nas paredes laterais de uma escavação foi discutido anteriormente. Um
dos parâmetros muito utilizados para a avaliação da estabilidade é o factor de segurança. Este
é a razão entre a resistência à tensão (a capacidade de resistir/suportar um peso) e a tensão (o
peso aplicado). Ainda é definido como a razão entre a soma de todas as forças máximas
presentes para resistir a uma ruptura e a soma das forças disturbantes. O fator de segurança
(FoS, ou simplesmente F) de um bloco ou cunha que é reforçado contra o deslizamento em um
plano é dado por:

𝑐𝐴+(𝑊𝑐𝑜𝑠𝜓+𝑇𝑐𝑜𝑠𝜃)𝑡𝑔𝜙
𝐹𝑜𝑆 = (I)
𝑊𝑆𝑒𝑛𝜙−𝑇𝑆𝑒𝑛𝜃

Where:

W: o peso do bloco ou cunha de rocha

21
T: Peso de parafusos ou cabos

A: Área da superfície deslizante

 Mergulho da superfície deslizante

 Angulo entre o mergulho do parafuso ou cabo e a perpendicular à superfície deslizante

c: Resistência a coesão da superfície deslizante

 Angulo de atrito da superfície deslizante

Portanto, o peso total de parafuso ou cabo necessário é:

𝑊(𝐹𝑜𝑆.𝑆𝑒𝑛𝜓−𝐶𝑜𝑠𝜓.𝑡𝑔𝜙)−𝑐𝐴
𝑇= (2)
𝐶𝑜𝑠𝜃.𝑡𝑔𝜙+𝐹𝑜𝑆.𝑆𝑒𝑛𝜃

Um fator de segurança de 1,5 ou 2 é geralmente usado, dependendo do dano que resultaria do


deslizamento do bloco ou cunha de rocha e se os parafusos ou cabos devem ou não ser
injetados.

Quando a geometria da cunha ou bloco é tal que o deslizamento ocorreria ao longo da linha de
intersecção de dois planos, a análise apresentada acima pode ser usada para dar uma primeira
aproximação da carga de suporte necessária. O mergulho da linha de interseção deve ser usado
no lugar do mergulho  do plano nas equações (1) e (2). Esta solução ignora a ação de cunha
entre os dois planos e a resposta obtida seria conservadora, ou seja, um menor fator de
segurança seria dado pela equação (1) do que aquele que seria obtido a partir da análise de
cunha total. Isso resultaria em uma carga de parafuso mais alta sendo calculada a partir da
equação (2) do que seria realmente necessário. Em muitas aplicações práticas, a qualidade dos
dados de entrada e a importância econômica da economia em parafusos de rocha não
justificariam uma análise mais refinada. No caso de cavernas/escavações subterrâneas muito
grandes, os tamanhos de cunhas ou blocos podem ser consideráveis e, portanto, uma análise
mais precisa pode ser justificada. Programas de computador estão disponíveis para identificar
cunhas ou blocos que deslizam ou caem, e para calcular as cargas de suporte necessárias para
atingir um dado fator de segurança. A Figura 28 mostra o mergulho e a orientação de um
parafuso ou cabo que dará o maior fator de segurança quando usado para reforçar uma cunha
que pode deslizar ao longo da linha de intersecção de dois planos. O mergulho do parafuso está

22
no ângulo igual ao ângulo de atrito das superfícies de deslizamento, medido a partir da linha
de intersecção. A tendência do parafuso é paralela à linha de interseção.

Figure 28 Direcção de parafusamento optimal para reinforçar uma cunha que desliza sobre
a linha de intersection de dois planos

3.4.4 Práticas para determinação de tipos de suportes em geral


Dependendo do raio do túnel e da pressão avaliada do suporte do túnel, os tipos de suporte
subterrâneo são geralmente escolhidos. A Figura 29 constitui um exemplo de como os apoios
subterrâneos podem ser determinados.

23
Figure 29 Modelo de determinação de suportes de escavações subterrâneas

A aplicabilidade dos parafusos quanto ao tipo de terreno em função de esforços de empuxo é


dada na tabela 1.

24
Tabela 1 Resistência máxima e caracteristica da Força-Deformação de parafusos mais usados

25
*Esforço máximo de empuxo determinado por ensaio de campo

**Valor relativo à característica da curva Força-deformação da âncora, parafuso, etc


3.4.4.1 Exemplo de suporte de rocha geral e sistema de reforço

Enquanto no caso do apoio e reforço local o objetivo era apoiar um determinado bloco ou zona
de rocha na periferia da escavação, aqui o objetivo é mobilizar e conservar a resistência inerente
ao próprio maciço rochoso. Isso geralmente é conseguido criando um arco de rocha
autossustentável, conforme mostrado na figura 30.

Figure 30 Boas Práticas no uso de pressão máxima para vários sistemas

3.4.4.2 Funcionalidade de suportes de rochas

No caso geral, espera-se que o maciço rochoso ao redor da escavação fratura ou ceda. As
abordagens de design que podem ser aplicadas neste caso são cálculos de interação de suporte
de rocha, a aplicação de regras de design empíricas, o uso de regras de design baseadas na
classificação de maciços rochosos e análises numéricas mais abrangentes. Na prática, com
bastante frequência, essas abordagens são usadas em combinação, como foi feito em parte na
figura anterior. Muitos tipos de suportes são geralmente usados no subsolo para suporte ativo
a passivo. A pressão radial do suporte e a sua capacidade de se alongar pode decidir do seu uso
ou não. A figura 31 ilustra as capacidades de alguns suportes quanto a essas propriedades.

26
Figure 31 Capacidade de suportes em termo de pressão radial vs deslocamento radial

Um caso concreto de análise da interacção rocha-suporte é de um túnel de diâmetro igual a 35


pés, e cuja qualidade do maciço é razoável gnaisse localizado a 400 pés abaixo da superfície,
tal como ilustrado na figura 32.

27
Figure 32 Análise da interacção rocha-suporte

3.4.5 Cálculos de interação de suporte de rocha


Estes cálculos podem ser realizados usando os métodos de cálculo, que não é preciso apresentar
neste nível. Geralmente, é necessário realizar uma série de cálculos para uma série de ensaios
de designs antes que um design apropriado possa ser selecionado para um teste de campo.

3.4.5.1 Regras de design empírico

Uma ampla gama de suporte empírico e regras de design de reforço foram desenvolvidas nos
últimos 60 anos. Essas regras, que são baseadas em práticas precedentes, geralmente se aplicam
a escavações subterrâneas permanentes, em vez de escavações temporárias de mineração, como
28
stopes. Eles têm fundamentos na geometria e não tomam conta explicitamente do campo de
tensões induzidas em torno da escavação ou da qualidade do maciço rochoso. Por essas razões,
são geralmente usados com extrema cautela e apenas para fazer estimativas preliminares que
devem ser verificadas por meio de avaliações mais completas.

A gama de regras de design empíricas disponíveis diz respeito à sua aplicação ao suporte e
reforço de escavações de produção (drifts) em uma mina que usa o método de block caving.
Um dos casos praticamente considerados é o de Lang (1961). Este autor sugere que o
comprimento mínimo do parafuso L deve ser:

a. Duas vezes o espaçamento do parafuso s;

b. Três vezes a largura dos blocos de rocha críticos e potencialmente instáveis definidos pelo
espaçamento médio de descontinuidade, b; ou

c. 0,5B para vãos de B <6m, 0,25B para vãos de B = 18-30m

Às vezes, é adoptado que, para escavações superiores a 18 m, os comprimentos dos parafusos


da parede lateral devem ser de pelo menos um quinto da altura da parede. O espaçamento
máximo de parafusamento “s” é dado por pelo menos 0,5L e 1,5b. Quando é usada o weld mesh
(malha soldada) ou chain mesh (malha de corrente), um espaçamento de parafusamento de
mais de 2 m torna a fixação da malha difícil, se não impossível.

Figura 30 anterior mostra um layout preliminar de um padrão de rockbolting (aparafusamento)


para uma escavação em forma de ferradura (pé de cavalo ou horse-shoe-shaped) em rocha
articulada, preparado usando as regras de Lang. Esta figura também ilustra a base sobre a qual
as regras de Lang foram desenvolvidas.

3.4.5.2 Esquemas de classificação de maciços rochosos.

A teoria desenvolvida no módulo de Mecânica Aplicada do último semestre é aplicada nos


esquemas de classificação de maciços rochosos. Esses são os esquemas de Barton et al. (1974)
e Bieniawski (1973, 1976), desenvolvido como métodos de estimativa de requisitos de suporte
para escavações subterrâneas. A figura 33 mostra as recomendações par ao suporte e reforços
de escavações permanentes, uma versão melhorada do Barton et al. (1974), e que facilita
avanços subsequentes de reboco (shotcrete).

29
Figure 33 Recomendações de suporte permanente e reforços baseadas no sistema Q de
Barton et al. (1974) (Barton 2002)

3.5 Serviços sobre a estabilidade de escavações de mineração a céu aberto

Esta secção destina-se principalmente em mostrar o uso prático do stereonet para a


identificação das condições de estabilidade de taludes rochosos. No entanto, também vale a
pena revisar alguns aspectos principais da maioria dos códigos de prática (codes of practice)
usados nesses domínios. É de notar que no plano temático de Serviços mineiros II, não vem a
secção de serviços de estabilização de taludes. Mas o docente inseriu visto a importância de
obras a céu aberto em Moçambique. No efeito, o graduado do curso de Engenharia de Minas
no ISPT tem uma grande probabilidade de trabalhar em minas a céu aberto ou obras de
engenharia civil em relação à sua chance de operar numa mina subterrânea.

30
3.5.1 Engenharia de taludes rochosos no contexto da saúde e segurança
A maioria dos acidentes na indústria de mineração é causada por quedas e explosões de rochas.
A engenharia de rochas dá uma contribuição muito importante para a melhoria da segurança
na indústria de mineração, reduzindo a incidência de quedas e explosões de rochas. O
empregador tem a obrigação de implementar um código de prática que deve estar alinhado com
a lei de saúde e segurança da mina. O código de prática implementado deve estar de acordo
com as diretrizes relevantes emitidas pelo Inspetor Chefe de Minas. Assim, a elaboração do
código de prática, que posteriormente constituirá nos serviços a serem executados na mina para
fins de saúde e segurança sobre engenharia de rocha, visa quatro princípios:

• Identificação e documentação de perigo relacionado a rocha

• Desenvolvimento de estratégias adequadas para eliminar ou reduzir o risco causado por esses
perigos

• Alocação de responsabilidade pela execução dessas estratégias

• Treinamento de pessoas para capacitá-las a cumprir suas funções

Vamos nos concentrar nos dois primeiros princípios. Os serviços desenvolvidos nas minas
dependerão do seguinte código de princípios:

3.5.1.1 Coleta de informações gerais

• Breve descrição do mapa de localidade da mina, em relação à cidade, infraestrutura existente


e quaisquer outras características, como barragens próximas, rios, etc.

• Ambiente de mineração: minérios extraídos, hidrologia regional, configuração sismológica


da mina

• Distrito de controle de solo: esta é uma área onde existem condições geotécnicas semelhantes,
e na qual os mesmos métodos de controle de estratos padrão, direção de mineração e design de
sistema de suporte podem ser implementados. Portanto, a localização e extensão dos distritos
de controle de solo devem ser claramente descritos e indicados em um plano de distrito de
controle de solo.

• Queda de rocha da mina e análise de incidente de rockburst (explosões de rochas): Uma


tabulação das vítimas de rocha de cinco anos de história da mina (fatais, reportáveis e incidentes
incapacitantes) e incidentes não-vítimas categorizados de acordo com rompimentos e quedas
de rocha por 1000 funcionários no trabalho deve ser incluída no código de prática.

31
3.5.1.2 Gestão de riscos relacionados a rochas

As estratégias e serviços a incluir nesta secção são:

▪ Identificação de perigos: Todos os perigos existentes como consequência dos vários


parâmetros geológicos, hidrológicos, sismológicos e geotécnicos ou decorrentes das
várias operações de mineração devem ser identificados listados e brevemente descritos.
▪ Estratégias para reduzir e gerenciar riscos relacionados a rochas
▪ Definição de responsabilidades e funções de todos os indivíduos
▪ Apoio à metodologia de design
▪ Estabelecimento de critérios de competência (para todos os funcionários)
▪ Elaboração de estratégias gerais de estabilidade da mina (em relação aos perigos
relacionados à atividade de mineração)
▪ Estratégias de escavação ou parada
▪ Serviços de desmonte e práticas
▪ Estratégias de proteção de acessos à mina
▪ Inclusão de perigos relacionados à rocha no processo geral de planeamento da mina
▪ Monitoramento da estabilidade dos locais de trabalho, das atividades sísmicas, etc.

3.5.2 Estabilidade de taludes rochosos em minas e pedreiras a céu aberto


Este tópico não trata de elaborar os benefícios e princípios da estabilização de taludes. E
embora muitos trabalhos práticos possam ser usados para fazer isso, aqui vamos recorrer a um
ou dois métodos práticos frequentemente usados em trabalhos a céu aberto. Estas baseiam-se
essencialmente na utilização de grados e do uso do stereonet para estabelecer as condições de
estabilidade de taludes e para desenhá-los.

Vale a pena recordar que os principais tipos de rupturas que ocorrem em taludes rochosos são
os apresentados na figura 35 seguinte.

32
Figure 34 Principais tipos de rupturas de taludes rochosos

Esses tipos de falhas incluem os modos de rotação, translação e tombamento. E esses modos
estão relacionados a três categorias de comportamentos de estabilidade:

▪ Solo, materiais de cobertura e materiais rochosos profundamente intemperizados para


os quais as avaliações de estabilidade baseadas na mecânica do solo são apropriadas
▪ Situações localmente homogêneas de maciço rochoso para as quais as avaliações de
estabilidade baseadas em classificação de maciço rochoso são apropriadas para fins
preliminares
▪ Situações em que o comportamento será dominado pela estrutura geológica. Aqui, as
análises de estabilidade cinemática, levando em consideração os planos estruturais,
serão necessárias (translacionais).

3.5.2.1 Avaliação da estabilidade de taludes em solo e rocha profundamente intemperizada

Esta fase diz respeito principalmente à estabilização de taludes de argila, de pedreiras de areia
e cascalho, de saprólitos e outras operações de mineração semelhantes que dependem do
comportamento de material de tipo solo. Nesse caso, a formação de uma superfície de rupture
é pouco afetada pela estrutura. A falha é geralmente circular. A análise do método de
estabilidade geralmente recorre a pacotes de software comerciais. Mas, para uma avaliação
rápida, os engenheiros de rocha geralmente recorrem ao uso de gráficos (ábaco/grafos) de
estabilidade de taludes.

33
Para esse propósito, um conjunto de grafos, correspondentes a cinco diferentes condições da
água subterrânea mostradas na Figura 35, são dados no anexo B. E os inputs necessários para
o uso desses grafos são os seguintes:

▲ C: Coesão da massa do solo (KPa)

▲ : Densidade da massa do solo (Kg / m3)

▲ : ângulo de atrito interno da massa do solo (º)

▲ H: altura de talude (m)

Para determinar o fator de segurança de um talude, os gráficos são usados da seguinte forma:

• Calcular o valor de C / (H.tg) e encontre o ponto correspondente na circunferência


do gráfico
• Fazer corresponder radialmente para dentro do grafo a partir deste ponto até encontrar
a isolinha de ângulo de talude necessária
• Para este ponto de interseção, ler o valor de ordenada correspondente tg / (FoS) e,
portanto, calcule o valor do fator de segurança FoS.

A partir dessa explicação, podemos ver que os grafos são usados na prática para determinar o
FoS de forma muito rápida. Eles também são usados para análise posterior de taludes, bem
como para determinar, por exemplo, o valor de coesão necessária para a estabilidade.

34
Figure 35 Cinco diferentes condições da água subterrânea

Os parâmetros da massa do solo (coesão, ângulo de atrito e densidade) são determinados por
meio de testes de laboratório e de campo. Deve-se garantir que esses valores sejam relevantes
e representativos da condição do talude. Como guia, a Tabela 2 fornece descrições da
consistência dos solos e os valores típicos correspondentes para os parâmetros. Esses valores
não levam em consideração nenhuma estrutura do solo que possa estar presente na massa do
solo.

35
Tabela 2 valores típicos dos parâmetros de solos

Descrição de solo Densidade Coesão Angulo de


(kN/m3) (kPa) atrito (º)
Areia/brita solta 16 Zero 35
Areia/brita de densidade média 18 zero 37
Areia/brita densa 20 Zero 40
Silto solto 16 2 29
Silto de densidade média 17 5 30
Silto denso 18 10 31
Argila mole 16 5 2
Argila razoavelmente dura 17 10 24
Argila dura 18 25 25

Exemplo prático

Um talude em solo de 30m tem uma face de 30º de inclinação. O solo é de argila rígida. As
propriedades da argila são: coesão de 10kPa, angulo de atrito de 24º, peso específico de
17kN/m3, o talude é razoavelmente seco. Com o uso dos grafos,

a. Determine se o talude é estável ou não.


b. Se as medidas de drenagem forem implementadas para que o talude seja totalmente seco,
qual é que seria o factor de segurança?

Respostas: Antes de tudo, tem que se identificar o grafo

a. Talude instável (FoS ou F é igual a 0.87)


b. F=1.0859 (Talude estável)

3.5.2.2 Avaliação da estabilidade de taludes rochosas em maciços rochosos homogêneos

Se o maciço rochoso for considerado homogêneo, a boa prática consiste em recorrer a técnicas
de classificação de maciço rochoso. Isso implica o conhecimento dos princípios definidos no
curso de Mecânica Aplicada. Também aqui, assume-se que o controle da estabilidade global
ou geral não é dominado por rupturas devido a estruturas maiores. Explicitamente, a abordagem

36
faz uso do parâmetro de classificação de maciço rochoso: MRMR. Este sistema leva em
consideração os seguintes parâmetros:

• Resistência do material rochoso (UCS)

• Designação de qualidade de rocha (RQD)

• Espaçamento das juntas

• Condição de juntas e lençol aquífero (ou águas subterrâneas)

No final, deve ser possível selecionar o ângulo de talude geral adequado graças seja ao uso da
tabela 3 ou do grafo na figura 36 a seguir:

Tabela 3 Correlação entre os valores de MRMR ajustados e os recomendados ângulos finais


(gerais) de taludes rochosos
Valor do 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0
MRMR
ajustado
Angulo >75º 75º 70º 65º 60º 55º 50º 45º 40º 35º <35º
final de
talude

Figure 36 Grafo de determinação do ângulo de talude geral adequado na base do MRMR

37
3.5.2.3 Avaliação das condições de estabilidade de taludes rochosos em maciços rochosos
contendo rupturas devido a estruturas maiores

Na prática, decide-se da seguinte forma da estabilidade dos taludes quanto a estabilidade de


cunhas de rochas.

Tabela 4 Critério empírico e geralmente usado para a determinação de condições de


estabilidade de taludes rochosos

FoS Calculado Condição de Estabilidade Acção recomendada


FoS>2,0 Estável Nenhuma
1,0<FoS<2,0 Marginal Analisar a estabilidade rigorosamente
FoS<1,0 instável Rever o design ou estabilizar

Outros procedimentos com recurso à utilização de gráficos podem ser considerados no caso de
rupturas estruturais. Isso será omitido nesta apresentação, de modo que o foco permaneça
apenas na determinação das condições de estabilidade de taludes de rocha usando um stereonet.

Vamos considerar o problema da Figura 37 se os dados de talude e planos de descontinuidade


são fornecidos na tabela 5.

Para a resolução do problema, o stereonet construído deve ser conforme representado na Figura
38. A regra prática é que um talude tende a falhar (se romper) sempre que sua face for mais
íngreme do que a linha de intersecção de dois outros planos de descontinuidade. Caso contrário,
o talude pode ser considerado estável. O nível de estabilidade deve ser determinado calculando
o valor de FoS dado pela seguinte expressão.

Figure 37 Condição de estabilidade de talude onde se intersectam dois planos de


descontinuidade

38
Tabela 5 Exemplo de dados estructurais na análise de estabilidade de taludes

Plano Mergulho Direcção do Mergulho


A 45º 105º
B 70º 235º
Face do talude 65º 185º
Superfície superior 12º 195º

Figure 38 Resolução com o uso de stereonet do exemplo de dados estructurais na análise de


estabilidade de taludes

39
3.6 Referências Bibliográficas

Barton, N. (2002) Some new Q-value correlations to assist in the site characterisation and
tunnel design. Int. J. Rock Mech. Min. Sci., 39(2): 185-216.
Barton, N. R., Lien, R. e Lunde, J. (1974) Engineering classification of rock masses for the
design of tunnel support. Rock Mech. 6(4): 18-239.
Bieniawski, Z. T. (1973) Engineering classification of jointed rock masses. Trans Soc. Min.
Engrs, 15(12): 335-44
Bieniawski, Z. T. (1976) Rock mass classifications in rock engineering. Exploration for rock
engineering (ed. Z. T. Bieniawski), 1: 97-106. A. A. Balkema: Cape Town
Hadjigeorgiou, J. e Charette, F. (2001) Rock bolting for underground excavations.
Underground Mining Methods: Engineering Fundamentals and International Case
Studies (eds W. A. Hustrulid e R.L. Bullock), 547-54. Society for Mining, Metallurgy and
Exploration: Littlelon, Colorado.
Hoek, E. e Brown, E.T. (2005) Underground Excavations in rock. Institution of Mining and
Metallurgy. Taylor e Francis Group, London and New York.
Lang, T. A. (1961) Theorie and Practice of rock bolting. Trans Soc. Min. Engrs, AIME, 220:
333-48.

ANEXOS
Anexo A. DETALHES SOBRE A APLICABILIDADE DE ALGUNS PARAFUSOS

40
Anexo A.1 Pinos de madeira ou Dowels

41
Anexo A.2 Âncora mecânica de comprimento total e reutilizável

42
Anexo A.3 Âncora de atrito (fricção) ou Split set

43
Anexo A.4 Sistema “Perfo-bolt” (Perfu-Parafuso) usado pela ancoragem e cimentação de
Dowels

44
Anexo A.5 Dowel (Pino) cimentado e não tensionado

45
Anexo A.6 Parafuso com fenda associado a uma cunha

46
Anexo A.7 Parafuso ancorado mecanicamente, tensionado e cimentado

47
Anexo A.8 Parafuso tensionado com âncora cimentada

48
Anexo A.9 Barra de resina roscada e cimentada

49
Anexo B. GRAFOS DE AVALIAÇÃO DE CONDIÇÕES DE ESTABILIDADE DE
TALUDES NA BASE DE CINCO DIFERENTES CONDIÇÕES DA ÁGUA
SUBTERRÂNEA

50
Anexo B.1 Grafos de análise de estabilidade de taludes conforme às condições 1 e 2 das
águas subterrâneas na base da figura 35

51
Anexo B.2 Grafos de análise de estabilidade de taludes conforme às condições 3 e 4 das
águas subterrâneas na base da figura 35

52
Anexo B.3 Grafos de análise de estabilidade de taludes conforme à condição 5 das águas
subterrâneas na base da figura 35

53

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