Você está na página 1de 21

PROGRAMA Procedimentos

Médicos em
DE EDUCAÇÃO
Atenção Primária
PERMANENTE à Saúde
EM SAÚDE
DA FAMÍLIA

UNIDADE
Procedimentos
1
dermatológicos
em APS I

Edson da Silva Freitas


Procedimentos dermatológicos em APS I
Prezado cursista, nesta unidade, inicialmente discutiremos sobre os procedimentos der-
matológicos em APS, com ênfase na ambiência e nos insumos para realização de procedi-
mentos cirúrgicos ambulatoriais, anestesia locorregional e suturas e drenagem de abscesso.
Vamos começar?

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 2
Aula 1: Ambiência e insumos para
realização de procedimentos cirúrgicos
ambulatoriais
Na situação-problema deste módulo, vimos que a unidade possuía uma sala de procedi-
mentos. Na UBS, precisamos de uma infraestrutura mínima para realização de procedimen-
tos cirúrgicos em nível ambulatorial. Vamos aprender um pouco mais sobre isso e tentar ver
o que está disponível no seu local de trabalho.

Condições necessárias
As condições de ambiência e insumos para realização de procedimentos na Atenção Primá-
ria à Saúde (APS) ainda são grandes desafios para essa prática no Sistema Único de Saúde
(SUS). Contudo, um médico, ciente de suas competências e das demandas da população,
irá tencionar, junto aos gestores, e valendo-se de argumentos cientificamente embasados,
ajudar na construção de uma Atenção Primária à Saúde (APS) de maior qualidade no país
(GUSSO; LOPES, 2012).

O Conselho Federal de Medicina (CFM) determina as condições necessárias para a realização


de pequenos procedimentos cirúrgicos. A prática passou a ser denominada de procedimen-
tos com internação de curta permanência pela Resolução nº 1.886/2008 (CFM, 2008). Contu-
do, com uma nova Resolução nº 2.056/2013 (CFM, 2013), todo procedimento com necessida-
de de anestesia infiltrativa passa a constituir um novo grupo de risco.

Nessa resolução, os estabelecimentos de saúde são classificados em quatro grupos. Fazem


parte do grupo três consultórios ou serviços com procedimentos invasivos de riscos de
anafilaxias, insuficiência respiratória e cardiovascular, inclusive aqueles com anestesia local
sem sedação ou consultórios ou serviços em que se aplicam procedimentos para sedação
leve e moderada (CFM, 2013).

O que é cirurgia com internação de curta permanência?


São todos os procedimentos clínico-cirúrgicos (com exceção daqueles que acompanham os
partos) que, pelo seu porte, dispensam o pernoite do paciente. Eventualmente o pernoite
do paciente poderá ocorrer, sendo que o tempo de permanência do paciente no estabeleci-
mento não deverá ser superior a 24 horas (CFM, 2008).

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 3
São critérios de seleção das pessoas (CFM, 2008):

• Estado físico: pessoas que podem ser submetidas à cirurgia/a pro-


cedimento com internação de curta permanência são os classificados
nas categorias ASA-I e ASA-II da American Society of Anesthesiologists
(ASA, 2014), ou seja:

- ASA I – sem transtornos orgânicos, fisiológicos, bioquímicos ou


psicológicos. A enfermidade que necessita de intervenção é localizada
e não gera transtornos sistêmicos;

- ASA II – apresenta pequenos ou moderados transtornos gerais, seja


pela enfermidade sob intervenção ou outra (por exemplo, enfermi-
dade cardíaca leve, diabetes leve ou moderado, anemia, hipertensão
compensada, idades extremas e obesidade).

• A extensão e a localização do procedimento a ser realizado permitem


o tratamento com internação de curta permanência.

• Não há necessidade de procedimentos especializados e controles


estritos no pós-operatório.

• Aceitação, pela pessoa, do tratamento proposto.

ATENÇÃO!!! A cirurgia, ou o procedimento, com internação de


curta permanência é contraindicada quando:

• os pacientes são portadores de distúrbios orgâ-


nicos de certa gravidade, avaliados a critério do
médico assistente;

• os procedimentos a serem realizados são


extensos;

• há grande risco de sangramento ou outras


perdas de volume que necessitem de reposição
importante;

• há necessidade de imobilização prolongada


no pós-operatório;

• os procedimentos estão associados a dores


que exijam a aplicação de narcóticos, com efeito
por tempo superior à permanência do paciente
no estabelecimento.

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 4
Responsabilidades médicas diante da realização do procedimento
(CFM, 2008):

- O médico deverá orientar o paciente ou o seu acompanhante, por


escrito, quanto aos cuidados pré e pós-operatórios/procedimentos
necessários e complicações possíveis, bem como a determinação da
unidade para atendimento das eventuais ocorrências.

- Após a realização de cirurgia/procedimento, a alta do serviço será


dada por um dos membros da equipe médica responsável. As con-
dições de alta do paciente serão as estabelecidas pelos seguintes
parâmetros: orientação no tempo e espaço; estabilidade dos sinais
vitais há pelo menos sessenta minutos; ausência de náusea e vômi-
tos; ausência de dificuldade respiratória; capacidade de ingerir líqui-
dos; capacidade de locomoção como antes, se a cirurgia o permitir;
sangramento ausente ou mínimo; ausência de dor importante; sem
retenção urinária.

- A responsabilidade do acompanhamento do paciente, após a reali-


zação de cirurgia/procedimento até a alta definitiva, é do médico e/
ou da equipe que realizou a cirurgia/procedimento.

TERMO DE CONSENTIMENTO – Não existe exigência legal para o uso


de termo de consentimento para a realização de procedimentos, no
entanto esses documentos são cada vez mais utilizados. A resolução
do CFM exige que haja aceitação do procedimento pela pessoa, e a
aceitação deve ser registrada em prontuário.

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 5
Estrutura e insumos
Algumas condições estruturais são recomendadas para uma adequada sala de procedimen-
tos cirúrgicos. Para as unidades básicas de saúde, o projeto estrutural é menos rigoroso do
que em centros cirúrgicos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária diante da Resolução – RDC nº


50, de 21 de fevereiro de 2002 – dispõe sobre o Regulamento Técnico
para planejamento, programação, elaboração e avaliação de projetos
físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. Disponível no
link: <https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/
legislacao/item/rdc-50-de-21-de-fevereiro-de-2002>.

Linha do tempo 1

Serviços de saúde do grupo 3 devem dispor de equipamentos e medicamentos mínimos


para atendimentos de intercorrências. Essa recomendação converge com as recomenda-
ções do CFM e do Ministério da Saúde, visto que as unidades básicas de saúde também
fazem parte da Rede de Atenção às Urgências no Sistema Único de Saúde (MS, 2011).

Linha do tempo 2

Os insumos necessários para realização de procedimentos cirúrgicos ambulatoriais são


variados. Segue uma sugestão de insumos básicos comuns à maioria dos procedimentos.

Linha do tempo 3

É importante que o médico tenha conhecimento sobre instrumental cirúrgico e a função de


cada material. Uma bandeja de cirurgia ambulatorial pode conter diversos instrumentais,
sendo alguns indispensáveis para a maioria dos procedimentos. Acesse a linha do tempo 4
e conheça a sugestão de bandeja para a maioria das pequenas cirurgias.

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 6
Linha do tempo 4

A limpeza e a esterilização do instrumental cirúrgico devem ser reali-


zadas por profissional treinado e em ambiente específico na unidade
de saúde. A ANVISA orienta princípios básicos para limpeza de ins-
trumental cirúrgico em serviços de saúde.

http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/alertas/2009/
informe_tecnico_1.pdf

Esses insumos e instrumentais estão presentes no contexto da sua APS? Você costuma uti-
lizá-los em sua prática profissional? Eles serão essenciais para a realização de alguns proce-
dimentos que veremos a seguir, tais como a anestesia locorregional, que será abordada na
próxima aula.

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 7
Aula 2: Anestesia locorregional

A UBS da situação-problema possuía uma sala de procedimentos bem equipada, com


potencial para que sejam realizadas as anestesias que forem necessárias no âmbito da APS.
Vamos aprender um pouco sobre a anestesia locorregional nesta aula.

A maioria das cirurgias de menor porte, ou ambulatoriais, é realizada com anestesia local.
A técnica de administração adequada pode reduzir o desconforto do paciente, melhorar a
sua satisfação com o serviço e também o desfecho do procedimento (MAYEAUX, 2012).

Os anestésicos locais produzem bloqueio reversível dos impulsos neurais em uma região
delimitada do corpo, sem alterações sistêmicas significativas (DUNCAM et al., 2013).

Toxicidade
Embora raros, efeitos adversos da anestesia podem ocorrer. As manifestações clínicas
podem ter início com sensação de dormência na língua e distúrbios visuais e auditivos,
e então progredir para contraturas musculares, inconsciência, convulsões, hipotensão arte-
rial, coma, depressão respiratória e morte (DUNCAM et al., 2013).

A profilaxia é a melhor estratégia para impedir os efeitos adversos, assim, deve-se evitar
a infiltração inadvertida em vasos sanguíneos, além de fazer uso da menor dose necessária,
respeitando a dose máxima de equivalência de 3,5 mg/kg de lidocaína (CFM, 2008).

Anestesia tópica
Na anestesia tópica, a analgesia é obtida pelo contato direto do agente anestésico sobre
a pele ou mucosas. É bastante utilizada na anestesia de conjuntiva ocular (tetracaína 1% por
gotejamento), mucosa nasal, conduto auditivo, mucosa orofaríngea (lidocaína 2% solução)
e mucosa uretral (lidocaína 2% geleia).

Anestésicos locais em geral não têm efeito tópico sobre a pele intacta. Preparações especí-
ficas são usadas para esse fim, como a mistura eutética de anestésicos locais (EMLA®). No
Brasil, a formulação mais comum é lidocaína 2,5% + prilocaína 2,5% em creme. A aplicação
deve ser feita em pele intacta, ao menos uma hora antes do procedimento, e coberta com
curativo oclusivo.

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 8
A anestesia local da pele também pode ser obtida pelo resfriamento
da pele com aplicação de gelo. A técnica consiste em usar um ou mais
cubos de gelo, provenientes de geladeira comum, contidos em plástico
ou dentro da própria forma individual de plástico, para evitar que
a água escorra, fazendo suave compressão no local a ser tratado
por 5 a 10 minutos. Como o efeito anestésico é efêmero, recomenda-se
repetir o processo logo que a ação comece a desaparecer (GADELHA;
COSTA, 2017).

A anestesia local cutânea tem como principais indicações pequenos procedimentos derma-
tológicos, como curetagem, shaving, aplicação de toxina botulínica, exérese de acrocórdons,
microagulhamento, além de auxiliar nas infiltrações e punções por agulhas.

Existem diversas formulações tópicas de anestésicos que devem ter


seu uso pautado no custo-benefício e na segurança do paciente. Para
saber sobre outras formulações, acesse as referências: <http://www.
surgicalcosmetic.org.br/detalhe-artigo/66/Anestesicos-topicos>.

Anestesia local infiltrativa


Na infiltração local o agente atua diretamente sobre as terminações nervosas, infiltran-
do-se no interior do tecido a ser operado. A anestesia consiste na injeção de uma solução
diretamente nos tecidos onde se quer anestesiar. Convém ressaltar que, embora o impulso
nociceptivo seja abolido, as sensibilidades tátil e térmica podem estar preservadas (DUN-
CAM et al., 2013).

Os anestésicos locais podem ser injetados por via intradérmica ou subdérmica. A adminis-
tração intradérmica produz uma elevação visível na pele, e o início de ação do anestésico é
quase imediato. As injeções subdérmicas agem mais lentamente, mas em geral produzem
muito menos desconforto para o paciente (MAYEAUX, 2012).

A infiltração local tem como principais indicações as cirurgias cutâneas e subcutâneas de


pequeno porte, como biópsias, exérese de nevos, lesões suspeitas, cistos e lipomas.
Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde
Procedimentos dermatológicos em APS I 9
TÉCNICA DO PROCEDIMENTO – ANESTESIA LOCAL INFILTRATIVA

• Após antissepsia, esticar a pele com a mão não dominante


antes de inserir a agulha (usar agulhas finas, como a 13x0,45
mm; para aspiração do anestésico pode usar a agulha 40x1,2
mm). Inserir a agulha na pele em um ângulo de 15 ou 30 graus.

Fonte: Mayeaux (2012).

• Depois que a agulha é inserida na pele, pode-se puxar o


êmbolo para verificar se a ponta da agulha não está em uma
localização intravascular (evitar movimentar a agulha após a
penetração na pele).

• Fazer uma pausa após a entrada da agulha na pele e adminis-


trar lentamente o anestésico (Tentar fazer com que o paciente
fale ou ria. Os pacientes temem a entrada da agulha e, depois
que se conscientizam de que o desconforto foi menor do que
o esperado, eles frequentemente relaxam).

Fonte: Mayeaux (2012).

• Ao injetar em locais lacerados para reparo, inserir a agulha na


borda do ferimento, e não na pele intacta. A inserção de uma
agulha em uma borda de ferimento causa menos desconforto.

• A injeção intradérmica produz uma nodulação na pele.

Fonte: Duncam et al. (2013).

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 10
Bloqueio de campo
No bloqueio de campo, o anestésico é infiltrado ao redor do tecido a ser operado. Con-
tudo, ele leva mais tempo para agir do que os bloqueios intradérmicos. Não é incomum
que um bloqueio necessite mais do que cinco minutos para atingir seu efeito completo
(MAYEAUX, 2012).

Tem como indicações principalmente a drenagem de abscesso, visto que a anestesia infil-
trativa é ineficaz devido à acidez do meio infectado. Além disso, usa-se o bloqueio de campo
quando se deseja preservar a topografia da lesão, visto que a anestesia local infiltrativa
promove distorção na pele devido ao volume de anestésico infiltrado (GUSSO; LOPES, 2012).

TÉCNICA DO PROCEDIMENTO – BLOQUEIO DO CAMPO

• O bloqueio de campo pode ser realizado em um padrão com


forma de quadrado ou de losango em torno do ferimento. São
necessárias apenas duas perfurações cutâneas. Após antissep-
sia, a agulha passa ao longo de um lado da excisão proposta,
sob a derme, e o anestésico é administrado à medida que se
traciona a agulha sem sair da pele.

Fonte: Mayeaux (2012).

• A agulha é então redirecionada para o outro lado da excisão


proposta, e o anestésico é administrado à medida que a
agulha é retirada sem sair do local inicial de punção.

Fonte: Mayeaux (2012).

• Nas grandes lesões e nas lesões subcutâneas (como cistos e


abscessos), a agulha também pode ser redirecionada abaixo da
lesão se for necessária a dissecção profunda. Toda essa técnica
é repetida no lado oposto da lesão. Ter cuidado para não injetar
anestésico nas lesões císticas porque isso pode causar ruptura
abaixo da pele ou para fora.

Fonte: Mayeaux (2012).

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 11
Bloqueio troncular

O bloqueio troncular consiste na injeção da solução anestésica no trajeto dos troncos nervo-
sos ou ao longo das fibras dos nervos periféricos. Na atenção primária, o bloqueio troncular
mais utilizado é o bloqueio digital.

O bloqueio nervoso digital anestesia simultaneamente os quatro nervos digitais que cruzam
as laterais dos dedos. Essa técnica propicia uma duração maior da anestesia do que a infil-
tração local e não distorce as marcas anatômicas para cirurgia dos dedos.

A secção transversa do dedo revela os nervos cruzando lateralmente de cada lado dele. Um
nervo cursa no aspecto plantar ou palmar e um é mais dorsal.

Figura 1 - Secção transversa de dedo

Fonte: Mayeaux (2012).

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 12
TÉCNICA DO PROCEDIMENTO – BLOQUEIO TRONCULAR

• Inserir a agulha próximo à junção das superfícies dorsal e


lateral do dedo. Deslizar a agulha ao longo da superfície
lateral, injetando à medida que se traciona a ponta para o
local de inserção.

• Sem retirar a agulha da pele, redirecionar a ponta da agulha


ao longo do dorso do dedo e novamente administrar o
anestésico à medida que a agulha é puxada para trás.

• Administrar o anestésico ao longo do lado oposto do dedo


da mesma forma.
Fonte: Gusso e Lopes (2012).

• Uma técnica alternativa de bloqueio digital insere a agulha


lateralmente na base (porção proximal) do dedo, cerca de
metade da distância entre a articulação interfalângica proxi-
mal e a articulação interfalângica carpal.

• Inserir a agulha no osso e infundir o anestésico. Angular a


agulha em direção volar e dorsal (em leque). Repetir essa
técnica no lado oposto.

Fonte: Mayeaux (2012).

Vamos assistir uma vídeo aula sobre as diversas técnicas de anestesia


local? Confira: https://www.youtube.com/watch?v=h7e7mn2ZUjc&t=205s

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 13
Não tentar qualquer avaliação da eficácia do anestésico ou o próprio
procedimento até que o bloqueio tenha pelo menos cinco minutos
para agir. Muitos médicos novatos ou impacientes continuam a adi-
cionar mais volume de anestésico quando alguns minutos a mais
iriam produzir o efeito desejado; o volume adicional não acelera a
anestesia (MAYEAUX, 2012).

Atualmente, a lidocaína e a mepivacaína, de mesma potência e nível de segurança, são os


dois anestésicos mais recomendados em procedimentos dermatológicos extra-hospitala-
res. A mepivacaína tem algumas vantagens sobre a lidocaína, como o início de ação um
pouco mais rápido, duração mais longa e menor efeito vasodilatador. A adrenalina é o vaso-
constritor mais comumente associado a anestésicos locais e empregados nas diluições de
1:100.000, 1:200.000 e, menos comumente, 1:50.000. Todavia, substâncias como a levonor-
defrina e a norepinefrina, respectivamente, 15 e 25% menos potentes que a adrenalina, já
de uso habitual na odontologia, podem ser, eventualmente, empregadas em cirurgia derma-
tológica, sobretudo em pacientes hipertensos (GADELHA; COSTA, 2017).

Principais anestésicos locais utilizados em cirurgia dermatológica,


potência, duração, dose máxima em adultos e crianças

Anestésico
Duração Dose máxima Dose para
Concentrações Toxicidade Potência
do efeito para adultos crianças
mais comuns
150mg ou
Lidocaína 1 a 2% 300mg ou 3,5 a 2,5mg/kg
2 4 1 hora
sem adrenalina 4,5mg/kg Regra de Young
ou Clark

Lidocaína 1 a 2%
com adrenalina
2 4 Até 3 horas 500 ou 7mg/kg 3,5 a 4,5mg/kg
a 1/100.000 ou
1/200.000

Mepivacaína a 3%
sem adrenalina
4,5 a 6,6mg/kg,
Mepivacaína a 2% 4,5 a 6,6mg/kg
1,5 a 2 4 1 a 6 horas no máximo 5
com adrenalina até 400mg
tubetes
1/100.000 a
1/200.000

Quadro 1 - Principais anestésicos locais utilizados em cirurgia dermatológica, potência, duração,


dose máxima em adultos e crianças.

Fonte: Gadelha e Costa (2017).

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 14
Os vasoconstritores associados a anestésicos são frequentemente utilizados em cirurgia der-
matológica, pois compensam a ação vasodilatadora habitual dos anestésicos locais, reduzem
a perfusão sanguínea no local injetado pela vasoconstrição, diminuindo a absorção percutâ-
nea e, obviamente, os picos séricos e a toxicidade dos anestésicos, aumentam a duração do
efeito, mantendo por mais tempo uma quantidade maior de anestésico nos nervos e nos
tecidos circunvizinhos, além de reduzirem o sangramento (GADELHA; COSTA, 2017).

As soluções contendo vasoconstrictor não devem ser injetadas em


áreas com circulação terminal, como dedos e pênis, pelo risco de
ocorrer gangrena dessas estruturas (DUNCAM et al., 2013).

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 15
Aula 3: Suturas e drenagem de abscesso

Na situação-problema deste módulo, dona Vitória procurou a UBS para realizar drenagem
do abscesso nas costas. Vamos ver como realizar esse procedimento?

Suturas
O náilon é a sutura não absorvível mais usada em cirurgia de pele. Tem alta força tensora,
mínima reação no tecido, excelentes propriedades elásticas e baixo custo. O único ponto
negativo do náilon é seu alto grau de memória. Um grande número de nós (três ou quatro)
é recomendável para segurar a sutura no lugar (GADELHA; COSTA, 2017).

Para a escolha da espessura do fio a ser utilizado na pele, utiliza-se como regra básica: 5-0
na face, 4-0 no pescoço, 3-0 ou 4-0 no tronco, 3-0 para nuca, couro cabeludo e membros.
Em extremidades dos dedos, regiões de mãos e pés com menor tensão, pode-se utilizar
fios mais finos, como o 4-0. Nas pálpebras, utiliza-se fio 5-0 ou 6-0 (GUSSO; LOPES, 2012).
É importante destacar que o tamanho e a tensão sobre a lesão também influenciam sobre
a espessura do fio a ser utilizado.

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 16
As linhas de tensão da pele são linhas que seguem os sulcos formados
quando a pele está relaxada. Sempre que possível, as excisões de
pele devem ser realizadas em paralelo ou coincidindo com as linhas
de tensão da pele. Isso colocará a máxima tensão de fechamento
em paralelo às linhas de máxima extensibilidade, produzindo um
resultado cosmético agradável (PALERMO et al., 2012).

Figura 2 - Linhas de força ou linhas de tensão da pele. Em geral são contrárias


ao maior eixo do músculo. As incisões na pele devem seguir essas linhas.

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 17
É importante que o médico de atenção primária tenha conhecimento sobre os principais
tipos de sutura e possa utilizá-los quando necessário na realização dos procedimentos cirúr-
gicos cutâneos

Imagem Interativa 1 – Tipos de pontos, no AVASUS.

Bordas de ferimentos com espessuras diferentes precisam ser com-


pensadas durante a realização do ponto para não se formar um
espaço inadequado devido à distância entre as bordas, o que pode
gerar invaginação das bordas e contato pele-pele com consequente
cicatriz inestética e infecção. A distância entre os pontos deve ser a
necessária para manter as bordas unidas o mais retilineamente pos-
sível. Em geral, na face, usa-se distâncias entre 2 e 3 mm e, nas outras
regiões do corpo, de 5 mm aproximadamente (GUSSO; LOPES, 2012).

Drenagem de abscesso

Na situação-problema deste módulo, vimos o caso da usuária Vitória apresentando um abs-


cesso no dorso. Vamos aprender sobre o que pode ser feito nesse caso?

Abscessos, quando mal delimitados e sem flutuação ou menores de 5 mm, podem ter tra-
tamento conservador, devendo o quadro ser revisado em até 48 horas. A terapia conserva-
dora para os pequenos abscessos inclui compressas mornas úmidas e antibióticos anties-
tafilococos.

Quando não se resolvem os abscessos por drenagem espontânea, se encontram bem delimi-
tados e com flutuação, o tratamento deles é, primariamente, por meio de incisão e drenagem.

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 18
Figura 3 - Técnica do procedimento de drenagem de abscesso.

Vídeo aula de Simulação de drenagem do abscesso:

https://www.youtube.com/watch?v=f3Zc6_-kUzY&t=7s.

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 19
- Antissepsia e colocação de campos estéreis: previne a contaminação da lesão por outros
microrganismos.

- Anestesia: por bloqueio troncular ou de campo em leque ou circular à lesão, na pele sã.
Pode ser realizado um botão anestésico no local da incisão (o ambiente de um abscesso é
ácido, o que pode causar perda da eficácia do anestésico).

Figura 4 - Bloqueio de campo em leque

Fonte: Gusso e Lopes (2012).

- Incisão: a incisão é realizada no ponto de maior flutuação e, preferencialmente, na direção


das linhas de menor tensão da pele.

Figura 5 - Incisão de abscesso seguindo a linha de tensão

Fonte: Gusso e Lopes (2012).

- Após, evacua-se o conteúdo purulento. A cavidade deve ser explorada com uma pinça
hemostática a fim de desfazer possíveis septações dentro do abscesso. O abscesso não deve
ser espremido. Em seguida, deve-se lavar a loja, injetando soro fisiológico com baixa pres-
são, utilizando-se uma seringa.

- Drenagem: após o esvaziamento, coloca-se um dreno de látex (dreno de Penrose), que


deve ser tracionado diariamente e retirado após cessar a drenagem. Como alternativa, é
possível utilizar como dreno uma gaze com a ponta inserida na cavidade ou com um dedo
de luva estéril com as pontas cortadas umedecido em soro fisiológico.

Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde


Procedimentos dermatológicos em APS I 20
Figura 6 - Alocação de dreno em espaço deixado pelo abscesso
Fonte: Gusso e Lopes (2012).

- Curativo: ao final do procedimento, faz-se um curativo, que deverá ser trocado todos os
dias. O paciente deve ser instruído a manter o local da drenagem limpo, seco e coberto com
material absorvente.

Pedir para o paciente retornar em um ou dois dias para remoção das gazes e do dreno, e
para verificação da ferida. Associar compressas mornas no local até melhora, podendo-se
usar analgésicos ou anti-inflamatórios para dor.

A antibioticoterapia pós-drenagem de abscesso está indicada se hou-


ver febre ou manifestações sistêmicas, celulite coexistente, infiltração
local importante, presença de múltiplos abscessos, se imunodeprimido
ou se o paciente for de alto risco para endocardite (ex.: enxerto vas-
cular, telas, cateteres e válvulas). Os antibióticos mais utilizados são:
penicilinas, cefalosporinas de 1ª geração e quinolonas (BRASIL, 2011).

Deve-se evitar o manejo de alguns tipos de abscesso na APS pelo risco de complicações sis-
têmicas, representando contraindicações ao procedimento nesse nível de assistência:

•  abscessos excessivamente grandes ou profundos ou abscessos perirretais;

•  abscessos faciais nas dobras nasolabiais;

•  abscessos da mão e dos dedos;

•  abscessos em região cervical anterior e lateral.

Agora sabemos o que pode ser feito com o abscesso da dona Vitória da situação-proble-
ma. Na próxima unidade, teremos mais aulas sobre procedimentos dermatológicos na APS.
Bons estudos!
Procedimentos Médicos em Atenção Primária à Saúde
Procedimentos dermatológicos em APS I 21

Você também pode gostar