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EVOLUÇÃO HISTÓRICA
DO PENSAMENTO GEOGRÁFICO
2.1 A GEOGRAFIA NA ANTIGÜIDADE
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Desde os tempos mais remotos que o homem,
vivendo em grupos que se deslocavam continua-
mente, à procura de meios de subsistência ou em ac-
tividades guerreiras, sentiu necessidade de conser-
var informações sobre os caminhos percorridos e as
suas direcções e de as transmitir a outros. Desta ne-
cessidade surgiram os primeiros esboços represen-
tando a superfície da Terra, isto é, os primeiros
mapas.
Ainda hoje, qualquer pessoa que não saiba ler,
mas a quem se pergunta qual o melhor caminho
para ir a um lugar, é capaz de fazer um esboço,
mostrando o caminho a seguir, os factos importantes
que existam ao longo do percurso e os principais
obstáculos. Pelo que há autores que consideram que
«fazer mapas é uma aptidão inata da humanidade»
(E. Raisz).
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Fig. 3 - Mapa asteca
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Fig. 4 - Mapa de Ga Sur, Mesopotâmia
(2500 a. C.)
uma massa continental que flutuava na água, com a
abóbada celeste por cima (fig. 5).
A expansão política, comercial e marítima dos
povos do mediterrâneo (Mesopotâmia, Fenícia,
Egipto) levou à elaboração de mapas marítimos e,
sobretudo, à descrição de lugares e de povos. Estas
descrições, denominadas périplos (nepinAiw = «na-
vegar em redor»), são sobretudo conhecidas pelas
referências feitas pelos escritores da antigüidade,
tendo chegado até nós muito poucas. Homero (850
a. C.) inspirou-se certamente nelas para escrever as
suas obras.
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Fig. 5 - Mapa do tempo de Homero (700 a. C.)
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Britânicas e à Escócia e ouviu falar dos dias de
24 horas e das terras nebulosas de Tule (provavel-
mente a Islândia ou a Noruega).
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não da observação: a esfera é a mais perfeita de to-
das as formas; portanto, a Terra, obra-mestra dos
deuses, deve ser uma esfera. A idéia (de Parméni-
des, 510-450 a. C.) foi apoiada por Platão, que lhe
deu a credibilidade necessária. As provas da esferici-
dade da Terra só surgiram depois, com Aristóteles
(século iv a. C ) , que baseou os seus argumentos em
duas observações:
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Alexandre fez-se acompanhar de vários sábios,
entre os quais dois discípulos de Aristóteles. Man-
dou fazer um cadastro do Império, traçar caminhos e
verificar as comunicações entre o mar Negro e o mar
Vermelho. Toda a documentação elaborada foi reu-
nida na Biblioteca de Alexandria.
Ainda no século iv, Dicearco construiu um mapa
utilizando dois eixos perpendiculares: um alongado
no sentido este-oeste, o diafragma, passando pelas
Colunas de Hércules e por Rodes, e o outro, a per-
pendicular, passando por Rodes.
Mais tarde, Eratóstenes (276-196 a. C ) , que pas-
sou a ter a seu cargo a direcção da Biblioteca de Ale-
xandria e é o primeiro filósofo grego a autodeter-
minar-se geógrafo, aperfeiçoou o mapa de Dicearco,
introduzindo-lhe vários meridianos e paralelos, for-
mando uma rede rectangular.
Nas suas leituras e observações teve conheci-
mento de que existia em Siena (Assuão) um poço
em que o Sol incidia verticalmente n u m único dia
do ano: no dia do solstício de Verão. Verificou que,
no mesmo dia do ano, em Alexandria, os objectos ti-
nham sombras. Desde a invenção do gnómon que
era possível medir a altura do Sol. Assim, medindo,
no dia do solstício de Verão, o ângulo que ao meio-
-dia os raios solares faziam com o horizonte em Ale-
xandria, calculou a medida do arco de circunferên-
cia que separa Alexandria de Siena (fig. 6).
A medida calculada foi de 1/50 da circunferência
(cujo valor de 360° ainda não era utilizado pelos
Gregos). O comprimento do arco era de 5000 está-
dios, a distância que separava Alexandria de Siena.
A partir desta medida foi calculado o perímetro da
Terra: 50 X 5000 = 250 000 estádios. Este valor é
aproximadamente igual a 46 250 km (1 estádio
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Fig. 6 - Medição do perímetro da Terra
por Eratóstenes
mede 168 m) e o comprimento real do meridiano
terrestre é de 40 000 km, muito aproximado por-
tanto.
A partir daqui, Eratóstenes construiu uma qua-
drícula com vários meridianos e paralelos, que cons-
titui a base da rede de meridianos e paralelos ainda
hoje por nós utilizada para localizar qualquer lugar.
A ilha de Taprobana (provavelmente Ceilão) apa-
rece representada pela primeira vez (fig. 7).
O problema da localização surge, assim, estreita-
mente ligado à astronomia e à geometria. Este as-
pecto da geografia - ciência da localização dos lu-
gares - vai manter-se durante séculos e chegar até
ao século xviii.
A resposta à pergunta «Onde?», uma das ques-
tões fundamentais da geografia, passa a poder ser
dada com rigor, pois, a partir de agora, é possível lo-
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Fig. 7 - Mapa de Eratóstenes
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Hiparco utilizou a divisão da circunferência em
360° e construiu também uma rede de paralelos e
meridianos, mas projectados e igualmente distancia-
dos. Para medir a longitude propôs que se fizessem
observações simultâneas dos eclipses da Lua, o que
não chegou a ser posto em prática. Foi ainda Hi-
parco que elaborou a teoria das zonas climáticas,
que considerava como zonas compreendidas entre
paralelos, tendo previsto a existência de zonas de-
masiado quentes e demasiado frias para serem habi-
tadas.
O estudo da dimensão da Terra levantou um
problema: a ecúmena era muito pequena, ocupava
apenas um quarto do globo terrestre. O mundo era,
portanto, desequilibrado, o que não se ajustava ao
conceito grego de simetria. Assim, foi necessário
imaginar três continentes que servissem de con-
trapeso (fig. 8). Surgiu o conceito de antípoda
ou continente do Sul, a Terra Australis, actual An-
tárctida.
Contemporâneo de Hiparco, Posidónio de Apa-
meia efectuou uma nova medição da Terra. Utilizou
a distância linear entre Rodes e Alexandria e calcu-
lou a distância angular com o auxílio da estrela Ca-
nopo. O comprimento calculado para o meridiano
terrestre foi apenas de 29 000 km, o que levou a que
1° eqüivalesse apenas a 500 estádios, enquanto para
o
Eratóstenes I eqüivalia a 700 estádios. O valor de
Posidónio foi retomado mais tarde por Ptolomeu e
pelos cartógrafos do século xv.
As conquistas efectuadas pelos Romanos leva-
ram ao alargamento do conhecimento do mundo, tal
como tinha acontecido anteriormente com Alexan-
dre. O Império estendia-se desde a foz do Danúbio,
no mar Negro (conhecido por Ponto Euxino), até ao
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Fig. 8 - 0 mundo ideal dos Gregos
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Foram ainda os sábios gregos que preservaram e
desenvolveram o conhecimento geográfico.
Estrabão (64 a. C.-21 d. C.) era um grego que vi-
via em Roma. Tal como Heródoto, foi um grande
viajante, tendo percorrido grande parte do mundo
conhecido. Para ele, a geografia «interessava para
fins de governo» e «os geógrafos não devem preocu-
par-se com o que está fora do mundo habitado». Por
isso, interessava-se por uma geografia humana des-
critiva, opondo-se à geografia matemática. Na sua
obra Geographica descreveu várias partes do mundo
conhecido, baseando-se nos factos observados du-
rante as suas viagens e em informações recolhidas
nas obras gregas. Quer pelas suas idéias, quer pela
obra desenvolvida, Estrabão pode comparar-se a
Heródoto.
No século II d. C. surgiu o último geógrafo da an-
tigüidade - Ptolomeu de Alexandria (90-168 d. C ) .
Ptolomeu retomou as concepções de Hiparco, tendo
criado um processo de projecção cónica da superfí-
cie da Terra n u m plano. Elaborou um mapa muito
mais aperfeiçoado que o de Eratóstenes, tendo re-
presentado uma área maior (fig. 9).
Escreveu uma Geographia em oito volumes: no
primeiro refere os princípios de construção de glo-
bos e projecções de mapas, no último indica os
princípios da geografia matemática e da cartografia e
nos restantes faz a relação de 8000 lugares, com a
sua latitude e longitude. Mas estas coordenadas não
foram medidas directamente: baseavam-se em in-
formações anteriores e estavam indicadas nos ma-
pas já existentes. A Geographia continha ainda um
mapa do mundo e vinte e seis mapas de pormenor,
constituindo o primeiro atlas mundial. O mapa de
Ptolomeu representava uma área com 180° de longi-
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Fig. 9 - Mapa de Ptolomeu
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Fig. 10 - Mapa romano
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mento geográfico. As causas para esta regressão po-
dem encontrar-se no contexto social, econômico
e religioso que se viveu durante este período histó-
rico.
As invasões bárbaras vão provocar uma situação
de guerra generalizada a todo o espaço europeu ocu-
pado pelo Império Romano. Esta situação irá provo-
car na Europa conseqüências desastrosas, que le-
vam ao isolacionismo e à instauração de um sistema
feudal. Entre essas conseqüências podem destacar-
-se as seguintes:
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tivamente despovoada dificultam a troca de pessoas,
bens e idéias entre as diferentes áreas européias.
O sistema feudal que se vai instaurar é essencial-
mente um sistema isolacionista, que tenta resolver
os problemas a partir da auto-subsistência do pró-
prio feudo. Assim, deixa de existir a mobilidade que
se verificava na antigüidade e o desconhecimento de
outras áreas, que não o feudo, torna-se cada vez
maior.
Neste ambiente, a Igreja torna-se o maior poder,
já que é o único poder central europeu. As respostas
às questões colocadas passam a ser dadas a partir de
interpretações bíblicas.
Não se pode pensar, no entanto, que o h o m e m
deixou de se questionar sobre o «Onde?». Só que a
ordem religiosa possuía respostas a estas questões,
pois a Bíblia continha referências cosmológicas e
geográficas que as satisfaziam. O facto de ser a Igreja
a dar as respostas que antes eram encontradas atra-
vés da ciência deve-se não só ao poder que a religião
detinha, mas também ao facto de o imobilismo po-
pulacional ter provocado o desaparecimento das
viagens e, com isto, o desconhecimento do mundo
real.
O desenvolvimento da ciência ou da religião de-
pende das preocupações do h o m e m e do tipo de res-
postas que ele procura. Assim, a ciência progride
quando o homem se preocupa com o mundo que o
rodeia e ela pode responder de forma satisfatória às
perguntas formuladas sobre o m u n d o físico. Com a
difusão do cristianismo foram problemas de ordem
religiosa, ou problemas que obtinham resposta na
religião, que passaram a interessar ao homem.
A adopção dos conhecimentos geográficos bíbli-
cos tornou-se evidente na cartografia. Utilizam-se
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mapas circulares romanos, nos quais se introduzi-
ram caracteres teológicos, e não geográficos. Assim,
Jerusalém, a Cidade Santa, ocupava o centro do
mapa; o Paraíso, localizado a leste, ocupava a parte
superior do mapa; o Mediterrâneo tinha uma posi-
ção meridiana (fig. 11). Foi esquecido que a Terra era
esférica e reapareceu o conceito de Terra plana: um
disco circundado de água.
Podemos, portanto, considerar que Ptolomeu foi
o último geógrafo com consciência disso até ao sé-
culo xv.
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Fig. 11-a - Mapa da Idade Média (S. Beato, 787
d. C.)
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tiva (tal como nos Impérios Grego e Romano), sur-
giu a necessidade de conhecer o mundo. Ao mesmo
tempo surgia também a necessidade religiosa de via-
jar, na medida em que todo o muçulmano tem de ir
a Meca pelo menos uma vez na vida. Assim, as via-
gens e o comércio sofreram um novo impulso.
A geografia verificou um novo avanço. Entre os via-
jantes árabes destacam-se Al-Biruni, Al-Idrisi (1099-
1164) e Ibn Battuta, que escreveram extensos e va-
liosos relatos sobre as regiões por onde viajaram.
Idrisi, ao serviço do rei da Sicília, desenvolveu a es-
cola de Palermo e pôde elaborar o mapa árabe mais
completo que se conhece.
Por outro lado, os monarcas muçulmanos promo-
veram as ciências e as artes. Foi traduzida para árabe
a obra de Ptolomeu e desenvolveu-se a geografia, a
astronomia, a astrologia, a matemática e a geome-
tria.
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Apesar disso, o conhecimento e as descrições
geográficas produzidas são muito imprecisas e as
localizações pouco rigorosas. Os Árabes não se ser-
viam da latitude e da longitude para localizar os lu-
gares à superfície da Terra e elaborar mapas. A lati-
tude e a longitude são utilizadas pelos astrônomos
(considerados, aliás, como os melhores do mundo)
nas suas observações, mas quem faz os mapas são os
geógrafos, que não se servem dos dados dos astrôno-
mos. Surge, assim, no mundo árabe uma separação
entre geógrafos e astrônomos que não existia na an-
tigüidade.
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Fig. 13 - Mapa da China (1, China; 2, montanha da origem do
homem; 3, país dos homens superiores; 4, país das mulheres;
5, país da vida difícil; 6, montanha do espírito do fogo; 7,
grande montanha periférica; 8, montanha branca; 9, Pusang
[América?]; 10, país do povo branco; 11, índia)
so
sos mapas locais por todo o Império Chinês. A carto-
grafia chinesa sofreu um impulso importante com o
cartografo Pei Hsiu (224-273), que coordenou mui-
tos mapas locais e lançou as bases da cartografia
científica chinesa, com a utilização de um reticu-
lado. Foi representado todo o território desde a Pér-
sia ao Japão, mas os Chineses pareciam desconhecer
o Ocidente.
A execução e utilização de mapas progrediram
sempre e, quando os Jesuítas chegaram à China, no
século xvi, encontraram numerosos mapas, de boa
qualidade, que lhes permitiram fazer um atlas do
Império.
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exactidão os acidentes costeiros, e a cartografia reli-
giosa foi abandonada.
Os Árabes trouxeram para o Ocidente a bússola,
que era utilizada pelos Chineses na navegação. No
século xiv, a sua utilização veio revolucionar o pro-
cesso de construção dos mapas para a navegação.
Através da utilização da agulha da bússola, que
indica o norte magnético, foi possível desenhar os
vários rumos dos ventos, constituindo uma rede de
rumos, seguidos quando se navega, a partir de um
ponto conhecido: uma rosa-dos-ventos central é li-
gada, em todas as direcções, a outras rosas-dos-ven-
tos, dispostas à sua volta segundo um polígono de
oito, dezasseis ou trinta e dois lados (fíg. 14). Foram
os Italianos e os Catalães que desenvolveram este
tipo de cartografia. O nome de portulano vem prova-
velmente da designação «mapas de piloto» (do ita-
liano portolanó).
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2.3 A GEOGRAFIA DO SÉCULO XV
AO SÉCULO XIX
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Para medir a latitude recorre-se ao astrolábio.
Mas para os cálculos da longitude continuam a per-
manecer os erros de Ptolomeu.
Para construir mapas onde caiba o m u n d o re-
corre-se aos sistemas de projecção matemática. As
mais importantes foram construídas por'Mercator
(1569), considerado o pai da cartografia holandesa, e
por Ortelius (1570), em Antuérpia (fig. 15).
Mercator foi o primeiro cartografo a corrigir o
mapa de Ptolomeu, dando ao Mediterrâneo uma ex-
tensão de apenas 53°. A projecção de Ortelius, de
1570, é constituída por um mapa-mundo, o Thea-
trum Orbis Terrarum, em que o Velho e o Novo
Mundo figuram cada um n u m círculo, com meridia-
nos curvos. Ortelius executou ainda o primeiro atlas
moderno, com 53 folhas acompanhadas de um
texto.
O primeiro globo terrestre, que ainda existe, foi
construído em 1492, por Martin Behaim, de Nurem-
berga.
No século xvii, e como resultado das observações
de Copérnico, Kepler e Galileu, modifica-se a idéia
da posição da Terra no universo, a qual deixa de ser
geocêntrica e passa a ser heliocêntrica.
A invenção do cronômetro, a do relógio, em
1658, e a do sextante, em 1672, permitiram o cálculo
exacto da latitude e da longitude. Esta é medida a
partir da diferença horária entre dois lugares e só a
partir de uma medição precisa do tempo se pôde cal-
cular a longitude com exactidão. Foi possível, desde
então, corrigir os erros dos mapas construídos ante-
riormente.
Simultaneamente, começou a desenvolver-se em
França uma cartografia de grande escala, que permi-
tisse uma boa representação do território e que ser-
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visse como base às necessidades da administração
política, da guerra, dos trabalhos de engenharia
(construção de estradas, canais, ou outras). A Aca-
demia das Ciências foi encarregada de elaborar os
mapas. O primeiro mapa, elaborado por Cassini,
surgiu em 1744. No mesmo ano começaram os tra-
balhos para um novo mapa, que foi concluído já du-
rante a Revolução Francesa: a Carte Géométrique de
la France, com 182 folhas, na escala de 1:86 400.
A partir de 1750, todos os países europeus começa-
ram o seu levantamento topográfico, a cargo dos ser-
viços geográficos dos exércitos.
Ainda no século xvu, é publicada na Alemanha
uma obra intitulada Geographia Generalis, da auto-
ria de Bernhard Varenius (1622-50), que teve grande
importância no desenvolvimento do pensamento
geográfico nos séculos xvn e XVIII.
Com base nas reflexões gregas, que distinguiam,
nas suas descrições, aquelas que eram regionais ou
corográficas daquelas que eram gerais e se referiam
ao m u n d o todo ou a áreas muito vastas, Varenius
distinguiu:
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borar leis, pois as características das regiões re-
sultam essencialmente da interacção entre oho-
m e m e o ambiente, e o homem é imprevisível.
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Segundo Kant, o conhecimento pode ser adqui-
rido por dois processos: 1) através da experiência
(conhecimento empírico); 2) através do raciocínio.
Alguns filósofos (Descartes, Leibniz) entendiam
que a experiência não era necessária à aquisição do
conhecimento, bastava a razão. Para estes filósofos,
as respostas às nossas questões seriam dadas por de-
duções, resultantes de sistemas de explicação. No
início do século xvin desenvolve-se a teoria oposta
(Locke, Newton): o conhecimento é empírico e para
compreender os fenômenos da natureza é necessá-
rio abandonar todas as explicações dadas a priori
pela razão, pois o nosso entendimento só pode com-
preender os fenômenos nas suas correlações directa-
mente observáveis. Kant pretendia conciliar estes
dois pontos de vista. Para Kant, o conhecimento de-
riva das percepções de cada indivíduo, interpretadas
pelos seus esquemas conceptuais, que são produto
do seu raciocínio sobre as experiências anteriores.
Para Kant, a geografia é um conhecimento em-
pírico, na medida em que, como ciência, deriva das
experiências do homem. Mas é mais do que conhe-
cimento comum, porque sistematiza e classifica os
factos e, além disso, está circunscrita à superfície da
Terra.
A seguir põe-se-lhe outro problema: se a geogra-
fia é uma ciência empírica, em que medida difere ela
de outras ciências empíricas, como a história e a
física? Kant encontra resposta em relação à física, na
medida em que esta ciência possui um vasto corpo
teórico, com princípios e leis, muitas vezes expres-
sos matematicamente. Mas em relação à história é
mais difícil fazer a distinção. E, assim, geografia e
história acabam por se distinguir porque, segundo
Kant, a geografia descreve a natureza no presente e
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no espaço, enquanto a história descreve a evolução
do h o m e m ao longo do tempo - enquanto a geogra-
lia tem uma dimensão espacial, a história tem uma
dimensão temporal.
Na sua teoria da organização do conhecimento,
Kant considera, portanto, as disciplinas organizadas
cm três conjuntos: ciências sistemáticas, que estu-
dam as categorias dos fenômenos (botânica, geolo-
gia, sociologia); ciências históricas, que estudam as
relações entre os fenômenos no tempo; e ciências
geográficas, que estudam os factos nas suas relações
espaciais.
Kant assume, portanto, particular importância na
medida em que levanta questões sobre a natureza
do conhecimento geográfico.
2.4 A G E O G R A F I A MODERNA
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