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A TRAIÇÃO NOS RELACIONAMENTOS

SOB A VISÃO DA CONSTELAÇÃO SISTÊMICA

MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DE CURSO

Nome Completo: Andreza das Neves Kapisch Fuzari


E-mail: andrezakfuzari@gmail.com
Conclusão: 1º SEMESTRE /2023
Curso: Formação Constelação Clínica
Unidade: Campinas (SP)
Professora: Cristiane Braga

João Pessoa, 03 de março de 2023


Agradecimento
Agradeço aos meus pais pela oportunidade da vida que me deram e como me
incentivaram todo o tempo a sempre buscar mais e mais conhecimento.

Ao meu esposo pelo amor, paciência e compreensão em todos os momentos; nem


sempre o caminho é somente de alegrias mas também de tristezas essas que nos tornam
mais fortes, para seguirmos crescendo como casal e buscando o melhor para nossos
filhos.
CITAÇÃO

“Existe um segredo, como é que um relacionamento a dois pode continuar bem


depois de uma crise. É um passo bem simples: A gente se permite mutuamente um novo
começo – com amor.” Bert Hellinger
INTRODUÇÃO

Esse é um tema bastante complexo, embora muito falado ainda é um assunto que
traz muitas controversias e é claro motivo de muita dor. Escolhi esse tema porque
realizei duas constelações muito interessantes, onde em uma constelei um traído e na
outra um traidor. Pude observar que em ambos casos alguns padrões se repetem indo de
encontro com as afirmações de Bert Hellinger.

Para que nos casamos? Porque temos a necessidade de nos relacionar com
alguém? Qual a influência dos padrões familiares ou dos modelos conjugais de cada um,
sobre essa nova relação? Padrões próprios necessitarão ser criados nesse novo sistema,
levando em consideração toda a “bagagem” familiar que cada um carrega. A aceitação
dos pais influenciará de forma positiva ou negativa essa nova relação, permitindo que
homem e mulher atuem como um casal e não como “pais ou filhos” do parceiro.

As leis do Amor ou da Ordem funcionam como uma lei universal direcionando


as relações conjugais. Quando uma dessas leis é quebrada, prontamente veremos os
efeitos no sistema familiar, seja nessa geração ou nas seguintes.

Traição significa muito mais do que o ato de trair; é a quebra de um contrato


entre indivíduos, que foi feito em algum momento. Não é um fato único e isolado e
quando ela ocorre de fato, é o resultado de várias dinâmicas associadas que podem ser
claramente identificadas ou não.

O traído, o traidor e o amante trazem uma dinâmica familiar importante que em


todos os casos não é perceptível ao cliente; na Constelação é possível trazer a
consciência de cada um dos envolvidos as dinâmicas e os emaranhados familiares
existentes.

O que fazer após a traição? Como seguir com o casamento ou como finaliza-lo
de uma forma menos traumática para si e com os filhos quando existem fruto desse
relacionamento.
CAPÍTULO I – PARA QUE NOS CASAMOS?

“O perfeito não nos atrai e só se pode amar


o imperfeito, pois somente dele resulta um impulso de crescimento, não do perfeito”.
Bert Hellinger

Desde o início da história dos seres humanos, homem e mulher sempre tiveram a
necessidade de terem um companheiro. Lá no Éden Deus deu a Adão uma mulher, Eva;
que foi criada a partir da costela de Adão para que ela fosse sua companheira, para que
ele não estivesse sozinho. Segundo Bert Hellinger “o homem aceita uma mulher porque
se sente que como homem lhe falta a mulher e a mulher aceita o homem porque sente
que como mulher lhe falta o homem” Aqui existe uma complementação, onde cada um
deve ocupar o seu lugar e desempenhar o seu papel no sistema familiar; o “homem
precisa ser um homem e permanecer um homem e a mulher precisa ser uma mulher e
permanecer uma mulher”. (Bert Hellinger)

Quando nos casamos, “o homem toma a mulher como esposa e a mulher toma o
homem como seu marido e assim ocorre a consumação desse amor”; a consumação do
amor se dá com a sexualidade. A busca pelo casamento é uma busca de amor e de
compromisso, uma procura por algo mais além do que o hoje; o ato de casar-se é uma
formalização, como um marco legal que dá a sensação de segurança e até um
sentimento de superioridade. O casamente permite que o ser humano tenha um
relacionamento de adulto e sexual, com todas as responsabilidades e obrigações
relacionadas.
No casamento o relacionamento se dá entre duas pessoas, é um processo de
construção com altos e baixos, alegrias e tristezas; o objetivo é de garantir ao outro
segurança, estabilidade e a possibilidade de formar uma família. Para que a construção
desse novo relacionamento dê certo é importante lembrar que cada um do casal vem de
um sistema diferente, trazendo consigo os emaranhamentos, desequilíbrios, carências e
as alegrias, que muitas vezes vem de várias gerações.

Muitos se casam sem ter o verdadeiro entendimento do que realmente significa


esse “passo” dado. Para Hellinger o casamento era o ápice ou “a vida em sua plena
realização”. Isso significa que o casal terá de abrir mão, ou transpor alguns limiares para
olhar para a frente, seguindo um caminho a dois; Aqui “a infância e a juventude se
acabam”, isso significa ter novas responsabilidades, deveres e até mesmo obrigações.
Para algumas pessoas essa transição se torna muito difícil e querem levar a vida de
solteiro para o casamento e aí se iniciam os desequilíbrios.

Bert Hellinger afirma que “somos estrangeiros na família do cônjuge”, devemos


saber nos posicionar e respeitar, sem interferir no processo familiar de nossos parceiros,
afinal esse universo é desconhecido para nós. O casal deve respeitar a história familiar
de cada um, sem fazer julgamentos, mas sendo gratos por tudo o que receberam de seus
pais e ancestrais; juntos terão a possibilidade de criar um novo núcleo familiar, com a
sua forma de ser e de fazer funcionar; irão aprender a levar de sua família de origem o
que for bom para o crescimento do casal. Passam a compreender que para honrar seus
ancestrais não necessitam repetir os mesmos erros cometidos por nossas famílias.

Cabe lembrar que cada um possui suas próprias características, sua forma de ser,
suas peculiaridades; é muito importante que ambos saibam aceitar e respeitar essas
diferenças, compreendendo que o outro, independente das diferenças possui o mesmo
valor. Quando em um casal, existe a vontade de mudar o outro, esse é o sinal de que
esse relacionamento está fadado ao fracasso.

O vínculo formado entre o casal jamais poderá ser rompido, mesmo que ocorra
uma separação e um novo casamento esse vínculo permanecerá existindo. Hellinger
afirma que o primeiro relacionamento sempre criará vínculos mais fortes e
significativos e os possíveis relacionamentos seguintes.

Para que o amor dê certo é necessário que esse esteja baseado na igualdade do
querer e do conceder, uma verdadeira troca; o desejo de ambos deve estar resguardado
um pelo outro. É preciso estar disposto a dar e a receber, essa é a lei do equilíbrio;
importante lembrar que “nem todos podem dar tudo e nem todos podem receber tudo”
quando não ocorre uma troca equilibrada entre o casal surgem os desequilíbrios e a
busca por uma compensação, muitas vezes buscando um relacionamento fora do
casamento ou optando por sair da relação.
CAPÍTULO II – LEIS DO AMOR NO CASAMENTO

"Agradecer me torna grande, pois quando


agradeço tomo algo de outros como um presente. Isso me enriquece, porque o recebo.
Ao mesmo tempo, o que recebo agradecido não pode ser perdido por mim. O
agradecimento me permite conservá-lo e aumentá-lo. Ele atua como o sol e a chuva
morna atuam sobre uma planta jovem. Ela floresce."
Bert Hellinger

Bert Hellinger em seus anos de estudo e observação, identificou que os


relacionamentos humanos eram regidos por 3 leis, as quais ele deu o nome de Leis ou
Ordens do Amor, sendo o Pertencimento, Hierarquia e o Equilíbrio. Assim como essas
leis se aplicam nos mais diversos tipos de relacionamentos, também se aplica aos
relacionamentos de casais.

Lei do Pertencimento

Essa lei nos diz respeito, a que todos temos o direito de pertencer ao nosso
sistema familiar, isso inclui a que morreram precocemente, aos filhos abortados, aqueles
que a família muitas vezes não deseja incluir como assassinos, ladrões, deficientes,
loucos ou até mesmo aqueles que foram excluídos sem motivo aparente ou porque a
simples lembrança traz dor e sofrimento. Quando ocorre algum tipo de exclusão, o
sistema não fica em paz e em algum momento o próprio sistema criará uma forma de
incluir o excluído e compensar a injustiça; muitas vezes cobrando a dívida em futuras
gerações ou até mesmo mantendo um padrão que se repete, até o momento que o
excluído é “visto e incluído”.

Em um casamento ocorre a formação de um novo sistema, mesmo se afastando


do sistema de origem o indivíduo continuará fazendo parte dele; o seu lugar sempre
estará lá, pois faz parte desse sistema através dos pais. Os relacionamentos passados
onde houve a formação de um vínculo também devem ser incluídos e reconhecidos;
muitas vezes um dos dois possui filhos de um relacionamento anterior ou foi casado
anteriormente. “Aquilo que reconheço e incluo, cresce e aquilo que rejeito, aumenta e
piora”. Para que esse novo relacionamento possa dar certo é necessário que o anterior se
dissolva de forma positiva, deve haver respeito para com o parceiro anterior; dessa
forma haverá a possibilidade de uma dedicação completa e total nessa nova vida.
Quando “eu vejo”, “eu incluo” e “dou um lugar no meu coração” estou cumprindo com
a lei do pertencimento, onde todos os que fizeram parte do meu sistema, continuam
pertencendo, cada um no seu lugar.

Lei da Hierarquia

Essa lei tem por objetivo manter a ordem dentro da família, significa que: “Os
mais velhos vieram primeiro e devem ser olhados com respeito”; essa lei se aplica a
todos incluindo os nossos pais, irmãos, filhos e cônjuges. O amor entre os pais e filhos
se mantem dentro de uma ordem, de desigualdade, onde os pais são pais e os filhos são
filhos, os pais dão e os filhos recebem. Quando o filho desrespeita essa ordem, se
sentindo superior aos pais, tornando-os de certa forma incapazes ou retirando a sua
autonomia, esse filho quebra a lei da hierarquia e passa a carregar um fardo muito
pesado.

No relacionamento de um casal existe a precedência em relação a paternidade;


segundo Bert Hellinger um novo sistema é formado com o nascimento de um filho, mas
é importante que esse casal compreenda que o seu relacionamento precede o nascimento
do filho, isso quer dizer que se tornam pais, sem deixar de ser um casal. Para muitos
essa é uma situação difícil de ser compreendida e os problemas surgirão devido a quebra
da lei da hierarquia; somente quando cada um ocupa o seu devido lugar dentro do
sistema é que esse passa a ter Força.

Nos relacionamentos com parceiros anteriores é necessário que ocorra um


desligamento completo, mas que sejam respeitados e honrados, só assim o novo
relacionamento pode dar certo.

Lei do Equilíbrio

Para Bert Hellinger esse é um dos principais pontos para que uma relação possa
dar certo, o equilíbrio entre o “dar e o receber” e é nesse movimento que as relações
crescem; passamos a compreender que assim como temos a posição de doadores,
também temos a posição de recebedores. Em uma relação de casal essa troca permite
um crescimento da relação e consequentemente da felicidade.

O desconhecimento dessa lei por parte de muitos casais gera desequilíbrios onde
muitas pessoas acabem doando mais do que o outro é capaz de receber e de retribuir;
existe a tendencia nesses casos de doar cada vez mais como uma forma de
compensação, o que somente produz um desequilíbrio maior. A base para que um
relacionamento de casal possa dar certo está justamente na capacidade do
“reconhecimento recíproco da necessidade e da prontidão de presentear ao outro com o
que lhe falta e de tomar dele, o que falta para si próprio.

Nessa dinâmica do desequilíbrio, a pessoa que doou demais acredita que tem o
direito de “cobrar” de quem recebeu, geralmente se colocando em um pedestal, se
sentindo superior; e por sua vez quem recebeu acaba se sentindo cada vez mais devedor
e “pequeno”, muitas vezes sem saber como quitar essa dívida, surge o desejo de se
afastar, de ir embora. Em um relacionamento não existe a possibilidade que “um ame
pelos dois”.

O desequilíbrio causado aqui não está somente em quem está recebendo demais
e não consegue retribuir, mas também em quem doa em excesso. A responsabilidade é
mútua, e cada um deve reconhecer seus limites no doar e no tomar. Não existe
relacionamentos onde o equilíbrio seja perfeito, é a dinâmica da busca pelo equilíbrio
que é possível crescer e prosperar como casal. Quando cada um oferece “um
pouquinho” a mais do que recebe, esse equilíbrio buscado fica mais alcançável.

Podemos chegar à conclusão de que na lei do equilíbrio, em especial entre os


casais o intercambio está baseado em duas necessidades, a da compensação e a do amor;
aqui um toma do outro com amor e devolve algo com amor só que em uma medida um
pouquinho maior e assim o ciclo se mantem na busca constante do equilíbrio.
Capítulo III – Desequilíbrio entre o Casal

"Agradecer me torna grande,


pois quando agradeço tomo algo de outros como um presente. Isso me enriquece,
porque o recebo. Ao mesmo tempo, o que recebo agradecido não pode ser perdido por
mim. O agradecimento me permite conservá-lo e aumentá-lo. Ele atua como o sol e a
chuva morna atuam sobre uma planta jovem. Ela floresce.

Bert Hellinger

Na citação acima, Bert Hellinger não está querendo dizer que “um ame pelos
dois” e sim que “com nossas imperfeições podemos nos amar e ser felizes”. Na relação
a dois o respeito pelas diferenças do outro é fundamental, afinal cada um possui um
sistema familiar próprio com suas características e peculiaridades e porque não dizer
suas dores e traumas.

Cada um traz consigo valores e comportamentos de seu sistema e muitas vezes


acredita-se que o “seu sistema” seja melhor que do outro o que na realidade essa crença
somente trará conflitos. Em muitos casamentos existe uma luta secreta, onde cada um
deseja impor ao outro o seu sistema de valores e os problemas surgirão. Somente
quando o casal se une e reconhece o valor um do outro e respeita o sistema familiar de
origem; muitas vezes precisam testar esses modelos e até mesmo abandonar esses
padrões antigos e assim formar seu próprio sistema de valores, transmitindo futuramente
para seus filhos.

Nos problemas que surgem entre um casal é necessário olharmos para o seu
sistema de origem, pois muitas vezes existe a quebra de leis que termina refletindo no
casal. Podemos observar que muitos pais mantém a interferência sobre o relacionamento
do casal, assim como não liberam seus filhos para se tornarem e se relacionarem como
adultos. Muitos filhos se casam, mas se mantém unidos, vinculados com seu antigo
sistema, muitas vezes por uma forma de “culpa ou inocência” por acreditarem (de forma
errônea) estarem “abandonando” o sistema antigo. É preciso que ocorra uma separação
completa do sistema anterior para a relação do casal possa se desenvolver de forma
adequada.

No relacionamento de casal deve haver igualdade, um equilíbrio e respeito das


diferenças; quando um dos dois necessita “educar” o parceiro toma as prerrogativas dos
pais e consequentemente se sente superior ao outro, esse tipo de atitude seja de
superioridade ou até mesmo de dependência traz desequilíbrio ao relacionamento. As
diferenças existentes entre um casal, são complementadas um pelo o “homem se
mantendo como homem e a mulher se mantendo como mulher” mesmo que isso possa,
às vezes, aborrecer um dos dois.

“Isso de amar sem esperar nada em troca é bonito nos contos de fadas. Mas na
vida real, um amor maduro exige um delicado equilíbrio entre dar e receber, pois tudo
aquilo que não é mútuo, é tóxico” (Bert Hellinger) O equilíbrio entre o “dar e receber”
deve ser uma busca espontânea entre os casais, o equilíbrio nunca é alcançado, mas é a
busca por ele que permite o crescimento e a felicidade na relação. Quando o equilíbrio
não ocorre, podemos observar que o parceiro que oferece muito sente-se no “direito” de
“cobrar”, colocando-se em uma posição de superioridade; considerando o outro como
ingrato. Dar em excesso, em muitos casos, pode ser uma necessidade inconsciente de
ser visto, reconhecido e amado, mas ao invés disso torna-se incomodo para o outro.

Por outro lado, aquele que recebe “demais” sente-se endividado, pequeno,
enfraquecido, degradado e até humilhado, chegando até mesmo a desmerecer o que
recebeu; em alguns casos pode até mesmo de forma inconsciente, inferiorizar quem deu
em demasia; dessa forma tenta fazer com que o outro saia de sua posição de
superioridade, buscando igualar-se e realizar uma troca mais por igual.

É necessário “dar o tanto que o outro está disposto a retribuir em nível


equivalente e tanto quanto é também capaz de fazê-lo.” Quando essa dinâmica não
ocorre, no geral entra-se em um ciclo vicioso: quem dá muito tende a dar ainda mais,
como uma forma de compensar o pouco que recebe; por sua vez quem oferece pouco se
sente pressionado e oferece cada vez menos. Quebrou-se a lei do equilíbrio, os
resultados podem ser catastróficos, sendo a responsabilidade de ambos.
CAPÍTULO IV – DINÃMICA DA TRAIÇÃO

“Sim, eu amo você tal como você


é. Mesmo que você não corresponda aos meus sonhos e esperanças, o fato de você
existir faz-me mais feliz do que os meus sonhos.”

Bert Hellinger

Para Bert Hellinger o tema da fidelidade ia muito mais além de julgamentos e


das regras morais impostas pela sociedade, ele acreditava que era necessário olhar mais
além, procurando sempre não criar os papéis de vítima e inocente, considerava que na
dinâmica da traição existia uma responsabilidade de ambos. Na nossa sociedade e
família aprendemos um conjunto de regras e crenças que acabam definindo o que é
moralmente certo e errado, para que a vida em comunidade seja possível; porém
existem características que são próprias de cada sistema.

A palavra traição tem como definição o ato de trair, falta de lealdade, uma
quebra de confiança e fidelidade; ocorre a quebra de um contrato que em algum
momento foi feito entre duas ou mais pessoas; porém o ato vai muito mais além de uma
definição, se trata de um acontecimento que provoca danos muitas vezes irreversíveis
em um relacionamento. O ato em si envolve atitudes perigosas como a quebra de
confiança, a traição do acordo de ser fiel e o abandono do cuidado e investimento em
um relacionamento e também de amar o outro. Mas acima de tudo a infidelidade é uma
traição e o abandono a si mesmo e as suas convicções.

Bert Hellinger buscava não fazer julgamentos e criar papeis definidos de vítima
e inocente e de traidor, já que ele considerava a traição como um ato onde a
“culpabilidade” se estende aos envolvidos. Para alguns assumir o papel de vítima sem
assumir a verdadeira responsabilidade é mais fácil a até tolerável, quem sabe assumindo
um papel infantil acompanhado de chantagens e ameaças. O que se coloca no papel de
vítima ou que acaba por perdoar o outro, assume um papel de superioridade, colocando
o outro em uma posição de inferioridade, provocando um maior desequilíbrio, muitas
vezes como uma forma errônea de se buscar novamente o equilíbrio, o “traidor” opta
por abandonar o companheiro.

Quando a traição é descoberta ou o é contada, ocorre um compartilhamento da


culpa e da responsabilidade; o outro passa a carregar sozinho a dor e o sofrimento e
muitas vezes a responsabilidade de “fazer com que tudo fique bem”. Sentindo-se
abusado, zangado e colocando-se “em um pedestal”.

Podemos observar de forma geral que em um relacionamento quando ocorre


uma traição, observamos uma quebra na lei do equilíbrio, alguém está “amando em
excesso”, “está se doando demais”, está se colocando na posição de mãe e/ou pai do
companheiro. Mas a traição precisa ser olhada mais além, pois existe uma dinâmica
atrelada na maior parte das vezes de forma inconsciente. As dinâmicas envolvidas são:

- Lealdade familiar: é inconsciente e está associada a um padrão de repetições.


Julgamento moral do ato ocorrido dentro da família pode levar a uma repetição do
mesmo; porque quem julga toma um lugar de superioridade em relação aos que vieram
antes e consequentemente o sistema exigirá uma reparação.

- Falta ou não disponibilidade para o sexo: seja essa falta por uma doença, alguma
dificuldade física ou simplesmente uma evitação. Devido a isso o outro pode sair em
busca de um(a) amante, o parceiro “indisponível” muitas vezes sente um alívio ou se
coloca no lugar de vítima e/ou inocente; acredita que dessa forma está isento de tratar o
seu problema.

- Crise oculta: muitas vezes existe uma vontade secreta e oculta de separar-se; já seja
por uma lealdade familiar ou mesmo por um simples desejo. A entrada de uma terceira
pessoa (amante) no sistema costuma ser o “estopim” para a crise.

- Lei do equilíbrio negativa: Geralmente o infiel se sente diminuído, menosprezado e


sabendo da dor que uma traição causará o parceiro, busca de forma “errada”
restabelecer o equilíbrio da relação.

- Cumprimento de uma função: Pode ocorre a entrada de uma terceira pessoa no


relacionamento que seria um(a) amante; muitas vezes cumprindo um papel substituto do
“filhinho da mamãe ou filhinha do papai”, em casos em que o parceiro infiel está muito
ligado à mãe ou ao pai.
Em muitos relacionamentos um dos parceiros se comporta como se fosse “pai ou
mãe” do outro, acreditando saber o que é melhor; surge importante desequilíbrio entre o
“dar e o receber” e nesse quadro de desigualdade aquele que está recebendo “demais”
muitas vezes não aguenta e busca uma forma de equilibrar e busca um(a) amante; de
forma inconsciente a “vítima” induziu o outro a buscar essa saída. Em outras situações a
“vitima” mesmo ao saber da traição e da existência de uma terceira pessoa, aceita ou
consente com a situação como uma forma de “posse permanente” sobre o cônjuge.

Papel do(a) Amante

Segundo B. Hellinger, “ser amante de uma pessoa casada, é equivalente à


impossibilidade de se chegar até o/a genitor(a) embora houvesse amor”. A situação se
torna ainda mais complexa quando olhamos mais de perto e vemos que geralmente a
pessoa que ocupa esse lugar viveu uma situação onde precisou “salvar” ou fez a
“separação dos pais”; gora na idade adulta novamente se sente na “obrigação” de salvar
um homem ou uma mulher de um casamento horrível”.

O amante muitas vezes “corre” da monotonia que imagina ser ou ter em um


casamento, colocando todo o seu amor em um relacionamento impossível; seus
emaranhados pessoais a fazem buscar alguém que tenha algum impedimento. Existe o
desejo de se casar, podendo até se tornar um marido ou esposa, mas é comum que em
algum momento se envolva em um relacionamento extraconjugal onde depositará no
amante suas dores de criança; vivendo um amor incompleto, insatisfeito. Por mais que o
traidor deixe seu companheiro para ficar com o amante, é quase certo que não
conseguirá se manter nessa relação de forma duradoura e estável; é comum o amante
tomar uma postura de “pai ou de mãe” com excessos de cuidado ou sabotando a relação
com ciúmes e desconfianças.
CAPÍTULO V – O QUE FAZER APÓS A TRAIÇÃO

“Alguns correm atrás da felicidade,


mas não conseguem alcança-la. Você sabe por que? Porque, na verdade, a felicidade
corre atrás deles e não pode alcança-los porque eles correm atrás da felicidade”.

Bert Hellinger

A dor de um relacionamento desfeito é muito grande, principalmente quando


ocorre devido a uma traição. Muitas vezes o relacionamento termina e em outros casos
o casal decide continuar juntos, mas para que o amor volte a dar certo será necessário
muito trabalho e esforço de ambos. O traído na geralmente toma uma postura de
superioridade perpetuando assim o desequilíbrio; segundo Bert Hellinger a forma de se
restabelecer o equilíbrio é que o troco seja dado de uma forma menor, como em algo
que lhe seja precioso, como dinheiro, posses e outros.

É importante que ambos estejam engajados nessa nova tentativa, sem acusações, pois
em todo relacionamento existe responsabilidade das duas partes, NUNCA de uma só,
tendo em conta que as relações de causa e efeito aqui, não são lineares. Para muitos
acaba sendo mais confortável seguir em um relacionamento ruim, que já terminou e isso
no futuro só trará mais dor; será necessário trabalhar o relacionamento diariamente em
diversos aspectos para que a relação possa ser revalidada e solidificada, acompanhando
as mudanças de cada indivíduo.

Para Bert Hellinger, “o que alguns chamariam de virtude heroica tem um


péssimo efeito, pois, nos sistemas humanos, a raiva reprimida volta à tona mais tarde,
justamente nas pessoas que menos podem defender-se contra ela”. O rancor pode ser
amenizado ao perguntar à pessoa que sentimos raiva: “O que foi que EU lhe fiz para
estar tão zangado com você? Dessa forma vemos que ferimos alguém e reconhecemos,
tudo parece mudar, passamos a respeitar nosso parceiro. O principal obstáculo na
reconciliação é quando um dos dois (em especial a “vitima”) acredita estar com a razão.
“O perdão é curativo, porque ele não só absolve quem traiu como permite que a
traição vá embora.” O trabalho da Constelação Familiar é permitir que o problema seja
visto com um outro olhar, com mais clareza. O casal deverá estar disposto a falar sobre
o assunto, discutir, conversar abertamente e com clareza (por mais difícil que seja),
“colocar em pratos limpos”. Uma vez tomada a decisão de continuarem juntos, de
reconstruir o relacionamento, será necessário “dar tempo ao tempo”, mas uma vez
conversado sobre o assunto, NUNCA MAIS DEVERÁ VOLTAR AO TEMA.

Muitos casais não desejam a reconciliação, porém mesmo em caso de separações


é necessário que exista amor e respeito, principalmente quando há a existência de filhos.
Para que a “boa separação” aconteça é necessário que ocorra uma reparação: “Fui
injusto com você. Sinto muito. Reconheço tudo o que você me deu. Seu amor foi grande
e o meu também e ele pode perdurar”.

Cada um deverá assumir a sua responsabilidade: “Eu amei muito você. O que
dei para você, dei com muito prazer. Você também me deu muito, vou guardar isso com
honra. Assumo a minha parte da responsabilidade pelo que não deu certo conosco e
deixo a sua com você. E agora deixo você em paz.”

Quem disse que o casamento é um lugar de conforto? Na verdade é um local


onde dia a dia estamos aprendendo a nos relacionar por igual, o que não é nada fácil,
pois afinal, somos pessoas diferentes, pertencentes a diferentes sistemas, que carregam
suas dores, traumas e alegrias. Afinal, “nem nas famílias, nem nos casais existe um
relacionamento a dois. São sempre relacionamentos entre sistemas.” Bert Hellinger.’
CONCLUSÃO

Podemos concluir que o relacionamento a dois, não é algo muito simples, mas
que é possível de acontecer trazendo felicidade a ambos. Para que isso ocorra é
necessário ter em mente que a construção ocorre dia após dia com respeito pelo
companheiro e por seu sistema. O sistema familiar de um não é melhor que o do outro,
são diferentes com suas características, crenças próprias e ao se casarem deverão
desligar-se de seus sistemas de origem para aí sim, formar seu próprio sistema.

Quando as leis do amor são quebradas e desrespeitadas, automaticamente os


problemas surgirão, os desequilíbrios e as tentativas, errôneas em muitos casos, podem
restabelecer o equilíbrio por um tempo ou simplesmente levar a destruição da relação.

A traição ocorre através de dinâmicas que não são lineares e que no geral
escondem ou estão acompanhadas de emaranhados familiares que devem ser vistos mais
a fundo, para que uma vez solucionados permita uma nova perspectiva e quem sabe
uma nova chance ao casal.

Quando uma reconciliação não é possível a busca por uma “boa separação”
ajudará ao casal a manter o respeito pelo companheiro e também pelo seu sistema de
origem. Reconhecer o erro e cada um assumir a responsabilidade que lhe cabe, permite
compreender que ambos possuem responsabilidade na traição e evita-se a formação de
papeis de “vitimas” e “culpados”.

“Existe um segredo, como é que um relacionamento a dois pode continuar bem


depois de uma crise. É um passo bem simples: A gente se permite mutuamente um novo
começo – com amor.” Bert Hellinger

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