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Artigo de Fonoaudiologia

Avaliação Fonoaudiológica da Motricidade Oral -


Distúrbios Miofuncionais Orofaciais ou Situações
Adaptativas
Speech - Pathologist Evaluation - Orofacial Myofunctional Disorders or
Compensatory Situation

Resumo do uma abordagem interdisciplinar para a


O principal objetivo da avaliação fo- obtenção de melhores resultados.
noaudiológica é verificar a existência de
desequilíbrios musculares e funcionais que INTRODUÇÃO
possam interferir de maneira negativa na O significado da interposição de língua,
Esther Mandelbaum
funcionalidade do Sistema Estomatogná- em repouso e em função, e sua relação
Gonçalves Bianchini tico e, consequentemente, no processo de com as maloclusões tem sido continua-
tratamentos que venham a ser realizados mente analisados por vários autores há
ou que já estejam em andamento, como muitas décadas (SUBTELNY e SAKUDA,
otorrinolaringológico e/ou odontológico/ 1964; KORTSCH, 1965; FRÄNKEL,
ortodôntico. Objetiva assim analisar os 1966; SUBTELNY, 1970; SUBTELNY e
possíveis efeitos das atividades SUBTELNY, 1973; LAINE, 1987;
miofuncionais em relação à patologia que MOYERS, 1991; PROFFIT, 1995;
o indivíduo apresenta e a possibilidade de GRABER, 1997; MARCHESAN, 1993,
ajuda do fonoaudiólogo no sentido de 1998; MARCHESAN e BIANCHINI, 1999;
amenizar os fatores agravantes e auxiliar DRAGONE et al.,1998; FELÍCIO, 1999;
na remissão do problema. O presente ar- BIANCHINI, 1995, 1998a, 1998c,
tigo procura analisar alguns pontos da 2000). Enquanto alguns pesquisadores
avaliação fonoaudiológica referente ao sis- consideram a interposição lingual como
tema estomatognático, buscando estabe- conseqüência de um relacionamento mor-
lecer as relações forma/função pertinen- fológico anormal, sendo portanto uma ca-
tes a cada caso. Alguns pontos serão racterística adaptativa; outros, conside-
enfocados mais detalhadamente como: ram-na fator etiológico primário determi-
características crânio-faciais e estruturas nante da maloclusão. Atualmente a reci-
de tecido mole devido à relevância dos te- procidade desta relação é aceita, enfati-
mas para definir se as características ob- zando-se não apenas a língua, mas todas
servadas são alterações neuro-muscula- as estruturas em função. Existem casos
res ou situações adaptativas secundárias nos quais a postura e as funções estoma-
à forma. Busca-se o aprimoramento do tognáticas alteradas são fatores primári-
diagnóstico e suas relações, determinan- os desencadeantes da maloclusão, devido

Palavras-chave:
Fonoaudiologia;
Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini*
Alterações miofun-
cionais; Maloclusão; * Fonoaudióloga Clínica; Especialista em Motricidade Oral; Mestre em Distúrbios da Comunicação - PUC-SP;
Lábios; Língua; Professora do CEFAC (Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica); Responsável pelo Setor de
Atendimento Clínico Referente a Disfunções da Articulação Temporomandibular, Cirurgia Ortognática e Trauma de
Tipologia facial. face da Clínica/Escola CEFAC Assistencial.

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a distúrbios neuro-musculares e/ou zar os fatores funcionais agravantes e formal para o paciente, pode ser cons-
hábitos parafuncionais orais manti- auxiliar na remissão do problema. tatada a caracterização da postura ha-
dos. Em outros, constatam-se situa- As funções estomatognáticas tem bitual, respiração, deglutição de saliva,
ções funcionais estritamente secundá- relação direta com a liberdade dos articulação da fala e voz e coordena-
rias aos padrões morfológicos altera- movimentos mandibulares, vincula- ção entre as funções. É também du-
dos, sendo o repouso e as funções nes- dos à estabilidade das articulações rante a anamnese que poderemos
tes casos, considerados adaptativos. temporomandibulares. Este é portan- eventualmente perceber a presença de
Um bom exemplo seria a presença de to, um importante dado à ser anali- alguns hábitos parafuncionais.
interferências oclusais definindo o pa- sado no exame fonoaudiológico. Caso A obtenção da história clínica é tão
drão mastigatório. Em contrapartida, sejam observados sinais de disfun- fundamental quanto o próprio exame.
as modificações musculares caracte- ções da ATM, uma avaliação Dependendo da razão pela qual o pa-
rizadas por hipofunção ou odontológica deve ser solicitada pre- ciente procurou o Fonoaudiólogo, um
hiperfunção podem provocar, perpe- viamente ao início do tratamento roteiro buscando a história clínica pode
tuar ou agravar problemas dento-es- fonoaudiológico. ser realizado na íntegra; pode enfocar
queléticos e até articulares. A partir destes conceitos, busca- apenas questões pertinentes ao qua-
A década de 90 teve grande signi- mos definir a atuação fonoaudiológi- dro ou ainda ser modificado e comple-
ficado quanto ao enfoque fonoaudio- ca em diferentes etapas dos trabalhos tado por questões mais específicas,
lógico dado aos distúrbios miofuncio- interdisciplinares, sendo esta diferen- como nos casos de disfunções da ATM,
nais orofaciais, suas causas, conse- ciada de acordo com as característi- cirurgia ortognática e traumas de face.
qüências e portanto também quanto cas do caso e possibilidade de modifi-
à abordagem terapêutica. Vários con- cação funcional. Conseqüentemente, Exame Clínico Fonoaudiológico
ceitos acerca das funções estomatog- modifica-se a visão da terapêutica fo- Pela íntima relação de interdisci-
náticas anteriormente aceitos foram noaudiológica, deixando-se de lado as plinaridade, nosso exame engloba as-
sendo questionados, especialmente no listas de exercícios iniciais e propon- pectos que são comuns à avaliação
que se refere às modificações funcio- do-se o uso de estratégias em terapia odontológica e otorrinolaringológica.
nais, conhecidas basicamente por fun- apropriadas para cada paciente em Tais dados devem ser analisados com
ções atípicas. Para a realização das função de seu diagnóstico e prognós- os profissionais afins.
funções estomatognáticas dentro das tico, tornando-se assim mais eficiente O intuito do exame clínico, é veri-
definições de normalidade é necessá- e respeitando seus limites. ficar e analisar sinais que apontarão
rio um mínimo de adequação das es- Assim sendo, o objetivo deste arti- as alterações ou as características fun-
truturas estomatognáticas que as exe- go é analisar alguns pontos da ava- cionais relacionadas ao quadro. É pre-
cutam. A terminologia “atípica” pode- liação fonoaudiológica, buscando es- ciso estabelecer as possíveis causas
ria ser empregada apenas em situa- tabelecer as relações forma/função que as estão determinando, não sen-
ções nas quais existam condições pertinentes à cada caso. Alguns pon- do possível adequar a função sem a
morfológicas para a realização de de- tos serão enfocados mais detalhada- remoção do fator causal. As modifi-
terminada função estomatognática. mente como: características crânio- cações funcionais adaptativas podem
Da mesma forma, considera-se que a faciais e estruturas de tecido mole de- ser atenuadas quando forem interfe-
terapêutica fonoaudiológica deva res- vido à relevância dos temas para a rentes, ou mantidas se estas forem as
peitar as adaptações funcionais vin- presente análise. únicas possíveis para determinadas si-
culadas à forma, pois estas podem ser tuações com fatores determinantes cla-
a melhor possibilidade quando exis- AVALIAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA ros. Para efeito de diagnóstico diferen-
tem modificações anatômicas e Anamnese cial, podem ser necessários alguns
sintomatologia dolorosa. A realização da anamnese consti- exames complementares que confir-
Numa completa avaliação fonoau- tui o primeiro contato com o paciente. marão o acometimento das estrutu-
diológica da Motricidade Oral não bas- A familiaridade com os objetivos do ras envolvidas e conseqüentemente o
ta constatar a presença dos distúrbios exame e a postura profissional são fun- diagnóstico fonoaudiológico. Tais exa-
miofuncionais. É necessário estar aten- damentais para um bom relacionamen- mes, quando necessários, serão dis-
to a todas as possíveis relações desen- to e credibilidade, por parte do pacien- cutidos com os profissionais compe-
cadeantes do problema funcional ob- te, no tratamento. Tão importante quan- tentes.
servado, analisar os possíveis efeitos to a obtenção dos dados de história clí-
das atividades miofuncionais em rela- nica é a possibilidade de verificação das Dados de observação
ção à patologia que o indivíduo apre- funções estomatognáticas na situação Uma vez que nosso exame é eminente-
senta e a possibilidade de ajuda do espontânea que se configura durante mente funcional, devem ser anotadas to-
Fonoaudiólogo no sentido de ameni- a anamnese. Nesta situação mais in- das as características pertinen-

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tes a algumas situações espontâneas
como: postura corporal, análise facial
quanto à simetria, tensão, repouso de
lábios e língua (Fig. 1), respiração, de-
glutição e fala, realização de hábitos
como morder lábios (Fig. 2), umede-
cer lábios, apertamento dental, entre
outros de fácil observação.
A respiração e deglutição de sali- FIGURA 1 - Situação de repouso com FIGURA 2 - Hábito parafuncional de mor-
boca aberta, língua baixa e anterioriza- der lábio inferior. Acarreta importante mo-
va podem ser observadas durante o da caracterizando respiração bucal. dificação na inclinação dos incisivos. A re-
relato e em situações de pausa ou en- Hipofunção de bochechas, lábios e lín- tirada do hábito pode ser conseguida com
gua em criança com respiração bucal a terapêutica fonoaudiológica, desde que
tretenimento (Fig. 1). Anotar coor- habitual após adenoidectomia. Carac- a sobressaliência (over jet)não seja ex-
denação entre respiração / deglutição teriza quadro de distúrbio miofuncional. cessiva. Na existência desta, um impedi-
/ fala, pressões da musculatura peri- mento mecânico torna-se necessário.

bucal, movimento associado de ca-


beça e interposição lingual aparente
durante a deglutição.
A observação da articulação da
fala compreende aspectos referente ao
sistema fonêmico como omissões, tro-
cas e/ou distorções; verificações quanto
à amplitude do movimento mandibu-
lar utilizado na fala, movimentos pro-
trusivos ou desvios em lateralidade du- FIGURA 3 - Telerradiografia em nor- FIGURA 4 - Grande distância inter-la-
rante seu percurso, usualmente rela- ma lateral de indivíduo face curta. No- bial devida ao excesso vertical da ma-
tar apoio labial e lingual facilitados. xila. Observar extensão do filtro labial
cionados aos fonemas sibilantes. Es- dentro da normalidade. O vedamento
tes dados devem ser confrontados ao labial só será conseguido com esforço
e utilização de musculatura associada.
exame específico da situação dentá-
ria, oclusão e ATM, verificação das
estruturas e musculatura e dos movi- brados, normalmente apresenta boa face esteja aumentado, palato duro
mentos mandibulares. distribuição dos espaços funcionais profundo e estreitado. Freqüentemente
As características da voz devem in- e acomodação da musculatura e es- associada a excesso vertical da maxi-
cluir ao menos: timbre, intensidade, truturas de tecido mole, não sendo la, acarreta exposição excessiva dos
qualidade vocal e tipo de ressonância necessárias adaptações funcionais. dentes em repouso, da gengiva su-
utilizada. Percebendo-se características A face curta (Fig. 3) caracteriza- perior durante o sorriso e incompe-
de alteração vocal, um exame mais es- se por padrão de crescimento facial tência de lábio superior, muitas vezes
pecífico referente à análise da voz deve horizontal. Associado à redução da relacionado erroneamente ao lábio su-
ser realizado pelo fonoaudiólogo, as- altura facial inferior e palato mais raso, perior encurtado. Na maioria dos ca-
sim como a solicitação de exame otor- observa-se facilidade em vedamento sos o lábio superior não é encurtado,
rinolaringológico complementar. labial com apoio total do superior so- tendo extensão normal do filtro labial
bre o inferior. A língua pode ter apa- (Fig. 4). Observa-se dificuldade de ve-
Características crânio-faciais rência mais alargada devido ao maior damento labial e menor apoio de lín-
Os padrões esqueléticos crânio-fa- espaço transversal, estando apoiada gua em palato, sendo esta mais afilada
ciais definem a tipologia facial, cujas em todo o palato devido à pouca dis- e arqueada, normalmente com con-
características funcionais são peculia- tância vertical entre os planos mandi- tato língua/palato apenas posterior de-
res a cada tipo de face. O estudo cefa- bular e palatino. A coluna aérea pode vido à maior distância vertical exis-
lométrico do paciente traz informações apresentar-se mais larga, tornando tente entre o palato e a borda inferior
relacionadas às possibilidades do tra- mais difícil ocorrer obstrução à pas- da mandíbula. É comum o uso exces-
balho fonoaudiológico. (BIANCHINI, sagem do ar, facilitando a respiração sivo do músculo mentoniano elevan-
1998a; BIANCHINI, 2000; nasal. Sua musculatura é potente, es- do o lábio inferior para conseguir o
MARCHESAN e BIANCHINI, 1998) pecialmente masseteres. selamento labial.
• face curta, média ou longa: Des- A face longa caracteriza-se por A via aérea superior, mais alonga-
creve-se a face em termos verticais. predomínio de crescimento facial ver- da e estreitada, facilita sua obstrução
A face média com terços equili- tical. É comum que o terço inferior da (Fig. 5) e conseqüentemente ao pre-

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domínio de respiração bucal. Pode ser terior durante as funções estomatog- diversas fases da terapêutica, principal-
observada mastigação com pouca uti- náticas. A deglutição pode apresentar mente na reeducação miofuncional após
lização de músculos bucinadores e la- movimento póstero-anterior de língua a correção das bases ósseas (Marchesan
biais e a deglutição pode apresentar e contração da musculatura peri-bucal & Bianchini, 1998).
interposição lingual anterior ou apoio compensatoriamente. Na fala, os fo-
inferior, especialmente nos casos de nemas bilabiais podem ser realizados Ve r i f i c a ç ã o d a s e s t r u t u ra s e
mordida aberta esquelética, com par- de maneira lábio-dental, com o lábio musculatura
ticipação compensatória da muscula- inferior tocando os incisivos superiores. A avaliação das estruturas: lábios,
tura peri-bucal. Também a fala carac- Os fonemas sibilantes aparecem leve- bochechas, mento mole, língua, soa-
teriza-se por distorções como nos ca- mente distorcidos devido ao deslize lho bucal, palato duro e mole, tonsilas
sos de interposição anterior de língua mandibular e eventual projeção lingual palatinas, gengiva e mucosa jugal deve
nos fonemas linguo-dentais, secundá- sobre os rebordos das arcadas lateral- ser analisada quanto a postura, for-
ria às modificações das bases ósseas. mente. As patologias da ATM são fre- ma, simetria, tônus, tensão, sinais em
As modificações funcionais, embora qüentes nestes casos. mucosa, presença de nódulos e resis-
possam ser agravantes do quadro, O perfil côncavo refere-se às situa- tência. Alguns sinais de disfunções
são consideradas adaptativas ao pa- ções de Classe III esquelética devido podem ser vistos nos lábios, dentes,
drão esquelético observado. Quando ao aumento mandibular, redução ma- na língua, mucosa jugal e em outras
associado a alterações de tônus mus- xilar ou ambos, em relação à base cra- estruturas, principalmente associados
cular, novas adaptações podem ser niana. Com o arco inferior maior e a presença de pressão contínua, ten-
conseguidas quando direcionadas. mais profundo, a língua mantém-se são facial e hábitos parafuncionais. O
Entretanto, sua característica muscu- baixa no soalho bucal, tendo sua base exame dos músculos será realizado pela
lar mais estirada e menos potente pode mais alargada e posição mais plana. palpação digital e testes funcionais. A
determinar prognóstico reservado. O menor contato de dorso de língua palpação produz dor ou desconforto
• perfil reto, côncavo, convexo, em palato mole leva ao predomínio de sempre que houver comprometimen-
biprotruso: Descreve a face quanto verticalização deste, observável em to muscular, geralmente por uso ex-
às relações ósseas ântero-posterio- telerradiografias em norma lateral cessivo, trauma, inflamação e/ou por
res, associando-se às suas caracte- (Fig. 8). A musculatura labial encon- acúmulo de resíduos metabólicos.
rísticas funcionais peculiares . tra-se modificada, estando o lábio su- • Lábios: existem vários tipos de
No perfil reto, sem desproporção perior muitas vezes ocluindo com os lábios com diferente espessura, sen-
ântero-posterior, a posição das ba- dentes inferiores tanto em repouso do esta característica própria de cada
ses ósseas permite a realização das quanto em função. Na mastigação indivíduo. É importante verificar a
funções estomatognáticas sem neces- observa-se predomínio de movimen- semelhança entre o lábio superior e
sidade de adaptações funcionais. tos verticalizados associados às alte- inferior (Fig. 10-12), simetria, medir
Indivíduos Classe II esquelética, rações dento-esqueléticas existentes.
apresentam perfil convexo associado A deglutição pode estar caracterizada
à redução mandibular, projeção maxi- por pressão lingual e peri-bucal. Na
lar ou ambos, em relação à base cra- fala verifica-se predomínio da utiliza-
niana. Tais possibilidades esqueléticas ção de lábio superior nos fonemas
acarretam adaptações funcionais se- bilabiais e lábio-dentais, ocluindo com
cundárias à desproporção observada os incisivos inferiores.
como: lábio superior elevado e com re- Além das características funcio-
dução de sua funcionalidade, lábio in- nais adaptativas, podem existir tam-
ferior interposto na sobressaliência bém alterações neuro-musculares as-
ocluindo com os incisivos superiores, sociadas. Nestes casos, novas adap-
muitas vezes evertido e músculo men- tações podem ser conseguidas.
toniano em hiperfunção na tentativa • intensidade do desvio: Determina
de elevar o lábio (Fig. 6) durante as o tipo de procedimento à ser utilizado.
funções estomatognáticas. Devido a re- Ao serem constatadas desproporções
dução do espaço inferior, a língua po- maxilo-mandibulares severas (Fig. 9),
siciona-se com a ponta baixa, retropo- a terapêutica fonoaudiológica estará
sicionada e dorso elevado pressionan- vinculada à correção da alteração
do palato mole, elevando-o (Fig. 7). Na dento-esquelética por meio da ortodon- FIGURA 5 - Telerradiografia mostrando face
longa e vestibularização dos incisivos. Notar
tentativa de aumentar o espaço intra- tia e cirurgia ortognática. O trabalho aumento das tonsilas palatinas reduzindo
bucal aparece deslize mandibular an- fonoaudiológico pode ser necessário em a coluna aérea em região da oro-faringe.

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o filtro labial e verificar o ângulo naso-
labial (em torno de 90º). A configura-
ção dos lábios deve ser observada na
posição de relaxamento para se avaliar
sua competência (Fig. 10). Quando
abertos, solicitar vedamento e verificar
hiperfunção de musculatura associada
(Fig. 11). Os lábios serão considerados
competentes se houver um leve conta- FIGURA 6 - Lábio superior elevado,
to ou um espaço muito pequeno entre lábio inferior apoiado nos incisivos su-
periores e evertido, hiperfunção com-
eles (GRABER,1997). Observando-se pensatória do músculo mentoniano.
maior distância inter-labial (> que
2mm) deve-se analisar quais as possí-
veis causas para tal alteração postural.
Podemos constatar incompetência labial
devido a (GR ABER,1997;
BIANCHINI,2000):
- hipofunção e/ou eversão de lábio FIGURA 7 - Telerradiografia em nor-
inferior estando este abaixo da linha dos ma lateral. Notar apoio lingual poste-
rior e posição de palato mole à partir
incisivos inferiores (Fig. 10). Neste caso, de espinha nasal posterior (ENP).
durante o repouso haverá exposição destes
dentes, pois numa situação muscular
normal o lábio inferior cobre os incisivos
inferiores totalmente.
- Lábio superior fino, delgado e com
menor altura. Nestes casos ocorre a
exposição excessiva, de mais de um
terço dos incisivos superiores, apesar de
altura normal de maxila. Medindo-se a
extensão do filtro labial obteremos um
resultado reduzido, sendo este
considerado encurtado.
- Associação das duas características FIGURA 8 - Telerradiografia com con- FIGURA 9 - Desvio severo em pro-
traste de sulfato de bário, evidenciando porções das bases ósseas. A terapêu-
anteriores. posição lingual e labial. Observar incli- tica fonoaudiológica depende da cor-
- Problemas respiratórios necessi- nação de palato mole à partir de ENP. reção cirúrgica prévia.

FIGURA 10 - Lábio inferior em hipofunção, FIGURA 11 - Solicitado vedamento la- FIGURA 12 - No perfil, verificar
evertido e assimétrico com maior queda à bial nota-se hiperfunção do mento, eversão de lábio inferior, queda da
esquerda expondo os incisivos inferiores. lábio superior fino especialmente em comissura labial e bochechas. Notar
Lábio superior fino, porém com filtro alon- região lateral. grande extensão de filtro labial.
gado. Bochechas flácidas e assimétricas.

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FIGURA 14 - Sobressaliência levando FIGURA 15 - Evidente hipertrofia de
à modificação do apoio labial. tonsilas palatinas.

FIGURA 13 - Apoio labial com leve inter-


posição de lábio inferior secundário à re-
lação dos incisivos observada na figura 14.

tando manter os lábios entreabertos


e língua solta modificando tonicida- FIGURA 16 - Paciente portador de língua muito longa, executando elevação e
abaixamento de língua. Observar amplitude excessiva do movimento.
de labial, peri-bucal e lingual (Fig. 1).
É necessário atuação conjunta otor-
rinolaringológica, sendo o prognós- ra se verifique que em muitos deles o do às disfunções da ATM pois mante-
tico reservado em casos alérgicos. filtro labial é até alongado, confirman- rá os dentes encostados, vinculado ao
A distância inter-labial excessiva do a situação adaptativa. aumento da tensão muscular, sem
pode relacionar-se também a fatores - Nos casos de mordida cruzada permitir o espaço inter-oclusal livre, in-
oclusais e esqueléticos. A posição la- anterior, especialmente com compro- dispensável durante o repouso.
bial alterada será secundária a estes metimento de bases ósseas, ocorre Em avaliação muscular dirigida,
fatores e portanto considerada adap- inversão do trespasse dentário, com deve-se solicitar contração do mús-
tativa quando: conseqüente modificação no apoio la- culo orbicular dos lábios contra re-
- existir sobressaliência excessiva bial e ângulo naso-labial aumenta- sistência dos dedos para se verificar
tornando difícil ou impossível o sela- do. Dependendo da intensidade do força muscular. Pode ser observado
mento. O lábio superior pode encon- desvio ósseo, não é possível maior resistência nos casos de
trar-se elevado pela posição dos incisi- selamento labial sem esforço (Fig. 8). apertamento labial constante como
vos superiores, com ângulo naso-la- A observação da telerradiografia hábito parafuncional, freqüentemente
bial mais fechado. Os incisivos supe- em norma lateral pode ser um im- associado à maior pressão também
riores interpõem-se entre os lábios difi- portante auxiliar de diagnóstico, ana- de bucinadores.
cultando o selamento labial normal. O lisando-se o perfil labial em relação à • bochechas: observar simetria, al-
lábio inferior acomoda-se na sobres- caracterização das bases ósseas. tura (Fig. 10-12), espessura dos teci-
saliência, entre os incisivos superiores Se os lábios são treinados, qual- dos com palpação bidigital e presença
e inferiores (Fig. 6, 13 e 14). Entre- quer paciente pode conseguir selamen- de nódulos ou cicatriz. Verificar pre-
tanto, tal interposição labial inferior to, ao menos com esforço consciente. sença de lesões ou marcas na mucosa
pode, em alguns casos, aumentar o Temos observado que se o lábio infe- jugal por hábito parafuncional de pres-
trespasse horizontal já excessivo. É rior estiver normal, e a distância inter- sionamento ou mordida, bastante pre-
necessário modificação dentária prévia, labial for maior que 5 mm, o veda- judicial e predisponente dos casos de
podendo ocorrer correção labial mento labial somente será consegui- disfunções da ATM. Solicitar contra-
postural e funcional espontânea após do com algum esforço e provável con- ção do músculo bucinador contra re-
a retirada do fator dentário causal. tração do músculo mentoniano. As- sistência do dedo indicador para veri-
- houver aumento do terço infe- sim sendo, pode ser de difícil estabili- ficar simetria de contração e força
rior da face e/ou excesso vertical da dade por requerer consciência. Este muscular. Nesta manobra é comum
maxila, com ou sem mordida aberta esforço nem sempre é conveniente e podermos observar também a contra-
anterior, impossibilitando o selamento na maioria das vezes de impossível ção do orbicular e especialmente re-
labial sem esforço (Fig. 4). Estes ca- automatização. Nos casos de face lon- gião de comissura. Nos casos de há-
sos são freqüentemente confundidos ga e/ou terço inferior aumentado, tal bito de pressionamento contra os den-
com lábio superior encurtado, embo- esforço é prejudicial quando associa- tes poderemos notar força muscular

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acentuada. hipofunção muscular. Podemos encon- do e/ou atrésico impede o acoplamento
• mento mole: verificar simetria, si- trar: formato estreito e alongado, alar- e repouso de língua.
nais de contração constante associa- gado e curto, aumentada verticalmente, • palato mole: verificar conforma-
do à hiperfunção do músculo mentoni- ou mesmo volumosa podendo ser lar- ção, simetria e mobilidade.
ano e sulco mento-labial (Fig. 12). A ga, longa e alta. Especialmente neste • tonsilas palatinas: verificar pre-
hiperfunção do músculo mentoniano último caso o prognóstico é limitado sença, volume, coloração, simetria
pode estar associada à hipofunção de (BIANCHINI, 2000). A observação da dos pilares e sinais inflamatórios. A
lábio inferior (Fig. 11, 12), redução do língua na telerradiografia, como exame posição da língua tem relação direta
lábio superior ou vinculada às modifi- complementar, pode ser de grande aju- com o volume destas tonsilas, ante-
cações dento-esqueléticas que levam a da para se definir a relação de viabilida- riorizando-se tanto em repouso
esforço para vedamento labial (Fig. 6). de postural com os espaços funcionais como em função na presença de hi-
O sulco mento-labial é mais acentuado existentes (Fig. 3, 5, 7 e 8). A postura pertrofia (Fig. 15) ou processo in-
nos casos de face curta (Fig. 3), espe- pode ser plana ou arqueada, protruída flamatório. Nestes casos, é comum
cialmente associado à presença de ou retruída, com dorso alto ou baixo, observar-se a deglutição com movi-
mordida profunda e sobressaliência com apoio de ponta superior, inferior ou mento póstero-anterior de língua e
excessiva. Nas faces longas este sulco interdental e ainda com acoplamento movimento de cabeça secundaria-
é bastante reduzido ou quase ausente. total em palato. A postura observada mente. Deve ser realizado encami-
• Músculos Temporal e Masseter: depende do tamanho e da tensão da nhamento otorrinolaringológico.
Os músculos temporais e masseteres língua, do tamanho das tonsilas
devem ser submetidos à palpação em palatinas (Fig. 5 e 15), da possibilidade Mobilidade de lábios e língua
repouso para verificar presença de de fluxo aéreo nasal, da posição e ta- A verificação da mobilidade dirigida
dor antes de ser solicitado sua con- manho das bases ósseas, especialmen- tem por objetivo analisar as possibilida-
tração. Cabe salientar que a verifica- te da mandíbula, da conformação do des de contração e alongamento mus-
ção destes músculos por meio da per- palato, do tipo de maloclusão e da pre- culares, assim como a coordenação da
cepção tátil de sua contração, pedin- sença de hábitos. Deve-se associar for- musculatura envolvida nos movimen-
do-se ao paciente que aperte os den- ma e postura de repouso com as carac- tos realizados. São solicitados movimen-
tes fortemente, indicará apenas gros- terísticas próprias da tipologia facial des- tos simples e de fácil execução para se
seiramente a função motora, uma critas anteriormente. garantir que a dificuldade não esteja
vez que interferências oclusais podem Os distúrbios funcionais da língua centrada no desconhecimento e inter-
ser significativas na performance podem relacionar-se tanto à sua mus- pretação do que está sendo pedido. Pode-
muscular. A observação de assimetria culatura intrínseca quanto extrínseca. se observar incoordenação e/ou tremor
destes músculos ou diferença no iní- A observação funcional e testes de na musculatura associado à alterações
cio da contração podem estar asso- movimentos dirigidos definem o diag- de tônus e tensão.
ciadas a estes fatores. Portanto, cons- nóstico e a terapêutica fonoaudioló- São analisados os movimentos
tatar a modificação muscular não sig- gica (Fig. 16). combinados de: protrusão, retração e
nifica que é possível o controle do • soalho bucal: observar simetria, lateralização labiais, elevação do lá-
mesmo. É necessário a definição da espessura, tonicidade da musculatura, bio superior e abaixamento do infe-
causa e sua remoção para conseguir- inserção e extensão do freio lingual. A rior. Movimentos de anteriorização,
se a estabilidade do tônus e função presença de assimetria pode estar as- retração, elevação, abaixamento e
muscular (BIANCHINI, 2000). sociada tanto à assimetria mandibular lateralização lingual, possibilidade de
Os distúrbios funcionais ligados à quanto à alteração muscular especial- estalo e acoplamento de língua. Os mo-
respiração bucal e mastigação mente dos músculos genioglosso e su- vimentos funcionais da mandíbula e
ineficiente, acarretam redução da for- pra-hióideos. Nestes casos, a língua dos côndilos são cuidadosamente ava-
ça destes músculos e assimetria as- pode encontrar-se também com posi- liados e associados. Deve-se analisar
sociada a presença de mastigação ção assimétrica ou apresentar movi- as medidas dos movimentos em aber-
unilateral. mentos de retração e protrusão com tura, lateralidade e protrusão mandi-
• Língua: Verificar forma, tamanho, queda para um dos lados. A terapia bular máximas, limitações e desvios
tensão, volume, características específi- miofuncional é bastante produtiva nos em seu percurso, presença de ruídos
cas como língua geográfica, língua casos de alteração muscular. e ocorrência de dor durante os movi-
fissurada, presença de lesões, postura • palato duro: verificar profundida- mentos.
de repouso e funcionalidade. A língua de, largura, simetria e caracterização
pode apresentar-se com grandes varia- da rugosidade. Associar estes dados Funções Estomatognáticas
ções em sua forma, não significando com a possibilidade de acoplamento e • Respiração: as características refe-
necessariamente um quadro de repouso lingual. Palato muito profun- rentes à respiração englobam modo

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17A 17B 17C
FIGURA 17 - Criança dormindo profundamente no colo da mãe. 17A) Notar boca aberta durante o sono; 17B) Notar
apoio lingual por acoplamento em palato; 17C) Com a criança dormindo, o lábio inferior foi abaixado para evidenciar o
acoplamento lingual e conseqüente respiração nasal.

18A 18B 18C

18D 19A 19B

19B 19C 19D

FIGURAS 18, 19 - Acompanhamento de 18D) - mordida aberta anterior


caso tratado com terapia fonoaudiológica principalmente dentária, segundo dados da
miofuncional; 18A) - Criança de 7 anos e cefalometria e discussão interdisciplinar.
11 meses mostrando lábios e bochechas 19A) - Sorriso, vedamento labial e situação
assimétricos, hipofunção e eversão de lábio orofacial conseguidos em 5 meses de
inferior, lábio superior fino, lábios terapia fonoaudiológica sistemática. 19B),
ressecados, língua baixa e respiração bucal. 19C) - Acompanhamento e manutenção
18B) - Perfil mostra hiper-extensão anterior dos resultados após 9 meses do término
da cabeça, discrepância de espessura, do trabalho sistemático. Revisões
posição e função labiais, queda de realizadas com freqüência bimestral. 19D),
19E comissura labial. 18C) - Sorriso com lábio 19E) - Notar fechamento da mordida
inferior muito baixo. Notar posição da língua. aberta sem intervenção ortodôntica.

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nasal ou bucal predominante, tipo lização do mecanismo de bucinadores, pendendo destas determinações. A
torácico ou diafragmático, silenciosa padrão unilateral ou bilateral e possibi- etiologia de cada alteração funcional
ou ruidosa, suave ou entrecortada e lidade de realização bilateral alternada, constatada e a existência de compro-
necessidade de inspiração profunda ritmo e amplitude dos movimentos metimento em determinadas estrutu-
eventual. A avaliação da função na- mandibulares BIANCHINI, (1998b). ras é que irão nortear as possibilida-
sal alterada nem sempre é de fácil de- Cabe salientar que tal amplitude é nor- des de atuação fonoaudiológica, a ne-
terminação. A característica respira- malmente bastante discreta. As altera- cessidade de encaminhamento à ou-
tória deve ser analisada atentamen- ções oclusais, limitações articulares e tros profissionais e ainda as limitações.
te pois apenas a situação facial pode musculares definem o padrão mastiga- Assim, pode-se estabelecer uma hie-
não refletir a situação funcional real. tório. Associar portanto os dados de rarquia de trabalhos interdisciplinares
A presença de lábios entreabertos, por exame obtidos anteriormente para se visando resultados mais rápidos e efi-
exemplo, não significa necessaria- definir a possibilidade ou não de traba- cientes. A troca de informações entre
mente respiração bucal, conforme lho visando modificação da mastiga- os profissionais pode definir as possi-
anteriormente descrito no item refe- ção, assim como a melhor etapa para bilidades, implicações e as limitações
rente à avaliação de lábios, pois além este ser iniciado. que a patologia delimita, a real neces-
da possibilidade de limitação do • Deglutição: observar deglutição de sidade de cada terapêutica e a melhor
vedamento imposta pela altura das saliva, líquido e alimentos. Verificar época para se realizar cada um dos
bases ósseas, pode estar ocorrendo deglutições subseqüentes associadas às trabalhos sendo assim efetivos, mes-
vedamento da cavidade bucal por etapas da mastigação. Verificar altera- mo frente às limitações que passam a
meio de apoio lingual. A postura de ções reais provenientes de alterações ser mais claramente definidas.
lábios abertos durante o sono, tam- neuro-musculares, compensações e/ou O respeito às etapas dos outros aten-
bém pode não caracterizar necessa- adaptações, movimentação de eleva- dimentos e conseqüentemente às limi-
riamente um quadro de respiração ção da laringe e tensão compensatória tações que o paciente pode apresentar
bucal devido à possibilidade de de musculatura associada. Observan- nas diversas fases é fundamental.
acoplamento lingual (Fig. 17A, 17B, do-se alterações neuro-musculares, a A terapia fonoaudiológica miofun-
17C), especialmente na fase REM terapia fonoaudiológica miofuncional é cional mostra-se bastante eficaz
(“Rapid eyes movement”) do sono, indicada (Fig. 18, 19). quando devidamente direcionada aos
quando ocorre relaxamento da mus- • Fala: observar amplitude do mo- distúrbios miofuncionais orofaciais,
culatura esquelética. Além da obser- vimento, desvio no percurso mandi- adequando as funções estomatogná-
vação funcional, é fundamental o bular principalmente nos sons sibi- ticas, restabelecendo o padrão mus-
histórico do paciente especialmente lantes, distorções, acúmulo de saliva cular e conseqüentemente modifican-
em relação à processos alérgicos e/ e caracterização da voz, conforme do a forma se não houverem impedi-
ou inflamatórios, sendo necessária descrito anteriormente. A terapia fo- mentos. O caso descrito à seguir (Fig.
uma avaliação otorrinolaringológica. noaudiológica miofuncional é 18A,18B,18C,18D) foi diagnostica-
Nos casos de manutenção da respi- indicada, podendo associar-se à ou- do em equipe interdisciplinar (orto-
ração bucal habitual, a terapia fo- tras terapêuticas como a ortodôntica dontista, fonoaudióloga e otorrinola-
noaudiológica miofuncional é de e otorrinolaringológica. ringologista), optando-se inicialmen-
grande valia (Fig. 18, 19). Após discussão do caso de manei- te pela terapia fonoaudiológica isola-
• Mastigação: Para a análise da ra interdisciplinar, definindo-se diag- da, com reavaliações pela equipe. Os
mastigação é necessário o conhecimen- nóstico e interferências determinan- resultados conseguidos (Fig. 19A,
to das características do alimento a ser tes deve-se estabelecer a hierarquia dos 19B, 19C, 19D, 19E) mostram o be-
utilizado, uma vez que a mastigação trabalhos ou a possibilidade de traba- nefício da terapia fonoaudiológica,
modifica-se bastante dependendo do ali- lho conjunto. A terapêutica fonoaudi- que exige a colaboração e interesse
mento. Observar vedamento labial e uti- ológica pode ter objetivos distintos de- por parte do paciente e da família.

Abstract
The purpose of the present article The speech-pathologist evaluation and determine the multidisciplinary ap-
was to discuss the relationship between its analysis intend to demonstrate that proach for better results.
form and function relative to it’s necessary not only to verify the dis-
stomatognathic system, including order, but also to associate with its Key-words : Speech-Pathologist;
tongue-thrust, malocclusions and com- cause. The aim of this work is the di- Tongue-thrust; Malocclusion; Lips;
pensatory myofunctional situations. agnoses and its correlation, in order to Tongue; Facial characteristics.

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Endereço para correspondência


Esther Mandelbaum Gonçalves Bianchini
Alameda Jaú, 1767 Conj. 71
São Paulo - SP - CEP 01420-002

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