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UNIVERSIDADE CESUMAR UNICESUMAR

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA

BRUXISMO INFANTIL: PREVALÊNCIA, ETIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E


TERAPÊUTICA- REVISÃO DE LITERATURA.

LUANA LUCAS DE SOUSA

MARINGÁ – PR
2020
Luana Lucas de Sousa

BRUXISMO INFANTIL: PREVALÊNCIA, ETIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E


TERAPÊUTICA- REVISÃO DE LITERATURA.

Artigo apresentado ao Curso de Graduação em


Odontologia da Universidade Cesumar –
UNICESUMAR como requisito parcial para a
obtenção do título de Bacharel(a) Odontologia,
sob a orientação do Prof. Ms. Wagner Simm,
Mestre em DTM e Dor Orofacial.

MARINGÁ – PR
2020
FOLHA DE APROVAÇÃO
LUANA LUCAS DE SOUSA

BRUXISMO INFANTIL: PREVALÊNCIA, ETIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E


TERAPÊUTICA- REVISÃO DE LITERATURA.

Artigo apresentado ao Curso de Graduação em Odontologia da Universidade Cesumar –


UNICESUMAR como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel(a) em
Odontologia, sob a orientação do Prof. Ms. Wagner Simm, Mestre em DTM e Dor Orofacial.

Aprovado em: ____ de _______ de _____.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________
Ms. Rodrigo Poluha, Unicesumar.

__________________________________________
Prof. Gustavo Franciscato, Unicesumar.

__________________________________________
Ms. Wagner Simm, Unicesumar.
BRUXISMO INFANTIL: PREVALÊNCIA, ETIOLOGIA, DIAGNÓSTICO E
TERAPÊUTICA- REVISÃO DE LITERATURA.

Luana Lucas de Sousa

RESUMO

O bruxismo é uma atividade parafuncional: ação mantida que ocorre além das funções
normais de deglutição, mastigação e fonética. Pode ser tanto diurno quanto noturno, incluindo
apertamento, tensão, ranger e triturar de dentes. Nos últimos anos, o bruxismo em crianças e
adolescentes tem se tornado cada vez mais preocupante, devido ao impacto negativo na
qualidade de vida destes. Este trabalho tem por objetivo tentar compreender o bruxismo no
paciente pediátrico e fazer uma revisão sobre sua prevalência, etiologia, diagnóstico e
possíveis tratamentos. Para isso, foi realizada uma pesquisa bibliográfica utilizando as
plataformas Pub med, Scielo e Google acadêmico. Apesar de existir muita informação
relacionada ao tema, a literatura já publicada é insuficiente, sendo assim, necessária a
realização de novos estudos sobre o bruxismo em crianças e adolescentes.

Palavras-chave: Crianças, DTM, Parafunção, Tratamento.

CHILD BRUXISM: PREVALENCE, ETIOLOGIE, DIAGNOSIS AND


THERAPEUTICS - LITERATURE REVIEW.

SUMMARY

Bruxism is a parafunctional activity: maintained action that occurs beyond the normal
functions of swallowing, chewing and phonetics. It can be either day or night, including
squeezing, tensioning, grinding and grinding of teeth. In recent years, bruxism in children and
adolescents has become increasingly worrying due to its negative impact on their quality of
life. This work aims to try to understand the bruxism in the pediatric patient and to review its
prevalence, etiology, diagnosis and possible treatments. For this purpose, a bibliographic
search was conducted using the platforms Pub med, Scielo and Google academic. Although
there is a lot of information related to the subject, the literature already published is
insufficient, so new studies on bruxism in children and adolescents are necessary.

Keywords: Children, TMJ, Parafunction, treatment.


AGRADECIMENTOS

A Deus, que foi meu alicerce nessa caminhada, me dando força e sabedoria.
A toda minha família. Minha mãe, Cláudia, que sempre me incentivou e apoiou em
todos os momentos. Meu pai, Fabrício, que me acompanhou lá do céu. Meus avós: Jair,
Aparecida, José e Cleusa, meu muito obrigada, por tudo!
Agradeço a todos os professores que contribuíram para minha formação. Em especial,
meu orientador Wagner Simm, que me ajudou muito na construção deste trabalho.
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Características dos estudos: Fatores de risco associados ao bruxismo do sono....15


Quadro 2 – Resumo dos resultados dos fatores de risco associados aos sintomas do bruxismo
do sono....................................................................................................................................16
Quadro 3 – Tamanho do efeito em ordem decrescente............................................................17
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................8
2 METODOLOGIA................................................................................................................10
3 PREVALÊNCIA..................................................................................................................11
4 ETIOLOGIA........................................................................................................................13
5 FATORES DE RISCO.........................................................................................................15
6 DIAGNÓSTICO...................................................................................................................19
7 TERAPÊUTICA..................................................................................................................20
8 CONCLUSÃO.....................................................................................................................22
REFERÊNCIAS......................................................................................................................23
8

1 INTRODUÇÃO

O termo bruxismo é uma adaptação da expressão “la bruxomania” descrita pela


primeira vez na literatura médica por Marie Pietkiewicz, em 1907. O bruxismo é uma
atividade parafuncional, que pode ser diurna ou noturna, incluindo apertamento, tensão,
ranger e triturar de dentes (AAOP, 2008). Pode ser separado em categorias, de acordo com o
diagnóstico: possível, com base apenas no autorrelato do paciente (ou do responsável);
provável, que tem por base o autorrelato do paciente e é avaliado também os sinais clínicos
presentes; ou definitivo, o qual tem o relato do paciente, é avaliado os sinais clínicos e
também tem a confirmação pelo exame de polissonografia (Lobbezoo et al, 2018).

Os hábitos parafuncionais da mandíbula podem ser descritos como atividades


mantidas, que ocorrem além das funções normais da mastigação, deglutição e fonética
(Rosenstiel SF et al, 2006). A Organização Mundial da Saúde, em 2014, relatou que cerca de
30% da população mundial sofre com o bruxismo. No Brasil esse número é ainda maior,
podendo chegar a 40% da população (OMS, 2014).

Múltiplos fatores de risco foram associados ao Bruxismo do Sono (BS), no entanto


ainda existem muitas questões que não foram resolvidas sobre a etiologia do bruxismo que
têm consequências nas estratégias de gestão clínica (T. Castroflorio et al, 2015). Segundo a
OMS (2014), um fator de risco é definido como qualquer atributo, característica ou exposição
de um indivíduo que aumenta a probabilidade de desenvolver uma doença ou lesão.

Segundo Nahás-scocate ACR et al (2014), a etiologia do bruxismo está relacionada


com vários fatores, a saber: sistêmicos, locais, psicológicos e hereditários. Acredita-se que
indivíduos com bruxismo desenvolvem esse hábito por causa da influência de fatores
emocionais, como ter que lidar com acúmulo de tarefas, perdas, expectativas, conflitos,
autoimagem, autoestima e ansiedade (Shiner R, et al, 2003). Outro fator etiológico que pode
estar relacionado ao bruxismo em crianças é durante a substituição dos dentes decíduos pela
dentição permanente (Barbosa T de S, et al, 2008).

O critério que foi proposto pela American Academy of Sleep Medicine (AASM) é o
mais aceito para o diagnóstico de bruxismo durante o sono, inclui a presença de apertar e/ou
ranger os dentes durante o sono e/ou um ou mais dos seguinte sinais e sintomas simultâneos:
desgaste atípico dos dentes, desconforto muscular da mandíbula, fadiga ou dor, mandíbula
9

travada no despertar ou hipertrofia do músculo masseter em aperto forçado voluntário.


(Classificação internacional de distúrbios do sono, 2ª ed). Além da avaliação clínica e relatos
de ranger de dentes durante o sono, o padrão ouro para o diagnóstico é por meio da
polissonografia (Carra et al, 2012).

O bruxismo é mais comum em crianças do que em adultos e menos comum em idosos,


porque tende a diminuir com a idade (REIS et al.2019). A prevalência de bruxismo durante o
sono em crianças é muito variável, de 3,5% a 46%. Esta grande variação se explica pelo fato
de que o diagnóstico de BS em crianças ainda é um desafio, uma vez que é acessado
predominantemente por meio do relatório dos pais (RODRIGUES et al. 2019).

Essa atividade parafuncional, em pacientes pediátricos, tem sido tema de muitos


estudos recentemente, pois observa-se, através dos relatos, um aumento na procura de
explicações/causas da parafunção pelos pais e responsáveis nos consultórios odontológicos.
Esta revisão de literatura tem por objetivo o levantamento de informações relacionadas ao
bruxismo, com ênfase em crianças e pré-adolescentes, analisar a prevalência, etiologia,
diagnóstico e terapêutica.
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2 METODOLOGIA

Foram selecionados artigos científicos publicados na plataforma Scielo, Pub med, e


Google acadêmico. Através dos descritores da língua portuguesa, usando as palavras chave:
“Bruxismo” e “crianças” e da língua inglesa “Bruxism” e “children” para identificar uma lista
de potenciais artigos a serem incluídos na revisão. Foram usados como critérios de inclusão
os artigos que apresentavam conteúdo especifico sobre o bruxismo em crianças e/ou
adolescentes, na língua inglesa, portuguesa, espanhola e francesa.
11

3 PREVALÊNCIA

Na literatura não há valores definidos em relação à prevalência do bruxismo nos


pacientes pediátricos, há uma grande variação, explicada pela ausência de padronização e de
critérios de diagnóstico válidos e universais.

Existem vários estudos que mostram esta variação:

Garcia et al (1995) relataram a prevalência de bruxismo em torno de 7 a 20% em


crianças de idade dos três aos seis anos, e de 17% na faixa etária de seis a sete anos e 24% nas
crianças de oito aos nove anos. Em 40% das crianças examinadas, foi detectado o bruxismo,
sendo que 60% destas apresentavam o hábito de ranger os dentes, 32% apertavam e rangiam
os dentes simultaneamente e 8% apenas apertavam.

Shinkai et al (1998) relataram alta prevalência de bruxismo em crianças, sendo que


43% em crianças de faixa etária dos dois aos três anos, 35% entre crianças de quatro aos cinco
anos e 34% na faixa dos dez aos onze anos de idade. Além disso, segundo eles, a maioria das
crianças que foram diagnosticadas com bruxismo, apresentavam comportamento hiperativo
ou ansioso.

O bruxismo em bebês pode ser observado por volta de um ano de idade, logo depois
da erupção dos incisivos decíduos. Em estudo feito por Petit et al (2007), observou-se que
46% das crianças examinadas com a idade entre dois anos e meio e seis anos apresentavam o
bruxismo. Eles observaram que havia relação da permanência dos pais até que as crianças
dormissem com o bruxismo noturno persistente.

A porcentagem de crianças alérgicas, que apresentaram o bruxismo, foi de 60%


(índice três vezes maior do que em crianças não alérgicas).

Segundo Bayardo et al, (1996) e Hublin et al, (1998) há maior frequência do bruxismo
no sexo feminino. Porém, Barthi et al, (2006) observaram que 92% das crianças
diagnosticadas com bruxismo pertenciam ao sexo masculino. Em contrapartida, Demir et al,
(2004) e Petit et al, (2007) não notaram diferenças significativas estaticamente entre os sexos
masculino e feminino na prevalência do bruxismo infantil.

Quanto à prevalência do bruxismo durante o sono, há considerável discordância. Um


estudo em Hong Kong usando Polissonografia, em uma única noite encontrou prevalência de
12

8,5% do hábito (Kwok et al., 2002). Na Polônia a pesquisa encontrou 23,3% de crianças
participantes com bruxismo quando dormem (Zarowski et al., 2007). Já na Argentina, estudos
relataram que 74% das crianças apresentavam bruxismo do sono (Cortese e Biondi, 2009). No
Brasil, a pesquisa foi feita com base no relatório respondido pelos pais, e foi encontrado a
prevalência de 35,3% (Serra-Negra et al., 2009).

Revisão feita por Manfredini, Winocur, Guarda-Nardini, Paesani e Lobbezoo em


2013, relatou uma variação de prevalência de 3,5% até 40,6% com diminuição com a idade e
sem diferença de sexo. Foi relatado que a ampla variação é devido principalmente à
metodologia, razão que evita o apoio de qualquer estimativa confiável da prevalência de SB
em crianças.

Vários autores concordam que a incidência do bruxismo diminui com a idade.


Tratando-se da relação da prevalência em relação ao sexo, existem discordâncias, há autores
que defendam que há maior prevalência no sexo feminino, outros no sexo masculino e há os
que afirmam não haver diferenças em relação aos sexos.
13

4 ETIOLOGIA

O bruxismo não se trata apenas de desgaste dentário atípico, e normalmente há


sintomas associados, como: transtornos do sono, dores de cabeça, estresse, ansiedade, entre
outros. Em relação à etiologia do bruxismo infantil, a grande maioria dos autores afirmam que
é multifatorial.

Podem ser divididos de forma didática os fatores que predispõem o bruxismo em:

1) Locais (relacionados a interferências oclusais e contatos dentais prematuros, por


causa de restaurações mal adaptadas, por exemplo). Atualmente essas associações são
ultrapassadas. Manfedini et al (2004); Demir et al (2004) Cheng et al (2004), avaliando tanto
grupo de adultos quanto de crianças, concluíram nas suas pesquisas, não haver relação entre
bruxismo e fatores oclusais.

2) Sistema Nervoso Central (SNC). Atualmente, os estudos comprovam que o


bruxismo está associado com a atividade do SNC e não apenas com atividades locais, como as
restaurações mal adaptadas ou a má oclusão.

3) Problemas respiratórios (portadores de asma ou rinite); Oliveira et al (2014) e


Drumond et al (2017) em pesquisa concluíram que o bruxismo é mais encontrado em crianças
com sinusite ou rinite.

4) Fatores psicológicos (estresse e ansiedade); são os fatores mais encontrados no


bruxismo. Há uma relação direta entre a presença do bruxismo em crianças e o transtorno de
ansiedade. Oliveira et al. (2014), em estudo realizado, obtiveram que 83,3% das crianças
avaliadas com bruxismo apresentavam altos níveis de ansiedade.

5) Fatores hereditários. Entre 21% e 50% dos pacientes diagnosticados com bruxismo
durante o sono tem um membro familiar direto que rangeu/apertou os dentes na infância. Uma
revisão sistemática de literatura feita por Lobbezoo et al (2014) avaliou 32 publicações que
relacionavam bruxismo e hereditariedade. Os estudos avaliados nessa revisão concluíram que
o bruxismo parece estar (em parte) geneticamente determinado. Estudo recente comparou as
frequências genéticas entre pacientes bruxistas e saudáveis. Houve diferenças significativas na
codificação do gene 5-HT2A (pertencente à família dos receptores de serotonina), dos
14

pacientes saudáveis para os pacientes com bruxismo. O fator hereditário ainda está sendo
estudado para ser melhor esclarecido.

6) Distúrbios do sono. Fenômenos que ocorrem apenas durante o sono, relacionados a


diferentes graus de excitação. Macaluso et al (1998); Kato et al (2001); Kato et al (2003)
mostraram que na maioria dos casos (>80%), os eventos de bruxismo foram relacionados a
uma resposta de despertar, e que os movimentos involuntários das pernas foram presentes em
associação aos episódios de bruxismo.

Por meio de questionário (Respondido por pais de crianças e adolescentes), Cheifetz


et al, (2005) encontraram que 38% dos pais entrevistados fizeram o relato de bruxismo dos
seus filhos Alguns fatores relatados estavam associados à presença do bruxismo infantil, tais
como: história familiar, porta aberta dos quartos (durante a noite), falas e babas noturnas e
desordens psicológicas. 5% dos pais descreveram apenas um sintoma de DTM (Disfunção
Temporomandibular) em seus filhos, e não foi relatado nenhum sintoma de disfunção articular
relacionada ao bruxismo.
15

5 FATORES DE RISCO

Montaldo et al, (2012) investigaram a associação entre exposição ao fumo passivo e o


bruxismo noturno em 498 crianças de 7 a 11 anos. Inicialmente, as crianças foram
diagnosticadas com bruxismo por meio de relato dos pais, e presença de sinais e sintomas.
Após serem diagnosticadas, foram separadas em dois grupos, as que foram expostas ao fumo
passivo nos últimos seis meses, e as que não foram expostas.

Dois estudos transversais investigaram o papel dos fatores psicossociais: Castelo et al,
(2010) em crianças de 6 a 7 anos e Serra- Negra et al, (2009) em crianças de 7 a 10 anos.

Houve três estudos de caso controle de Serra Negra. O primeiro, Serra-Negra, Paiva et
al. (2012) observaram sinais, sintomas e parafunções em crianças de 7 a 11 anos, sendo
acompanhadas por três dias cada. O segundo, Serra- Negra, Paiva, Flores-Mendoza et al,
(2012) investigaram o estresse e traços de personalidade em crianças de 7 a 11 anos, sendo
acompanhadas por três dias cada. Por último, Serra-Negra et al. (2014) analisaram o papel dos
distúrbios do sono, incluindo diversos fatores de risco: número de horas de sono, dormir com
as luzes acesas, ruído no quarto e problemas durante o sono. Foram acompanhadas crianças
de 7 a 10 anos, todas elas foram assistidas por um período de três noites.

Nenhum dos estudos controle tiveram a análise de Polissonografia, foram usados


apenas questionários de acordo com os critérios AASM e ferramentas de autorrelato para o
diagnóstico do bruxismo durante o sono. Apenas Serra-Negra, Paiva et al (2012) incluiram
análise clínica para verificar sinais e sintomas do bruxismo nas crianças avaliadas.

FONTE, ANO AMOSTRA IDADE FATORES DE MEIO DE


RISCO DIAGNÓSTICO

Montaldo et al, 498 7-11 anos Fumo passivo Questionário,


2012 autorrelato,
entrevista e
exame clínico

Serra-Negra et 652 7-10 anos Fatores Questionário


al, 2009 psicossociais
16

Castelo et al, 94 6-7 anos Qualidade de Relatório dos


2012 vida pais e exame
clínico

Serra- Negra, 360 7-11 anos Parafunções, Relatório dos


Paiva et al, 2012 sinais e pais e exame
sintomas clínico
clínicos

Serra- Negra, 360 7-11 anos Níveis de Relatório dos


Paiva, Flores- estresse pais
Mendoza et al,
2012

Serra-Negra et 360 7-11 anos Fatores Questionário


al, 2014 ambientais e
duração do sono

Quadro 1: Características dos estudos: Fatores de risco associados ao bruxismo do sono. Da esquerda
para direita: fonte e ano da publicação, tamanho da amostra, faixa etária, fatores de risco avaliados e
meio de diagnóstico do BS.

FONTE, ANO CONCLUSÕES

Montaldo et al, 2012 A alta exposição ao fumo passivo está


associada ao BS

Serra-Negra et al, 2009 Neuroticismo e alto grau de reponsabilidade


são fatores determinantes para o
desenvolvimento de BS em crianças

Castelo et al, 2012 Filhos de mães mais novas são mais


propensos a apresentar BS

Serra- Negra, Paiva et al, 2012 Crianças que apresentam parafunções


(morder objetos e bruxismo em vigília) são
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mais suscetíveis ao BS

Serra- Negra, Paiva, Flores-Mendoza et al, Altos níveis de estresse estão associados ao
2012 BS

Serra-Negra et al, 2014 Crianças que dormem menos que 8h por


noite, possuem maior probabilidade de ter
BS. Luz e ruído na sala, foram associados ao
BS.

Quadro 2: Resumo dos resultados dos fatores de risco associados aos sintomas do bruxismo do sono.
Da esquerda para direita: fonte/ ano de publicação e conclusão dos autores.

FONTE, ANO FATORES DE RISCO

Montaldo et al, 2012 Exposição ao fumo passivo (fortemente exposto)

Serra-Negra et al, 2014 Problemas durante o sono

Serra-Negra et al, 2014 Ruído na sala

Serra-Negra et al, 2014 Horas de sono (menor que de 8h)

Serra-Negra et al, 2014 Dormir com a luz acessa

Serra- Negra, Paiva et al, 2012 Cerrar os dente

Serra-Negra et al, 2009 Responsabilidade

Serra- Negra, Paiva et al, 2012 Morder objetos

Serra-Negra et al, 2009 Neuroticismo

Serra- Negra, Paiva, Flores-Mendoza et al, 2012 Estresse

Castelo et al, 2012 Idade materna ao nascer

Quadro 3: tamanho do efeito em ordem decrescente. Da esquerda para direita: fonte/ano de publicação
e fatores de risco associados ao BS, de ordem decrescente, sendo o que a maior associação é a
exposição ao fumo passivo, e de menor associação é a idade materna no nascimento da criança.
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A exposição vigorosa ao fumo apresentou a associação mais forte com Bruxismo do


sono em crianças. Segundo Montaldo et al. (2012) a exposição à fumaça do cigarro
apresentou uma associação forte com o bruxismo do sono nas crianças. Porém, das crianças
avaliadas, apenas 6 delas foram fortemente expostas após um período de observação de seis
meses e, portanto, não há evidências definitivas. Necessitando de mais estudo.

Os outros fatores de risco importantes para BS foram problemas durante o sono,


juntamente com distúrbios do sono como: ruído na sala, dormir menos que 8 horas por noite e
dormir com luz acesa.

Fatores psicossociais apresentaram diferentes graus de associação com BS: forte para
altos níveis de responsabilidade e neuroticismo, crianças com altos niveis de neuroticismo e
responsabilidade têm duas vezes mais chances de ter o hábito do bruxismo do sono,
comparadas àquelas que têm baixos níveis desses traços de personalidade e não foi
encontrado relação entre bruxismo e estresse, sexo, idade ou vulnerabilidade social.

Apertar os dentes e morder objetos são considerados fatores de risco moderados para o
bruxismo do sono em crianças (Serra-Negra, Paiva et al., 2012; Serra-Negra, Paivia, Flores-
Mendoza et al., 2012). Atividades parafuncionais como morder lábios, roer unhas, morder
caneta e o uso por um período prolongado de chupetas em crianças, desempenham um papel
importante, principalmente no início do bruxismo noturno.

A ausência de achados polissonográficos limitou o estudo do impacto de estresse e


fatores psicossociais no início do bruxismo do sono. Segundo Carra et al. (2012), a
polissonografia representa o padrão ouro para o diagnóstico de bruxismo durante o sono. No
entanto, o custo do PSG limita seu uso principalmente em estudos epidemiológicos (Lavigne,
Kato, Kolta, & Sessle, 2003). Assim, um exame clínico preciso pode ser um método razoável
para ser utilizado em estudos de larga escala. Recentemente alguns dispositivos portáteis
interessantes foram introduzidos para facilitar coleta de dados (Castroflorio, Deregibus,
Bargellini, Debernardi, & Manfredini, 2014; Castroflorio et al., 2015; Deregibus et al., 2014).

A revisão de literatura confirmou um provável modelo multifatorial (Kawakami,


Kumazaki, Manda, Oki, & Minagi, 2014). Distúrbios do sono e hábitos parafuncionais,
exposição ao fumo e fatores psicossociais parecem ser fatores de risco associados ao
bruxismo do sono.
19

6 DIAGNÓSTICO

Em crianças, o bruxismo é identificado pelos dentistas pediátricos, quando estão


diante de desgastes dentários incomum, DTM e dor. Porém os médicos pediatras podem
reconhecer essa desordem, quando são procurados por pacientes com dores na mandíbula ao
acordar ou dores de cabeça atípicas, por exemplo. Liljestroem et al. (2001) relataram que
tanto o bruxismo, como as DTM´s (desordens temporomandibulares) são encontradas em
pacientes pediátricos que apresentam episódios de dor de cabeça.

É importante realizar a entrevista da criança em ambiente calmo e tranquilo, contando


com a presença dos pais para obtenção de informações relevantes, tais como a história médica
geral, hábitos da criança, queixas de dor, como é o relacionamento familiar e social, além da
avaliação do seu perfil psicológico.

O exame intraoral e extraoral deve ser realizado de forma minuciosa, devendo ser
incluído a palpação dos tecidos moles e sua avaliação, ausculta, verificação do movimento da
mandíbula, avaliação da língua (analisar seu aspecto, se há presença de sinais de mordida),
analisar a oclusão e exames complementares, como os exames radiográficos, possuem uma
grande importância para o correto diagnostico das alterações do sistema estomatognático.

A avaliação do desgaste da estrutura dentária em pacientes com bruxismo se baseia no


diagnóstico visual, sem a diferenciação da causa, se é relacionada a fatores psicológicos ou
patológicos. Segundo Restrepo et al (2006), as imagens digitalizadas contendo os desgastes da
estrutura dentária, podem ser utilizadas como diagnostico de bruxismo infantil na dentição
mista, após a área ser analisada, com as irregularidades na formação dos desgastes nos dentes,
é possível fazer a diferenciação dos desgastes patológicos para os desgastes psicológicos.

O diagnóstico diferencial é importante para que não se confunda outros movimentos


do sono, como atos de tossir, engolir, grunhir ou alternar a abertura e o fechamento
mandibulares com bruxismo. Além disso, é preciso diferenciar o ruído oriundo do bruxismo
daquele causado pelo ato de roncar por meio de gravações ou vigilância, pois o ruído
provocado pelo ranger dos dentes é característico em pacientes bruxistas.
20

7 TERAPÊUTICA

Como o bruxismo tem etiologia multifatorial, é necessário primeiramente ter um


diagnóstico correto, para o tratamento poder acometer principalmente a causa principal da
parafunção na criança. Ainda, o tratamento deve ser multidisciplinar, devido sua etiologia
multifatorial, envolvendo profissionais como dentista, médicos pediatras, psicólogos e
fisioterapeutas, de acordo com a necessidade do paciente.

Nos adultos, o tratamento mais indicado para o bruxismo é o uso durante o sono de
placas mio- relaxantes, devido ao custo baixo, ser de fácil uso e um tratamento reversível.
Esse tratamento tem como objetivo diminuir a hiperatividade muscular, manter a dimensão
vertical, além de proteger os dentes do desgaste proveniente do ranger dos dentes. Porém, por
poder interferir no crescimento dos maxilares, no caso das crianças, o uso de placas mio-
relaxantes é controverso.

Há vários tipos de ação terapêutica para o bruxismo em crianças, como: tratamentos


fisioterapêuticos, psicológicos, farmacológicos e placas mio-relaxantes. O bruxismo infantil
está fortemente relacionado a distúrbios psicológicos, principalmente em crianças que
possuem altos níveis de responsabilidade e neuroticismo e o acompanhamento de um
psicólogo é de grande importância para controlar este comportamento. As técnicas são
eficientes e importantes no caso de crianças com ansiedade. Muitas vezes o acompanhamento
psicológico poderá ser o único tratamento indicado, com base na ciência.

Os tratamentos fisioterapêuticos são baseados em massagens dos músculos do pescoço


e da mastigação e tem por objetivo a redução da dor. A terapêutica farmacológica, que se trata
da prescrição de relaxantes musculares e analgésicos, que é bastante utilizada para controlar a
dor proveniente do distúrbio em adultos. No público infantil, estes medicamentos deverão ser
usados com cautela, sendo recomendado usar outras técnicas terapêuticas.

Quando há a erupção dos primeiros dentes decíduos, existe um movimento muscular


mandibular instável, levando ao ranger dos dentes durante o sono e na vigília. Isso provoca
nos pais ansiedade e preocupação. O dentista tem como papel acalmar esses pais e esclarecer
que nesta fase não há nada a se fazer, apenas aguardar pela erupção dos demais dentes.
21

Não existe nenhuma terapêutica específica para o bruxismo infantil. Deve haver a
avaliação individual de cada paciente e o mesmo deve ser tratado de acordo com os possíveis
fatores associados à parafunção, para que futuras complicações sejam evitadas.

O tratamento deve ser escolhido de forma reversível e conservadora, de modo a não


intervier negativamente no padrão normal da dinâmica de crescimento e desenvolvimento
infantil.
22

8 CONCLUSÃO

Há falta de padronização dos critérios atualmente utilizados para avaliação do


bruxismo em crianças, dificultando assim um correto diagnóstico e a compreensão dessa
parafunção nos pacientes pediátricos. A sua prevalência ainda não é definida na literatura,
inclusive há uma grande amplitude nos números, há discordância entre os autores sobre a
prevalência maior, ou não, em determinado sexo. A etiologia do bruxismo é definida como
multifatorial, sendo que a maioria dos autores concordam, que geralmente os fatores
emocionais estão relacionados ao bruxismo em crianças. O padrão ouro para o diagnóstico é o
exame de Polissonografia, porém é um exame de difícil acesso, pelo elevado custo. As
medidas terapêuticas dependem da sua etiologia. Apesar de existir muito estudo pertinente
sobre o tema, a literatura publicada até hoje não é suficiente, e por isso, é necessária a
realização de mais estudos relacionados ao tema.
23

REFERÊNCIAS

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