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e-cadernos CES

36 | 2021
Periferias urbanas: transformações e ressignificações

O efeito metrópole de Curitiba: as configurações


espaciais e os reflexos socioambientais da
periferização
The Metropolis Effect in Curitiba: The Spatial Shaping of the Periphery and the
Socioenvironmental Impact

Eliana do Pilar Rocha e Carlos Smaniotto Costa

Edição electrónica
URL: https://journals.openedition.org/eces/6793
DOI: 10.4000/eces.6793
ISSN: 1647-0737

Editora
Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra

Refêrencia eletrónica
Eliana do Pilar Rocha e Carlos Smaniotto Costa, «O efeito metrópole de Curitiba: as configurações
espaciais e os reflexos socioambientais da periferização», e-cadernos CES [Online], 36 | 2021, posto
online no dia 02 maio 2022, consultado o 11 maio 2022. URL: http://journals.openedition.org/eces/
6793 ; DOI: https://doi.org/10.4000/eces.6793
e-cadernos CES, 36, 2021: 131-148

ELIANA DO PILAR ROCHA, CARLOS SMANIOTTO COSTA

O EFEITO METRÓPOLE DE CURITIBA: AS CONFIGURAÇÕES ESPACIAIS E OS REFLEXOS


SOCIOAMBIENTAIS DA PERIFERIZAÇÃO

Resumo: Este trabalho analisa como a cidade de Curitiba (Brasil) tem expandido a sua
influência territorial e social para além das fronteiras municipais. A questão da
periferização é abordada através de um breve resumo dos planos de urbanização da
cidade e da expansão de sua influência socioeconômica e de modernidade aos municípios
fronteiriços da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Pretende-se expor como um novo
fluxo migratório urbano-urbano se estabelece em direção aos municípios da RMC, com a
implementação de projetos de internacionalização econômica através da abertura de
novas zonas industriais e da expansão do agronegócio, aliado a incentivos do governo
federal para a construção de condomínios horizontais e verticais para as classes média e
baixa. Como efeito dessas novas ocupações socioespaciais, observa-se a criação de uma
nova periferia, para além das áreas agricultáveis e de preservação ambiental, e ainda mais
afastada das sedes dos municípios do entorno da cidade polo.
Palavras-chave: Curitiba, fragmentação do espaço metropolitano, influência
socioeconômica, periferização.

THE METROPOLIS EFFECT IN CURITIBA: THE SPATIAL SHAPING OF THE PERIPHERY AND THE
SOCIOENVIRONMENTAL IMPACT

Abstract: This paper takes a look at the spatial and social impact of the city of Curitiba
(Brazil) beyond its borders. The periphery issue is addressed through a brief overview of
the city's development plans and on the expansion of its socioeconomic and modernity
influence on the neighbouring municipalities in the Metropolitan Region of Curitiba. This
paper aims to shed light on how new urban-urban migration flows are taking place and how
projects for economic internationalization through the creation of new industrial zones and
investments in agribusiness, combined with incentives from the Federal Government to
build horizontal and vertical condominiums for the middle and lower classes, are being
directed towards the municipalities of the metropolitan region. As a result of this new socio-
spatial growth, a new periphery is now being drawn as it spreads out to areas of interest
for agriculture and environmental protection, even further away from the
towns/municipalities surrounding Curitiba.
Keywords: Curitiba, fragmentation of the metropolitan space, periphery, socioeconomic
impact.

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Eliana do Pilar Rocha, Carlos Smaniotto Costa

INTRODUÇÃO
A cidade, como campo de análise antropológica, vem sendo debatida no Brasil desde
meados da década de 1970. Tomado inicialmente como coadjuvante dentro dos temas
eleitos como precursores da Antropologia – ou seja, aqueles ligados às sociedades
“distantes” ou ao registro e análise dos arranjos e usos do espaço de outros povos a
partir de elementos que caracterizam e distinguem a relação entre os homens e a
natureza –, o estudo da cidade e dos modos como os grupos sociais organizam e
classificam seus modos de uso, apropriação e experimentação são relativamente
recentes no país.
Desde então, muitos autores brasileiros têm buscado entender como os indivíduos,
dotados de diferentes modos de tornar significativas as realidades a que estão sujeitos
dentro das cidades, constroem e articulam as experiências em sua lógica e contextos
específicos. Assim, os estudos de Antropologia Urbana no Brasil passaram a ter como
objeto de pesquisa a cidade, observando-a como um espaço complexo e em constante
transformação, construída a partir de diversas realidades por sujeitos urbanos dotados
de diversidade cultural, o que a torna única em sua multiplicidade de sentidos.
Não é pretensão deste artigo trazer um histórico dos trabalhos da Antropologia
Urbana no Brasil, nem trazer à tona as principais escolas que influenciaram o
desenvolvimento destes estudos ao longo do tempo. Otávio Velho (1973), Gilberto Velho
(1980, 1989, 1994, 2004, 2013), Roberto Cardoso de Oliveira (1988), José Guilherme
Magnani (1996, 2002, 2003) e Gilberto Velho e Karina Kuschnir (2003), entre outros
nomes, já o fizeram brilhantemente. Dirigimos antes nosso olhar ao debate atual da
Antropologia Urbana, sob a especificidade da Antropologia do Espaço, abordagem que
busca identificar e conhecer a relação entre a morfologia estrutural e a morfologia
socioespacial das cidades. Tal perspectiva não só analisa os trabalhos de outros
autores, mas também examina novos caminhos, que buscam identificar as implicações
decorrentes do crescimento e expansão da influência das cidades em direção às
periferias, analisando tanto os fatores estruturais como os fatores conjunturais de tal
fenômeno. Biase (2012: 199) defende que “os processos materiais, que transformam a
cidade, os discursos que participam destas transformações, são tão entrelaçados que é
necessário analisá-los de forma conjunta para poder entender suas complexidades e
interdependências”.
Segundo Costa (2006: 37), o espaço, traduzido como apreensão cultural e
identitária das múltiplas modalidades de realidade social, atua tanto no desenvolvimento
físico das cidades quanto na expressão das relações sociais, como uma tela onde se
projetam as formas ideais de organização dos seus habitantes. Nesse trabalho,
observamos a cidade como um conjunto de múltiplos espaços diferenciados entre si que

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ora se compõem, ora se fracionam, flutuando entre relações contraditórias e


complementares (Rocha, 2021: 2).

CURITIBA, A REGIÃO METROPOLITANA E A PERIFERIA


A cidade de Curitiba está localizada no sul do Brasil, sendo hoje a oitava cidade mais
populosa do país (2017), a quinta no ranking nacional do Produto Interno Bruto e, com
o aumento do indicador socioeconômico Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
de 0,65 (em 1991) para 0,823 (em 2010), a torna também uma das áreas mais
desenvolvidas do país.1 A área do município (434,89 km2) já está quase totalmente
ocupada por usos urbanos, levando o governo municipal a abrir novos caminhos na
busca pelo aproveitamento das sinergias metropolitanas e pelo compartilhamento de
recursos e infraestrutura comuns. Curitiba emergiu de um acampamento de mineração
de ouro no final do século XVII, crescendo lentamente até se tornar a pequena Vila de
Nossa Senhora da Luz dos Pinhais antes de se tornar oficialmente uma cidade em 1812.
Em 1850, Curitiba tornou-se a capital da recém-criada Província do Paraná, hoje Estado
do Paraná. Segundo Contini (2014), a nomeação da cidade como capital provincial
trouxe crescimento econômico e populacional e a implantação de equipamentos
urbanos até então inéditos, como iluminação pública, mercado, biblioteca pública e
prédios governamentais, além de outros prédios comerciais para o varejo e serviços.
Curitiba apresenta uma dinâmica espacial marcada de contrastes e desordens,
sobretudo quando observada sob a ótica do centro-periferia, onde imperam as relações
de poder e interdependência entre o município central (Curitiba) e os demais municípios
periféricos da sua região metropolitana que, apesar de estarem englobados nesta
condição, apresentam fronteiras geográficas, sociais e culturais que, no mais das vezes,
se transformam em frações limites de territórios contínuos. Isto é, são pequenos
espaços, recortes espaciais que se encontram entre o município central e os periféricos,
demarcados por características sociais e culturais e não por perceptíveis limites político-
administrativos.
Menezes e Ramos (2013: 190) ao estudar a insegurança no bairro de Chelas, em
Lisboa (Portugal), definem áreas periféricas tanto a partir da constituição física do
espaço como também do modo como a ligação urbana com os territórios vizinhos é
realizada, a partir das características sociais de quem neles habita. Martins (apud Polli,
2007: 4) informa que é possível reconhecer diferentes tempos históricos e relações
conflituosas dentro de um território a partir de um olhar sobre as fronteiras. Esclarece,
porém, que não se trata de fronteiras geográficas, mas fronteiras construídas a partir de

1Site da COMEC – Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (2020), “Região Metropolitana de


Curitiba”. Consultado a 30.12.2020, em www.comec.pr.gov.br/Pagina/Regiao-Metropolitana-de-Curitiba.

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Eliana do Pilar Rocha, Carlos Smaniotto Costa

diferentes sentidos, como a fronteira do eu e do outro, a fronteira da intolerância, a


fronteira do espaço étnico, a fronteira de diferentes culturas e visões de mundo – e no
caso de Curitiba, também a fronteira entre a cidade planejada e celebrada2 contra uma
periferia espontânea. Carmo e Moreira (2020: 37) informam que concomitantemente à
imagem positiva da cidade de Curitiba bem como ao seu aumento populacional
decorrente dessa imagem, deu-se o seu processo de planejamento, que possibilitou a
valorização do espaço urbano e tornou-a seletiva quando aumentou o valor das
moradias decorrentes também das melhorias urbanas. Isso, segundo os autores, criou
a divisão eletiva de ocupantes e transferiu os mais pobres para a periferia da cidade e
para os municípios vizinhos, induzindo a ocupações em terrenos frágeis, assentamentos
precários e áreas ilegais.
Tendo como ponto de partida o histórico das diretrizes e ações de planejamento
urbano de Curitiba e as consequências destas implementações relacionadas ao munícipio
polo (Curitiba) e os demais municípios da Região Metropolitana de Curitiba (RMC), este
trabalho pretende demonstrar as atuais formas de crescimento da metrópole para além
das fronteiras do município. Para tanto, discute-se a história do município e da formação
de sua Região Metropolitana, bem como se reflete sobre a sua configuração atual. Isso
posto, o artigo pretende demonstrar como, a partir da recente implantação de novos
empreendimentos – como prédios e condomínios verticais, destinados à classe média e
à classe baixa urbana e incentivados à partir dos programas de moradias do governo
federal – se acaba por realizar um movimento de expansão da periferia metropolitana,
numa ocupação periurbana dispersa, configurando-se como uma alternativa aos valores
dos lotes na nova zona urbanizada, em áreas periféricas das cidades da RMC, sem
infraestrutura e excluída dos sistemas de financiamentos oficiais.

BREVE RESENHA HISTÓRICA DO PLANEJAMENTO URBANO DE CURITIBA


A cidade de Curitiba tem um extenso histórico de planos urbanísticos desde a sua
fundação em 1693. São exemplos deles: o primeiro plano urbanístico da cidade (1783),
que determinou o traçado ortogonal das ruas; o plano de 1886, que criou o primeiro parque
da cidade, com a urbanização e drenagem de um banhado, criando-se lagos para a
retenção de torrenciais; o Código de Posturas da Cidade de 1903, que determinou as leis
de uso do solo urbano; e em 1910 entra em vigor o plano de pavimentação das ruas e
implantação dos bondes elétricos (Rocha, 2019: 203). O mais importante marco histórico
do planejamento urbano de Curitiba se deu, porém, somente entre os anos de 1942 e

2Principalmente na década de 1990, a cidade ganhou alguns prémios internacionais, como o Environmental
Award (em 1990, pelo United Nations Environment Programme), o Innovative City (em 1996, na conferência
Habitat II), o Capital of Culture of the Americas (em 2013), e se autointitulou e criou uma campanha de
marketing com o título de “Capital Ecológica do Brasil”.

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1943 com o Plano Agache que, sob uma ótica modernista, previa um crescimento radial
da cidade e a separação dos usos do espaço. Para esse fim, o plano dividia o município
em quatro zonas funcionais: um setor militar, que compreende o complexo da Base Aérea
do bairro Bacacheri (instalado em 1942); um setor educacional-hospitalar, com a cidade
universitária (posteriormente denominada de Centro Politécnico); um setor administrativo
denominado Centro Cívico; e um centro de abastecimento, com um novo Mercado
Municipal (Paludo, 2015: 22). Esses equipamentos foram sendo sucessivamente
construídos, porém mais acentuadamente a partir da década de 1950: o Centro Cívico
em 1953, o Mercado Municipal em 1958 e o Centro Politécnico em 1961. Ainda conforme
o autor, na década de 1960 foi desenvolvido o primeiro plano diretor da cidade,
denominado Plano Preliminar de Urbanismo (PPU) e criado o Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) que tinha como responsabilidade detalhar e
acompanhar a implantação do PPU.3
A história do planejamento da cidade insere-se no contexto global que, segundo o
mesmo autor, não traz nada de extraordinário:

Durante todo século XX o planejamento urbano tornou-se uma questão


internacional, já que as grandes cidades lidavam, sempre, com os avanços
tecnológicos, a dominação da indústria e o crescimento demográfico. Enquanto
Curitiba investia no planejamento racional e estratégico da cidade, diversas outras
capitais, no Brasil e fora dele, também buscavam no urbanismo a resolução de
diversos problemas sociais e econômicos, utilizando-se, inclusive dos mesmos
artifícios de planejamento urbano: desenvolvimento de planos diretores de
planejamento geral, controle de uso do solo, fracionamento da cidade, descoberta
de uma ou mais vocações específicas para a cidade, regulamentação do
planejamento urbano. (ibidem: 23)

Porém ao ser observado pela perspectiva brasileira, a combinação entre


desenvolver um plano urbanístico estratégico e a instalação de um órgão para gerenciar
a sua implementação, o faz um caso único no Brasil da época. Cabe lembrar que o
IPPUC é o berço de muitas ideias que guiaram (e guiam ainda) o desenvolvimento da
cidade, e é o precursor de semelhantes órgãos que se desenvolveram pelo país.
Segundo Rocha (2019: 202) a implantação do Plano Agache e do PPU deram
origem ao Plano Diretor de 1970, de onde surge o discurso midiático de Curitiba como
o de cidade modelo de planejamento e transporte, o de capital ecológica devido à

3Site do IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (2021), “Planejamento Urbano
– história”. Consultado a 25.04.2021, em https://ippuc.org.br/

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Eliana do Pilar Rocha, Carlos Smaniotto Costa

criação de diversos parques e áreas de proteção de mananciais, e como cidade exemplo


de organização e qualidade de vida, em virtude do plano de separação e reciclagem dos
resíduos reaproveitáveis e de ações de planejamento e organização implantadas pela
Prefeitura Municipal (sobretudo sob a gestão do prefeito Jaime Lerner, arquiteto e
urbanista conhecido mundialmente). No entanto, como opina Souza (2001), o PPU foi
construído sob a ótica classista e excludente, cujo conteúdo mencionava as dificuldades
presentes na área sul da cidade – como os loteamentos clandestinos, as áreas de
enchentes e de ocupações irregulares – como problemas residuais. E afirma que,

[...] o olhar urbanista construiu as dificuldades como “residuais”, momentâneas e


recentes, em oposição ao duradouro, essencial e natural, capaz de indicar as
potencialidades de Curitiba. A população pobre, habitante de uma região
insalubre, foi representada como insignificante em termos estatísticos e
tornou-se invisível para o planejamento. (ibidem: 111)

Uma leitura mais apurada do PPU demonstra claramente que as ocupações


desordenadas de baixo custo imobiliário no sul da cidade aparecem como causa da
desordem estrutural de Curitiba, e não como consequência do planejamento voltado às
classes sociais mais altas. Há de se levar em consideração que PPU considerou a
ocupação de Curitiba com base nos dados do Tribunal Regional Eleitoral, ou seja,
excluindo a população analfabeta, não-eleitora e ainda os migrantes nacionais vindos
do sul do país, estabelecidos naqueles bairros mais insalubres após a Segunda Guerra
Mundial (ibidem: 116).
Para reforçar esse discurso, os técnicos responsáveis pela construção e
implantação do PPU fizeram uso de termos como “dispersão”, onde defendiam que as
áreas densamente ocupadas, como o centro e o norte da cidade, deveriam receber
maiores investimentos, em detrimento do sul da cidade, cuja ocupação era mais baixa.
Stroher (2017) alerta ainda para a implantação do Primeiro Plano de Desenvolvimento
Integrado da RMC em 1978, ou seja, pouco mais de uma década depois do PPU. Este
plano, conforme a autora, tinha como premissa a redistribuição dos efeitos do processo
de desenvolvimento que, até então, se concentrava muito no município polo. Sua
estratégia de ordenamento era definir, em primeiro lugar, Curitiba como área de
contenção da ocupação e eleger a porção leste da RMC como área prioritária de
preservação ambiental, uma vez que é onde se localizam as principais áreas de
mananciais, remanescentes florestais e encostas da Serra do Mar; as áreas norte e sul
foram reservadas como áreas de dinamização rural; e a porção a oeste foi priorizada
para o desenvolvimento urbano e industrial. Esse modelo é visível ainda hoje no

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município, principalmente quando consideramos o crescimento populacional nas


cidades da RMC nos últimos anos (ver Figura I).

FIGURA I – Localização da Região Metropolitana de Curitiba (RMC) em relação


ao Paraná e ao Brasil
Fonte: Carmo apud Carmo e Moreira (2020: 31). Adaptado pelos autores.

A partir do alto valor das parcelas de solo urbano, a cidade parece escolher seus
moradores e seus migrantes, privilegiando o recebimento das classes médias e altas
nos bairros nobres do município ou nos condomínios horizontais de luxo na RMC.
Enquanto isso, os migrantes das classes mais baixas dirigem-se para a mesma região,
mas adquirindo lotes baratos em bairros distantes – em zonas quase isentas de
equipamentos urbanos – e disputando o espaço com os novos condomínios construídos
para as classes populares de média e baixa renda subsidiados pelos programas de
moradia popular do governo federal. Nesse contexto, o desenvolvimento socioespacial
da RMC aparece no cenário nacional como lugar-comum, ao dividir as mesmas
problemáticas e os mesmos fatores. As regiões metropolitanas brasileiras podem ser
definidas como territórios complexos, que abrigam relações funcionais de alcance local,
regional, nacional e até mesmo global. Isso porque uma série de fenômenos ambientais,
econômicos e socioculturais perpassam a matriz político-institucional desses espaços,
que apresentam uma complexidade maior ao transitar nessas diferentes escalas, tanto
de alcance local, regional, nacional e até mesmo global (IPEA, 2015).
O histórico de formação da RMC não se apresenta diferente das demais regiões
metropolitanas do país. Criada em 1973 incluía municípios que exibiam uma grande

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dependência e integração ao município polo. Abrangendo inicialmente 14 municípios


limítrofes, passou a integrar 24 em 1995, decorrência tanto da inserção de novos
municípios como de desmembramentos de outros previamente englobados, e atingindo
uma população de mais de 2,7 milhões de habitantes, ou seja, quase 30% da população
do Estado do Paraná se concentrava em Curitiba e sua região metropolitana (Moura e
Kornin, 2009: 19).
Hoje a RMC abriga 29 municípios com mais de 3,2 milhões de habitantes, e é a
segunda maior região metropolitana do país, ocupando uma área total de
16 581,21 km². O governo do Estado tem incentivado a infraestrutura e logística para
transformação da RMC no maior polo industrial do país. Dos 29 municípios da RMC,
somente 13 pertencem, de fato, à aglomeração metropolitana. Estes municípios
compõem o chamado Núcleo Urbano Central, terminologia derivada da maior integração
ao fenômeno metropolitano. Os demais municípios não são enquadrados nesse núcleo
central por diferentes motivos, dos quais os principais são: as respetivas sedes estarem
a uma distância maior da cidade polo, as reduzidas relações com os demais municípios
da RMC e as características predominantemente rurais.4
Moura e Kornin (2009: 21) detalham que, a partir do ano 2000, a RMC já
apresentava uma mancha de ocupação bastante extensa, a qual incorporava desde as
sedes municipais das cidades vizinhas ao município polo, até outras porções dos
municípios mais distantes. Segundo as autoras, entre os fatores que possibilitaram a
ocupação dessas áreas estão as intervenções urbanísticas promovidas pela
administração municipal de Curitiba, que valorizaram as áreas limítrofes. Além desses
fatores, citam ainda a legislação mais flexível e o preço da parcela de terra mais
acessível à população nessas regiões da RMC, um bom sistema de transportes
coletivos que sustenta a ligação radial entre a cidade polo e os municípios da região
que, além de cortar a cidade de Curitiba em diferentes eixos estruturais, ainda percorre
áreas menos populosas dos municípios limítrofes.
Lourenço (2009: 62) chama a atenção para o fenômeno da internacionalização na
RMC, ao demonstrar que o novo ciclo produtivo do Paraná – alavancado pelo
agronegócio, o complexo madeireiro e a implantação do polo automobilístico nessa
região e respetivas exportações – faz parte do projeto de infraestrutura do Estado que,
valendo-se da expansão internacional e o aproveitamento das vocações regionais
paranaenses, incentivou o tripé transporte-telecomunicações-energia.

4 Site da COMEC – Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (2021), “Região Metropolitana de

Curitiba – histórico”. Consultado a 25.04.2021, em http://www.comec.pr.gov.br/Pagina/Regiao-


Metropolitana-de-Curitiba.

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O efeito metrópole de Curitiba: as configurações espaciais e os reflexos socioambientais da periferização

Moura (2010) explica que o fenômeno da metropolização foi causado pelo rápido
crescimento populacional aliado à intensificação do uso do solo e, de forma paralela, à
implementação da estratégia de planejamento com o direcionamento da ocupação
populacional para áreas periféricas de Curitiba próximas aos seus municípios limítrofes.
A autora emprega o conceito de aglomeração urbana para essas manchas contínuas
de ocupação, resultando na metropolização da cidade polo, conforme segue:

[...] as unidades que compõem uma mancha contínua de ocupação sobre mais de
um município, envolvendo fluxos intermunicipais, complementaridade funcional e
integração socioeconômica, diferindo do entendimento de Região Metropolitana,
que, nessa pesquisa, corresponde a uma porção definida institucionalmente.
Considera metrópole a cidade principal de uma aglomeração, desde que se
destaque pelo tamanho populacional e econômico, desempenho de funções
complexas e diversificadas, e relações econômicas com várias outras
aglomerações, funcionando como centro de comando e coordenação da rede
urbana. (ibidem: 2)

Dessa forma, ainda conforme a autora, Curitiba acabou ultrapassando seus limites
territoriais municipais, através de medidas que levaram à expansão do núcleo urbano e
possibilitaram a formação de uma unidade contigua de ocupação, agregando o seu
entorno, demonstrado na Figura II, que envolveram “fluxos intermunicipais,
complementaridade funcional e integração socioeconômica” (Moura, 2010: 2). Carmo e
Moreira (2020) defendem que, no entanto, essa expansão do anel urbano em torno de
Curitiba não fortaleceu os municípios próximos, mas gerou antes uma dissociação entre
o local de moradia e o de trabalho e consumo. Isso porque o modelo favoreceu à cidade
polo a concentração da renda, das indústrias de alta tecnologia e do trabalho qualificado,
além de centralizar os mecanismos de administração e controle do capital, buscando
reafirmar sua centralidade. Desse modo, Curitiba passou então a inaugurar um novo
modelo de urbanização, onde o processo de metropolização passa a privilegiar funções
urbanas pré-determinadas, organizando e recompondo territórios com dimensões
urbanas cada vez maiores e transformando o sistema produtivo e a periferia.

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Eliana do Pilar Rocha, Carlos Smaniotto Costa

FIGURA II – Evolução da ocupação urbana de Curitiba e Região Metropolitana 1953-2004


Copyright: BRASIL, PARANÁ, Curitiba – Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba – COMEC
(2006: 54). ISBN 978-85-60622-00-9. Adaptado pelos autores.

A EXPANSÃO DA ÁREA DE INFLUÊNCIA E A CRIAÇÃO DE UMA NOVA PERIFERIA


METROPOLITANA

Os argumentos expostos supra demonstram que há uma ênfase à metropolização e à


internacionalização da RMC, a partir do tripé transporte-telecomunicações-energia
como parte da estratégia do governo estadual de atrair indústrias – sobretudo as
automobilísticas –, além dos complexos madeireiros e as indústrias ligadas ao
agronegócio. Porém é importante mencionar que entre os anos de 2000 e 2010, a
população de Curitiba aumentou em cerca de 165 mil habitantes (Moreira, 2014: 285).
Isso porque a cidade não é mais um polo de atração de fluxos migratórios. Desde o
início dos anos 2000 que as cidades da região metropolitana estão recebendo um maior
número de migrantes em busca de emprego, serviços e equipamentos urbanos. É o que
Moreira denomina de “crescimento periférico” (ibidem). Além disso aconteceu um
aumento substancial de migrações urbano-urbano desde a década de 1990, e isso de
seu por dois motivos. O primeiro foi a construção de empreendimentos de alto luxo na
região metropolitana, condomínios fechados horizontais para a classe alta que migrou

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O efeito metrópole de Curitiba: as configurações espaciais e os reflexos socioambientais da periferização

em busca de segurança e contato com a natureza (Rocha e Smaniotto, 2022). Notou-


se aí a implantação dos condomínios em Áreas de Proteção Ambiental, cuja legislação
foi alegadamente modificada por interesse dos agentes imobiliários urbanos. O segundo
motivo desta migração intraurbana está ligada às novas políticas habitacionais do
governo federal direcionadas às famílias de média e baixa renda, que resultaram na
multiplicação de conjuntos habitacionais na RMC, com a construção de prédios de
apartamentos que exibem, em média, 50 m2. Segundo Moreira (2014: 288-289),

Dois elementos balizam, fundamentalmente, a nova política habitacional de


Curitiba. O primeiro refere-se à adesão do município ao novo Sistema Nacional de
Habitação de Interesse Social. O segundo diz respeito ao reconhecimento da
articulação entre Plano Diretor e Plano de Habitação. No caso do município de
Curitiba, a Lei 11.233, que instituiu o Plano Diretor em 20 de dezembro de 2004,
apresentou, como um dos objetivos gerais da política de desenvolvimento urbano,
a democratização do acesso à terra e à habitação, estimulando os mercados
acessíveis às faixas de menor renda, bem como evitando o uso especulativo da
terra como reserva de valor, de modo a assegurar o cumprimento da função social
da propriedade.

Alguns desses empreendimentos tem como premissa o financiamento direto através


do agente imobiliário, com promessas de juros mais baixos e menos burocracia. Outros
fazem parte dos programas nacionais de moradia para trabalhadores de baixa e média
renda, como os programas Minha Casa Minha Vida e Casa Verde e Amarela, ambas
iniciativas do governo federal. Dados do extinto Ministério das Cidades (2006) mostram
que, em 2005, o Brasil tinha um déficit habitacional e cerca de 7 milhões de moradias,
o que correspondia, naquele período, a um índice de aproximadamente 20% dos
brasileiros.
Para corrigir esta deficiência, o Programa Minha Casa Minha Vida foi criado em
2009 pelo governo de Luís Inácio Lula da Silva, e tinha como premissa proporcionar,
através de condições especiais de financiamento obtidas por intermédio de parcerias
entre empresas e o sistema público de financiamento, acesso à moradia própria para
cidadãos brasileiros moradores em áreas urbanas e rurais. Esse programa separava as
famílias em diferentes faixas de renda e oferecia subsídios de até 90% do valor do
imóvel, variando de acordo com a faixa salarial. Os grupos eram de faixa 1 até 3, com
salários de R$ 1800,00 até R$ 7000,00. Nessa época o salário mínimo era de R$ 465,00
e a prestação mínima mensal do programa girava em torno de R$ 80,00.

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Eliana do Pilar Rocha, Carlos Smaniotto Costa

Em 26 agosto de 2020 o novo governo federal criou, através da Medida Provisória


MP 996/2020, o Programa Casa Verde e Amarela para substituir o Programa Minha
Casa Minha Vida. Desde 2009, e até ser extinto no início de 2022, o Minha Casa Minha
Vida permitiu a construção de mais de 5 milhões de moradias para atendimento das
famílias inscritas (com renda até R$ 9000,00). Ele foi criado com dois objetivos
principais: aplacar o problema do déficit habitacional e incrementar o setor da
construção civil, aquecendo a economia num período de desaceleração. De acordo com
Pacheco (2019), o segundo objetivo acabou sendo privilegiado em detrimento do
primeiro, pois era a iniciativa privada que definia os locais de construção das
residências, notadamente distantes das cidades polo – o que trouxe o problema da
acessibilidade, sendo que muitos acabavam não sendo vendidos (ibidem).
O Programa Casa Verde e Amarela buscou, a partir de sua criação, trazer algumas
vantagens em relação ao programa anterior, como a possibilidade de financiamento de
reformas em moradias antigas, além da regulamentação de moradias já construídas em
espaços irregulares, como áreas de invasões e ocupações urbanas e rurais. Atendeu,
no entanto, somente às famílias com renda até R$ 7000. Outro objetivo deste programa
é, até o ano de 2024, a construção de conjuntos habitacionais maiores – e com
equipamentos urbanos no interior e no entorno – mais próximos às áreas centrais das
cidades ou, no caso de grandes capitais, próximas aos serviços urbanos necessários
que possam garantir a qualidade de vida das famílias, sobretudo do Norte e Nordeste
do país, onde o déficit habitacional é maior. O Programa Casa Verde e Amarela é, em
suma, uma reformulação do Programa Minha Casa Minha Vida, criado com a premissa
substituir o antigo programa e tem, como meta, atender 1,6 milhão de famílias de baixa
renda com o financiamento habitacional até 2024, um incremento de 350 000
residências em relação ao que se conseguiria atender com os parâmetros do programa
anterior.5
No caso da RMC, o objetivo de construir habitações mais próximos às áreas
centrais, é bastante vago e incerto, pois observa-se que os planos de urbanização de
Curitiba não se expandiram aos municípios vizinhos ou à complexidade da RMC. Hoje
o que se vê são espaços marcados pela desigualdade e pelo contraste. Os antigos
moradores de Curitiba, de baixa ou média renda, devido aos valores da terra e do metro
quadrado construído estão migrando para a RMC, fazendo uso das novas políticas
habitacionais do governo federal. Baliski (2021: 6) informa que a construção de
conjuntos habitacionais (sejam verticais ou horizontais, para classes altas, médias ou

5 Agência Senado (2020), “MP cria programa Casa Verde Amarela no lugar do Minha Casa, Minha Vida”,
Senado Notícias, 26 de agosto. Consultado a 19.04.2022, em
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/08/26/mp-cria-programa-casa-verde-amarela-no-
lugar-do-minha-casa-minha-vida.

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O efeito metrópole de Curitiba: as configurações espaciais e os reflexos socioambientais da periferização

baixas da população) tem ampliado as áreas urbanas metropolitanas e incorporado


novas porções do espaço construído, as quais já foram no passado consideradas áreas
periféricas. Afirma ainda que, em razão do novo preço da terra, de novas infraestruturas
e alguns serviços essenciais, essas porções do espaço passam a ser incorporadas,
expandindo a influência da cidade polo e gerando uma nova linha periférica ainda mais
afastada do centro das cidades da RMC.
A entrada de novos conceitos e novos modos de vida, sobretudo nos municípios
limítrofes à cidade polo, tem transformado a vida dos antigos moradores da região
metropolitana, que sofrem a pressão pelos diferentes padrões de moradia a que as
cidades da RMC se sujeitam, sejam os conjuntos habitacionais, sejam os condomínios
de alto luxo. Isso porque essas formas de moradia levam consigo novos equipamentos
para atendimento deste migrante urbano-urbano, principalmente novas formas de
economia urbana e de estruturas de enquadramento social. Isso implica um processo
de urbanização excessiva, que tem alterado as taxas de valorização imobiliária. Com
isso, o antigo morador se vê forçado a se afastar do limite do município, criando por usa
vez novas periferias, pois, via de regra, elas não se enquadram no cenário atual das
políticas de habitação nem de acesso à terra.
Segundo Polli (2007), é imprescindível que se observe o efeito polarizador que o
município polo causa na área metropolitana, impondo seus instrumentos de política
urbana e impondo uma nova periferia aos habitantes que foram destituídos dos
benefícios da modernização habitacional. Só assim poderá ser evitado o risco
ambiental, a segregação e a favelização a partir da criação de novas periferias. Ainda
conforme Polli (2007: 14),

a agudização das contradições urbanas no espaço é a demonstração mais clara


de que forças concentracionistas, de escalas mais abrangentes, interferem no
território, estimulando decisões políticas e investimentos que mutilam a cidadania,
naturalizando a pobreza e incentivando a exclusão social.

Bourdieu (1997) afirma que não há espaço que não seja hierarquizado numa
sociedade hierarquizada. Assim, denomina de violência simbólica essa distinção
fortemente enraizada na sociedade. Uma forma hegemônica de percepção e de
apreciação do mundo por meio de categorias mentais que, hierarquizadas, não
entendem ou não distinguem o outro e suas necessidades. Conforme o que se
apresenta neste artigo, essa nova periferia é produzida pelo próprio agente imobiliário
que, sendo o mesmo que constrói os empreendimentos (direcionados à classe média e
baixa migrante de Curitiba) próximos da fronteira com a cidade polo, a abrir loteamentos

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Eliana do Pilar Rocha, Carlos Smaniotto Costa

com preços mais acessíveis em novas áreas de ocupação (visivelmente em locais mais
afastados da sede das cidades da RMC), faz uso do discurso da aquisição da casa
própria e da proximidade com a natureza como forma de transformar a situação e
mascarar a realidade.
Assim, o que se vê é a criação de uma nova periferia urbana – distante dos limites
municipais entre as cidades da região metropolitana e o município polo, dispersa e
linear, notadamente próxima às rodovias – como uma alternativa aos valores dos lotes
urbanos com valores agregados devido às novas configurações espaciais. Essa nova
periferia é o resultado do modelo de exclusão geográfica decorrente da modernização
do território, construído com vistas à modernização e expansão da metrópole e pautado
em instrumentos de invizibilização do outro. Por isso, Carmo e Moreira (2020: 42)
afirmam que o modelo de planejamento de Curitiba e sua intensa divulgação mundial –
que já lhe conferiu o título de cidade modelo em economia verde e práticas sustentáveis
pela Organização das Nações Unidas – encobrem o fato de que, ao lado do modelo de
sustentabilidade creditado à cidade polo, existem outras cidades que apresentam
estatísticas sociais e ambientais preocupantes, observáveis em suas interações e que
podem demonstrar que Curitiba é hoje uma cidade desigual tanto nas periferias da
metrópole, quanto nas cidades de sua região.

CONCLUSÕES
É visível como a expansão das periferias comprova que a forma de produção do espaço
metropolitano de Curitiba se coloca longe de fornecer equidade nas oportunidades de
aquisição de moradia de qualidade para os habitantes do entorno da cidade polo. O
modelo de metropolização da cidade, pautado em políticas emblemáticas da cidade-
modelo e capital ecológica, construiu planos que transformaram as questões sociais em
resíduos, firmando e reafirmando as periferias da metrópole e da RMC de modo
polarizador e desigual. O efeito metrópole cria a fragmentação do espaço metropolitano,
colocando em risco a proteção de mananciais e obrigando os menos favorecidos a
ocuparem áreas ilegais e desconfortáveis. A intercalação de condomínios de luxo
fechados e as zonas em desenvolvimento estão criando padrões espaciais nas
periferias da cidade e, portanto, influenciando constantemente sua (re)configuração. A
junção física de Curitiba com as cidades vizinhas causa também a metropolização da
periferia, embaçando os contrastes entre os eixos urbanos e o mundo rural, porém
enfatizando a polarização do município polo e da periferia. Isso alterou a geografia
(social e física) da área ocupada pela RMC. A crescente metropolização do espaço
urbano e a concentração de recursos em zonas urbanas exíguas devem alertar-nos para
o papel ainda (e cada vez mais) relevante dos centros urbanos, isto é, das metrópoles

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O efeito metrópole de Curitiba: as configurações espaciais e os reflexos socioambientais da periferização

– que no caso brasileiro, serão os espaços vividos pela maioria dos brasileiros, mas
num processo profundamente segregador.
Tal processo pode ser observado em diferentes escalas, como na do indivíduo que
se vê forçado a ocupar áreas mais afastadas do centro das cidades, criando uma nova
periferia. Isto ocorre devido ao aumento do valor da terra, decorrente dos equipamentos
urbanos disponibilizados a partir da construção de empreendimentos nas cidades da
região, que por sua vez sofrem pela expansão da mancha urbana curitibana e suas
consequências – como a necessidade de ampliação da infraestrutura e dos serviços,
além da ampliação do tráfego nas vias de acesso e a expansão do sistema de
transporte. A região metropolitana passa assim a ter uma nova configuração espacial,
que prevê a inauguração de outro tipo de planejamento urbano – por um lado mais
representativo, e por outro mais dependente das decisões da cidade polo.

Revisto por Alina Timóteo

ELIANA DO PILAR ROCHA


Grupo de Estudos Socioambientais Urbanos, Centro Universitário Claretiano
Av. Presidente Getúlio Vargas, 1193, Curitiba, Brasil
Contacto: elianarocha.ane@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4397-7159

CARLOS SMANIOTTO COSTA


Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação & Desenvolvimento, Departamento de
Arquitetura e Urbanismo, Universidade Lusófona
Campo Grande, 376, Lisboa, Portugal
Contacto: smaniotto.costa@ulusofona.pt
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1896-4663

Artigo recebido a 16.05.2021


Aprovado para publicação a 19.01.2022

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