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CARTAS TOPOGRÁFICAS:

orientações de uso

Paulo Roberto Fitz


Elcyr Gausmann

Porto Alegre, 1999


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fone (051) 233-3144 / fax (051) 233-9598
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tiragem: exemplares

F548c FITZ, P. R. GAUSMANN, E. Cartas Topográficas: orientações


de uso. Porto Alegre: EMATER/RS, 1999. 33p.

CDU 528.425
SUMÁRIO

Apresentação ....................................................................................... 5
1 Potencialidade de Uso .................................................................... 7
2 A Representação Cartográfica ........................................................ 9
3 Mapas e Cartas ............................................................................... 13
4 Escalas ............................................................................................ 15
5 Localização de Pontos .................................................................... 17
6 Elementos usuais apresentados em uma carta topográ.fica .......... 23
7 Uso prático das cartas topográficas ................................................ 25
8 Glossário ......................................................................................... 31
9 Referências Bibliográficas ............................................................... 33
APRESENTAÇÃO

Todas as atividades desenvolvidas pela Extensão Rural têm, via de


regra, sua localização ou seu endereço determinados no espaço. Neste
sentido, as propriedades rurais, as comunidades, os grupos de produtores e
as microbacias hidrográficas têm seu espaço definido no universo.
O entendimento desta inserção em um espaço maior, certamente
nos condicionará a adotar posturas diferentes daquelas que adotamos
quando vislumbramos e executamos nossa ações isoladas em uma
propriedade ou simplesmente com uma família. A afirmação de que “a
microbacia hidrográfica é a unidade ideal para a preservação do meio
ambiente” está alicerçada no princípio de que as ações interagem
espacialmente sendo os seus resultados, positivos ou negativos,
canalizados para um único ponto do espaço.
Consciente da importância do conhecimento do todo que cerca
estas unidades de trabalho é que a EMATER/RS está investindo em
recursos humanos e materiais para capacitar seu quadro funcional no uso
de ferramentas que possam auxiliar nas tarefas de diagnosticar,
prognosticar, planejar e monitorar as ações desenvolvidas visando a
sustentabilidade do ambiente inserida em um contexto amplo.
Se as ações da empresa desenvolvem-se em locais com
“endereços” locados no espaço, nada mais correto que trabalharmos com
ferramentas que disponibilizem estas informações de formas práticas e
objetivas. As cartas topográficas e os mapas constituem-se, desta forma,
em importante subsídio para a extração de elementos que venham a facilitar
o planejamento das ações, a visualização da abrangência e a definição das
prioridades dentro dos limites das áreas desta atuação. Para implementar
esta filosofia de trabalho, a EMATER/RS está provendo todos seus
Escritórios Municipais de cartas topográficas na quantidade necessária a
cobrir toda a área de cada município do Estado.
O presente trabalho tem o objetivo oferecer subsídios à utilização
das informações constantes nas Cartas Topográficas elaboradas pela 1ª
Divisão de Levantamento do Exército.
1 POTENCIALIDADE DE USO

As informações contidas nas cartas topográficas, uma vez


entendidas, permitirão registrar uma série ocorrências ou de características
que muito contribuirão para melhor detalhar e registrar os diferentes fatores
de produção que interferem na execução dos trabalhos de extensão rural.
As atividades de registrar espacialmente ocorrências climatológicas,
caracterização do relevo, sistemas de drenagem, identificação de unidades
de solo, detalhamento geológico, sistemas viários, uso do solo, limites
territoriais e outras, permitem a qualquer ramo de atividade e, em particular
à atividade primária, usar e manipular um apreciável volume de informações
visualizadas através de conjunto de símbolos e sinais impressos
ordenadamente.
A expectativa da EMATER–RS ao oferecer esta ferramenta de
trabalho é a de que a mesma constitua-se em um meio eficiente e eficaz
para complementar o conhecimento da situação da área de trabalho de
cada extensionista. Neste sentido, tem-se convicção que as atividades a
seguir relacionadas poderão ser significativamente qualificadas:
 Estudo da situação do município;
 Registro das Microbacias e comunidades trabalhadas;
 Diagnóstico do potencial do uso do solo;
 Limites das sub-bacias/microbacias hidrográficas;
 Diagnóstico das prioridades de trabalho;
 Limites de registro climáticos especiais (microclimas);
 Instrumentos de qualificação dos DRPs.

Este trabalho pretende oferecer aos extensionistas uma informação


prática que permita o fácil entendimento das informações contidas nas
Cartas Topográficas e desta forma permitir a ampla utilização das mesmas
nas atividades de campo.
2 A REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA

A representação cartográfica vem evoluindo há milhares de anos


até apresentar-se da forma como a conhecemos nos dias de hoje.
Um dos aspectos mais importantes para a utilização de um mapa
diz respeito à sua orientação. O verbo orientar está relacionado com a
busca do oriente, palavra de origem latina que significa nascente. Assim, o
“nascer” do Sol, nesta posição, relaciona-se à direção leste, ou seja, ao
oriente.
Possivelmente, um dos mais antigos métodos de orientação que se
tem conhecimento baseia-se em estendermos nossa mão direita na direção
do nascer do Sol, apontando assim, para a direção Leste (E); o braço
esquerdo esticado, conseqüentemente, prolongar-se-á na direção Oeste
(W); nossa fronte estará voltada para o Norte (N) e as costas, para o Sul
(S). A figura 1 apresenta esta forma de se orientar.

FIGURA 1 – COMO ORIENTAR-SE

ZÊNITE

W EE

S
S
Tomando estas direções principais, pode-se construir a chamada
“Rosa dos Ventos” (fig.2) que auxilia nossa orientação quando se quer
encontrar um determinado lugar.

FIGURA 2 – ROSA DOS VENTOS

NW NE
NE

W EE

SW S SE
E

S
Outro problema enfrentado para uma boa representação
cartográfica diz respeito à forma da Terra. Nosso planeta possui uma forma
específica, esférica e imperfeita. Como se sabe, um mapa é uma
representação plana e, em função desta característica, não se tem
condições físicas de se transformar os aspectos desta superfície curva num
plano sem incorrer em grandes problemas de representação. Para
minimizar este problema, foram feitas algumas adaptações a fim de
aproximar a realidade da superfície para uma forma passível de ser
geometricamente transformada, sendo criado um sistema denominado de
“Projeções Cartográficas”, o qual, através de alguns ajustes, transporta da
maneira mais precisa possível, os pontos da superfície da Terra para os
mapas que conhecemos.
As projeções cartográficas apoiam-se em funções matemáticas
visando transportar pontos da superfície da Terra para uma superfície de
projeção que pode ser plana, cônica ou cilíndrica.
No caso das Cartas Topográficas disponibilizadas, o sistema de
projeção adotado é o Sistema de Projeção Universal Transversa de
Mercator, ou simplesmente, UTM. Este sistema, baseado numa superfície
de projeção cilíndrica, adota coordenadas métricas planas, com
características específicas, que aparecem nas margens das cartas,
acompanhando uma rede de quadrículas planas. Os valores das
coordenadas obedecem a uma sistemática de numeração a qual estabelece
um valor de 10.000.000 m (dez milhões de metros) sobre o Equador. As
distâncias medidas, a partir deste eixo N (norte-sul) de referência, localizado
sobre um meridiano padrão específico, denominado de Meridiano Central
(MC), vão se reduzindo no sentido Sul do mesmo. O MC serve de
parâmetro para o estabelecimento das coordenadas no eixo E (leste-oeste)
tendo o valor de 500.000m como referência e as coordenadas são
contadas, a partir do mesmo, com valores crescentes no sentido leste e
decrescentes no sentido oeste.
A figura 3 apresenta um recorte de uma carta na escala 1:50.000,
semelhante às disponibilizadas, com o indicativo das Coordenadas Planas
6680000mN (linha horizontal) e 332000mE (linha vertical) seguidas das
coordenadas 6682 (acima) e 334 (à direita) que abreviadamente
representam respectivamente as coordenadas 6682000mN e 334000mE.
Esta indicação permite também entender que cada quadrícula possui
dimensão de 2.000m x 2.000m = 4000000m2, ou 2km x 2km = 4km2.

FIGURA 3 – SISTEMAS DE COORDENADAS


As cartas topográficas apresentam, também, um sistema de
coordenadas geográficas, expressas com unidades de medida angular, ou
seja, graus (°), minutos (’) e segundos (”). Este sistema também
proporciona, a localização de um ponto qualquer na superfície através de
suas coordenadas geográficas: latitude e longitude. Na figura 3, no canto
inferior esquerdo, identifica-se também as Coordenadas Geográficas –30°
00’ e 52°45’, indicando, respectivamente, 30° de latitude sul e 52°45’ de
longitude oeste. Na escala de 1:50.000, enquanto as coordenadas planas
são apresentadas em quadrículas com intervalo de 2000m, as coordenadas
geográficas são sinalizadas no intervalo de 5° em 5°.
3 MAPAS E CARTAS

Conforme OLIVEIRA (1993) a origem da palavra mapa deve ser


cartaginesa, significando “toalha de mesa”. Esta conotação derivada-se das
conversas realizadas por comerciantes que, desenhando sobre as toalhas
(mappas), identificavam rotas, caminhos, localidades e outros informes
gráficos necessários para os seus negócios.
Conforme o país, o termo mapa ou carta é utilizado diferentemente.
No Brasil, a ABNT confere as seguintes definições:

 MAPA: representação gráfica, em geral uma superfície plana e numa


determinada escala, com a representação de acidentes físicos e
culturais da superfície da Terra, ou de um planeta ou satélite.

 CARTA: representação dos aspectos naturais e artificiais da Terra,


destinada a fins práticos da atividade humana, permitindo a avaliação
precisa de distâncias, direções e a localização plana, geralmente em
média ou grande escala, de uma superfície da Terra, subdividida em
folhas, de forma sistemática, obedecido um plano nacional ou
internacional.
Em função dos diferentes objetivos a que se destinam, os mapas e
cartas podem ser classificados diferentemente:

 Mapas gerais: sem fins específicos, uma espécie de mapa mural,


visando um usuário leigo e comum;

 Mapas especiais: elaboradados para usuários específicos. Ex.:


meteorológico, astronômico, turístico etc;

 Mapas temáticos: utilizam mapas base sobre os quais são


representados aspectos diferenciados. Ex.: solos, geológico,
geomorfológico etc.
De acordo com a escala, os mapas e cartas podem ser
caracterizadas da seguinte forma:

 Carta cadastral: extremamente detalhada, com grande escala


(maiores do que 1:5.000)1. Ex.: cadastro municipal;

 Carta topográfica: compreende as escalas médias (entre 1:25.000


e 1:50.000), contendo detalhes planimétricos e altimétricos, elaboradas
a partir de levantamentos topográficos e/ou aerofotogramétricos;

 Carta geográfica: com escalas pequenas (maiores do que


1:500.000), apresentando simbologia diferenciada para as
representações planimétricas (exagerando os objetos) e altimétricas,
através de curvas de nível ou em cores hipsométricas.

1
Não há regras rígidas quanto à classificação de onde começa e termina um tipo de escala.
4 ESCALAS

A escala é um dos elementos fundamentais para o bom


entendimento e trabalho no mapa que se está utilizando. Trata-se da
relação ou proporção existente entre as distâncias lineares existentes no
terreno e aquelas representadas no mapa, respectivamente.
Em geral, as escalas são apresentadas nos mapas de duas formas:
numérica e/ou gráficas.
Escala numérica: representada por uma fração onde o numerador é
sempre a unidade, representado a distância no mapa e o denominador
representado quantas vezes aquela distância é maior, na realidade.
Exemplos:
1:50.000 1/50.000
Escala Gráfica: representada por uma barra (régua) graduada em que cada
parte destas subdivisões representa a distância respectiva no terreno real.
Exemplo:

1000m 0 1000 2000 3000 4000m

A utilização prática da escala contida em um mapa diz respeito às


medições possíveis a serem realizadas no mesmo. Assim, as distâncias
entre quaisquer localidades podem ser facilmente calculadas através de
simples regras de três, simplificadas pela fórmula a seguir:
D=Exd, onde: D = distância real no terreno
E = denominador da escala
d = distância medida no mapa
Exemplo:
Ao medirmos uma distância em uma carta achamos 25 cm. A
escala da carta é 1:50.000, ou seja, cada centímetro na carta representa
50.000 centímetros na realidade (ou 500 metros). A distância no terreno
será:
D=Exd
D = 50.000 x 25 cm = 1.250.000 cm = 12.500 m = 12,5 km
5 LOCALIZAÇÃO DE PONTOS

5.1 Meridianos e Paralelos

Para facilitar a localização de pontos na superfície da Terra, dividiu-


se a superfície terrestre em partes iguais denominadas de hemisférios,
conforme é apresentado na figura 4.
Tem-se, assim, o Hemisfério Norte localizado ao norte da linha do
Equador, o Hemisfério Sul, ao sul desta mesma linha, o Hemisfério
Ocidental a leste do Meridiano considerado como padrão, Greenwich, e o
Hemisfério Oriental, a oeste deste mesmo meridiano.

FIGURA 4 – HEMISFÉRIOS

PÓ LO NORTE
= 0°

H E M IS F É R IO O C ID E N T A L H E M IS F É R IO N O R T E
D IA N O D E G R E E N W IC H

H E M IS F É R IO O R IE N T A L

EQ UAD O R = 0°

H E M IS F É R IO S U L
M ERI

PÓLO
P Ó LSUL
O SUL
Meridianos: são círculos que cortam a Terra em duas partes iguais,
passando pelos pólos Norte e Sul, cruzando-se entre si nestes pontos,
semelhantemente aos gomos de uma laranja.

Paralelos: seriam os cortes horizontais feitos nesta “laranja”, ou seja são os


círculos que cortam a Terra perpendicularmente aos meridianos.

5.2 Latitude e Longitude (ver figura 5)

Latitude: distância angular entre o plano do Equador e um ponto na


superfície da Terra unido ao centro do Planeta.

Longitude: ângulo formado entre o ponto considerado e o meridiano de


origem (normalmente Greenwich = 0°).

FIGURA 5 – LATITUDE E LONGITUDE

Pólo Norte

h
c
wi
n
e
e
r
G
e
d
Latitude ad
or
o Equ
n
a
id
ir
e
M Longitude

Pólo Sul
5.3 Localização de Pontos

Para se localizar pontos na superfície da Terra deve-se ter os


valores de suas coordenadas.

Como já foi colocado anteriormente, as cartas topográficas


apresentam dois sistemas de coordenadas: as coordenadas geográficas,
expressas em graus, minutos e segundos (sistema sexagesimal) e as
coordenadas planas do sistema UTM, no sistema métrico decimal.

A determinação das coordenadas de um ponto qualquer em uma


carta topográfica pode ser obtida de forma razoavelmente simplificada a
partir da realização de uma regra de três simples, com o uso de um
escalímetro (régua comum) conforme a figura 6.

FIGURA 6 - DETERMINAÇÃO DAS COORDENADAS UTM

Para a determinação das coordenadas UTM dos pontos A e B,


procede-se da seguinte maneira:
 ponto “A” está localizado exatamente no encontro das linhas
correspondentes às coordenadas 334.000mE e 6.682.000mN, não
necessitando cálculo algum;

 para encontrar-se as coordenadas do ponto “B”, sabendo-se que a


carta apresentada está na escala 1:50.000, o que faz com que cada
cada milímetro medido no desenho corresponda a 50 metros na
realidade, coloca-se o escalímetro fazendo-se coincidir o zero com a
linha da quadrícula exatamente anterior a este ponto e mede-se a
distância até o mesmo. No exemplo, a medida realizada apresentou
31mm desde a linha correspondente a 332.000m até o ponto “B”.
Teremos, assim, um total de 1.550m (31mm X 50m = 1.550m) desde
esta linha até o ponto “B” considerado. Desta forma, esta coordenada
“E” (eixo horizontal) apresentará o valor da coordenada apresentada
pela quadrícula imediatamente anterior ao ponto, acrescentada à
distância medida, apresentando um total de 333.550m (332.000m +
1.550m = 333.550m). Procedimento semelhante deve ser realizado para
a coordenada “N” (eixo vertical); isto é, para a distância entre a linha
imediatamente inferior ao ponto B (6.680.000m) encontrou-se
exatamente 20mm, ou seja, considerando-se a escala de 1:50.000, um
total de 1.000m, na realidade (20mm X 50m). Acrescendo-se este valor
ao da coordenada da linha (quadrícula) anterior considerada, teremos
6.681.000m (6.680.000m + 1.000m = 6.681.000m).
As coordenadas dos pontos A e B seriam, respectivamente:

 Coordenadas do ponto A: 332.000mE e 6.682.000mN;


 Coordenadas do ponto B: 333.550mE e 6.681.000mN.

De forma semelhante, pode-se calcular as coordenadas geográficas


de um ponto qualquer. A figura 7, a seguir, apresenta, simplificadamente
esta caracterização.
Em campo, as coordenadas de um ponto poderão ser obtidas, por
exemplo, através de levantamentos topográficos ou, mais recentemente,
através do uso de sofisticados equipamentos que realizam leituras a partir
de satélites, com precisões diversas, conhecidos como GPS (Global
Position System).
FIGURA 7
DETERMINAÇÃO DAS COORDENADAS GEOGRÁFICAS

5 0 °W 4 0 °W
2 0 °S

4
X
3

3
1 2 3

2
1

1
3 0 °S
1 2 3 4 5

5 cm = 10°
2 ,5 c m = x

x = 2 ,5 c m x 1 0 °
5 cm
x = 5°
6 ELEMENTOS USUAIS APRESENTADOS
EM UMA CARTA TOPOGRÁFICA

Sistema de coordenadas: apresentado através de quadrículas numeradas


de acordo com o sistema UTM (coordenadas planimétricas), com os cantos
da folha e determinados pontos apresentando o cruzamento de
coordenadas geográficas específicas.
Nomenclatura da carta: toponômio mais representativo da região, em
destaque na parte central e superior da carta. Acima e à direita, encontra-
se a nomenclatura técnica, com o desdobramento da folha.
Situação e articulação da folha: localizadas na porção inferior direita da
carta, apresentando a localização aproximada da folha dentro do Estado e
as folhas adjacentes à mesma, respectivamente.
Escalas: localizadas na porção central e inferior da carta. Apresentadas
nas formas numérica e gráfica. A escala de declividades, abaixo destas,
proporciona a confecção de um mapa de declividades.
Eqüidistância das curvas de nível: diferença de altitude entre duas curvas
de nível sucessivas dadas em função da escala da carta.
Sistema de Projeção: UTM, apresentado no centro, abaixo das escalas. O
datum vertical e o datum horizontal dizem respeito às referências do
Sistema Geodésico Brasileiro.
Declinação Magnética e Convergência dos Meridianos: relações
existentes entre o norte geográfico ou verdadeiro e o norte magnético e
entre o norte geográfico e o norte de quadrícula, respectivamente.
Sinais convencionais: localizados na parte inferior esquerda. Dizem
respeito às convenções utilizadas nas cartas.
7 USO PRÁTICO DAS CARTAS TOPOGRÁFICAS

7.1 Leitura das principais características de uma carta

As cartas apresentam determinadas características básicas que


podem ser facilmente extraídas por qualquer pessoa com um razoável
conhecimento técnico.
Em um primeiro momento, para que se possa fazer uma leitura
correta de determinados detalhes a fim de vinculá-los à realidade
vivenciada, necessita-se utilizar de alguma imaginação, pois deve-se
lembrar que as cartas são representações do terreno elaboradas com a
finalidade de apresentar as características do mesmo o mais fiel possível.
A figura 8 apresenta alguns dos sinais convencionais apresentados
nas cartas topográficas.
Normalmente, em mapas, as estradas principais são representadas
por duas linhas paralelas preenchidas com cor vermelha; as secundárias,
sem preenchimento e os caminhos por uma linha pontilhada na cor preta.
As ferrovias apresentam-se na forma de uma linha preta com pequenos
traços perpendiculares à esta principal
FIGURA 8 – SINAIS CONVENCIONAIS

Os cursos d’água possuem representação na cor azul, com sua


nomenclatura mais usual. Os rios de maior porte possuem largura
compatível ao mesmo. As nascentes são representadas por linhas
tracejadas.
As curvas de nível são apresentadas como linhas na cor sépia
(marrom claro), com numeração aparente de 100 em 100 metros. Os pontos
cotados aparecem com o seu valor e um “X” ao lado, indicando a sua exata
localização.
A cobertura vegetal apresenta coloração esverdeada. Esta
cobertura pode (e deve) estar bastante modificada em função das
modificações experimentadas pela área desde a elaboração da carta.
As cidades e vilas com área urbana significativa aparecem com um
arruamento bastante simplificado, com coloração rósea.
Pequenos quadrados pretos representam construções existentes na
época de elaboração das cartas. Igrejas e escolas apresentam ícones
específicos e outras construções recebem uma nomenclatura ao lado para
que mais facilmente se possa localizar tais pontos no terreno, como por
exemplo, usinas, cemitérios, fábricas e outras.
Na carta, também são colocados alguns toponômios de lugares de
conhecimento da população residente nos arredores da região. Ex.: nomes
de morros, vilas etc.
Linhas tracejadas contendo um ponto entre os traços representam
linhas de transmissão de energia (alta/baixa tensão); linhas tracejadas
contendo um “x” entre os traços representam cercas.

7.2 Traçando uma microbacia hidrográfica (MBH)

OLIVEIRA (1993) define bacia hidrográfica como sendo a “área


ocupada por um rio principal e todos os seus tributários, cujos limites
constituem as vertentes, que, por sua vez, limitam outras bacias”.
Uma sub-bacia pode ser entendida como uma porção de uma bacia
que a engloba.
Uma microbacia hidrográfica (MBH) normalmente é apresentada,
em termos agrícolas, como sendo a menor área física do sistema
hidrológico, limitada pelos divisores de água, constituída por um curso
d’água principal e seus afluentes. A MBH, entendida assim, não respeita
limites de propriedades nem limites políticos. Ela pode estar localizada,
portanto, em uma ou em várias propriedades ao mesmo tempo. Ela pode
fazer parte de um ou mais municípios. Igualmente, ela pode estar em
apenas uma ou em mais de uma das cartas topográficas distribuídas.
Todas estas observações são importantes para que se possa de-
senvolver um melhor diagnóstico e um adequado planejamento dos
recursos naturais existentes.
Para estabelecer-se os limites de uma MBH, deve-se localizar,
primeiramente, os divisores de água do curso d’água que se tomará como
base para a definição da MBH. Um divisor de águas é caracterizado como
sendo uma linha imaginária que separa duas bacias hidrográficas, formada
pelas maiores altitudes do relevo, ou seja, a linha divisória de cumeeira.
Pode-se imaginar esta linha em função da precipitação que ocorre na área:
parte da água da chuva escorre na direção de um curso d’água e parte da
água corre para outro. A figura 9 apresenta, de forma simplificada esta
ocorrência.

FIGURA 9 – DIVISOR DE ÁGUAS


O limite da microbacia será traçado a partir da linha do divisor de
águas estabelecido a partir e até a foz do rio tomado como base da MBH.
Nas cartas topográficas, este limite deverá ser estabelecido através de um
minucioso estudo do comportamento das curvas de nível nelas existentes,
sempre se imaginando as características altimétricas da área estudada.
Muitas vezes, parte dos limites de uma MBH coincidem com estradas ou
caminhos existentes na área de estudo, já que se procura construir estradas
sempre aproveitando a topografia, procurando cortar-se a menor quantidade
possível de morros.
A figura 10 procura exemplificar esta caracterização.

7.3 Localização da MBH

Depois de traçado o seu limite, a MBH pode ser localizada de


acordo com o sistema de coordenadas UTM existente nas margens da(s)
carta(s) utilizadas para sua caracterização.
A leitura feita a partir da figura 10 nos daria a seguinte informação a
respeito da localização aproximada da MBH:
Coordenadas E: 286.000mE; 290.000mE
Coordenadas N: 6.708.000mN; 6.714.000mN
Poder-se-ia utilizar o sistema de coordenadas geográficas, o qual
forneceria, respectivamente, as coordenadas:
Latitudes: 29°42’S a 29°44’S
Longitudes: 53°11’W a 53°14’W

7.4 Perfil Topográfico

O conhecimento das curvas de nível de uma área qualquer é, como


foi visto, de fundamental importância para o traçado e compreensão da
estrutura de um MBH. Para se ter uma percepção mais visível do
comporta-
FIGURA 10 – LIMITES DE UMA MBH2

2
Recorte da carta S.H.22.V.C.V-1. As coordenadas apresentadas e adaptadas servem apenas
como referência para o presente exemplo.
mento desta estrutura, é aconselhável a realização de perfis topográficos ao
longo da mesma.
Estes perfis apresentam de forma bastante confiável a
movimentação do relevo da área proporcionando uma melhor compreensão
da área trabalhada. A figura 11 detalha este traçado.
Para traçar-se um perfil topográfico, deve-se proceder da seguinte
forma:

 Escolher o local mais apropriado para o estabelecimento de uma


linha que una dois pontos no terreno que cortem a área a fim de
oferecer uma visualização bastante satisfatória do comportamento
do modelado (alinhamento AB);

 Traçar o alinhamento no local estabelecido com uma régua comum


marcando-se os pontos notáveis (onde a linha corta curvas de nível,
limites da MBH, rios, estradas etc.) em uma tabela à parte;

 Em um papel milimetrado, transferir este alinhamento,


preferencialmente na mesma escala da carta utilizada, como eixo
horizontal;

 Estabelecer uma escala vertical (exagero de até 10 vezes, caso o


terreno seja muito plano) como eixo vertical, anotando-se, no
mesmo, os valores das curvas de nível;

 Marcar os pontos notáveis no papel milimetrado levando-se em


conta os eixos referenciais estabelecidos;

 Colocar título, escalas horizontal e vertical, rumo do alinhamento,


fonte e data.
FIGURA 11 – PERFIL TOPOGRÁFICO
8 GLOSSÁRIO

(baseado em IBGE, 1985; OLIVEIRA, 1993 e GUERRA, 1993)

AVENIDA Via de comunicação terrestre pública urbana, mais larga e


importante que a rua. Geralmente arborizada.
AZIMUTE Ângulo formado por um alinhamento qualquer em relação
à direção Norte-Sul, medido no sentido horário, com
variação de 0º a 360º.
CAMINHO Via ou faixa no terreno destinado ao deslocamento de um
ponto para outro; o mesmo que trilha, picada etc.
CERRO Elevação natural do terreno pouco considerável (altitudes
de até 200 m), acima do nível comum das áreas
adjacentes; o mesmo que Morro.
CRISTA Linha imaginária que liga as maiores altitudes do terreno.
DIVISOR DE Linha imaginária que separa duas bacias hidrográficas
ÁGUAS formada pelas maiores altitudes do relevo.
ENCOSTA Declive apresentado por um morro, serra ou montanha; o
mesmo que vertente.
ESTADO Unidade político-administrativa de maior hierarquia do
Brasil.
FERROVIA Via de comunicação terrestre destinada especificamente
ao tráfego de trens.
HIDROVIA Via de comunicação fluvial ou marítima destinada ao
tráfego de embarcações.
ILHA Porção de terra emersa, de área variável, menor do que
um continente, inteiramente circundada por água doce ou
salgada.
LAGO Geralmente grandes extensões de água, sem contato com
o mar, contidas em uma depressão do terreno alimentadas
normalmente por cursos d’água de variadas formas e
dimensões.

LAGOA Pequeno lago resultante de uma depressão no terreno ou


da própria rede de drenagem existente.
LAGUNA Depressão do relevo coberta com água salgada ou semi-
salgada em função de sua ligação com o mar, alimentada
por cursos d’água de variadas formas e dimensões.
MONTANHA Elevação natural do terreno, ou conjunto de elevações, de
altitude bastante considerável, que se eleva de forma um
tanto abrupta em relação ao terreno adjacente, com mais
de 300m de altitude.
MONTE Elevação natural do terreno, de altitude mais ou menos
acentuada (entre 200 e 300m de altitude), acima do nível
comum das áreas adjacentes.
MORRO Elevação natural do terreno pouco considerável (altitudes
de até 200 m), acima do nível comum das áreas
adjacentes; o mesmo que Cerro.
PICO Ponto mais elevado de um morro, monte ou montanha.
RIO Curso d’água de dimensão variável, maior do que um
arroio, córrego ou riacho, que deságua em outro rio, lago
ou oceano.
RUA Via de comunicação terrestre pública urbana.
RUMO Menor ângulo formado por um alinhamento qualquer com
a direção Norte-Sul. Varia de 0º a 90º.
SERRA Conjunto de elevações de considerável altitude com vários
picos e vertentes normalmente acentuadas que possuem
nomenclatura específica para todo o conjunto e local para
algumas porções.
TALVEGUE Linha imaginária de maior profundidade no leito de um
curso d’água
VALE Porção de terra entre duas vertentes, ao longo da qual
pode existir um curso d’água.
VERTENTE Declive apresentado por um morro, serra ou montanha; o
mesmo que encosta.
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

IBGE. Manual de Normas, especificações e procedimentos técnicos para a


carta internacional do mundo, ao milionésimo - CIM. Rio de Janeiro,
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