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AULA 1

DIAGNÓSTICO
HEMATOLÓGICO

Prof.ª Eliana Rezende Adami


TEMA 1 – ORIENTAÇÃO DE ESTUDO E OBJETIVOS

Nesta abordagem, será dialogado sobre o conceito de hematologia, o


histórico e surgimento da hematologia moderna que temos hoje. Conceitos
utilizados na hematologia que são fundamentais para entendimento e
compreensão, além do sangue, seus componentes e funções.
No capítulo 2, serão abordadas as metodologias hematológicas clássicas
e atuais, na qual serão trabalhadas as principais técnicas hematológicas, desde
quando tudo começou até as técnicas mais modernas e atuais, focando na
automação hematológica, pois é a metodologia utilizada atualmente apresentando
resultados fidedignos, além de discutir o que tem de mais moderno nos tempos
atuais.
No capítulo 3, será discutido o cerne da hematologia, que é a
hematopoiese, perpassando pelos processos de formação dos diferentes tipos de
linhagens celulares. Ainda será trabalhado a morfologia das células sanguíneas
normais, incluindo neutrófilos, linfócitos, eosinófilos, monócitos, basófilos e
bastonetes.
No capítulo 4, será dialogado sobre as técnicas de diagnóstico, como a
imunofenotipagem, que é fundamental para identificar as células e adotar um
tratamento específico e ideal para determinada patologia. Serão estudadas
também as hemoglobinas normais e anormais, que caracterizam as
hemoglobinopatias.
No quinto capítulo, será desenvolvido o tema imuno-hematologia, focando
nos grupos sanguíneos, bem como hemostasias e coagulação e os métodos de
estudo da hemostasia e da coagulação.
E, por fim, no capítulo 6, serão trabalhadas as anemias, desde a
classificação morfológica, baseado nos índices hematimétricos tradicionais e
automatizados, até a classificação clínica e os quadros hematológicos.

1.1 Objetivos

• Estudar a hematologia: princípios, metodologias e patologias.


• Entender a hematopoiese e a morfologia de células normais.
• Buscar um tratamento específico através do estudo da imunofenotipagem.
• Pesquisar sobre as hemoglobinopatias.
• Compreender a imuno-hematologia através dos grupos sanguíneos.
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• Estudar os métodos de estudos da hemostasia e coagulação.
• Promover atualização sobre a classificação morfológicas das anemias e
quadros hematológicos.

TEMA 2 – HEMATOLOGIA

A hematologia consiste na ciência que estuda o sangue. O significado


etimológico de hematologia origina-se do grego Haima (de haimatos), que
significa sangue e logos, que é estudo. Na hematologia, estudamos desde as
doenças que afetam a medula óssea, alterando a formação das células
sanguíneas até aquelas que provocam a destruição celular na corrente sanguínea
periférica. Essas doenças podem ser benignas ou neoplásicas malignas,
hemorrágicas ou trombóticas, herdadas ou adquiridas (Chauffaille et al, 2021).
A hematologia é responsável por estudar a morfologia das células
sanguíneas e fisiologia do tecido sanguíneo, englobando as alterações
patológicas reacionais ou onco-hematológicas, envolvendo intervenções
terapêuticas variadas, utilizando terapia farmacológica, uso de imunoterapia,
transfusões de hemocomponentes, transplante de medula óssea e, recentemente,
lançam mão do tratamento de fármacos alvo com o uso de antineoplásicos
recentes que foram pesquisados e desenvolvidos com auxílio e avanço da biologia
molecular e da citogenética (Ferri, 2019).
As descobertas científicas vêm possibilitado, de forma contínua e precisa,
um melhor entendimento da etiologia das diferentes patologias hematológicas,
levando à realização de um estudo laboratorial direcionado, resultando em um
diagnóstico precoce e utilização de uma terapia mais eficaz.
Alinhado a essas descobertas, os pesquisadores têm investido de forma a
proporcionar uma evolução tecnológica expressiva no desenvolvimento de
equipamentos hematológicos, obtendo equipamentos totalmente automatizados
que possibilitam a padronização dos testes laboratoriais e resultados fidedignos.
Dessa forma, torna-se necessária a presença de profissionais de laboratório
capacitados em conduzir os exames diagnósticos, interpretar seus resultados e
estabelecer uma visão global e crítica sobre os procedimentos laboratoriais e sua
correlação com a clínica.
Objetivando a realização de um diagnóstico preciso em hematologia, é
necessário conhecer as diversas doenças do sangue, que se concentram em
diferentes áreas da hematologia, tornando-se um diferencial ter conhecimento
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amplo e diversificado da hematologia. É importante ressaltar que os exames
laboratoriais são de fundamental importância para o diagnóstico hematológico,
devido à sua abrangência e precisão, permite diagnósticos rápidos, seguros e
precoces de praticamente em todas as doenças hematológicas.
Entretanto, torna-se necessária a realização de exames de imagem, além,
obviamente, do exame clínico, anamnese que irá auxiliar o médico na suspeita
diagnóstica e solicitação dos exames laboratoriais e outros pertinentes para
diagnosticar o caso do paciente (Azevedo, 2018).
A hematologia se destaca, pois busca estudar as células sanguíneas desde
sua formação na medula óssea e baço e de todos os componentes sanguíneos
envolvidos. É responsável por realizar análises de todos os componentes do
sangue, como glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas, vasos
sanguíneos, medula óssea, nódulos linfáticos, baço e proteínas envolvidas na
coagulação e hemograma.
A hematologia, além de estudar as células sanguíneas em condições
normais, foca também no estudo das alterações dessas células, que leva ao
desenvolvimento das patologias, bem como nos órgãos hematopoiéticos
produtores dessas células.

TEMA 3 – CONCEITOS IMPORTANTES EM HEMATOLOGIA

Quando se propõe estudar hematologia, é necessário que tenhamos


conceitos importantes, muito sedimentados para facilitar o aprendizado e
ampliação do conhecimento. A seguir estão listados alguns que são fundamentais.
Hematopoiese é o processo de formação das células sanguíneas, esse
processo promove o microambiente tissular necessário para gerar os diferentes
constituintes do sangue nas mais diversas linhagens hematopoiéticas, como
eritrocítica, mielocítica e linfocítica, na medula óssea e sistema linfoide. No adulto,
o tecido hematopoiético forma parte da medula óssea vermelha, local onde
normalmente ocorre a hematopoiese. É nessa fase que irá ocorrer a formação dos
leucócitos, podendo ser denominado de leucopoese (Chauffaille et al, 2021).
O local onde ocorre a hematopoiese varia durante o desenvolvimento do
embrião que é denominado de ontogênese, assim a hematopoiese ocorre em
fases:

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1. Fase meroblástica: é a fase inicial, ocorre na 2ª semana embrionária, no
tronco do saco vitelino, apresenta poucos mm de comprimento.
2. Fase hepática: ocorre na 6ª semana de vida embrionária.
3. Fase mieloide: os locais que ocorrem são o baço e a medula óssea fetal
(Bain, 2006).

Medula óssea é o principal órgão de formação das células sanguíneas, pois


é rica em células troncos, sendo capaz de originar as mais diversas células
progenitoras de todas as linhagens mieloide, linfoide, os megacariócitos e os
eritroblastos (Lorenzi, 2006; Azevedo, 2018).

Crédito: udaix/Shutterstock.

Linhagem mieloide abrange os neutrófilos, eosinófilo, basófilo e monócito,


que fazem parte dos granulócitos polimorfonucleares. Essas células irão atuar na
defesa do organismo, sendo que o monócito apresenta o poder de migrar para os
tecidos, passando a ser denominados de macrófagos que realizam a fagocitose e

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atuam no combate e destruição de agentes estranhos como vírus, bactérias,
fungos e partículas (Ravel, 2009; Chauffaille et al, 2021).
Linhagem linfoide relacionar-se aos linfócitos T e B. Os linfócitos B são
formados, e o processo de maturação ocorre na medula óssea. Os linfócitos B
sofrem diferenciação em plasmócitos quando se encontra em um órgão linfoide
secundário na presença de antígeno e são capazes de secretar anticorpos nesses
tecidos. Os linfócitos T também são produzidos na medula óssea, mas de forma
diferente, precisam migrar para o Timo para passar pelo processo de maturação
(William; William, 2006; Azevedo, 2018).
Megacariócito são responsáveis por formarem as plaquetas que atuam na
coagulação sanguínea.
Plaqueitopoiese consiste na formação das plaquetas, constituem restos
celulares originados da fragmentação de células gigantes da medula óssea, os
megacariócitos. Apresentam uma ação efetiva nos processos de coagulação. As
plaquetas são conhecidas como trombócitos (do grego, thrombos = coágulo),
atuam impedindo a instalação de quadros hemorrágicos, pois formam um coágulo
através da ativação de colágeno, formam uma rede de fibrina, formando um
tampão impedindo, dessa forma, que o sangue continue extravasando (Ravel,
2009; Ferri, 2019).

Crédito: VectorMine/Shutterstock.

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Eritropoiese é o processo de formação dos eritrócitos. A eritropoiese
ocorre na medula óssea nos adultos, mas nos fetos ou situações emergenciais
pode ocorrer no baço e fígado ou em outros órgãos. As stem cells ou células
tronco são células que apresentam capacidade de gerar novas células e se
diferenciarem em qualquer tipo de linhagem das células do sangue.
Com o início da diferenciação, uma célula de origem perde seu potencial
pluripotente e é direcionada para a produção de uma ou mais linhagens células.
Nesse momento, essas células perdem sua capacidade de autorrenovação,
tornando-se uma célula progenitora. Embora destinada a uma dada linhagem,
essa célula progenitora ainda não adquiriu as características da linhagem
(Chauffaille et al, 2021).

Crédito: GraphicsRF.com/Shutterstock.

Eritroblasto são células precursoras das hemácias cuja função é originar


os eritrócitos.

TEMA 4 – SISTEMA CIRCULATÓRIO E SEUS COMPONENTES

O sistema circulatório ou cardiovascular é composto pelo coração, artérias,


veias e capilares, cuja função principal é carrear oxigênio e nutrientes para todos
os órgãos, tecidos e células do organismo.

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Durante o percurso do sangue no organismo através do sistema circulatório,
o sangue passa duas vezes pelo coração, na pequena e grande circulação,
representada na Figura 1.

Figura 1 – Pequena e grande circulação

Crédito: Olga Bolbot/Shutterstock.

A pequena circulação, também denominada de circulação pulmonar


descreve o caminho percorrido pelo sangue do coração aos pulmões, e dos
pulmões ao coração. O bombeamento do sangue venoso ocorre do ventrículo
direito para a artéria pulmonar, de forma que uma ramificação segue em direção ao
pulmão esquerdo e outra para o pulmão direito (Santos, 2017).
Uma vez que o sangue chega aos pulmões o gás carbônico é liberado pelos
capilares dos alvéolos e ocorre a absorção do oxigênio. Em seguida o sangue
oxigenado é levado dos pulmões para o coração até o átrio esquerdo.

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A grande circulação também conhecida como circulação sistêmica é o
caminho que o sangue percorre do coração para todas as células do corpo e ao
contrário também.
No órgão central da circulação, o coração, o sangue arterial originado dos
pulmões, é lançado do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo. Do ventrículo
esquerdo segue para a artéria aorta, que é a grande distribuidora do sangue para
os todos os tecidos do corpo.
Uma vez que o sangue rico em oxigênio atinge os tecidos, é feito as trocas
gasosas nos capilares estes recebem o oxigênio e libera o gás carbônico, tornando
o sangue venoso.
E para fechar o ciclo, o sangue venoso retorna ao coração pelo átrio direito
através das veias cavas superiores e inferiores, finalizando o sistema circulatório
(Ravel, 2009; Azevedo, 2018).

TEMA 5 – COMPOSIÇÃO E FUNÇÕES DO SANGUE

O sangue é um fluido viscoso de cor avermelhada, composto por células


que formam uma massa heterogênea de células como glóbulos brancos, glóbulos
vermelhos, plaquetas e moléculas e íons dissolvidos em água que circulam por
veias, artérias e capilares compondo o sistema circulatório.
É necessário que a composição química e as propriedades fisioquímicas do
sangue se mantenham constantes para assegurar o bom funcionamento das
células. O sangue é continuamente renovado pela troca de substâncias que
modificam discretamente sua composição (Lorenzi, 2006; Chauffaille et al, 2021).
O sangue é formado pelo plasma que corresponde a 55 % e pelas células
que contribui com um percentual de 45 %. A fração do plasma corresponde a 55
%, sendo que 91,5% são formados de água que é essencial para manter as
substâncias orgânicas e minerais solúveis, além disso serve como veículo para
células, íons e moléculas. Os 8 % restantes são compostos por proteínas, sais e
outros constituintes orgânicos (Bain, 2006; Azevedo, 2018).
Já a fração celular é composta por três tipos de células que se encontram
em suspensão (Figura 2):

• Glóbulos vermelhos, hemácias ou eritrócitos.


• Glóbulos brancos ou leucócitos.
• Plaquetas ou trombóticos.

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Figura 2 – Glóbulos vermelhos e brancos circulando

Crédito: Vjom/Shutterstock.

Para obtenção do diagnóstico laboratorial é necessário a realização dos


exames laboratoriais hematológicos, para isso, se torna necessário a obtenção da
amostra ideal para realização do exame.
Como obter plasma e soro para realização dos exames hematológicos? O
plasma constitui a porção líquida do sangue não coagulado, para obtenção dessa
amostra é necessário o uso de anticoagulante específico de acordo com o tipo de
exame que se deseja realizar.
O plasma é rico em fatores de coagulação, tirando aqueles retirados pelo
uso do anticoagulante; sua formação ocorre devido a ingestão de água, alimentos
ricos em água, das trocas entre as membranas que revestem todos os órgãos,
células e tecidos do organismo, veja na Figura 3 (Hoffbrand; Moss, 2018).
O soro é obtido sem o uso de anticoagulantes, corresponde ao sobrenadante
obtido pela centrifugação do sangue, após a retirada do coágulo. No soro, estão
ausentes os elementos celulares e os fatores de coagulação, ele é rico em sais
minerais, glicose, vitaminas, enzimas, proteínas, lipídeos, hormônios e produtos
catabólicos e anabólicos (Bain, 2006; Ferri, 2019).

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Figura 3 – Plasma e soro

Crédito: Shadedesign/Shutterstock.

O sangue é responsável por inúmeras funções no organismo essenciais para


a manutenção da homeostasia. Destacando-se principalmente:

• Transporte de gases (glóbulos vermelhos).


• Defesa do organismo (glóbulos brancos).
• Coagulação (plaquetas e proteínas plasmáticas).
• Veiculação de nutrientes para os diversos tecidos e órgãos.
• Regulação térmica e hídrica do organismo.
• Manutenção do equilíbrio aquoso, acidobásico e iônico.
• Transporte: de nutrientes, metabólitos, hormônios e outras moléculas
sinalizadoras, de eletrólitos (sais).
• Hormonal (glândulas endócrinas).

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Figura 4 – Trocas gasosas no organismo humano

Crédito: VectorMine/Schutterstock.

Com isso, é necessário que o sangue esteja em condições fisiológicas


normais para manter o organismo em perfeitas condições, qualquer alteração
corresponde a doenças hematológicas.
Ao longo desta abordagem foi possível verificar que a hematologia é uma
ciência ampla que atua em todos os processos de formação, regulação,
manutenção do sangue como um todo e seus componentes, além disso, é
responsável por estudar as patologias relacionadas ao sangue.
Dentro da hematologia, existem conceitos importantes que devem estar
bem sedimentados para auxiliarem na compreensão do conteúdo e ampliação do
conhecimento. Torna-se necessário conhecer os componentes sanguíneas, suas
funções e aplicabilidade para realizar um diagnóstico correto e preciso.
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REFERÊNCIAS

AZEVEDO, M. R. A. D. Hematologia Básica: fisiopatologia e diagnóstico


laboratorial. 6. ed. Rio de Janeiro: Thieme Revinter Publicações, 2019.

BAIN, B. Células Sanguíneas: um guia prático. Editora Arimed, 2006.

CHAUFFAILLE, M. D. L. L. F. Diagnóstico em hematologia. 2. ed. Barueri:


Manole, 2021.

FERRI, F. F. Oncologia e Hematologia: recomendações atualizadas de


diagnóstico e tratamento. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.

HOFFBRAND, A. V.; MOSS, P. A. H. Fundamentos em hematologia de


Hoffbrand. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.

LORENZI, T. F. Manual de Hematologia. Editora MEDSI, 2006.

RAVEL, R. Laboratório Clínico: aplicações clínicas dos dados laboratoriais.


Tradução de Patrícia Lydie Voeux Pinho. 6. ed. reimp. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2009.

SANTOS, P. C. J. D. L.; SILVA, A. M.; NETO, L. M. R. Hematologia: métodos e


interpretação. São Paulo: Roca, 2017.

WILLIAMS; WILLIAMS. Hematology Ed. Mac Gran Hill. New York, 2006.

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