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NÚCLEO DE APOIO TÉCNICO AO JUDICIÁRIO – NatJus

NOTA TÉCNICA

CIRURGIA PLÁSTICA REPARADORA / PÓS-BARIÁTRICA

PROCESSO: 0720442-71.2023.8.07.0000
Vara/Serventia: 3ª Turma Cível - Gabinete do Des. Roberto Freitas Filho

1. PACIENTE:

1.1. Nome: S.R.C.S.

1.2. Data de nascimento: 30/12/1976 (46 anos)

1.3. Sexo: Feminino

1.4. Diagnóstico: L98.9 – Outras afecções de pele e do tecido / N64.2 – Atrofia


da mama

1.5. Meios confirmatórios do diagnóstico já realizados: Exame clínico descrito


nos relatórios acostados aos autos.

1.6. Resumo da história clínica e CID: Segundo relatórios médicos e psicológico


(ID 47094343 - Pág. 44 a 49) expedidos pelos cirurgiões Dr. Rafael Galvão –
CRM/DF 12950, Dr. Sergio Feijó – CRM/DF 11963 e pela psicóloga Rosana
Cavalcante – CRP01/1 1099, a autora foi submetida à cirurgia bariátrica em
novembro de 2021 para tratamento de obesidade e já houve perda de 90% do
excesso de peso, na ocasião da emissão dos relatórios, com estabilidade do peso
e sem comorbidades. Explicam que a perda de peso acarretou a formação de
muitos excessos cutâneos residuais no abdômen, mamas, braços e pernas,
gerando dobras. Diante do quadro, foi indicada cirurgia reparadora com
reconstrução mamária bilateral com colocação de prótese mamária,
braquioplastia bilateral e dermolipectomia de coxas*

*O relatório atribuiu a estes procedimentos os códigos TUSS 30602262,


30101190 e 30101271. Na tabela de procedimentos esse código corresponde à
seguintes descrições: Reconstrução da mama com prótese e/ou expansor em
casos de lesões traumáticas e tumores, Correção de Lipodistrofia braquial, crural
ou trocanteriana de membros superiores e inferiores e Dermolipectomia para
correção de abdome em avental.

2. DESCRIÇÃO DA TECNOLOGIA

2.1. Tipo da Tecnologia: Procedimento Cirúrgico

2.2. Princípio Ativo: Não se aplica


2.3. Registro na ANVISA? Não se aplica
2.4. Indicação em conformidade com a aprovada no registro? Não se aplica
2.5. A tecnologia está incorporada ao SUS? A tecnologia de reconstrução
abdominal após cirurgia plástica está incorporada ao SUS, porém as outras
cirurgias reconstrutivas não estão. A cirurgia é realizada em alguns hospitais de
ensino de forma educativa.
2.6. A tecnologia faz parte do ROL da ANS? No ROL da ANS o código TUSS
constante no relatório médico corresponde ao procedimento: reconstrução da
mama com prótese e/ou expansor em casos de lesões traumáticas e tumores.
Os procedimentos mastopexia, braquioplastia e dermolipectomia de coxas não
constam do rol da ANS.
Cumpre ressaltar que, conforme Enunciado nº 23 das Jornadas de Direito da
Saúde do Conselho Nacional de Justiça, “nas demandas judiciais em que se
discutir qualquer questão relacionada à cobertura contratual vinculada ao rol de
procedimentos e eventos em saúde editados pela Agência Nacional de Saúde
Suplementar – ANS recomenda-se a consulta, pela via eletrônica e/ou expedição
de ofício, a esta agência Reguladora para os esclarecimentos necessários sobre
a questão em litígio”.

3. QUESITOS DO JUÍZO (ID. 47197732 - Pág. 7 e 8)


3.1) o que consiste o procedimento cirúrgico pleiteado e de quais etapas e
modalidades de tratamento é composto?

Os procedimentos cirúrgicos descritos no relatório ID 47094343 - Pág. 46 são:

• Reconstrução mamária bilateral com colocação de próteses mamárias


bilaterais. Este procedimento consiste na correção cirúrgica das
alterações das mamas consequentes à perda expressiva de peso corporal
como redução de volume, ptose, variação na posição do complexo areolo
papilar e esvaziamento nos quadrantes superiores da mama. Foi proposta
abordagem cirúrgica em tempo único, com a mastopexia (reestruturação
das mamas) e colocação de próteses.
• A braquioplastia para correção de Lipodistrofia é a cirurgia de remoção do
excedente de pele (flacidez cutânea) e/ou gordura da face póstero medial
(interna) dos braços. É indicada para pacientes com queixa estética ou
funcional dos braços. Pode ser realizada com anestesia local com sedação,
bloqueio do plexo com sedação ou anestesia geral. Pode ocorrer edema
(inchaço), equimoses (manchas roxas), sangramento discreto pelas
cicatrizes, seroma (drenagem de secreção amarela clara pela cicatriz),
cicatrizes alargadas, hipertrofiadas, hiper ou hipocrômicas.
• Dermolipectomia de coxas para correção de Lipodistrofia: É uma cirurgia
que consiste na remoção do excesso de pele das coxas, associada ou não
à lipoaspiração. Este procedimento está indicado para aqueles pacientes
que apresentam flacidez e excesso cutâneo após grande perda de peso
ou devido a mudanças corporais características do envelhecimento.
3.2) o tratamento indicado para a Agravada é eficiente, eficaz e efetivo em
relação à patologia?

De acordo com dados da literatura, os tratamentos propostos são indicados para


correção de excesso de pele. Como a eficiência está relacionada aos custos, esse
elemento vai depender de valores de honorários médicos, internação hospitalar
e outros gastos posteriores, como absenteísmo ao trabalho. A eficácia, por
tratar-se de procedimento e não de tratamento medicamentoso, deverá ser
avaliada pelo resultado pós-operatório, influenciado por características dos
pacientes e técnica cirúrgica, devido à grande variabilidade anatômica e
expectativas da paciente. Por isso, toda operação deve ser precedida de um
planejamento cirúrgico acurado. Além disso, como em todo procedimento,
existem riscos de complicações que podem afetar o resultado final, tais como
deiscência de sutura, sangramento e infecções de ferida operatória.

Revisão Sistemática (Jiang, 2021) avaliou 24 estudos incluindo mais de 6 mil


pacientes pós bariátrica que foram submetidos a body contourn surgery (BCS).
Os resultados sugeriram que a maioria dos pacientes experimentou melhorias
em sua qualidade de vida, o que pode ser visto em quase todas as dimensões
avaliadas, incluindo imagem corporal e funções físicas e psicossociais, gerando
impactos positivos sobre aquele indivíduo (efetividade).

3.3) o método proposto é experimental?

Não, é um procedimento cirúrgico já consolidado na literatura. Tanto os


cirurgiões bariátricos quanto os cirurgiões plásticos consideram a remodelação
corporal após a bariátrica não apenas como um complemento estético, mas
também como uma parte vital da recuperação funcional na jornada de perda de
peso mediada pela cirurgia.

3.4) existem alternativas ao procedimento?

Não há outras alternativas que não sejam procedimentos cirúrgicos.

3.5) essas alternativas são viáveis?

Não existem outros tratamentos que podem substituir a cirurgia no caso em


tela. Em relação aos impactos psicológicos gerados pela cirurgia bariátrica, há
um aumento da prevalência de transtorno depressivo, no tocante ao excesso de
pele e flacidez que afetam a forma corporal: estudos demonstram que as
plásticas reparadoras, como por exemplo a abdominoplastia, podem reduzir os
sintomas de depressão em pacientes pós-bariátrica.

3.6) o método consiste, necessariamente, no uso de órteses e próteses? Se


sim, quais espécies e quais espécies e características desses elementos?

Não. Existe a correção por mastopexia sem uso de próteses mamárias, porém
no caso em questão, com base na descrição dos achados do exame físico, o uso
de próteses mamárias parece ser o mais indicado para um resultado final
satisfatório. Há descrições na literatura de emprego da técnica de mastopexia
com colocação de próteses em casos semelhantes aos da autora, com bons
resultados, todavia, não há como o NATJUS atestar a imprescindibilidade do uso
da prótese.

4. Justifica-se a alegação de urgência, conforme definição de Urgência,


conforme definição de Urgência e Emergência do CFM

A Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 1451/1995 traz a


definição de urgência e emergência:

“Define-se por URGÊNCIA a ocorrência imprevista de agravo à saúde com ou sem


risco potencial de vida, cujo portador necessita de assistência médica imediata.
Define-se por EMERGÊNCIA a constatação médica de condições de agravo à
saúde que impliquem em risco iminente de vida ou sofrimento intenso, exigindo,
portanto, tratamento médico imediato”.

Assim, de acordo com a definição do CFM, não se pode considerar o caso


analisado por esta Nota Técnica como uma urgência ou emergência médica.

5. Referências bibliográficas:

1. Makarawung DJS, de Vries CEE, List EB, Monpellier VM, Mou D, Klassen
AF, Pusic AL, van Veen RN, Mink van der Molen AB. Patient-Level Factors
Associated with Health-Related Quality of Life and Satisfaction with Body
After Bariatric Surgery: a Multicenter, Cross-Sectional Study. Obes Surg.
2022 Sep;32(9):3079-3087. doi: 10.1007/s11695-022-06214-6. Epub 2022
Jul 21. PMID: 35859022.
2. Nielsen C, Elander A, Staalesen T, Al Nouh M, Fagevik Olsén M. Depressive
symptoms before and after abdominoplasty among post-bariatric
patients - a cohort study. J Plast Surg Hand Surg. 2022 Dec;56(6):381-386.
doi: 10.1080/2000656X.2022.2050251. Epub 2022 Mar 16. PMID:
35294844.
3. Jiang Z, Zhang G, Huang J, Shen C, Cai Z, Yin X, Yin Y, Zhang B. A systematic
review of body contouring surgery in post-bariatric patients to determine
its prevalence, effects on quality of life, desire, and barriers. Obes Rev.
2021 May;22(5):e13201. doi: 10.1111/obr.13201. Epub 2021 Feb 9. PMID:
33565201.
4. Ngaage LM, Rose J, Pace L, Kambouris AR, Rada EM, Kligman MD, Rasko
YM. A Review of National Insurance Coverage of Post-bariatric Upper Body
Lift. Aesthetic Plast Surg. 2019 Oct;43(5):1250-1256. doi:
10.1007/s00266-019-01420-7. Epub 2019 Jun 25. PMID: 31240337.
5. Faria CADC, Moura LG, Almeida CM, Galdino MCA, Santos GC, Pedroso DB,
et al. Mamoplastia/mastopexia com implante: técnica Lockpocket. Rev.
Bras. Cir. Plást.2017;32(2):218-224

6. NATJUS responsável: NATJUS/TJDFT

Brasília, 29/06/2023.

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