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Foco

Recebido
em: 22 de julho de 2016
bruxismo do sono em crianças
Aceito em: 12
de abril de 2017
Disponível online em 3 de bruxismo do sono em crianças
junho de 2017

A. Camoina, *, C. Tardieua,b,c , Eu. Blanchetta, J.-D. Orthlieba

Disponível on-line em a
Departamento de odontologia, hospital Timone, universidade Aix-Marseille, AP–HM, 27, boulevard
Science Direct Jean Moulin, 13385 Marselha, França
b
Universidade Aix-Marseille, 13385 Marselha, França
c
www.sciencedirect.com ADES UMR 7268, departamento de odontologia, hospital Timone, AP–HM, 13385 Marselha, França

Resumo Retomar

Bruxismo é definido como atividade repetitiva dos músculos da mastigação,
caracterizada por apertar ou ranger os dentes e/ou bater e balançar. Este
estudo investigou o bruxismo do sono. A etiologia é multifatorial:
principalmente central (transtorno neuropático, ansiedade), mas também
genética e local (postura, respiração bucal).
O diagnóstico baseia-se principalmente na anamnese e exame do desgaste
dentário e da evolução ao longo do tempo (fotografias e modelos de gesso).
Um guia de diagnóstico é proposto neste artigo. Frequentemente encontrado
em crianças, o bruxismo nem sempre é considerado patológico. Os critérios
de gravidade relacionam a intensidade (número de facetas de desgaste
dentário) e também o contexto encontrado nas crianças: ansiedade,
distúrbios ventilatórios e estruturas dentárias frágeis. O manejo é
multidisciplinar e depende do diagnóstico etiológico.
2017 Elsevier Masson SAS. Todos os direitos reservados.
O bruxismo é definido como uma atividade repetitiva dos músculos da
mastigação, caracterizada por apertar ou ranger os dentes ou por bater e
balançar. Descreveremos principalmente o bruxismo do sono. Sua causa é
multifatorial e
essencialmente central (distúrbio neuropático, ansiedade), mas também
familiar e local (postura, ventilação oral). O diagnóstico baseia-se
principalmente na história, no exame dos desgastes dentários e na avaliação
da sua evolução ao longo do tempo (fotografias e modelos).
Um guia de auxílio diagnóstico é proposto neste artigo. Frequentemente
observado em crianças, o bruxismo nem sempre é considerado patológico.
Os critérios de gravidade referem-se à sua intensidade (significado das
facetas de desgaste dentário) num contexto de ansiedade, distúrbios
ventilatórios ou estruturas dentárias frágeis. O manejo é multidisciplinar e
depende do diagnóstico etiológico.

2017 Elsevier Masson SAS. Todos os direitos reservados.

1. Introdução sobre resto experimental [3]. O objetivo deste trabalho é, através de uma
revisão da literatura, esclarecer a etiopatologia da SB em crianças, procurar
identificar indicações claras de tratamento e as diferenças entre elas,
Em crianças, o bruxismo do sono (BS) é muito comum [1]. Diante desse
opções terapêuticas a considerar.
sintoma, é necessário buscar o diagnóstico etiológico e pensar em terapia.
Atualmente, muitas incertezas persistem devido à diversidade de formas
clínicas e causas [2].

2. E´tiopatologia
Publicações e pesquisas sobre este assunto são poucas e não consensuais.
o comportamento terapêutico
2.1. Definição
pode não estar claramente definido e a busca por
O bruxismo é definido como uma parafunção oral caracterizada por
contatos oclusais resultantes de atividades motoras mastigatórias não
* nutritivas, repetitivas, involuntárias, na maioria das vezes inconscientes.
autor correspondente. e-mail:
Ariane.camoin@univ-amu.fr, ariane.camoin@gmail.fr (A. Camoim). Distinguimos tipos

http://dx.doi.org/10.1016/j.arcped.2017.04.005 Arquivos Pediátricos 2017;24:659-666

0929-693X/ 2017 Elsevier Masson SAS. Todos os direitos reservados.

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A. Camoin et ai. Arquivos de Pediatria 2017;24:659-666

muitos fatores contribuintes às vezes associados uns aos outros.

O bruxismo seria desencadeado por mecanismos centrais envolvendo
o sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso autônomo
(SNA) [11], modulado entre outras coisas pelo sono, o estado
psíquico, e no caso da criança, sua maturidade cerebral [12]. Além
disso, certos fatores locais podem manter a parafunção: ventilação
e distúrbios da postura durante o sono em particular [13]. Uma
anomalia oclusal, e em particular o reverso da oclusão, não é
Figura 1. Bruxismo: da função à patofunção.
considerada um fator etiológico do bruxismo [14].

bruxismo com apertar, balançar, ranger e bater os dentes. O

bruxismo apresenta duas manifestações circadianas distintas: pode 2.3.1. causas centrais
ocorrer durante o sono (BS) ou durante a vigília (BE) [4]. Seria uma
Os mecanismos de ação estão longe de serem todos conhecidos,
atividade parafuncional, ou seja, o bruxismo corresponde a um
no entanto, vários fatores parecem estar envolvidos, tais como:
conjunto de atividades coordenadas que não contribuem para um
fatores psicológicos: estresse e ansiedade [15,16] ; fatores
propósito funcional [5]. Atualmente, essa noção é contestada. O
neurológicos: fisiopatologia do sistema nervoso central e
bruxismo “comum” pode ser considerado como uma função, o
autônomo [11].
bruxismo “frequente” como uma parafunção, o bruxismo “excessivo”
é uma patofunção, classificada em disfunções orais [ 6] (Fig. 1) . 2.3.1.1. Estresse e ansiedade

Eventos da vida diária da criança, como o

o nascimento de um irmão ou irmã, o treinamento do toalete ou o

Existem 2 categorias de bruxismo [7] que são: bruxismo primário
início da escola gerariam bruxismo: 34% dos pais questionados
(idiopático), sem causa médica identificável ou qualquer outro
relacionam-no a um desses eventos [17]. Distúrbios de déficit de
problema médico associado [8] e bruxismo secundário [9], associado
atenção e hiperatividade, estresse e ansiedade aumentariam a
a uma doença neurológica ou psiquiátrica ou relacionado ao efeitos
probabilidade de BS que poderia ser até 4 vezes maior [12,18]. O
colaterais de drogas ou medicamentos. Este artigo enfoca a SB
ambiente doméstico da criança também pode desempenhar um
primária idiopática em crianças.
papel. Por exemplo, o divórcio dos pais ou as dificuldades em
adormecer (por sentimento de insegurança ou abandono)
aumentariam a autopercepção de SB na criança [18]. Crianças
2.2. Epidemiologia
frágeis e emocionalmente instáveis teriam maior tendência a
A SB teria uma prevalência entre 6 e 50% das crianças [1]. Esta expressar suas ansiedades por meio de uma SB. Para Kampe et al.
grande disparidade de resultados tem várias origens: a dificuldade [19], bruxômanos adultos apresentam predisposição à ansiedade e
do diagnóstico, numerosos vieses nos estudos (viés de memória nos maior vulnerabilidade ao desenvolvimento de distúrbios
inquéritos retrospectivos e "perda de visão" na coorte de estudos) e psicossomáticos. Restrepo et al. demonstraram uma forte correlação
a falta de harmonização dos protocolos de estudo e meios de entre bruxismo, alto nível de estresse e traço de personalidade
diagnóstico ( auto-questionários, questionários, exames clínicos e “tensa” em crianças [20].
paraclínicos). Atualmente, não há critérios diagnósticos claros para
identificar a presença e a intensidade do bruxismo. Os dados
epidemiológicos atuais devem, portanto, ser considerados com
cautela.
2.3.1.2. Fisiopatologia das vias neurológicas
A SB pode aparecer desde o primeiro ano de vida durante a erupção
O bruxismo seria um meio de ativar a frenagem parassimpática,
dos incisivos decíduos, mas geralmente se inicia em dentes
equilibrando a atividade ortossimpática do organismo [16]. O
decíduos estáveis [10]. Sua frequência aumentaria com a idade,
envolvimento do SNC no bruxismo ocorre tanto pela ativação
atingindo um pico entre 10 e 14 anos de idade e diminuindo na idade
inconsciente dos músculos mastigatórios quanto pela inibição dos
adulta [5]. A SB está associada em um terço dos casos a um BE
reflexos protetores do aparelho mastigatório [11]. Estruturas também
[10]. A prevalência de BS não difere de acordo com o gênero [1,2].
podem estar envolvidas no levantamento da inibição desses reflexos
protetores: sistema límbico: é uma das estruturas envolvidas nas
respostas emocionais [21] ; núcleo da amígdala: na presença de
2.3. Fatores etiológicos e fatores de risco Até o momento, a
transtornos de ansiedade em bruxômanos,
etiologia do bruxismo não foi formalmente elucidada. É provavelmente métodos de ressonância magnética
multifatorial, associando-se

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ressonância magnética cerebral funcional (MRI) revelou ativação
anormal da amígdala [11] ; neurônios dopaminérgicos: em
caso de estresse emocional, a secreção de dopamina e outras
catecolaminas é aumentada. Uma secreção em altas doses de
catecolaminas, mensurável na urina durante o estresse, seria
responsável pela ativação motora dos músculos mastigatórios e
inibição dos reflexos protetores [22].
Outra hipótese é a hipersensibilidade dos receptores dopaminérgicos
pré-sinápticos D2 em bruxistas [23]. Haveria uma maior densidade
desses receptores na região frontal em bruxômanos e também uma
assimetria direita-esquerda particularmente acentuada [23]. Assim,
um desequilíbrio hemisférico da atividade dopaminérgica poderia
desencadear o surgimento do bruxismo.
2.3.2. Fatores locais
2.3.2.1. Más oclusões, disfunções orais e postura
De acordo com alguns autores, o BS pode estar associado ao
hipodesenvolvimento da maxila e mandíbula associado à
macroglossia relativa [10]. É por isso que o SB é frequentemente
observado em crianças com trissomia 21 [24].
No entanto, o distúrbio neuropático causa disfunção lingual
(deglutição primária e posição baixa em particular) e disfunção labial
(hipotonia dos músculos labiais) e disfunção ventilatória (ventilação
oral), com mau controle dos reflexos arcaicos. Portanto, é difícil
saber se o bruxismo é a causa ou o
consequência do hipodesenvolvimento dos maxilares.
Outras anormalidades dos tecidos duros (micrognatia) ou moles
(macroglossia) que causam espaço reduzido nas vias aéreas
superiores são consideradas fatores de risco indiretos para o
bruxismo [10]. Por outro lado, más oclusões isoladas (fatores
oclusais) sem ligação estabelecida com disfunção oral ou parafunção
não teriam ligação significativa com bruxismo [25,26]. Uma baixa
postura anterior da cabeça estaria associada ao SB em crianças
[27,28], pois indiretamente reduziria o espaço das vias aéreas
superiores.
2.3.2.2. Fatores ventilatórios
De acordo com um estudo de 2002 de Archbold et al. [13] em 1.000
crianças, a prevalência de problemas ventilatórios foi
significativamente menor em não-queimadores (9%) do que a
observada em crianças que queimam (16%). Em indivíduos de 5 a
18 anos, mais da metade dos episódios de SB estão associados a
microdespertares encefalográficos e aparecem na fase de sono
profundo que precede a fase de sono.Sono de movimento rápido
dos olhos (REM) [10] . Durante esses microdespertares, a atividade
dos músculos mastigatórios é facilitada, o que explica o SB
(geralmente menos de dois segundos). A hipóxia ativaria um sistema
de alerta e
bruxismo
causaria mais microdespertares, o que aumentaria o número de
episódios de BS durante o sono.
2.3.2.2.1. Síndrome da apneia do sono (SAOS)
A SAOS seria o maior fator de risco para o desencadeamento do
bruxismo [29]. É definida pela ocorrência repetitiva, durante o sono,
de obstrução total ou parcial das vias aéreas superiores (VAS),
responsável por apnéias e hipopnéias. Em crianças, sua prevalência
é de 1 a 5% [29] e acomete principalmente de 2 a 8 anos, idade em
que os tecidos tonsilares e adenoides são mais volumosos. As
causas mais comuns são obstrução nasal e hipertrofia tonsilar.
Ferreira e cols. [30] relacionaram muito claramente a SAOS em
crianças ao bruxismo. A estrutura cérvico-craniofacial e a função
dos músculos ao nível da EVA estão muito envolvidos na dinâmica
dos fluxos aéreos respiratórios. O bruxismo tem se aproximado da
SAOS em crianças, mas a relação causal ainda é discutível.
Bruxismo e SAOS são concomitantes com fases de microdespertar
e ocorrem nas mesmas posições (decúbito dorsal) [30]. O bruxismo
pode ser um “reflexo” da sobrevivência do organismo diante da
apnéia do sono.
A reativação dos movimentos mandibulares possibilitaria a abertura
da EVA para que o sujeito respirasse melhor; a sequência reflexa
das fases do bruxismo, marcadas principalmente pelo ranger dos
dentes, seria consequência desse “despertar mandibular”
descontrolado.
Indivíduos com SAOS acordam com mais frequência durante o sono
e veem o número de microdespertares aumentar. O bruxismo faz
parte dessa cascata de respostas fisiológicas ligadas a
microdespertares [10] e o número de eventos de SB aumenta em
indivíduos com SAOS.
2.3.2.2.2. Alergias
Marks et al. [31] constataram que a SB foi 3 vezes mais frequente
em crianças alérgicas. Uma criança alérgica respira pela cavidade
oral durante o sono, o que causaria ressecamento e aumento da
necessidade de engolir. No entanto, mesmo que seja retardada, a
deglutição seria a única função ainda presente durante o sono que
permitiria equilibrar as pressões ao nível das cavidades do tímpano.
Assim, o bruxismo seria um meio de desobstruir a trompa de
Eustáquio e reequilibrar essas pressões durante o sono.
2.3.2.2.3. Amígdalas ou adenóides aumentadas Amígdalas ou
adenóides aumentadas são muito comuns em crianças. É uma das
principais causas de distúrbios respiratórios durante o sono devido
à obstrução das vias aéreas [32]. A criança impulsionaria sua
mandíbula para manter a passagem de ar aberta. O bruxismo seria
consequência da estimulação dos receptores da EVA e da
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A. Camoin et ai. Arquivos de Pediatria 2017;24:659-666

aumento do tônus muscular dos músculos da mastigação.
2.3.3. Fatores genéticos
2.3.3.1. The´orie phyloge´ne´tique
Cada et al. [33] basearam-se na filogênese para explicar o
fenômeno do ranger de dentes em humanos. O bruxismo seria um
reflexo fisiológico arcaico herdado do animal. O aparelho
"mastigatório" entra em ação quando o indivíduo se encontra em
uma situação ameaçadora ou estressante: muitas espécies animais
apertam, batem, rangem os dentes em resposta a uma situação de
risco de vida (roedores).
2.3.3.2. Fatores hereditários
A literatura sugere que pode haver um caráter familiar para a
transmissão do bruxismo, sem que este seja sustentado por um
gene específico. Hublin e Kaprio [34] apontaram que nenhum
marcador genético para bruxismo havia sido identificado, embora
21 a 50% dos pacientes com BS tivessem pais que rangeram os
dentes na infância. O fator hereditário é sugerido pela maior
probabilidade de SB em gêmeos monozigóticos do que dizigóticos
[35].
Mesmo que a prevalência do bruxismo seja maior dentro de uma
mesma família, até o momento não foi identificado nenhum gene
ou grupo de genes envolvidos na parafunção. Também podem
existir fenômenos de práxis mimética.
diagnosticar uma criança bruxômana, se ela é “serrer” (que não
desgasta os dentes) ou “gricker”. O diagnóstico de bruxismo
exagerado (patofunção) na criança “encolhida” é estabelecido com
base na combinação de vários dos seguintes índices:
Desgaste dentário: o primeiro sinal de bruxismo é frequentemente
representado por desgaste dentário acentuado.
São facetas de atrição, localizadas principalmente ao nível das
bordas incisais livres e das cúspides caninas (Fig. 2 e 3). Ao
nível dos molares decíduos, a atrição pode ser tal que os
relevos das cúspides são obliterados (Fig. 4). Este desgaste
não é necessariamente simétrico, mas em todos os casos diz
respeito a um grupo de dentes opostos correspondentes (Fig.
5). No entanto, a presença de desgaste não deve levar
sistematicamente ao diagnóstico de bruxismo [34]. Alguns
desgastes dentários podem ser secundários a fenômenos
erosivos acentuados pela diminuição da quantidade e qualidade
da saliva [38], principalmente em crianças. Os fenómenos
erosivos também podem ser de origem endógena [39] (presença
de doença do refluxo gastroesofágico [DRGE] por exemplo),
exógena [40] (consumo regular `re de refrigerantes) ou mista.
O desgaste é então brilhante, largo e

3. Abordagem diagnóstica
Atualmente, não há consenso sobre o diagnóstico de bruxismo em
crianças [9]. A maioria dos métodos para diagnosticar o bruxismo
Figura 2. Dentição de paciente com bruxismo: desgaste moderado de
são indiretos, como desgaste dos dentes e ansiedade. Mas como
incisivos e caninos provisórios.
esses sintomas não são específicos do bruxismo, muitos resultados
falsos positivos e falsos negativos [12]. A polissonografia seria uma
ferramenta confiável, mas apenas durante as fases ativas do
bruxismo: se o exame for feito em um dia em que a criança não
bruxismo ou bruxismo raro, o diagnóstico é falsamente negativo.
Os pais podem relatar episódios de ranger de dentes durante o
sono de seus filhos, orientando assim o diagnóstico [36]. Este
sinal de alerta, no entanto, implica que os pais estão perto de seus
filhos à noite, o que raramente acontece. Além disso, o aperto é
completamente silencioso [37].

O diagnóstico baseia-se em vários elementos: interrogatório dos

pais, história clínica, exame exo e endooral e, em certos casos,
registo eletromiográfico (EMG) ou polissonográfico (PSG) [ 36 ] . É
um cruzamento de um conjunto de sinais e sintomas que permite Figura 3. Dentição de paciente com bruxismo: desgaste severo de
incisivos e caninos provisórios.

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Figura 4. Dentição de paciente com bruxismo: desgaste acentuado
dos molares decíduos.
pode afetar todas as superfícies dentárias (lingual e vestibular)
[39]. A avaliação da atividade do bruxismo é uma prioridade:
fotografias, moldes [36]. Para o chamado bruxismo “ativo”,
as facetas de atrito são brilhantes, ao contrário do bruxismo
mais antigo, onde as facetas de atrito são opacas e côncavas.
A atrição pode estar associada a manchas de erosões lisas
e brilhantes, que muitas vezes não envolvem um grupo de
dentes opostos correspondentes; hiperdensidade dos
músculos elevadores [12] que deve ser
procurada pela palpação dos músculos mastigatórios;
exostoses alveolares e ósseas basais [12] ; mialgias e
dores de cabeça ao acordar que podem ser
acompanhadas por limitação da abertura da boca [12,38] ;
interrogatório dos pais: anedotas sobre a
observação da criança com os dentes frequentemente
cerrados ao acordar, episódios de ranger à noite, criança
estressada com temperamento ansioso (criança agitada ou
pelo contrário prostrada ´), distúrbios do sono [10 ] ;
Figura 5. Dentição de um paciente com bruxismo: desgaste dentário
dos dentes opostos correspondentes.
bruxismo
A tipologia facial hipodivergente e euriprosopica (face curta
quadrada e face larga) são sinais de uma criança “grampeada”.
Por outro lado, a tipologia hiperdivergente e leptoprosopo
(face longa) são sinais de uma criança que é um ventilador
oral com provavelmente patologias otorrinolaringológicas
(ORL) [10].
O diagnóstico de bruxismo excessivo na criança “serrora” ainda
é complexo [37] :
desgaste dentário muito raro [9] ;
hipertrofias e exostoses musculares à palpação, que devem
levar a exames complementares, como EMG dos músculos
masseter e temporal ou PSG, para avaliar o grau de hipertonia
e se está relacionado à parafunção [38] .
O diagnóstico diferencial diz respeito principalmente ao desgaste
e erosão dentária, frequente em crianças, e às displasias
hereditárias (amelogênese imperfeita, dentinogênese imperfeita,
por exemplo) [ 23 ]. Propõe-se um auxiliar de diagnóstico
(Apêndice 1).
4. Levar a ter
Na realidade, o bruxismo não representa um problema real nas
crianças. Provavelmente é benéfico para o desenvolvimento do
aparelho mastigatório, para o corpo em geral e contribui para o
equilíbrio do indivíduo. Sato e Slavicek apontaram que o
bruxismo é uma “válvula de estresse” e contribui para o
“equilíbrio psicológico” dos indivíduos [16]. O bruxismo tem a
vantagem de destravar a oclusão e assim liberar os movimentos
mandibulares. Isso estimularia o crescimento do homem
dibular pela aplicação de forças de carga/descarga nos dentes.
Podemos então considerar que o bruxismo “banal” da criança é
fisiológico. Devemos ficar atentos quando a criança sofre de
bruxismo severo. Os sinais de alerta são: grandes facetas de
atrito associadas à presença de praias erosivas. Provavelmente
sinalizam a presença de patologias gastroesofágicas como a
DRGE ou o consumo excessivo de alimentos ou bebidas
“suaves”; facetas de atrito em contexto de ventilação oral ou
ronco
noturno, mandíbula estreita.
Também podem ser sinais de alerta para anomalias
ventilatórias causadas por alergias, hipertrofia tonsilar ou
AOS, por exemplo; sinais de aperto diurno frequente com
possível limitação da abertura da boca. No contexto de um
ambiente psicológico difícil, o bruxismo grave em crianças é
muitas vezes o sintoma de problemas psicoemocionais mais
profundos.
O bruxismo em crianças deve ser tratado nos seguintes casos:
clara limitação da abertura da boca pela alta densidade dos
músculos elevadores (aperto severo);
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A. Camoin et ai. Arquivos de Pediatria 2017;24:659-666

Sinais de
alerta: • Faces de arion de intensidade moderada a severa em particular nos primeiros molares permanentes, ou
arion severo em caninos e molares temporários. •
Limitação da abertura da boca.
• Mialgia ou dor de cabeça ao
acordar • Ranger de dentes relatado pelos pais ou outro membro da família

Ansiedade, Distúrbios Ronco, Maxilar estreito Sensibilidades Anormalidade praias de erosão

estresse, evento do sonolência diurna, dentárias da estrutura dentária
recente sono ventilador oral
vivenciado como “doloroso” associados

Dor Consumo de
retroesternal após as bebidas
refeições, sensação de açucaradas
queimação, acidez na ou ácidas
boca

Avaliação Atendimento Suspeita de DRGE: Conselhos

Consulte um dicas de higiene do Avaliação
ODF: possivelmente odontológico procure orientação de de higiene
psicólogo sono otorrinolaringológica Eliminar obstrução
expansão específico gastroenterologista alimentar
Avaliação do EVA, diagnóstico de
maxilar
especialista em sono eologias
(hipertrofia dos tecidos
moles, SAOS, alergias
crónicas)
Possível cirurgia

Figura 6. Árvore de decisão para orientar o manejo multidisciplinar do bruxismo do sono em crianças. DRGE: doença do refluxo gastroesofágico; SAOS: síndrome da apneia
obstrutiva do sono; ODF: ortopedia dentofacial.

fenômeno de atrição observado nos dentes permanentes
e, em particular, nos primeiros molares permanentes
(ranger intenso) ou atrição severa (em caninos e molares)
em dentes temporários com assimetria de facetas de
desgaste;
distúrbios psicoemocionais, estresse e ansiedade,
responsáveis pelo
bruxismo; distúrbios da ventilação nasal responsáveis pelo bruxismo.
O manejo do bruxismo infantil é multidisciplinar. As
disciplinas envolvidas dependem da hipótese etiológica (Fig.
6).
4.1. Informações dos Pais
Sendo sempre tranquilizador, o diagnóstico deve ser
explicado aos pais e à criança. As definições, causas e
consequências do bruxismo do sono e da vigília são
necessárias para uma boa informação.
Devem ser dados conselhos higiênico-dietéticos aos pais:
evitar a
ingestão de estimulantes como refrigerantes (bebidas que
criam um fator de erosão que agrava o desgaste) [12] ;
evite mascar chicletes, pois os movimentos dos músculos
mastigatórios podem gerar um reflexo reproduzido à noite
[12]. Além disso, a hipertrofia dos músculos mastigatórios
é um freio no crescimento na direção vertical;
informar os pais sobre técnicas de relaxamento e higiene
do sono [41]. Crianças que dormem em frente à televisão
ou ao rádio são mais propensas ao bruxismo [41].
Portanto, é aconselhável que as crianças tirem pelo
menos uma soneca por dia e não olhem para as telas
antes de dormir.
4.2. abordagem odontológica
Restaurações de coroas: a perda excessiva de tecidos
dentários, acompanhada ou não de hipersensibilidade
dentinária, pode levar o cirurgião-dentista a realizar
restaurações de dentes provisórios pela técnica direta
(resinas compostas, por exemplo) ou indireta (onlay
composto colado ou capas pediátricas pré-formadas,
particularmente na dentição temporária) dependendo da cooperação do
O uso de placas oclusais em crianças deve ser evitado.
Embora alguns autores recomendem seu uso [42], até o
momento eles não demonstraram nenhuma eficácia real no
bruxismo e podem ter efeitos deletérios no crescimento dos
maxilares e retardar a erupção dos dentes decíduos. Cara e
outros. considerou-os apenas nos casos mais graves e
sujeitos a acompanhamento próximo do paciente [10].
Tratamentos ortodônticos: quanto aos fatores de risco, más
oclusões do tipo mordida anterior ou

664
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o endognatismo maxilar deve ser corrigido precocemente.
Apenas a expansão rápida da maxila parece ser muito eficaz na
redução do bruxismo. Assim, haveria uma diminuição da atividade
do SB devido à abertura da VAS [10].
Nova abordagem chamada “proprioceptiva”: a modificação dos
comportamentos de bruxismo pode ser induzida por colagens de
resinas compostas usando novas informações proprioceptivas
para reduzir e redirecionar atividades mastigatórias parafuncionais.
O objetivo dessas colagens seria modificar a propriocepção e,
conseqüentemente, as vias reflexas [6]. Até o momento, essa
abordagem foi descrita apenas em
o adulto.
4.3. Abordagem cognitivo-comportamental
Restrepo et al. [43] propuseram uma técnica combinada de
“relaxamento muscular direcionado” e reação de competência
durante um período de seis meses. Isso consistia em modificar o
comportamento de pais e professores que era a fonte de reações
ansiosas na criança. Ao mesmo tempo, uma técnica de
relaxamento muscular dirigido, cujo objetivo é ensinar a criança
a reconhecer os estados musculares de tensão e
liberação, foi aplicada. A ansiedade das crianças diminuiu em
mais de 65% e a diminuição do bruxismo foi significativa.
4.4. abordagem cirúrgica
A adenotonsilectomia foi proposta por Di Francesco et al. [44] em
crianças com hipertrofia tonsilar e adenoideana associada a
bruxismo excessivo e SAOS. Três meses após a operação, o
bruxismo havia diminuído de 45 para 11%. Este autor sugeriu que
o bruxismo de crianças com obstrução dos vasos pode ser
significativamente reduzido após a adenotonsilectomia.
4.5. Abordagem farmacológica Até onde
sabemos, terapias farmacológicas como toxina botulínica ou
depressores dopaminérgicos [45] foram objeto de pesquisa
apenas em adultos e ainda são decepcionantes. Essas terapias
podem parecer a priori eficazes na resolução de certos sintomas
em crianças com distúrbios neuropáticos associados.
Finalmente, Ghanizadeh demonstrou a eficácia da hidroxizina
versus placebo para o tratamento do bruxismo do sono relatado
pelos pais [46]. Mesmo que essa molécula seja descrita como
bem tolerada e não tenham sido observados efeitos adversos
graves, devemos permanecer cautelosos com relação a esse
resultado obtido em apenas 15 indivíduos acompanhados por um
mês. Seu uso ficará reservado para atendimento multidisciplinar,
para casos de bruxismo severo em sujeitos com alta ansiedade.
bruxismo
5. Conclusão
O bruxismo provavelmente é favorável e necessário para o
desenvolvimento da face da criança (crescimento) e para seu
equilíbrio emocional (alívio do estresse). Existe, portanto, um
bruxismo “fisiológico”, que não devemos tentar corrigir
tranquilizando os pais. O bruxismo deve ser tratado em dois
casos: quando está associado a estruturas frágeis (anomalias de
estruturas dentárias, estruturas com erosões, por exemplo) ou
quando sua intensidade é exagerada. O bruxismo severo deve
desafiar ainda mais o praticante, pois é frequentemente o sinal de
alerta de patologias gerais não desprezíveis: distúrbios
ventilatórios (alergias crônicas, SAOS) ou distúrbios emocionais
significativos que requerem o acompanhamento de um especialista.
Assim, o bruxismo exagerado em crianças sempre requer
tratamento multidisciplinar.
Ajuda financeira
Este trabalho não recebeu apoio financeiro.
Declaração de interesses
Os autores declaram não ter conflitos de interesse.
Anexo 1. Material adicional
O material suplementar que acompanha a versão online deste
artigo está disponível em http://www. sciencedirect.com e http://
dx.doi.org/10.1016/j.arcped.2017.
04.005.
Referências
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