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ISSN: 1696-8352
RESUMO
Este trabalho explora alguns dos temas fundamentais dos estudos de percepção da
paisagem a partir das atuais remodelações nas comunidades rurais no sudeste goiano com
base nos conceitos elaborados pelos estudiosos como Tuan (1979, 1980, 1983), Porteous
(1988) e Amorim Filho (1992, 1999). Os conceitos de topofilia e topofobia são discutidos,
assim como os processos recentes de topocídio e topo-reabilitação no cenário do Sudeste
Goiano, nos municípios de Catalão (GO) nas comunidades de Olhos D'água e Pedra
Branca, e no município de Três Ranchos (GO) na comunidade da Mumbuca. Para atingir
o objetivo proposto, o trabalho está dividido em três partes. A primeira parte concentra-
se na discussão conceitual, explorando os termos e conceitos relacionados à percepção da
paisagem. A segunda parte aborda as configurações históricas e atuais dos povoados em
questão, fornecendo informações sobre sua formação, evolução e características atuais.
A terceira parte do trabalho discute as possibilidades das paisagens bucólicas, explorando
os fenômenos de topocídio e topo-reabilitação, que descrevem a destruição e a
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Artigo elaborado como requisito na disciplina Dinâmica e Gestão da Paisagem, ano 2022-2, no Programa
de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Catalão - Goiás, Brasil.
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ABSTRACT
This work explores some of the fundamental themes of landscape perception studies
through a field report, using concepts developed by scholars such as Tuan (1979, 1980,
1983), Porteous (1988), and Amorim Filho (1992, 1999). The concepts of topophilia and
topophobia are discussed, as well as the recent processes of topocide and
toporehabilitation in the scenario of Southeast Goiás, in the municipalities of Catalão
(GO) in the communities of Olhos D'água and Pedra Branca, and in the municipality of
Três Ranchos (GO) in the community of Mumbuca. To achieve the proposed objective,
the work is divided into three parts. The first part focuses on the conceptual discussion,
exploring the terms and concepts related to landscape perception. The second part
addresses the historical and current configurations of the villages in question, providing
information about their formation, evolution, and current characteristics. The third part
of the work discusses thepossibilities of bucolic landscapes, exploring the phenomena of
topocide and toporehabilitation, which describe the destruction and recovery of places
and landscapes. Through these approaches, the work seeks to understand the relationship
between human beings and landscapes, exploring the perceptions, meanings, and
transformations that occur in these spaces. By analyzing the communities of Olhos
D'água, Pedra Branca, and Mumbuca, the study aims to contribute to the understanding
of processes of change, preservation, and valorization of landscapes, considering the
importance of individual and collective experiences in the construction of the lived
environment
1 INTRODUÇÃO
Em paralelo ao processo de interiorização da ocupação da região Centro-Oeste
brasileira, ocorrem as transformações dos territórios baseados em atividades
agropecuaristas extensivas. As comunidades/povoados de Olhos D'Água e Pedra Branca
em Catalão (GO) e Mumbuca em Três Ranhos; exemplificam como os processos de
ocupação e uso da terra modificam e toporeabilitam a paisagem.
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Este artigo compreende como a percepção e gestão da paisagem pode ser algo
subjetivo, com inúmeras experiências da relação do ser humano com o ambiente. É uma
percepção singular de pontos de vistas, sons, aromas, a contemplação dos ritmos naturais
e artificiais. O artigo emprega a subjetividade dos conceitos da obra de Yi-Fu Tuan (1979,
1980, 1983), analisando por meio de topofilia e topofobia, topocídio com a contribuição
de Porteus (1988), e de topo-reabilitação por Amorim Filho (1996, 1999).
O processo de modernização e tecnificação da paisagem na Comunidade
Mumbuca, localizada na zona rural do município de Três Ranchos (GO), trouxe
mudanças significativas. A introdução de maquinários e o asfaltamento das vias vicinais
foram elementos-chave nesse processo, assim como o estabelecimento das primeiras
áreas de agricultura extensiva. Essas transformações remodelaram a paisagem, que
anteriormente era dominada pela pecuária extensiva.
Apesar dessas mudanças, o centro comunitário da Comunidade Mumbuca
continua sendo um ponto de grande atividade, principalmente para festividades religiosas.
Um exemplo notável é a festa em louvor a Santa Nossa Senhora da Abadia, que ocorre
há mais de cem anos na região e é celebrada no mês de agosto. O centro comunitário
desempenha um papel importante na organização e realização dessas festividades,
promovendo a união e a participação da comunidade.
O povoado de Olhos D'água, localizado no município de Catalão (GO), possui um
histórico promissor, sendo utilizado pelos bandeirantes como uma entrada para a região
central do Estado de Goiás. No passado, o povoado abrigava o marco da Cruz do
Anhanguera, datada do século XVIII, que foi posteriormente removida para a cidade de
Goiás por questões políticas.
Ao longo do tempo, o povoado de Olhos D'água teve diferentes empreendimentos,
como a coleta do coco dos Babaçus (Attalea speciosa), além de atividades de garimpo e
pequenos comércios. No entanto, atualmente, o povoado passou por uma nova
transformação e apresenta uma nova configuração. Tornou-se um local com casas de
veraneio e figura como um refúgio bucólico, atraindo pessoas em busca de tranquilidade
e contato com a natureza.
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2 OS CONCEITOS GEOGRÁFICOS
Historicamente, compreende-se que grande parte dos estudos da ciência
geográfica baseia-se nas percepções ambientais dos seres humanos. Reconhece-se que a
forma como os seres humanos percebem, interpretam e interagem com os lugares e as
paisagens terrestres é um aspecto fundamental para a compreensão geográfica.
Nos anos 1960, ocorreu um ressurgimento e um reconhecimento crescente da
importância dessas percepções na geografia. Houve uma valorização do papel das
experiências individuais, das subjetividades e das relações emocionais na construção do
conhecimento geográfico. Essa abordagem enfatizou a compreensão dos lugares e das
paisagens não apenas por meio de aspectos objetivos, mas também por meio das vivências
e das significações atribuídas pelos seres humanos.
Esse reconhecimento levou a uma mudança de perspectiva na ciência geográfica,
com uma maior valorização das percepções e das experiências humanas no estudo dos
lugares e das paisagens. Essa abordagem mais subjetiva e humanística contribuiu para
uma compreensão mais completa e sensível do mundo ao nosso redor, considerando a
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emocional ao lugar. Essa conexão pode ser impulsionada por uma variedade de fatores,
incluindo aspectos culturais, históricos, estéticos, sociais e ambientais presentes no lugar.
Dessa forma, o conceito de topofilia destaca a importância de reconhecer e
valorizar o papel dos lugares em nossas vidas, reconhecendo sua capacidade de gerar
sentimentos positivos, vínculos emocionais e significados pessoais.
Entendido o conceito de valorização do lugar, Tuan também elucida o sentimento
anverso a filia, ou seja, o que induz ao medo, em sua obra paisagem do medo (TUAN,
1979) discorre sobre a noção das infinitas manifestações das forças do caos, naturais e
humanas, no qual se tornam componentes na paisagem do medo. Isso posto, é definido o
conceito de topofobia.
No que tange o conceito de topocídio, Porteous (1988) compreende como a
depredação e, até mesmo, a extinção de lugares causada pela supressão do significado
cultural de uma paisagem por uma sociedade. Logo, o significado de topocídio reflete as
modificações dos lugares, das paisagens, e suas alterações em porções consideráveis. Para
Amorim Filho (1999, p. 142) "quando se alcança a tomada de consciência da gravidade
desses danos causados ao meio ambiente, natural ou construído, o topocídio receberá a
atenção."
O termo topo-reabilitação, que se refere ao processos e ações de resgates,
reabilitação ou restauração de lugares topofóbicos, degradados ou extintos na busca por
melhorias da qualidade de vida nesses ambientes. Como corrobora Amorim Filho (1999,
p. 142) “[...] para melhoria da qualidade de vida dos homens, manutenção da sua memória
coletiva ou individual e preservação de sua identidade cultural e seus valores, é necessário
que as forças da topo-reabilitação superem as forças topocídicas [...]".
Tendo os conceitos bem elucidados, é notório como pode ser incorporador no
processo de gestão e planejamento da paisagem, no qual motiva a participação das
comunidades em ações de parceria entre a população e o poder público. Um exemplo
possível a da adesão principalmente da topo-reabilitação que tem maior expressão nas
comunidades rurais de Catalão e Três Ranhos, no Sudeste Goiano, que ao constatarem
que os seus lugares estão passando por uma remodelagem socioeconômica, buscam
requalificar e modernizar seus espaços. A sessão seguinte será exposta esse processo.
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Mosaico 1 – Festa em louvor a Nossa Senhora da Abadia na comunidade da Mumbuca, Três Ranchos
(GO), A – altar com a presença dos santos e santas. B – Preparativos para procissão com a imagem de
Nossa Senhora da Abadia. C – Procissão realizada em torno do Centro Comunitário da Mumbuca. D –
Jantar de finalização das festividades da festa de Nossa Senhora da Abadia.
Fonte – PORTAL ZAP CATALÃO. Fé e devoção, marcaram o encerramento da Festa de Nossa Senhora
da Abadia na Comunidade Mumbuca no município de Três Ranchos.
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Fotografia 1 – Capela de São Sebastião, no povoado de Olhos D’água, município de Catalão (GO).
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Mosaico 2 – Campo santo no povoado de Olhos D’água, Catalão (GO), E – faixada do campo santo em
meio a área de lavoura, F – interior do campo santo apresentando bastante deterioração.
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Fotografia 2 – Capela de Nossa Senhora Das Mercês, povoado de Pedra Branca, Catalão (GO).
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A transformação dos territórios é uma realidade quase inevitável devido aos
processos de modernização. Tanto a paisagem do Cerrado quanto as memórias bucólicas
presentes nas pacatas vielas dos povoados que mencionamos passam por mudanças
significativas. No entanto, para que seja possível uma nova perspectiva de reabilitação
dessas áreas, é fundamental que haja investimentos tanto por parte da população local
quanto por parte das autoridades responsáveis pela gestão pública.
Fica claro que os lugares vão se remodelando de acordo com as necessidades
socioeconômicas de uma determinada região. Em um momento, vemos a predominância
de um processo de produção extensiva e mecanizada, mas em outro momento,
observamos uma valorização do lugar e das relações afetivas, o que traz uma expectativa
mais esperançosa. Especialmente através do aumento da conscientização, que vem sendo
amplamente difundida nas comunidades, percebe-se a importância de aproveitar ao
máximo uma determinada área para a produção, ao mesmo tempo em que se preservam
as áreas necessárias, respeitando a legislação e os órgãos fiscalizadores.
Em um passado recente, predominavam ações de topocídio sem medidas
mitigatórias, sem valorização dos lugares e sem abrir espaço para possibilidades de topo-
reabilitação e conexões com as localidades. Embora essa cultura de destruição do
ambiente tenha sido perpetuada, é surpreendentemente positivo observar os resultados da
topo-reabilitação. Agora, a produção está sendo direcionada para áreas que antes eram
apenas pastagens degradadas, oferecendo oportunidades de geração de renda para
mulheres que anteriormente não tinham perspectivas de independência financeira. Além
disso, estamos presenciando a valorização dos lugares através da modernização, como é
o caso do trabalho comunitário realizado pela Associação das Mulheres na Comunidade
de Pedra Branca.
Resumidamente, as paisagens bucólicas agora oferecem novas possibilidades por
meio dos processos de topo-reabilitação. Essa abordagem envolve a utilização da função
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REFERÊNCIAS
____. Topofilia, topofobia e topocídio em Minas Gerais. In: DEL RIO, V.; OLIVEIRA,
L. de. (Orgs.). Percepção ambiental: a experiência brasileira. São Paulo: Studio Nobel;
São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 1996.
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