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Elaboração
Profa Claudia Gomes Ligocki
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO
UNIDADE III
ALTERAÇÕES DE FALA DE ORIGEM MÚSCULO ESQUELÉTICA............................................................................................ 5
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................28
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ALTERAÇÕES DE FALA
DE ORIGEM MÚSCULO UNIDADE III
ESQUELÉTICA
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UNIDADE Iii | Alterações de Fala de origem músculo esquelética
Quando dois ou mais órgãos se combinam de forma a mostrar-se como uma unidade
funcional, eles são chamados de “sistema”. Por exemplo, temos os sistemas:
esqueletal, articular, muscular, digestivo, vascular, nervoso e respiratório, entre
outros. Evidentemente, nenhum destes sistemas é independente dos outros. Para
o mecanismo da fala usamos mais uns, do que outros desses sistemas, embora
todos eles sejam necessários para a correta produção da fala. Os sistemas mais
utilizados para a produção da fala são: esqueletal, muscular, nervoso e respiratório.
Quando encontramos alguma alteração na fala, evidentemente todos os sistemas
devem ser verificados, pois um deles, mais provavelmente, é o causador da
alteração encontrada. Assim, o clínico deve ter um bom protocolo de avaliação, o
qual inclua os vários aspectos que poderão interferir na produção da fala.
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Alterações de Fala de origem músculo esquelética | UNIDADE Iii
1.1.1. Disartria
O termo disartria vem do grego dys + arthroun, que significa ‘inabilidade para
pronunciar claramente’. A disartria é definida como articulação imperfeita da
fala causada por uma lesão no sistema nervoso central ou periférico. Normalmente
os distúrbios causados pela perda do controle muscular dos mecanismos da fala
são fraqueza, paralisia do aparelho fonador ou incoordenação da musculatura da
fala. As características mais comuns da disartria são a imprecisão na articulação
das consoantes, assim como a velocidade lenta da fala 4. Existem vários tipos
de disartrias e elas se diferenciam por diferentes características de fala e de
voz. As disartrias mais citadas na literatura são: flácida, espástica, hipocinética,
hipercinética, atáxica e mista 5. Os principais quadros neurológicos onde as
disartrias costumam ocorrer são nas alterações: do neurônio motor superior –
córtex e trato piramidal; extrapiramidais; cerebelares; de danos de localização
desconhecida e da junção mioneural.
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UNIDADE Iii | Alterações de Fala de origem músculo esquelética
1.1.2. Dispraxia
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Alterações de Fala de origem músculo esquelética | UNIDADE Iii
voluntária da fala; associada com problemas de prosódia; não sendo causada por
fraqueza muscular ou lentidão neuromuscular; presumindo-se ser uma alteração
da programação da fala.
» adiar o tratamento quando houver afasia associada até que alguma linguagem
seja reestabelecida;
» iniciar cada sessão com tarefas fáceis sempre para depois introduzir as mais
difíceis;
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» sons visíveis;
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» usar canto;
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UNIDADE Iii | Alterações de Fala de origem músculo esquelética
As possíveis causas das alterações de fala de origem muscular podem ser por:
paresias, fibroses, atrofia muscular, perda da mobilidade, fasciculações, alterações
de tamanho ou forma.
As alterações de fala de origem esqueletal podem ser por: alterações nos ossos
ou na conformação da face. A ausência de dentes, as próteses, a má-oclusão,
por exemplo, podem afetar a fala. Os sons mais afetados nas alterações
músculo-esqueletais, em geral pelas más condições das estruturas orais,
principalmente as oclusais, são as sibilantes, /s/.
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Alterações de Fala de origem músculo esquelética | UNIDADE Iii
Quando há aumento das tonsilas, da faríngea e ou das palatinas, observamos que
a passagem para o ar fica diminuída ou mesmo totalmente obstruída. Quando
isto ocorre, a boca se entreabre e a língua toma uma posição mais baixa. Como
consequência deste posicionamento inadequado de lábios e língua, podemos
ter: flacidez da língua e dos lábios, principalmente do inferior; retração do lábio
superior; possível atresia do arco maxilar; possíveis alterações oclusais, e as que
mais interferem com a fala são as mordidas abertas ou cruzadas unilaterais. As
funções de mastigar e deglutir também podem, como consequência do aumento
das tonsilas, estarem alteradas. É ainda previsto acúmulo de saliva na cavidade
oral, uma vez que o número de vezes que o paciente passa a deglutir se torna
menor. Com este quadro de alterações ósseas, dentárias, musculares e funcionais,
poderemos ter alterações nos fonemas sibilantes que podem estar sendo
produzidos de forma distorcida, principalmente por causa do posicionamento da
língua. Além da distorção, pode ocorrer imprecisão, já que a flacidez da língua
dificulta que os pontos de contato sejam corretos. Em alguns casos, a parte média
da língua fica elevada facilitando o aparecimento do ceceio lateral. Se ocorrer
mordida aberta anterior, também poderemos ter o ceceio anterior. Os indivíduos
que respiram pela boca, não importando a causa, quase sempre terão a língua
posicionada no assoalho da boca, com possíveis alterações musculares, ósseas
e até oclusais, conforme vimos. A respiração oral favorece o aparecimento do
ceceio anterior ou lateral, e a imprecisão articulatória da fala. Isto pode ocorrer
pela flacidez dos órgãos fono-articulatórios e também pelo acúmulo da saliva na
boca.
1.2.2. Dentes
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» Disfunção temporomandibular
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» Movimentos mandibulares
» Saliva
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» Próteses
» Frênulo lingual
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» Piercing
Por sua vez, quem fala errado também apresenta sentimentos ou reações que
podem gerar alterações no convívio social como: ansiedade, autoestima baixa,
sentimento de exclusão, desconforto, insegurança e frustração.
Crianças que falam com erros tendem a ser mais tímidas e menos falantes do que
outras, e adultos que cometem erros ao falar se sentem inseguros para buscar
empregos ou novas posições no emprego já existente. Às vezes, a fala é apontada
até como causa de dificuldade para novos relacionamentos, principalmente os
amorosos.
Ao conversarmos com adultos que sempre falaram errado e que foram excluídos
ou se autoexcluíram dos grupos a quem pertenciam, podemos ter uma ideia mais
precisa do que é falar errado, mesmo quando a alteração parece ser pequena para
nossos ouvidos. Relatos desses pacientes nos mostram a importância da correção
o mais precoce possível. Dificuldades de encontrar emprego, não por falta de
competência, mas acima de tudo pela sensação de serem menos, já é um bom
ponto de partida para que se preste a máxima atenção até nos pequenos desvios
encontrados na fala. Muitas vezes, estamos acostumados a nos preocupar apenas
com as omissões ou substituições, pois estas parecem ser mais perceptíveis
dos que as distorções e imprecisões articulatórias. Mas são as distorções e as
imprecisões que mais interferem no dia a dia do sujeito. Quando existe uma
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e para quem era dirigido o seu trabalho. Ao longo dos anos, a ciência produziu
construções importantes que nos levaram a entender as diferenças entre alterações
de fala de origem fonológica e de origem fonética. Ainda hoje, entretanto, muitas
alterações da fala, decorrentes de alterações anatômicas e funcionais da face ou
da cavidade oral e de suas estruturas, sem alteração do componente fonológico,
causam dúvidas quanto ao seu tratamento.
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O que se tem observado na prática clínica é que os indivíduos parecem não perceber
a distorção na fala, o que poderia explicar o reduzido número de adultos que
buscam terapia fonoaudiológica. Este dado traz à tona alguns questionamentos,
tais como: Teriam esses indivíduos alguma dificuldade na autopercepção do
problema? Até que ponto este problema interfere na vida social e profissional
destes indivíduos? (ZACKIEWCTZ et al., 1998, OLIVEIRA et al., 2005).
Para Van Borsel et al. (2007), na vida adulta, a persistência do ceceio pode causar
desconforto ou constrangimento. Marchesan (2004) concorda que indivíduos que
têm problemas de fala, independentemente da causa que leva a esta alteração,
experimenta muitas vezes sensações desagradáveis ao tentar se comunicar. O
ouvinte pode ser impaciente, rejeitar o falante, ter pena, satirizar ou imitar de
forma jocosa, além de outros comportamentos, o que leva o falante a se sentir
ansioso, embaraçado, desconfortável, excluído, inseguro, frustrado, ocasionando
diminuição da autoestima e da autoconfiança.
Entretanto, Van Borsel et al. (2007) relata que existem alguns adultos que não
querem fazer terapia, como também existem pessoas que são conhecidas na sua
vida pública por sua alteração de fala, passando desta forma o ceceio a ser sua
marca registrada e parte da sua imagem.
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menor que -0,5), mesofacial (valores entre -0,5 e +0,5) ou braquifacial (VERT
maior que 0,5).
Sugere-se que, para a análise facial ser considerada confiável, é necessário que
os seguintes aspectos sejam aferidos na posição frontal e de perfil: rosto, feições,
simetria, harmonia e proporções faciais; tendência a qual tipo de face; altura e
largura facial; terços faciais, em especial o inferior; largura bizi gomática; contorno
e grau de curvatura do perfil; formato do crânio e da cabeça; linha do cabelo;
testa; olhos; sobrancelhas; orelhas; maxila, forma e altura da mandíbula, largura
bigoníaca, contorno do queixo; lábios, língua, boca, dentes, linha média, posição
do filtro, oclusão e sorriso; bochechas; nariz, ângulo nasolabial, base e projeção
nasal; linha queixo-pescoço; músculos, expressões faciais e marcas de expressão.
Nesse tipo de análise, deve-se levar em conta que a face é uma particularidade de
cada um e não existe uma exatamente igual à outra. A análise deve considerar o
sexo, os traços familiares, a tipologia facial, a raça e a etnia. O fonoaudiólogo é
um dos profissionais que realiza a análise facial em seus pacientes ao avaliar suas
estruturas orofaciais, em que se abordam os aspectos morfológicos, posturais
e funcionais. Além disso, acredita-se que geralmente faz parte da avaliação
fonoaudiológica a definição do tipo de face a partir dos achados clínicos e da
correlação com as características gerais de cada tipo.
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Hanson e Barret (1995) afirmam que os fonemas /s/ e /z/ são produzidos
elevando-se as laterais da língua contra o palato duro, impedindo o escape lateral
do ar.
Tabain (2001) comparou a produção das fricativas sibilantes /s/ e /z/ com as
dos fonemas dentais /f/ e /v/ e relatou que as alveolares /s/ e /z/ apresentaram
pontos articulatórios mais estáveis, não permitindo várias trajetórias para
atingir o mesmo objetivo sonoro. Esse dado reforça a afirmação da extrema
precisão dos eventos ocorridos na cavidade oral referentes à produção do /s/
e também destaca o fato de desvios desta consoante serem tão frequentes, pois
pequenas variações no formato e na localização da língua alteram a produção
final deste fonema.
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Segundo Kocjancic (2004), a distorção está presente nos adultos, porém, por não
afetar diretamente a compreensão da palavra, é aceita no meio social e não causa
ininteligibilidade da fala. (WERTZNER, 2003).
Powers (1971) define o ceceio como a má articulação de uma ou mais consoantes
sibilantes, sendo a maior ocorrência observada nos fonemas [s] e [z] e o classifica
como: central, lateral e nasal, levando em consideração a alteração da posição da
língua na cavidade oral e direção do sopro respiratório.
No ceceio lateral, observa-se escape lateral de ar, que provoca a distorção sonora,
podendo-se, em algumas vezes, observar até interposição lateral da língua na parte
posterior das arcadas dentárias.
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Van Borsel et al. (2007) realizaram estudo em que foi pesquisada a prevalência
de ceceio em jovens adultos. Os participantes foram 748 estudantes, sendo 374
mulheres e 374 homens falantes do holandês. A análise da amostra revelou um
índice de prevalência de 23%. Significativamente menos participantes da área
de ciências humanas apresentaram ceceio do que os das ciências naturais ou
sociais. Houve uma pequena, mas não significativa, prevalência maior de ceceio
em mulheres do que em homens, que foi interpretada como se os familiares
aceitassem mais estas alterações em mulheres. Ficou determinado que esta
elevada prevalência do ceceio em adultos parecia representar uma tendência
recente ou que a permanência do padrão de fala com ceceio em adultos parecia
estar sendo considerada normal.
As razões para esta prevalência elevada não está totalmente clara para o
pesquisador porquanto este padrão é um fenômeno novo. Uma possibilidade
é que esta prevalência elevada de articulação dental ou interdental realmente
seja de origem recente e que este achado reflita uma mudança de atitude sobre
a articulação em geral e em relação ao ceceio em particular. Outra hipótese é
que hoje em dia haja uma tolerância maior para as imprecisões articulatórias,
fazendo parte de um estilo de fala mais casual. Na ausência de algum dado
sobre prevalência de ceceio em gerações mais velhas para comparação, esta
hipótese torna-se de difícil verificação. Van Borsel et al. (2007) acreditam que
esta hipótese está alinhada com os achados de sua pesquisa a qual mostrou
que 87.4% dos indivíduos diagnosticados com ceceio nunca receberam qualquer
observação sobre sua fala.
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No rotacismo uvular, o /r/ é articulado na mesma área, com a diferença que a úvula
vibra contra a parte posterior da língua.
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