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A UTILIZAÇÃO DO MÉTODO CLÍNICO

CENTRADO NA PESSOA E A RELAÇÃO


COM A MELHORIA DA PERFORMANCE
CLÍNICA DE MÉDICOS DO PROGRAMA
DE EDUCAÇÃO PERMANENTE PARA
MÉDICOS DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE
DA FAMÍLIA DA REGIÃO AMPLIADA DE
SAÚDE JEQUITINHONHA � MG
THE USE OF PATIENT-CENTERED CLINICAL METHOD
AND ITS RELATION TO THE IMPROVED CLINICAL
PERFORMANCE OF THE PROGRAM FOR CONTINUING
EDUCATION FOR FAMILY HEALTH DOCTORS IN
JEQUITINHONHA REGION – MG

Cleya da Silva Santana Cruz1,


Daisy de Rezende Figueiredo Fernandes2,
Sheyla Ribeiro Rocha Martins3, Evanildo José da Silva3,
João Batista Silvério4, Leida Calegário de Oliveira5

1
Superintendência
Resumo Abstract Regional de Saúde de
Diamantina da Secretaria
O Programa de Educação Permanente �e Program for Continuing Education de Estado de Saúde de
Minas Gerais
para Médicos da Estratégia de Saúde da Fa- for Physicians in Family Health Strategy joaquimcezar@yahoo.
mília (PEP) foi implantado na Região Am- – PEP – was implanted in the Extended com.br
pliada de Saúde Jequitinhonha (RASJ), em Health Region Jequitinhonha – RASJ – in 2
Departamento de
Enfermagem da
2010, com a �nalidade de melhorar o nível de 2010 with the purpose of improving the level Universidade Federal dos
resolubilidade da Atenção Primária à Saúde, of solvability of Primary Health Care, with Vales do Jequitinhonha e
com a utilização da educação permanente the use of continuing education focused Mucuri – UFVJM
voltada ao Método Clínico Centrado na on the Person Centered Clinical Method
3
Faculdade de Medicina
da UFVJM.
Pessoa (MCCP) e melhoria da performance – MCCP – and on the improvement of 4
Centro de Ciências
clínica dos médicos. Este trabalho objetivou the clinical performance of doctors. �is Biológicas e da Saúde da
avaliar o programa na RASJ. Foi desenvolvi- study evaluated the program in RASJ. It Universidade Estadual
de Montes Claros –
do em 14 municípios, com 31 médicos e 383 was developed in 14 municipalities, with UNIMONTES.
usuários dos serviços. Pesquisa descritiva e 31 doctors and 383 service users. Descrip- 5
Departamento de
quantitativa utilizou como instrumentos de tive and quantitative research utilized as Farmácia da UFVJM.

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coleta de dados questionários e gravações instruments for data collection question-
das entrevistas das consultas. Foi realizada naires and recorded interviews of queries.
análise descritiva dos dados e aplicado o X2 e Descriptive data analysis was performed
o Teste Exato de Fisher. Os médicos relataram and the X2 test and Fisher’s Exact Test were
redução de encaminhamentos (93,5%) e pedi- applied. Doctors reported a reduction of
dos de exames desnecessários (96,8%), assim referrals (93.5%) and requests for unneces-
como reestruturação das consultas (93,5%); sary tests (96.8%) as well as restructuring
76,1% dos usuários perceberam melhoria nos of the consultations (93.5%) and 76.1% of
atendimentos após a participação do médico users noticed improvements in care a�er
no PEP. Conclui-se, assim, que a educação the physician’s participation in the PEP.
permanente nos moldes do PEP pode me- �us, it is concluded that continuous edu-
lhorar o desempenho clínico dos médicos cation along the lines of PEP can improve
e aumentar o envolvimento do usuário no the clinical performance of physicians and
atendimento pela utilização do MCCP. increase service user involvement in the
use of MCCP.
Palavras chave: Educação Permanente;
Atenção Primária à Saúde; Serviços de Saú- Keywords: Education Continuing; Prima-
de; Relações Médico-Paciente; Assistência ry Health Care; Health Services; Physician-Pa-
Centrada no Paciente. tient Relations; Patient-Centered Care.

Introdução
A Atenção Primária à Saúde (APS), ape- Na área da saúde, a EP se apresenta
sar de ser um nível de atenção em que predo- como forma de transformar os serviços,
minam a utilização de poucos equipamentos trabalhando com todos os indivíduos envol-
e a baixa densidade tecnológica, exige dos vidos, oferecendo subsídios para que consi-
múltiplos pro�ssionais uma complexidade gam resolver seus problemas e estabeleçam
na articulação de seus diversos saberes. Em estratégias que amenizem, inclusive, as ne-
relação aos pro�ssionais médicos, percebe-se cessidades de sua comunidade. Intenciona
a necessidade de desenvolver uma aborda- aprimorar o método educacional em saúde,
gem adequada e efetiva de transformação tendo o processo de trabalho como seu ob-
em busca do atendimento a esse pressuposto. jeto de transformação, buscando melhorar
Outras necessidades comumente demanda- a qualidade dos serviços, visando alcançar
das são uma so�sticada síntese de saberes e equidade no cuidado, tornando-os mais
complexa interação de ações individuais e quali�cados para o atendimento das ne-
coletivas, curativas e preventivas, assisten- cessidades da população.
ciais e educativas (ABDALLA et al., 2009). De acordo com Ceccim e Ferla (2008),
É fato que o conhecimento se deteriora a EP convida à criação e à construção con-
com o tempo e, que para ser um bom pro- juntas, sendo requeridas para tanto novas
�ssional, além dos conhecimentos técnicos, sensibilidades e condutas: escuta, solidarie-
sobretudo é necessário aguçar os atributos dade, gestos, capacidade de afetar o outro
humanos. Em busca de um bom desempenho e de ser afetado por ele, transformando o
na pro�ssão, o médico deve ser capaz de per- cotidiano. Portanto, é necessário que os
ceber as inquietações de cada pessoa, adaptar- pro�ssionais adquiram novas habilidades,
se aos contextos variados e, após a formação rompam com os modelos hegemônicos, su-
pro�ssional, manter a Educação Permanente perem as modelagens de serviços centrados
(EP), instrumento que lhe fará crescer conti- em procedimentos, para que assumam o seu
nuamente no seu trabalho (BLANK, 2006). lugar ativo dentro da EP (CECCIM, 2005).

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Para Nicoletto et al. (2013), à medida que disponibilizados pelo programa. Essa estra-
os trabalhadores de saúde, como os atores tégia educacional busca estabelecer coope-
em ação no processo de trabalho, fazem ração contínua entre os médicos da região,
re�exão sobre suas práticas e avançam no voltada para o aperfeiçoamento da prática
conhecimento e na quali�cação das ações e pro�ssional (SILVÉRIO, 2007).
serviços de saúde, a EP promove mudanças Pendleton e colaboradores (2011) a�rmam
no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) que a consulta médica deve envolver duas
brasileiro. Assim também aponta Sarreta perspectivas: a do médico e a do paciente.
(2010), quando a�rma que a implantação Ambas são importantes e necessárias. Para
da Política de EP possui elementos capazes tanto, torna-se necessária a aplicação de um
de aprimorar o processo de trabalho, uma modelo em que a consulta se centre no pacien-
vez que a formação sugerida parte das ne- te, buscando-se a abstração de informações
cessidades sentidas pelos sujeitos. que auxiliem o pro�ssional na construção do
Nessa perspectiva de adoção de novas prá- diagnóstico, bem como empoderamento e
ticas de saúde, no Estado de Minas Gerais, a maior adesão da pessoa ao tratamento.
EP em Saúde foi eleita como uma atividade es- Pelo fato de a consulta médica centrada
sencial aos pro�ssionais. Para tal �m, o Estado na pessoa ser o centro gravitacional da me-
criou, em 2005, o Programa de Educação Per- todologia de aprendizagem do programa, o
manente para Médicos da Estratégia de Saúde MCCP é utilizado durante os atendimentos.
da Família (PEP), como forma de intervir na Esse propõe um conjunto de seis componen-
educação dos pro�ssionais médicos, lidando, tes, inter-relacionados, que contribuem para
assim, com a grande heterogeneidade de com- que o pro�ssional possa fazer um atendi-
petências e a EP dos médicos da Estratégia de mento mais focado na pessoa. Baseia-se na
Saúde da Família (ESF) (SILVÉRIO, 2007). exploração e na interpretação da doença, bem
Os objetivos desse programa estão liga- como na experiência daquele que tem a doen-
dos à melhoria de qualidade da APS, uma vez ça; no entendimento do ser em sua totalidade;
que estimula o pro�ssional a trabalhar utili- na elaboração de uma programação conjunta
zando o Método Clínico Centrado na Pessoa de manejo da doença, com de�nição dos pa-
(MCCP), aperfeiçoando as habilidades de péis de cada um dos atores; na incorporação
comunicação e as habilidades clínicas, pro- de medidas de prevenção e de promoção da
curando melhorar sua performance clínica saúde; no fortalecimento da relação médico
e promovendo o estímulo ao autocuidado da e pessoa e no enfoque da viabilidade em rela-
pessoa. Para Mendes (2012), decisões clínicas ção a custo e tempo (STEWART et al., 2010;
devem ser exercidas com base em diretrizes BALLESTER et al., 2010).
clínicas construídas valendo-se de evidên- No MCCP, os pro�ssionais são encoraja-
cias cientí�cas que necessitam ser discutidas dos a utilizarem as habilidades de comuni-
com os usuários dos serviços, de forma que cação com o objetivo de alcançar a centra-
esses possam compreender melhor a atenção lidade na pessoa durante a consulta médica,
à saúde que lhes é prestada. e com isso a busca de atendimento integral,
O PEP está estruturado, entre outras ba- resolutivo e promoção do autocuidado do
ses, nos Grupos de Aperfeiçoamento Pro�s- paciente. Segundo Souto e Pereira (2011), a
sional, os GAPs, de estrutura �xa, formados coleta de uma história clínica centrada no su-
por oito a 12 médicos que trabalham em ESF jeito permite que �ua, automaticamente, ao
de uma mesma Região de Saúde e que condu- �nal dela, um rol de necessidades de saúde,
zem o processo continuado de autoaprendi- podendo gerar demandas de mobilização de
zagem individual e coletiva. Os GAPs devem equipe multipro�ssional, de identi�cação de
ser capazes de identi�car as necessidades dos redes de apoio e de quali�cação do processo
pro�ssionais para melhoria do desempenho assistencial, de EP para o pro�ssional, além
clínico, utilizando os recursos educacionais do próprio cuidado do indivíduo.

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O PEP utiliza-se do MCCP, que é uma em substituição ao termo paciente (BROWN
oposição ao termo medicina centrada na do- et al., 2010). Neste trabalho, buscou-se uti-
ença. Para a utilização desse método, é ne- lizar o termo pessoa para denominação de
cessário que ocorra mudança de mentalidade paciente, no entanto, em alguns momen-
do médico, que deverá abandonar a ideia de tos foram utilizados os termos paciente ou
hierarquia, na qual o pro�ssional está no co- usuário, quando tais formas semânticas se
mando, e a pessoa se apresenta como sujeito mostraram mais apropriadas.
passivo do processo (BROWN et al., 2010). Com o intuito de se estabelecer o número
Diante do exposto, neste estudo, avaliou- de usuários a serem entrevistados em cada
se o PEP em desenvolvimento na Região Unidade Básica de Saúde (UBS), foi realizada
Ampliada de Saúde Jequitinhonha de Minas a divisão entre o número total de usuários da
Gerais (RASJ), tendo em vista os objetivos amostra pelo número total de médicos que
propostos de melhoria da performance clíni- atendiam aos critérios de inclusão.
ca e utilização do MCCP. Para isso, foi neces- Posteriormente, os usuários foram sele-
sária a inclusão na pesquisa das perspectivas cionados utilizando-se do sorteio aleatório
de médicos e usuários do serviço de saúde. simples (SIQUEIRA e TIBÚRCIO, 2011).
Foi necessário considerar como critérios de
2 Material e métodos inclusão que os usuários somente poderiam
Trata-se de um estudo descritivo desen- participar da pesquisa se fossem clientes há
volvido em equipes da ESF de 14 municípios mais de um ano do médico participante e
que integram a RASJ de Minas Gerais. Teve se apresentassem um mínimo de duas con-
como critérios de inclusão médicos com fre- sultas registradas no prontuário da UBS no
quência igual ou superior a 60,0% nos encon- último ano e com este pro�ssional. O mé-
tros de GAPs do PEP, ocorridos no período todo utilizado foi o sorteio de prontuários
de novembro de 2010 a maio de 2012, e que da UBS, caso o sorteado não atendesse aos
compunham a equipe da ESF no mínimo ha- critérios anteriormente descritos, selecio-
via um ano. Os usuários participantes foram nava-se próximo prontuário até que todos
aqueles cadastrados nas ESF cujos médicos os critérios fossem atendidos.
foram selecionados para este estudo. Os dados foram obtidos através de ins-
A amostra de médicos da pesquisa foi de- trumentos para coleta de dados e �lmagens
�nida por conveniência (OLIVEIRA, 2001), de consultas. A coleta de dados ocorreu de
já que somente poderiam ter potencial de julho a dezembro de 2012.
respostas aqueles pro�ssionais que efetiva- Os instrumentos para coleta de dados de
mente participaram do PEP com frequência usuários e de médicos seguiram o método
considerável. Esse foi o fator determinante da Escala de Likert que apresenta escala de
para que fosse considerado como um dos intervalo entre concordância e discordância,
critérios de exclusão da amostra a frequência visando mensurar julgamentos, opiniões e
inferior a 60,0% nos encontros dos GAPs. atitudes (MARCONI e LAKATOS, 2007).
Foram entrevistados usuários das equi- Os pro�ssionais foram questionados
pes da ESF nos 14 municípios onde havia quanto à possibilidade de gravação (áu-
médicos com frequência de participação dio e vídeo) das suas consultas. Dentre os
nos encontros de GAP igual ou superior a médicos que autorizaram, foram também
60,0%. Para se de�nir o número de usuários solicitados consentimentos aos usuários que
a serem entrevistados, o cálculo do tama- aguardavam na sala de espera e que con-
nho amostral deu-se segundo Siqueira e cordaram em participar das gravações. Para
Tibúrcio (2011), utilizando-se os seguintes cada pro�ssional foi sorteado um usuário
parâmetros: p: 50%, e: 5%, z: 95%. para a efetivação deste procedimento, se-
Com o uso do MCCP, passou-se a utili- guindo-se a metodologia padronizada para
zar, principalmente na APS, o termo pessoa os encontros do PEP (checklist de abertura

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da consulta e exploração dos problemas). Montes Claros sob o Parecer nº 3238/2012,
Posteriormente, as gravações foram anali- e seguiram as diretrizes e normas regu-
sadas pelos pesquisadores. lamentadoras envolvendo seres humanos,
A análise quantitativa dos dados foi feita de acordo com a Resolução do Conselho
utilizando-se o so�ware Epi Info. 6.04. Fo- Nacional de Saúde – CNS 196/96.
ram realizadas análises de estatística descri-
tiva, com o objetivo de veri�car os impactos
3 Resultados e discussões
do PEP para médicos da ESF. Foi aplicada a
estatística com cálculo de medidas de ten- O número total de municípios envol-
dência central (valores que representem bem vidos foi de 14, com a participação de 31
a distribuição da variável de interesse) e me- médicos e de 383 usuários.
didas de variabilidade (para análise do grau
de agregação/relação de signi�cância). Para Utilização do MCCP e melhoria
efeito de veri�cação de valores signi�cativos da performance clínica
ou não, foram utilizados, segundo Siqueira Na análise de seis variáveis relativas à
e Tibúrcio (2011), os testes estatísticos qui- melhoria da performance clínica e aplicação
quadrado (X2) e Teste Exato de Fisher. do MCCP, observamos que a maior parcela
O presente trabalho e seus instrumen- dos médicos entrevistados respondeu posi-
tos foram aprovados pelo Comitê de Ética tivamente. Os resultados estão apresentados
em Pesquisa da Universidade Estadual de na TAB. 1.

Tabela 1: Melhoria da performance clínica e aplicação do Método Clínico Centrado na Pessoa


(MCCP), sob o ponto de vista dos médicos participantes do Programa de Educação Permanente
para Médicos da Estratégia de Saúde da Família (PEP) em desenvolvimento na Região Ampliada
de Saúde Jequitinhonha, MG, 2012

VARIÁVEL SIM �%� NÃO �%�

Estudos em grupos e/ou individuais já ajudaram a resolver problemas


96,6 3,4
no atendimento médico

Utilização do MCCP nas consultas 93,5 6,5

Melhoria da inter-relação com o paciente 93,5 6,5

Percepção na melhoria da qualidade da saúde da população pela


90,0 10,0
participação do médico no PEP

Redução de encaminhamentos desnecessários 93,5 6,5

Redução de pedidos de exames desnecessários 96,8 3,2

Ao serem questionados sobre o desempe- relataram melhoria na inter-relação com


nho clínico, 96,6% dos médicos relataram que o paciente. Franco, Bastos e Alves (2005)
os estudos em grupo ou individuais realizados citam que 85,4% dos médicos participantes
no GAP já os ajudaram a resolver problemas de seu estudo consideraram a relação com
relacionados ao atendimento, e 93,5% deles o paciente diferenciada na ESF, por esta
referiram utilizar o MCCP em suas consultas. permitir maior proximidade e con�ança,
Quanto ao desempenho dos médicos se comparada a outros serviços de saúde.
na utilização do MCCP, após sua parti- Os resultados demonstram que, do total
cipação no PEP, 93,5% dos entrevistados de médicos entrevistados, 90,0% relataram

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perceber melhoria da qualidade de saúde da serviço de urgência, hospitalizações, exa-
população, por sua participação no PEP. No mes complementares de diagnóstico). No
trabalho realizado por Silva, Vasconcelos e Brasil, são raros os estudos que abordam di-
Matos Filho (2010), 55,0% dos pro�ssionais retamente a solicitação de exames médicos,
relataram melhoria da performance após sendo seletos e não re�etindo a realidade do
participação nesse tipo de programa. Franco, todo do sistema de saúde (BRASIL, 2002).
Bastos e Alves (2005) explicaram que a mu- Baseando-se na visão dos médicos fre-
dança, muito referida por pro�ssionais, está quentes no PEP da RASJ, pode-se inferir
relacionada com um maior comprometimento melhoria da performance clínica desses pela
do médico e com a realização de atendimento participação no programa. Segundo Assis e
no qual o paciente é visto integralmente. colaboradores (2012), o médico participante
Entre os médicos participantes da pes- do PEP reconhece que o programa atende
quisa, 93,5% e 96,8% a�rmaram ter redu- às suas expectativas e contribui para a sua
zido os encaminhamentos e os pedidos de prática, indicando uma satisfação com a qua-
exames desnecessários, respectivamente. li�cação ofertada, apesar de esse fato não se
Os estudos de Bertakis e Azari (2011) de- expressar com frequência sistemática.
monstraram que a prática de uma medi- A análise de três variáveis relativas à
cina centrada no paciente está associada à percepção do usuário quanto ao atendimen-
redução da utilização de recursos de saúde to prestado pelos médicos participantes é
(consultas especializadas, recorrências ao apresentada na TAB. 2.

Tabela 2: Percepção do usuário quanto ao atendimento dos médicos do Programa de Educação


Permanente para Médicos da Estratégia de Saúde da Família em desenvolvimento na Região
Ampliada de Saúde Jequitinhonha, MG, 2012.

VARIÁVEL SIM �%� NÃO �%�

Estudos em grupos e/ou individuais já ajudaram a resolver problemas


96,6 3,4
no atendimento médico

Utilização do MCCP nas consultas 93,5 6,5

Melhoria da inter-relação com o paciente 93,5 6,5

Percepção na melhoria da qualidade da saúde da população pela participação


90,0 10,0
do médico no PEP

Redução de encaminhamentos desnecessários 93,5 6,5

Redução de pedidos de exames desnecessários 96,8 3,2

A maioria dos usuários (96,0%) que par- que pacientes portadores de dores crônicas
ticiparam da pesquisa a�rmou que o médico atendidos por pro�ssionais que utilizam o
da ESF dá orientações claras a respeito da sua MCCP tiveram maior compreensão acerca
doença, certi�cando-se do seu entendimen- do signi�cado de sua doença.
to. Da mesma forma, a maioria dos usuários Em relação à percepção dos usuários
(93,1%) a�rmou que o médico participan- quanto à inclusão pelo pro�ssional de seu
te do PEP explica, de forma clara, como se ponto de vista no momento de planejar
deve tomar o medicamento. Dados simila- o tratamento e o cuidado, a maioria des-
res também foram apontados no estudo de tes (57,0%) a�rmou que isso não ocor-
Sparrenberger et al. (2013), demonstrando reu durante suas consultas. Ao estudar a

110
comunicação entre médicos e pacientes, médicos e pacientes no relacionamento é
Caprara, Rodrigues e Montenegro (2001) in�uenciada por questões que enfatizam a
relataram que, no começo da consulta, assimetria e di�cultam o estabelecimento
quase todos os médicos tentam estabe- de uma melhor relação. Essa diferença é
lecer relação empática com o paciente. rea�rmada pela compreensão da doença
Mas, apesar disso, esses autores a�rmam por parte do usuário, que perpassa por ca-
que 39,1% dos médicos não explicam de minhos diversos daqueles do médico.
forma clara e compreensiva o problema; A análise dos dados apresentados neste
em 58,0% das consultas, não é veri�cado estudo possibilita inferir, sob o ponto de
o grau de entendimento do paciente so- vista do usuário, melhoria do desempenho
bre o diagnóstico dado, ao passo que, em pro�ssional dos médicos frequentes no PEP.
53,0% das consultas não há veri�cação da
compreensão do paciente quanto às indi- Análise das entrevistas
cações terapêuticas. Em estudo posterior, das consultas médicas
Caprara e Rodrigues (2004) apontam que As consultas médicas (n=09) não foram
os médicos não reconhecem o paciente gravadas integralmente, mas apenas as en-
como sujeito capaz de assumir a responsa- trevistas, de forma a reduzir o impacto da
bilidade com o cuidado pela própria saúde, intervenção na consulta, uma vez que essa
além de não desenvolverem a autonomia precisa acontecer em uma situação de to-
e a participação do paciente no processo tal entrega do médico e do usuário, sem
de adesão ao tratamento e às práticas de interferências externas. Ao analisarmos o
prevenção e promoção da saúde. tempo utilizado para as entrevistas, a média
No trabalho de Nascimento Júnior foi de 6 minutos e 59 segundos (dp ± 4,3),
e Guimarães (2003), os autores a�rmam com tempo máximo de 14 minutos e 49
que a participação do paciente na tomada segundos e tempo mínimo de 2 minutos e
de decisões varia de acordo com a relação 56 segundos.
médico-paciente e apresentam três tipos Outros estudos analisaram a duração
de relação. No tipo de relação chamada de da consulta como um todo, e não apenas
“atividade-passividade”, o paciente abando- a entrevista, como feito neste trabalho.
na-se por completo e aceita passivamente os Franco, Bastos e Alves (2005) apontaram
cuidados médicos, sem mostrar necessidade a duração da consulta de oito a 15 minutos,
ou vontade de compreendê-los. Na relação enquanto Caprara e Rodrigues (2004) re-
de “direção-cooperação”, o médico assu- velaram a duração média de nove minutos
me seu papel de maneira, até certo ponto, com ampla variação de dois até 24 minutos.
autoritária, mas o paciente compreende e No trabalho de Cotta et al. (2006), 66,8%
aceita tal atitude, procurando colaborar. dos entrevistados relataram que a consulta
No tipo de relação de “participação mútua tinha duração de 15 a 30 minutos.
e recíproca”, o médico permanece no seu Caprara e Rodrigues (2004) informaram
papel de de�nir os caminhos e os procedi- que maior tempo de consulta está associado
mentos, mas o paciente compreende e atua a uma melhor qualidade do atendimento,
conjuntamente. Nesse caso, as decisões são permitindo a realização de uma anamnese
tomadas após troca de ideais e análise de mais adequada, melhor explicação do pro-
alternativas. O paciente assume a respon- blema e dos procedimentos diagnósticos e
sabilidade, havendo, então, uma interpene- terapêuticos, assim como a veri�cação do
tração de papéis, ou seja, uma aliança entre médico sobre a compreensão do paciente e
o cliente e o médico. a inclusão da perspectiva desse na consulta.
A experiência da doença pelo pacien- Ademais, maior tempo de consulta facilita
te envolve aspectos culturais, familiares e a escuta, o vínculo e o acolhimento (SILVA;
emocionais. A percepção diferenciada entre VASCONCELOS; MATOS FILHO, 2010).

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A média de interrupção da fala do pa- Percepção do usuário quanto
ciente na descrição da queixa principal ou ao atendimento médico
motivo da consulta foi de 36 segundos (dp Os resultados da percepção dos usuários
± 26), sendo o tempo mínimo de 5 segun- da ESF, quanto à mudança na qualidade do
dos, e o máximo, de 1 minuto e dezessete atendimento dos médicos que participaram
segundos. A análise das consultas gravadas do PEP, no ano de 2012 são apresentados
mostrou que 11,1% dos pro�ssionais não na FIG. 1.
interromperam a fala dos usuários, e 11,1%
não permitiram que esses expressassem o Figura 1: Percepção dos usuários em relação
motivo da consulta livremente, direcionan- ao atendimento dos médicos participantes do
do as perguntas desde o início da entrevista Programa de Educação Permanente para Médicos
(dados não mostrados). Sabe-se que, com da Estratégia de Saúde da Família, Região
a inclusão da perspectiva do paciente na Ampliada de Saúde Jequitinhonha, MG, 2012.
consulta, o médico consegue extrair dele Sim: usuário percebeu melhoria na qualidade
do atendimento.
informações importantes para o seu cuidado
Não: usuário não percebeu melhoria na
e que o tempo de escuta do usuário também qualidade do atendimento.
demonstra o desenvolvimento das habilida-
des de comunicação. Segundo o trabalho de
Beckmam e Frankel (1984), 65% dos pacien-
tes são interrompidos pelos médicos antes de
15 segundos da explicação do problema. No
presente estudo, os médicos participantes
demoraram um tempo 140% superior para
fazer a primeira interrupção da fala dos usu-
ários em relação aos resultados apresentados A maior parcela dos usuários (76,1%)
no trabalho de Beckmam e Frankel (1984). respondeu ter notado diferença no atendi-
Mattos (2001) cita que a cobrança de mento médico no ano de 2012, referindo
produtividade para consultas médicas pode melhoria na qualidade desse atendimento
impedir um atendimento norteado pelos prestado pelo participante efetivo do PEP.
princípios da integralidade, sobretudo aque- A�rmaram também que o médico se mos-
les relativos a uma escuta atenta, à formação trou mais atencioso e preocupado com eles.
do vínculo com o paciente, ao acolhimento Para Urdan (2001), o paciente avalia a quali-
e à abertura para outras demandas e com- dade técnica do cuidado indiretamente, pelas
promissos. Entre os médicos entrevistados evidências do interesse e da preocupação dos
no presente estudo, 62,1% possuem dois pro�ssionais com sua saúde e seu bem-estar.
ou mais vínculos empregatícios (dados Segundo Lima-Costa e Loyola Filho (2008),
não mostrados), o que pode comprometer características como idade mais elevada,
o cumprimento da carga horária de tra- sexo feminino e escolaridade superior são
balho exigida na ESF. Assim, com menor independentemente associadas ao maior uso
tempo disponível para o trabalho na ESF e e satisfação dos usuários com os pro�ssionais
com grande número de consultas a serem e os serviços de saúde do SUS.
realizadas, resta executá-las no menor tem-
po possível, de forma a cumprir as metas Percepção do usuário quanto à
de produtividade. Nesses moldes, não há melhoria na qualidade da consulta
muito tempo para envolver o paciente na A relação entre a percepção dos usuários
consulta, ouvi-lo, discutir estratégias, tomar quanto à melhoria na qualidade do aten-
decisões conjuntamente, certi�car-se da dimento médico e o número de consultas
compreensão das informações prestadas realizadas pelos mesmos em 2012 estão
ao usuário. apresentados na FIG. 2.

112
Figura 2: Relação entre o número de consultas e o percentual de usuários do SUS que afirmaram
melhoria no atendimento dos médicos participantes do Programa de Educação Permanente para
Médicos da Estratégia de Saúde da Família, Região Ampliada de Saúde Jequitinhonha, MG, 2012.
A linha expressa uma tendência logarítmica.

Observa-se tendência da percepção da me- pôde ser percebida por usuários do SUS e pelos
lhoria da qualidade do atendimento médico à pro�ssionais médicos, e estes últimos creditam
medida que se eleva o número de consultas; tal mudança à participação no Programa de
entretanto, não é uma relação diretamente Educação Permanente para Médicos da Estra-
proporcional, demonstrando que outros fa- tégia de Saúde da Família (PEP).
tores podem interferir nessa percepção.
É importante considerar que a EP, entre
Referências
outros pressupostos, deve redundar no au-
mento da satisfação do usuário do serviço de ABDALLA, I. G. et. al. Projeto pedagógico e as
saúde (ALBERTSON et al., 2002). Sabendo-se mudanças na educação médica. Rev Bras Educ
Med, v. 33, Supl.1, p.44-52, 2009.
que essa perpassa pela qualidade e pela resolu-
bilidade do atendimento, a satisfação do pro- ALBERTSON, G. et. al. Impact of a simple inter-
vention to increase primary care provider recog-
�ssional tem impacto direto na primeira. Leite nition of patient referral concerns. Am J Manag
e colaboradores (2012), ao avaliarem a EP em Care, v. 8, n. 4, p.375-81, 2002.
saúde na região Norte de Minas Gerais, obser- ASSIS, L. N. et. al. A percepção de médicos partici-
varam alto grau de contentamento e interesse pantes sobre o Programa de Educação Permanente
dos pro�ssionais médicos em relação ao PEP. para Médicos de Saúde da Família em um estado
da região Sudeste. R Enferm Cent O Min, v. 2, n.
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