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revisão
E nesse contexto, o pensar a política urbana para planejar as cidades para que
forneçam condições melhores de vida a todos que vivem nelas, que a maior lei do país, a
Constituição de 1988, garante um capítulo para o planejamento urbano. Burnett (2009, p.
10) afirma que “como reação às desigualdades socioespaciais das cidades brasileiras, o
projeto de Reforma Urbana logrou em unificar, em torno de um movimento por política
urbana igualitária e distributiva, intelectuais da Academia e entidades da organização
popular” tendo como resultado parcialmente reconhecido na Constituição, o ideário de
Reforma Urbana sendo subordinado ao planejamento urbano com a declaração do plano
diretor como instrumento da política urbana municipal.
Nesse sentido, a Constituição Federal, como já apontado nesse texto,
especificamente nos artigos 182 e 183, traz diretrizes e regras gerais para a política de
desenvolvimento urbano a ser executado pelo poder público municipal. Depois de
precisamente 13 anos, os artigos 182 e 183, até mesmo por pressão dos movimentos
sociais urbanos, são regulamentados por meio da Lei 10.257 de julho de 2001, denominada
como Estatuto da Cidade. A Constituição e o Estatuto da Cidade são as legislações
balizadoras do planejamento urbano das cidades brasileiras e dos eventuais instrumentos
de operacionalização daquele.
O texto do Estatuto da Cidade pormenoriza as normas que regulam o uso da
propriedade urbana em prol do bem coletivo, tendo como objetivo o pleno desenvolvimento
das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, estabelecendo diretrizes, entre elas,
no que se refere à ordenação e controle do uso do solo. E no Capítulo II traz os
instrumentos da política urbana, sendo um deles o plano diretor, tido como instrumento
básico da política municipal, uma vez que é de responsabilidade do poder executivo
municipal, aprovado pela Câmara de Vereadores. O Estatuto também prevê a participação e
controle social por meio de audiências do poder público municipal e da população quando,
por exemplo, nos processos de empreendimentos com efeitos potencialmente negativos
sobre o meio ambiente, garantindo-se a gestão democrática da cidade com outros
mecanismos como debates e consultas públicas.
De forma breve, o Estatuto da Cidade traz que o plano diretor, aprovado por lei
municipal, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e expansão urbana, sendo
parte do planejamento do município devendo as leis, como por exemplo, as orçamentárias,
contemplar as prioridades dele, ou seja, estarem alinhadas ao processo de planejamento
municipal. Além disso, a Constituição Federal de 1988 prevê no artigo 182 o plano diretor
sendo obrigatório para as cidades com mais de 20 mil habitantes, o que é ratificado pelo
Estatuto da Cidade. Ademais, o plano diretor deverá ser revisto pelo menos a cada dez
anos.
Para as cidades brasileiras, o Estatuto da Cidade surge na tentativa de democratizar
a gestão das cidades e para as cidades maranhenses, inclusive São Luís, o poder executivo
municipal precisava colocar em prática o que determina a legislação. Então, a cidade de
São Luís-Maranhão, seguindo a obrigatoriedade do instrumento do plano diretor previsto na
legislação federal, diante de uma população por volta de 871 mil pessoas, (dados do Censo
2000), no ano de 20064, coloca em vigor o plano diretor na gestão do prefeito Tadeu Palácio
por meio da Lei nº 4.669 de 11 de outubro de 2006, que é alvo de revisão na atualidade. O
plano disposto em nove títulos, tratando desde a política urbana até o sistema de
participação democrática, traz no título IV um texto específico sobre o uso do solo urbano e
rural.
São Luís possuiu outros planos diretores, que caíram em desuso, como o de 1977, e
o de 1992, instituído por meio da Lei nº 32.252 de 29 de dezembro de 1992. A nova
legislação urbanística que culmina no plano diretor atual não foi por vontade própria, mas,
para atender a exigência da legislação federal, ou seja, a regulamentação dos artigos da
CF/88 por meio do Estatuto da Cidade. Segundo Oliveira (2007, p. 04)
Em São Luís, desde 1992 já havia a Lei Nº 3.252, que dispunha sobre o
Plano Diretor. A partir do Estatuto da Cidade, surgiu a necessidade de
adequação da legislação urbanística do município, que fora elaborada por
técnicos, sem a participação da população, e cujas diretrizes foram pouco
aplicadas durante sua vigência. A Prefeitura Municipal, ciente de que
deveria cumprir a sua obrigação, demonstrou na 2ª Conferência da Cidade
de São Luís, realizada no início de julho de 2005, que tinha o compromisso
de realizar a revisão do Plano Diretor de forma participativa, inclusive com a
apresentação do projeto de lei de criação do Conselho da Cidade.
(OLIVEIRA, 2007, p. 04).
Para Brito (2009), o plano diretor atual da cidade de São Luís, no tocante ao uso e
ocupação do solo foi desmerecida, sendo vista de uma perspectiva de geração de mapas,
cartogramas entre outros, trazendo um lado escuro do plano, onde temas são pouco vistos e
com debates quase nulos, resultando no estabelecimento de um macrozoneamento técnico
dividido em 05 macrozonas limitadas a definição de características gerais e conceituais e
suas configurações. Uma vez que o plano diretor é imprescindível pois deve servir de
diretrizes para a construção de políticas públicas de desenvolvimento e expansão urbana e
rural.
Do outro lado, São Luís continua crescendo, com maior concentração populacional
do estado do Maranhão, congregando múltiplas funções, requerendo espaços qualificados,
infraestrutura, no qual o direito à cidade deveria estar ao alcance de todos, tornando-se um
espaço caótico, sendo incapaz de gerar sustentabilidade e qualidade de vida a todos que
4 O Estatuto da Cidade, aprovado em 2001, já trazia no texto o prazo para que os municípios
elaborassem seus planos diretores no prazo de cinco anos que acabou sendo prorrogado pela Lei nº
11.673 de 2008, estendendo o prazo para 30 de junho de 2008.
nela habitam. Para Brito (2009, p. 55) “a intenção de utilização genérica de instrumentos
urbanísticos e tributários a regiões da cidade tidas como macrozonas urbanas, mal
distribuídos e simplesmente listados em Plano Diretor Municipal não garante a aplicabilidade
da lei municipal que disciplina o uso do solo urbano ludovicense através do seu
macrozoneamento”. Portanto, o instrumento acaba por ter lacunas importantíssimas, que
por si só o deixam fraco e sem sentido de normativo, pois em muitas ocasiões observa-se a
necessidade de ingerência através de lei complementar.
O plano diretor deve fornecer orientações para as ações que, de alguma forma,
influenciam no desenvolvimento urbano da cidade, além disso, deve o plano diretor ser
articulado com outros instrumentos de planejamento, como planos de bacias hidrográficas,
planos de gestão de resíduos sólidos, dentre outros. Deve ainda ser revisado
constantemente, pois os planos diretores precisam se adaptar às mudanças pelas quais
passam as cidades ao longo do tempo.
A proposta de revisão da legislação urbanística de São Luís alteração do Plano
Diretor (Lei N.º 4.6169/06) e da Lei de Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo
Urbano e Rural Municipal (Lei N.º 3.253/92) da Prefeitura de São Luís, pela maneira como
foi apresentada pela Prefeitura de São Luís, com a revisão apenas os artigos 26-31, que se
referem ao macrozoneamento ambiental, visivelmente não é uma demanda da população,
ou pelo menos, pelo que se pode observar nas audiências públicas realizadas, não é a
principal demanda da população em relação plano diretor da cidade, a mobilidade urbana,
infraestrutura básica nos bairros, postos de saúde, escolas próximas de casa para os filhos
estudarem, foram demandas mais cobradas nas audiências do que o macrozoneamento
ambiental.
No processo de revisão do plano diretor, um dos fatores importantes é a participação
da população para que o Plano Diretor corresponda à realidade e expectativas quanto ao
futuro da população. Segundo Genz (2008), o plano diretor participativo é o instrumento de
definição da política urbana municipal capaz de assegurar a observância da função social da
propriedade, sendo na essência um instrumento de planejamento urbanístico que define a
divisão e as formas de ocupação dos espaços habitáveis da cidade, considerando-se o
território urbano e rural do município. No entanto, no processo de realização das audiências
públicas, o que se observou foi a pouca participação popular nas audiências. Além disso,
muitos moradores presentes às audiências nem sabiam exatamente do que se tratava a
revisão do plano diretor.
O uso de linguagem excessivamente técnica, a pouca divulgação nos bairros onde
aconteceram as audiências, pode ter evidenciado a pouca participação da população nas
audiências, apesar da recomendação feita pela Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio
Ambiente, Urbanismo e Patrimônio Cultural de que todos os documentos, estudos e informações
produzidos pela Prefeitura de São Luís devessem ser disponibilizados para acesso público,
inclusive na internet, com a indicação pela Prefeitura das datas e locais onde as audiências
aconteceriam.
Segundo a Prefeitura de São Luís os objetivos da lei de revisão do plano diretor serão
atingidos através das diretrizes: i. de indução à ocupação dos espaços vazios e
subutilizados servidos de infraestrutura, evitando a expansão horizontal da cidade e a
retenção especulativa de imóvel urbano; ii. de estímulo à implantação e manutenção de
atividades que promovam e ampliem o acesso ao trabalho e à renda, incentivando a
economia solidária local; iii. de estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada no
financiamento dos custos de urbanização e da ampliação e transformação dos espaços
públicos. Contudo, o que se observou durante as audiências públicas foi uma preocupação
excessiva a terceira diretriz, a saber, as parcerias com a iniciativa privada, pois as
audiências contaram sempre com a participação massiva de empresários da construção civil
preocupados em garantir privilégios.
A Lei de Zoneamento, Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo Urbano e Rural
Municipal é um instrumento importante de planejamento urbano, uma vez que através dele a
cidade se organiza de acordo com as suas características, considerando os diversos usos
existentes, com a definição de critérios de uso e ocupação dos terrenos, como a altura
permitida para a construção de prédios, por exemplo.
Com a regulamentação do uso e ocupação do solo urbano será permitido em
diversos bairros da cidade o aumento do número de gabaritos, o que segundo
ambientalistas pode acarretar em aumento da sensação térmica na cidade, devido a
diminuição da circulação de ventos.
3 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BRITO, Cilícia Dias dos Santos Belfort. O processo de uso e ocupação do solo urbano
previsto no plano diretor de São Luís-MA. Dissertação (Mestrado em Geografia)
Universidade Federal de Rondônia, 2009.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Vol. I. 14ª reimpressão. Rio de janeiro: Paz e
Terra, 2011. (Prefácio à edição de 2010)
FARIAS, Flávio Bezerra de. O Imperialismo Global: teorias e consensos. São Paulo:
Cortez Editora, 2013 (Capitulo 2 – As abordagens críticas)
GENZ, Karin Sohne. O Plano Diretor como instrumento de Política Urbana. 2008.
Disponível em https://www.mprs.mp.br/urbanistico/doutrina/id492.htm. Acesso em
30/03/2017.
MARICATO, Ermínia et al. As idéias fora do lugar e o lugar fora das idéias: planejamento
urbano no Brasil. A cidade do pensamento único: desmanchando consensos.
Petrópolis: Vozes, p. 121-192, 2000.
OLIVEIRA, Saulo Carneiro de. O processo de revisão do plano diretor no município de São
Luis-MA: análise de uma experiência participativa em espaços de decisão e gestão
municipal. Trabalho apresentado na III Jornada Internacional de Políticas Públicas, São
Luís, 2007.