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I Encontro Sul-Mineiro de Geografia & 7ª Jornada Científica da Geografia UNIFAL-MG

Alfenas – Minas Gerais – Brasil


24, 25 e 26 de outubro de 2023
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CONFLITOS SOCIOTERRITORIAIS DECORRENTES DA
ATIVIDADE MINERADORA NO VALE DO RIO ITAIM-
SEMIÁRIDO PIAUIENSE

Maria Tereza de Alencar (1), Luis Eduardo Santiago dos Santos (2)

INTRODUÇÃO
O presente trabalho traz como foco de abordagem o Território de Desenvolvimento
Chapada Vale do Rio Itaim (Mapa 1), sendo este o resultado do desmembramento do
Território Vale do Rio Guaribas, conforme a Lei complementar no 6.967/2017.

Mapa 1: Território de Desenvolvimento Chapada Vale do Rio Itaim

Fonte: Luis Santos, 2023


Estabelecido pela SEPLAN em 2004, os Territórios de Desenvolvimento (TD),
tiveram como base para suas distribuições espaciais e geográficas critérios, como:
características ambientais, vocações produtivas e dinamismo das regiões, relações
socioeconômicas e culturais estabelecidas entre as cidades, IDH, regionalização político-
administrativa existente e malha viária. (SEPLAN, 2004). Nesse sentido, o discutido projeto
traz como objetivo identificar a quantidade de projetos de mineração no Vale do Itaim, além

(1) Professora efetiva de Geografia, Universidade Estadual do Piauí- mariatereza@cchl.uespi.br

(2) Graduando em Geografia, Universidade Estadual do Piauí- luissantos@aluno.uespi.br - PIBIC/Voluntário


de, verificar os conflitos socioterritoriais existentes em virtude da atividade mineradora nos
municípios, bem como os atores que estão envolvidos.

METODOLOGIA

O presente trabalho, Conflitos Socioterritoriais Decorrentes da Atividade Mineradora


no Vale do Rio Itaim- Semiárido Piauiense, quanto ao seu tipo metodológico é exploratória.
Tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias,
considerando a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para
estudos posteriores (Gil, 1999).

E os principais procedimentos técnicos empregados foram a pesquisa bibliográfica e a


pesquisa documental. A pesquisa bibliográfica segundo Severino (2017)
“é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de
pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses
etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros
pesquisadores e devidamente registrados.” (SEVERINO, 2017, p. 90)
Já a pesquisa documental, ainda para Severino (2017) é em um sentido mais amplo, ou
seja, não apenas os documentos impressos que podem ser analisados, mas também jornais,
fotos, filmes, gravações, documentos legais.

Com isso, os principais autores utilizados na pesquisa foram Souza (2021), Sousa;
Dantas et al (2021), dados da CEPRO (2004), CPT (2013) e MAPA DOS CONFLITOS
(2010). Além de ter sido de suma importância os relatos dos moradores do Território Vale do
Rio Itaim, sendo estes encontrados em sites de notícias, pois com eles foi possível identificar
como a população é impactada com o avanço da mineração.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para Souza (2021 p. 169) “a região formada pelo município de Paulistana e demais
municípios vizinhos no território Vale do Rio Itaim estão sendo considerados pelo Governo
do Estado e por setores do capital privado como a nova fronteira mineral do Estado”. No
entanto, observa-se que há escassez de dados referentes ao Território do Vale do Rio Itaim,
em virtude do seu recente desmembramento do Território de Vale do Rio Gurguéia, em 2017.
Dessa forma, visando a extração de minério de ferro, a empresa Brasil Mineração
Mineral (BEMISA) iniciou em março de 2014 o projeto Planalto Piauí, com sede na cidade de
Paulistana e com ações nos municípios de Curral Novo e Simões (MAPA DE CONFLITOS,
2010). E outra empresa que age nesse Território de Desenvolvimento é a Transnordestina, na
qual é usada para a escoação dos minérios.

Com isso, destaca-se que o Estado cria subsídios para a chegada dessas empresas com
a ideia de desenvolvimento, e a partir desses ideais que surgem os conflitos no território
brasileiro e piauiense, onde estão quase sempre atreladas a estratégias governamentais e
empresariais voltadas aos supostos desenvolvimentos e modernidade para a região apoiados
em grandes projetos desenvolvimentistas. Sousa; Dantas et al (2021, p.292).

Além disso, uma tática usada pelas grandes empresas, é a de pressão, forçam a
população a venderem suas terras a preços abaixo do valor de mercado, caso não ocorra a
venda, utilizam da força para os expulsarem da terra, como mostra o relato da agricultora
Maria Luzinete Carvalho, moradora do povoado Sítio do Juá, Curral Novo: “Eles (a empresa)
estão ameaçando a gente. Disseram que, se eu não assinasse o documento de venda da minha
terra, iriam chamar a Polícia Federal para colocar a gente pra fora”. CPT (2013) .

Portanto, por conta do município de Paulistana e região serem considerados como a


nova fronteira de extração mineral no Estado, isso preocupa vários povoados por conta dos
danos socioambientais que a extração de minérios pode provocar, como já acontece com as
obras da transnordestina que passa pela região CPT (2013). Com o avançar dessas empresas
no seu território, os povos originários não perdem apenas espaço e o seu direito a terra,
perdem antes de tudo, o seu sentimento de pertencimento ao lugar, pois nas palavras de Sousa
(2015) às populações tradicionais possuem modos de vida e reprodução econômica e social
específicos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o avançar da globalização, as relações sociais que ocorrem no espaço e no lugar


ficam ameaçadas pela ideia de desenvolvimento trazida pelas grandes corporações e
beneficiados pelo Estado, dessa maneira, provocando conflitos em diversas esferas; sociais,
culturais e ambientais.

Desse modo, no caso do presente resumo os conflitos pesquisados foram os


socioterritoriais, sendo estes movimentos de lutas e resistências de populações tradicionais
que tentam impedir que seu território seja desfeito e violado pela forte expansão de grandes
empreendimentos de mineração, expansão, essa, apoiada pelo Governo do Estado com o
idealismo de desenvolvimento para a região e para a população.

Portanto, os povos originários que residem no Território de Desenvolvimento Vale do


Rio Itaim são os únicos que não se beneficiam com o “desenvolvimento”, pelo contrário, tem
seus próprios direitos negados por aquele que deveriam assegurá-lo, além, é claro, de ter seu
sentimento de pertencimento esvaziado, explorado e negado na mesma velocidade que
caminha a mineração.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COMISSÃO PASTORAL DA TERRA DE JUAZEIRO. Comunidades se articulam para


enfrentar avanço de mineradoras na região de Paulistana (PI). 30/09/2013. Disponível
em:COMUNIDADES SE ARTICULAM PARA ENFRENTAR AVANÇO DE
MINERADORAS NA REGIÃO DE PAULISTANA (PI) (cptjuazeiroba.blogspot.com)
Acesso em: 20/02/2023

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Editora Atlas, 1999.

MAPA DE CONFLITOS: INJUSTIÇA AMBIENTAL E SAÚDE NO BRASIL. PI-


Agricultores familiares têm suas terras ameaçadas por avanço de mineradora.
Disponível em: PI - Agricultores familiares têm suas terras ameaçadas por avanço de
mineradora - Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil
(fiocruz.br) Acesso em: 15/02/2023

PRODANOV. C. C. FREITAS, E. C. d. Metodologia do Trabalho Científico: Métodos e


Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. 2 ed. Editora Freevale. 2013.
SEVERINO, A. J. Metodologia do Trabalho Científico. 2 ed. São Paulo. 2017.
SOUSA, A. E. d. “A chegada do estranho” Mineração, conflitos socioterritoriais e
resistência a partir das comunidades camponesas no município de Curral Novo – PI.
Revista Pegada vol. 22, n.1. p. 160-181, janeiro-abril/2021.

SOUSA, M. S. R. d. (Org). Desenvolvimento, conhecimentos tradicionais e direitos


humanos: populações tradicionais e quilombolas do Estado do Piauí e a defesa do meio
socioambiental. Teresina: EDUFPI, 2015.

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