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ÍNDICE
PROGRAMA DE IMPACTO POSITIVO (PIP): COMO
SE PREPARAR PARA A CIRURGIA EM 4 ETAPAS ......................................4

PROGRAMAS MULTIMODAIS PERIOPERATÓRIOS ....................................5

CONCEITO DE PRÉ-HABILITAÇÃO EM CIRURGIA .....................................6

PROGRAMA STRONG FOR SURGERY DO


AMERICAN COLLEGE OF SURGEONS .....................................................7

PILARES DO PROGRAMA STRONG FOR SURGERY: ..................................7


A) NUTRIÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA

B) INTERRUPÇÃO DO TABAGISMO

C) CONTROLE GLICÊMICO RIGOROSO

D) REVISÃO DA MEDICAÇÃO EM USO

A PROPOSTA DO PROGRAMA DE IMPACTO


PRÉ-OPERATÓRIO (PIP).......................................................................10

ANOTAÇÕES ......................................................................................11

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PROGRAMA DE IMPACTO POSITIVO
(PIP): COMO SE PREPARAR PARA
A CIRURGIA EM 4 ETAPAS
Nos últimos 60 anos a medicina e
particularmente a cirurgia tiveram um avanço
possivelmente maior do que em toda a história
pregressa. Na cirurgia, avanços como a
profilaxia antibiótica e antitrombótica, a terapia
nutricional (oral, enteral ou parenteral), os
transplantes de órgãos sólidos, a videocirurgia
e, mais recentemente, a robótica mudaram
radicalmente os resultados cirúrgicos. Hoje,
muitas operações, que demandavam a
permanência do paciente por longo tempo
no hospital, permitem alta hospitalar até no
próprio dia, com segurança e baixos índices
de complicações. Paralelamente houve
grande avanço nos métodos diagnósticos, na
radiologia e na endoscopia invasiva, e também
nas técnicas anestésicas e nos cuidados
intensivos pós-operatórios, que contribuíram
ainda mais para melhores resultados.

Entretanto, grandes ressecções, principalmente


por câncer do aparelho digestivo, ainda
se associam a elevada morbimortalidade.
Procedimentos como esofagectomia,
gastrectomia total, duodenopancreatectomia,
ressecções colônicas e procedimentos
hepatobiliares complexos ainda apresentam
complicações pós-operatórias em até 25-30%
dos casos, com índices de mortalidade de 5%
ou mais.

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PROGRAMAS MULTIMODAIS
PERIOPERATÓRIOS
Procurando melhorar a recuperação
pós-operatória, nos anos 90 alguns
pesquisadores, capitaneados por Kehlet
e Wilmore, reconheceram os inúmeros
obstáculos para a recuperação pós-
operatória adequada e iniciaram os
conceitos de “fast-track surgery”,
elencando maneiras de se acelerar a
recuperação pós-operatória. Este foi
o embrião para a criação de diversos
programas dedicados a melhorar a
evolução do paciente após procedimentos
cirúrgicos complexos. O primeiro e mais
conhecido destes programas é o ERAS
(Enhanced Recovery After Surgery), criado
no norte da Europa e hoje difundido
mundialmente. Trata-se de um protocolo
multimodal que inclui a abreviação do
jejum pré-operatório além de uma série
de medidas perioperatórias, visando
redução das complicações e recuperação
mais rápida do paciente. De maneira
geral todas essas medidas são tomadas
no período perioperatório, ou seja, antes,
durante e depois da operação.

Outros programas similares foram criados,


como o ASER e o SMART, nos Estados
Unidos. No Brasil foi criado o Projeto
ACERTO, programa de sucesso que inclui
livros publicados e congressos anuais
dedicados ao tema. Esses programas,
não obstante algumas restrições iniciais,
ganharam imensa popularidade, sendo hoje
amplamente conhecidos e implementados
nos ambientes cirúrgicos diferenciados.

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CONCEITO DE
PRÉ-HABILITAÇÃO
EM CIRURGIA
Entretanto, há uma outra janela de
oportunidade para se melhorar ainda mais
os resultados cirúrgicos: o período de dias
ou semanas que antecede o procedimento
cirúrgico. Várias medidas podem ser tomadas
enquanto o doente realiza os exames pré-
operatórios ou até mesmo aguarda a data que
melhor convém a ambos: doente e cirurgião.
Este conceito, difundido inicialmente por
anestesistas do Canadá, recebeu o nome de
Pré-Habilitação em Cirurgia. Trata-se de um
programa formal conduzido por uma equipe
interprofissional, em geral no domicílio,
incluindo equipe médica, fisioterapeuta,
nutricionista e psicólogo, dentre outros.

Em geral deve durar 4-5 semanas no


pré-operatório e estender-se por até 8
semanas no pós-operatório. Visa otimizar
a performance física, clínica e psicológica
do paciente, controlar comorbidades, como hipertensão arterial, função cardiopulmonar,
controle do diabetes, doença coronariana, ajuste de dose de medicamentos em uso, além de
controlar o estado nutricional (obesidade e desnutrição), tabagismo, etilismo e estimular a
atividade física. É evidente que este programa só pode ser implementado se a cirurgia puder
ser postergada por algumas semanas sem risco adicional ao paciente.

Como visto acima, o programa de Pré-Habilitação é complexo e ambicioso e demanda pessoal


da área de saúde competente e dedicado. Ciente da dificuldade de implementação de um
programa de tal magnitude nacionalmente, o American College of Surgeons desenvolveu o
programa Strong for Surgery, elencando quais seriam os principais fatores mais importantes
para serem recomendados antes da cirurgia. Este programa se tornou tão importante que
passou a fazer parte do programa nacional de qualidade em cirurgia, NSQUIP, do ACS.

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PROGRAMA STRONG FOR SURGERY DO AMERICAN COLLEGE
OF SURGEONS
Desta forma surgiu o Strong for Surgery na primeira fase 4 áreas de atuação: nutrição
(S4S), que é uma campanha adotada pelo pré-operatória, interrupção do tabagismo,
American College of Surgeons destinada ao otimização do controle glicêmico e revisão
público para engajar pacientes e cirurgiões dos medicamentos em uso (indicação, dose,
no preparo adequado dos pacientes no pré- possíveis interações medicamentosas, dentre
operatório, visando melhores resultados outros). O Strong for Surgery foi criado em
cirúrgicos. O programa consiste em um 2012, pela Universidade de Washington, com
checklist que serve de comunicação entre apoio da Nestlé Healthcare Foundation.
pacientes e equipe médica. Este considera

PILARES DO PROGRAMA STRONG FOR SURGERY


A) NUTRIÇÃO PRÉ-OPERATÓRIA:
O Programa Strong for Surgery elenca como Program (SCOAP), ligado ao Comprehensive
primeiro fator a nutrição pré-operatória. A Hospital Abstract Reporting System (CHARS),
justificativa é que a desnutrição é um fator que incluiu 722 pacientes submetidos à
preditivo independente para complicações pós- colectomia por câncer colorretal, o uso de
operatórias que é potencialmente modificável. um suplemento nutricional específico
O princípio da nutrição perioperatória é imunomodulador, enriquecido com arginina,
minimizar os efeitos da desnutrição nas taxas ácidos graxos ômega-3 e nucleotídeos
de complicações pós-operatórias. Esses (Impact®) no pré-operatório resultou em
efeitos podem ser obtidos parcialmente com redução significativa das complicações,
a administração de suplementos nutricionais tromboembolismo, permanência hospitalar e
convencionais. Entretanto a adição de alguns readmissões, além de tendência a redução dos
nutrientes com atividade não só nutricional, custos. Considerando as dezenas de trabalhos
mas também imunoestimuladora e anti- similares e mostrando os benefícios da dieta
inflamatória, além de estimular a cicatrização, imunomoduladora no pré-operatório de cirurgia
confere benefícios adicionais significativos. de grande porte, em geral oncológica, o American
Entre esses nutrientes temos arginina, ômega-3 College of Surgeons incluiu a nutrição pré-
e nucleotídeos entre os mais estudados, operatória como o primeiro item do check-list
principalmente em sinergia. Estes agem de do programa Strong for Surgery. A justificativa é
forma sinérgica no paciente cirúrgico, atenuando que o estado nutricional é um importante fator
a resposta inflamatória, fortalecendo o sistema preditor, independente de resultado cirúrgico.
imunológico e estimulando a cicatrização. Em Fatores como perda de peso não intencional,
um estudo piloto “real world setting”, conduzido alteração da ingestão alimentar e alterações
por Banerjee e colaboradores em duas bases gastrointestinais colocam o paciente em risco
de dados do Estado de Washington, nos EUA, nutricional e este deve ser encaminhado
o Surgical Care and Outcomes Assessment para consulta nutricional. O uso de fórmula

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nutricional imunomoduladora pode reduzir em 40%
a 60% as complicações infecciosas.

B) INTERRUPÇÃO DO TABAGISMO:
O segundo item do check-list é interromper
o tabagismo. Inúmeros estudos confirmaram
que o tabagismo aumenta a incidência de
complicações pulmonares após anestesia
em até 6 vezes. Além disso, o tabagismo é
considerado fator de risco independente
para complicações pós-operatórias, em
particular pulmonares, cardiovasculares e da
cicatrização de feridas. Inúmeros estudos já
demonstraram que suspender o tabagismo
por 4-6 semanas antes da cirurgia reduz
complicações em até 40%.

C) CONTROLE GLICÊMICO RIGOROSO:


O terceiro item do check-list é o controle glicêmico
rigoroso do paciente. Até um terço dos pacientes
cirúrgicos podem ter diabetes não diagnosticado
previamente. Por isso, é importante sempre dosar
a glicose sanguínea como parte dos exames pré-
operatórios. Se a glicose estiver alta, essa deve
ser rigorosamente controlada antes da operação.
Controle adequado do paciente diabético no pré-
operatório reduz o risco de hiper ou hipoglicemia
no pós-operatório. Os períodos pré e pós-
operatórios são geralmente acompanhados de
jejum por algum tempo, quando há risco de
hipoglicemia, seguido de estresse metabólico,
situação em que o organismo produz uma
série de hormônios catabolizantes que causam
resistência à ação da insulina e aumentam o
risco de hiperglicemia. Pacientes diabéticos bem
controlados apresentam menos infecções do
sítio cirúrgico e cicatrização mais adequada. Em
suma, o controle glicêmico adequado do paciente
diabético reduz significativamente o risco de
complicações.

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D) REVISÃO DA MEDICAÇÃO EM USO:
Finalmente, o quarto item incluído nesta
primeira fase do Strong for Surgery,
e que sugerimos dentre os passos
também, é a revisão completa de todas as
medicações em uso, incluindo aquelas que
dispensam prescrição, suplementos, chás e
medicamentos à base de ervas.

Recomenda-se suspender, no pré-


operatório, todos os medicamentos que não
sejam absolutamente necessários. Algumas
medicações podem aumentar o sangramento
ou ter efeito diurético, desidratando o
paciente. O uso pré-operatório de opioides
pode interferir na anestesia e complicar
o pós-operatório. A retirada abrupta de
alguns medicamentos também pode ser
perigosa, principalmente medicamentos
cardiovasculares, de efeito psiquiátrico ou
no sistema nervoso central. A recomendação
é avaliar judiciosamente cada medicamento
que o paciente estiver usando.

Esses quatro itens do check-list em que


nos baseamos para criação desse material
já estão divulgados pelo American College
of Surgeons. Para a segunda fase do
programa, a ser implementado este ano,
foram selecionados os seguintes itens:
controle efetivo e seguro da dor; profilaxia
do delírio; pré-habilitação física e melhoria
das informações ao paciente. É evidente
que todas essas recomendações se referem
ao período pré-operatório. As medidas já
amplamente investigadas dos programas
multimodais para cuidados perioperatórios,
como o ERAS e o ACERTO, continuam
válidas e devem ser incluídas nas rotinas
dos hospitais.

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A PROPOSTA DO
PROGRAMA DE
IMPACTO PRÉ-
OPERATÓRIO (PIP)
A proposta para 2019 é adaptar o programa
Strong for Surgery para o Brasil com os quatro
itens iniciais. Com o nome de PIP (Programa
Impacto Positivo) e com o apoio da Nestlé
Health Science, o Colégio Brasileiro de
Cirurgiões e o Colégio Brasileiro de Cirurgia
Digestiva estarão promovendo encontros
científicos em que esses conceitos serão
divulgados.

A campanha visa atingir profissionais de


saúde e o público em geral, mediante a
criação de site específico para aumentar a
atenção aos 4 pilares do programa: nutrição
pré-operatória; interrupção do tabagismo;
otimização do controle glicêmico e revisão
dos medicamentos em uso. A ideia central
da campanha é: você tem uma cirurgia
agendada para breve?

VOCÊ DEVERIA SE PERGUNTAR:


“O QUE EU POSSO FAZER PARA
QUE A CIRURGIA SEJA UM
SUCESSO?”

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ANOTAÇÕES

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REFERÊNCIAS:
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