Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO:
RÉSUMÉ:
I - INTRODUÇÃO
A experiência adquirida enquanto estudante de Geografia no Departamento de
Geociências da Universidade Federal da Paraíba permitiu-nos desenvolver uma
compreensão dialética do espaço levando-nos a buscar além da aparência a resposta
para as questões formuladas.
Foi essa perspectiva que conduziu a escolha do objeto de estudo. A preocupação
com o tema surgiu no momento em que observamos uma séria contradição no seio de
organização do espaço agrário do município de Santa Rita, situado na Zona da Mata
Paraibana: ao mesmo tempo em que a atividade canavieira se expandia às custas de um
processo muito intenso de expulsão-expropriação do trabalhador rural, simultaneamente
desenvolvia-se, com o apoio da prefeitura local, um projeto denominado de
“urbanização rural” que tinha por objetivo “fixar a população rural no campo, oferecer-
lhes melhores condições de sobrevivência, com a instalação na zona rural de
aglomerados beneficiados com infra-estrutura urbana (água, eletricidade, saneamento
básico, serviços médicos, educacionais e de transporte etc)”. A procura de explicações
mais profundas para o fato nos levou a realização deste trabalho.
Sabe-se que, com a penetração do capitalismo no campo, ocorre um processo de
assalariamento do trabalhador rural. No caso particular da Zona da Mata Paraibana onde
está inserido o município de Santa Rita, esse processo intensificou-se após o incentivo
do governo à modernização da atividade canavieira através da criação do Proalcool.
Sobre este processo de assalariamento, Marx afirma o seguinte:
“O processo que cria o sistema capitalista consiste no processo que
retira do trabalhador a propriedade dos seus meios de trabalho, um
processo que transforma em capital os meios sociais de subsistência e os
de produção e converte em assalariados os produtores diretos (...). A
expropriação do produtor rural, do camponês que fica assim privado de
suas terras, constitui a base de todo o processo” (Marx, K. 1971: p.830).
Mas no desenvolvimento do capitalismo, a dominação do capital no campo não
pressupõe a total destruição das formas pré-capitalistas de produção. Isto porque, em
decorrência de sua própria necessidade, o capital em certas ocasiões, não por
impossibilidade, mas devido a própria forma que assume o seu desenvolvimento, pode
não transformar as relações de trabalho, mas a elas agregar novas características
decorrentes da necessidade da elevação da taxa de lucro, ou seja, da racionalidade
econômica sob o ponto de vista do capital (Silva, 1981 e 1982; Cantalice, 1984).
As hipóteses norteadoras do trabalho são as seguintes: a) os Núcleos de
Urbanização Rural foram criados em Santa Rita para abrigar parte das famílias de
camponeses expulsas do campo na Zona da Mata Paraibana durante o processo de
expansão do Proalcool, visando garantir a mão-de-obra necessária à atividade canavieira
nos períodos de safra, só que agora na condição de assalariados; b) a população
residente nos núcleos é composta dominantemente de antigos produtores diretos
(moradores, sitiantes); c) a criação de conjuntos habitacionais em meio rural embora
não impeça a expulsão do campesinato e sua transformação em bóia-fria atenua a
migração para as periferias urbanas.
Para a realização do estudo foram utilizados procedimentos e técnicas de
pesquisa diversos: a) levantamento bibliográfico; b) trabalho de campo: c) levantamento
e a análise de dados secundários: d) análise dos dados colhidos na pesquisa direta; e)
elaboração de um mapa de localização, de esboços cartográficos e tabelas.
A pesquisa de campo desenvolveu-se em três etapas: visitas de reconhecimento
para definir a área de investigação, aplicação de questionários e realização de
entrevistas.
As visitas de reconhecimento realizaram-se no segundo semestre de 1983, e no
primeiro semestre de 1984. Elas possibilitaram um contato preliminar com os três
Núcleos de Urbanização Rural existentes no município de Santa Rita denominados de
Odilândia, Lerolândia e Emanuelândia. Esses três aglomerados populacionais
apresentam as mesmas características do ponto de vista da origem e da forma de
organização. Dada às condições de tempo de que se dispunha para a realização do
estudo escolheu-se apenas um desses Núcleos como objeto de investigação. Trata-se do
Núcleo de Urbanização Rural de Lerolândia, de criação mais recente e situado
praticamente dentro dos partidos de cana do município.
A aplicação de questionários foi feita junto aos chefes de família em 58
domicílios do Núcleo (25% do total de domicílios ali existentes) escolhidos
aleatoriamente, segundo o tipo de construção. Levou-se em consideração porém a
necessidade de contemplar todas as ruas do aglomerado. Os principais pontos abordados
pelo questionário referem-se: a condição de ocupação anterior e atual da população
trabalhadora, as condições atuais de emprego e renda, a composição da população por
sexo e idade, as condições de habitação e saúde e os fatores de migração.
Entrevistas foram efetuadas com o idealizador do Núcleo de Lerolândia e com
alguns habitantes do mesmo.
Os dados secundários foram colhidos nos censos agropecuários da Paraíba de
1970 e 1980 e referem-se à produção e à área cultivada com cana de açúcar e com as
culturas alimentares básicas (feijão milho e mandioca) no município de Santa Rita.
Esboços cartográficos representativos das informações obtidas foram elaborados
com os recursos da cartografia tradicional, único instrumento de que dispúnhamos à
época. Tabelas também foram construídas a partir dos dados primários e secundários
levantados.
Além da introdução e das considerações finais o trabalho foi estruturado em 3
eixos de análise: a) o que apresenta as características geográficas mais gerais do
município onde se localiza o Núcleo de Urbanização Rural de Lerolândia (localização,
características do meio físico, formas de uso do solo agrícola); b) o que estuda a
evolução do sistema canavieiro à luz das transformações nas relações de trabalho na
agricultura no município de Santa Rita e; c) o que se preocupa em estudar o Núcleo de
Urbanização Rural de Lerolândia buscando, através de um diagnóstico detalhado,
confirmar as hipóteses formuladas.
Fig. 1
1
À época da realização do trabalho denominava-se de Microrregião Homogênea do Litoral a área onde se
situa o município de Santa Rita.
ESTADO DA PARAÍBA - LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTA RITA NA MESORREGIÃO DA DA MATA PARAIBANA
-38°30' -38°00' -37°30' -37°00' -36°30' -36°00' -35°30' -35°00'
-6°00' -6°00'
OC
Belém do
Brejo do Cruz
EA N
DO
Catolé do Roc ha Brejo do Cruz
RI O
Brejo Frei
N O R TE
O
Poço Dantas dos Santos Martinho
Riacho
dos Cavalos Nova Floresta
Bernardino Bom
Batista Sucesso São Bento
Santarém
-6°30' -6°30'
Tac ima
Vieirópolis
Lastro Jeric ó Cuité Araruna
Uiraúna Pic uí Riachão
Mato Grosso
G RA N D E
Santa
A TL
Cruz Lagoa Paulista Logradouro Mataraca
Poço de Baraúna Jacaraú
Triunfo José de Damião Cacimba Dona Inês
Caiç ara
Moura de Dentro
São Francisc o Nova Pedro
Régio
Palmeira Lagoa
São João do Baía da
ÂNT
Serra de Dentro Traição
Rio do Peixe Duas
Pedra Sossêgo Belém da Raiz Estradas
Santa Helena Sousa Vista Barra de Bananeiras Sertãozinho Curral d e Cima Marcação
Pombal Lavrada Santa Rosa Mamanguape
São Domingos Serrana Casserengue
Marizópolis de Pombal Várzea São José Solânea Pirpirituba Rio Tinto
Bom Jesus do Sabugi Remígio Itapororoc a
Aparecida Borborema
IC O
Arara
São José de Cubati Serraria Pilõezinhos Guarabira Araçagi
São Bento
de Pombal Espinharas
Pilões Cuité de
Nazarezinho São Mamede Santa Mamanguape Luc ena
São José da Condado Luzia Seridó Cuitegi
Cajazeiras Lagoa Tapada Malta Capim
Cachoeira Cajazeirinhas Algodão de Jandaíra Areia
dos Índios Junc o do Seridó Alagoinha
Tenório Olivedos
-7°00' Esperança Cabedelo -7°00'
Patos Alagoa
Coremas Nova Mulungu
Juazeirinho Soledade Poc inhos Areial
Carrapateira Quixaba Assunção S. Sebastião de Mari
Aguiar Santa Salgadinho Lagoa de Roç a Alagoa Grande
São José Emas Areia de Sapé
de Piranhas Catingueira Teresinha Baraúnas Montadas
São José Santa Bayeux
Passagem Matinhas
Caldas
do Bonfim Brandão
Cacimba Lagoa Seca Gurinhém Cruz do Rita JOÃO
Igaracy Serra Redonda Juarez Távora Riac hão Espírito Sa nto
C EA RÁ
de Areia PESSOA
Piancó Taperoá Puxinanã Massaranduba d o Poç o Sobrad o
Monte Serra Grande Santo André
Olho d'Água Teixeira
Horebe Mãe d'Água São Miguel
Gurjão São José de Ta ipu
Cacimbas Campina
São José Grande Ingá dos Ramos
Bonito de Santa Fé de Caiana Boa Vista Assis Conde
Maturéia Chateaubriand Pilar
Itaporanga Desterro Mogeiro
Santana Livramento Parari São João do Cariri Itabaiana
Queimadas Fagundes Itatuba Juripiranga
dos Garrotes Imaculada Pedras de Alhandra
Fogo
Pedra Salgado de
Diamante Branca São José São Félix Pitimbu
Boa dos Cordeiros Caturité
Ventura Serra Branc a
Água Cabaceiras
Ibiara Branca
-7°30' Nova Olinda Caaporã
Boqueirão -7°30'
Juru
Aroeiras
Curral Barra de Santana
Conc eição Velho Amparo
Santana São Domingos
de Mangueira
Ouro Velho do Cariri Gado Bravo
Tavares
Natuba
Coxixola Umbuzeiro
Santa Inês Prata
Princesa Sumé
Manaíra Isabel Barra de Riacho de
São Miguel Santo Alcantil Santa Cecília
Antônio
São José Caraúbas
de Princ esa Congo
CO
A M BU
Monteiro Camalaú
-8°00'
Zona da Mata Paraibana PERN -8°00'
São Sebastião
do Umbuzeiro
Escala original: 1:500.000
De acordo com a classificação climática de Köppen, Sta Rita acha -se inserido
na área de domínio do tipo climático denominado As’, quente e úmido com chuvas de
outono –inverno, um período chuvoso de março a julho e um período de estiagem de
setembro a fevereiro (v. fig. 2). As precipitações pluviométricas oscilam em torno de
1.400 a 1.800 mm anuais e a temperatura média anual é de 26°C .
Fig. 2
ESTADO DA PARAÍBA
CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA DE KÖPEEN
(Esboço Cartográfico)
38º45’54’’ 34º45’54’
º02’12’’ 6º02’12’’
G RA N D E
RI O DO
Bsh NORTE
Á R
Sta.
Aw As’
C EA
Rita
Bsh
CO
M BU
R NA
PE
8º19’18’’ 8º19’18’’
38º45’54’’ 34º45’54’’
Fonte: GOVERNO DO ESTADO DA PARAÍBA. Atlas de Geografia da Paraíba. João Pessoa, 1985.
Segundo a classificação bioclimática de Gaussan "o clima de Santa Rita é o do
tipo 3dTh, considerado como de região xerotérica, subregião Submediterrânea,
recebendo no Brasil a denominação de Mediterrâneo ou Nordestino sub -.seco" (Brasil,
Ministério do Interior, 1973:p.5) (v. fig. 3). Dentre as características deste tipo
climático, pode-se apontar: a) o índice xerotérmico, que varia de 0 a 40°; b) a existência
de um período seco de 4 meses (de setembro a dezembro); c) uma temperatura média
anual de 27°C; d) um regime pluviométrico regular (os meses de março a agosto
correspondem aqueles de maior intensidade de chuvas); e) precipitações médias anuais
que oscilam entre 1.303 e 1.735 mm; f) uma umidade relativa do ar em torno dos 80%,
podendo alcançar os 95% nos meses mais úmidos ((Brasil, Ministério do Interior,
1973:p.6).
Fig. 3
ESTADO DA PARAÍBA
CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA DE GAUSSEN
(Esboço Cartográfico)
3bTh
3bTh
3c Th
3dTh
Sta. Rita
3bTh
ir iri
Rio M
Lerolândia
uíp e
R. Ja c
Em anuelândia
a
ib
ra
o
Pa
ntic
Mangues
Rio
At lâ
Planícies aluviais
Tabuleiros
ano
Restinga
Oce
m ba b a
Rio Mu
Odilândia
Ri o M a m u a b a
Fonte: SUDENE, Cartas Topográficas, 1972; CARVALHO, Maria Gelza de. 1982
a) as várzeas
Com relação às várzeas, merece destaque a do Rio Paraíba, que corta o
município no sentido oeste-leste (v. fig. 4). De fundo chato, apresenta uma largura
média de 5 km e uma altitude de 5m em média. Caracteriza-se por apresentar inúmeros
terraços, diques marginais e rios secundários.
Segundo o Boletim Técnico de Solos da Paraíba, editado pela SUDENE, domina
na várzea do rio Paraíba o solo aluvial eutrófico, textura indiscriminada fase floresta
perenifólia de várzea, relevo plano (v. fig. 5) (SUDENE, 1972: p.435-436). De grande
potencialidade este solo é apropriado ao cultivo da cana-de-açúcar que aí se desenvolve
desde o período colonial.
Fig. 5
SANTA RITA
PRINCIPAIS TIPOS DE SOLO
(Esboço Cartográfico)
Lerolândia
Em anuelândia
Solo de m angue
Fig. 6
SANTA RITA
VEGETAÇÃO PRIMITIVA (Esboço Cartográfico)
Vv v v
Vv v v v v v v v v v v
Vv v v v v v v v v v v v v v v v v v v v
Vv v v v v v v v v v v v v v v v v v v v v v v
vvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvvv v
Lerolândia
vvvvvvvvvvvvvvvvvv v v
Vv v v v v v v v v v v v v v v v v v v v v
vvvvvvvvvvvvvvvvvv
vvvvvvvvvvvv
vvvvvvvv
vvv Emanuelândia
Vv v v v v v v v
vvvvvvvvvv
vvvvvvvvvv
Floresta subperenifólia
vvvvvvvvvvvvvvvv
Vv v v
Vv v v
Formação m ista com cerrado vvvvvvvvvvvvvvv
vvvvvvvvvvvvv vv
Vegetação de Mangue
Vv v v v v
Formaç ão perenifólia de várzea Vv v v
Odilândiav v v v v v v v v v
e Campo de várzea vvvvv
vvvvvvvvvvvvv
vvvvvvv
Vegetação de Restinga vvvvvvvvv vvvvv
b) o mangue
No prolongamento da várzea do Rio Paraíba para leste, situa-se a planície de
mangue (v. fig. 4). "Esta área, datada do Holoceno, apresenta camadas em geral não
consolidadas de areia, argila e depósitos orgânicos sobrepostos ou não" (SUDENE,
1972: p.9). Estes depósitos constituem sedimentos finos, ali depositados devido a
diminuição da correnteza dos rios, dada a baixa declividade do relevo e o contato com o
mar. Existem nesta área diversas ilhas, como a da Restinga, a dos Stuarts e a de Tibiri.
O solo característico da área é o Indiscriminado de Mangue (v. fig. 5), com textura
indiscriminada, fase relevo plano (SUDENE, 1972: p.416-17).
A vegetação de mangue (v. fig. 6) possui um aspecto peculiar, apresentando
raízes suportes (adventícias) em virtude da elevação periódica do nível da maré e raízes
respiratórias (pneumatóforas) para compensar a deficiência da aeração do solo. A
permanência do mangue nesta área está relacionada às limitações agrícolas dos solos
(além de afogados pelo excesso d'água e sais são sujeitos a ação das marés). A
mecanização torna-se difícil face à constituição pantanosa do terreno (SUDENE, 1972:
p.616-7). Sendo assim são utilizados economicamente através da atividade de “cata do
caranguejo”, muito comum na área, desenvolvida principalmente pelas populações
ribeirinhas dos aglomerados de Forte Velho, Tambauzinho e Nossa Senhora do
Livramento.
c) a restinga
A leste da área de mangue, no estuário do rio Paraíba, mais especificamente em
pequenas porções de algumas ilhas deste (v. fig. 4), encontra-se a formação de restinga
constituída por sedimentos quartzosos marinhos não consolidados. Os solos desta área
(associação de areias quartzosas marinhas distróficas e eutróficas fase relevo plano e o
solo podzol hidromófico fase campo de restinga e floresta perenifólia de restinga relevo
plano), apresentam baixa fertilidade natural (v. fig. 5) (SUDENE, 1972: p.548).
A vegetação de restinga apresenta porte arbustivo, às vezes arbóreo-arbustivo,
de densidade variável, ocorrendo com freqüência espaços abertos (campos) onde
predominam gramíneas (SUDENE, 1972: p.60) (v. fig. 6). O coqueiro e o cajueiro eram
as espécies vegetais cultivadas nas áreas de restinga de Santa Rita em 1984.
SANTA RITA
LOCALIZAÇÃO DAS UNIDADES PRODUTORAS DE AÇÚCAR E ÁLCOOL
(Esboço Cartográfico)
Luc
Tinto
e
Mamanguape Rio
na
Destilaria Japungu
é
Sa p
Usina Santana
Usina c om Destilaria
anexa Santa Rita
Destilaria autônom a
Jo ão Pesso a
Tabuleiros
nd e
Pe d
Co
ra s
eF d
ogo
Alhandra
TABELA 1
SANTA RITA
PESSOAL OCUPADO NA AGRICULTURA, SEGUNDO A CATEGORIA
1970/1980
Anos
Total Total
Pessoal Ocupado, 1970 1980
Segundo a Categoria
TABELA 2
SANTA RITA
PRODUÇÃO E ÁREA CULTIVADA COM A CANA-DE-AÇÚCAR E COM
OS PRINCIPAIS PRODUTOS DA LAVOURA DE ALIMENTOS
1970/1980
Tipo de cultura 1970 1980
Quantidade (t) Área (ha) Quantidade (t) Área
(ha)
Cana-de-açúcar 203.127 4.144 518.250 12.823
Feijão em grão 60 133 37 54
Mandioca 10.823 2.224 2.417 248
Milho em grão 21 37 20 15
FONTE: FIBGE - Censos Agropecuários da Paraíba 1970 - 1980.
2
Oligarquia rural de maior expressão na região até a segunda metade dos anos 80.
(eleito pelo pleito de 1982). Nesta entrevista obtivemos alguns esclarecimentos relativos
à sua participação como idealizador dos núcleos, bem como, sobre a participação da
Prefeitura Municipal de Santa Rita na criação dos mesmos.
Com base na entrevista realizada constatamos que a idéia da criação dos Núcleos
de urbanização Rural partiu do próprio Marcos Odilon, quando era prefeito do
Município de Juarez Távora (1969-1973).
Segundo o entrevistado, duas causas principais foram responsáveis pela idéia da
criação dos Núcleos. A primeira referia-se à sua preocupação com o intenso êxodo rural
existente na região Nordeste e em particular no Estado da Paraíba, fenômeno causador
de inúmeros problemas tanto nas zonas urbanas como rurais.
A segunda referia-se a sua posição crítica diante da política habitacional adotada
pelo BNH de construir conjuntos habitacionais apenas para a população urbana. Política
que estava, segundo o entrevistado, atraindo a população rural para os centros urbanos e
acentuando o problema do êxodo rural, na medida em que não havia nenhuma política
de construção dos mesmos conjuntos para a zona rural.
O Núcleo de Urbanização Rural de Odilândia foi instalado no topo dos
tabuleiros meridionais do município, próximo ao Rio Mumbaba; o de Lerolândia foi
construído no topo dos tabuleiros setentrionais, próximo ao riacho Jacuípe, em terreno
comprado à Destilaria Jacuípe e o de Emanuelândia nas proximidades do vilarejo
denominado de Nossa Senhora do Livramento, na porção nordeste do município numa
área adquirida da Mitra Arquidiocesana.
Segundo ainda o entrevistado, não teria sido adotado nenhum critério para
selecionar a população que iria habitar os núcleos. Esta poderia provir tanto da zona
urbana como rural, do estado da Paraíba ou de outros Estados, ter família grande ou
pequena, ser constituída de pequenos proprietários, ocupantes, moradores, etc.
Os Núcleos seriam compostos em média de 350 lotes de terra, medindo cerca de
10 x20 metros cada um e comportariam uma população em torno de 1.200 pessoas. Os
lotes seriam distribuídos de forma indiscriminada a todos aqueles que procurassem e
demonstrassem interesse em adquiri-los. A construção das habitações era de
responsabilidade da família que adquiria o lote.
Segundo o projeto inicial, os Núcleos de Urbanização Rural teriam toda uma
infra-estrutura básica: acesso, luz elétrica, água, escola e posto médico. Desse modo ele
permitiria não só a fixação do homem no campo como colocaria à sua disposição os
serviços e a infra-estrutura urbana.
4.2. infra-estrutura urbana
TABELA 4
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
ORIGEM DA POPULAÇÃO SEGUNDO O LOCAL DE NESCIMENTO
TABELA 7
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO OCUPADA, SEGUNDO O TIPO DE ATIVIDADE
TABELA 8
OCUPAÇÃO ANTERIOR DA POPULAÇÃO
QUE HOJE SE DEDICA A AGRICULTURA
3
Empresa ligada à produção agrícola e à transformação industrial do abacaxi e outras frutas.
Observamos no decorrer da nossa pesquisa que os trabalhadores assalariados da
cana que moravam em Lerolândia eram proprietários dos seus instrumentos de trabalho.
Encontramos no seio da população amostrada, os seguintes instrumentos de trabalho:
enxada, pá, foice, ferro de cova, machado, enxadeco, facão e picareta. Cada família
possuía um certo número de equipamentos (v. tabela 9). Eles eram obrigados a ter seus
próprios equipamentos de trabalho porque “as destilarias e os fornecedores de cana só
contratam o trabalho deles e não fornecem nenhum material para executar o serviço".
TABELA 9
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
EQUPAMENTOS DE TRABALHO DOS TRABALHADORES NA ATIVIDADE AGRÍCOLA POR
FAMÍLIA SEGUNDO A AMOSTRA
TABELA 10
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
TIPO DE HABITAÇÃO EXISTENTE NO NÚCLEO
SEGUNDO O MATERIAL DE CONSTRUÇÃO
Com base nestes dados, selecionamos 25% do total das habitações do Núcleo
(58 habitações) para compor o universo da pesquisa. Do total de habitações que
compuseram a amostra, 7 eram do tipo A (12,1% do total); 36 do total eram do tipo B
(62,1% do total); 10 do tipo C (17, 2% do total) e 5 do tipo D (8,6% do total) (v. tabela
11).
TABELA 11
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
TIPO DE HABITAÇÃO QUE COMPÕE
O UNIVERSO DA AMOSTRA
Tipo de Habitação Total das Habitações %
A 7 12,1
B 36 62,1
C 10 17,2
D 5 8,6
TOTAL 58 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo. Lerolândia, 1984.
Destas, 81% possuíam o piso de chão batido e apenas 19% tinham piso de
cimento (v. tabela 12); 8 (13,8%) possuíam banheiro dentro de casa (as casas
construídas pela Destilaria Jacuípe); 21 (36,3%) possuíam uma privada fora de casa
(privada construída pela SUCAM); 32,8% do total das habitações pesquisadas não
possuíam senão uma privada improvisada no quintal; 17,2% não possuíam nenhum tipo
de privada (v. tabela 13). As habitações com privadas construídas pela SUCAM eram as
mais antigas.
TABELA 12
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
PISO DAS HABITAÇÕES
Piso Número de %
Domicílios
De cimento 11 19,0
De chão batido 47 81,0
TOTAL 58 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo. Lerolândia, 1984.
TABELA 13
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
TIPO DE PRIVADAS
Tipo Número de
Domicílios %
Observamos que nenhum entrevistado era proprietário legal dos lotes. Estes, na
sua maioria, pertenciam à Prefeitura Municipal de Santa Rita que os cedeu a Destilaria
de Jacuípe e aos atuais moradores. Quanto às habitações (executando-se as construídas
pela destilaria) foram construídas pelos habitantes que a consideravam de sua
propriedade embora não possuíssem escritura legal.
De acordo com a forma de ocupação das habitações da amostra 72,4% eram
próprias; 19,3% eram alugadas e 17,1% cedidas, seja pela Destilaria a seus empregados,
seja por aquelas famílias que construíram 2 casas no seu lote e cederam ou alugaram
uma (v. Tabela 14). O aluguel pago era de Cr$ 6.000,00 em média.
TABELA 14
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
CONDIÇÃO DE OCUPAÇÃO DOS DOMICÍLIOS
Própria 42 12,5
Alugada 6 10,3
Cedida 10 17,2
TOTAL 58 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo. Lerolândia, 1984.
TABELA 15
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
BENS DE CONSUMO DURÁVEIS EXISTENTES NOS
DOMCÍLIOS
Equipamentos Quantidade De %
Domésticos Equipamentos
Rádio 25 25
Televisão 1 1
Geladeira à gás 1 1
Geladeira (elétrica) 1 1
Máquina de costura 6 6
Ferro de engomar (elétrica) 7 7
Fogão à gás 3 3
Radiola à pilha 11 11
Nenhum 4 4
TOTAL - 28
FONTE: Pesquisa de Campo. Lerolândia, 1984.
TABELA 16
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
LOCAL DE ORIGEM DA ÁGUA UTILIZADA
PARA BEBER SEGUNDO O NÚMERO DE FAMÍLIAS
Poço 1 1,7
Cacimba 3 5,2
Cisterna 1 1,7
Rio 46 79,3
Carro pipa 7 12,1
TOTAL 58 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo. Lerolândia, 1984.
Observa-se na tabela acima que mais de 79% das famílias que compuseram a
amostra retiravam do rio Jacuípe a água para beber. Verificou-se que 75,9% da
população amostral não fazia nenhum tratamento na água que bebia (nem mesmo
filtrava).
Para agravar ainda mais as condições sanitárias da população verificamos que
embora 58,6% das habitações possuíssem fossa, muitas dessas fossas eram
improvisadas e precárias. O restante das habitações não tinham fossa.
Tentando observar os efeitos da precariedade das condições sanitárias e de
assistência médica sobre a população que compôs o universo da pesquisa, levantamos
os dados relativos às principais doenças que se verificaram no seio desta população no
último ano. Verificamos a ocorrência das seguintes endemias, pela ordem e intensidade
de ocorrência: gripe, sarampo, varíola, conjuntivite, verminose, diarréia e inchaços,
além de coqueluche, pneumonia, problemas infecciosos, problemas de coluna,
cachumba, anemia, entre outras. Foram constatadas 3 mortes em decorrência de
sarampo e 1 morte por insuficiência respiratória.
A condição de saúde da população que compôs o universo da pesquisa
achava-se, por conseguinte, diretamente relacionada à precariedade das condições de
habitação, saneamento e atendimento médico verificados em Lerolândia A população
entrevistada habitava em residência geralmente de taipa e piso de chão batido, não
contando com as condições de saneamento essenciais básicos (água encanada, rede
geral de esgotos, coleta de lixo) nem com um atendimento médico eficiente. Por outro
lado, a existência de um grande número de pessoas que não se beneficiavam da
Previdência Social através seja do INAMPS seja do FUNRURAL, dependendo
exclusivamente do atendimento médico gratuito, sem falar no baixo poder aquisitivo
que não lhes permitia comprar medicamentos, tornava ainda mais grave a questão da
saúde em Lerolândia.
TABELA 17
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
NÚMERO DE CANDEEIROS À QUEROSENE POR FAMÍLIA
1 8 14,0
2 34 59,7
3 12 21,1
4 2 3,5
5 1 1,8
TOTAL 57 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo. Lerolândia, 1984.
TABELA 18
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
NÚMERO DE LITROS DE QUEROSENE CONSUMIDO
POR MÊS E POR FAMÍLIA
Litros de Número de %
Querosene Famílias
1 1 1,8
2 4 7,0
4 36 63,2
5 7 12,3
6 1 1,8
8 8 14,0
TOTAL 57 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo. Lerolândia, 1984.
Para cozinhar, usava-se basicamente a lenha (69,0% das famílias) (v. tabela 19).
Esta lenha era apanhada nas matas e tarugos (pequenas áreas não ocupadas com
cana-de-açúcar, devido ao acúmulo de areia e madeira proveniente de desmatamentos,
que se apresentam de forma alongada, com uma largura de 15 metros em média,
situados geralmente distantes do Núcleo). A retirada de lenha nas matas de propriedades
particulares era proibida pelos proprietários que punham vigias para impedir a sua
retirada. Muitas vezes, as pessoas andavam vários quilômetros para conseguir a lenha
necessária ao consumo da família. Esta era geralmente apanhada de 1 a 3 vezes por
semana por 87,8% das famílias entrevistadas. Na maior parte dos casos era a dona da
casa quem apanhava a lenha, porque o marido e os filhos trabalhavam. Quando todos da
casa trabalhavam, a lenha era apanhada por todos na volta do trabalho.
TABELA 19
NÚCLEO DE URBANIZAÇÃO RURAL DE LEROLÂNDIA
TIPOS DE COMBUSTÍVEIS UTILIZADOS NA COZINHA,
SEGUNDO O NÚMERO DE DOMICÍLIOS
Carvão 5 8,6
Lenha 40 69,0
Gás 2 3,5
Gás e lenha 2 3,5
Lenha e carvão 2 3,5
Gás, Lenha e carvão 5 8,6
Gás e carvão 2 3,5
TOTAL 58 100,0
FONTE: Pesquisa de Campo. Lerolândia, 1984.
Era comum muitas famílias apanharem lenha mais de uma vez por dia,
transportando-a na cabeça. Um número restrito de famílias que compuseram o universo
da pesquisa, apanhava a lenha de 4 a 5 vezes por semana. Nesse caso, o chefe da família
apanhava a lenha uma vez por dia, e mesmo assim, em pequena quantidade, quando
voltava do trabalho.
O equivalente a apenas 2,0% das famílias apanhavam a lenha uma vez por mês,
porque possuíam animal de carga, podendo, então, transportar grande quantidade de
lenha de cada vez.
O carvão era usado por um pequeno número de famílias, o equivalente a 8,6%
do total (v. tabela 19). Destas, a maioria, ou seja, 85,8% comprava-o no próprio Núcleo
a Cr$ 1.000,00 a saca, dependendo da qualidade do mesmo, e 14,2% faziam o carvão,
tanto no Núcleo, como em área de mata. O consumo de carvão por família girava em
torno de 2 a 4 sacas por mês.
O gás de cozinha era utilizado apenas por 3,5% do total em famílias (v. tabela
19).
Observou-se também que um pequeno número de famílias (19,5% do total)
usava na cozinha, de forma alternada e por economia, a lenha e o carvão, a lenha e o gás
o carvão e o gás (v. tabela 19). O gás de cozinha só era vendido na cidade de Santa Rita.
Mais uma vez deparamo-nos com outra lacuna no que tange ao objetivo de
realização do Projeto do Núcleo de Urbanização Rural de Lerolândia. O urbano parece
que se limitou unicamente à denominação dada ao aglomerado. Pois até mesmo no
plano do consumo de energia verifica-se uma reprodução, por vezes até piorada do que
ocorria no campo.
V – CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
BRASIL, Ministério do Interior - Serviço Federal de Habitação e Urbanismo.
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Relatório Preliminar de
Desenvolvimento Integrado. Município de Santa Rita. Outubro de 1973.
CANTALICE, Dulce. Alagamar, um conflito solucionado. Campina Grande: Tese de
Mestrado em Economia, 1984.
EGLER, Cláudio Antonio Gonçalves. O impacto do Proalcool na Paraíba. Relatório
enviado à SUDEMA. João Pessoa, 1984
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 19ª edição. Rio de Janeiro: Ed.
Fundo de Cultura, 1959.
MARIZ, Celso. Evolução Econômica da Paraíba. João Pessoa: A União Companhia
Editora, 1978.
MARX, K. 0 Capital. Livro 1, V. II, cap. 24. Rio de Janeiro: 2a. ed. Civilização
Brasileira, 1971.
MARTINS, José de Sousa. O cativeiro da terra. São Paulo: Ciências Humanas, 1979.
MOREIRA, Emilia de Rodat F. La ville et la Compagne dans la micro-région du Brejo
Paraibano. Dissertação de 3° Ciclo do IEDES. Universidade de Paris I, Paris, 1981.
____________ Ocupação e povoamento do território paraibano. João Pessoa: Texto
didático utilizado junto a disciplina Geografia da Paraíba. Departamento de Geociências
- UFPB, 1983a.
________________ A Evolução do processo de ocupação e a utilização dos solos. João
Pessoa: Texto didático utilizado junto a disciplina Geografia da Paraíba. Departamento
de Geociências - UFPB, 1983b.
SILVA, José Graziano da. Progresso técnico e relações de trabalho na agricultura. São
Paulo: Hucitec, 1981
____________ A modernização dolorosa. Estrutura Agrária, fronteira agrícola e
trabalhadores rurais no Brasil. Rio de Janeiro: Hucitec, 1982.
SUDENE. Levantamento exploratório -reconhecimento de solos do Estado da Paraíba.
Interpretação para uso agrícola dos solos do Estado da Paraiba. Recife, 1972.
VANDERLEY, Maria de Nazareth Baudel. Capital e propriedade fundiária: suas
articulações na economia de Pernambuco. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.