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ASPECTOS OCLUSAIS NA ETIOLOGIA DAS

DESORDENSTEMPOROMANDIBULARES
OCCLUSAL ASPECTS RELATED TO THE ETIOLOGY
OFTEMPOROMANDIBULAR DISORDERS

Amália MORENO1
Paulo Renato Junqueira ZUIM2
Marcelo Coelho GOIATO3
Daniela Micheline dos SANTOS4
Daniela Atili BRANDINI5
Maria Cristina Rosifini ALVES REZENDE3

RESUMO
Introdução: A oclusão por estar presente em quase todas as especialidades da odontologia,
tem ao longo do tempo mostrado sua relação com a saúde do paciente. A etiologia das
desordens temporomandibulares é multifatorial considerando a oclusão como um fator
etiológico. Esse trabalho objetivou discutir os aspectos oclusais funcionais e a presença
de DTMs. Revisão da Literatura: A desarmonia do equilíbrio ortopédico pode ocasionar a
desordem temporomandibular. A partir de então, a oclusão fisiológica ou funcional vem
sendo analisada na relação dental. Entre os fatores oclusais funcionais analisados com
maior relação às desordens temporomandibulares têm-se os devios de relação central
para máxima intercuspidação habitual, interferências oclusais, ausência de dentes
posteriores, alteração na dimensão vertical de oclusão, má-oclusão e tratamento
ortodôntico, e parafunção Conclusão: Os fatores oclusais mais relacionados às disfunções
temporomandibulares são bastante freqüentes, devendo, no entanto o diagnóstico e o
tratamento ser analisado individualmente.

UNITERMOS: Dor facial, Síndrome da disfunção da articulação temporomandibular,


Diagnostico bucal, Relação central.

INTRODUÇÃO dimensão vertical era a causa das DTMs, o tratamento


A oclusão por estar presente em quase todas passou a ser função dos cirurgiões-dentistas. A partir
as especialidades da odontologia, mostra sua relação daí, passou-se a creditar às desarmonias oclusais
com a saúde do paciente. Sabendo-se que uma como fator etiológico primário das DTMs,
parcela significativa da população sofre de desordens predominando as terapias oclusais para estabilização
que podem estar relacionadas com fatores oclusais oclusal26.
e/ou distúrbios funcionais do sistema mastigatório, A literatura sobre a etiologia das DTM é bastante
então torna-se posssível a relação dos aspectos ampla, no entanto, muitos aspectos ainda não são
oclusais na etiologia das desordens bem esclarecidos. Desde o princípio, considerou-se
tempromandibulares (DTMs)6. a oclusão como um fator etiológico, no entanto, com
Estudos quanto ao papel etiológico da oclusão a existência de muitos insucessos na terapêutica e
na desordem temporomadibular (DTM) tem sido as várias pesquisas que se desenvolveram, existem
controvérsios ao longo do tempo. Alguns autores têm muitas dúvidas do papel da oclusão em relação a
concluído não haver evidências científicas para uma DTM24. A maioria dos estudos se concentra em um
relação causal existente, entretanto, outros estudos ou dois fatores oclusais, embora estes sejam muitos,
concluem não se poder excluir a oclusão como fator dificultando a comparação entre os estudos,
etiológico 16,41. Além disso, com a introdução da principalmente pela diversidade metodológica. Além
Síndrome de Costen, alegando que a alteração da disso, outros trabalhos analisam os fatores oclusais

1 - Mestre em Prótese Dentária pela Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP. Doutorando em Prótese Dentária pela Faculdade de
Odontologia de Araçatuba-UNESP
2 - Professor Assistente Doutor, Coordenador do Núcleo de Diagnóstico e Tratamento da Disfunção da Articulação Temporomandibular,
Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese da Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP
3 - Professor Adjunto, Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese da Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP
4 - Professor Assistente Doutor, Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese da Faculdade de Odontologia de Araçatuba-UNESP
5 - Professor Assistente Doutor, Membro do Núcleo de Diagnóstico e Tratamento da Disfunção da Articulação Temporomandibular,
Departamento de Cirurgia e Clínica Integrada da Faculdade de Odontologia de Araçatuba – UNESP.

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como um todo, agrupando-os num único fator: má- devido a fadiga muscular causada por hábitos orais
oclusão, dificultando a análise dos resultados11,13,21. crônicos. Desarmonias oclusais entre as relações
Para se determinar o verdadeiro papel da maxilo-mandibulares ou ambos formam a base para
oclusão, a maior dificuldade está na ausência da muitas das teorias da etiologia da “Síndrome da ATM”.
definição de quais fatores oclusais específicos atuam Enquanto originariamente sugeria-se que a
nas DTMs e quais os que não atuam. Dessa forma, sobremordida era o principal fator desencadeante,
esse trabalho objetivou discutir a relação dos fatores teorias mais refinadas relacionam com uma
oclusais funcionais, mais comumentemente desarmonia oclusal.
estudados, com a presença de DTMS.
EQUILÍBRIO ORTOPÉDICO E OCLUSÃO
TEORIAS DA OCLUSÃO DENTAL FUNCIONAL
As “teorias dentais” ou “teoria do deslocamento Para o equilíbrio do aparelho estomatognático é
mecânico”, propunham que quando os dentes eram necessário que as funções mandibulares, dentre elas
direcionados durante a mastigação ou deglutição a a mastigação, ocorram de maneira eficiente. Neste
discrepância na oclusão, isto produzia um caso, as estruturas articulares devem estar
deslocamento da mandíbula, normalmente na direção anatomicamente bem posicionadas. A posição do
posterior, com resultante compressão dos tecidos côndilo deve ser justaposto ao disco e o conjunto se
conjuntivos retro-condilares altamente vascularizados colocar contra a vertente posterior do osso temporal.
e densamente enervados. Foi relacionado então, que Os músculos da mastigação deverão estar em uma
a compressão contínua dos tecidos, causaria não longitude fisiológica, na qual suas fibras exercem forças
somente dor, mas impedimento do suprimento sem alterar o metabolismo das células, e os dentes
sanguíneo das estruturas articulares, assim levando estarem em harmonia com estas relações anatômicas9.
a alterações degenerativas. Essa hipótese em que A oclusão ideal é caracterizada por fatores
os côndilos tinham que estar em uma posição central biológicos e biomecânicos ideais ao funcionamento do
para a função apropriada foi refutada por diversas sistema estomatognático. Embora raramente
outras pesquisas, demonstrando posições encontrado na dentição este conceito se baseia em:
excêntricas condilares em muitos pacientes relação central coincidente com a máxima
assintomáticos 2,31 . Muitos destes conceitos intercuspidação habitual, contatos homogêneos e
mecânicos de DTM nunca foram provados e não são simultâneos de dentes posteriores, dentes anteriores
mais aceitos. A partir desta inadequada justificativa contatando levemente ou não contatando com a máxima
para explicar a “teoria do deslocamento mecânico” intercuspidação, forças dirigidas para o longo eixo do
pesquisadores passaram a denominá-la então de dente e a presença de guia do canino e anterior28.
“teoria músculo-dental”. Esta segunda teoria na Em relação a oclusão fisiológica, esta é
década de 1970 foi baseada no pressuposto de que encontrada com maior frequencia na dentição natural e
as interferências oclusais ou perda de apoio molar se caracteriza por apresentar uma ou mais variações
causavam a hiperatividade dos músculos da oclusão ideal, estando estética e funcionalmente
mastigatórios 30 , passando a incluir levemente satisfatória sem sinais e sintomas de patologia dentais28.
princípios mecânicos, apesar de ter como base Segundo Pullinger33,34 se as discrepâncias entre a
etiológica ainda a discrepância oclusal. posição ortopédica estável dos côndilos e a máxima
As interferências passaram a ser a causa direta intercuspidação dos dentes se tornarem elevadas, os
da parafunção na dor muscular mandibular, com riscos de desordens intracapsulares pode ocorrer.
sobrecarga articular e disfunção5,35. De acordo com a
esta teoria, não era a posição excêntrica do côndilos FATORES OCLUSAIS E A PRESENÇA DE DTM
que era considerada de importância primária, e sim Desvio de RC para MIH
era um resultado, e não a causa da dores musculares Embora alguns trabalhos relatem que a
com imobilização do músculo. Esta teoria foi mais presença de um desvio de relação central (RC) para
aceita que a outra, quando passou a responsabilizar máxima intercupidação habitual (MIH) pode ser um
também os componentes neuromusculares, ajudando fator de risco em populações específicas, grande parte
a explicar a maioria dos sintomas. A influência da vem a falhar em demonstrar uma associação
discrepâncias oclusais sobre a musculatura da significante entre a presença de desvio de RC para
mandíbula em pacientes com sensibilidade oclusal MIH e sinais e sintomas de DTM12,25. Sugere-se ainda,
foi considerada um fator prejudicial. Se o ajuste oclusal que a MIH anterior à RC, associada com uma
ou a ortodontia não pode corrigir a oclusão, a estabilidade oclusal bilateral, seja um fator de proteção
reconstrução protética pode ser mais indicada. No ao sistema38.
entanto, em comparação com o primeiro conceito, Na posição de relação central pode ser
as reconstruções foram menos extensas. verificada a presença de contato dental interceptivo
Laskin18 relata que o espasmo muscular ou que produz deslizamentos dentais simétricos ou
hiperatividade muscular (parafunção) é responsável assimétricos. O deslizamento assimétrico é quando
pelos sintomas da DTM. A causa mais comum é o deslocamento é maior em um dos lados. Nesse

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caso, um dos côndilos vai para uma posição anterior associações ou foram estabelecidas entre oclusão
e o outro é intruído na fossa mandibular ou deslocado funcional e sinais e sintomas de DTM. Os fatores
posteriormente. Esses deslizamentos, quando oclusais encontrados foram parcialmente protetores para
simétricos, indicam um tipo comum de contato DTM, ou seja, indivíduos com estes parâmetros oclusais
retrusivo presente, cerca de 90% da população, mostraram poucos sinais e sintomas de DTM11,27.
contudo, quando assimétrico, deve ser considerado Interferências oclusais
como contato prematuro9. As interferências oclusais foram definidas de
O contato prematuro desencadeia um arco forma diferente na literatura ao longo dos anos.
reflexo protetor. Em um contato prematuro unilateral, Atualmente entende-se por interferência oclusal todas
a maior parte da força oclusal será aplicada nos dentes as partes anatômicas dos dentes que impedem o
que estão com contato prematuro. A posição estabelecimento dos guias anterior (guia incisal) e
mandibular fica instável e as forças da oclusão serão lateral (guia canino) durante o movimento excêntrico9.
aplicadas também sobre a musculatura o que Alguns autores relatam que a interferência oclusal
acarretará um maior fechamento no lado direito e um pode introduzir um fulcro que tem a capacidade de
deslocamento da posição mandibular para aquele lado. conceder a uma determinada força, vantagem
Se caso for aplicado forças maiores aos dentes e mecânica altamente danosa, ampliando-a de duas a
articulação, nesta situação existe um risco três vezes. Assim, a ATM pode ser pressionada e
significativo de colapso das articulações, da proprioceptivamente, induz uma resposta recíproca
musculatura, dos dentes e estruturas de suporte9. Por nos músculos do lado da interferência para aliviar o
isto na posição de MHI os contatos dentais ocorrem estresse induzido. Os sintomas decorrentes desta
com a participação do arco reflexo protetor ou força, podendo ser precipitados nos músculos
nociceptivo que produz desvio mandibular induzido recíprocos, na ATM, periodonto de proteção e
pelas alterações oclusais3. Em relação ao disco, sustentação e/ou dentes9,28.
quando um contato prematuro produz uma mudança Algumas das desarmonias oclusais mais
na posição mandibular deslize látero-protrusivo, um frequentes são: interferências no fechamento habitual,
dos côndilos desloca para posterior e produz em lateralidade no lado de não-trabalho e no lado de
compressões na borda posterior do disco, causando trabalho. Acrescentando que mesmo estas, não
alterações morfológicas que facilitam o deslocamento conduzem necessariamente a um distúrbio funcional.
do disco para a região anterior9. Na maioria dos estudos sobre ajuste oclusal, as
Além disso, também não foi encontrada uma interferências laterais no lado de não-trabalho são
associação da atrição dentária com o comprimento removidas, sendo consideradas as mais
ou mesmo a ausência do desvio de RC para MIH, prejudiciais11,17. Alguns autores têm defendido que para
sendo este simétrico ou não. Em contraste, no mesmo eliminar possíveis riscos de interferências oclusais
estudo realizado por Seligman 38 , mesmo com todos devem ser eliminados. No entanto, as
estabilidade oclusal no desvio de RC para MIH, os comparações e análises dos estudos são dificultadas
autores encontraram maior prevalência de estalidos devido à falta de padronização na metodologia7,11,17.
em pacientes com desvios assimétricos que Nos movimentos excêntricos da mandíbula os
simétricos, enquanto que a maior sensibilidade da ATM contatos no lado de trabalho (guia canino ou em grupo)
foi associada com desvios assimétricos longos (> 1 devem oferecer uma guia adequada para desocluir os
mm), no entanto sem significância estatística. dentes no lado de não trabalho. A inteferência oclusal
A presença de desvio de RC para MIH também no lado de não trabalho pode ser destrutiva para o
foi um achado comum em um estudo cujos grupos da sistema mastigatório devido à quantidade e direção
amostra eram compostos por pacientes com das forças que podem ser aplicadas as estruturas
desordem intracapsular e pacientes apenas com dentais, musculares e articulares. Verifica-se que as
mialgia. A presença de desvios mais longos, em correlações encontradas entre tais interferências e
pacientes com artrose, indica a presença de um sinais de DTM e sintomas em estudos
remodelamento ósseo ou lise condilar que pode ser epidemiológicos e clínicos, incluindo os longitudinais,
acompanhada por um aumento no desvio25. têm sido muito fracos para fornecer quaisquer
É importante salientar, que os contatos conclusões clinicamente relevantes19,22. Pois a maioria
prematuros na posição de relação central são aqueles dos estudos não consegue associar as interferências
que produzem deslizamento látero-protrusivo da oclusais com os sinais e sintomas em populações
mandíbula e os contatos prematuros mais freqüentes de pacientes com DTM.
na posição de máxima intercupidação são aqueles Além disso, quando a mandíbula move-se para
que produzem deflexão mandibular, sendo geralmente frente no contato protrusivo, forças horizontais
unilaterais produzidos por tratamento restaurador prejudiciais podem ser aplicadas aos dentes,
iatrogênico. Se ocorre a alteração de máxima entretanto os dentes anteriores podem melhor receber
intercuspidação para MIH, a mandíbula encontra-se e dissipar estas forças como nos movimentos laterais.
em desequilíbrio ortopédico9,28. Dessa forma, durante a protrusão os dentes anteriores
Em estudos recentes, poucas ou nenhuma devem ter contatos adequados, para desocluir os

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dentes posteriores. Os contatos protrusivos capacidade de remodelação da articulação
posteriores geram forças desfavoráveis para o sistema temporomandibular demonstra que a articulação pode
mastigatório, devido à quantidade e direção que estas acomodar e se adaptar a diferentes condições
forças são aplicadas9. oclusais20,29.
Em estudo realizado por Magnusson23 onde Má-oclusão e Tratamento ortodôntico
interferências foram introduzidas em grupo A literatura apresenta que a maior parte dos
experimental e simuladas no grupo controle, observou- estudos, com o tratamento ortodôntico de pacientes
se que a introdução de interferências, embora fosse com má-oclusão Classe II e III de Angle e mordida
capaz de causar sinais e sintomas de DTMs em cruzada, não está associado com a presença de
alguns indivíduos, isto não ocorreu em toda a amostra, sinais e sintomas de DTM4,14,15. Segundo Simmons40
havendo assim, a necessidade de uma combinação ao comparar seus resultados com estudo similares
com fatores psíquicos e locais. De acordo com concluiu que na população em geral a diversidade é
Agerberg1 a freqüência de interferências em pessoas de 80-85% Classe I, 15% são Classe II, e 1% são
sem sintomas e sinais de DTM, consta de um achado Classe III. A amostra de pacientes analisados
tão comum, que estes autores vêm sugerir que as apresentou que pacientes com DTM têm maior
interferências não se relacionam significativamente prevalência de Classe II que a população geral.
com as DTMs. Desta forma, o tratamento ortodôntico e suas
Vários estudos têm sido bem planejado e variantes não são considerados fatores de risco para
executados, mas não foram suficientes para uma o aparecimento de DTMs e especificamente
visão realista sobre as consequências dos distúrbios desordens intra-articulares, quando a terapia é
oclusais para a saúde a longo prazo do sistema empregada baseada em conhecimento científico bem
mastigatório. Estes estudos têm mostrado que fundamentado. No entanto, deve-se ressaltar que,
interferências oclusais artificialmente introduzidas através de técnicas mais modernas de obtenção de
podem provocar respostas imediatas no padrão de diagnóstico, associados à anamnese, história clínica
contração dos músculos da mandíbula e podem e exame clínico, é possível se obter dados confiáveis
provocar hiperatividade muscular e dor mandibular8. sobre as condições clínicas do paciente tanto
Ausência de dentes posteriores anteriores quanto atuais, favorecendo também o
De Boever6 apresenta que uma oclusão estável controle posterior dos pacientes relacionados com
é muito importante na diminuição dos sintomas de tratamento ortodôntico.
DTM. Segundo Pullinger32 a ausência dos dentes Parafunção
posteriores, principalmente associado a uma Segundo a teoria Psicofisiológica (Laskin)18 a
parafunção, pode produz uma carga compressiva na parafunção pode levar a uma fadiga muscular e
região anterior do côndilo posicionado contra a vertente consequentemente à DTM. Esta parafunção seria uma
do osso temporal, ocorrendo inicialmente uma forma inconsciente de liberação de tensão. Nestes
aderência ao disco articular o que limita em um casos a sobrecarga muscular decorrente da
primeiro momento a abertura bucal. Com a repetição parafunção pode especificamente estar concentrada
deste acontecimento pode ocorrer uma alteração no côndilo mandibular. Se o complexo côndilo/disco
morfológica do disco, o que levará ao seu estiver anatomicamente bem posicionado, podem
desalojamento para a região anterior com um ocorrer remodelações ou reabsorções das superfícies
deslizamento do côndilo para a região distal. Com a articulares. Se estiver incorretamente posicionado,
permanência desta compressão ocorre um forças compressivas em áreas inaptas do disco
deslocamento do disco. produzem estiramento dos ligamentos
No entanto a maioria dos estudos mostra falta intracapsulares e, estes lentamente, podem
de relação entre a ausência de dentes posteriores e a ser alongados, podendo acarretar em inflamações
presença de disfunção. Alguns autores relatam que a nos tecidos retroarticulares e capsulares, se persistir
presença de quatro contatos posteriores permite uma a hiperatividade muscular9,18.
adequada função em arcos dentais curtos. Enquanto Outros estudos demonstram que a presença
outros relatam que a presença de menos de cinco dentes de interferência pode não trazer o desenvolvimento
posteriores não é um fator capaz de diferenciar uma de bruxismo, contrariando as teorias que acreditam
população normal de uma população de pacientes33,36. no ajuste oclusal para a cura do bruxismo e
Dimensão vertical de oclusão colaborando com a teoria que enfatiza os fatores
A perda de suporte posterior associado à emocionais como causadores do bruxismo12,37.
alteração da DVO pode ser também um fator Verifica-se que outro problema na identificação
etiológico secundário para o desencadeamento de de pacientes com parafunção, é que muitos não
DTMs. Alguns autores afirmam que a alteração na sabem que a possuem por ser uma atividade
dimensão vertical de oclusão pode causar disfunção, inconsciente. Assim, aumenta-se a evidência de que
enquanto outros observaram que alterações a parafunção não está associada com fatores oclusais
moderadas não causam sinais e sintomas de crônicos. Desse modo, a terapia deve ser reversível,
disfunção ou hiperatividade muscular e que a visando evitar possíveis danos.

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Em relação ao bruxismo, foi relatado que as UNITERMS: Dental occlusion, Temporomandibular
interferências oclusais levam a uma diminuição da disorders, Centric relation, Centric occlusion, Occlusal
atividade muscular. Dados compartilhados por alguns interference
autores verificaram que a presença de um contato
deflectivo experimental não levou ao desenvolvimento REFERÊNCIAS
de bruxismo, mesmo em pacientes com história de
bruxismo. A etiologia do bruxismo não é mais 1 - Agergerg G, Sandström R. Frequency of occlusal
considerada para ser relacionada a fatores oclusais, mas interferences: a clinical study in teenagers and
a um fenômeno do sistema nervoso central relacionados young adults. J Prosth Dent. 1988; 59: 212-7.
com a distúrbios do sono e os atributos emocionais10. 2 - Blaschke DD, Blaschke TJ. Normal TMJ bony
A literatura apresenta que pessoas do sexo relationships in central occlusion. J Dent Res.
masculino possuem maior grau de atrição dental que 1981; 60: 98-104.
as mulheres, no entanto menos sintomas de disfunção. 3 - Cacchiotti DA, Plesh O, Bianchi P, Mcneill C. Signs
Não há evidência de associação entre a atrição dental e and symptoms in samples with and without
os sintomas e/ou sinais de DTMs, assim como a temporomandibular disorders. J Craniomand Dis
presença de contato unilateral em RC também não foi Fac Oral Pain. 1991; 5: 167-72.
associada com a presença de atrição, contrariando as 4 - Conti A, Freitas M, Conti P, Henriques J, Janson
afirmações de que as interferências em RC induzem G. Relationship between signs and symptoms
mais o bruxismo que os contatos bilaterais38. Os níveis of temporomandibular disorders and orthodontic
avançados de atrição estão principalmente associados treatment: a cross-sectional study. Angle
à osteoartrose, sendo, provavelmente, um fator Orthod. 2003; 73: 411-7.
secundário às alterações oclusais resultantes da 5 - Dawson PE. Evaluation, diagnosis and treatment
osteoartrose e não resultado de parafunção acentuada39. of occlusal problems. CV Mosby: St Louis; 1974.
6 - De Boever JA, Adriaens A. Occlusal relationship in
CONCLUSÃO patients with pain-dysfunction symptoms in the
Pode-se concluir que os fatores oclusais mais temporomandibular joints. J Oral Rehab. 1983;
relacionados às disfunções mandibulares são bastante 10: 1-7.
frequentes, no entanto falham em sensibilidade e 7 - De Boever JA, Carlsson GE, Klineberg IJ. Need for
especificidade na definição de uma população presente occlusal therapy and prosthodontic treatment in
ou em potencial de pacientes com disfunção. Desse the management of temporomandibular disorders.
modo, e devido ao caráter multifatorial e complexo da Part I. Occlusal interferences and occlusal
etiologia da disfunção, o diagnóstico e o tratamento adjustment. J Oral Rehabil. 2000; 27: 367-79.
deve ser feito individualmente, analisando a influência 8 - De Boever JA, Carlsson GE. Etiology and differential
de cada fator presente naquele momento, considerando diagnosis. In: Zarb GA, Carlsson GE, Sessle BJ,
o indivíduo em particular. Mohl ND, editors. Temporomandibular joint and
masticatory muscle disorders. Munksgaard:
ABSTRACT Copenhagen; 1994. p. 171.
Introduction: Since the occlusion area is presented in 9 - Garcia AR. Fundamentos teóricos e práticos da
almost all specialties of Dentistry, its relationship with oclusão. 1. ed. São Paulo: CID Editora; 2003.
the health of the patient has been shown. The etiology 10 - Gear RW. Neural control of oral behavior and its
of temporomandibular disorders is multifactorial and impact on occlusion. In: Mc-Neill C. Science and
the occlusion is considered an etiologic factor. This Practice of Occlusion. Quintessence: Chicago;
study aimed to discuss the functional occlusion 1997. p. 50.
aspects and the presence of temporomandibular 11 - Gesch D, Bernhardt O, Kirbschus A. Association
disorders. Literature Review: The loss of orthopedic of malocclusion and functional occlusion with
balance can induce temporomandibular disorder. temporomandibular disorders (TMD) in adults: a
Therefore, both the physiological and functional systematic review of population-based studies.
occlusions have been analyzed as a dental relation. Quintessence Int. 2004; 35: 211-21.
Several functional occlusal factors have been linked 12 - Glaros AG, Forbes M, Shanker J, Glass EG. Effect
to the temporomandibular disorders such as of parafunctional clenching on temporomandibular
deviations of centric relation to maximum disorder pain and proprioceptive awareness.
intercuspation, occlusal interferences, absence of Cranio. 2000; 18: 198-204.
posterior teeth, changes on the occlusion vertical 13 - Godoy F, Rosenblatt A, Godoy-Bezerra J.
dimension, malocclusion, orthodontic treatment and Temporomandibular disorders and associated
parafunction. Conclusion: The most common occlusal factors in Brazilian teenagers: a cross-sectional
factors related to temporomandibular disorders are study. Int J Prosthodont. 2007; 20: 599-604.
quite frequent; however, the diagnosis and treatment 14 - Henrikson T, Nilner M, Kurol J. Signs of
of such disorders should be considered individually. temporomandibular disorders in girls receiving
orthodontic treatment. A prospective and

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