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Construção de um instrumento de Sistematização da Assistência de Enfermagem

Perioperatória -SAEP para utilização no pré e pós-operatórios imediatos em uma


enfermaria cirúrgica.
Ana Paula Rodrigues Pereira¹
Noemy Thayane Duarte da Silva1
Yasmin Amorim Campelo1
Ingrid Arruda de Sousa ¹

INTRODUÇÃO:

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define segurança do paciente como


diminuição do risco de danos desnecessários relacionados à assistência em saúde.
Compreende-se que a segurança do paciente é uma das questões fundamentais da OMS.
Em 2019 o Ministério da Saúde (MS) no Brasil, em parceria com a Organização Pan-
Americana da Saúde (OPAS) da OMS apresentaram o manual de implementação de
medidas para o projeto segurança do paciente: “Cirurgias seguras salvam vidas”. Este
manual foi desenvolvido para ajudar a equipe cirúrgica a reduzir a ocorrência de danos
ao paciente.
Também para melhorar a assistência à saúde foi criada a Resolução do Conselho
Federal de Enfermagem (COFEn) nº 358/20094, onde toda instituição de saúde que
presta cuidado profissional de enfermagem deverá utilizar a SAE, possibilitando a
implementação na prática assistencial de seus conhecimentos técnico-científicos e de
humanização, organizando o trabalho profissional quanto a método, pessoal e
instrumentos, tornando possível a operacionalização do processo de enfermagem- PE
( JOST, 2018).
A Resolução 358/2009 do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) define o
PE como um instrumento metodológico que orienta o cuidado de enfermagem, baseado
na aplicação prática de teorias de enfermagem, a ser desenvolvido por cinco etapas, a
saber: coleta de dados ou histórico de enfermagem; diagnóstico de enfermagem;
planejamento da assistência de enfermagem; implementação; e avaliação de
enfermagem.
O PE viabiliza o raciocínio clínico do enfermeiro, a organização da assistência e
a documentação da prática profissional, e por conseguinte um cuidado seguro baseado
em evidências. Portanto, o enfermeiro precisa estruturar a sua ferramenta metodológica
de trabalho, que é o PE, para consolidar e garantir a segurança do paciente na assistência
de enfermagem perioperatória, que deverá ser pautada nos princípios de segurança e
qualidade do cuidado (CARDOSO, 2021)
No contexto perioperatório, o PE é denominado Sistematização da Assistência de
Enfermagem Perioperatória (SAEP), que consiste em um modelo assistencial que foi
elaborado com a intenção de facilitar a assistência de enfermagem perioperatória,
configurando-se como um instrumento que contém informações individuais do paciente,
apresentando dados de identificação, anamnese, exame físico, diagnóstico de
enfermagem, bem como, intervenções e resultados de enfermagem e avaliação
(CARDOSO, 2021).
A SAEP é um instrumento imprescindível para a assistência de enfermagem e
para o paciente, uma vez que proporciona uma integração planejada da equipe
multidisciplinar de saúde com o paciente/familiares durante todo o processo operatório.
Destarte, tendo em vista a importância da SAEP para a melhoria da qualidade e da
segurança do paciente cirúrgico, buscou-se, por meio desta pesquisa, fundamentar e
fornecer subsídios para a sua implementação através de um instrumento de SAEP para
os pacientes em pré e pós-operatório imediatos de uma clínica cirúrgica.

OBJETIVO:

Descrever a experiência de acadêmicos de enfermagem sobre a construção de um


instrumento de SAEP para uma clínica cirúrgica de um Hospital em Belém.

MÉTODO:

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, realizado a partir


da vivência de acadêmicas de Enfermagem do quinto semestre de uma Instituição de
Ensino Superior Pública do Estado do Pará, durante a atividade curricular e
desenvolvimento das atividades integradas de saúde (AIS) do componente curricular
enfermagem nas clínicas, na clínica cirúrgica de mastologia, urologia e tórax de um
hospital de referência da cidade de Belém- Pará, no período de abril a maio de 2023.
As AIS fazem parte do projeto pedagógico do curso de graduação de
Enfermagem da Universidade do Estado do Pará, a qual ocorre semestralmente desde
2014, as quais têm seu desenvolvimento a partir de metodologias ativas, tendo como
prioridade a metodologia de problematização, esquematizado no arco de Maguerez. O
arco de Maguerez é uma metodologia de problematização cuja estratégia de ensino
aprendizagem possibilita a interação entre alunos e professores dando a oportunidade da
construção de conceitos e compartilhar vivência, onde compreende cinco etapas:
observações da realidade, elaboração do problema, levantamento dos pontos chaves,
teorização, hipótese de solução e aplicação à realidade (BERBEL, 2012).
Nos primeiros dias de prática hospitalar ocorreu a observação da realidade, as
discentes conheceram a estrutura da clínica e sua rotina institucional, observaram os
possíveis problemas que seriam encontrados no local e as dificuldades com os registros
das atividades de enfermagem desenvolvidas. Percebeu-se que as enfermeiras fazem as
PE no pré operatório imediato , sem impresso próprio e não há uma PE específica para o
período pós operatório.
Nesta clínica há um impresso de diagnósticos de enfermagem (DE), na qual
geralmente é preenchido no momento da admissão e a prescrição de enfermagem ficam
em outro impresso ao lado das prescrições médicas. Nesta segunda etapa do estudo, as
discentes levantaram os principais pontos-chaves e perceberam que a ausência de um
instrumento próprio para a SAEP contendo os DE e as prescrições de enfermagem no
mesmo impresso o poderiam dificultar a implementação do PE e a assistência ao
paciente. Assim, foi elaborada a seguinte temática “Construção de um instrumento da
SAEP”.
Dando seguimento às etapas do Arco de Maguerez, realizou-se um levantamento
bibliográfico nas bases de dados Scielo e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) sobre a
importância da sistematização da assistência de enfermagem no perioperatório usando
os seguintes Descs: Sistematização da Assistência de Enfermagem, Assistência
perioperatória, Cuidados de Enfermagem, dessa busca selecionou os artigos completos
que contemplavam a temática. Após a conclusão dessa etapa, a próxima foi a discussão
sobre a proposta de intervenção que melhor contribuiria para o atendimento dos
profissionais da equipe com os pacientes.
Assim, na última etapa, foi construído o instrumento, sendo ele composto por 3
DE no pré-operatório e 4 DE no pós-operatório imediato mais frequentes durante esse
período e sugerido à equipe do hospital, bem como suas respectivas intervenções. O
instrumento foi apresentado para equipe de enfermeiras e técnicos de enfermagem da
instituição onde puderam sugerir alterações e opinar sobre o mesmo.

RESULTADOS:

Após a análise dos artigos e a observação dos principais DE e as prescrições de


enfermagem da clínica cirúrgica do Hospital Ophir Loyola, foi formulado um
instrumento impresso composto por duas laudas, constituído de perguntas em check list.
O instrumento foi dividido em três partes: informações de identificação, DE e as
prescrições de enfermagem no pré-operatório e DE e as prescrições do pós operatório.
A primeira etapa é constituída com informações do paciente como: nome,
registro, leito, cirurgia e data, pois é preciso que a equipe esteja atenta aos requisitos da
assistência para cada paciente, preenchendo conforme a chegada do paciente do bloco
cirúrgico, sendo de tamanha relevância para a equipe os dados para identificação. Já na
segunda parte do instrumento, foi inserido os principais diagnósticos (tabela 1.) e
prescrições de enfermagem (tabela 2.) utilizados, divididos em pós e pré-operatório.
Portanto, dos 7 diagnósticos selecionados para a SAEP imediato, 3 são DE que
pertencem ao pré-operatório imediato e 4 do pós operatório imediato, sendo
apresentados na tabela a seguir.

Tabela 2. Diagnósticos de enfermagem no período perioperatório.


Período Diagnósticos De Enfermagem
Perioperatório
Pré-operatório Ansiedade relacionada ao procedimento cirúrgico
imediato Risco de infecção relacionado a procedimento
invasivo
Risco de integridade da pele prejudicada
Pós-operatório Dor aguda
imediato Risco de desequilíbrio eletrolítico
Risco de alteração de temperatura
Risco de infecção

Ademais, as prescrições de enfermagem foram realizadas a partir dos DE e suas


necessidades, sendo elas 12 para o pré-operatório imediato e 13 para o pós-operatório
imediato, apresentadas na tabela a seguir.

Tabela 2 . Prescrições de enfermagem no período perioperatório.


Período Prescrições de Enfermagem
Perioperatório
Pré-operatório Orientar o paciente sobre o procedimento
imediato Orientar sobre a rotina do hospital
Orientar sobre a data e hora do procedimento
Explicar tipo de anestesia
Verificar termos de cirurgia e anestesia
Orientar jejum a partir das _
Oferecer clorexidina degermante, orientar e encaminhar para
banho
Realizar tricotomia em _
Administrar medicação pré-anestésica
Organização do prontuário completo e pulseira de
identificação
Retirada de adornos metálicos e próteses
Verificar TPR e PA
Pós-operatório Administrar analgésico com prescrição médica
imediato Avaliar e registrar características da dor, EVA _
Avaliar eficácia do analgésico
Investigar possíveis causas
Monitorar e registrar débito de drenos
Registrar a perda de líquidos adicionais associados a vômito,
diarreia e febre.
Realizar controle de temperatura, desligar refrigeração do
quarto
Promover aquecimento corporal com mantas e cobertores
Administrar medicação antitérmica, conforme prescrição
médica Monitorar sinais e sintomas de infecção (edema,
hiperemia, calor e rubor) na incisão.
Examinar condição de incisão, curativos e cateteres
Realizar troca de curativos (S/N)
Administrar antibióticos, conforme prescrição médica.

DISCUSSÃO:

A SAEP surgiu como um instrumento que pudesse facilitar o PE e o seu registro,


tem como objetivos levantar informações do paciente, identificar os principais
diagnósticos de enfermagem no perioperatório e planejar assistência para o paciente. O
instrumento impresso direciona os profissionais como uma forma de checklist no pré e
pós operatório imediato, relacionando os principais DE e prescrições de enfermagem, ao
lado vai estar o horário da assistência e assinatura do profissional que realizará a
checagem. Permite que o trabalho da equipe esteja integrado, que o DE esteja ao lado da
prescrição de enfermagem, em que a equipe de enfermagem utilize um só impresso para
o diagnóstico e prescrição. Além disso, irá assegurar uma melhor qualidade de
atendimento e segurança do paciente nos períodos de pré, intra e pós operatório
imediato (MONTEIRO; MELO; AMARAL; PRADO, 2014).
De acordo com JOST et al. (2018) a SAEP imediato auxilia a equipe de
enfermagem na otimização de tempo e na elaboração da consulta completa e integral, já
que em hospitais de grande porte a demanda tende a ser maior e o fluxo também,
sobrecarregando a equipe e assim não oferecendo um atendimento livre de prejuízos.
Além disso, é a SAEP imediata que vai direcionar e organizar os enfermeiros em
relação ao cuidado prestado e do que precisa realizar para a segurança do paciente.
Ademais, os diagnósticos de enfermagem e prescrição de enfermagem retirados
respectivamente do NANDA e do NIC, são os pilares do instrumento criado. A SAEP
imediato na clínica cirúrgica contém as informações pessoais do cliente, como nome,
tipo de cirurgia, leito e data, e foi separado em grupos os diagnósticos de enfermagem e
prescrição de enfermagem. Com isso, as orientações e intervenções de enfermagem são
baseadas e formuladas com os princípios básicos de universalidade, integralidade e
equidade.
Destarte, o instrumento impresso construído traz benefícios para toda a equipe de
profissionais e pacientes, sendo de total relevância para se obter um controle e
conhecimento do que aconteceu ao longo das horas com aquele paciente e do que
precisa para as próximas horas até o período imediato acabar. Serve como fonte de
pesquisa, instrumento operacional e documento de forma que caso ambas partes
precisem, poderá ser utilizado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

A utilização de um instrumento de SAEP é essencial dentro do ambiente


hospitalar, tendo em vista que essa ferramenta contribuirá de maneira significativa na
diminuição de riscos, prevenindo as diversas complicações que podem existir no
processo anestésico-cirúrgico. E possui o intuito de proporcionar uma maior
organização e melhor qualificação do atendimento oferecido pelo profissional
enfermeiro, oferecendo apoio e segurança que são indispensáveis, não só para o paciente
mas também para a sua família.

CONTRIBUIÇÕES PARA A ENFERMAGEM:

Este estudo contribuirá para a comunidade acadêmica e assistencial de


enfermagem uma vez que, através da utilização de um instrumento de SAEP, o
enfermeiro pode prestar uma melhor assistência, mais organizada, humanizada e
também garante maior segurança para que os cuidados de enfermagem sejam feitos,
resultando em uma melhora na qualidade do atendimento prestado ao paciente.

DESCRITORES:
Sistematização da Assistência de Enfermagem, Assistência perioperatória, Cuidados de
Enfermagem.

REFERÊNCIAS:

BERBEL, N. A. A Metodologia da Problematização em três versões no contexto da


didática e da formação de professores. Revista Diálogo Educacional, vol. 12, n. 35,
2012, p. 103-120. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Paraná, 2012.
CARDOSO, R. B. et al. Segurança do paciente na assistência de enfermagem
perioperatória e as taxonomias de enfermagem. Revista de enfermagem. Rio de
Janeiro, 2021.

COSTA, A. M. Importância da implementação da assistência de enfermagem (SAE):


Uma abordagem bibliográfica: 2000-2012. Manancial – Repositório Digital da
UFSM. Rio Grande do Sul, 2012.

JOST, M. T.; VIEGAS, K.; CAREGNATO, R. C. A. Sistematização da assistência de


enfermagem perioperatória na segurança do paciente: revisão integrativa. Rev.
SOBECC. São Paulo, 2018.
APÊNDICE
CLÍNICA CIRÚRGICA
SAEP- SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM ENFERMAGEM
PRÉ E PÓS- OPERATÓRIA IMEDIATA
Nome: Reg:
Leito:
Cirurgia:
Data:
DIAGNÓSTICOS DE PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM Horário ASS
ENFERMAGEM .
( ) Ansiedade ( ) Orientar o paciente sobre o
relacionada ao procedimento;
procedimento cirúrgico ( ) Orientar sobre a rotina do hospital;
( ) Orientar sobre a data e hora do
procedimento;
( ) Verificar termos de cirurgia e
anestesia.
( ) Risco de infecção ( ) Orientar jejum a partir das:
relacionado ao __________;
procedimento invasivo. ( ) Oferecer clorexidina degermante,
orientar e encaminhar para banho às
___________;
( ) Realizar tricotomia em:
____________________ às
____________;

( ) Risco de integridade ( ) Verificar TPR e PA .


da pele prejudicada ( ) Examinar rotineiramente a pele e
atentar para a umidade, coloração e
elasticidade;
( ) Verificar se há histórico de problemas
dermatológicos que possam indicar
suscetibilidade especial;
( ) Retirar próteses e adornos.

RETORNO DO BLOCO CIRÚRGICO


Data: Hora:
PÓS-OPERATÓRIO IMEDIATO
DIAGNÓSTICO PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM Horário ASS.
DE
ENFERMAGEM
( ) Dor Aguda ( ) Administrar analgésico conforme
prescrição médica;
( ) Avaliar e registrar características da
dor. EVA: _______
( ) Avaliar eficácia da analgesia e
comunicar;
( ) Riscos de ( ) Monitorar e registrar débito de drenos;
desequilíbrio ( ) Registrar e comunicar a perda de
eletrolítico. líquidos adicionais associados à vômito,
diarreia e febre.
( ) Risco de ( ) Realizar controle de temperatura,
alteração de desligar refrigeração do quarto;
temperatura ( ) Promover aquecimento corporal com
mantas e cobertores;
( ) Administrar medicação antitérmica.
Conforme prescrição médica,
( ) Risco de ( ) Monitorar sinais e sintomas de
infecção infecção (edema, hiperemia, calor e rubor)
na incisão;
( ) Examinar condição de incisão,
curativos e cateteres;
( ) Realizar troca de curativos (S/N);
( ) Administrar antibióticos, conforme
prescrição médica.

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