Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ASSISTÊNCIA PRÉ E
PÓS-CIRURGIA ONCOLÓGICA
2
planejamento cirúrgico deve incluir “todos os cuidados referentes aos princípios
gerais da cirurgia e ao preparo do paciente e de seus familiares sobre as
alterações fisiológicas e mutilações que poderão advir do tratamento”.
Grande parte dos pacientes com câncer serão submetidos a procedimentos
cirúrgicos durante o tratamento da doença e este grupo apresenta características
e comorbidades específicas secundárias à doença ou ao seu tratamento. Sendo
assim, o planejamento cirúrgico nesta população merece atenção especial da
equipe de saúde, pois o preparo cirúrgico neste grupo é complexo e necessita de
atuação multiprofissional e intervenções individualizadas e especializadas
(Ribeiro Junior; Kulcsar, 2013).
Em primeiro lugar, no planejamento terapêutico, é de suma importância que
a instituição de saúde disponha de recursos humanos, físicos e financeiros para
execução de tratamentos cirúrgicos. Conforme a Organização Mundial da Saúde
(2008), a técnica cirúrgica sozinha, sem a disposição de infraestrutura adequada,
equipe técnica e de apoio qualificadas não garante excelentes resultados no
tratamento do câncer (WHO, 2008).
No planejamento do tratamento oncológico, equipes multiprofissionais são
responsáveis pela avaliação do paciente no início do tratamento, orientação e
acompanhamento subsequentes. Recomenda-se que todas as profissões da área
da saúde relevantes devam estar inclusas nesse âmbito, como enfermeiros
oncológicos, cirurgiões, oncologistas e demais profissionais ligados à atenção
psicológica, social, reabilitação e diagnóstico do câncer. Além disso, a elaboração
de protocolos clínicos, mapas cirúrgicos, organogramas, fluxogramas, entre
outros, são de responsabilidade da equipe multiprofissional e podem subsidiar o
planejamento e gestão cirúrgica (Gomes; Dutra; Pereira, 2014; WHO, 2008).
O gerenciamento de recursos como materiais e equipamentos, reserva
sanguínea e reserva de leitos de terapia intensiva também são fatores
fundamentais no planejamento cirúrgico. A estimativa de necessidade de suporte
avançado no período pós-operatório deverá ser prevista previamente de acordo
com fatores subjetivos e com o perfil de pacientes da instituição em particular.
Desta maneira, é possível programar o gerenciamento de leitos em Unidade de
Terapia Intensiva (UTI) em acordo com o procedimento cirúrgico proposto e as
particularidades de cada paciente, subsidiando a produtividade e a gestão da
agenda cirúrgica de maneira adequada (Ribeiro Junior; Kulcsar, 2013; CBC,
2011).
3
Medidas como educação continuada, monitoramento de processos,
controle de resultados, tratamentos executados de acordo com protocolos e
diretrizes clínicas, manutenção de padrões de segurança e qualidade, de recursos
como equipamentos e medicamentos, e infraestrutura também são fundamentais
no processo de programação em cirurgia oncológica (WHO, 2008).
Outro fator inerente ao planejamento cirúrgico são os avanços
influenciados pelo desenvolvimento e pelo aprimoramento de exames de imagem,
bem como a fusão de imagens em multimodalidade que auxiliam na orientação
cirúrgica. O conjunto de imagens também subsidiam a impressão de estruturas
anatômicas tridimensionais em tamanho real, contribuindo com a precisão do
planejamento operatório (Wang et al., 2015).
4
TEMA 2 – AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA NO PACIENTE ONCOLÓGICO
5
sintomas relacionados ao câncer e outras comorbidades, uso de medicamentos
contínuos, idade e tratamento oncológico anterior podem acarretar a necessidade
de exames laboratoriais e complementares. Nesse âmbito destacam-se:
7
quimioterapia. Uma grande parcela dessa população, em muitos casos, é
encaminhada para tratamento cirúrgico com comorbidades negligenciadas
durante a fase inicial do tratamento, com ausência de acompanhamento e
tratamento (Ribeiro Junior; Kulcsar, 2013).
Frequente e de fácil diagnóstico, a hipertensão arterial pode ser prévia ao
câncer ou resultado de efeitos de drogas cardiotóxicas. Por sua vez, o aumento
da glicemia pode ser secundário ao uso de corticoides em protocolos de
tratamento quimioterápico. Nesse contexto, é necessário o controle da
hipertensão, diabetes e outras comorbidades que podem afetar o sucesso
cirúrgico (Ribeiro Junior; Kulcsar, 2013).
O monitoramento glicêmico e da pressão arterial, e do tratamento desses
problemas de saúde pode auxiliar na compensação clínica do paciente
oncológico, reduzindo o tempo de preparo e liberação anestésica para o
procedimento proposto, além de auxiliar na redução de risco de intercorrências
relacionadas ao procedimento anestésico-cirúrgico (Ribeiro Junior; Kulcsar,
2013).
8
física e da capacidade funcional, diminuição da fadiga, melhora da função
cardiopulmonar, aumento da densidade mineral óssea, controle do peso e
composição corporal, melhora da função musculoesquelética e controle da
sarcopenia (Vermillion et al., 2018).
9
cirúrgico é necessário que profissionais de saúde envolvidos nesse processo
estabeleçam vínculo com o paciente e seus familiares, a fim de auxiliá-los na
compreensão de sua condição de saúde atual, procedimentos propostos e
cuidados necessários nesse processo. Sendo assim, cuidados e orientações pré-
operatórias são fundamentais para preparar o paciente para o ato cirúrgico e sua
adaptação a possíveis mudanças causadas pela cirurgia oncológica (Silva et al.,
2017).
Orientações nesse período podem auxiliar na redução do tempo de
internação, na diminuição dos riscos de complicação perioperatória e elevar a
satisfação do paciente quanto ao serviço prestado pelos profissionais. Além disso,
a compreensão do paciente quanto ao procedimento proposto pode auxiliá-lo no
controle da tensão e da ansiedade causadas pelo medo do desconhecido, do
procedimento anestésico-cirúrgico, mutilações e possibilidade de morte,
aumentando assim seu bem-estar psicológico (Silva et al., 2017).
Uma vez estabelecido e obtido o termo de consentimento informado no
âmbito cirúrgico e anestésico, o paciente apto a realizar o procedimento cirúrgico
deve ser esclarecido quanto aos riscos inerentes ao procedimento,
esclarecimento de dúvidas, orientações gerais e cuidados quanto à cirurgia
proposta (Davidson; Routt, 2014; Ribeiro Junior; Kulcsar, 2013).
Dentre as principais orientações e cuidados necessários no período pré-
operatório mediato ou imediato destacam-se:
10
2. Uso de medicamentos: medicações de uso contínuo devem ser
conhecidas a fim de identificar quais medicamentos devem ser
interrompidos ou continuados. Em geral, deve-se orientar que o paciente
mantenha uso de medicamentos contínuos como betabloqueadores, anti-
hipertensivos, cardiotônicos, broncodilatadores, anticonvulsivantes,
insulina, corticoides, antialérgicos, potássio, e medicamentos psiquiátricos
(exceto inibidores da monoaminoxidase). De acordo com a indicação
médica, a suspensão do uso de alguns fármacos pode ser recomendada,
como hipoglicemiantes orais, diuréticos, anti-inflamatórios não esteroides,
anticoagulantes orais e antiaderentes plaquetários. Destaca-se que é
imprescindível questionar o histórico de alergias medicamentosas no pré-
operatório.
3. Cuidados e preparo da pele: recomenda-se orientar o paciente para uma
boa higiene e banho antes da intervenção cirúrgica, se possível utilizando
degermantes, especialmente na região do campo operatório. A tricotomia
com lâminas é contraindicada pelo aumento de risco de infecção de ferida
operatória. O método mais indicado é aparar parcialmente os fâneros
apenas na área da incisão operatória. O paciente deverá ser vestido com
camisola cirúrgica; recomenda-se ainda a retirada de adornos, próteses
removíveis e roupas íntimas. Na sala cirúrgica a pele deverá ser preparada
com degermantes à base de polivinil-pirrolidona-iodo ou clorexidina e,
posteriormente, pela equipe cirúrgica com os respectivos produtos na
versão alcoólica.
4. Profilaxia antimicrobiana: pacientes com alto risco de infecção do sítio
cirúrgico ou em procedimentos com alta morbidade podem ter benefício
com o uso profilático de antibióticos de acordo com diretrizes ou protocolos
clínicos.
5. Prevenção de tromboembolia: pacientes em alto risco podem se
beneficiar de protocolos de prevenção para tromboembolia. Obesidade,
tabagismo, câncer, doença venosa periférica, imobilidade prolongada,
histórico de trombose, cirurgias abdominais, pélvicas e procedimentos
cirúrgicos extensos estão entre os principais fatores de risco no âmbito do
paciente com câncer. Profilaxia farmacológica, terapias compressivas
extrínsecas e mobilização precoce estão entre as recomendações
11
preventivas que podem variar de acordo com o risco individual do paciente
ou do procedimento proposto.
6. Orientações gerais: recomenda-se esclarecer o paciente quanto ao
procedimento proposto, suas possíveis complicações e solucionar dúvidas
e questionamentos. Dessa forma, pode-se contribuir com o preparo para o
procedimento cirúrgico e viabilizar a alta hospitalar (Silva et al., 2017; CBC,
2011; Frutuoso, 2010).
12
O programa deve reunir práticas assistenciais aprimoradas, organização de
cuidados e gerenciamento clínico baseado em evidências. Dentre as principais
recomendações dos protocolos de recuperação aprimorada destacam-se:
13
REFERÊNCIAS
14
SILVA FILHO, A. L. da, et al. Enhanced Recovery After Surgery (ERAS): New
Concepts in the Perioperative Management of Gynecologic Surgery. Rev. Bras.
Ginecol. Obstet., Rio de Janeiro, v. 40, n. 8, p. 433-436, ago. 2018.
WANG, D., et al. Recent advances in surgical planning & navigation for tumor
biopsy and resection. Quantitative Imaging in Medicine and Surgery, North
America, v. 5, n.5, p. 640-8, out. 2015.
WHO – World Health Organization. Cancer Control: Knowledge into Action: WHO
Guide for Effective Programmes. Geneva: World Health Organization, 2008.
15