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TECTÓNICA DE PLACAS

UMA TEORIA COM RAíZES ANTIGAS

A. M. Galopim de Carvalho
Desde há meio século, a TECTÓNICA DE PLACAS, entendida como
uma visão da dinâmica interna da Terra, à escala global, é base de
toda a investigação geológica que se pratica nos dias de hoje.

Estratigrafia, paleontologia, mineralogia,


petrologia, geoquímica, geofísica,
vulcanololgia, geomorfologia, prospecção...
Se representarmos um ano por
um degrau, tivemos de subir mais
de 2260 para chegarmos ao
conhecimento que hoje temos
sobre a tectónica de placas.

Iniciada na Grécia antiga, foi longa a


caminhada que conduziu aos admiráveis
conhecimentos dos dias de hoje, contidos
em milhares de contribuições que, em
papel ou por via electrónica, circulam por
todo o mundo.
(Séc. II III a. C.) Tudo começa com Eratóstenes de Cirene (285-
194 a.C.), o astrónomo, geógrafo e matemático
grego que, entre outras ideias e obras,

(1) defendeu o mobilismo terras-mares, e


ousando contrariar o fixismo de Aristóteles

(2) previu que o interior da terra era uma


fonte de calor.

o mesmo que calculou


o raio da Terra. Cirene, colónia grega na Líbia.
Cárpatos

Eratóstenes constatou que


havia conchas de moluscos
marinhos no alto de algumas
montanhas. Em terra, portanto
E advogava a existência de um fogo central.

Ideia precursora
do calor interno da
Terra, essencial à
movimentação das
placas tectónicas.
(Séc. I)

Estrabão de Amásia (64 a.C.-24 d.C.),


geógrafo e historiador grego, chamou a
atenção para a existência de “pedras com a
forma de conchas de moluscos marinhos”
em regiões afastadas do litoral e também
concluiu pela presença do mar nessas
terras em tempos passados.
(Séc. X)
Numa enciclopédia do século X,
escrita colectivamente por uma
fraternidade de filósofos ismaelitas que
se admite terem vivido em Al Basrah
(actual Bassorá), no Iraque, conhecida
pelos Irmãos da Pureza, lê-se:

“Asterras actuais foram antigos fundos


marinhos e os mares do presente serão
futuros continentes”..
Estes filósofos retomaram as ideias de
Eratóstenes e Estrabão e…

anteciparam e influenciaram as de
Alberto Magno (1206-1280), Jean
Buridan (1300-1360), e Leonardo da
Vinci (1452-1519).

e aproximaram-se, por via da


reflexão, de parte de uma ideia
subjacente à visão tectónica
global, do século XX. Enciclopédia
(Séc. XIII)
Alberto Magno (1200-1280),
Bispo e Doutor da Igreja,
reconhecia a alternância das
terras e dos mares, tendo
exercido grande influência entre
os filósofos e os naturalistas da
Idade Média.
Doctor universalis
A parição da virgem a Santo Alberto (pintura de
Vicente Salvador Goméz (1637-1678).
Place Maubert, Paris.
(Séc. XIV)

na transição para o
Renascimento, séc. XIV, Jean
Buridan (1300-1360), filósofo
francês e reitor da Universidade
de Paris, recuperando a
sabedoria deixada pelos
“Irmãos da Pureza”, escreveu:

“Onde hoje se encontra o mar, foi outrora


terra e inversamente, onde a terra firme
está no presente, esteve o mar e aí voltará”. Reafirmação do mobilismo
(Séc. XV)

17 séculos, depois de
Eratóstenes, Leonardo
da Vinci (1452-1519) fez
a mesma observação.
Reafirmação do mobilismo

Conchas de moluscos marinhos no alto de algumas montanhas.


(Séc. XVI) .Sensível à configuração do traçado das linhas de
costa de África e da América do Sul, aparentando
contornos justaponíveis, o geógrafo e cartógrafo
flamengo Abraham Ortels (1527-1598) sugeriu que
os continentes americanos se tinham desligado e
afastado da África e da Europa.

1ª grande contribuição
em consequência de eventos, à escala
global, que imaginou catastróficos, mas
cuja força motriz não soube explicar.
(Séc. XVII)
Para René Descartes (1596-1650), o globo terrestre, arrefecido
exteriormente, começara por ser liso em superfície. Segundo ele, a formação
das montanhas resultara do arrefecimento do planeta e consequente redução do
seu volume, uma ideia conhecida por Teoria da Contracção.

A aproximação de dois ou mais pontos


da superfície, criariam as forças
tangenciais de compressão necessárias
ao enrugamento e, consequentemente,
à formação das montanhas.

Esta teoria era ainda aceite sem contestação pela generalidade


dos geólogos de finais do século XIX e começos do XX.
(Séc. XVIII)

Décadas mais tarde, o vulcanista veneziano


Anton Lazzaro Moro (1687-1764), defendia que
as montanhas se teriam elevado acima do oceano
primordial pela força do vulcanismo que
considerava alimentado pelo fogo central.
(Séc. XVIII) Na Rússia, o cientista Vasilyevich Lomonosov
(1711-1765), avançou e deu relevo a ideias afins das

de Abraham Ortels, numa caminhada que ia


acrescentando força à concepção que viria fazer a
glória de Wegener, dois séculos mais tarde.

Ao admitir que os icebergs do oceano


meridional implicavam a existência de uma
massa continental coberta de gelo na
região polar do Sul, este notável académico
previu a existência da Antárctida.
(Séc. XVIII)

George-Louis Leclerc (1707-1788), mais


conhecido por Buffon, propôs que se observasse
e estudasse o fundo do mar actual para que se
descobrisse o passado geológico.

Esta visão é uma notável antecipação da ideia da


geologia marinha, que conduziu à moderníssima
concepção da geologia à escala global, bem
explanada na Teoria da Tectónica de Placas.
(Séc. XIX)
O alemão Friedrich von Humboldt (1769-1859)
interessou-se pelos vulcões da margem ocidental das
Américas, tendo sido sensível ao seu alinhamento
nesta directriz dos dois continentes.

Procurou explicar esse facto pela existência de uma


vasta fissura da crosta ao longo dessa margem.

Antecipa concepções desenvolvidas, mais tarde, por Kiyoo


Wadati (1902-1995) e Hugo Benioff (1899-1968),
conducentes à descoberta das zonas de subducção.
(Séc. XIX) O geólogo e geógrafo francês Antoine Snider-Pellegrini
(1802-1885) defendeu a fragmentação de uma grande massa

continental e o afastamento (deriva) dos continentes de um e


outro lado do Atlântico, inspirado na correspondência do traçado das
respectivas costas, sugerida, três séculos antes, por Abraham
Ortels, e na ocorrência de fósseis idênticos nesses continentes.
Segundo ele, todas as terras tinham estado unidas num único continente (a que Wegener viria a
chamar Pangea), ao longo do qual se instalou uma enormíssima fenda que o rompeu de Norte a
Sul e que separou o Novo e o Velho Mundos.

Segundo ele, todas as terras tinham estado unidas num


único continente (a que Wegener viria a chamar Pangea),
ao longo do qual se instalou uma enormíssima fenda que
o rompeu de Norte a Sul e que separou o Novo e o Velho
Mundos.
.
A ideia da deriva tinha, contudo, um travão poderoso, contido na
visão solidista do matemático e físico francês, Siméon
Denis Poisson (1781-1840) que, sem negar uma possível
fase inicial do planeta em estado de fusão, defendia que a Terra
se comportava como um corpo já arrefecido e, portanto, rígido,
na sua totalidade.

Lembrado como um destacado


solidista, Poisson opunha-se às
ideias fluidistas, numa visão
coincidente com a do matemático e
filósofo alemão Gottfried Wilhelm
von Leibniz (1646-1716), na centúria
anterior, visão na qual se destacou,
mais tarde, Lord Kelvin (1824-1907),
o conhecido físico inglês, também
lembrado como um acérrimo solidista.
(Séc. XIX)
O geólogo americano James Hall (1818-1898) estudou em pormenor
a sequência estratigráfica do sector norte dos Montes Apalaches o que lhe
permitiu, nos anos de 1850, reconstituir a paleogeografia daquela região
durante grande parte dos tempos paleozóicos.

Concluiu que, durante aquele intervalo de tempo, as camadas sedimentares se tinham

depositado numa vasta depressão muito alongada como um imenso sulco.

Segundo Hall, à medida que esta depressão se ia afundando


lentamente, os sedimentos iam-se acumulando, atingindo
espessuras de milhares de metros, ao longo de muitas dezenas
de milhões de anos. Mais tarde, sujeita a compressões laterais,
que não soube explicar, esta acumulação de sedimentos sofreu
violentas deformações, de que resultam os enrugamentos que
elevaram os ditos Montes Apalaches.
Montes Apalaches
Continuação, na América, da Orogenia Varisca.
(Séc. XIX) O geólogo americano James Dwight Dana (1813-
1895), confirmou a interpretação de Hall e criou, em
1873, o conceito de geossinclinal.

Para ele, o período de


sedimentação numa
depressão como esta,
concebido como muito
longo (centenas de
Ma), termina sempre geossinclinal
por uma orogenia
(dezenas de Ma).
(Séc. XIX)

Em 1900, o geólogo e paleontólogo


francês, Gustave-Émile Haug
(1861-1927), trouxe para a Europa o
interesse pelos geossinclinais.
(Séc. XIX)

Em 1853, o francês Jean-Baptiste Élie de Beaumont (1798-1874)

retomou e deu força às ideias de Descartes (Teoria da Contracção).


(Séc. XIX)

3ª grande contribuição
Eduard Suess (1831-1914), geólogo austríaco, levantou o
problema da mobilidade dos blocos continentais, com base no
estudo de Glossopteris, planta que viveu há cerca de 300
milhões de anos, na América do Sul, na África, na Índia e da
Antárctida.
Segundo Suess, estes
territórios do Sul estiveram
unidos num único
supercontinente, a que deu o
nome de Gonduana, em Gonduana
referência à região do mesmo
nome, na Índia, onde
Glossopteris foi encontrada
pela primeira vez.
Placa euro-asiática
Thetys

Thetys

Thetys

Placa africana

Suess reflectiu sobre a relação entre a África e a Europa e admitiu, e bem, que as
camadas de rochas que constituem a Cadeia Alpina se tinham formado no fundo de um
oceano, a que deu o nome de Thetys, e que os Mares Mediterrâneo, Negro e Cáspio são
o que resta desse oceano a caminho do seu fecho.
(Séc. XIX)
4ª grande contribuição
Em Inglaterra, o eclesiástico Osmond
Fisher (1817-1914) ficou na história da
ciência mobilista as ao conceber, em1881, as

correntes de convecção três


décadas antes das translações continentais,
de Alfred Wegener (1915) e oito décadas
antes da expansão dos fundos oceânicos, de
Harry Hess (1962).
Essas correntes
eram ascendentes
sob os oceanos e

continente
descendentes sob oceano
os continentes,
numa notável
antecipação
à
Teoria da Tectónica de Placas.
As correntes de convecção térmica, apontadas como principais responsáveis
pela tectónica de placas, são hoje motivo de intensa discussão entre os
geocientistas. A conjugação destas correntes com a existência, cada vez mais
comprovada, de plumas mantélicas, originárias da fronteira manto/núcleo e
geradoras, à superfície, dos chamados “pontos quentes, está na agenda do dia
destes especialistas.
Segundo Fisher, alguns continentes ter-se-iam
contraído, formando montanhas nas suas margens.

Não obstante os argumentos científicos do


seu autor, em grande parte válidos, esta visão
de Fisher foi ostensivamente rejeitada e, até,
ridicularizada por solidistas e fixistas.

Os primeiros, como defensores do estado arrefecido e


solidificado do interior da Terra; os segundos, como acérrimos
seguidores de uma doutrina filosófica de base aristotélica, que
sustentava que os continentes se teriam mantido, desde
sempre, estáveis e fixos nas posições que hoje ocupam.
(Séc. XIX)
5ª grande contribuição

Um conceito fundamental à moderna visão

tectónica de placas é o de astenosfera,


introduzido pelo geólogo americano Joseph
Barrell (1869-1919) e definida como uma
camada menos rígida, do manto superior,
mantida num estado de plasticidade.
A astenosfera alimenta e promove parte
importante do vulcanismo, permite a
PORRA
mobilidade das placas litosféricas, os
reajustamentos isostáticos e toda a série
de processos geodinâmicos daí
decorrentes.
Barrell desenvolveu
ainda o conceito de
litosfera,
formada pela
crosta e pela
parte superior,
rígida, do
manto.
(Séc. XIX)
É com Alfred
Wegener (1880-
1930),
meteorologista
alemão,
que surge, em
1912, a
Teoria das
Translações
Continentais.

6ª grande contribuição
Conhecedor das ideias de Ortels e Snider-Pellegrini - as costas de
África e da América do Sul uniam-se como num puzzle - Wegener
reuniu elementos científicos que demostravam este encaixe.

Era o mobilismo a
anunciar o fim do fixismo.
Em 1911, Wegener deparou com um artigo
científico, no qual se afirmava que fósseis de
antigos animais (Cynognatus e Lystrosaurus,
Cynognatus
répteis mamalianos do Triásico, e
Mesosaurus, do Pérmico), e de plantas,
como Glossopteris, do Pérmico, haviam sido
encontrados em lados opostos do Atlântico.
Mesosaurus
Lystrosaurus
Glossopteris

Estimulado por este facto, iniciou uma


série de estudos que conduziram à
teoria que o celebrizou.

Wegener teve o mérito de a ter concebido e divulgado


como tal, no seio de uma comunidade científica ortodoxa,
marcada pelas ideias fixistas.
Fósseis de Cynognatus e Lystrosaurus,
do Triásico, Mesosaurus, do Pérmico e de
Glossopteris, da mesma idade, foram,
ainda, encontrados nos continentes….
Para ser aceite como
uma teoria, a ideia da
deriva dos continentes
necessitava de um
conjunto suficiente de
provas que a
suportassem.

Wegener descobriu então, entre


outros argumentos geológicos, que
antigos terrenos de África tinham
continuidade na América do Sul.
Wegener tomou ainda
conhecimento de fósseis de plantas
inequivocamente tropicais (fetos
arbóreos) recolhidos em terrenos
hoje sob climas frios, com é a ilha
de Spitzberg, no Árctico.
Vestígios de antigos glaciares na África do Sul,
América do Sul, Madagáscar, Índia e Austrália,
levaram-no a admitir que, no passado, essas regiões
teriam ocupado uma posição próxima do Pólo Sul.
Wegener defendia então que, há cerca de
300 milhões de anos, os continentes teriam
estado unidos num único supercontinente, a

que deu o nome de Pangea,

rodeado pelo também


único oceano, que referiu PANTALASSA
por Pantalassa.
É certo que Wegener não foi o primeiro cientista a
sugerir que os continentes estiveram ligados no
passado e que, depois, se afastaram entre si,

mas foi o primeiro a reunir os dados científicos


disponíveis e, com eles, elaborar uma hipótese com
o potencial de uma teoria, utilizando argumentos
geográficos, geológicos, paleontológicos e
paleoclimáticos..
Incapaz de explicar as forças motoras da translação de tão grandes massas
continentais, a concepção wegeneriana não resistiu às ideias fixistas e às
objecções da comunidade científica da época, em especial, a norte-americana,

ficando esquecida por cerca de meio século.


(Séc. XX)
colisão continental

Um dos primeiros apoiantes da teoria de Alfred Wegener, foi Émile


Argand (1879-1940). professor de Geologia na Universidade de
Neuchatel e especialista em tectónica das regiões montanhosas.

Na continuação do pensamento de Suess, este suíço


admitia que a colisão continental era a que melhor
explicava a formação dos Alpes, ideia que extrapolou
para o continente asiático.
(Séc. XX) Um outro apoiante da
deriva dos continentes foi o
geólogo sul-africano Alexander
du Toit (1878-1948), que estudou
a estratigrafia e a geocronologia
dos terrenos da orla oriental da
América do Sul e as da orla
ocidental de África.

Com base nesta sua pesquisa


apoiou as ideias de Wegener.
Partindo do conceito de Pangea,
Alexander Du Toit propôs que
este supercontinente se separou
em duas grandes massas
continentais, a Laurásia, a norte, e
a Gondwana, a sul, separadas
pelo Oceano de Thetys
(nome da deusa grega das águas).

Posteriormente estas duas massas ter-se-iam


dividido em unidades menores e constituído os
actuais continentes: América do Norte e
Eurásia, a norte, e América do Sul, África, Índia,
Austrália e Antárctida, a sul.
(Séc. XX) Para Arthur Holmes (1890-1965)
o vulcanismo não era suficiente para
dissipar o calor interno da Terra, quer o
remanescente da sua origem como planeta
do sistema solar, quer o produzido pela
desintegração de certos radionuclídeos,
como o 235U, 238U, 232Th, 40K e outros.
Deu ênfase às correntes de
convecção térmica no manto terrestre,
sugeridas por Fisher, em 1881,
7ª grande contribuição susceptíveis de mover a crosta à
superfície, ideia que constituiu um dos
pilares da tectónica de placas.
Em 1931, propôs uma explicação
dinâmica de vanguarda, muito próxima
do modelo actualmente aceite.
Holmes supunha que este calor
seria suficiente para criar as ditas
correntes de convecção e que
estas, muito lentas (na ordem de
escassos cm/ano), teriam sido a
causa da rotura ao nível dos
continentes, separação dos blocos
continentais de um e outro lado
desse acidente e subsequente
deriva.

Físico de formação, Arthur


Holmes trocou a física pela
geologia, tendo sido professor
desta disciplina na Universidade
de Edimburgo.
Retomando as ideias de Fisher, Holmes concebeu que os materiais do manto, sobreaquecidos,
ascendem, migram horizontalmente e, por fim, voltam a mergulhar para o interior da Terra.

Numa antecipação notável, Holmes imagina os riftes e


as zonas de Benioff.

Segundo ele, a referida rotura teria atingido a


Pangeia e separado os continentes que hoje
marginam, a Este e Oeste, o Oceano Atlântico.
Físico de formação, Holmes foi pioneiro da geocronologia isotópica e o primeiro

responsável pela revisão e aperfeiçoamento da escala cronostratigráfica.

Geocronologia isotópica

Esta sua outra contribuição para o progresso do


conhecimento do tempo geológico em termos
absolutos, foi o outro pilar que, como se verá, deu
corpo à referida Teoria da Tectónica de Placas.
(Séc. XX)
Em 1927, o sismólogo japonês Kivoo Wadati (1902-1995)
demonstrou que muitos sismos ocorriam em locais bastante
profundos da crosta terrestre. Mais tarde, na década de 1950,
o sismógrafo norte-americano Hugo Benioff (1899-1968),
verificou que esses locais se situavam quase sempre na
vizinhança das fossas oceânicas. Verificou, ainda, que os
focos desses sismos se aprofundavam à medida que se
afastavam da fossa, no sentido do continente.

8ª grande contribuição
Esta descoberta permitiu conceber o processo geodinâmico conhecido por
subducção, uma porção da litosfera oceânica mergulha ao longo de um
plano inclinado a que foi dado o nome de zona de Benioff-Wadati, uma
das fronteiras de placas sobre as quais assenta a tectónica global.
(Séc. XX) Em 1939, o geofísico americano
David Tressel Griggs (1911-1974)
explicava a formação das
montanhas (orogénese) pela
existência de correntes de
convecção do manto tal como as
definira Arthur Holmes, oito anos
antes..

9ª grande contribuição
Segundo ele, a convecção criava a bacia de sedimentação e a
isóstase, ao elevar os sedimentos ali acumulados, gerava a
correspondente cadeia montanhosa. A resposta às grandes
interrogações dos geólogos dos séculos XVIII e XIX - a elevação
de uma cadeia de montanhas - estava finalmente dada.
Esta formulação de Griggs permitiu associar as dorsais oceânicas às
directrizes coincidentes com faixas de encontro de correntes de convecção
ascendentes, e as zonas de subducção, às faixas de encontro das
correntes de convecção descendentes.
Griggs admitia que, numa faixa de convergência, no lado descendente deste tipo de
correntes se formava uma depressão alongada que se enchia de sedimentos
oriundos das terras emersas de ambos os lados e, portanto, menos densa (na
ordem de 2,7) do que o substrato oceânico (com uma densidade na ordem de 2,9)
em que se afundava.

Terminada a convecção, esta massa tenderia a elevar-se


para alcançar o inevitável equilíbrio isostático, gerando a
montanha.
(Séc. XX)

Nos anos de 50 do século passado o


geólogo norte-americano Bruce Charles
Heezen (1924-1977) cartografou o
alinhamento de relevos submarinos
constituinte da dorsal meso-atlântica,
caracterizada por elevado fluxo térmico e
actividade sísmica considerável.

10ª grande contribuição


Em 1953, oceanógrafo e geofísico Robert Sinclair Dietz
(Séc. XX) (1914-1995), estudou a natureza do conjunto de relevos
submarinos na vizinhança das ilhas havaianas, concluindo que
1 estes montes vulcânicos se tinham deslocado, como que
transportados num tapete rolante.

2
3

4
11ª grande contribuição
(Séc. XX) Baseando-se nos seus estudos sobre arcos insulares, anomalias
gravíticas no substrato marinho e nos trabalhos de Holmes, Griggs,
Hess formulou, em 1960, a sua hipótese
Heezen, Dietz e outros,
de expansão dos fundos oceânicos.

12ª grande contribuição


Esta sua formulação fez renascer a velha
teoria das translações continentais de
Alfred Wegener
Hess confirmou que as cristas ou dorsais
meso-oceânicas, percorridas
longitudinalmente por um rifte com vulcanismo
activo, correspondem à expressão superficial
de correntes de convecção térmica do manto
nos seus troços ascendentes.

Postulou, ainda, que a crosta oceânica nasce aí


por ascensão de material ígneo diferenciado do
manto, que arrefece, solidifica e, a partir daí,
cresce e alastra lateralmente, afastando, entre si,
os continentes de um e de outro lado do oceano
assim formado.
Por fim, sugeriu que a velocidade de expansão
dos fundos oceânicos, para um e outro lado do
rifte, é da ordem de 1 cm por ano.
Rifte na Islândia
(Séc. XX) Entretanto, o canadiano Lawrence Whitaker
Morley (1920-2013) propusera, de modo independente,
uma explicação similar, em Janeiro de 1960, mas o seu
trabalho foi rejeitado pelos periódicos científicos Nature
e Journal of Geophysical Research, permanecendo por
publicar até 1967, quando apareceu na revista literária

Saturday Review.
(Séc. XX) 13ª grande contribuição

Drummond Matthews (1931-1997)

Frederick Vine (1939 -)

Em 1963 propuseram que as anomalias magnéticas referidas como


positivas e negativas coincidem com as inversões de polaridade
geomagnética que, periodicamente, tiveram lugar ao longo das
últimas duas centenas de milhões de anos.
Esta conclusão dos dois
geofísicos britânicos constitui
um dos suportes mais sólidos
do alastramento dos fundos
oceânicos, sendo uma das
bases fundamentais da Teoria
da Tectónica de Placas.
(Séc. XX)
Na mesma época, o geofísico inglês,

Edward Crisp Bullard (1907-1980),


usando técnicas de computação, tentou
encaixar, como num puzzle, os contornos
dos continentes. Em vez de usar as linhas
de costa, como outros tinham feito, Bullard
usou a isóbata dos 2000 metros. Obteve,
assim, uma quase perfeita justaposição
entre os ditos contornos o que confirmou as
conclusões de Hess, Vine e Matthews.
14ª grande contribuição
(Séc. XX)
Em 1965, o geólogo e geofísico
canadiano, John Tuzo Wilson
(1908-1993), deu a conhecer o
conceito de falha transformante.

15ª grande contribuição


A rede mundial de sismos e vulcões
e a definição das placas litosféricas

Anel de Fogo do Pacífico


Em sua
homenagem foi
dado o nome de
“Ciclo de Wilson”
ao ciclo
geotectónico
completo, no âmbito
da teoria da
tectónica da placas,
de que também foi
um dos autores.
pontos quentes

Continuando o trabalho de Dietz, Tuzo Wilson, em 1953, mostrou


que o deslizamento das ilhas havaianas se faz sobre um hotspot
(ponto quente) responsável pelo vulcanismo que as gerou.
As idades absolutas das rochas dos fundos oceânicos, que são
tanto mais antigas quanto mais afastadas se encontram do rifte,
comprovou o alastramento dos ditos fundos.
Um esquema síntese
Um geopoema em 1979
34 anos depois, João Duarte e a sua equipa, juntamente com António Ribeiro, Pedro Terrinha,
Filipe Rosas e Marc-André Gutcher dão conta da recente descoberta, ao largo da costa de
Portugal, de uma possível zona de subducção nas suas primeiríssimas fases de formação.
Tal significa que, daqui a uns 200 milhões de anos, o
Oceano Atlântico poderá vir a desaparecer e que as
massas continentais da Eurásia e da Laurência se
voltarão a juntar num novo supercontinente.

No artigo que publicaram, online, na revista Geology, em 2013, são revelados os primeiros
indícios de transformação da margem sudoeste ibérica (uma margem passiva, do tipo
atlântico) numa margem activa, do tipo pacífico.
Agradeço ao Prof. Rui Dias, da Universidade de Évora, meu
brilhante ex-aluno, a revisão crítica deste documento de ensino.

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