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05-20 (Mar - Mai 2015) Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research - BJSCR

PROCESSO DE ENFERMAGEM: DIFICULDADES


ENFRENTADAS PELOS ENFERMEIROS DE UM
HOSPITAL PÚBLICO DE GRANDE PORTE NA
AMAZÔNIA, BRASIL
NURSING PROCESS: DIFFICULTIES FACED BY THE NURSES OF A LARGE PUBLIC
HOSPITAL FROM AMAZONIA, BRAZIL

LAURINDO PEREIRA DE SOUZA1*, CIDIA VASCONCELLOS2, ANDRELISA VENDRAMI PARRA3


1. Mestrando em Ciências da Saúde pelo IAMSPE/SP; 2. Orientadora, Pós doutorado em Medicina pela USP; 3. Co-orientadora,
Doutorado em Ciências da Saúde pela FAMERP e Docente da UFMS.
Artigo extraído da dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde IAMSPE/SP

* Rua Pedro Kemper, 3660, Parque Alvorada, Cacoal, Rondônia, Brasil. CEP: 76961-591. laurindosorrisox@hotmail.com

Recebido em 13/02/2015. Aceito para publicação em 19/02/2015

RESUMO ABSTRACT
Este estudo teve por objetivo identificar e analisar as difi- This study aimed to identify and analyze the difficulties en-
culdades encontradas pelos enfermeiros acerca da utiliza- countered by nurses about the use of the nursing process (NP)
ção do processo de enfermagem (PE) em um hospital pú- in a large public hospital in the South with in the Legal Ama-
blico de grande porte no interior Sul da Amazônia Legal. zon. This is a field study with qualitative, descriptive approach,
Trata-se de um estudo de campo com abordagem qualita- the cross-sectional nature, using as technique the semistruc-
tiva, descritiva, de caráter transversal, utilizando como tured interview. For data analysis was based on content analy-
técnica a entrevista semiestruturada. Para a análise dos sis, which emerged 08 categories, the sample consisted of 27
dados fundamentou-se na Análise de Conteúdo, que emer- nurses, data collection was based on a semistructured question
giram 08 categorias, a amostra foi composta por 27 enfer- naire with objective and guiding questions about the theme.
meiros, a coleta de dados baseou-se em um questionário The survey results revealed that nurses have difficulties in
semiestruturado com perguntas objetivas e norteadoras implementing the NP due incipient knowledge on the subject,
acerca da temática. O resultado da pesquisa revelou que os the phase that were found to have greater difficulty was the
enfermeiros têm dificuldades em executar o PE, devido nursing diagnosis, the study also revealed that most follow
conhecimento insipiente sobre o assunto, a fase que revela- strong influence of the biomedical model/ Cartesian. Given the
ram ter maior dificuldade foi o diagnóstico de enfermagem, above it is concluded that nurses are over worked multi-tasking
o estudo revelou ainda que a maioria segue fortes influen- and everyday tasks not assigned to profession and relegates to
cias do modelo biomédico/cartesiano. Diante do exposto the background the planning of activities related to NP. Even
conclui-se que os enfermeiros estão sobrecarregados de show fails and difficulties in implementing the NP, the nurses
multitarefas e afazeres cotidianos não atribuídos a profis- adopt strategies arising from the content analysis that can im-
são e relega para segundo plano o planejamento das ativi- prove this every day practice such as: improving the existing
dades relacionadas ao PE. Mesmo evidenciando falhas e instrument provide training and capacity building, adapting the
dificuldades na realização do PE, os próprios enfermeiros framework of the nursing staff, computerize the NP through
mostram estratégias advindas da análise de conteúdo que software.
podem melhorar esta prática cotidiana, como: melhorar o
KEYWORDS: Nursing, nursing process, difficulties, sys-
instrumento existente oferecer treinamento e capacitação,
tematization of nursing care, the care process.
adequar o quadro do pessoal da enfermagem, informatizar
o PE através de software.
1. INTRODUÇÃO
PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem, processo de enfer-
magem, dificuldades, sistematização da assistência de enfer- O processo de enfermagem (PE) é um método cientí-
magem, processo do cuidar. fico de trabalho que proporciona melhoria significativa
da qualidade da assistência prestada ao cliente através do

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planejamento individualizado das ações de enfermagem. fase ou elaborar um diagnóstico de enfermagem errado
Permitindo assim a continuidade e a integralidade da pode comprometer as demais fases do processo12. E se
assistência humanizada, a valorização do enfermeiro, tem observado nas unidades de saúde dificuldades para
além de fortalecer e engrandecer o trabalho em equipe1. implementar o PE. Acredita-se que tais dificuldades di-
E todas essas ações sistematizadas e inter-relacionadas, zem respeito à forma como o ensino desta temática tem
visando à assistência ao ser humano, praticadas de forma sido conduzido. Além disso, a preocupação com a técni-
dinâmica, denomina - se processo de enfermagem2. ca em detrimento à apreensão de uma reflexão crítica
O processo é importante e faz-se necessário, portanto para o planejamento do cuidado é bastante comum nos
é preciso que haja, a partir da conscientização dos pro- centros de ensino12.
fissionais enfermeiros, a iniciativa por parte dos mesmos As dificuldades encontradas na implementação do
em buscarem, através da Instituição, condições necessá- PE são apontadas por acadêmicos de enfermagem, en-
rias para esta implantação3. Assim, o processo de enfer- fermeiros e docentes em diversos trabalhos, o que justi-
magem é a essência e o cerne da profissão, sendo im- fica a relevância deste estudo para que se possa pensar
portante a sua utilização na assistência ao paciente, para em superá-las no cotidiano da prática da enfermagem
nortear a prática da enfermagem1,4. assistencial.
O processo de enfermagem é uma atividade privativa Desse modo, buscando compreender as dificuldades
do enfermeiro, que utiliza método e estratégia de traba- que os enfermeiros tem para desenvolver o PE, em um
lho científico para identificar e propor as ações de en- Hospital do Interior Sul da Amazônia Legal, e a escassez
fermagem1,4,5,6. É agente na comunicação, pois o seu de estudo aplicados em hospitais nessa região acerca do
registro serve de intercomunicação para toda a equipe PE, e frente a importância que o tema assume para o
prestar o atendimento individualizado e contínuo7. trabalho do enfermeiro é que desenvolveu-se essa pes-
A lei 74988 de 25 de junho de 1986 dispõe sobre a quisa com o objetivo de identificar e analisar as dificul-
regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras dades encontradas pelos enfermeiros acerca da utilização
providências em seu Art.11 sendo exclusivo do enfer- do processo de enfermagem (PE) em um hospital públi-
meiro [... a consulta de enfermagem, prescrição de en- co de grande porte no interior Sul da Amazônia Legal.
fermagem...], sendo esta lei regulamentada pelo Decreto
94.406/879 que mantém estas mesmas determinações em 2. MATERIAL E MÉTODOS
seu Art.08.
O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN)10, Trata-se de um estudo de natureza qualitativa, descri-
através de sua Resolução 358/2009 Art. 1º afirma que o tiva, de caráter transversal, utilizando como técnica a
PE deve ser realizado, de modo deliberativo e sistemáti- entrevista semi-estruturada14, realizado em um hospital
co, em todos os ambientes, públicos ou privados, em que público de grande porte no interior Sul da Amazônia
ocorre os cuidados de enfermagem, considera ainda que legal. Que é referência em alta complexidade, funciona
a implantação da SAE constitui, efetivamente melhora sete dias por semana em regime de plantão, o atendi-
na qualidade da assistência de enfermagem.[... Art. 2º mento e feito somente a pacientes regulados via Sistema
mostra que o PE é organizado em cinco etapas in- Unido de Saúde (SUS).
ter-relacionadas, interdependentes e recorrente, sendo: Neste nosocômio há leitos de clínica médica, ortope-
I. Investigação de enfermagem, II. diagnóstico de en- dia, clínica cirúrgica, pediatria, centro de tratamento
fermagem, III. planejamento de enfermagem, IV. Im- intensivo (CTI) adulto e pediátrica, centro cirúrgico, e
plementação de enfermagem, V. avaliação de enferma- acompanhamento ambulatorial.
gem. O universo populacional foi composto por 53 enfer-
Baseado nos preceitos éticos e legais da profissão a meiros de ambos os sexos. Foram inclusos no estudo os
enfermagem tem procurado desenvolver sua prática com enfermeiros assistencialistas, os que tinham mais de seis
base no método científico, adotando o PE como forma (06) meses na instituição, concordar e assinar o termo de
de trabalho, o que torna possível a assistência individua- consentimento, foram excluídos aqueles enfermeiros que
lizada, ordenada e dirigida a resultados. As etapas de estavam, afastados por motivos de doença ou férias, os
investigação, diagnóstico de enfermagem, planejamento, que exercem suas funções de gerência de enfermagem,
implementação da assistência de enfermagem, e avalia- coordenação e serviços administrativos. Diante desses
ção dos resultados obtidos, têm sido objeto de diversos critérios, 26 enfermeiros foram excluídos da pesquisa,
estudos que têm como meta o aprimoramento da arte da um (01) recusou-se em participar, por sentir-se cons-
enfermagem e a ampliação dos conhecimentos científi- trangido com a gravação. Portanto com base nos crité-
cos de forma a atender mais adequadamente à clientela rios de exclusão determinou-se o universo amostral de
sob seus cuidados11. 27 enfermeiros.
Tendo em vista que as fases do processo de enfer- A coleta dos dados foi realizada por meio da técnica
magem são sucessivas e interrelacionadas, “pular” uma de entrevista semiestruturada14. O instrumento foi ela-
borado constando de questões objetivas acerca dos dados

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demográficos e questões norteadoras abertas relaciona- maioria dos participantes 19 residem na cidade onde a
das ao PE. pesquisa foi aplicada.
O período de coleta de dados ocorreu no mês de Dos resultados da pesquisa apresento a primeira ca-
março a maio de 2013, com horário pré-agendado no tegoria: caracterização dos fatores que influenciam a
local de trabalho. As entrevistas desenvolvidas nessa execução da primeira fase do processo de enferma-
pesquisa foram gravadas através de um iPad, versão gem reveladas pelos enfermeiros.
6.1(10B141) modelo MC706BR/A, utilizando o aplica- O cuidado é o núcleo da prática cotidiana de enfer-
tivo Audio Class Notes, as entrevistas gravadas ocorre- magem, a qual permite a manifestação de vários meios e
ram mediante a autorização dos sujeitos, para a análise características e o surgimento de seus métodos e instru-
dos dados escolhemos a Análise de Conteúdo33 a qual mentos de trabalho12. Dentre todas essas afirmações vá-
fornece informações complementares ao leitor crítico. rios desafios foram identificados no que concerne a ope-
Esta escolha deu-se, também, devido à valorização do racionalização no processo de enfermagem, como dico-
significado do conteúdo das mensagens de acordo com tomia entre a teoria e a prática a respeito do PE, excesso
os objetivos propostos pela pesquisa. Portanto após a e sobrecarga de atividades burocráticas atribuídas ao
gravação das falas, foi realizado a transcrição das mes- profissional de enfermagem, desconhecimento de todo o
mas na íntegra (ipsis litteris), a fim de constituir o cor- processo de enfermagem, e a inadequada distribuição do
pus do texto a ser trabalhado os dados brutos14,33. número desses profissionais em relação ao número de
Após várias leituras das entrevistas realizadas com os leitos impedem a implementação do PE com abordagem
sujeitos e dos índices recortados do corpus textual, iden- sistemática e qualificada12.
tifiquei temas que se libertaram naturalmente da redação, Segundo Barbosa et al. (2009)15 existe hoje
os quais constituíram as unidades de registro. A partir da deficiência no cumprimento do PE e na documentação do
identificação das unidades de registro foi possível elen- mesmo, devido excesso de atribuições do enfermeiro,
car as categorias que emergiram dos dados. Assim, ca- falta de preparo e resistência para utilização deste método
tegorias são classes que reúnem grupos de unidades de de trabalho, falta de recursos materiais, dificultando a
registro em razão de características comuns, é um pro- melhoria da qualidade da assistência de enfermagem,
cesso de apresentação didático-científica dos resultados relatam15 ainda que a falta de prática, com a sistemati-
e discussões14,33. zação, acaba comprometendo, a realização de um plane-
A discussão dos resultados foi realizada por meio da jamento, coerente e eficaz, trazendo prejuízos à assistên-
utilização de estudos pertinente no que concerne ao PE. cia prestada ao paciente.
Para manter o anonimato e preservar a fala dos enfer- Este fato foi relatado pelos sujeitos pesquisados, co-
meiros foram utilizados pseudônimos, (Entrevista), e mo pode ser observado nos seguintes trechos por eles
(Enf.) para enfermeiro (a) seguido por um algarismo mencionados:
romano, para designar o número da aplicação de cada “não dá tempo, excesso de burocracia, dimensiona-
entrevista conforme exemplo (Entrevista Enf. I). mento de pessoal inadequado”.(Entrevista Enf. XI; En-
Este estudo foi conduzido segundo os aspectos éticos trevista Enf. XXI).
e legais da pesquisa contidos na Resolução nº 196/96 do “não temos tempo e disponibilidade de fazer a
Conselho Nacional de Saúde, (CNS) a qual estabelece as SAE”. (Entrevista Enf. XXIII).
diretrizes e normas éticas envolvendo seres humanos. “não é feito não devido ser um só enfermeiro e nº
Após parecer favorito (nº1013/13) pelo Comitê de Ética e alto de paciente, sobre carga de trabalho, falta de tempo
Pesquisa(CEP) da Faculdade de Ciências Biomédicas de e quando faço o exame físico foco na doença, por exem-
Cacoal (FACIMED) Rondônia/Brasil, e aprovação pela plo paciente com pneumonia direciono mais para essa
Direção geral, com ciência da Direção clínica, Gerência parte e não acaba sendo aquele completo não... Faço
de enfermagem, Gerência de ensino e pesquisa da insti- somente se ele tiver dor abdominal faço palpação super-
tuição inerente a pesquisa, sob nº de Memorando ficial e profunda e passo o caso para o médico”. (Entre-
022/Práticas Assistências-PA/HRC/SESAU, foi que se vista Enf. VII; Entrevista Enf. VIII; Entrevista Enf.
deu início a coleta de dados mediante a assinatura do XXIII).
termo de sujeito participante da pesquisa, e termo de “ele não acontece devido muitos pacientes pra um só
consentimento livre e esclarecido. enfermeiro”.(Entrevista Enf. XXIV).
“...não dá “pra” fazer de todos são 25 a 26 pacien-
3. RESULTADOS e DISCUSSÃO tes na clínica e eu sozinha, falta de tempo, varia outras
funções burocráticas”. (Entrevista Enf. XXI)
Participaram da pesquisa 27 enfermeiros, sendo 22 “Diariamente não porque não tem tempo, você vai
do sexo feminino os demais do sexo masculino, com examinar o paciente individual ver região céfalo-caudal
média de idade de 31 anos, em relação a escolaridade 20 mucosas, SSVV, essas coisas”. (Entrevista Enf. II)
são especialistas, 05 somente graduação e 02 com mes- As falas denotam que a realização da anamnese e
trado. O tempo de formação variou de 3 a 16 anos, a

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exame físico distanciam-se progressivamente de finali- “para mim o histórico é muito sucinto mesmo na
dades confluentes ao cuidado de enfermagem. Isso é verdade motivo da internação, sintomas que sente, se
decorrente de uma série de fatores, dentre os quais ver- tem alguma doença, faz uso de medicação, se tem aler-
sado por vários autores 12, 16, 17, 18. gia ...número alto de paciente sempre acima de
Como a sobrecarga do profissional de enfermagem 20”(Entrevista Enf. XI; Entrevista Enf. XXIV).
com atividades burocráticas e a inadequada distribui- “...como atuo na UTI não é feito, não tenho contato
ção do número desses profissionais em relação ao nú- com os familiares, só o médico tem esse contato com
mero de leitos impedem a implementação do processo familiares na admissão”. (Entrevista Enf. XVI)
de forma individual e qualificada. Salientam ainda que
para operacionalização da SAE o profissional de en-
“não dá tempo, muito corrido, várias intercorrências,
fermagem precisa ficar livre de atividades burocráticas muitos pacientes admitidos de uma só vez, ai só é pal-
para planejar, acompanhar e executar a assistência de pado e auscultado incorretamente por falta de tem-
enfermagem. As mesmas autoras, com o objetivo de po”(Entrevista Enf. XXII; EE. XXVI).
operacionalizar o PE destacam três fases consideradas “Faço o exame físico com base na doença” Entre-
essenciais para sua implementação: o histórico, a evo- vista Enf. XXV)
lução e a prescrição de enfermagem. Perceberam em Esses relatos acerca do exame físico mostram que a
seu estudo que embora a SAE proporcione uma assis- avaliação clínica não é abordada como ação diferencial e
tência individualizada e qualificada com base científica particular de cada indivíduo, pois priorizam a doença que
há na prática uma desarticulação com a teoria resul-
tando numa assistência desordenada19, 20.
motivou a internação, e deixam de lado uma avaliação
Esta realidade é discutida por outros autores21 que frequente, justificando-se através do excesso de trabalho
revelam que a falta de tempo para registrar práticas de- burocrático e administrativo15.
senvolvidas, de maneira detalhada, e a carência de for- Os mesmos autores15 reforçam ainda que há enfer-
mas e meios de obter dados estruturados e integrais no meiros com menor aproximação de conhecimento em
processo de recuperação dos dados, contribuem para as semiologia clínica o que dificulta identificar problemas
falhas no processo de enfermagem. Essas argumentações relacionados ao processo saúde-doença. Conhecimentos
por parte dos enfermeiros limitam a aplicação adequada esses basilares para o estabelecimento da relação teóri-
de todo o PE, resumindo a prática de enfermagem em co/prática, indispensáveis ao cuidado dos pacientes sob
breves descrições de um turno de trabalho ou somente sua responsabilidade, embora o modelo biomédico ainda
uma fase do PE, a qual não é capaz de quantificar ou esteja onipresente na fala e impregnado no fazer dos
qualificar a contribuição do enfermeiro ao cliente família enfermeiros, como se observa nos trechos recortados
e comunidade. anteriormente23.
Convergente com os depoimentos dos pesquisados, a O conceito de que a essência da enfermagem é o
assistência de enfermagem baseada na prática clínica há cuidar, faz com que compreenda o cuidado como núcleo
tempos se fundamenta nas necessidades burocráticas e essencial do seu trabalho, sem desconsiderar as patolo-
formais da organização, de modo a privilegiar os objeti- gias. A ideia é interagir com o paciente e com a família
vos organizacionais em detrimento do cuidado de en- dele, como pessoas e seres humanos “que têm necessi-
fermagem propriamente dito, o que pode provocar ten- dades a serem atendidas pelos enfermeiros”1,23.
sões, desmotivação e descrenças no âmbito do traba- É importante frisar que não pode haver lacunas na
lho22. primeira fase do PE, entretanto os relatos dos pesquisa-
Este estudo realizado por Barbosa et al15, no Municí- dos acerca dessa fase mostrou que vários deixaram de
pio de Marília/SP, no Hospital das Clínicas em 2009 fazer a investigação com total veracidade, pois, pode
revelou que o exame físico para alguns enfermeiros é levar a crer que o paciente não foi visto e observado de
feito de ausculta cardíaca e pulmonar. Relatam15 ainda forma holística, prejudicando assim as demais fases do
que esta ação não é prioridade na rotina dos enfermei- PE. O exame físico mal realizado não satisfaz as neces-
ros, e realizam apenas na admissão do paciente. Orien- sidades dos pacientes durante o cuidado de enfermagem.
tam-se pela sequência céfalo-caudal, direcionando o Horta (1979)2, reforça ainda que o histórico deverá ser
exame de acordo com a patologia apresentada. Há en- feito na admissão, isto é, no primeiro contato com o pa-
fermeiros que não realizam o exame físico por falta de ciente. O que distância as afirmações dos enfermeiros
conhecimento teórico-prático. Conforme versado nos que participaram da atual pesquisa que revelaram que o
relatos abaixo: histórico “...é realizado mais nos pacientes críticos, que
“Eu faço somente ausculta dos sistemas isso é sufi- são em média 03 a 06, os demais só se queixar de dor e
ciente ja” (Entrevista Enf. XIX). passo para o médico...”; “trabalho no centro cirúrgico
“...o exame físico só naqueles que tem dreno de tórax, lá ele não é feito”; “trabalho na UTI, lá não tem como
edema, curativo, SVD, tosse, não dá tempo, excesso de pegar essas informações, só o médico conversa com os
burocracia, dimensionamento de pessoal inadequado” familiares e o paciente as vezes vem intubado em co-
(Entrevista Enf. XI; Entrevista Enf. XXIV). ma...”

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Podemos afirmar que a fase da investigação de en- trevista Enf. V; Entrevista Enf.VI; EE.XI).
fermagem deixou a desejar no conteúdo de suas respos- “faço os mais básicos, mais visíveis, sem muito de-
tas, pois, não se apresentaram uniformes, já que a grande talhe”( Entrevista Enf. VII).
maioria dos entrevistados revelaram que seus conheci- “faço com base no exame físico”(Entrevista Enf.
mentos sobre a importância dessa fase são incipientes, o VIII).
que leva a crer que precisa de uma maior valorização “foco só nas necessidades afetadas”(Entrevista Enf.
sobre a anamnese e exame físico, pois estes elementos IX; Entrevista Enf. XIV).
envolvidos na primeira fase é que vai direcionar as ou- “não tenho o livrinho...então não faço”(Entrevista
tras fases do processo de enfermagem em busca da sa- Enf. X).
tisfação do paciente e família através do cuidado de en- “não realizo”(Entrevista Enf. XII).
fermagem individualizado direcionado pelos problemas “sempre acrescento ali...pois não tem todos”( Entre-
que devem ser identificados. vista Enf. XVII; Entrevista Enf. XXIII).
A segunda categoria foi a caracterização dos fato- “de acordo como vou conversando com o paciente ai
res que influenciam a execução da segunda fase do marco o X”( Entrevista Enf. XVIII).
processo de enfermagem reveladas pelos enfermeiros. “faço mediante o que ele apresenta”( Entrevista Enf.
Os diagnósticos de enfermagem (DE) transforma- XIX).
ram-se no foco central da ciência de enfermagem, o qual “somente em cima das queixas e sinais e sinto-
aproxima o enfermeiro de seu cliente, proporcionando mas”( Entrevista Enf. XXIV)
melhor e maior conhecimento de suas respostas físicas e “Faço o diagnóstico depois que conheço a história
emocionais21. dele” (Entrevista Enf. XXVII).
O uso do DE beneficia os enfermeiros e a instituição Horta (1979)2 afirma que a enfermagem deve ser
que adere esse processo, porque direciona a assistência prestada ao ser humano e não a sua doença ou desequilí-
de enfermagem para as necessidades de cada cliente, brio. Reforça ainda que a enfermagem tem duas tendên-
facilita a escolha de intervenções mais adequadas, e re- cias a seguir, ou se desenvolve como ciência, ou torna-se
gistra de forma objetiva as reações do cliente e permite a profissão subserviente de médicos.
subsequente avaliação dos cuidados de enferma- Além das dificuldades em realizar e avaliar diaria-
gem21,24. mente os diagnósticos de enfermagem, bem como fa-
O diagnóstico de enfermagem é o julgamento zê-lo no momento da internação, ainda foi possível per-
clínico do enfermeiro, e seria muito mais produtivo se ceber, pela fala dos enfermeiros no cotidiano do trabalho,
associada a essa prática, viesse a conscientização sobre a em momentos de conversa sobre a temática, a não reali-
sua importância, a crença na sua função estratégica de zação desta fase do processo por desconhecimento de
tornar o enfermeiro mais competente, mais reconhecido uma metodologia e de referências literárias para elabo-
pela comunidade, pelos profissionais da equipe de saú- ração dos diagnósticos de enfermagem.
de15,25. Vale a pena ressaltar, o discurso de dois entrevistados,
Quanto aos critérios para definição do diag- em que o mesmo declara o modelo instituído, conside-
nóstico, uns se baseiam no risco que o indivíduo será rando o como uma norma, com base em checklist, e con-
submetido devido à internação, alguns associam o critério sidera a elaboração dos diagnósticos no modelo com
ao referencial da NANDA, a quem utilize o levantamento base biomédico, onde a ênfase é dada à patologia em si,
de dados obtidos através do exame físico e anamnese, esquecendo-se do indivíduo em sua totalidade. Confor-
outros incluem exames laboratoriais, mas não deixam me mostra os recortes abaixo:
claro como priorizam o diagnóstico de enfermagem, além “aqui “nois” já temos uns pré-estabelecidos e mes-
de pontuarem fatores relacionados e características defi- mo assim devido muita burocracia...não dá tempo de
nidoras como critérios para elaborá-lo15. realizar”(Entrevista Enf. XXII).
O diagnóstico de enfermagem, é considerado para a “eu foco mais na doença não uso o NAN-
maioria dos enfermeiros como uma fase muito difícil, DA”(Entrevista Enf. XXV).
devido não terem uma clareza de critérios para elegê-lo, Luna & Valadares (2013)26 em um estudo de cunho
sendo construído a partir do diagnóstico médico15,11,26. qualitativo do tipo estudo de caso realizado em um Hos-
Conforme mostra as falas dos enfermeiros entrevistados. pital de Grande Porte no Estado do Rio de Janeiro no
“Faço com base na doença, não uso livrinho não” ano de 2013, revelaram trechos parecidos com o relato
(Entrevista Enf.XXV). dos sujeitos participantes da pesquisa. “[...] É... eu penso
“baseio no quadro clínico, possíveis riscos ou agra- no diagnóstico de enfermagem como uma coisa que hoje
vos”(Entrevista Enf. I; Entrevista Enf. III; Entrevista Enf. em dia dentro da clínica médica você faz muito pouco, é
XVI). somente baseado na patologia do paciente, não dos si-
“nosso instrumento já tem nós só assinala, mais e nais que ele apresenta dos sintomas, é mais baseado
muito falho”(Entrevista Enf. II; Entrevista Enf. III; En- mesmo no modelo biomédico... Esse paciente pode

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apresentar muitos outros distúrbios dentro da família gem como profissão, pois uma grande parte das ativida-
dele, no processo de internação dele, que ele está afas- des desenvolvidas pela enfermagem não é documentada
tado da sua comunidade, da sua família, do seu empre- de maneira escrita, comprometendo a assistência. Con-
go[...]”. forme mostra as falas abaixo:
Takahashi et al. (2008)16 revelam em seu estudo que “...falta de checagem do técnico não dão atenção a
os participantes responderam que a dificuldade aumen- nossa prescrição seguem só o que o médico faz, prefiro
tava ainda na determinação do diagnóstico porque estes ficar só verbal vamos fazer aquilo...aquilo outro e pron-
dependiam da doença e quando o médico deixava a in- to” (Entrevista Enf. XXII).
terrogação do diagnóstico no prontuário à dúvida au- “o planejamento é feito com base no checklist”( En-
mentava. Diante do exposto devemos lembrar que os trevista Enf. I).
problemas do paciente, abordados pela enfermeira são “...o planejamento resolve com medidas sim-
diferentes dos abordados pelos médicos, embora os mé- ples...quando não resolve chamamos o médico...” (En-
todos utilizados para sua identificação e o uso de catego- trevista Enf. XIX).
rias diagnósticas sejam semelhantes. O mesmo autor27 afirma ainda que o planejamento de
É de se observar nesses trechos recortados anterior- enfermagem, operacionalizado sob a forma de prescrição
mente que alguns dos entrevistados não tem uma manei- de cuidados de enfermagem, serve de guia para orientar
ra clara e científica de elaborar os diagnósticos de en- as atividades de enfermagem, na direção da satisfação
fermagem, ou seja não tem critérios, acabam seguindo o das necessidades de saúde do paciente, além de se cons-
checklist pois existem alguns já pré-elaborados e so- tituir em orientador para a documentação das anotações
mente marcam o “X”, outros o fazem somente com base do enfermeiro.
em sinais e sintomas, na própria doença, um sujeito re- Refere, ainda, o autor27, que o plano pode ser utili-
velou que faz o diagnóstico com base no exame físico e zado, também, como instrumento de comunicação entre
nas necessidades humanas do paciente afetada. os enfermeiros e outros membros da equipe de cuidados
A terceira categoria mostra a caracterização dos fa- de saúde e deve estar prontamente disponível para todos
tores que influenciam a execução da terceira fase do os envolvidos no cuidado com o paciente, servindo co-
processo de enfermagem reveladas pelos enfermeiros. mo elemento de auxílio à avaliação da eficácia dos cui-
A terceira etapa do PE é o planejamento de enfer- dados prestados. Já o depoimento do Enfermeiro Entre-
magem que constitui um conjunto de medidas a serem vistado XXV revela que existe há “...falta de integração
tomadas para a assistência individualizada do cliente, da SAE na assistência, e muitos nem leem... e a SAE
preferencialmente decidido pelo enfermeiro com a ajuda acaba sendo um trabalho a mais para o enfermeiro”.
dos demais membros da equipe de enfermagem, sua Pires (2007)23, mostrou em sua pesquisa através dos
elaboração segue após a anamnese do paciente associado recortes das falas dos pesquisados depoimentos dessa
com seu exame clínico, itens realizados pelo enfermeiro natureza “[...]não adianta daí eu fazer de qualquer jeito,
são necessários tanto para detecção de problemas pré- eu quero fazer bem feito, eu preciso de tempo[...]”, “não
vios e diagnósticos de enfermagem, quanto para estabe- consegue fazer a SAE com o total de doentes que te-
lecimentos da conduta a ser seguidas no tratamento. mos”. Já a atual pesquisa revelou dados que vão de en-
Estas atividades possibilitam a reaproximação do contro com esses resultados como mostra as falas dos
enfermeiro ao paciente doente, planejando cuidados e entrevistados, “não é feito não, não dá tempo...”; “são
ações específicas do doente e ao mesmo tempo ocorre o muitos pacientes para um só enfermeiro nem que você
processo de execução da implementação do plano assis- queira fazer a SAE não do tempo”. Assim consideramos
tencial avaliando os resultados obtidos27. Aos enfermei- que as dificuldades existem tanto na região Norte por ser
ros cabe o planejamento e gerenciamento da assistência, carente em pesquisas e investimentos, como em outras
enquanto que o trabalho manual é de responsabilidade regiões considerados marco em pesquisas acerca do
do auxiliar e técnico de enfermagem28,29. processo de enfermagem no Brasil.
Segundo Kurcgant et al. (2012)7, o planejamento da Alguns autores4,16,18,26.29, observando a formação do
assistência de enfermagem consiste na determinação das enfermeiro, confirmam que o aluno tem saído da gradu-
ações de enfermagem pela utilização de um método de ação sem o amplo conhecimento necessário para colocar
trabalho, a fim de atender as necessidades da clientela. em prática o método específico de sua especialidade, que
Segundo Vasconcelos (2007)27 o enfermeiro faz o qualifica sua atividade junto aos pacientes, transmitin-
planejamento dos cuidados, que será executado pela do-lhes confiança e segurança.
equipe de enfermagem, de forma organizada, almejando Pires (2007)23, revelou um depoimento de um enfer-
alcançar os objetivos diários da assistência a cada paci- meiro que reforça a fala dos autores acima e vai de en-
ente. Por meio dele as ações de enfermagem podem ser contro com as mesmas dificuldades reveladas pelo atual
registradas e contabilizadas, representando um impor- estudo [...] Eu já tive dificuldade bastante com o tempo,
tante passo para a definição e valorização da enferma- mas acho que a maior dificuldade é de não saber fazer, é

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falta de conhecimento, há situação que você tem que faz com que o enfermeiro prioriza os diagnósticos de
parar e pensar, mas de onde que vem isso, mas porque enfermagem considerados mais urgentes e precisam de
que ele tem isso, qual é a causa, você tem que pegar um atendimento imediato e/ou a médio e longo prazo. As-
livro e ler e estudar, para você não escrever besteira [...] sim fica claro que os sujeitos participantes da pesquisa
senão você vai escrever uma coisa que não tem funda- deixam de prestar uma assistência baseada em evidência
mento, essa é a maior dificuldade, é o conhecimento e agem mesmo pelo próprio empirismo, não dão impor-
mesmo. tância ao julgamento e raciocínio clínico, agem de ma-
Nesse sentido segue os recortes das falas abaixo: neira informalmente ou de forma genérica conforme
“planejamento não é feito e quando é feito a gente mostra as falas abaixo:
prioriza os mais graves, falta de tempo pra fazer” (En- “...só marcamos o X... aqui é mais genéri-
trevista Enf. XIV). co...”(Entrevista Enf. XV).
“...falta muita coisa...ninguém checa...os cursos de “...prefiro ficar só verbal vamos fazer aquilo...aquilo
RO não pega muito nisso...segue a prescrição médica...” outro e pronto”(Entrevista Enf. XXII).
(Entrevista Enf.III). “planejamento...risos...pensamento...acho que é rea-
“...planejamento...pensamento....risos...planejamento lizado no momento da admissão”( Entrevista Enf. XVI).
é... deu um branco...risos” (Entrevista Enf. XXI). “planejamento...faço junto com a equipe técni-
“...vixi Maria... planejamento....só é feito quando dá ca”( Entrevista Enf. XX).
tempo...ai marcamos o x...pois tem tudo no impres- planejamento é a avaliação feita nas 24 horas...pra
so....”( Entrevista Enf. XIII) ver o que pode mudar”( Entrevista Enf. V).
Quando não há um planejamento da assistência a en- Alfaro-LeFevre (2005)31, diz que o enfermeiro deve
fermagem acaba exercendo um trabalho mecanizado, fazer o planejamento utilizando o seu pensamento crítico,
repetitivo, despersonalizado, desatualizado e impessoal, com base em seu conhecimento científico para estabele-
tornando-o desestimulante e sem possibilidade de visua- cer prioridades e organizar melhor o tempo dispensado
lizar a importância18,30. O enfermeiro, ao ingressar na as ações de enfermagem. Com ideia similar a anterior
vida profissional, não utiliza o processo de enfermagem, esses autore46 reforçam ainda dizendo que o julgamento
isto provavelmente ocorre devido a incompatibilidades clínico é definido como uma interpretação ou conclusão
organizacionais, administrativas, ou, provavelmente a sobre as necessidades, as preocupações ou os problemas
uma aplicação pouco criativa, não se observando um de saúde do paciente, e/ou a decisão de agir ou não mo-
modo mais racional e adequado tanto ao contexto de dificar abordagens padronizadas, ou improvisar novas
trabalho quanto às necessidades da instituição e sua cli- abordagens entendidas como apropriadas por meio de
entela18. resposta do paciente.
Para isto, o planejamento do cuidado de enfermagem A quarta categoria foi a caracterização dos fatores
mostra-se como função essencial para a efetividade deste que influenciam a execução da quarta fase do pro-
processo e foi identificado na pesquisa atual que os en- cesso de enfermagem reveladas pelos enfermeiros.
trevistados não dão tamanha importância para essa fase A quarta fase do PE é denominada de implementação
do PE, conforme mostra as falas a seguir: da assistência de enfermagem ou como muitos autores1,2
“essa fase nos pulamos, mas ela é importan- citam de prescrição de enfermagem e/ou plano de cui-
te”(Entrevista Enf.VIII). dados, para esta pioneira2 do assunto é o “roteiro diário
“...aqui na clínica não tem ....faz o que é priorida- que coordena a ação da equipe de enfermagem na exe-
de...”(Entrevista Enf. X) cução dos cuidados decorrentes da implantação do plano
“não é realizado”(Entrevista Enf. XI) assistencial de enfermagem e adequados às necessidades
“não sei fazer”(Entrevista Enf. XII) básicas e específicas de cada paciente”. Para Tannure
Mesmo diante da instabilidade ligada à demanda tí- (2010)1 implementar significa colocar em prática e exe-
pica de cada setor onde foi aplicada a pesquisa a fase do cutar o que era antes uma proposta, sendo este o mo-
planejamento ficou evidente que os sujeitos não a con- mento de investigar e reinvestigar as respostas do paci-
sideram como prioridade devido à própria falta de co- ente quanto do seu desempenho, pois o ser humano e um
nhecimento, falta de tempo, clínicas cheias, essas são ser imprevisível e precisa ser constantemente monitori-
algumas das falas feitas pelos pesquisados. zado.
Outro aspecto que todos os sujeitos mencionaram nas Neves & Shimizu (2010)32, afirmam que a prescrição
entrevistas é que o “planejamento na prática não tem de enfermagem é um roteiro semanal de cuidados bási-
muito eficácia” “...as multifuncões não deixa fazer....” , cos de enfermagem relacionada com rotinas específicas
“faço só pela manhã, quando dá tempo”, A preocupação de higiene, mobilização, eliminação, alimentação e si-
com a qualidade da assistência de enfermagem relacio- nais vitais. Considera-se, desta forma, que a prescrição
nada à determinação das necessidades do cliente é per- de enfermagem é um plano padronizado de rotinas de
cebida desde a época Nightingueliana, o ato de planejar enfermagem para o atendimento das necessidades bási-

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cas do paciente. Corroborando com esses resultados as 23,2% tinham dificuldade em fazer a prescrição de en-
falas de alguns dos participantes revelam que a prescri- fermagem. Quanto aos fatores que emergiram essas di-
ção de enfermagem; ficuldades eles revelaram que foram, falta de conheci-
“aqui no hospital nós já tem a rotina pronta só mar- mento teórico a maior dificuldade seguido de falta de
car conforme a sua avaliação feita no paciente” (Entre- tempo, falta de exercício prático e falta de recursos.
vista Enf. XVI). Os relatos dos participantes da pesquisa não estão
“...estão todas prontas, ai só marcamos o X, o téc- distantes dos revelados por esta pesquisa, pois, quando
nico nem olha fazemos só pra ter no papel...” (Entrevis- eles citam que a prescrição tem que ser de acordo com a
ta Enf. VII; Entrevista Enf. VIII; Entrevista Enf. XI; En- prescrição médica, fazem de acordo com o que o paci-
trevista Enf. XIV; Entrevista Enf. XV; Entrevista Enf. ente precisa, faz com base no diagnóstico real, de acordo
XXIII; Entrevista Enf. XVII). com a doença do paciente, essa parte os médicos fazem,
Partindo destes relatos torna-se necessário discutir e isso denota o total desconhecimento acerca do processo
repensar a prescrição de enfermagem com o objetivo de de enfermagem e ainda mais, não valorizam a tamanha
atingir os conceitos descritos por Horta (1979)2, no sen- importância que tem a prescrição de enfermagem. Estu-
tido de que este plano de cuidado seja individualizado e dos4,19 revelam que essa fase é a mais difícil porém a
específico para cada paciente e não um protocolo padro- mais importante, e a mais utilizada para o ensino do
nizado de rotinas de enfermagem. processo de enfermagem pelos docentes nas escolas de
Não devem constar na prescrição de enfermagem Enfermagem.
considerados de rotina ou normatizados pela própria “...tem que ser de acordo com a prescrição do mé-
unidade, devendo deixar claro o grau de dependência do dico...” (Entrevista Enf. II).
paciente, determinado em termos de fazer, ajudar, orien- “...faço de acordo com o que o paciente precisa...”
tar, supervisionar ou encaminhar34,35. (Entrevista Enf . III).
A determinação das prescrições é feita a partir do “....prefiro pular essa questão de prescrição”. (En-
planejamento dos cuidados, realizada pela classificação trevista Enf. IV)
dos diagnósticos de enfermagem específicos para cada “...não faço por ser centro cirúrgico...” (Entrevista
unidade direcionando a assistência de enfermagem aos Enf. XII).
pacientes, no período de internação. “...faço com base no DE real...” (Entrevista Enf.
As falas a seguir deixa claro a inviabilidade de fun- XIX).
cionamento do PE em uma tentativa de implantação mal “...de acordo com a doença do paciente...” (Entre-
estruturada, conforme revela um estudo30 com a mesma vista Enf. XXI; Entrevista Enf. XXVI).
metodologia da atual pesquisa porém aplicado a uma “...elas estão sendo realizadas pelos médicos...como
amostra menor realizado em um Hospital de Grande banho de aspersão, mudar de decúbito, observar nível
Porte em Porto Alegre no ano de 2001 revelou que a de consciência...marcar SSVV, realizar balanço hídrico,
prescrição de enfermagem[...]se escrevia tudo aquilo ali, marcar diurese” (Entrevista Enf. XXV).
e ninguém fazia [...] proteger isto, proteger aquilo, mu- Desse modo, pode-se compreender que as atividades
dança de decúbito, aspiração, umidificação [...]; revelou prescritas pelos enfermeiros devem ser os cuidados ne-
também que, não havia continuidade por parte do pesso- cessários para eliminar fatores que contribuirão para o
al de enfermagem do hospital[...] aqui na UTI, logo que aparecimento da reação humana. O enfermeiro deve
eu comecei a trabalhar, tínhamos prescrição de enfer- prescrever cuidados que além de completos e bem redi-
magem, mas foi decidido fazê-la assim ... por alto. Tí- gidos causem impactos na assistência prestada e desper-
nhamos um formulário, mas não tivemos treinamento e tem o interesse da equipe de enfermagem por lê-los e
não deu certo [...]”. realizá-los.
Com base nessas afirmações percebe-se, então, que Além disso, os enfermeiros devem ter conhecimentos
toda a equipe precisa ser treinada e habilitada a desen- de que eles não prescrevem nem tratam condições clíni-
volver o processo de enfermagem, e o enfermeiro neces- cas e sim prescrevem cuidados para as reações das con-
sita continuamente habilitar sua equipe, a efetivamente dições clínicas que correspondem as condições fisioló-
desenvolverem as ações planejadas. Acredita-se ser pre- gicas detectadas nos pacientes1.
visível, de certa forma, que os técnicos de enfermagem Alfaro-LeFevre (2005)31, afirma que as prescrições
não tenham interesse em implementar o processo de en- devem incluir uma ação a ser realizada, conter uma frase
fermagem se não forem orientados quanto à sua impor- descritiva, com verbo no infinitivo, portanto devem ter
tância, ou mesmo, não estiverem envolvidos na sua ela- “o que fazer”, “como fazer” “quando fazer”, “onde fa-
boração. zer”, “com que freqüência fazer”, “por quanto tempo
Takahashi et al. (2008)16 mostraram em seu estudo fazer”.
descritiva realizada pela Universidade Federal do São Tannure (2010)1 reforça que as prescrições incom-
Paulo-UNIFESP no ano de 2008 com 111 sujeitos, que pletas devem colocar em risco a segurança do paciente.

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As prescrições devem ser redigidas de maneira clara internação, motivo da internação, diagnóstico médico,
precisa e completa, a fim de evitar dúvidas pela equipe. discriminação sequencial do estado geral do paciente
O fato é que fazendo uso das palavras de Silva e seguindo a ordem do exame físico, descrição dos proce-
Oliveira12 que publicaram um artigo acerca dos desafios dimentos invasivos realizados, descrição dos cuidados
para operacionalização do processo de enfermagem des- prestados aos clientes e apoio psicológico, descrição das
tacaram que o objetivo de operacionar o processo de eliminações e secreções e ao final, assinatura do enfer-
enfermagem se dá por algumas fases consideradas es- meiro e número do registro no conselho de classe.
senciais para sua implementação: O histórico, a evolução Existe hoje várias dificuldades dos profissionais
e a prescrição de enfermagem. Assim, levantando-se os enfermeiros e dos alunos de graduação em enfermagem,
problemas de enfermagem, prescrevia-se os cuidados e para realizar a evolução de enfermagem que na maioria
avalia-se periodicamente as condutas tomadas. das vezes se confunde com as anotações de enferma-
Outro fator considerado agravante é que alguns en- gem34.
fermeiros dizem que a prescrição de enfermagem e feita Estes pesquisadores16 revelaram em seu estudo que
com base na prescrição médica, ou até mesmo sendo os motivos atribuídos às dificuldades na execução da
feita por eles (médicos) como mudança de decúbito, evolução de enfermagem, foram: Falta de conhecimento
banho de aspersão, verificar SSVV, entre outros cuida- e Falta de tempo respectivamente, prontuário não dispo-
dos inerentes a profissão de enfermagem que seu cerne é nível, não acompanhar a evolução do paciente diaria-
a prestação de cuidados. mente, por não realizar outras fases do processo de en-
Sabemos que um dos grandes desafios para a assis- fermagem e pouco funcionário na unidade. O que não
tência de enfermagem é manter um paciente acamado distância os resultados encontrados na presente pesquisa
livre de pressões e consequentemente com a pele íntegra. conforme mostrado nas falas abaixo:
No entanto, este autor36 diz que o desafio, além das “a evolução não é feita como deveria, porque não dá
ações de cuidado de prevenção e terapêutica de enfer- tempo muitos pacientes, atender telefonemas, muitas
magem e de outros profissionais da saúde, pertence prio- questões burocráticas”( Entrevista Enf.VI).
ritariamente às condições clínicas do paciente, em rela- “eu quando faço a evolução fico sempre nas queixas
ção ao estado nutricional, hidratação, imunidade, pre- já está ótimo”( Entrevista Enf. XVII).
sença de infecções, balanço hídrico, manter nível de “Faço somente com base nas intercorrências e dos
consciência entre outros fatores. Isso é uma preocupação mais graves” (Entrevista Enf. X; Entrevista Enf. XII;
constante por parte da enfermagem, porque todos esses Entrevista Enf. XIII; Entrevista Enf. XXI).
fatores passam pela avaliação da assistência de enfer- “não sei fazer muito complicado e acabo fazendo
magem. somente as anotações das queixas”(Entrevista Enf. XII).
A quinta categoria mostrou a caracterização dos fa- “...falta tempo...” (Entrevista Enf. XVII).
tores que influenciam a execução da quinta fase do Essas afirmações nos levam a crer que a assistência
processo de enfermagem reveladas pelos enfermeiros. fica comprometida e as lacunas referente a segurança do
A avaliação ou evolução de enfermagem é conside- paciente tendem a aumentar. Garcia e Nobre-
rada a quinta fase do PE, portanto consiste na ação de ga37afirmam que isso é agravado pelo fato de que, com
acompanhar as respostas do paciente aos cuidados pres- uma certa freqüência, não se registra de modo sistemá-
critos e implementados por meio de anotação nos pron- tico, ordenado e compreensível o cuidado que foi reali-
tuários, da observação direta da resposta do paciente a zado e o que o determinou.
terapia proposta, bem como o relato do paciente, este Para Reppetto & Souza (2005)11 a evolução de en-
também é o momento do enfermeiro avaliar a eficácia da fermagem avalia todas as outras fases da SAE, pois, para
prescrição de enfermagem1. realizá-la, a enfermeira analisa se as prescrições atingi-
O Cofen10 afirma que a evolução de Enfermagem ram os objetivos delineados pelas fases anteriores. É
tem como definição um registro feito único e exclusiva- realizada diariamente pela enfermeira que deve sistema-
mente pelo enfermeiro após a avaliação do estado geral tizar o perfil evolutivo do paciente bem como os resul-
do paciente, desse registro devem constar os problemas tados do planejamento da assistência de enfermagem,
novos identificados, um resumo sucinto dos resultados facilitando assim uma nova tomada de decisão ou a ma-
dos cuidados prescritos e os problemas a serem aborda- nutenção da prescrição anterior. Esta mesma investiga-
dos nas 24 horas subsequentes. ção11 de cunho retrospectivo com análise em prontuários
Para esta outra pesquisadora2 a evolução de enfer- feita em um Hospital Universitário na Cidade de São
magem é o relato diário ou periódico das mudanças su- Paulo, com 135 prontuários sendo 45 para cada unida-
cessivas que ocorrem no ser humano enquanto estiver de(cardiologia, doenças infecto – parasitarias(DIP)
sob assistência profissional, ou seja, uma avaliação glo- adulto e neurocirurgia) revelou que a prescrição de en-
bal do plano de cuidados. Reforça ainda que a evolu- fermagem foi referida em vinte e oito prontuários, na
ção deva conter a seguinte ordem: data, hora, tempo de unidade de cardiologia e na unidade de DIP, apenas dois

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prontuários, já na unidade de neurocirurgia foi onde en- afirmava que a enfermagem requeria conhecimentos
controu o maior número de evolução sendo trinta e nove. distintos daqueles da medicina.
Diante de todas essas afirmações percebe-se que Esta pesquisadora23 diz que as teorias de enfermagem
existe uma dicotomia entre a teoria e a prática, pois al- são originadas no modelo biomédico, reducionista e
guns sujeitos demonstram mais interesse por algumas mecanicista para explicar os sistemas biológicos e do ser
fases do PE, distanciando do que é baseado em evidencia humano. O enfoque principal do modelo biomédico é a
que diz que as fases devem ser interligadas e in- doença e a busca de sua etiologia, que consiste na identi-
ter-relacionadas, pois o processo é dinâmico. Estes auto- ficação de fatores geralmente externos. Sua influência na
res38 revelam que o problema que dificulta a compreen- enfermagem é sólida e muitas vezes aprender a cuidar
são e, consequentemente a aplicabilidade do PE é o fato com base na doença prioriza a abordagem reducionista
de que ele atualmente é objeto de conflituosas discussões em detrimento da holística.
semânticas no Brasil. Ademais segundo Tannure (2010)1 citado por Leo-
Nesta etapa, foi evidenciado desconhecimento dos pardi (2006)41 as teorias são tão importantes para assis-
enfermeiros, podendo estar relacionado à falta de pro- tência profissional quanto para a técnica, a comunicação
gramas de educação continuada, cursos de atualização na ou a interação, uma vez que servem de guia para o con-
região acerca da temática, deficiência durante o ensino texto assistencial.
na graduação todos esses são fatores que podem preju- Reforça ainda essa autora1, que as teorias oferecem
dicar elaboração do PE. estrutura e organização ao conhecimento de enferma-
No entanto, apesar da separação do PE em fases dis- gem, proporciona um meio sistemático de coletar dados
tintas, sabe-se que grande parte dos enfermeiros não para se descrever, explicar e prever a prática, promove a
aplica na íntegra o processo e, quando o fazem, utilizam prática racional e sistemática, torna a prática direcionada
com maior frequência a coleta de dados e avaliação de para as metas e resultados, determina a finalidade da
enfermagem, relatando que não conseguem fazer o re- prática de enfermagem e promove um cuidado coorde-
gistro dessas atividades devido ao fator tempo39. Isso foi nado e menos fragmentado.
que revelou a pesquisa conforme mostra os trechos A maioria dos sujeitos que participaram da pesquisa
abaixo: revelaram que não sabiam qual teoria foi baseado a im-
“...prefiro verbal..não dá tempo de por no pa- plantação do PE na instituição inerente a pesquisa, cinco
pel...”( Entrevista Enf. XXII; Entrevista Enf. XV; Entre- revelou que não participaram do processo de implanta-
vista Enf. XVII). ção do PE.
“...faço com base nos diagnósticos...” (Entrevista Diante das revelações dos sujeitos participantes da
Enf. XVI). pesquisa Tannure (2010)1 diz que escolher uma teoria de
“faço no livro de intercorrências....não dá tempo enfermagem o enfermeiro precisa conhecer a realidade
muitos pacientes e no livro o outro colega vai do setor onde trabalha, o gerente precisa conhecer tam-
ler”(Entrevista Enf. XIX). bém o perfil dos enfermeiros que trabalham nessas uni-
Diante dessas colocações fica evidente que os sujei- dades bem como a clientela atendida, uma vez que essa
tos que participaram da pesquisa não valorizam o PE, ou caracterização deverá estar em acordo com o conceito da
quando realizam fazem de forma fragmentada, conforme teoria escolhida, pois ela funcionará como o alicerce
observado nos relatos anteriormente, sendo assim o cui- estrutural para a implantação da SAE.
dado não será integral, ou seja, acaba não tendo uma Tal afirmação fica evidente no relato de apenas um
sistematização da assistência já que não consegue con- participante que disse que:
cluir todas as etapas onde o COFEN10 por meio da Re- “[...] não participou da implantação do instrumento
solução 358/2009 afirma que o PE está organizado em utilizado mas acredita que tenha sido baseado na teoria
cinco etapas estando elas inter-relacionadas, interdepen- de Horta (1979)2, das necessidades humanas básicas
dentes e recorrentes. [...]”.
Alfaro-LeFevre (2005)31 diz que é por meio do PE Diante destas revelações fica evidente que os enfer-
que o enfermeiro promove cuidado humanizado, dirigi- meiros prescrevem cuidados e fazem diagnósticos, res-
do-o a resultados, é de baixo custo e, ainda, esse é capaz paldando suas ações no modelo biomédico, o qual dire-
de impulsionar os enfermeiros a continuamente exami- ciona as ações para o tratamento da doença.
narem suas práticas, refletindo sobre formas de fazê-las Segundo escritos de Tannure (2010)1, o enfermeiro
melhor. deve ter suas ações focada nas demandas biopsicossocial
Esta outra categoria procurou mostrar a caracteri- e espiritual do ser humano, diagnosticando as necessi-
zação das respostas dos enfermeiros acerca da teoria dades apresentada pelo individuo, pela família ou pela
utilizada na implantação do processo de enfermagem. comunidade e cuidando para que tais demandas sejam
A preocupação da enfermagem com a questão teórica supridas e a independência deles seja restaurada.
vem desde o período Nightingueliano (1989)40, que Pode se perceber através desses relatos que a im-

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plantação desse instrumento não seguiu o recomendado “tenho dificuldade mesmo no histórico devido à falta
pela resolução 358 de 2009 do COFEN10, que diz que de conversa mesmo com os familiares” (Entrevista Enf.
para a implantação da sistematização da assistência de XVI). “No planejamento, organizar mesmo, fazer cui-
enfermagem deve se pensar no método cientifico a ser dado não e tão difícil, mas planejar certinho aquilo que
seguido. você tem e conseguir avaliar é difícil” (Entrevista Enf.
Uma investigação29 feita sobre SAE mostrou que XXII).
dentre as vantagens de utilizar-se um método como uma “tenho dificuldade no diagnóstico por falta de tempo
estratégia para a assistência de enfermagem estão a sus- é muito corrido”(Entrevista Enf. XIII).
tentação de um padrão mínimo de qualidade da assistên- “de traçar o diagnóstico quando não estou com o
cia e, um melhor sistema de registro de informações so- Nanda em minhas mãos ou NIC e NOC”(Entrevista Enf.
bre o paciente. A mesma autora29 afirma ainda que o IV).
processo tenha sido operacionalizado nos serviços atra- Além da dificuldade em realizar e avaliar diariamen-
vés de uma imposição da chefia de enfermagem que te o diagnóstico de enfermagem, bem como fazê-lo no
valoriza mais a documentação à implementação dessa momento da internação, ainda foi possível perceber, pela
metodologia de forma efetiva na prática. fala dos enfermeiros no cotidiano do trabalho, em mo-
Segundo Alcântara et al. (2011)42 é evidente que na mentos de conversa sobre a temática, a não realização de
realidade a enfermagem expõe suas próprias particulari- outras fases como o histórico de enfermagem, alegando
dades e assim, cada serviço deverá definir a sua própria a falta de tempo e de levantar informações com os fami-
filosofia e, para que ela se concretize, será necessário liares, de nunca terem visto o impresso de coleta de da-
que todas as pessoas envolvidas no processo devem par- dos, revelaram também que a fase do planejamento e
ticipar na sua elaboração. Diferentemente no que foi alvo de dificuldade devido falta de organização e anali-
revelado pelos sujeitos pesquisados que somente um sar se a metas iram ser alcançadas.
afirmou que o PE foi baseado na teoria de Horta (1979)2, Luna & Valadares (2013)26 mostraram falas parecidas
os demais segundo interpretação das falas não sabem, com as descritas anteriormente pelos sujeitos da pesqui-
não participaram da implantação e/ou não tiveram trei- sa que afirmaram que a [...] a aplicabilidade dele aqui na
namento quando entraram na instituição. clínica é mais complicado. Fica difícil de fazer [...]”;
Diante do exposto fica evidente que a implantação e “[...] eu não apliquei na minha prática porque não dava
implementação do PE nesta instituição não seguiu o para aplicar né... Falta de contingente pessoal. Então na
modelo de Gestão Participativa42,43 onde toda equipe de verdade não realizo e não faço o diagnóstico de enfer-
enfermagem é envolvida na confecção e execução do magem[...]”.
processo. Segundo Cruz (1996)24 os diagnósticos de enferma-
Esta categoria mostrou a caracterização das fases gem transformaram-se no foco central da ciência de en-
do processo de enfermagem em que os enfermeiros fermagem, o qual aproxima o enfermeiro de seu cliente,
têm maior dificuldade. proporcionando melhor e maior conhecimento de suas
Dentre as fases do processo descritas pelos enfer- respostas físicas e emocionais.
meiros que participaram da pesquisa, observou-se que, Já Remizoski et al. (2010)44 versam que o uso do di-
apesar da maioria utilizar quase todas as etapas do pro- agnóstico de enfermagem beneficia os enfermeiros e a
cesso, mesmo que separadas, a grande dificuldade que instituição que adota esse processo, porque direciona a
eles revelaram ter é a aplicação da fase do diagnóstico de assistência de enfermagem para as necessidades de cada
enfermagem. Corrobora-se com alguns autores quando cliente, facilita a escolha de intervenções mais adequa-
explicam que a identificação dos diagnósticos de enfer- das, registra de forma objetiva as reações do cliente e
magem de um grupo de clientes possibilita o conheci- permite subsequente avaliação dos cuidados de enfer-
mento das respostas humanas alteradas, contribuindo magem.
para o desenvolvimento de intervenções direcionadas e Todas essas dificuldades descritas acerca das fases
individualizadas. Deste modo, o conhecimento dos pro- vão ao encontro das palavras de Doenges & Moorhouse
blemas de saúde de um grupo de pacientes com caracte- (1999)21 que versam que a falta de tempo para registrar
rísticas comuns direciona a assistência de enfermagem as práticas desenvolvidas, de maneira detalhada, e a ca-
individualizada, fornecendo subsídios para a elaboração rência de formas / meios de se obter dados estruturados e
do plano de cuidados, da implementação de intervenções integrais no processo de recuperação dos dados, contri-
e qualificação da equipe de enfermagem43 buem para as falhas no processo de enfermagem e assim
Para os sujeitos participantes da pesquisa, ainda pa- ocorrem as falhas na execução de suas fases.
rece muito novo a temática debatida. Conforme analisa- Essas argumentações por parte do corpo dos enfer-
do as falas de uma forma geral eles demonstram dificul- meiros que participaram da pesquisa limitam a aplicação
dade em relacionar e dar sequência das etapas da SAE. adequada de todo o PE, resumindo a prática de enfer-
Isso foi observado nas falas a seguir: magem em breves descrições de um turno de trabalho, a

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qual não é capaz de quantificar ou qualificar a contri- sobrecarregado, tendo seu tempo ocupado com ativida-
buição do enfermeiro ao cliente, família e comunidade. des, que nem sempre, são de fato e de direito de sua
Conforme mostra as falas a seguir: [...]“eu sinto um responsabilidade. Já este autor26,46 diz que não poderia
pouco assim de frustração porque você traça todo um deixar de ser enfatizado, o complexo desafio diário do
diagnóstico todo um plano de cuidados, vê o que o pa- enfermeiro quando a questão perpassa a administração
ciente precisa, e fica perdido no prontuário porque ele do seu próprio tempo.
não e seguido a equipe não dá valor, não dá importân- Esta categoria visa mostrar a satisfação dos profis-
cia[...]”(Entrevista Enf. XIX); “[...] Geralmente eu não sionais enfermeiros com o impresso institucionaliza-
tenho muita dificuldade eu encontro maior dificuldade do.
quando é uma patologia que eu não conheço muito bem O trabalho de enfermagem realizado, principalmente,
ou quando e uma cirúrgica bem diferente ou quando e dentro do hospital é desgastante, exaustivo e desenvol-
assim um caso novo que eu não vivenciei, que a gente vido a partir de uma relação interpessoal muito próxima
não encontra escrito em algum livro, mas, assim a com o paciente sob seus cuidados, o que pode proporci-
gente pesquisa , mas assim no geral não tenho muita onar sentimentos como alegria, satisfação e prazer aos
dificuldade , as vezes a gente encontra falta de algum trabalhadores, sem os quais seria praticamente impossí-
material é algum medicamento as vezes que você , não vel exercer a profissão47.
prescreve medicamento mas as vezes você precisa por Quando foi lhes indagado se o instrumento que existe
exemplo, cobertura para curativo as vezes não tem o para a realização do processo de enfermagem os sujeitos
que você precisa. A dificuldade talvez seja o tempo um participantes da pesquisa responderam conforme versa
só enfermeiro e muito paciente[...]” (Entrevista Enf. os trechos abaixo:
XXV). “Eu gosto do impresso que foi padronizado para o
Luna & Valadares (2013)26 conclui que é notória a nosso setor acho um impresso bom contém diversas in-
dificuldade para a realização dos diagnósticos de enfer- formações, uma coisa fácil de manusear uma coisa que
magem, justificada por grande sobrecarga de trabalho a pessoa pega e tem fácil acesso e dá para tirar infor-
(motivos burocráticos e número reduzido de pessoal na mações praticas, acho que ficou um impresso bom” (en-
enfermagem). Partindo nesta mesma linha de raciocínio trevista enf. I).
um sujeito participante da atual pesquisa revelou que: “Aqui o que a gente tem e bem completo chega até
“a dificuldade que eu tenho no processo é realmente repetir as coisas, mas e bem interessante fala de tudo do
poder estar fazendo em todos os paciente e a demanda é paciente não deixa nada a desejar mas se deixa a dese-
grande não dá tempo e ai a gente acaba fazendo muitas jar e bem pouquinho mesmo, é bem completo o que a
coisas mesmo após acrescentado secretario no setor e gente coloca, e um dado anotado importante a respeito
o enfermeiro além de um só é o centro das coisas” (En- do paciente onde todo mundo vê como está o paciente”
trevista Enf. XXVII). (Entrevista Enf. II).
Concordamos com essa autora45que discorre que “os “Ele é completo porem eu acho precisa ser melho-
diagnósticos de enfermagem proporcionam à enferma- rado nos espaços de preenchimento para melhorar o
gem uma estrutura para a organização de sua ciência”, nosso dia a dia” (Entrevista Enf. XVI).
mas que o seu uso requer conhecimento e envolve res- “E um impresso interessante mas eu creio que dá
ponsabilidade. para ter muitas melhorias para elaboração do processo
Observa-se em um dos relatos que o entrevistado re- de enfermagem ele acaba te deixando muito limitado
vela que até na graduação os docentes tinham dificulda- para traçar os diagnósticos e para implementar algumas
de em ensinar os diagnósticos de enfermagem conforme alterações importantes, eu também acredito que esse
revela a fala abaixo: impresso pode ser melhorado através de reuniões e
“o diagnóstico até mesmo na graduação os profes- chegar a um consenso e tornar ele mais efetivo na sua
sores tinham essa dificuldade. eu vim aprender mais na aplicabilidade” (Entrevista Enf. IV).
minha especialização” (Entrevista Enf. XXVI). “O que a gente utiliza no caso o enfermeiro o SAE
Concordam26 com o relato acima e descreve um re- ele e bem elaborado facilita o nosso trabalho já vem
lato parecido em sua pesquisa “[...] a gente realmente com todas a definições alguns diagnósticos, já fica mais
não tem a preparação adequada, eu acho que a nossa fácil pela quantidade de paciente que a gente tem” (En-
faculdade, a minha faculdade pelo menos, me deu uma trevista Enf. XVI).
base assim, mas não suficiente. Eu não me sinto total- Segundo Medeiros et al. (2012)48, reconhecem que
mente preparada porque é uma coisa nova, e na maioria os formulários utilizados no serviço são satisfatórios na
dos hospitais, não é uma coisa implementada [...]”. execução de todas as fases do PE. No entanto, necessi-
Concluo dizendo que de tal maneira, é preciso as- tam ser ajustados para suprir as necessidades da clientela
segurar o exercício profissional do enfermeiro, já que ao atendida no serviço, objetivando qualificar o atendimen-
longo de sua própria história tem sido continuamente to prestado isso é versado pelos enfermeiros que partici-

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param desse estudo. [...] alguns instrumentos do proces- atendendo com mais precisão e eficiência as necessida-
so de enfermagem necessitam ser ajustados para suprir des humanas do cliente, os formulários contemplando as
as necessidades de nossa clientela48. fases do processo de enfermagem são importantes para
Diante desses relatos os sujeitos que participaram da que os enfermeiros tenham conhecimento teórico e prá-
presente pesquisa também revelaram que o instrumento tico, de modo a executarem as ações. Esse conhecimento
que eles utilizam precisa ser ajustados, pois os mesmos é necessário como base para a tomada de decisão e na
demonstraram descontentamento durante seu preenchi- escolha das intervenções para assistir a cliente, subsidi-
mento conforme mostra os trechos abaixo: ando o raciocínio crítico e clínico em enfermagem.
“eu acho que ele deveria ser específico por especia- Gonçalves et al. (2007)49 afirmam que os enfermeiros
lidade pois o impresso que é utilizado na pediatria é despendem muito tempo no preenchimento de formulá-
utilizado no clinica medica, UTI, teria que ser mais es- rios, registros de documentação da assistência de enfer-
pecifico muitas das questões levantado no impresso as magem, através de anotações manuais, e recomendam o
vezes não a aplicado em determinada clinica ai acaba desenvolvimento de um software para a coleta de dados
sendo assim formulário muito extenso e dificultando e a prescrição de enfermagem que proporcione aos en-
aplicabilidade dele, os coordenadores já deu uma fermeiros o registro informatizado de forma individuali-
enxugada e ficou mais específico mas ainda acho que zada, eficiente e rápida.
está em processo de construção, coitado do processo de A enfermagem tem avançado muito nos últimos anos,
enfermagem....risos está ainda capengan- graças a investimentos na área de pesquisa, entretanto a
do,......risos....”( Entrevista Enf. XXV). região Norte ainda está “amadurecendo” no que se refere
“O impresso assim eu acho que na verdade pode- a pesquisas inovadoras na área de enfermagem e a insti-
ria dar uma enxugada deixando bem para as necessida- tuição inerente a pesquisa embora localizada no interior
de bem urgentes talvez assim ficaria bem mais fácil de do Estado segundo relato de profissionais a SAE im-
usar porque ele tem muita coisa frente e verso então plantada no HRC é a melhor da região e nós somos pio-
e muita coisa e se hoje for fazer esse a gente gastaria neiros:
em média de 40 a 50 minutos por paciente pra fazer a “das instituições da região e pela nossa realidade de
SAE então eu acho que deveria dar uma enxugada ou se Rondônia nós estamos tentando uma coisa tipo pioneira
aquele paciente que não desse pra fazer a SAE você po- e mesmo com algumas dificuldade a gente está conse-
deria ter outra opção de impresso mais sucinto ao guindo dar um passo além das demais instituições estão
invés de ficar marcando no livro”(Entrevista Enf. realizando, mas é interessante essa questão da implan-
XXVII). tação da SAE aqui e da exigência que os profissionais
“Eu acho que ele e muito extenso deveria ser mais da enfermagem faça essa SAE”(Entrevista Enf. VI).
preciso e mais coeso tem informações que eu acho não Para aplicabilidade prática do PE é necessário que
tem tanta necessidade e tem outras que teria necessida- seja levado em consideração as metas da instituição e do
de não está dentro do impresso porem é aquilo que eu serviço de enfermagem, o perfil da clientela a ser assis-
disse ainda está em construção tão acrescentando al- tida, a disponibilidade e comprometimento de todos os
guma coisa modificando alguma coisa eu acho que no envolvidos51. Ressalta ainda que é importante que todos
geral ele está bom” (Entrevista Enf. XVII). os membros da equipe de enfermagem tenham não so-
Corroborando ainda Gonçalves et al49 revelam de- mente base teórica e científica, mas essencialmente sin-
poimentos similares aos versados anteriormente. [...]No tam-se envolvidos nesse processo de cuidar do outro,
início senti muita dificuldade com os instrumentos, Tive pois além dos obstáculos externos pelos quais não temos
dúvidas no preenchimento por ser extenso. Ele é com- governabilidade, como recursos humanos e material pre-
pleto, só alguns pontos a serem preenchidos me parece- cisamos transpor barreiras próprias da enfermagem, co-
ram realmente duvidosos[...]; [...]No que se refere à mo a dicotomização do trabalho da enfermagem e a falta
aplicabilidade dos instrumentos da SAE, penso que de- de credibilidade do PE expressado pelos enfermeiros.
veria haver uma diminuição nos itens. É muito cansativo Nesse sentido, a SAE situa-se numa esfera instituci-
para a paciente e para o aluno apesar de em grande parte onal onde a visão de organização das atividades de en-
tudo ser necessário [...]; [...] muito longo. Ninguém con- fermagem interfere diretamente na implantação e im-
segue fazer em menos de meia hora[...]. plementação do PE e também na metodologia subsidiada
Assim Medeiros et al. (2012)48, dizem que a SAE em uma teoria de enfermagem a ser utilizada na práti-
não só proporciona uma melhoria na qualidade da assis- ca5,50.
tência, mas também gera o aumento da satisfação e o Desta maneira, tendo em vista a necessidade e os de-
crescimento da profissão de enfermagem. A utilização da safios que permeiam a implementação do PE, algumas
SAE permite aplicar os conhecimentos teóricos de en- estratégias se colocam para potencializar o seu uso no
fermagem na prática cotidiana do cuidado, contribuindo Brasil, dentre elas o uso da informática nos cenários da
para o fortalecimento da enfermagem enquanto ciência e prática, a busca por melhores condições de trabalho e de

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remuneração, a adoção de processo de educação perma- perados. Os princípios destes desafios ancoram-se na
nente pelas instituições prestadoras de assistência, a articulação das diversas atribuições que a enfermagem
existência de legislação que trata do assunto, o movi- tem no ambiente nosocomial diante do processo de en-
mento de controle de qualidade da assistência prestada, fermagem como elemento fundamental para uma prática
bem como a busca pela utilização de terminologias em baseada em evidência científica. E estas dificuldades
enfermagem5,50. reveladas pelos sujeitos vão de encontro com os achados
Finalizo, a este ponto, a explanação dos achados da pre- na literatura em estudos aplicados tanto na região sudes-
sente pesquisa bem como a discussão dos mesmos. Pas- te e região nordeste.
so às considerações finais, como seção de conclusão Entendemos que esse assunto não se esgota com este
deste artigo. estudo, aliás, acreditamos estar na etapa inicial, tendo
em vista a insuficiência de debates na região sobre o
4. CONCLUSÃO tema, na produção de conhecimento da enfermagem. No
entanto, ao final desta experiência, percebemos que este
Este estudo teve seu objetivo identificar e analisar as estudo pode contribuir, de alguma forma, para facilitar a
dificuldades encontradas pelos enfermeiros acerca da busca de caminhos estratégicos para um agir mais crítico
utilização do processo de enfermagem alcançado por no âmbito processo de enfermagem, assim concluímos
meio da metodologia adotada. O emprego da pesquisa que a enfermagem, a instituição inerente a pesquisa, as
qualitativa descritiva conjugada às entrevistas gravadas, escolas de graduações da região precisam investir em
bem como o tratamento das informações obtidas com estudos com fortes evidencias, para caracterizar e me-
uso da Análise de Conteúdo permitiram, também, alcan- lhorar a aplicação e execução do PE.
çar o objetivo proposto.
Considero que este método de investigação e refle- REFERÊNCIAS
xão social através das entrevistas, contribuiu para minha
qualificação profissional e aflorou meu interesse pela [1] Tannure MC, Pinheiro AM. Sistematização da Assistência
pesquisa, ainda que represente a “ponta de um iceberg” a de Enfermagem SAE. 2ª ed.Rio de Janeiro. Guanabara
Koogan. 2010.
ser descoberto. Vislumbro que os resultados possam ins-
[2] Horta WA. Processo de Enfermagem. Ed. E.P.U. São
tigar nos colegas desta instituição o “empowerment” Paulo. 1979.
(ação coletiva) e a inspiração necessária para uma [3] Amante LN, Rossetto AP, Schneider DG. Sistematização
transformação de sua prática cotidiana. da Assistência de Enfermagem em Unidade de Terapia
Embora percebendo que a atual realidade que vive- Intensiva sustentada pela Teoria de Wanda Horta.Rev.
mos ainda está muito longe da idealizada, pois nossas esc. enferm. USP, São Paulo. 2009; 43(1).
ações predominam a assistência demandada por proce- http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342009000100007.
dimentos, normas, rotinas e focada na doença e não na [4] Dell'Acqua MCQ, Miyadahira AMK. Ensino do processo
pessoa doente. Compreendemos que utilizando o pro- de enfermagem nas escolas de graduação em enfermagem
do estado de São Paulo.Rev. Latino-Am. Enfermagem,
cesso de enfermagem como método de trabalho, e não
Ribeirão Preto. 2002; 10(2).
simplesmente direcionando nossas ações pelo empiris- http://dx.doi.org/10.1590/S0080-62342000000400010.
mo, vislumbraremos um novo futuro. [5] Santos JFE, Santos RM, Almeida LMWS, Costa LMC. O
Este estudo mostrou que o enfermeiro está sobrecar- espaço do Processo de Enfermagem na prática profissio-
regado de multitarefas (enfermeiro tarefeiro) e afazeres nal: um exercício de reflexão. [22/02/2014];
cotidianos não atribuídos a profissão e relega para se- http://www.abennacional.org.br/centrodememoria/here/v
gundo plano o planejamento das atividades relacionadas ol3num2artigo6.pdf
ao PE e à equipe de enfermagem, sem estratégia que se [6] Smeltzer SC, Bare BG. Brunner – Tratado de enfermagem
possa discutir a prática assistencial, favorecendo assim médico – cirúrgica . 09ª ed. Rio de Janeiro. Guanabara
Koogan. 2002.
ainda mais a desvalorização e a ideia de fazer burocráti-
[7] Kurcgant P, Tronchin DMR, Fugulin FMT, Peres HHC, Massarol-
co (enfermeiro assistemático). lo MCKB, Fernandes MFP. Gerenciamento em Enfermagem.
Mesmo evidenciando falhas e dificuldades na reali- Editora: Guanabara Koogan. 2ª ed. 2012.
zação do PE, os próprios enfermeiros mostram estraté- [8] Brasil. Leis, Decretos-Lei 7498/86. Diário Oficial da
gias advindas da análise de conteúdo que podem melho- União. Brasília, 26 de junho.]
rar esta prática cotidiana, como: melhorar o instrumento [9] Brasil. Leis, Decretos-Decreto 94.406/87. Diário Oficial
existente oferecer treinamento e capacitação, adequar o da União. Brasília, 08 de junho de 1987. Seção I –fjs8.853
quadro do pessoal da enfermagem, informatizar o PE a 8. 855.
através de software. [10] Resolução COFEN-358/2009. Conselho Regional de
Enfermagem de Rondônia. COREN-RO. Caderno de le-
Os resultados desta pesquisa propiciam uma série de
gislação. 2011/2012.
reflexões sobre o processo de enfermagem e fornecem [11] Reppetto MÂ, Souza MF de. Avaliação da realização e do
subsídios, para que os desafios profissionais sejam su- registro da Sistematização da Assistência de enfermagem

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