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Esse é um tema bastante complexo, embora muito falado ainda é um assunto que
traz muitas controversias e é claro motivo de muita dor. Escolhi esse tema porque
realizei duas constelações muito interessantes, onde em uma constelei um traído e na
outra um traidor. Pude observar que em ambos casos alguns padrões se repetem indo de
encontro com as afirmações de Bert Hellinger.
Para que nos casamos? Porque temos a necessidade de nos relacionar com
alguém? Qual a influência dos padrões familiares ou dos modelos conjugais de cada um,
sobre essa nova relação? Padrões próprios necessitarão ser criados nesse novo sistema,
levando em consideração toda a “bagagem” familiar que cada um carrega. A aceitação
dos pais influenciará de forma positiva ou negativa essa nova relação, permitindo que
homem e mulher atuem como um casal e não como “pais ou filhos” do parceiro.
O que fazer após a traição? Como seguir com o casamento ou como finaliza-lo
de uma forma menos traumática para si e com os filhos quando existem fruto desse
relacionamento.
CAPÍTULO I – PARA QUE NOS CASAMOS?
Desde o início da história dos seres humanos, homem e mulher sempre tiveram a
necessidade de terem um companheiro. Lá no Éden Deus deu a Adão uma mulher, Eva;
que foi criada a partir da costela de Adão para que ela fosse sua companheira, para que
ele não estivesse sozinho. Segundo Bert Hellinger “o homem aceita uma mulher porque
se sente que como homem lhe falta a mulher e a mulher aceita o homem porque sente
que como mulher lhe falta o homem” Aqui existe uma complementação, onde cada um
deve ocupar o seu lugar e desempenhar o seu papel no sistema familiar; o “homem
precisa ser um homem e permanecer um homem e a mulher precisa ser uma mulher e
permanecer uma mulher”. (Bert Hellinger)
Quando nos casamos, “o homem toma a mulher como esposa e a mulher toma o
homem como seu marido e assim ocorre a consumação desse amor”; a consumação do
amor se dá com a sexualidade. A busca pelo casamento é uma busca de amor e de
compromisso, uma procura por algo mais além do que o hoje; o ato de casar-se é uma
formalização, como um marco legal que dá a sensação de segurança e até um
sentimento de superioridade. O casamente permite que o ser humano tenha um
relacionamento de adulto e sexual, com todas as responsabilidades e obrigações
relacionadas.
No casamento o relacionamento se dá entre duas pessoas, é um processo de
construção com altos e baixos, alegrias e tristezas; o objetivo é de garantir ao outro
segurança, estabilidade e a possibilidade de formar uma família. Para que a construção
desse novo relacionamento dê certo é importante lembrar que cada um do casal vem de
um sistema diferente, trazendo consigo os emaranhamentos, desequilíbrios, carências e
as alegrias, que muitas vezes vem de várias gerações.
Cabe lembrar que cada um possui suas próprias características, sua forma de ser,
suas peculiaridades; é muito importante que ambos saibam aceitar e respeitar essas
diferenças, compreendendo que o outro, independente das diferenças possui o mesmo
valor. Quando em um casal, existe a vontade de mudar o outro, esse é o sinal de que
esse relacionamento está fadado ao fracasso.
O vínculo formado entre o casal jamais poderá ser rompido, mesmo que ocorra
uma separação e um novo casamento esse vínculo permanecerá existindo. Hellinger
afirma que o primeiro relacionamento sempre criará vínculos mais fortes e
significativos e os possíveis relacionamentos seguintes.
Para que o amor dê certo é necessário que esse esteja baseado na igualdade do
querer e do conceder, uma verdadeira troca; o desejo de ambos deve estar resguardado
um pelo outro. É preciso estar disposto a dar e a receber, essa é a lei do equilíbrio;
importante lembrar que “nem todos podem dar tudo e nem todos podem receber tudo”
quando não ocorre uma troca equilibrada entre o casal surgem os desequilíbrios e a
busca por uma compensação, muitas vezes buscando um relacionamento fora do
casamento ou optando por sair da relação.
CAPÍTULO II – LEIS DO AMOR NO CASAMENTO
Lei do Pertencimento
Essa lei nos diz respeito, a que todos temos o direito de pertencer ao nosso
sistema familiar, isso inclui a que morreram precocemente, aos filhos abortados, aqueles
que a família muitas vezes não deseja incluir como assassinos, ladrões, deficientes,
loucos ou até mesmo aqueles que foram excluídos sem motivo aparente ou porque a
simples lembrança traz dor e sofrimento. Quando ocorre algum tipo de exclusão, o
sistema não fica em paz e em algum momento o próprio sistema criará uma forma de
incluir o excluído e compensar a injustiça; muitas vezes cobrando a dívida em futuras
gerações ou até mesmo mantendo um padrão que se repete, até o momento que o
excluído é “visto e incluído”.
Lei da Hierarquia
Essa lei tem por objetivo manter a ordem dentro da família, significa que: “Os
mais velhos vieram primeiro e devem ser olhados com respeito”; essa lei se aplica a
todos incluindo os nossos pais, irmãos, filhos e cônjuges. O amor entre os pais e filhos
se mantem dentro de uma ordem, de desigualdade, onde os pais são pais e os filhos são
filhos, os pais dão e os filhos recebem. Quando o filho desrespeita essa ordem, se
sentindo superior aos pais, tornando-os de certa forma incapazes ou retirando a sua
autonomia, esse filho quebra a lei da hierarquia e passa a carregar um fardo muito
pesado.
Lei do Equilíbrio
Para Bert Hellinger esse é um dos principais pontos para que uma relação possa
dar certo, o equilíbrio entre o “dar e o receber” e é nesse movimento que as relações
crescem; passamos a compreender que assim como temos a posição de doadores,
também temos a posição de recebedores. Em uma relação de casal essa troca permite
um crescimento da relação e consequentemente da felicidade.
O desconhecimento dessa lei por parte de muitos casais gera desequilíbrios onde
muitas pessoas acabem doando mais do que o outro é capaz de receber e de retribuir;
existe a tendencia nesses casos de doar cada vez mais como uma forma de
compensação, o que somente produz um desequilíbrio maior. A base para que um
relacionamento de casal possa dar certo está justamente na capacidade do
“reconhecimento recíproco da necessidade e da prontidão de presentear ao outro com o
que lhe falta e de tomar dele, o que falta para si próprio.
Nessa dinâmica do desequilíbrio, a pessoa que doou demais acredita que tem o
direito de “cobrar” de quem recebeu, geralmente se colocando em um pedestal, se
sentindo superior; e por sua vez quem recebeu acaba se sentindo cada vez mais devedor
e “pequeno”, muitas vezes sem saber como quitar essa dívida, surge o desejo de se
afastar, de ir embora. Em um relacionamento não existe a possibilidade que “um ame
pelos dois”.
O desequilíbrio causado aqui não está somente em quem está recebendo demais
e não consegue retribuir, mas também em quem doa em excesso. A responsabilidade é
mútua, e cada um deve reconhecer seus limites no doar e no tomar. Não existe
relacionamentos onde o equilíbrio seja perfeito, é a dinâmica da busca pelo equilíbrio
que é possível crescer e prosperar como casal. Quando cada um oferece “um
pouquinho” a mais do que recebe, esse equilíbrio buscado fica mais alcançável.
Bert Hellinger
Na citação acima, Bert Hellinger não está querendo dizer que “um ame pelos
dois” e sim que “com nossas imperfeições podemos nos amar e ser felizes”. Na relação
a dois o respeito pelas diferenças do outro é fundamental, afinal cada um possui um
sistema familiar próprio com suas características e peculiaridades e porque não dizer
suas dores e traumas.
Nos problemas que surgem entre um casal é necessário olharmos para o seu
sistema de origem, pois muitas vezes existe a quebra de leis que termina refletindo no
casal. Podemos observar que muitos pais mantém a interferência sobre o relacionamento
do casal, assim como não liberam seus filhos para se tornarem e se relacionarem como
adultos. Muitos filhos se casam, mas se mantém unidos, vinculados com seu antigo
sistema, muitas vezes por uma forma de “culpa ou inocência” por acreditarem (de forma
errônea) estarem “abandonando” o sistema antigo. É preciso que ocorra uma separação
completa do sistema anterior para a relação do casal possa se desenvolver de forma
adequada.
“Isso de amar sem esperar nada em troca é bonito nos contos de fadas. Mas na
vida real, um amor maduro exige um delicado equilíbrio entre dar e receber, pois tudo
aquilo que não é mútuo, é tóxico” (Bert Hellinger) O equilíbrio entre o “dar e receber”
deve ser uma busca espontânea entre os casais, o equilíbrio nunca é alcançado, mas é a
busca por ele que permite o crescimento e a felicidade na relação. Quando o equilíbrio
não ocorre, podemos observar que o parceiro que oferece muito sente-se no “direito” de
“cobrar”, colocando-se em uma posição de superioridade; considerando o outro como
ingrato. Dar em excesso, em muitos casos, pode ser uma necessidade inconsciente de
ser visto, reconhecido e amado, mas ao invés disso torna-se incomodo para o outro.
Por outro lado, aquele que recebe “demais” sente-se endividado, pequeno,
enfraquecido, degradado e até humilhado, chegando até mesmo a desmerecer o que
recebeu; em alguns casos pode até mesmo de forma inconsciente, inferiorizar quem deu
em demasia; dessa forma tenta fazer com que o outro saia de sua posição de
superioridade, buscando igualar-se e realizar uma troca mais por igual.
Bert Hellinger
A palavra traição tem como definição o ato de trair, falta de lealdade, uma
quebra de confiança e fidelidade; ocorre a quebra de um contrato que em algum
momento foi feito entre duas ou mais pessoas; porém o ato vai muito mais além de uma
definição, se trata de um acontecimento que provoca danos muitas vezes irreversíveis
em um relacionamento. O ato em si envolve atitudes perigosas como a quebra de
confiança, a traição do acordo de ser fiel e o abandono do cuidado e investimento em
um relacionamento e também de amar o outro. Mas acima de tudo a infidelidade é uma
traição e o abandono a si mesmo e as suas convicções.
Bert Hellinger buscava não fazer julgamentos e criar papeis definidos de vítima
e inocente e de traidor, já que ele considerava a traição como um ato onde a
“culpabilidade” se estende aos envolvidos. Para alguns assumir o papel de vítima sem
assumir a verdadeira responsabilidade é mais fácil a até tolerável, quem sabe assumindo
um papel infantil acompanhado de chantagens e ameaças. O que se coloca no papel de
vítima ou que acaba por perdoar o outro, assume um papel de superioridade, colocando
o outro em uma posição de inferioridade, provocando um maior desequilíbrio, muitas
vezes como uma forma errônea de se buscar novamente o equilíbrio, o “traidor” opta
por abandonar o companheiro.
- Falta ou não disponibilidade para o sexo: seja essa falta por uma doença, alguma
dificuldade física ou simplesmente uma evitação. Devido a isso o outro pode sair em
busca de um(a) amante, o parceiro “indisponível” muitas vezes sente um alívio ou se
coloca no lugar de vítima e/ou inocente; acredita que dessa forma está isento de tratar o
seu problema.
- Crise oculta: muitas vezes existe uma vontade secreta e oculta de separar-se; já seja
por uma lealdade familiar ou mesmo por um simples desejo. A entrada de uma terceira
pessoa (amante) no sistema costuma ser o “estopim” para a crise.
Bert Hellinger
É importante que ambos estejam engajados nessa nova tentativa, sem acusações, pois
em todo relacionamento existe responsabilidade das duas partes, NUNCA de uma só,
tendo em conta que as relações de causa e efeito aqui, não são lineares. Para muitos
acaba sendo mais confortável seguir em um relacionamento ruim, que já terminou e isso
no futuro só trará mais dor; será necessário trabalhar o relacionamento diariamente em
diversos aspectos para que a relação possa ser revalidada e solidificada, acompanhando
as mudanças de cada indivíduo.
Cada um deverá assumir a sua responsabilidade: “Eu amei muito você. O que
dei para você, dei com muito prazer. Você também me deu muito, vou guardar isso com
honra. Assumo a minha parte da responsabilidade pelo que não deu certo conosco e
deixo a sua com você. E agora deixo você em paz.”
Podemos concluir que o relacionamento a dois, não é algo muito simples, mas
que é possível de acontecer trazendo felicidade a ambos. Para que isso ocorra é
necessário ter em mente que a construção ocorre dia após dia com respeito pelo
companheiro e por seu sistema. O sistema familiar de um não é melhor que o do outro,
são diferentes com suas características, crenças próprias e ao se casarem deverão
desligar-se de seus sistemas de origem para aí sim, formar seu próprio sistema.
A traição ocorre através de dinâmicas que não são lineares e que no geral
escondem ou estão acompanhadas de emaranhados familiares que devem ser vistos mais
a fundo, para que uma vez solucionados permita uma nova perspectiva e quem sabe
uma nova chance ao casal.
Quando uma reconciliação não é possível a busca por uma “boa separação”
ajudará ao casal a manter o respeito pelo companheiro e também pelo seu sistema de
origem. Reconhecer o erro e cada um assumir a responsabilidade que lhe cabe, permite
compreender que ambos possuem responsabilidade na traição e evita-se a formação de
papeis de “vitimas” e “culpados”.