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INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO
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Os estudos regionais têm sido uma constante nas ciências humanas há


tempos; sua origem remonta ao final do século XIX, com Paul Vidal de La
Blache; seus estudos sobre região propiciaram uma Geografia Humana mais
especializada, que buscava sintetizar as informações e características de
uma determinada área; foi, por sua vez, uma Geografia descritiva e
politicamente neutra, predominando por um longo período do século XX.

Mudanças surgiram com o advento de uma corrente de postura crítica


frente à Geografia Tradicional; seus estudiosos passaram a pensar a Ciência
Geográfica com base em um conteúdo político do conhecimento científico.

A partir daí, passou a haver uma reconstrução da dialética marxista


entre os geógrafos que defendem a postura crítica, os quais evidenciam a
relação entre a geografia, grupos sociais excluídos e o papel das elites na
sociedade capitalista, que outras correntes não abordavam.

Yves Lacoste (1993) representa o primeiro geógrafo nessa linha e fez


duras críticas à La Blache, por não ter estabelecido relações políticas e
sócio-econômicas em seus estudos regionais, estacionando-se mais na
descrição regional da paisagem. A partir desse momento, a neutralidade
política é contestada e a Ciência Geográfica passa a conter uma postura
mais crítica.

Nessa perspectiva, os estudos regionais desenvolvidos neste limiar do


século XXI têm mais do que a obrigação de considerar e compreender as
mudanças sócio-estruturais que o espaço geográfico tem absorvido. Uma
fase calcada na tecnologia, na ciência e na informação, a qual Milton
Santos (1996) denominou de Período técnico científico informacional , ou,
simplesmente, Período tecnológico .

Segundo esse autor, uma fase que se materializa no território


nacional, por meio de investimentos internos do Estado e do setor privado,
por volta do fim de 1960 e início de 1970, que pode ser caracterizada por
evidentes transformações em todos os setores da sociedade e do espaço
geográfico. Assim sendo, compreende todas as atividades, situações,
estrutura e conjunturas, que modificam as formas, as funções, os lugares, a
cultura e a mentalidade das pessoas.
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Percebemos que os estudos regionais passam a exigir mais do que


uma visão positivista e pragmática da realidade; torna-se necessário
considerar as transformações sócio-espaciais vigentes, além dos processos
históricos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a atual situação
do objeto em análise.

Nesse processo, as (re)configurações que a rede urbana apresenta têm


merecido nossa atenção, principalmente aquelas de escalas regionais, cujas
funções e hierarquias têm sido dissolvidas.

São mudanças que ocorrem em cidades de todos os tamanhos e tipos,


bem como no setor rural, que, além de manter sua função tradicional de
fornecedor de matéria–prima e receptor de mão-de-obra sem especialização,
também abriu espaço para a agroindústria.

Os estudos sobre as redes urbanas tradicionais tiveram como respaldo


as teorias clássicas de Walter Christaller (1966) e Losch (1954) sobre as
concepções de “lugar central e área de mercado”, em que uma cidade pólo
exerce a função de suprir serviços especializados a centros menores do seu
entorno, formando uma rede urbana hierarquizada, em que não ocorre
complementariedade entre as cidades.

A contextualização dessa teoria à luz do século XXI exige-nos


reflexão, diante das circunstâncias reais que o progresso da ciência e da
informação tem interferido no espaço e, portanto, nas cidades e no campo.
As transformações que se efetivaram nesses espaços levam-nos a repensar
as funções que a rede urbana representa diante das melhorias nos
transportes e nas comunicações.

Essa mudança que o Meio técnico tem incorporado no espaço


geográfico quebra as barreiras do tempo, encurtando as distâncias, como já
afirmara Santos (1985). Torna-se acessível às pessoas que vivem nas
pequenas localidades deslocarem-se para outros centros de tamanhos
variados, na busca de bens e serviços, ocorrendo, pois, uma flexibilização e
uma complementariedade entre centros de mesmo tamanho com outros
maiores.
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Santos (1988) afirma que a rede urbana continua tendo um papel


fundamental na organização do espaço, porque assegura a integração entre
fixos e fluxos, isto é, entre a configuração territorial e as relações sociais.
Por isso, seu estudo é fundamental para a compreensão das articulações
entre as diversas frações do espaço.

Diante dessa necessidade de reformulações na rede urbana e suas


novas relações de funcionalidade, interessa-nos desvendar, numa escala
regional, quais são as cidades que compõem a rede urbana do município de
Ituiutaba/MG e qual a representação desta para a Mesorregião do Triângulo
Mineiro/Alto Paranaíba/MG.

A análise de uma rede urbana implica considerar que, em cada


momento histórico, diferentes elementos adquirem funções e posições
diversas no sistema temporal e espacial, alterando seus valores em relação
aos demais elementos e com o todo.

Nessa ótica, buscamos contextualizar o papel de uma rede urbana no


atual Período tecnológico, considerando os processos históricos locais e
nacionais que submeteram o território regional, em um recorte temporal
estabelecido entre as décadas de 1950 e 2000.

A escolha da área foi o município mineiro de Ituiutaba, cuja cidade


caracteriza-se como média, contendo uma população total de 89.091
habitantes (IBGE, Censo 2000). Localiza-se na porção mais noroeste do
Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, inserida na Microrregião de Ituiutaba 1 .

Essa Microrregião, caracteriza-se como uma área que se diverge do


restante da Mesorregião por se especializar, após a década de 1970, na
pecuária (corte/leite) e numa agricultura mais voltada para a mesa, ou seja,
na produção de milho, mandioca e gergelim, além do plantio de cana-de-
açúcar, que abastece a agroindústria local.

Nacionalmente, a Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba é


conhecida por sua especialização na soja e no café e no potencial da

1
A Microrregião de Ituiutaba é formada por seis municípios: Cachoeira Dourada,
Capinópolis, Gurinhatã, Ipiaçú, Santa Vitória e Ituiutaba, esta última, caracterizando-se
como cidade-pólo. Fonte: < http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/territorio/>, 2002.
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agroindústria e do comércio atacadista de centros como Uberlândia,


Uberaba e Araguari.

Estes, por sua vez, exercem uma polarização regional muito intensa
sobre os demais centros urbanos; um processo que poderíamos denominar
de “vampirismo” 2 , diante da força com que atraem, para si, fluxos de todas
as ordens, principalmente populacional, informacional e capital. Todavia,
Uberlândia tem se sustentado como “Carro-Chefe”, liderando como espaço
de atração nos setores de educação, saúde, comércio, indústria,
telecomunicação, entre outros.

Verificando tal situação, passamos a questionar se, nesse processo,


haveria espaço para outras cidades de menor porte exercer algum tipo de
polarização, ainda que numa pequena escala regional.

Posto que a distância entre os centros urbanos tem sido cada vez
menos um empecilho diante dos investimentos nos transportes e nas
comunicações no território nacional e, particularmente, em Minas Gerais, é
certo que os fluxos, especialmente os populacionais, tenderiam a
direcionar-se para centros mais distantes e mais equipados.

A polarização que Ituiutaba exerce sobre centros urbanos mais


próximos nos indicará a existência de uma hierarquização de serviços,
formando um “hinterland” entre as cidades; isso porque a tecnologia,
informação e a ciência não chegam a todos os lugares com a mesma
intensidade. Cabe, aqui, conhecer a procedência dos fluxos que se
direcionam para Ituiutaba para analisar o grau de dependência desses
centros.

Considerando essas questões levantadas, buscaremos entender a


dinâmica de Ituiutaba com seu entorno; para isso, utilizaremos três tipos de
serviços que consideramos essenciais ao setor urbano e que representam
fatores atrativos ao município: setor de saúde pública (SUS), setor
educacional de nível superior (graduação) e setor de transporte
intermunicipal (destino).
2
Termo utilizado por SOARES, B. R., Profa. Dra. do Instituto de Pós-graduação em
Geografia da UFU; para designar a intensidade com que Uberlândia consegue exercer
atração sócio-econômica sobre sua Mesorregião.
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O estudo analítico dos fluxos populacionais, sem considerar a


estrutura urbana, detentora dos fixos, e os processos que corrobaram para a
atual função e forma do município, certamente foge a uma dialética mais
crítica.

Por esse motivo, propomo-nos a um recorte temporal mais amplo


(1950 a 2000), a fim de resgatar um período de grande importância
(1950/60) para Ituiutaba, e que foi responsável por consolidar a estrutura
urbana, populacional, econômica e cultural, tendo como base a economia
arrozeira da Microrregião.

Após 1970, e mais intensamente na década de 1980, o município, a


reflexo da crise nacional, se arrefece economicamente, passando a política
local a preocupar-se em melhor equipar a cidade, em termos de qualidade
de vida, ou seja, as características que o município apresenta neste limiar
de século são resultado dos processos de diversas ordens (econômica,
jurídica, ambientais) e de diferentes níveis de decisão política (local,
estadual, nacional).

Todas essas mudanças ocorridas em Ituiutaba, ora “Capital do


Arroz”, principal atividade econômica da década de 1950, ora uma cidade
voltada para a pecuária, após 1970, em que o arroz perde sua importância
econômica, gerou-nos o interesse em analisar os vários processos diretos e
indiretos (locais e nacionais), que, de alguma forma, interferiram na
economia de Ituiutaba e em sua Microrregião, ou incentivaram-na.

Contudo, resgatar informações para compreender todo esse processo


de evolução urbano/rural foi uma tarefa árdua, justamente por nos
depararmos com órgãos públicos e privados que não têm noção da
importância da função que exercem frente à sociedade local.

A ausência de informações, ou de uma organização delas, evidencia a


falta de interesse ou de consciência da relevância de contribuir para uma
cidade melhor. São esses dados que permitem conhecer os processos
percorridos pela sociedade local, os fluxos recebidos (capitais, pessoas,
informações), as respostas para os problemas que enfrentam no atual
momento histórico e as bases para um planejamento mais sólido.
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Com relação ao objeto de estudo, consideraremos o espaço


geográfico. Este, enquanto uma categoria de análise, tem sido palco de
conflitos de classes, bem como de idéias; estas últimas no que se refere à
busca de uma conceituação sólida na Ciência Geográfica.

Santos (1985) caracteriza-se como um autor da linha crítica que


muito contribuiu para essa ciência nas últimas três décadas do século XX,
definindo conceitos para melhor compreensão desse espaço, face às
transformações reais (e virtuais) a que o espaço tem se sujeitado após a 2ª
Guerra Mundial. Para esse autor, a essência do espaço é social,
considerando-o como uma instância da sociedade, bem como do setor
econômico, cultural e ideológico.

Não podemos cair na incoerência de considerar que o espaço é


formado apenas pelos objetos geográficos naturais e artificiais; o espaço é
tudo isso, mais a sociedade.

Compreender os processos que ocorrem no espaço exige que levemos


em consideração vários momentos históricos, e por meio deles, verificar
como as formas/conteúdo sempre estão em mudança de significação, à
medida que o movimento social atribui a eles novas funções.

Santos (1988, p. 77) assevera que o espaço contém o movimento, por


isso, pode-se afirmar que ele é formado pelos “fixos”, que nos dão o
processo imediato do trabalho; “(...) são os próprios instrumentos de
trabalho e as forças produtivas em geral incluindo as massas de homens e
também os fluxos”, que se distinguem como o movimento, a circulação,
sejam elas, pessoas, capital, informação ou mensagens; fixos e fluxos
interagem e alteram-se mutuamente, expandindo-se com o suporte de novos
sistemas de engenharia.

Ambos compõem o espaço geográfico por se caracterizarem como


objeto/ação e movimento entre o meio e a sociedade. A esse Meio
geográfico Santos (1996) denomina de “Meio técnico científico
informacional”, correspondendo ao período histórico de mesmo nome.
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No Brasil, esse período passou a ter maior intensidade após a década


de 1970, principalmente na região Sudeste, pois, paulatinamente o território
nacional foi estruturando-se a partir desse desenvolvimento, em transporte
e comunicação, e novas relações de produção foram surgindo no campo e na
cidade.

As características são evidenciadas por uma reconfiguração do


território, em que a sociedade cria sistemas de engenharia que superpõem à
natureza, a fim de estabelecer condições de trabalho próprias de cada
época. Há também um intenso desenvolvimento da produção material,
agrícola e industrial responsáveis pelas alterações no processo produtivo,
formado pela circulação, distribuição e consumo.

Essas modificações têm ocorrido distintamente entre diversos


lugares. Isto porque a evolução técnica e do capital não se fazem
igualmente, e por isso, cada lugar é marcado pela variação de idades
diferentes.

O Período técnico científico informacional, quando materializado no


espaço geográfico, “desmantela” a organização anterior, resultando num re-
arranjo espacial em que novos processos são criados.

Nesse contexto, visualizamos as transformações histórico/geográficas


do município de Ituiutaba, no âmbito regional e nacional; quando as
mudanças sócio-espaciais tiveram na sua base nacional uma severa
reestruturação política voltada para a industrialização e produção em larga
escala para exportação.

As medidas político/econômicas, decididas em nível nacional, vieram


“casar” com interesses econômicos internacionais de introduzir um “pacote
tecnológico” no setor rural e, concomitantemente, alterar a divisão do
trabalho, que foi utilizado como uma possível solução para a Crise de
abastecimento que o país viveu no início dos anos de 1960.

A mudança no setor rural, particularmente nas áreas do cerrado


brasileiro, gerou uma reestruturação muito maior do que a esperada. O fato
de “modernizá-lo” levou-o a tornar-se um espaço de produção e de
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consumo, em que a introdução de novas técnicas, ciência e informação


foram adaptadas à realidade de cada lugar.

Diante disso, o setor urbano viu-se modificado em função desse


campo modernizado, ou seja, ocorreu uma complementariedade entre
campo/cidade, diante das necessidades que emergiram desse processo.

Os investimentos no campo têm gerado forte impacto sobre ele, bem


como nas cidades, principalmente aquelas de pequeno e médio porte, as
quais têm se equipado em função desse novo rural.

Novas relações passaram a ser exercidas diante das mudanças sócio-


econômicas e estruturais, mediante uma re(organização) da divisão do
trabalho, da necessidade de profissionais e técnicos, de um comércio
especializado voltado para o campo; fatores que alteraram os papéis de
diversos centros urbanos com seu entorno.

Essas transformações (re)criariam especializações nos centros


urbanos bem como no setor rural, o que iria possibilitar uma polarização
em nível local e mesmo regional. Essa polarização formou “redes”, cujo
grau de influência variava no tempo e no lugar.

Essas especializações regionais foram responsáveis, a cada momento


histórico, pelo dinamismo e refuncionalização de diversas áreas, bem como
pelo seu arrefecimento e dependeram de fatores externos e internos à sua
rede de polarização.

Analisar esses fatores implica tentar detalhar a composição da rede,


como organização social, política, econômica e cultural, levando em conta
o preexistente e o novo para compreender as causas e conseqüências dessa
refuncionalização.

Essa dinâmica ocorrida nas redes frente às transformações do Meio


técnico científico informacional, contribuiu para uma mudança no processo
produtivo, visto que os meios de produção e circulação e as necessidades de
consumo vão sendo modificados (como também modificam) o meio e a
sociedade.
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Santos (1997) afirma que esse Meio geográfico condiciona novos


comportamentos humanos, os quais ele denomina de “psicoesfera”, e esses,
por sua vez, aceleram a necessidade da utilização de recursos técnicos,
criando uma “tecnoesfera”; ambos vão constituir a base operacional de
novos automatismos sociais.

A tecnoesfera instala-se substituindo o meio natural ou técnico que o


procedeu; “constitui um dado local aderindo o lugar como uma prótese”, e a
psicoesfera caracteriza-se como as idéias, crenças, e faz parte desse meio
ambiente, “fornecendo regras à racionalidade ou estimulando o
imaginário”. (SANTOS, 1997, p. 204).

São essas necessidades gestadas num ambiente técnico, que alteram


as funções das redes num curto período de tempo. As cidades que estão no
âmbito dessas redes refuncionalizam-se, conforme o grau de fixos que vão
sendo instalados e a importância dos fluxos que são gerados, por isso
mesmo, há cidades de mesmo porte, situadas em diferentes espaços que
exercem funções diferentes em nível local e regional, e cidades de portes
variados, exercendo funções semelhantes.

Com as transformações no Meio geográfico brasileiro, ocorreram


novas interações entre os centros urbanos distantes entre si, alterando a
natureza, a intensidade e o alcance espacial dessas relações, além do
tamanho, da densidade e das funções desses centros. Por isso, as
reconfigurações nas redes estabelecidas, definidas, anteriormente, por
limites rígidos das áreas de influência de cada cidade, passaram a
flexibilizar-se diante das facilidades desse novo período.

São essas divergências que têm gerado polêmica no debate


acadêmico, impulsionando novos estudos sobre a questão urbana-regional,
em nível teórico metodológico conceitual. Por ser ampla a discussão e não
se tratar do objetivo deste trabalho, pautar-nos-emos nas discussões
teóricas de Santos (1979) para melhor adequarmos a cidade de Ituiutaba na
rede urbana em que se insere.

As mudanças no processo produtivo têm possibilitado uma relação de


complementariedade e prestação de serviços entre os centros de diversos
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tamanhos, tipos e funções. Isso ocorre devido a “contração do tempo” e do


“encurtamento das distâncias”, como afirma Santos (1979).

A possibilidade dos centros complementarem-se coloca em debate a


questão da hierarquização; a tendência piramidal, rígida, proposta pela
clássica teoria de Walter Christaller (1966) e Losch (1954) 3 , em que todas
as cidades de mesmo nível recorriam às outras superiores, em busca de bens
e serviços de que não dispusessem, necessita ser repensada, diante do
Período tecnológico. Por essa razão, considerar isoladamente fatores como
o tamanho populacional, localização, distância, hierarquização ou função
específica, para analisar as cidades, têm sido questionado entre os
cientistas urbanos.

Santos (1979) faz uma análise sobre as classificações mais correntes


sobre as cidades; destacando três tipos: 1 – aquelas que se contentam com
dados demográficos brutos e se distinguem em função do volume da
população, denominadas de cidades pequenas, médias, grandes e muito
grandes. 2 – outra vertente conceitua a cidade com base em uma
classificação funcional, em que aglomeração urbana aparece desligada da
noção de organização urbana do espaço; são as cidades industriais,
administrativas, religiosas. 3 – finalmente, há uma terceira classificação,
proposta pelo autor, considerando a capacidade de organização do espaço
pela cidade dependente de seu nível funcional; são as cidades locais,
regionais, metrópoles incompletas e completas.

Na classificação urbana proposta por Santos (1979), apesar de


apresentar-se em hierarquias, o autor nos orienta, em obras posteriores a
não nos prendermos nelas, visto que o significado da mesma variável
altera-se no decurso do tempo, porque a sociedade, ou a “totalidade social”,
como Santos (1985) refere-se, sofre mudanças, assumindo novas funções.

Diante disso, Santos (1985) elabora outra categoria de análise para


compreender as mudanças no espaço geográfico; trata-se da estrutura, do
processo, da função e da forma.
3
As citações neste trabalho, referentes a Christaller (1966) e Losch (1954), foram
retiradas da seguinte fonte: IPEA. Caracterização e tendências da rede urbana do
Brasil : redes urbanas regionais – Sul. Brasília: IPEA, 2000. 206 p.
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Essas categorias não podem ser analisadas separadamente, pois,


isoladas, perdem características verdadeiras, representam apenas realidades
parciais do mundo; mas, se relacionadas entre si, é possível compreender a
organização espacial na sua complexa rede de interações.

Por meio de processos econômicos, sociais, políticos e tecnológicos,


entre outros, há um tempo em que o modo de funcionamento da estrutura
social atribui determinados valores às formas, e, por conseguinte, gera
refuncionalizações na forma/conteúdo, e o resultado desses tempos (e do
uso de novas técnicas e informação) é visto na paisagem, formado pelo
passado e pelo presente.

Nesse sentido, compreendendo os diversos fatores que inteirem ou


estimulem as transformações do espaço-geográfico, cabe, em nossa
pesquisa, desvendar o papel que exerceram os diversos níveis políticos
sobre a relação cidade/campo de Ituiutaba, para, posteriormente,
compreendermos a formação de uma micro-rede urbana regional, voltada
para serviços, cuja dimensão também buscaremos conhecer.

Como metodologia deste trabalho, foi feito um levantamento


bibliográfico acerca do tema escolhido, pesquisa de dados secundários
mediante visita em órgãos e instituições, tais como: IBGE Ituiutaba e de
Uberlândia, EMATER Ituiutaba, Prefeitura Municipal de Ituiutaba,
Secretaria do Planejamento, e de Abastecimento de Ituiutaba, Receita
Estadual de Ituiutaba, FIEMG e Bolsa de Arrendamento – escritórios
regionais em Ituiutaba, e I e II Cartório de Registro de Imóveis de
Ituiutaba.

Também foram realizadas pesquisas de campo durante o ano de 2001


e 2002 e visitas a instituições de saúde, educação superior e terminal
rodoviário e, finalmente, foi realizada entrevista oral com dois
representantes do setor agropecuário de Ituiutaba: Sr. Manoel Junqueira
Vilela, pecuarista e ex-agricultor de arroz, e Sr. Carlos André Ribeiro,
presidente do Sindicado dos Produtores Rurais de Ituiutaba durante o ano
de 2002.
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No esforço de melhor sistematizar o trabalho, ele foi dividido em


quatro capítulos:

No primeiro, serão abordadas as políticas agrícolas adotadas em nível


nacional e regional, no período entre 1940 e 1970, e como contribuíram
(in)diretamente no período arrozeiro de Ituiutaba/MG.

No segundo, trataremos das transformações sócio-econômicas e


espaciais ocorridas no município de Ituiutaba entre as décadas de 1950 a
1960, resultado do período áureo do arroz.

No capítulo seguinte, abordaremos os diversos fatores que levaram à


decadência arrozeira e que contribuíram para a emergência da pecuária em
nível regional e, diante disso, analisaremos as mudanças sócio-espaciais e
político-ideológicas ocorridas em Ituiutaba pós 1970/80.

Finalmente, o último capítulo, fará uma contextualização da teoria


das redes, nas visões de diversos autores, buscando compreender no
empírico, a importância e a polarização exercida por Ituiutaba para sua
Microrregião.

Esperamos que o leitor aprecie a leitura e tenha uma compreensão do


pequeno mundo Tijucano e das transformações por que passou e passa. O
desejo de estimular a análise crítica em que a visão do mundo não se
restringisse a um único fator ou problema, mas, numa visão dinâmica da
realidade, foi nossa busca constante neste trabalho.

Desejamos, dessa forma, ter contribuído para que o futuro


pesquisador, e mesmo um simples Tijucano 4 despertasse para as mudanças
locais, levando a (re) descobrir-se ou, ainda, inspirando-o à realização de
novos estudos que venham a enriquecer o conhecimento acadêmico e a
comunidade local.

4
O termo “Tijucano” refere-se ao morador de Ituiutaba; surgiu em função do nome do
rio Tijuco, que banha o município.
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CAPÍTULO 1

1 – O ARROZ E SUA DINÂMICA REGIONAL: As políticas


agrícolas no período de 1940 a 1970 e sua contribuição para o
auge arrozeiro em Ituiutaba/MG

Buscaremos apresentar neste capítulo um panorama da real situação


rural/urbana de Ituiutaba nas décadas de 1950 e 1960, período em que a
cidade ganhou uma dinâmica impar no cenário regional.

Se no início do século XX, o café foi o “ouro negro” para o Brasil,


gerando divisas que vieram materializar-se mediante fixos e fluxos voltados
para o transporte, comunicação, indústria e pela própria urbanização,
semelhantemente, o arroz também foi “ouro” para Ituiutaba, tornando-se a
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base do desenvolvimento e da divisão intra-regional do trabalho, nos


setores urbano e rural da Microrregião de Ituiutaba.

Essas mudanças nem sempre seguiram as conjunturas nacionais, pelo


menos sincronicamente, mostrando-se, portanto, uma dinâmica regional
distinta em certos períodos.

Quanto às políticas agrícolas para as áreas do cerrado brasileiro,


estas só começaram a ter um papel mais relevante no território nacional
após 1968, data em que os empréstimos passaram a ser concedidos mediante
programas voltados para a agricultura.

A partir desse contexto, em que o campo ganhou mais atenção do


Governo Federal, iniciou-se uma fase de “modernização”, lenta,
intensificando-se após 1970. Teoricamente, referiremo-nos ao Período
tecnológico de Santos (1996).

As décadas de 1950/60 foram, especificamente para o município de


Ituiutaba, o período áureo economicamente, tanto que ele fica conhecido
nacionalmente pelo título de “Capital do Arroz”.

Com base no capital originado pelo arroz, a cidade começou a melhor


equipar-se com serviços de água, energia elétrica, comércio e serviços
diversificados, expansão de loteamentos urbanos e novas atividades, que
iria beneficiar a população, que crescia vertiginosamente nesse período.

Para se ter uma visão do crescimento total do município, em 1940, a


população era de 35.052 habitantes, aumentando para 53.240 e 68.218
habitantes em 1950 e 1960, respectivamente, ou seja, em relação à década
de 1940, houve um crescimento de aproximadamente 95%.

As mudanças no espaço urbano ocorreram paralelamente às do espaço


rural; “levas” de trabalhadores nordestinos chegaram ao município de
Ituiutaba e tornaram-se agentes transformadores do campo,
responsabilizados pelas roças de arroz, milho e feijão. Desmataram o
cerrado, araram a terra, plantaram o cereal e ganharam muito menos do que
esperavam.
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Essas transformações ocorreram em fases de crise e dinamismo 5 no


território brasileiro; como evidenciaremos a seguir; e seus reflexos
materializaram-se em nível regional, mesmo que indiretamente e em tempos
distintos.

1.1 – A importância da Política Agrícola Nacional e seu reflexo


em Minas Gerais até a década de 1970

Para compreender a dinâmica da agricultura e do setor urbano em


nível local, no caso da Microrregião de Ituiutaba, é essencial considerar a
situação pela qual o país e, particularmente, o estado de Minas Gerais,
passaram durante as décadas de 1950/60.

Sabemos que a política agrícola elaborada no Brasil tem uma origem


muito recente; poucos foram os programas criados e que realmente
beneficiaram os setor agropecuário até 1960. Antes disso, a economia
agrícola brasileira era caracterizada pelo predomínio do café e do açúcar e
pela pouca importância que se dava ao projeto de utilizar a imensa base
territorial brasileira para a produção de grãos.

A produção de alimentos básicos como o arroz, feijão e milho era


voltada para a subsistência, e os poucos excedentes, dirigidos ao mercado,
eram insuficientes para gerar divisas relevantes ao país.

A preocupação do governo com o setor agrícola só ganhou impulso


em 1962, quando o tratamento negligente do setor, conjugado com o
processo de urbanização, culminou numa grande Crise de abastecimento. A
partir desse período, o governo foi obrigado a reformular a política agrícola
até então existente, para um modelo de industrialização substitutiva de
importações.

A abertura brasileira à industrialização, somada à conjuntura


internacional do período, levou o país a sair da crise e viver um período
5
Trata-se da Crise de abastecimento de 1962 e do Milagre Econômico Brasileiro
durante 1967 a 1973.
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economicamente benéfico, em que foram registradas altas taxas de PIB


nacional, fase que ficou conhecida como “Milagre econômico” vigente
entre 1967 e 1973.

Veremos como se caracterizava o país, durante essas duas fases


relevantes para o setor econômico brasileiro, que se traduziu em mudanças
rural-urbanas em escalas menores, em nível regional e local.

1.1.1 - Transição econômica nacional e as políticas agrícolas


adotadas

Por várias décadas, o Brasil teve como base econômica a cultura do


café e do açúcar. Foi com o capital gerado dessas atividades primárias que
o território nacional investiu numa indústria de bens e de consumo duráveis
e equipou-se com infra-estrutura voltada para a circulação, por meio da
implantação de uma malha rodo-ferroviária, concentrada na região Sudeste.

As relações econômicas desenvolvidas internacionalmente geravam


poucas divisas para o Brasil; as exportações somente tiveram êxito nas
décadas de 1940 e 1950, por intermédio do café, cujo sucesso estimulou
cada vez mais a produção pelo país.

Após esse período de “boom” nas exportações, Guimarães (1990)


afirma que ocorreu um momento de consolidação da internacionalização
econômica do Brasil, especificamente, entre 1956 e 1964. Trata-se de um
processo efetivado pelo esforço do Governo Federal em criar condições de
infra-estrutura para o capital, e por meio disso, implantar uma “planta
industrial integrada”.

Surgiu, nesse período, o interesse concreto do Estado em


industrializar o país, buscando diminuir as importações e ampliar o capital.
Para realizar esse intento, o governo do período vigente, Juscelino
Kubitscheck, instituiu um Plano de Metas, que consistia num amplo e
sistemático planejamento de 31 metas, prevendo, inclusive, a construção de
19

uma nova sede administrava no Centro-Oeste brasileiro 6 . E foi Brasília que


materializou o esforço de estabelecer as bases da infra-estrutura para o
desenvolvimento do capital, principalmente, por estendê-la para o interior
do país.

Segundo Vesentini (1986), esse plano de metas foi entendido como a


mais sólida decisão consciente em prol da industrialização na história
econômica do país, e sua efetivação foi tida como a mola propulsora para a
acumulação de capital em escala monopolista. O plano teve resultados
satisfatórios para a nação, beneficiando diversos setores e, inclusive,
regiões, como exemplo do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba , no que se
refere à energia elétrica e infra-estrutura rodo-ferroviária.

Para se ter uma idéia da abrangência da consolidação das metas


contidas no plano JK, evidenciou-se, no setor elétrico, uma ampliação de
3.500 mW em 1956 pra 5.200 mW em 1961; no setor de transportes,
ampliaram-se tanto a produção automobilística quanto a expansão da infra-
estrutura rodoviária, em torno de 15.000 Km entre 1956 e 1961.

No entanto, foi a meta 31 (meta “síntese”) que se consistiu na mais


relevante, pois tinha como objetivo a construção de Brasília no Planalto
Central brasileiro. O plano foi alcançado em pouco mais de três anos, e,
juntamente a sua edificação, foram construídas novas rodovias de grandes
extensões, que beneficiaram, sobremaneira, a circulação no interior do país,
a partir da construção de estradas de rodagem, tais como a Belém–Brasília,
Belo-Horizonte-Brasília; Goiânia-Brasília; Fortaleza – Brasília e Acre –
Brasília 7 .

Num outro ângulo, o setor agrícola dava mostras de sua insuficiência,


revelando a falta de atenção do governo e da reestruturação sócio-espacial e
ideológica em que a população brasileira se adentrava. O reflexo das lutas
de classe, da liberdade feminina, dos direitos trabalhistas e mais uma

6
A idéia de se construir uma futura capital Federal foi expressa formalmente pela
primeira vez, no art. 3º da 1ª Constituição Republicana do país, em 24 fev. 1891. Art. 3º
- Fica pertencendo à União no planalto central da República, uma zona de 14.000
quilômet ros quadrados, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a
futura Capital Federal.
7
Para saber mais sobre o assunto ver: VESENTINI (1986).
20

infinidade de fatores foram contribuindo, ao longo da primeira metade do


século XX, para uma mudança de mentalidade e de valores.

As cidades passaram gradativamente a tornarem-se representativas,


pois transformaram-se em espaços atrativos para a busca de emprego,
educação e uma vida melhor, crescendo, com isso, o grau de urbanização e
de consumo.

A Crise de abastecimento de 1962 revelou esse processo e a


despreocupação do governo sobre o setor agropecuário. Até esse momento,
poucas políticas haviam sido elaboradas para aquele fim; uma tentativa foi
a consolidação do modelo de crédito rural em 1939, por meio do projeto de
criar um Banco Rural, mas que só teve respaldo na década de 1960.

O período de crise permaneceu até 1967, fase em que a economia


brasileira atravessou seu pior momento do pós-guerra com relação ao
crescimento econômico; no entanto, os últimos três anos (1965/67)
representaram uma fase de intensas transformações na estrutura econômica
e política nacionais, ocasionadas pelo regime militar instaurado após 1964.

A fase em que perdurou a crise na economia brasileira ocorreu


durante a vigência de dois planos de metas (trienais) do Governo Federal,
que, a partir de 1950, tornou-se uma praxe administrativa: O Plano de
Desenvolvimento Econômico e Social (1963-1965), e o Programa de Ação
Econômica de Governo – PAEG (1964-1966).

No tocante ao setor agrícola, ambos os planos não contribuíram muito


para o desenvolvimento, porque, de acordo com Coelho (2001), o PAEG,
praticamente incorporava as observações contidas no Plano Trienal,
apresentando a agricultura como um setor retardatário, caracterizado pela
baixa produtividade, e, com isso, provocando altas de preços e contínuas
crises de abastecimento.

Segundo relata Gonçalves Neto (1991), elaborava-se um discurso em


que era fundamental modificar o setor rural para que se efetivasse de fato a
industrialização do país. O argumento primordial era que a arcaica
estrutura, centrada no latifúndio, não permitia a agricultura responder à
21

demanda urbano/industrial, e, não respondendo à altura, a agricultura


colocava-se como um entrave ao processo de desenvolvimento econômico.

A primeira tentativa de formalizar e institucionalizar uma política


agrícola para estimular o desenvolvimento do setor de grãos no país teve
influência americana. Os instrumentos foram a Carteira de Crédito Agrícola
e Industrial do Brasil (CREAI) e a Comissão de Financiamento de Produção
(CFP) em 1943. A tentativa de estruturar a Política de Preços Mínimos foi
atribuição da CFP. Todavia a fixação de preços ocorreu somente na safra de
1945/46, como nos informa Coelho (2001).

A partir de 1965, vários mecanismos foram sendo elaborados como


forma de incentivar a modernização do setor; o Sistema Nacional de
Crédito Rural (SNCR), aprovado pela Lei 4.829/1965, e o Decreto-lei
57.391/1965, que reformulou a Política de Garantia de Preços Mínimos
(PGPM), evidenciaram-se como os primeiros programas.

Este último, estimulou a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa


Agropecuária (EMBRAPA), da Empresa Brasileira de Extensão Rural
(EMBRATER), do Programa Cooperativo Nipo-Brasileiro para o
Desenvolvimento do Cerrado (PRODECER) e do Programa para o
Desenvolvimento do Cerrado (POLOCENTRO).

Nesse direcionamento, o plano de governo Trienal de 1968-1970


(Programa estratégico de Desenvolvimento) propôs uma grande mudança na
escala político e econômica, trazendo seções mais voltadas à modernização
da agricultura, sugerindo uma elevação da produtividade agrícola, a ruptura
das barreiras de abastecimento e a inserção de tecnologia no campo, como
nos esclarece Guimarães (1990).

É nesse período que ocorreu a conjugação de fatores externos


favoráveis a várias medidas no âmbito nacional, tornando possível a
geração de elevadas taxas de produto interno bruto (PIB) nacional e de uma
inflação declinante; uma fase que ficou conhecida como “Milagre
Econômico” (1967-1973).
22

Gonçalves Neto (1991) afirma que esse novo surto de


desenvolvimento econômico iniciou-se com alterações marcadas pelo
aumento da receita do setor publico, organização do sistema de
financiamento ao consumidor, intervenção nos sindicatos, arrocho salarial,
entre outros fatores.

O modelo de desenvolvimento baseado na industrialização, via


substituição de importação, manteve-se e intensificou-se no governo
militar, passando a haver no país, maior abertura para o capital estrangeiro,
além da preocupação em aumentar e diversificar as exportações. Foi um
período em que o país, nos seus diversos níveis estaduais e regionais,
ganhou dinamismo nas atividades de produção, beneficiando todos os
setores.

De acordo com Coelho (2001, p. 16), diversos foram os fatores que


impulsionaram o milagre econômico. Segundo esse autor, no âmbito
externo, o dinamismo da economia mundial e a introdução do sistema de
“minidisvalorização cambial” estimularam a importação de bens e capital e
outros insumos importantes para o crescimento nacional, e, no âmbito
doméstico, “a introdução da correção monetária plena sobre haveres e
obrigações financeiras” veio lançar as bases para a realimentação da
inflação e, ao mesmo tempo, estimular a poupança.

Além disso, a “existência de excesso de capacidade ociosa” na


economia contribuiu para estimular um ambiente favorável ao crescimento
da economia.

Durante esse período, foi lançado o Plano de Metas e Bases (1970-


72), tendo suas intenções mais direcionadas para o progresso social e
distribuição de renda, uma vez que a economia do país adquiria elevadas
taxas de PIB (tabela 1), ampliava as exportações e segurava a inflação em
níveis mais civilizados.

Tabela 1 – Brasil: taxa de crescimento do PIB no período de 1968 a 1975.

Anos PIB (%)


23

1968 11,2

1969 10,0

1970 8,8

1971 12,0

1972 11,1

1973 14,0

1974 9,5

1975 5,6

Fonte : DINIZ, C. C. Economia e planejamento em Minas Gerais –


notas para discussão. In: PAIVA, P. et al. (Org.). Minas em
questão . Belo Horizonte: CEDEPLAR/UFMG, 1988. p. 14. Org. :
OLIVEIRA, B. S., Ago./2002.

A década de 1970 surgiu trazendo muitas surpresas nos âmbitos


internacional e nacional. Com as mudanças ocorrendo no cenário brasileiro
durante o “Milagre econômico” a partir dessa década, concretizava-se a
ideologia oficial do regime militar, “Brasil Potência”, tendo como base o I
e II PND’s (Plano Nacional de Desenvolvimento) implantados após o Plano
de Metas e bases.

O objetivo, segundo Machado (1998), desses PND’s, era o de


substituir importações mediante projetos que tornassem independentes os
setores de petroquímica, siderurgia, telecomunicações e agricultura.

Ainda que o I PND (1972-1974) tenha se preocupado com o setor


agrícola, pretendendo taxas de crescimento anual superiores a 7%, e
orientando-se a desenvolver uma agricultura moderna, foi o II PND (1975-
1979) que voltou a tratar com afinco sobre a ocupação de novas fronteiras
agrícolas, bem como modernizar as áreas já incorporadas ao mercado.

No mais, em nível nacional, o ano de 1973 encerrou uma fase de


apogeu brasileiro, visto que as taxas de inflação e a dívida externa voltaram
24

a aumentar progressivamente, submergindo o país em uma nova crise de


abrangência internacional, conhecida como “Crise internacional do
petróleo”, resultando num descontrole inflacionário na década de 1980 e
parte da década de 1990.

Muitos autores não vêem na crise do petróleo a causa exclusiva da


desaceleração econômica brasileira. Gonçalves Neto (1991) tem a opinião
de que a economia já se encontrava extremamente vulnerável e, portanto, o
choque externo do petróleo apenas apressou a sua deterioração.

Coelho (2001) tem uma leitura diferente; segundo esse autor, a crise
nacional partiu da decisão do Governo Federal em manter a mesma política
monetária expansionista após o choque do petróleo, quando outros países
adotaram uma política antiinflacionária e medidas de contenção do
consumo da matéria-prima.

De qualquer modo, o efeito desse período pós-1973, tais como a


recessão e o desemprego, além da concentração de renda, desorganização
do sistema financeiro e do PIB, são sentidos até os dias atuais, início do
século XXI.

Toda essa exposição do panorama político nacional, entre as décadas


de 1960/70, tem como objetivo evidenciar seus reflexos em escalas
menores, tais como a estadual e regional. Nesse período, o Brasil passou
pelo menos por duas crises econômicas e por uma fase de grande
importância econômica, política, social e espacial.

Essas mudanças estruturais foram sentidas em todo o território, ainda


que com menor ou maior grau, e muitas vezes com uma diferença temporal.
Essa temporalidade ocorre em função da dinâmica histórico-geográfica com
que cada região do país apresenta em relação às demais.

Foram políticas adotadas em função de atividades específicas e o


grau de aceitação e implantação de fixos estabelecidos (infra-estrutura,
comércio, indústria e outros), que contribuíram para ocorrer uma maior
sintonia com a dinâmica nacional.
25

Tal situação ocorreu em todos os estados, tais como Minas Gerais, e


em nível regional, como na Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba. Cabe aqui compreender quais foram as políticas adotadas nesses
níveis territoriais e a situação sócio-econômica sentidas frente aos
desequilíbrios ocorridos no país, e que iriam contribuir (in)diretamente
para as transformações rural/urbana da cidade de Ituiutaba.

1.1.2 - Minas Gerais e Triângulo Mineiro: reflexo (in)direto da


realidade brasileira entre os anos de 1950/70

A ocupação do interior de Minas Gerais ocorreu, inicialmente, pela


mineração no século XVIII, e sua decadência trouxe, como conseqüência,
um povoamento irregular com dificuldades econômicas provocadas pela
falta de atividades produtivas permanentes, a ausência de estradas e de
comunicação suficientes, como nos relata Machado (1998).

O vazio dos cerrados foi preenchido por grandes propriedades


ocupadas por gado; uma economia de subsistência, intermediada pela figura
dos fazendeiros, meeiros e pequenos arrendatários.

Somente a partir do século XX, no governo de Getúlio Vargas


(década de 1930), houve uma primeira atuação política de nível Federal,
que tinha em vista a colonização e a atividade da pecuária nos cerrados,
implementada pelo Conselho de Desenvolvimento da Pecuária (CONDEPE).
Esse programa beneficiou “a priori” o estado de Minas Gerais,
incentivando-o a utilizar seus cerrados para cultivar alimentos básicos de
subsistência, tais como arroz e feijão.

O atraso econômico de Minas Gerais acompanhou, de certo modo, a


dinâmica que o país manteve com relação ao setor agrícola até 1960.
Somente após a intervenção do governo, na década de 1930, essa questão
passou a ganhar importância entre a elite governamental e o Estado.
Iniciava-se, nesse âmbito, um grande esforço político visando buscar
26

alternativas que possibilitassem a superação econômica local/regional, ou


seja, uma tentativa que levou pelo menos mais três décadas para
materializar-se.

As propostas de promover o desenvolvimento industrial mineiro, em


detrimento da agropecuária, ganharam impulso a partir das décadas de
1950/60 por meio de uma política de incentivos fiscais que criou um
aparato institucional de fomento e captação de investimentos para aquele
fim.

Todo esse esforço das administrações estaduais mineiras, em procurar


um aproveitamento das Diretrizes Centrais de Desenvolvimento, fazia-se
em função do histórico papel de destaque que Minas desempenhara na
política nacional.

Portanto, era fundamental para Minas Gerais fazer parte do processo


industrial que se concentrava em São Paulo, e, para isso, era justificável
que suas forças políticas estivessem empenhadas em adequarem-se ao novo
padrão de crescimento.

Assim, foram de suma importância os investimentos estaduais


implantados em infra-estrutura (Centrais Elétricas de Minas Gerais -
CEMIG), em armazenamento (Cia. de armazéns e Silos de Minas Gerais -
CASEMG), em apoio técnico (Cia. Agrícola de Minas Gerais - CAMIG) e
no transporte rodoviário (Departamento de Estradas de Minas Gerais -
DER) como também no aparelhamento institucional, nas décadas de 1950 e
1960.

Entretanto, foi a criação do Banco de Desenvolvimento de Minas


Gerais (BDMG), que entrou em funcionamento em 1963, que teve maior
representação na tentativa de fazer Minas Gerais crescer economicamente,
segundo a opinião de Diniz (1988), oferecendo assistência técnica à
indústria e à agropecuária.

Posteriormente, a CEMIG associou-se ao BDMG constituindo o


Instituto de Desenvolvimento Industrial (INDI), que promoveu
oportunidades na indústria; também o Departamento de Industrialização,
27

vinculado à Secretaria da Agricultura, transformou-se na Companhia de


Distritos Industriais (CDI), voltado para a localização de áreas industriais e
outros.

Grande parte desse aparato realizou-se durante o governo estadual de


Israel Pinheiro (1966-1970), que se solidificou em torno de um projeto de
apoio à industrialização, buscando manter um comportamento integrado
com a nova política econômica adotada pelos governos militares da época 8 .

Toda essa gama de investimentos só geraria retorno, a partir do início


da década de 1970, porque “as condições objetivas ainda não estavam
postas para uma retomada do crescimento econômico brasileiro que só se
faz a partir de 1967-68”, fase do “Milagre Brasileiro”; também dado às
características estruturais da economia brasileira e mineira, visto que Minas
Gerais só retomou seu crescimento, após certa defasagem em relação ao
país, e finalmente, porque o então governo Israel Pinheiro, eleito em aberto
confronto com os interesses de Brasília, tinha dificuldades de negociações
políticas junto ao Governo Federal. (DINIZ, 1988, p. 8).

O milagre econômico, que estruturou o país após 1968, chegou em


Minas Gerais com um atraso de pelo menos dois anos, ou seja, somente no
início dos anos de 1970, como podemos verificar na tabela 2.

Como se constata pelas taxas de PIB, não se verificou um dinamismo


da economia mineira em sintonia com a nacional. O “Milagre Mineiro”,
como ficou conhecida a fase áurea de Minas Gerais, ocorreu após 1970,
principalmente entre os anos 1972/1974, quando eclodia a Crise
internacional do petróleo. Nessa fase, a economia nacional já começa a
sentir as reações do mercado mundial.

Tabela 2 – Brasil e Minas Gerais: taxas de crescimento do PIB (1970-1981).

Anos Minas Gerais (%) BRASIL (%)

8
Entre 1966 e 1970, o país teve vários governos: 1966 – Mal. Castelo Branco; 1966/ 68
– Mal. Costa e Silva; 1969 – Junta Militar (ministros militares provisórios); 1970/73 –
Gal.Emílio G. Médici.
28

1970 6,0 **8,8

1971 5,3 12,0

1972 *14,8 11,1

1973 13,4 14,0

1974 17,5 9,5

1975 13,2 5,6

1976 16,1 9,7

1977 9,4 5,4

Fonte : DINIZ, C. C. Economia e planejamento em Minas


Gerais – notas para discussão. In: PAIVA, P. et al.
(Org.). Minas em questão . Belo Horizonte:
CEDEPLAR/UFMG, 1988. p. 14. Org. : OLIVEIRA, B. S.,
Ago./2002.

* Período do Milagre Econômico Mineiro (1972-1976)

** Período do Milagre Econômico Brasileiro (1967-


1973)

Todavia, os investimentos que foram realizados em Minas Gerais,


tendo como objetivo a industrialização, só geraram resultados após 1970 e
conseguiram manter o ritmo, pelo menos até 1976/77, quando as taxas
passaram a cair vertiginosamente. Como resultado desse processo, foi
direcionada para a indústria grande soma de capitais externos, na ordem de
US$ 10 milhões, no período de 1970 a 1974, conforme dados de Coelho
(2001).

De acordo com Diniz (1988), a atuação política teve um peso de


grande relevância para a superação econômica de Minas Gerais.

Ao contrário de Israel Pinheiro, o livre acesso que o governador


Rondon Pacheco 9 (1971-75) gozava nos “corredores federais” foi
fundamental para o Governo Federal saber que o estado mineiro dispunha

9
O governador Rondon Pacheco foi criado em Uberlândia – Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba/MG, onde iniciou sua carreira política.
29

de todos os fatores favoráveis e do “espaço geográfico”, que melhor


atenderia às novas propostas do II PND e do capital estrangeiro.

Com isso, o setor agropecuário recebeu após 1975, uma gama de


investimentos mediante subsídios do Governo Federal e do capital
estrangeiro, em que o plantio de soja foi introduzido no estado por
intermédio da incorporação de uma ampla área de cerrados à agricultura
moderna, principalmente nas regiões do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba,
Centro e Noroeste de Minas.

Na Microrregião de Ituiutaba, a Crise de abastecimento e o Milagre


Mineiro vão somar para o bom desempenho arrozeiro regional e contribuir
para o desenvolvimento econômico local.

1.1.3 - O Arroz e sua dinâmica na Microrregião de Ituiutaba


(1940 – 1960)

O estado de Minas Gerais já era conhecido pela sua produção voltada


para o consumo interno e a pecuária. Até 1970, o milho e o arroz
mantiveram produtividade relevante, como vemos na tabela 3.

Tabela 3 - Minas Gerais: produção de grãos nas décadas de 1960 e 1970


(toneladas).

Décadas Arroz Milho Soja

1960 460.069 1.395.824 -

1970 617.317 1.849.899 2.392

Fonte : IBGE Ituiutaba, 2002. Org.: OLIVEIRA, B. S., Set./2002

A partir dessa década, a soja, que apresentava pequena


expressividade, iria ganhar relevância no cenário estadual, juntamente
como o café e a cana de açúcar, incentivando a agroindústria local. O arroz,
30

cultura que irá nos interessar particularmente nesse estudo, por sua
importância regional na Microrregião de Ituiutaba, teve seu cultivo
realizado em uma escala limitada até a década de 1920, visto que os
métodos rotineiros utilizados não geravam grandes produtividades.

Essa realidade se alteraria a partir da chegada de famílias japonesas


no Triângulo Mineiro, por volta de 1925, como nos relata Guimarães
(1990). Desde então, novos métodos foram introduzidos por essas famílias
por meio da mecanização e, com isso, as melhores terras foram valorizadas,
elevando o preço do arrendamento.

Com o aumento da produção desse cereal, novas áreas foram


anexadas ao cultivo, promovendo um deslocamento para áreas mais
distantes. Nesse processo, o arroz foi-se deslocando para o oeste
Triângulino e Goiás na bacia do rio Paranaíba, próximo aos municípios de
Ituiutaba, Monte Alegre, Tupaciguara, Itumbiara e outros.

Paulatinamente, os municípios que formavam a Microrregião foram


beneficiando-se dessa cultura. Ituiutaba, particularmente, tirou mais
proveito por ser um município banhado por três rios importantes
(Paranaíba, Tijuco e Prata) e, portanto, apresentar extensas faixas férteis de
solos, que se adequaram perfeitamente ao plantio de arroz durante os anos
de 1940 a 1960.

O cultivo predominante foi o arroz de sequeiro; altas safras foram


produzidas durante os anos de 1950/60 na Microrregião (tabela 4). Silva
(1997) comenta que, em 1950, Ituiutaba era a maior produtora de arroz e de
milho em todo o estado de Minas Gerais. Cultivou cerca de 10.000
alqueires mineiros 1 0 de arroz nesse período, ganhando, com isso, o título de
“Capital do Arroz”.

As transformações que vieram a ocorrer em Ituiutaba,


especificamente, foram responsáveis pela hegemonia dessa cidade no
contexto regional.

10
Um alqueire mineiro equivale a 4,84 hectares.
31

A produção e a circulação do arroz beneficiaram, em grande parte,


Ituiutaba, isto, à medida que o capital fixo e os fluxos gerados foram sendo
incorporados à cidade, mediante implantação de infra-estrutura, abertura de
loteamentos, construção de edifícios e uma maior circulação de capital
entre o comércio, indústria e serviços.

Os fluxos de capital e de pessoas também ganharam proporção; o


capital gerado pela produção de arroz e milho foi reinvestido em novas
áreas cultivadas bem como em equipamentos públicos e privados na cidade,
também a migração tornou-se visível no município; grande fluxo de pessoas
desembarcou em Ituiutaba na busca de emprego no setor rural, assim a
população, em duas décadas (1950 e 1960), cresceu 28,13%.

Nesse período, as mudanças ocorridas na cidade foram bastante


significativas, no entanto, o grau de urbanização só seria representativo
após 1970.

Durante a década de 1950, a área territorial de Ituiutaba utilizada


para plantio era de 93.353 ha (IBGE Ituiutaba, 2002). Nesse período,
segundo Duarte (2001, p. 31), vários distritos pertencentes ao município de
Ituiutaba, tais como Capinópolis, Gurinhatã e Ipiaçú, colaboraram com a
produção de arroz e outros produtos agrícolas, originando uma alta
produtividade, o que contribuiu para a construção da ilusão do “Vale da
Fartura”, “generalizada na memória de grandes produtores rurais em boa
parte da população que vivenciou esse período”.

Em Ituiutaba, extensas áreas foram utilizadas para o plantio do arroz


e do milho, durante a década de 1950, como verificamos na tabela 4.

Tabela 4 – Ituiutaba/MG: área de produção agrícola selecionada e pecuária,


em 1950 e 1960 (hectares).

AGRICULTURA (ha) PECUÁRIA

Décadas No
Leite in
Arroz Milho Algodão Feijão cabeças
natura (l)
bovinos
1950 38.720 23.232 16.940 8.712 200.000 -
32

1960 17.373 11.580 529 3.149 129.940 3.965.600

Fonte : IBGE Ituiutaba, 2002. Org. : OLIVEIRA, B. S., Ago./2002.

No entanto, o município, em 1960, perdeu território com a


emancipação de Cachoeira Dourada e Capinópolis, e, com isso, reduziram-
se as áreas plantadas e a produção da pecuária. O arroz e o milho, tiveram
suas áreas plantadas limitadas em quase 50%, e o algodão em quase 100%
no município, isso, em função de que a área emancipada de Capinópolis
concentrava praticamente toda a produção dessa última cultura. Na década
seguinte, Ituiutaba voltou a produzir algodão em maiores escalas, bem
como ampliou o número de cabeças de bois e a produção leiteira.

Durante a década de 1950, o fator climático auxiliava o plantio, as


chuvas mantinham uma periodicidade mais estável, iniciando-se no mês de
outubro até os primeiros meses do outro ano, um fator favorável ao arroz,
devido a sua fragilidade e à necessidade hídrica. Ao mesmo tempo em que
se produzia grãos, também havia abertura para a pecuária; pois, depois da
colheita, o gado era solto na palhada para se alimentar.

Foi um período de fartura, o otimismo prevaleceu entre os


fazendeiros da época, o cultivo foi ganhando proporção ao ponto de faltar
mão-de-obra na colheita, problema que foi amenizado na busca de pessoas
de outras cidades e estados, principalmente de nordestinos da Paraíba e Rio
Grande do Norte.

As maiores safras de arroz no Triângulo Mineiro, na década de 1960,


foram as de Ituiutaba, produzindo 20.398 toneladas, com o emprego de 284
tratores, e, em segundo lugar, do município de Tupaciguara, com 10.856
toneladas e 163 tratores, ou seja, metade da produção, como se pode ver na
tabela 5. (IBGE, 2002).

Embora o arroz também fosse plantado utilizando-se métodos


manuais e de tração animal, é notável a proporção que a mecanização
ganhou na região, mediante o uso dos tratores.
33

A região do Triângulo, nesse período, continha 25% das unidades


existentes no estado de Minas, que era de 4.772 tratores, de acordo com o
Censo Agropecuário de 1960. O milho apresentou um importante peso na
produção regional, destacando-se principalmente nos municípios de
Ituiutaba, Santa Vitória e Capinópolis (tabela 5).

Tabela 5 – Microrregião de Ituiutaba 1 1 : produção selecionada na década de


1960 (toneladas).

Cultivos Santa
Ituiutaba Capinópolis Tupaciguara 1 2 Total
(ton.) Vitória

Arroz 20.398 5.311 6.607 10.856 43.172

Algodão 529 506 6 417 1.458

Cana 1.222 - 238 1.550 3.010

Feijão 1.231 564 556 1.856 4.207

Milho 15.504 5.157 5.152 12.657 38.470

Fonte : INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo


Agrícola de Minas Gerais . Rio de Janeiro: IBGE, 1960. Org. : OLIVEIRA, B. S.,
Ago./2002.
No entanto, destacamos também Tupaciguara por apresentar altas
taxas de produção em várias décadas. Ressalta-se a alta produtividade do
milho, que teve a função de alimentar especialmente o consumo rural, como
sustento para a criação bovina.

Em 1965, segundo informações da Revista Projeção (2001), ocorreu a


maior safra já vista na Microrregião, quando foram armazenados pela
CASEMG mais de um milhão e duzentas mil sacas de milho debulhado.

O volume foi tão alto que Ituiutaba não teve armazéns suficientes
para estocar os grãos, tendo aquela safra de ser estocada em outras cidades.
O órgão que adquiriu a produção foi a Comissão de Financiamento de

11
Gurinhatã e Ipiaçú são distritos de Ituiutaba nesse período, e Cachoeira Dourada
encontrava-se em fase emancipação.
12
O município de Tupaciguara pertence à Microrregião de Uberlândia.
34

Produção (CFP), por meio do Banco do Brasil, como forma de saldar a


dívida dos proprietários que haviam efetuado empréstimos.

A CFP foi criada paralela à Política de Garantia de Preços Mínimos


(PGPM), na década de 1960, para facilitar os empréstimos para produção
agrícola (EGF e AGF), por meio do Banco do Brasil e da Caixa Econômica
Federal. A CFP oferecia um preço mínimo estabelecido para a produção;
ficava a critério do produtor vender seu produto para o mercado e pagar o
banco ou passar sua produção automaticamente para o governo, quitando
sua dívida.

Cabe aqui esclarecer que a PGPM, iniciada em 1965 com o Decreto


57.391, foi elaborada pelo Governo Federal para eliminar o risco de preços
na agricultura, pela fixação anual de preços mínimos, que ocorria antes do
plantio e vigorava após a colheita.

De acordo com Coelho (2001, p. 25), a fixação desses preços


antecipados “serviria como parâmetros de orientação aos produtores nas
alocações dos recursos, principalmente no tocante ao tipo de produto e as
quantidades a serem produzidas”. A consolidação da PGPM sistematizou a
utilização de dois dispositivos previstos em leis anteriores: o Empréstimo
do Governo Federal (EGF) e a Aquisição do Governo Federal (AGF).

Coelho (2001) esclarece-nos que o EGF foi o principal instrumento


de financiamento de comercialização utilizado, representando em torno de
90% dos financiamentos totais para essa modalidade, e, por ser de natureza
microeconômica, foi largamente utilizado pelos produtores inclusive do
Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, pois possibilitava aumentar o poder de
barganha na época da colheita por meio da estocagem da produção no
período de safra e entresafra.

Outra opção que os produtores tinham era o AGF, utilizado no caso


de os preços dos produtos, até o final do período fixado, não serem
suficientes para cobrir os custos, então, o produtor poderia vender seu
produto para o governo.
35

No Brasil, foi a primeira ação concreta do governo no incentivo da


produção agrícola. A Crise de abastecimento de 1962 exige a atenção do
governo para o setor rural, beneficiando dessa forma diretamente os
produtores do Triângulo Mineiro, particularmente os de Ituiutaba.

O benefício também se materializou no espaço geográfico mediante


investimentos realizados nesse período.

1.2 - Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba (1950 a 1970) - Período


de investimentos e modificações espaciais

As décadas de 1950 a 1970 podem ser consideradas como um período


de transição para essa Mesorregião, em que a “velha” base econômica
regional dava mostras de esgotamento hegemônico, como bem resume
Freitas (1985). A agropecuária tradicional, base econômica mineira,
deixava de ser suficiente para o bom desempenho de Minas Gerais e,
portanto, a indústria apontava como a mais nova solução para evitar o
arrefecimento econômico.

Até a década de 1960, o Triângulo Mineiro era caracterizado pela


pecuária extensiva e alta produção de grãos, para a mesa, tais como arroz,
feijão e milho. No entanto, o significado regional dessa Mesorregião
ganhou intensa relevância nacionalmente, com a transferência da capital
Federal para o “Planalto Central”, em 1960.

Mediante esse fator de ordem externa, e outros internos, ocorreu uma


integração da região ao mercado nacional. Brandão (1989) analisa os
fatores responsáveis para alavancar o Triângulo Mineiro e destaca a posição
geográfica estratégica em que se encontra, situado entre as rotas mercantis
São Paulo – Goiás, caracterizando-se como entreposto comercial; a
implantação de infra-estrutura rodoviária, ferroviária (Estação Ferroviária
36

Mogiana) e a construção da Ponte Afonso Pena, que liga MG e GO, entre


outros fatores 1 3 .

Com a construção de Brasília no planalto goiano, criou-se a


necessidade de expandir a malha rodo-ferroviária pelo país, ligando pontos
estratégicos à capital, tais como previa o Plano de Metas JK, com isso,
antigas reivindicações Triângulinas puderam ser atendidas.

Segundo Brandão (1989), das grandes redes troncais que passavam


pelo Triângulo Mineiro a principal era a BR – 050 (Brasília/DF –
Uberlândia/MG - Santos/SP). Também a BR – 153 (trecho Araraquara/SP –
Goiânia/GO) e BR – 365 (Montes Claros/MG – Uberlândia/MG – Canal do
São Simão/GO), BR 262 (Vitória/ES – Corumbá/MS), consolidando-o como
entroncamento de importantes estradas federais, já no final da década de
1970, como vemos na figura 1.

Com isso, implementou-se a maior articulação com o governo


estadual, uma vez que o Triângulo Mineiro mantinha relações mais intensas
com os centros paulistas do que com o resto do estado, por haver meios de
transporte e comunicação mais rápidos. Até esse período de 1960,
predominava no Triângulo Mineiro a produção de grãos e leite; a partir da
instalação da Ferrovia Mogiana, ligando o estado de São Paulo, o caráter da
produção modificou-se. Cresceram as exportações de carnes e cereais,
especialmente a do arroz.

13
Sobre o assunto ver BRANDÃO, 1989.
37

No entanto, como revela Freitas (1985), a produção de cereais era


restrita às terras férteis e a importância regional não se devia tanto a níveis
38

elevados da produção, mas à função histórica de entrepostos comercial,


especialmente da produção de GO.

O Triângulo Mineiro tem uma característica marcante em relação às


demais regiões por haver recebido, em seu espaço territorial, projetos
agropecuários de grande porte durante o período do Milagre Mineiro
(1972/76), o que iria modificar as relações sócio-econômicas e espaciais.

Com isso, fica evidente, na atualidade, o crescimento expressivo das


culturas ditas modernas, voltadas para exportação e para a agroindústria,
tais como a soja e a cana de açúcar, ao lado de crescimento inexpressivo
dos produtos tradicionais de consumo interno.

As condições histórico-econômicas que se materializam em cada


lugar geram características próprias que possibilitam ou dificultam a
ocorrência de uma sintonia com o resto do território.

As rugosidades do espaço geográfico, ou seja, elementos de


diferentes períodos, coexistindo no mesmo espaço ou tempo (SANTOS,
1989), são, muitas vezes, um fator que dificulta a boa passagem do fluxo.
Com isso, nem todos os lugares são capazes de receber todas as
modernizações e criar novas atividades. Isso explica porque certos espaços
não são objetos de todas as modernizações e porque existem defasagens no
aparecimento dessa ou daquela variável moderna ou modernizante.

Em Minas Gerais, estado que estava passando por uma transição


agrícola-industrial, os fluxos econômicos não possuíam estruturas que
viessem facilitar uma real sintonia econômica com o restante do país. É
certo que cada região reagiu a seu modo particular, como foi o caso do
Triângulo Mineiro.

A questão do transporte regional teve fundamental importância para o


escoamento e circulação da produção.

Guimarães (1990) argumenta que a evolução da rodovia na


Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba tem origem em 1912,
com a Companhia Mineira de Auto Viação Intermunicipal, cujos
responsáveis foram Fernando Vilela e Ignácio Paes Lemes.
39

A construção do primeiro trecho da rodovia ligou Uberlândia a Monte


Alegre de Minas e, depois, a Ituiutaba. Posteriormente, uniu Monte Alegre
a Itumbiara via Ponte Afonso Pena, melhorando o acesso entre o Triângulo
Mineiro e o estado de Goiás. A extensão Uberlândia – Ituiutaba (antiga BR
– 71), conduzindo ao sudoeste Goiano, foi aberta a partir da década de
1960, passando a ser a BR – 365.

Com a construção de Brasília, e até os primeiros anos de 1960, a


ligação de São Paulo e a nova capital Federal, realizava-se, exclusivamente,
através da BR – 153 (antiga BR – 14), distante 48 Km de Ituiutaba, como
nos informa Guimarães (1990). Essa rodovia dividia estrategicamente o
Triângulo Mineiro, sem beneficiar diretamente nenhum município. No
entanto contribuiu parcialmente para a emergência de Ituiutaba, durante a
década de 1950.

A construção dessa rodovia possibilitou o transporte ao estado de São


Paulo e outra opção para escoar produção à Goiás. Convém salientar que,
antes da construção da BR-153, um dos poucos meios de acesso a Goiás era
através de uma estrada municipal ligando Ituiutaba – Ipiaçú, entrando por
Quirinópolis (GO), por volta da década de 1950, segundo dados da
Prefeitura Municipal de Ituiutaba (2001).

1.2.1 – Ferrovia Mogiana – Um sonho quase real

Até meados dos anos de 1960, um grande otimismo dominava o povo


Tijucano, era um momento de reivindicações político-empresarial da época,
que contavam com a construção de boas estradas e, principalmente, com a
chegada da ferrovia, acreditando, com isso, expandir a lavoura e a
industrialização na região e em Goiás.

A ilusão da ferrovia, na verdade, gerou briga de “gente grande”.


Uberaba foi a primeira cidade do Triângulo Mineiro a receber os trilhos da
Mogiana em 1872 (Companhia Mogiana de estradas de Ferro com sede em
40

Campinas/SP) mediante um ramal de ligação. Em 1971 essa ferrovia foi


incorporada à FEPASA – Ferrovia Paulista S.A.

Vinda do estado de São Paulo, o destino era chegar em Goiás,


atravessando o Triângulo Mineiro. Após sua instalação em Uberaba, as
cidades de Uberlândia, Araguari, Ituiutaba e Prata entram em conflito no
objetivo de conquistarem a extensão da estrada de ferro; afinal, sabiam bem
que ela significava o progresso tão almejado.

Todavia, essa conflituosa questão era, em síntese, de natureza


política. Uberaba já liderava na região com uma política coronelista e tinha
poder de decisão nos corredores federais, e, portanto, foram efetivados os
trilhos no município. A partir daquele ponto a questão era tudo ou nada
para Ituiutaba ou Uberlândia, e, sendo assim, era preciso força política para
vencer a “batalha” dos trilhos.

Guimarães (1990) mostra que a Rede Mineira de Viação (RMV) de


Uberaba chegou a projetar um desvio da ferrovia Mogiana ligando Uberaba
a Ituiutaba, passando pelo município do Prata.

Segundo esse autor, essa mudança afetaria os negócios sediados em


Uberlândia, além de desnudar as rivalidades desta com Uberaba. O desvio
era totalmente contra os interesses de Uberlândia, pois poderia fazer
Ituiutaba emergir como um centro polarizador do pontal do Triângulo
Mineiro e do sudoeste Goiano, não apenas interligando São Paulo e Goiás,
como também tornando-se a base de sustentação da fronteira agrícola do
Centro-Oeste.

Como sabemos que decisões dessa natureza demandam poder político,


verificamos que Ituiutaba, apesar de já ser representativa economicamente,
ainda não o era politicamente.

Em documentos elaborados no 1º Congresso das Associações


Comerciais do estado de Minas Gerais, em 1962, constata-se a seguinte
recomendação ao Ministério de Viação de Obras Públicas e ao D.N.E.F.:
41

(...) que levem avante o velho plano de estender os trilhos da


R.M.V de Uberaba à Ituiutaba, que providencie a retificação do
traçado e a modernização da linha da R.M.V. de Divinópolis a
Uberaba e de Ibiá a Ouvidor 1 4 . (GUIMARÃES, 1990, p. 86).

Como se vê, tudo não passou de mera ilusão e euforia para os


Tijucanos, visto que o traçado dos trilhos não foi modificado. Uberlândia
manteve-se como entroncamento obrigatório do movimento rodo-ferroviário
para o Centro-Oeste e a capital Federal, e para o porto de Santos em São
Paulo.

É certo que o transporte rodoviário encarecia os custos de produção e


circulação, mas não foi esse fator, além da ausência da ferrovia, que
impediu a emergência comercial de Ituiutaba.

Guimarães (1990) afirma que durante a década de 1950, esse


município beneficiou-se de duas circunstâncias externas: uma, relacionada
à deterioração de antigas vias de transporte, o que possibilitou uma menor
subordinação da economia local ao mercado uberlandense, e a outra,
relacionada à construção da BR – 153, que garantiu ao comércio
Ituiutabano (regional) uma ligação direta com São Paulo.

A emergência comercial cresceu num ritmo acelerado entre


1950/1960, a ponto de os comércios atacadista e varejista superarem nesse
período, as vendas araguarinas em 12% e 19%, respectivamente.

Percebemos, até esse momento, que os fatores locais, tais como


fertilidade do solo, disponibilidade de terras, presença de rodovias que se
direcionavam para Goiás e São Paulo, incentivaram cada vez mais, a maior
produtividade regional. Essa dinâmica produtiva também atraiu e “exigiu”
fixos que fornecessem maior suporte à atividade rural, de competência de
órgãos externos, tais como o Estado, a União e mesmo de instituição
pública de ensino e pesquisa, o que muito possibilitou a especialização de
cereais e, num segundo momento, da pecuária, na Microrregião de
Ituiutaba.

14
As informações originais foram pesquisadas por Guimarães (1990) In: Congresso das
Associações Comerciais do Estado de Minas Gerais. Correspondência recebida. op. cit,
livro 39, 1962.
42

1.2.2 - A importância do suporte físico à agropecuária


regional/local

A primeira metade da década de 1960 foi um período muito relevante


para o município de Ituiutaba e sua Microrregião. A crise que assolava o
país por falta de alimentos em quantidade suficiente exigia a união dos
governos federal e estadual, em busca de meios que dessem apoio técnico,
material e de capital à atividade agropecuária.

Nesse contexto, Minas Gerais criou seu aparato institucional com a


implantação da Centrais Elétricas de Minas Gerais – CEMIG, Cia. de
armazéns e Silos de Minas Gerais - CASEMG, Cia. Agrícola de Minas
Gerais - CAMIG e outros, de modo que Ituiutaba iria beneficiar-se
diretamente, visto que recebeu escritórios e armazéns dessas instituições.

Em 1962 foi instalada a Camig na Microrregião, dando apoio e


suporte à cultura do algodão, por meio de uma usina de beneficiamento,
posteriormente, em 1966, o Ministério da Agricultura instalou uma usina de
tratamento de sementes desse cultivo.

Mediante a implantação desses suportes físicos, a cotonicultura


ganhou proporção na produção regional, principalmente entre os municípios
de Ituiutaba, Capinópolis, Cachoeira Dourada, Ipiaçú, Canápolis,
Centralina e Tupaciguara e, com isso, beneficiou-se toda a cadeia produtiva
(produtores, trabalhadores, comércio, indústria, serviços, rede urbana),
especialmente após 1970, como pode ser averiguado na tabela 6.

Esse período, em que o algodão esteve em plena euforia (1970), ficou


conhecido como “Ciclo do Ouro Branco” na Microrregião de Ituiutaba.

A indústria local soube aproveitar bem o uso da matéria-prima


incentivando a produção. Em Ituiutaba, Baduy e Cia e a Algodoeira Líder
foram os precursores do ciclo algodoeiro. Produziam pluma, óleo e torta de
algodão, o que contribuía, também, para a sobrevivência dos rebanhos na
43

época da seca, segundo informes da Prefeitura Municipal de Ituiutaba


(2001).

Tabela 6 – Microrregião de Ituiutaba/MG: produção de algodão nas décadas de 1960 e


1970 (toneladas).

Décadas
Municípios
1960 (ton.) 1970 (ton.)

Cachoeira Dourada - 117

Capinópolis 506 1318

Gurinhatã - 192

Ipiaçú - 626

Ituiutaba 529 1768

Santa Vitória 6 72

Fonte : INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E


ESTATÍSTICA. Censo Agrícola de Minas Gerais . Rio de Janeiro:
IBGE, 1960. Org.: OLIVEIRA, B. S., Ago./2002.

Em 1964 foi a vez da implantação da Associação de Crédito e


Assistência Rural (ACAR), em Ituiutaba, transformada, posteriormente, na
Empresa de Assistência Técnica e Extensão rural (EMATER) mediante a
Lei 6704/1975, a qual ampliou o quadro de assistência técnica aos
produtores. Ainda nesse período, o município de Capinópolis recebeu a
Agroceres, e, com isso, a cultura do milho se intensificou na região.

Nas “entrelinhas” 1 5 do milho, plantavam-se feijão e algodão, e, junto


aos arrozais, plantava-se também gergelim, diversificando a produção
regional.

Outro importante suporte à agricultura foi o Centro de


Experimentação, Pesquisa e Extensão do Triângulo Mineiro (CEPET),
implantado em Capinópolis em 1965. Este centro, ligado à Universidade
15
“Entrelinha” é o espaço vago entre as fileiras de plantação.
44

Federal de Viçosa, teve grande contribuição para o incremento da soja na


região, além da divulgação de tecnologias nas áreas de milho, algodão,
pastagens, piscicultura, análise de solo e pecuária.

Até o fim de 1960, o arroz e o milho eram as culturas predominantes


em toda a Mesorregião, a soja só ganhou repercussão regional, em décadas
posteriores. Todavia, essa leguminosa não se tornou destaque na
Microrregião de Ituiutaba, como foi para outras áreas do Triângulo Mineiro
no pós-1970.

O CEPET fez vários experimentos com soja na Microrregião,


elaborando espécies de qualidades superiores, mas não foi motivo
suficiente para os agropecuaristas locais investirem em alta escala nessa
produção durante a década de 1960 e posteriormente.

Segundo informações no Sindicato Rural, esse cultivo não teve


impulso em Ituiutaba na década de 1960, porque o Brasil ainda não tinha
nessa leguminosa, sua principal produção. Quando seu cultivo ganhou
espaço na Mesorregião do Triângulo Mineiro, após 1970, os produtores
esbarram na incerteza de um “plantio novo”, nos custos para preparar o
solo, diante do esgotamento que esse já apresentava com o arroz, e, com
isso, a atividade da pecuária passou a ganhar proporção.

Como vemos, a atividade arrozeira na Microrregião teve como


respaldo um período dinâmico em todo o território nacional, favorecendo
sua produtividade.

A fase do Milagre Brasileiro (1968-1973) em muito beneficiou a


Microrregião de Ituiutaba, foi um período em que o Governo Federal
voltou-se para o consumo interno, concedendo empréstimos (EGF),
relativamente altos, para o plantio de arroz e milho, em que o reflexo era
sentido na produtividade.

Na tabela 7, podemos observar a produção realizada a partir do EGF


em toda a nação, e, com isso, evidenciar o período em que a “cultura de
pobre” – arroz e milho – foi largamente produzida no país. Uma ruptura
45

aparece no ano de 1974, quando grande parte do EGF passou a ser


direcionada para o plantio de soja.

Com a crise de 1973, o país enveredou para o plantio em alta escala


voltado para exportação e para a industrialização, como um meio de
emergir da crise interna.

Tabela 7 – Brasil: empréstimos do Governo Federal concedido entre 1968 – 1975 (1000
toneladas).
16
Anos Soja (t) Milho (t) Arroz (t) Outros (t) Total (t)

1968 87,80 273,10 369,50 230,20 960,60

1969 120,60 132,60 494,90 260,20 1.008,30

1970 173,90 372,50 639,50 163,40 1.349,30

1971 400,10 176,20 422,90 222,00 1.221,20

1972 636,60 248,80 646,60 219,30 1.751,30

1973 4,80 404,70 794,90 211,10 1.415,50

1974 1.488,20 787,30 603,70 331,10 3.210,30

F onte : COELHO, C. N. 70 anos de política agrícola no Brasil (1931-2001).


Revista Política Agrícola. Brasília, Ministério da agricultura, Pecuária e
Abastecimento, Secretaria de Política Agrícola, p. 26, jul./set. 2001.
E dição especial. Org. : OLIVEIRA, B. S., 2002.

A partir desse período (1974), a soja tornou-se o cultivo mais


relevante, passando a liderar a demanda por EGF, tornando-se o grão mais
cultivado no Triângulo Mineiro, junto com o café.

O Milagre Mineiro, ocorrido posteriormente, também beneficiou a


agropecuária do estado, ainda que numa outra ótica. A partir de 1970, os
investimentos ocorridos no período do governador Israel Pinheiro (1966-
70), somados aos novos, trazidos por Rondon Pacheco (1971-75), levaram

16
1968 – 1974: foi um período em que o crédito e a quantidade estocada de arroz
ultrapassaram a de outros produtos. Após 1974, o crédito e a quantidade estocada de
soja ultrapassaram a de arroz.
46

Minas Gerais a um processo produtivo acelerado do campo e da indústria,


em que um estava ligado ao outro, ou seja, o governo investiu nas
agroindústrias por meio do incentivo, em alta escala, de produtos, tais
como soja, café e cana-de-açúcar.

Isso ocorreu em função do comportamento integrado do governo do


estado ao federal, com isso, grandes projetos voltados à agropecuária se
materializaram em Minas Gerais, principalmente no Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba, e, com isso, a produção voltada para a mesa (arroz, feijão,
milho), passou a ganhar menos incentivos.

Enquanto esse período de arrefecimento do arroz não chegou à


Microrregião de Ituiutaba, o campo continuou produzindo e consumindo
mão-de-obra sem especialização, apresentado-se como mais um fator às
transformações urbanas, as quais veremos a seguir.
47

CAPÍTULO 2

2 - “A CAPITAL DO ARROZ”: Transformações sócio-


econômico-espaciais em Ituiutaba entre as décadas de 1950 a
1960

O panorama político econômico, apresentado anteriormente,


evidencia um país em transição, cuja base econômica, voltada para o setor
primário, foi reestruturada, em função de um novo setor, agora voltado para
a indústria de base e a exportação em alta escala de grãos.
48

A transferência de capital Federal para o Centro-Oeste, a criação e a


ampliação de infra-estrutura rodo-ferroviária no interior do país, a
ampliação do comércio interno e o investimento em bens de produção foram
algumas das ações que contribuíram decididamente para instalar e
modernizar os setores agro-industriais no país.

Minas Gerais aproveitou-se desse período de euforia e buscou


caminhar no sentido de não ficar à margem do processo de industrialização,
e o fez bem, durante o período do “Milagre Mineiro”.

Os investimentos direcionados para Minas Gerais, durante a gestão


do governador Rondon Pacheco, viriam contribuir e modificar a base
econômica, suas relações (elos comerciais) e todo o espaço rural/urbano.

Em escala local, essa euforia econômica já se materializava desde os


anos de 1950, na Microrregião de Ituiutaba. Foram produzidas grandes
safras regionais de arroz e milho durante as décadas de 1950/60 (tabela 5) e
o capital gerado foi base para uma reestruturação tanto rural como urbana,
nunca registrada anteriormente e mesmo na década de 1970, quando essa
cultura perdeu espaço para a pecuária.

Os abalos de crise e a euforia econômica do país em 1960 pouco


afetaram a dinâmica local. Somente a partir de 1970, a economia arrozeira
arrefeceu-se. No início dessa década, Minas Gerais vivia seu auge
econômico, ao contrário dessa Microrregião que via sua estimada produção
de grãos perder espaço e mercado para a pecuária e para outro grão, de
expressivo valor econômico: a soja.

As decisões federais, a partir da década de 1970, repercutiriam


diretamente em MG e, particularmente no Triângulo Mineiro. A
concretização de projetos estabelecidos no II PND como o POLOCENTRO,
dinamizou as dificuldades de pastagens e produção de soja para a
exportação, nos cerrados mineiros.

Também fatores, tais como clima e esgotamento de solos, questões


jurídicas e de mercados, afetariam a prosperidade econômica da
Microrregião de Ituiutaba, que serão mais bem exploradas no próximo
49

capítulo. Interessa-nos mostrar, a seguir, como ocorreu a dinâmica


econômica dessa Microrregião e quais as mudanças que se sucederam no
setor rural e urbano nos aspectos social, econômico, espacial e cultural.

2.1 - Ituiutaba/MG: “o mapa da mina” no cerrado Mineiro

Compreender as transformações que Ituiutaba viveu após os anos de


1950, sem abordar seus precedentes históricos, sociais e seus agentes
responsáveis, seria deixar uma lacuna para a compreensão crítica dos
processos que modificaram o espaço geográfico e a ele impuseram novos
valores.

Entretanto, não temos a intenção de reescrever, neste trabalho, a


história de Ituiutaba com maiores detalhes, pois já existem obras dedicadas
a esse assunto 1 7 .

Conta a história que Joaquim Antônio de Morais e José da Silva


Ramos foram os primeiros entrantes na região, quando adquiriram
sesmarias na segunda metade do século XVIII e meados do século XIX.
Ambos foram os doadores das terras nas quais foi erguida a primeira capela
do município, em 1832, sob responsabilidade do Padre Antônio Dias
Gouveia. Nascia ali, às margens do “Córrego Sujo”, o Arraial de São José
do Tijuco, uma homenagem a São José e ao rio Tijuco 1 8 , afluente do rio
Paranaíba, que cortava aquelas terras.

Este rio de águas caudalosas (figura 2) passou a tornar-se um


referencial para os moradores de Ituiutaba. A importância ao rio foi
representada até mesmo no hino da cidade, como mostram as estrofes a
seguir:

17
Sobre a história de Ituiutaba, consultar: 1- IBGE, Enciclopédia dos Municípios. Rio
de Janeiro, IBGE, 1959. 2- PREFEITURA MUNICIPAL DE ITUIUTABA. O
Centenário. Fundação Cultural de Ituiutaba: Ituiutaba, 2001. 126p. (Revista especial
de aniversário).
18
O nome Tijuco também é encontrado como “Tejuco” em algumas referências
50

(...) neste canto da terra mineira, brasileiros nascemos um dia,


São José do Tijuco fagueira, nossa terra feraz assim dizia

(...) a caldal que te banha, volumosa, do Rio Tijuco, constante,


seguro, simboliza a incessante e corajosa, ação do povo em
razão do futuro.

Figura 2 – Ituiutaba/MG: Vista parcial do Rio Tijuco, 2002.

Autor : OLIVEIRA, B. S., Jul./2002.

Em 1839, foi criada a “Paróquia São José do Tijuco” pela Lei n o 138,
tornando-se distrito. No núcleo urbano, moradias iam sendo construídas ao
redor da capela. Após o desmembramento da Paróquia São José do Tijuco
da Nossa Sra. do Carmo do Prata em 1866, foi criada a Freguesia de São
José do Tijuco. Somente em 1901, pela Lei no 319, ocorreu a
municipalização, cujo nome foi Vila Platina. Nesse tempo, o núcleo urbano
já tomava formas de vilarejo.

O primeiro a contribuir para um ordenamento urbano, ainda que


modesto, foi o Padre Ângelo Tardio Bruno, em 1883, tendo a colaboração
51

de João Gomes Pinheiro; ambos elaboraram o traçado das ruas do que seria
a futura cidade de Ituiutaba, auxiliaram na construção das primeiras
19
edificações, pontes e plantações .

Em 1902, a Vila Platina tinha em seu núcleo algumas ruas que


permaneceram no seu traçado posterior: no centro, o Largo da Igreja, uma
Rua do comércio (atual Rua 18), Rua “Capim”, nome característico por
apresentar algumas choças de capim (atual Rua 20); Rua do “Cotovelo”;
Rua do “Brejo” (atual 16 entre 9 e 13) e um rego d’água; além disso, havia,
em seus arrabaldes, diversas chácaras que posteriormente se integrariam à
cidade 2 0 .

Segundo dados do SEBRAE-MG (1995, p. 24), o largo da Matriz


apresentava-se bem maior que as atuais praças Córrego Ângelo e Prefeitura
e no “perímetro limitado pelas atuais av. 11, rua 20, rua 24, até encontrar-
se com a av. 7, no alinhamento da atual rua 20, no largo encontravam-se
apenas três moradias”.

A denominação não tardou a alterar-se novamente. Em 1915, o então


governador Delfim Moreira concordou em mudar o nome da Vila Platina
para “Ituiutaba”, oficializado somente em 1917. O significado, de origem
indígena, é “Povoação do Rio Tijuco” 2 1 .

A figura 3 evidencia o espaço do vilarejo nos primeiros anos do


século XX, vemos que seus traçados pouco se alteraram no decurso do
tempo; substituíram os nomes das ruas e a extensão da cidade, mas o núcleo
originário permaneceu como área central.

Desde seus primórdios, Ituiutaba tem localização considerada como


um privilégio, pelo menos do ponto de vista do setor agropecuário, ficando
situada na porção mais sudoeste do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, entre
os rios Paranaíba (divisa do estado de Goiás) e Grande (divisa do estado de
São Paulo), como se vê na figura 4.

19
Informações obtidas na Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de
Ituiutaba, 2002.
20
Informações obtidas no SEBRAE-MG. Sistema de Informações mercadológicas
municipais . Ituiutaba, diagnóstico municipal. Belo Horizonte: SEGRAC, 1995.
21
I : Rio; Tuiu : Tijuco; Taba : Povoação.
52

Suas terras já foram denominadas de “Mesopotâmia brasileira”, “Vale


da fartura” por poetas e políticos da região, devido à grande quantidade de
terras férteis próximas a esses rios, mas que, durante décadas, estiveram
entregues às atividades de agricultura e pecuária de subsistência local.

Os chapadões que se estendem nessa região, fizeram brotar uma


vegetação do tipo cerrado, que foi dando lugar após 1940, a um plantio
mais intenso da cultura do arroz de sequeiro, milho e feijão.

Até meados de 1940, o cultivo do arroz era usado apenas para


subsistência. Contudo, já em 1938, antevendo o sucesso desse cultivo na
região, o Sr. Antônio Baduy montou a primeira máquina de beneficiar arroz
em Ituiutaba, ainda que a lavoura não fosse suficiente para abastecer a
indústria. Segundo informações da Prefeitura Municipal de Ituiutaba
(2001), o Sr. Baduy distribuía aos fazendeiros locais sementes selecionadas
para estimular a produção de uma qualidade melhor de arroz, dos tipos
Amarelão e Pratão.

O recenseamento de 1940 evidencia uma população


predominantemente rural. Nesse período, a população total era de 35.052
habitantes, a maioria distribuída no setor rural (33.513 pessoas) e apenas
1.536 habitantes no setor urbano (IBGE Ituiutaba, 2002). A cidade já estava
distribuída e apresentava formas geométricas com suas ruas e avenidas
principais definidas, como observamos na figura 5.
53
54

Figura 4 – Mesorregião Geográfica Triângulo Mineiro/Alto


Paranaíba – MG: Microrregião de Ituiutaba - 2002
55
56

O grau de urbanização era irrelevante, concentrando apenas 4,3% da


população. Esse contexto refletia o paradoxo nacional, que ainda se
mantinha agrícola, com taxa de urbanização de 44, 7% em 1960.
(BRANDÃO, 1989).

Nessa década, o comércio e a indústria não possuíam


representatividade na economia, e a atividade que já predominava (e
continuou nas décadas posteriores) era a agricultura e a pecuária, como
observamos na tabela 8.

Tabela 8 – Ituiutaba/MG: dados sócio-econômicos, 1940.

Indústria Comércio Agropecuária

No. Pessoal Varejo Atacado Rebanho Produção (ton.)

estab. ocupado n o . estab. n o . estab. Bovino Arroz feijão milho

28 142 85 98 202.038 2.304 702 18.005


Fonte : BRANDÃO, C. A. Triângulo capital comercial, geopolítica e
agroindústria . 1989. 183 f. Dissertação (Mestrado em Economia) – Centro de
Desenvolvimento e Planejamento Regional, Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte. 1989. f. 47. Org. : OLIVEIRA, B. S., Ago./2002.

De acordo com Silva (1997, p. 07), a atividade da pecuária não exigia


muitos trabalhadores, além do que a região não dispunha de braços
suficientes para a lavoura. “A mecanização era ainda uma realidade distante
para a região, afastada dos grandes centros urbanos não somente pela
distância, mas também pela falta de estradas, rodovias e ferrovias”.

Aos poucos, essa realidade foi alterada mediante uma onda


migratória, atraída pelo garimpo no rio Tijuco nas décadas de 1930/40. Sua
decadência não tardou, mas parte desses aventureiros, muitos de origem
nordestina, ficaram em Ituiutaba e tornaram-se elos em um novo fluxo
migratório de trabalhadores nordestinos em busca de ocupação no campo,
durante o auge da produção de arroz nos anos de 1950/60.
57

Em 1950, Ituiutaba apresentava uma área total de 6.080 Km 2 , maior


que a dos anos de 1990, visto que abrangia os então distritos de
Capinópolis, Cachoeira Dourada, Ipiaçú e Gurinhatã.

Segundo Silva (1997), com a emancipação de Capinópolis, em 1953,


tendo como distrito Cachoeira Dourada, a superfície de Ituiutaba reduziu-se
para 5.175 km 2 . Posteriormente, em 1962, ocorreu a emancipação de
Gurinhatã e Ipiaçú, diminuindo a área para os atuais 2.694 km 2 . Com essa
redução de território, especialmente na década de 1960, o município de
Ituiutaba também perdeu população e produção, como será tratado mais
adiante.

Antes de o arroz tornar-se a atividade mais expressiva da


Microrregião de Ituiutaba, a pecuária ocupava uma posição de destaque
entre os agropecuaristas. Na década de 1940, com a formação de invernadas
artificiais e a instalação de um matadouro industrial, os fazendeiros
passaram à recria e à engorda, transformando a região num grande centro
recriador, como nos informa Silva (1997). Nesse período, a plantação
atendia apenas à mesa e às necessidades da pecuária (bovina e suína).

Com o passar do tempo, o mercado de grãos tornou-se promissor e o


cultivo do arroz e do milho ganhou novos adeptos. Na passagem dos anos
de 1940 para 1950, muitas fazendas da região já adotavam a agricultura
como atividade principal. Os migrantes tiveram grande atuação nesse
período e contribuíram para significativas mudanças no contexto rural e
urbano de Ituiutaba, como veremos a seguir.

2.2 – A onda migratória nordestina e seu reflexo sócio-espacial


no setor urbano

Como vimos anteriormente, a cultura do arroz, cuja abundância


predominou na Microrregião de Ituiutaba, é uma cultura que tem se
58

deslocado geograficamente, servindo como abertura de fronteira agrícola ao


longo de décadas.

A intensificação desse cultivo na região não foi planejada, pois já


havia a tradição do plantio como meio de subsistência. O mesmo aconteceu
com a pecuária, que também era largamente usada de forma extensiva.

Com o desenvolvimento da economia cafeeira assalariada paulista e


com a expansão ferroviária, o Triângulo Mineiro ganhou uma nova
geografia econômica. Segundo Guimarães (1990, p. 24), “estes novos
elementos viriam a reorientar os fluxos econômicos e migratórios,
estabelecendo as bases de uma nova estrutura produtiva, definitivamente
voltada para o mercado”.

Nesse contexto, o arroz ganhava uma dinâmica singular, pois os


fatores locais, no caso da Microrregião de Ituiutaba, somar-se-iam a fatores
macroeconômicos de ordem política/econômica (crédito/infra-estrutura
rodo-ferroviária) e contribuiriam para uma mudança no campo e no setor
urbano num período relativamente curto, ou seja, duas décadas, abrangendo
o início de 1950 até o fim da década de 1960.

Durante essa fase, a população do município, que era de 35.052


habitantes em 1940, aumentou para 53.240 habitantes em 1950, gerando
uma taxa de crescimento populacional de 51 %.

Em 1960, a população total passou para 68.218 habitantes; a taxa de


crescimento de 1950/1960 diminuiu em relação ao período anterior,
tornando-se negativa entre 1960/70 (figura 6).

Isto ocorreu devido à emancipação dos distritos de Ituiutaba, gerando


conseqüente perda populacional. Após 1970, a população volta a crescer
novamente, ainda que em taxas menores.

O fluxo populacional que se observou entre 1940/60, estava


interligado ao setor rural. De acordo com Silva (1997), os fazendeiros,
incentivados pelos bons resultados das safras, na década de 1950, abriam
novas invernadas, desmatavam, arrendavam e davam a meia 2 2 , aumentando
22
O termo “dar a meia”, trata do acordo entre fazendeiro e meeiro: a produção final era
dividida em 50 % entre ambas partes.
59

cada vez mais a necessidade de mão-de-obra. E com isso, havia maior


estímulo para buscá-la fora da Microrregião de Ituiutaba, principalmente
em outros estados.

Esse fator atraiu fluxo populacional distante. Conforme estudo de


Silva (1997), houve uma onda migratória de trabalhadores nordestinos, em
busca de emprego no campo.

Figura 6
Fonte : IBGE Ituiutaba, 2002. Org. : OLIVEIRA, B. S., Ago./2002.

Contudo, isso se verificou após uma onda migratória das décadas de


1930/1940, atraída pelo garimpo no rio Tijuco, o que gerou intensa taxa de
crescimento como evidencia a figura 6.

Nesse tempo, vieram pessoas de vários lugares do país, inclusive do


Nordeste. Passada a “febre”, muitos seguiram novo rumo e outros
permaneceram na região, trabalhando nas lavouras. Este fator foi um dos
pontos de ligação para a vinda de trabalhadores nordestinos.

A partir de 1950, surgiu a figura do “agenciador de mão-de-obra”,


que era o intermediário entre os fazendeiros e os trabalhadores rurais. Eram
os proprietários de caminhões, muitas vezes, precários, conhecidos como
“pau-de-arara”, que servia de transporte para os trabalhadores deslocarem-
se de sua terra natal para o Triângulo Mineiro.
Silva (1997) relata-nos que esses agenciadores sempre agiam nas suas
cidades natais, havendo, por isso, um fluxo predominante dos estados do
Rio Grande do Norte e da Paraíba. A ação desses “paus-de-arara” ocorreu
até o fim da década de 1960, e só cessou em razão da intensidade das
denúncias que viam tal situação como “tráfico de nordestinos”.

Em entrevista com o Sr. Manoel Junqueira Vilela, ele nos explicou


que a expressão usada entre os fazendeiros, “comprar um nordestino”,
inicialmente, era usada num sentido humorístico, mas que posteriormente
foi ganhando um sentido pejorativo, a ponto da autora Rachel de Queirós
publicar, na Revista “O Cruzeiro”, famosa na época, uma denuncia sobre a
ocorrência de escravidão de trabalhadores nordestinos em Ituiutaba.

Esse fato levou a justiça a colocar em prática uma ação intensiva de


policiamento e repressão, impedindo a chegada dos caminhões no
município.

Durante a década de 1950, esse fluxo populacional foi bem visto e


aceito pelos moradores de Ituiutaba, pois significava trabalho e capital
investidos no comércio e na cidade. O ponto de referência de chegada dos
nordestinos era a cidade de Ituiutaba, de lá, iam para outros municípios
vizinhos e até mesmo para o sudoeste Goiano, que também já praticava a
cultura do arroz.

Chegavam a Ituiutaba levas de famílias e de homens solteiros em


busca de trabalho. Sr. Manoel Junqueira Vilela 2 3 esclarece bem as situações
dos que se aportavam na cidade.

(...) eles vinham sem condição nenhuma de dinheiro e depois


iam trabalhar; os fazendeiros levavam eles para as fazendas lá,
e eles iam trabalhar nas terras, terras férteis, nas matas, nas
derrubadas das matas do Paranaíba; (...) era um tempo que não
usava adubo ...( I nformação verbal)

23
Entrevista concedida pelo Sr. secretário da Secretaria Municipal de Abastecimento de
Ituiutaba, em ago. de 2002.
Esses migrantes vinham iludidos, acreditando ser Ituiutaba “um
grande Eldorado”, um lugar pródigo de delícias e riquezas, a terra de
oportunidades onde existia trabalho para todos. (SILVA, 1997).

Houve muitos meios de comunicação que anunciaram a emergente


“Capital do Arroz”; Silva (1997) expõe que, em 1951, quando Ituiutaba
completou 50 anos, uma série de reportagens ufanistas foi publicada sobre a
cidade, em jornais de diversos lugares 2 4 e revista de edição especial como a
Acaiaca, o que contribuiu para uma imagem positiva do município,
colaborando para atrair empresários e trabalhadores.

Mas a divulgação da cidade não ficou apenas nas fontes escritas; os


agenciadores de mão-de-obra bem como os trabalhadores que já estavam em
Ituiutaba divulgavam-na “boca-a-boca” para seus familiares e conhecidos
da terra natal.

A notícia espalhou-se com tanta veemência que até rádios locais da


Paraíba e do Rio Grande do Norte fizeram propaganda de Ituiutaba, como
nos informa Silva (1997).

Com o passar do tempo, essa divulgação foi tornando-se distorcida e,


por isso, mexendo com o imaginário daqueles sedentos por uma vida
melhor, pois anunciava-se que seria oferecido salário de cinco cruzeiros
novos por dia, comida com carne todos os dias, mais participação na
colheita para trabalhadores que fossem para as fazendas do Sul de Minas e
São Paulo segundo informações de Silva (1997).

Diante disso, chegavam caminhões pau-de-arara lotados de famílias e


homens em busca de trabalho. Vinham na dependência do que chamavam de
“frete a pagar”, ou seja, ficavam devendo ao agenciador, bem como à
pensão que os alojava. Depois de contratados, os fazendeiros pagavam suas
despesas de viagem e as diárias na pensão.

Segundo nos informa Sr. Manoel Junqueira Vilela, o regime de


exploração da terra era quase sempre parceria agrícola, pela meação, ou
seja, o fazendeiro entrava com a terra preparada, arada, gradeada e com as
24
Inclusive em jornal de grande circulação como a Folha da Manhã de São Paulo, em
1952.
62

sementes, e as famílias com a força de trabalho, fazendo os cultivos,


capinas, colheita e, no final, entregavam a metade da produção ao
fazendeiro.

Na verdade, uma denominação imprópria, pois o que ocorria, segundo


Sr. Manuel Junqueira Vilela, era o seguinte: muitos meeiros melhoravam de
situação e chegavam a comprar máquinas agrícolas, tratores, por exemplo,
e, com isso, eles passavam a ser parceiros, pois pagavam menos para o
fazendeiro, ou seja, deixavam de pagar 50% como os demais meeiros, para
pagar 30% da colheita, que era o que predominava na época.

Assim, eles eram “parceiros de arrendamento” com pagamento em


dinheiro ou em produção, e não arrendatários ou meeiros, como eram
comumente conhecidos.

Era preciso muito trabalho e vontade de ficar, afinal, a chegada nem


sempre era a esperada, visto que as propostas de pagamento e a realidade
do emprego, nem sempre condiziam com o que tinha sido divulgado pelo
agenciador ou pelas rádios. Por isso, nem todos ficavam. O dinheiro ganho
na lavoura, era gasto no retorno para sua terra natal. Mas grande parte
fixava-se, instituía famílias, propriedades e relações com a terra e com o
povo local.

Além dos meeiros, ocorriam também parcerias agrícolas e


arrendamentos, uma característica marcante nas décadas posteriores. De
acordo com a Prefeitura Municipal de Ituiutaba (2001, p. 89), o Banco do
Brasil oferecia crédito farto nesse período a juros baixos, o que facilitava a
aquisição do capital e o novo emprego nas terras da região; “foi uma época
de ouro em Ituiutaba: havia dinheiro para todos os fazendeiros,
arrendatários, meeiros, comerciantes, escritórios, bancos, cartórios e
advogados”.

2.3 - As transformações na área urbana de Ituiutaba


63

Em meados dos anos de 1950, o núcleo urbano de Ituiutaba não


representava mais que uma pequena vila, de “ruas poeirentas”, como
descreve Silva (1997).

A prosperidade vivida durante os anos do auge das lavouras de arroz,


milho e algodão e a chegada do fluxo de trabalhadores, fizeram com que a
cidade ganhasse dinâmica. O comércio concentrava-se durante esse período
entre as ruas 20 e 22, as quais permaneceriam como principais vias nas
décadas futuras.

O movimento dessas ruas passou a ganhar expressão nos sábados.


Nestes dias, as fazendas foram criando o costume da “feira”, e, com isso, os
trabalhadores iam para a cidade em caminhões, carroças e até a cavalo, a
fim de fazerem suas compras.

Segundo Silva (1997), o comércio local foi bastante beneficiado pela


presença de nordestinos, no entanto, isto não foi suficiente para criar um
maior contato entre eles e os mineiros locais.

Por mais que esses trabalhadores fossem aceitos, pois representavam


emprego e capital, ao mesmo tempo, havia uma parcela de moradores que
não enxergava neles essa imagem, mas, sim, pessoas estranhas, de hábitos e
culturas diferentes.

Uma visão que, com o passar das décadas, foi dissolvendo-se no


cotidiano e no melhor conhecimento desse povo, que passou a encontrar nas
terras e na gente mineira sua casa e sua família.

A figura do nordestino foi tão intensa na cidade a ponto de


materializar-se no espaço urbano da cidade. As pensões que os recebiam e
as ruas comerciais, adquiriram expressões de referência e territorialidade.

Uma das pensões de grande movimento desse período, conhecida


como espaço do nordestino, foi a Pensão São Pedro (figura 7), situada na
rua 26.
64

O comércio voltado para os consumidores nordestinos também


ganhava expressão na rua 36 no bairro Progresso, especializando-se em
bares e armazéns, que revendiam produtos típicos, tais como rapadura, jabá,
farinha e fumo de corda, como descreve Silva (1997). Posteriormente, esse
bairro tornou-se um lócus de moradores nordestinos.

O capital investido no campo teve retorno na cidade de modo gradual:


cresceu o número de habitantes, residências, casas de comércio, serviços e
indústrias ligadas à atividade agrícola, sobretudo, a quantidade de máquinas
de beneficiamento do arroz.

A implantação de infra-estruturas, tais como o calçamento das ruas,


água encanada e luz elétrica, aos poucos, realizou-se substituindo as águas
de cores barrentas e a luz das ruas, cuja claridade era comparada à luz de
lamparina.

Figura 7 – Ituiutaba/MG: Pensão São Pedro, 2002.

Autor : OLIVEIRA, B. S., Jul./2002.


65

O lazer ganhou espaço mediante a instalação de cinemas que


alegraram a população; destacaram-se, nesse período, o “Cine Ituiutaba” e
o “Cine Capitólio”, situados nas ruas 22 e 20 respectivamente, abertos até a
década de 1980.

O transporte terrestre só melhorou a partir de 1966, com a construção


da BR – 365. Até então, a circulação era feita principalmente por
jardineiras e caminhões pelas estradas de chão. As jardineiras foram os
principais meios de transporte coletivo na cidade, conduziam pessoas,
malas e até animais de criação.

Os caminhões (figura 8) também foram grandes atuantes durante o


ciclo do arroz, traduzidos como agentes que movimentavam a produção e o
capital na cidade.

Silva (1997) busca, em suas lembranças, o período das grandes safras


de arroz;

(...) as ruas eram tomadas por filas quilométricas de caminhões,


que esperavam para descarregar. Muitas vezes, as sacas de arroz
eram empilhadas na calçada por falta do espaço nos armazéns e
logo outros caminhões eram carregados para ir em busca dos
trilhos da estrada de ferro e do mercado externo. (p. 128).

Uma fase que ficou marcada na cidade, observada na estruturação


espacial e na sua funcionalização, ligada principalmente ao fluxo de
imigrantes, que não se direcionou apenas para o setor rural, pois uma parte
fixou-se na cidade de Ituiutaba contribuindo para o processo produtivo
local.

Para se ter uma idéia, entre 1950 a 1960, Ituiutaba era a cidade do
Triângulo Mineiro que apresentava maior taxa de crescimento da população
urbana (14,02%), segundo informação de Freitas (1985).

Os setores de transformação, comércio e serviços, foram as


atividades que mais cresceram e solicitaram mão-de-obra na cidade, como
podemos verificar na tabela 9, referentes à década de 1950.
66
67

Tabela 9 – Ituiutaba/MG: ramos de atividade econômica e número de


trabalhadores, durante a década de 1950.

Total

Ramos de Atividade Homens Mulheres No % Sobre o


Absoluto Total

Agricultura/ pecuária e 13.016 141 13.157 37,26


silvicultura
Indústria de transformação 922 21 943 2,67
Comércio de mercadorias 503 28 531 1,50
Prestação de serviços 516 802 1.318 3,73
Transporte/ comunicação e 333 4 337 0,95
armazenagem
Indústria extrativa 26 - 26 0,07
Comércio de imóveis e 69 2 71 0,20
valores imobiliários
Profissionais liberais 72 5 77 0,21
Atividades sociais 77 93 170 0,48
Administração pública/ 43 8 51 0,14
legislação e jurista
Defesa Nacional e 16 - 16 0,04
Segurança Pública
Atividade doméstica não 1.365 15.021 16.386 46,46
remunerada e atividades
escolares discentes
Condição inativa 1.398 825 2.223 6,29
Total 18.356 16.950 35.306 100

Fonte : INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Enciclopédia


dos Municípios . Rio de Janeiro: IBGE, 1959. CD ROM. Org. : OLIVEIRA, B. S., 2002.

Considerando o contingente dos que exerciam atividades econômicas


ativas (excluindo os habitantes em condições inativas e aqueles que
desempenhavam atividades domésticas não remuneradas e atividades
discentes), pode-se estimar que somente as atividades de agricultura,
pecuária e silvicultura representavam 79% da mão-de-obra no município de
68

Ituiutaba, restando apenas 21% em atividades voltadas exclusivamente para


o setor urbano.

Chama-nos a atenção a atividade de transformação, a alta


produtividade do arroz e do milho na Microrregião que gerou também mão-
de-obra no âmbito da cidade. As beneficiadoras desses grãos (figura 9 e 10)
tiveram um crescimento compulsivo.

Segundo dados da Revista Acaiaca (1953), em apenas três anos,


foram abertas quase 40 máquinas de arroz (1950-53), chegando a 136
máquinas beneficiadoras no município durante o auge da agricultura 2 5 .

Figura 9 - Ituiutaba/MG: Avenida 17, concentração de galpões utilizados


para o armazenamento do arroz nas décadas de 1950/60, 2002.

Autor : OLIVEIRA, B. S., Jul./2002.

25
PREFEITURA MUNICIPAL DE ITUIUTABA. (Org.). O centenário . Ituiutaba:
Gráfica Ituiutaba, 2001. 126 p. Edição especial - ao qual não informa a data exata.
69

Concentravam-se espacialmente nas ruas 17 e 26 e caracterizavam-se


pelo intenso fluxo de caminhões e trabalhadores circulando, carregando
sobre suas costas, pesadas sacas de grãos.

Além dos cereais, o leite também segurava uma fatia do mercado para
si. Pode-se dizer que havia uma “simbiose” entre a agricultura e a pecuária
nesse período.

As indústrias correspondiam a um reduzido número, mas exerciam


variadas atividades, ligadas ao laticínio, óleo, carnes e curtume,
representando grande importância para o desenvolvimento econômico da
cidade. Por ser a população urbana diminuta, em relação ao setor rural, nas
décadas de 1950 e 1960, o comércio de leite também o era.

Figura 10 – Ituiutaba/MG: vista parcial de antigas beneficiadoras de arroz,


situadas no centro da cidade, 2002.

Autor : OLIVEIRA, B. S., Jul./2002.


70

Uma pequena parte do leite produzido na região era vendido “in


natura” pela cidade, a outra maior parte era desnatada, destinando o creme
para as indústrias de manteiga de Ituiutaba, tais como a “Fazendeira”
(figura 11), de Antônio Baduy, e a “Invernada”, de Farjala Miguel Jacob, e
o soro era aproveitado na alimentação de porcos na roça 2 6 .

Nesse processo de transferência do leite para o setor urbano, havia a


figura dos “caminhões cremeiros”, que tinham um importante papel social
no meio rural.

Foram, durante muitos anos, o elo entre o campo e a cidade,


transportando pessoas, mercadorias e sal para o gado.

Figura 11 – Ituiutaba/MG: vista parcial da indústria “Fazendeira”, situada


na rua 26, 2002.

Autor : OLIVEIRA, B. S., Jul./2002.

2.4 - A estruturação espacial de Ituiutaba


26
A denominação roça tem a mesm a conotação de zona rural.
71

A Igreja Católica caracterizou-se como o primeiro agente imobiliário


em Ituiutaba. Até 1911, possuía uma vasta área urbana, de localidade
central na cidade. Após essa data, a prefeitura adquiriu a área para
promover sua ocupação, criando os bairros: Cidade, Setor Norte, Setor Sul,
Progresso, Natal, Ipiranga e Universitário após 1950.

O comércio imobiliário, na década de 1950, representava 0,20% da


atividade local. Uma amostra da evolução urbana que despontava em
Ituiutaba, ainda que seu grau de urbanização tivesse pequena representação,
em torno de 12,5% e 19,0% em 1950 e 1960 respectivamente. A grande
maioria da população do município de Ituiutaba concentrava-se no setor
rural, como averiguamos na tabela 10.

Tabela 10 – Ituiutaba/MG: população urbana e rural e grau de urbanização durante


as décadas de 1950 e 1960.

Grau de Grau de
Décadas 1950 urbanização 1960 urbanização
(%) (%)
Total 53.240 68.218
População
10.113 30.698
urbana 12,5 19,0
População
43.127 37.520
rural

F onte : IBGE Ituiutaba, 2002. Org. : OLIVEIRA, B. S., Ago./2002.

Nesse período, o setor imobiliário mostrava-se dinâmico na cidade.


Havia imobiliárias atuando como agentes do crescimento urbano local. A
“Imobiliária Ituiutaba”, cujo proprietário era João Vilela de Carvalho, foi
uma das que teve importante papel.

Entre os bairros em que atuou como empreendedora, destacamos o


bairro Bela Vista (figura 15), o qual teve seu loteamento divulgado na
Revista Acaiaca (1953), como se observa na figura 12.
72

Nas áreas mais centrais, de localização estratégica, a prefeitura


permaneceu com domínio direto, alugando-as por uma taxa anual – chamada
de “enfiteuse”.

O inquilino teria o domínio útil por tempo indeterminado, mas com, o


passar dos anos, a taxa tornou-se irrisória, e muitos locatários puderam
adquirir a escritura do imóvel.

Ainda na década de 1950, foi criada a Lei Municipal 190, que


regulamentava a licitação para venda de terrenos do patrimônio municipal
mediante hasta pública ou concorrência pública.

Por essa lei, conforme Zoccoli (2001), a família que não tivesse
moradia e cuja renda fosse o salário mínimo poderia adquirir o lote e pagar
à prefeitura em até 60 meses, sem juros e sem correção. Foi uma lei que
serviu de modelo para outros municípios e que facilitou o acesso à moradia
para os recém chegados do campo.

No entanto, até 1970, a ocupação irregular foi uma prática usual e


muitos bairros foram abertos até esse período sem a licença da prefeitura,
conforme visualizamos na tabela 11.

Em meados da década de 1950, foi elaborada a planta cadastral de um


plano diretor para a cidade, mas foi somente em 1970 que o município
aprovou o Plano Diretor Físico.

A regularização dos loteamentos pela prefeitura só teve início após a


implantação da Lei Municipal N o . 1362, de 10 de Dezembro de 1970, que
abordava sobre o “abairramento”, Cap. V do Plano diretor Físico de
Ituiutaba.

Na prática, os loteamentos irregulares somente tiveram fim após a


criação da Lei 6766/1979, que exigia a regularização do parcelamento do
solo urbano, e, com isso, a prefeitura foi regularizando os que surgiram
posteriormente.
73
74

Tabela 11 - Ituiutaba/MG: loteamentos irregulares abertos até a década de


1970.

Data da venda 1 o
Bairros Proprietários
Terreno

Tiradentes 07/07/1953 César França

Cristina 07/07/1953 César França

Central 31/10/1958 Édson Pinto

Gardênia 18/12/1959 Alcides Gomes Junqueira

São José 21/06/1960 Jaime Moura

Valdemiro Constante e Cleonice


Nossa Sra. Aparecida 26/12/1960
França

Elândia 16/03/1961 José dos Santos Vilela

Ribeiro 23/09/1961 Idvaldo de Almeida Ribeiro

Fonte : Cartório de I e II Registro de Imóveis de Ituiutaba, Dez. 2002. Or g.:


OLIVEIRA, B. S., 2002.

Contudo, aqueles loteamentos irregulares abertos até 1979


permaneceram como tal, sendo inclusos ao perímetro urbano da cidade e
passando a Prefeitura, a cobrar Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU)
dos moradores.

Segundo fontes do I e II Cartório de Registros de Imóveis de


Ituiutaba (2002), os loteamentos aprovados na cidade iniciaram-se a partir
da década de 1940, como observamos na tabela 12.

Nesse período, houve a abertura de 15 loteamentos regulares,


concentrando-se na década de 1950 com 74% do total, traduzindo-se na fase
em que Ituiutaba recebeu maior fluxo de imigrantes para seu município e,
concomitantemente, para seu espaço urbano.

Convém salientar que esses loteamentos não foram ocupados em


grande escala logo após sua aprovação. A povoação destes ocorreu
lentamente, não havendo, portanto, a necessidade de abrir um grande
75

número de novos loteamentos na década de 1960, até porque boa parte das
famílias direcionaram-se para os loteamentos irregulares da cidade.

Tabela 12 – Ituiutaba/MG: aprovação de loteamentos durante as décadas de 1940 a


1960.

Total
Datas de
Décadas Bairros
aprovação % Sobre o
N o Absoluto
Total

1940 Platina 30/11/43 1 6

1950 Tupã 19/06/52 11 74

Santa Maria 16/10/52

Santo Antônio 23/12/52

Vila Progresso 1953

Vila MariaVilela 22/07/53

Marta Helena 10/11/53

Independência 30/03/54

Vila Hélio 02/04/54

Bela Vista 21/05/54

Alcides Junqueira 22/10/54

Novo Horizonte 19/04/55

Guimarães 19/12/62
1960 3 20
Satélite Andradina 21/11/63

Pirapitinga 10/08/64

Total 15 100

Fonte : Cartório de I e II Registro de Imóveis de Ituiutaba, 2002. Org. : OLIVEIRA, B.


S., Dez./2002.

Em 1957, paralelo aos loteamentos de autoconstrução, foi construído


o primeiro conjunto habitacional, de aproximadamente 70 casas,
76

denominado de Bairro Natal. A construtora responsável foi a SERFHAL


(Serviço Federal de Habitação e Urbanização).
No fim de 1960, uma crise já apontava na economia arrozeira; a
produção passou a diminuir e paulatinamente, havendo dispensa de mão-de-
obra no campo.

Diante disso, a cidade passou a receber fluxo de dois pontos:


desempregados “expulsos do campo” e nordestinos recém-chegados em
caminhões pau-de-araras, que ainda conseguiam driblar a fiscalização
policial.

As alterações foram gradativamente sentidas no urbano no início de


1970, por meio do elevado grau de urbanização em Ituiutaba e do
fechamento de indústrias beneficiadoras de arroz. O desemprego cercava a
população, visto que as atividades econômicas não conseguiam absorver a
quantidade de pessoas que chegavam do campo.

No setor rural, a decadência do cultivo do arroz exigia outra


atividade de custos reduzidos e menor número de mão-de-obra. Com isso, a
atividade da pecuária, que já era uma realidade na Microrregião, passou a
ganhar a atenção dos fazendeiros.

A decadência teve como precursores fatores de ordem


macroeconômica e local, que vieram, em seu conjunto, afetar o campo,
criando a necessidade de substituir o arroz/milho em grandes volumes pela
pecuária regional.

O período da Crise nacional de abastecimento já havia se exaurido, e


a dinâmica nacional do “Milagre Brasileiro” previa apostar em alta
produtividade para exportar e não apenas para suprir o mercado interno. Em
decorrência disso, o Milagre Mineiro veio consagrar esse novo período,
apostando na agroindústria e na produção em alta escala para o consumo
externo.

Ituiutaba, nessa ocasião, deixava de ser o “Eldorado” tão sonhado,


reduzindo sua força de atração de mão-de-obra nas décadas posteriores.
77

Os que permaneceram seriam agentes da cidade futura. Sonhadores,


ao mesmo tempo, desiludidos, viam Ituiutaba arrefecer-se sem os trilhos da
almejada estrada de ferro e do “movimento de capital e gente” pelo
comércio local e pelas ruas.

Mas ainda, viam na grande cidade que se tornou Ituiutaba, a história


viva de anos passados, materializados nas construções que foram (ou ainda
são) os cinemas, as pensões, os galpões, que serviram como beneficiadoras,
nos caminhões que transportavam o arroz para distante dali.

A cidade tomou para si um papel próprio com o decorrer do processo


produtivo; da dinâmica transitória dos anos 1950/60, torna-se, em anos
seguintes, uma cidade “tranqüila para se viver e criar os filhos”.
78

CAPÍTULO 3
79

3 - O FIM DOS ANOS DOURADOS: A transição sócio-


econômica de Ituiutaba pós 1970

No primeiro capítulo, buscamos mostrar o panorama político e


econômico do país até a década de 1970, evidenciando fatores que afetaram
e/ou incentivaram, direta ou indiretamente, a produção arrozeira de
Ituiutaba e quais contribuições essa dinâmica gerou para a cidade, durante
os anos dourados de 1950/60.

A partir da década de 1970, perceberemos uma ruptura na economia


regional, apoiada, até então, nas culturas do arroz e do milho. A política
agrícola voltada para exportação intensificava-se, tendo como base, a soja.
Nesse sentido, o cerrado aparecia como a “solução” e um novo desafio foi
criado no país: produzir em alta escala, os grãos que viriam tornar-se
“ouro” nas próximas décadas.

Na verdade, a idéia, proposta pelo POLOCENTRO (II PND), já havia


sido cristalizada com base no pacote tecnológico da Revolução Verde – “a
quimificação resolveria tudo”. Mas até que ponto? Não tardou para ver os
resultados – alta produção, pragas, erosões, melhoramentos genéticos,
envenenamento de nascentes, assoreamentos, capital especulativo, bactérias
mais resistentes, investimentos...Enfim, fatores positivos e negativos.

E para a Microrregião de Ituiutaba ? Esta viu passar a “carruagem” a


sua frente, no período de implantação do programa POLOCENTRO, e teve
fazendeiro que até foi incentivado a “pegar carona”, abrindo mão do arroz
(já em fase declinante na região) para experimentar a nova cultura.

Mas em função de diversos fatores, principalmente econômico e


político, a maioria optou trocar a atividade de rizicultura pela pecuária, que
oferecia, a princípio, menos riscos; exigia pouca mão de obra e menos
gastos com tecnologia.

A pecuária era uma atividade exercida paralela à agricultura, por


isso, já era conhecida. Já no caso da soja, esta era considerada uma cultura
nova, portanto, oferecia riscos, além do que a oferta de créditos era voltada
80

mais para os grandes produtores, dificultando o acesso aos pequenos e


médios.

A introdução da soja, em muito contribuiu para o declínio do arroz no


Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba; no entanto, compreendemos que vários
foram os fatores que ocasionaram tal situação, direta ou indiretamente.

Na Microrregião de Ituiutaba, a mudança de atividade voltada para a


pecuária também causou modificações no espaço rural e urbano dos
municípios locais, interferindo, inclusive, no fluxo social, bem como no
setor econômico e espacial dessas cidades, principalmente em Ituiutaba.

3.1 – O Fim da “Fase de Ouro”: a decadência arrozeira no


Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba-MG

Por muitos anos, Ituiutaba e sua Microrregião, sustentaram o título de


“Capital do Arroz”, “Vale do Canaã” ou mesmo “Vale da Fartura”. Foram
“anos dourados”, que não pareciam ter fim, beneficiando produtores,
comerciantes, consumidores, políticos, e toda a economia regional, além de
materializar-se em proezas no espaço urbano de Ituiutaba: clubes, cinemas,
banda de música, saneamento básico (de bom conceito para a época),
calçamentos, escolas, hospitais, jornal, transporte entre outros serviços.

Mas qual otimista daquele período admitiria que a dinâmica e a


riqueza, proporcionadas pela alta produtividade do arroz e do milho, teriam
seus dias contados em menos de duas décadas ?

Não era uma questão de vidência, porquanto o declínio já preocupava


pessoas mais realistas e preocupadas, muito cedo, por volta do início da
década de 1950. Preocupações ligadas ao meio ambiente, ao clima regional,
que ora ou outra, não respondiam com o esperado, causando prejuízos aos
lavradores.

O fator climático tornou-se crucial para os agricultores, e a ausência


das chuvas “desmoronava sonhos” de pequenos e grandes.
81

Posteriormente, novas situações foram sendo somadas à escassez das


chuvas, tais como fatores políticos, econômicos e trabalhistas, de modo que
os agentes locais, voltados para o cultivo de arroz, pressionados pelo
sistema, foram reduzindo a produção e valorizando mais a atividade de
pecuária de leite e corte.

3.1.1 – Fatores climáticos

Até a década de 1950, a Microrregião de Ituiutaba gozava de uma


estação chuvosa bem distribuída no segundo semestre do ano até o início do
outro; chuvas esparsas, que iniciavam em outubro e regavam os solos
férteis da região por vários meses.

Contudo, a freqüência das chuvas foi alterando-se, passando a


concentrar-se cada vez mais nos meses de verão, tornando-se escassas em
alguns anos. Chaves (1985) evidencia-nos que, já em 1953, a situação em
que a agricultura vivia não era a mais agradável.

Foi em 1953. Em plena euforia da promessa de uma grande


safra, [...] os arrozais ondulados dos ventos do nordeste como
uma paisagem de cartão postal. [...]. A partir desse ano,
começou a via crucis do agricultor do Vale do Canaã. Já não
havia mais segurança para o plantio. As chuvas que começavam
em setembro e o tão falado “veranico de Janeiro” de nossos
avós, passaram a incidir em novembro, dezembro, janeiro e
fevereiro. [...] Caiu a produção por área total. E para completar
o rosário de provações, surgiu sorrateira e ameaçadora,
roubando a fertilidade da tão cantada massapé, desnudando o
solo da sua milenar camada de húmus, rasgando voçorocas nas
encostas dos espigões, assoreando córregos e as nascentes,
ocasionando enchentes [...], o fantasma da erosão. (p. 55)

A redução das chuvas e a ação antrópica eram situações que


causavam preocupações, principalmente aos produtores; mas não tanto aos
governos.
82

Estes, como nos revela o lavourista Garibald de Oliveira Diniz 2 7 ,


preocupam-se mais em controlar preços e cobrar impostos.

Nestes últimos tempos, as lavouras mecanizadas têm se


multiplicado. A falta de produção e a alta de preços dos
alimentos de primeira necessidade obrigam os nossos homens ao
cultivo da terra. [...] A pressão feita pelos governos contra os
lavouristas por intermédio de seus órgãos controladores de
preços, obrigando-nos a observar tabelas irrisórias, bem
demonstra a falta total de conhecimento do problema rural e, ao
mesmo tempo, ausência de senso administrativo.
\Nós, os lavouristas desta zona, nunca tivemos uma assistência
técnica, a visita de um corpo organizado de agrônomos e
veterinários para nos orientar. [...] É certo que as terras estão se
esgotando vertiginosamente, com as plantações sucessivas da
mesma espécie, sem qualquer preceito técnico.
Não observamos aqui a rotação de plantio. Planta-se uma mesma
coisa numa área anos e anos seguidos. Assim, a terra tem de se
esgotar, a produção tem que diminuir. [...] Assistimos, no
período das chuvas, principalmente das fortes, às enxurradas
carregarem o “húmus” e até mesmo o elemento plantado. [...]
Nenhuma providência foi tomada. O lavourista só pensa em
colher e o governo em tabelar e cobrar impostos. A terra que
faça milagres.

A escassez das chuvas foi um dos motivos que mais desanimou


produtores pois as medidas mitigadoras mais razoáveis exigiam uso de
técnica e irrigação. Isso elevaria os custos finais da produção, além do
mais, a região não dispunha de grande abastecimento hídrico.

3.1.2 – Fatores trabalhistas

Provavelmente, o Estatuto do trabalhador rural (Lei 4214, 2/3/1963)


não tenha sido o fator preponderante para o desestímulo do cultivo do
arroz, mas, certamente, teve grande contribuição no processo, uma vez que
abalou profundamente as relações trabalhistas do campo.

Com a criação dessa lei, ocorreu um fortalecimento do sindicato


voltado aos interesses dos trabalhadores rurais, visto que esses passaram a

27
Artigo publicado na Revista Acaiaca, 1957. p. 73-74.
83

exercer pressão sobre os patrões para que cumprissem os direitos dos


trabalhadores rurais.

Uma situação delicada e conflituosa, porque houve uma não aceitação


da legislação trabalhista por parte dos fazendeiros, e estes se viram
pressionados também pelos empregados, que, juntos, formavam uma
“massa” de mão-de-obra rural em busca de seus direitos. Sr Carlos André
Ribeiro 2 8 evidencia essa questão:

O sistema que era usado em Ituiutaba dependia de muita mão-


de-obra [...], houve uma certa discordância por parte dos
produtores, da legislação. Agora como é uma legislação, os
empregados passaram a exercer os seus direitos, isso trouxe
alguns desgostos pra alguns produtores, o que passaram a ter
em suas propriedades ao invés de extensas áreas de arroz com
dependência muito grande de mão de obra, transformaram em
pastagens com um número definido de pessoas que poderiam
manobrar o gado com mais facilidade. (Informação verbal).

Como, na prática, os interesses de quem detem o poder sempre


sobressai, a classe desfavorecida sempre se vê em segundo plano.
Gonçalves Neto (1991, p.152) distingue bem essa luta de classes; para ele,
o conflito que se estabelece entre classes, tem por origem a diferença de
interesse entre elas. Se a realização da acumulação burguesa requer a
eliminação do poder de decisão da classe trabalhadora, “(...) é necessário
vencê-la e submetê-la aos seus desígnios (...) e garantir a continuidade da
vitória, sem que a luta a cada vitória acabam compondo um fim nelas
mesmas”.

O resultado desse processo, melhor sentido na década de 1970, foi a


expulsão de um grande contingente de trabalhadores rurais, meeiros e
parceiros, em direção à cidade, diga-se de passagem “as cidades”, devido
ao fato de caracterizar-se como um processo nacional, por diversas causas,
mas, principalmente, pela modernização do campo.

Com isso, o patrão teve de repensar sua atividade, a agricultura


exigia mão de obra, e esta causava-lhe problemas com a lei. Ele precisava
28
Entrevista concedida pelo Sr.Carlos André Ribeiro - atual presidente do Sindicato dos
Produtores Rurais de Ituiutaba, em ago. de 2002.
84

de uma atividade também lucrativa, sem grandes riscos e que não exigisse
muita mão-de-obra.

Tudo incentivava esse produtor a investir na pecuária, pois a


agricultura, não apenas a rizícula, já havia exaurido a fertilidade do solo,
as chuvas já causavam desgosto e os créditos fartos dos anos de 1960
estavam, naquele momento, direcionados para novos projetos
governamentais de modernização dos cerrado.

Há de se ponderar, ainda, que o estatuto foi considerado uma das


molas propulsoras que levou ao processo de modernização e, por
conseguinte, à mecanização do campo. Segundo Endlich (1998),

[...] este fato gerou pressões por parte dos fazendeiros para que
o Estado subsidiasse a modernização da agricultura, alegando os
resultados práticos desastrosos do Estatuto. [...] a partir da
década de 1970 até meados de 1983, o financiamento subsidiado
para aquisição de máquinas e equipamentos agrícolas, visando
substituir os trabalhadores rurais, assumiu um papel
fundamental no processo de modernização da agricultura
brasileira. (p. 67)

3.1.3 – Fatores políticos e econômicos

Como temos analisado, problemas com o plantio já estavam sendo


percebidos desde a década de 1950, com relação às chuvas regionais. Na
década de 1960, a legislação trabalhista veio a modificar as relações patrão
empregado rural, contribuindo para a desistência de muitos produtores em
manter roças que exigissem muita mão de obra.

Contudo, foi na década de 1970 que a ruptura campo/cidade ocorreu,


particularmente no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, alvo de
investimentos governamentais para modernização dos cerrados. Os
resultados foram sentidos na agricultura tradicional, na pecuária, nas
relações trabalhistas, na economia regional e, especialmente, nas cidades,
que, além de se submeterem a uma refuncionalização de tarefas, também
85

tornaram-se o centro atrativo de um grande fluxo populacional de origem


do campo.

Projetos Agropecuários no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: o papel


da soja

Quais são esses projetos ? Como eles incentivaram o declínio do arroz


no Triângulo Mineiro ? São questões que nos colocamos.

A década de 1970 foi um período impar para a implantação de


projetos agropecuários nos cerrados, principalmente no estado de Minas
Gerais, que se apresentava bem servido em infra-estrutura e boa
localização. A soja foi, e continua sendo, notadamente, o grão mais
desenvolvido nessa agricultura comercial.

Tais projetos atingiram em maior ou menor grau diversas áreas do


cerrado, substituindo a agricultura de subsistência local/regional por uma
especulativa, com vistas ao mercado internacional, além de contribuir para
a abertura, ocupação e, até mesmo, intensificação da atividade econômica.

O programa de maior impacto sobre esse bioma foi elaborado no II


PND (1975-1979) pelo Presidente Geisel, cuja meta de governo era tornar
independentes os setores básicos da economia, como forma de solucionar
questões estruturais ligadas à economia do país. Nesse sentido, o setor
agropecuário foi estimulado mediante abertura de fronteiras agrícolas, com
a ocupação de novas áreas.

Lembremos que a política Mineira buscava sempre andar em sintonia


com o governo Federal. Frente a isso, Rondon Pacheco, então governador
de Minas Gerais (1971-1975) passou a representar a figura política que
garantiria para o estado (particularmente para o Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba) o espaço estratégico para implantação do Programa para o
Desenvolvimento do Cerrado – POLOCENTRO.
86

Foi o programa federal símbolo da modernização da agricultura e,


conseqüentemente, dos cerrados mineiros, tendo forte efeito sobre a
rizicultura e a pecuária do Triângulo Mineiro.

Até 1973, os empréstimos do governo federal estiveram direcionados


para o arroz e o milho, beneficiando pequenos agricultores, como vimos na
tabela 7.

A partir desse período, as linhas de crédito fundiário, investimento e


custeio, foram fixadas a taxas de juros reduzidos e sem correção monetária,
como afirma Coelho (2001), contudo, voltados para grandes produtores que
tivessem o objetivo de plantar em alta escala ou produzir grandes
pastagens.

O programa esteve em vigor entre 1975 e 1982. Durante esse período,


foram aprovados 3.373 projetos. Segundo Coelho (2001), dos beneficiários,
81% operavam fazendas com mais de 200 hectares, absorvendo 88% do
total de crédito do programa. As fazendas com mais de 1.000 hectares
absorveram mais de 60% do total financiado. Das áreas beneficiadas, 35,4%
estavam no MS, 32,3% em GO e TO, 17,6% em MG, e 14,7 % no MT.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) foi


grande responsável pelo desenvolvimento de pacotes tecnológicos que
tornaram produtivo e rentável o cultivo em terras ácidas e pouco férteis do
cerrado.

As tecnologias eram dirigidas a médios e grandes produtores, de bom


nível educacional, detentores de grande parte do crédito subsidiado, e o
cultivo de melhor aceitação foi o da soja, cuja rentabilidade era muito
maior.

Tal produto virou febre no Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba,


contudo, ainda que pioneira em receber o projeto POLOCENTRO, a
Microrregião de Ituiutaba não teve grande aceitação do grão. Por ser uma
região tradicionalmente rizícula, houve um certo receio dos produtores em
cultivar o novo grão, uma vez que pensavam nos custos com o solo
87

desgastado, com insumos e equipamentos e, principalmente, nos riscos que


a agricultura estava oferecendo nos últimos anos.

Aqueles que se arriscaram em plantar a soja foram incentivados


mediante a implantação de uma unidade de pesquisa da Universidade
Federal de Viçosa em Ituiutaba (CEPET), e ainda pela instalação da
Companhia Agrícola de Minas Gerais (CAMIG) e da Empresa de
Assistência Técnica e extensão rural (EMATER).

Com o advento da biotecnologia, foram criadas diversas variedades


de soja, na tentativa de melhor adaptá-las aos solos ácidos das chapadas e
aos férteis solos das vertentes do Rio Tijuco e Paranaíba.

De acordo com o Sr. Manuel Junqueira Vilela, a soja plantada


inicialmente, era a IAC-2, direcionada para as terras mais fracas do
cerrado, e para as terras melhores, nas áreas de mata, era plantada a soja
Santa Rosa. Com a chegada do CEPET, novos experimentos foram
realizados com a soja, criando a UFV-1, uma variedade que foi muito
divulgada.

Apesar desses estímulos com a soja, os pequenos e médios produtores


preferiram a atividade da pecuária. Os beneficiados com créditos agrícolas
foram ficando cada vez mais selecionados após 1970, pois já não eram mais
necessárias grandes safras de arroz, visto que a Crise de abastecimento já
havia exaurido e também porque era um cultivo que não rendia divisas
externas, servia apenas para abastecimento nacional, por isso, os altos
investimentos do governo na soja. Em outras palavras, o arroz e o milho,
ditas “cultura de pobre”, perderam espaço para o agribusines, gerando um
complexo agroindustrial regional, que beneficiaria a própria atividade da
pecuária.

Embora o POLOCENTRO tenha sido de fundamental importância para


as transformações sócio-espaciais do cerrado mineiro, é válido ressaltar que
ele não foi o único projeto a ser implantado no Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba. Entre outros, destacamos o Programa de Cooperação Nipo-
Brasileiro para o desenvolvimento do Cerrado (PRODECER), o PROFIR, o
PCI e o Pró-Várzeas.
88

Com exceção do PRODECER, que não teve atuação direta sobre a


Microrregião de Ituiutaba, os demais tiveram, de alguma forma, um papel
importante para a experiência dos produtores locais.

Como percebemos, a modernização dos cerrados também teve seus


efeitos (in)diretos sobre a decadência arrozeira em detrimento do sucesso
da soja.

Questionamos ainda se esses fatores tratados seriam os únicos


motivos que desencadearam o declínio rizícula e percebemos que diversos
fatores ocorreram em função da estrutura nacional/internacional, fosse ela
de âmbito político, econômico, social, mercadológico, espacial e tantos
outros, cuja junção, muitas vezes, termina por desencadear outras situações.

3.1.4 – Fatores diversos

Existem questões e situações ocorridas naquele momento histórico


(transição de 1960 para 1970) que, isoladas, não demonstraram relevância
para o declínio da atividade arrozeira; outras, porém, nos fazem refletir.

a) Endividamento bancário

Os empréstimos agropecuários iniciaram-se em 1966; o intuito era


sanar a “fome nacional”, com as culturas essenciais à mesa: arroz, milho,
feijão, mandioca. A cultura exportável ainda tinha como base o café e o
açúcar.

Com esse intuito, produtores da Microrregião de Ituiutaba lançaram-


se ao plantio de arroz, que transbordava dos solos férteis do vale do Tijuco;
mas se, por um lado, o solo em muito ajudou, por outro, o clima seco
desanimou.
89

Muitas foram as safras perdidas e, com elas, dívidas foram


acumuladas nos bancos financiadores do governo federal (Banco do Brasil,
BDMG), contribuindo para a desistência da atividade de agricultura local.

b) Abertura de Cerrados/Fertilidade dos solos

O cultivo do arroz também foi utilizado como abertura de fronteira


dos cerrados. Nos primeiros anos, a alta fertilidade do solo foi absorvida
pelo arroz; com as chuvas regulares, esse cultivo, considerado frágil e de
riscos, gerou ótimos resultados. Esse foi um dos motivos da grande
produtividade do grão na Microrregião de Ituiutaba durante os anos de 1950
e 1960, levando a cidade de Ituiutaba a ganhar a denominação de “Capital
do Arroz”.

Foi um período em que os desmatamentos estavam ocorrendo,


exigindo mão de obra para limpeza da roça e do plantio do arroz e do
milho.

Mediante os sucessivos plantios, os solos foram desgastando-se,


passando a não responder com o esperado. A produtividade diminuiu e as
dívidas aumentaram. Ficou fora de cogitação a irrigação para o pequeno e
médio produtor.

c) Desvantagem mercadológica

Se o Triângulo Mineiro foi, nas décadas de 1940 a 1960, grande


produtor voltado para a mesa, após a década de 1970, o governo federal o
incentiva a mudar o tipo da cultura. O arroz de sequeiro, intensamente
produzido naquela circunstância, deixava de ter seu devido valor, assim,
paulatinamente, novas regiões do país passaram a adaptar e absorver o
mercado rizícula, superando a qualidade do arroz tradicional.
90

O sul do país passou a liderar o plantio irrigado, utilizando métodos


europeus, inclusive na divisão do trabalho, em que a família toda participa
do processo. O relevo, a estrutura fundiária e as próprias condições hídricas
permitiram melhores qualidades do grão.

Diante do declínio do precioso grão, o comércio Tijucano entra em


crise como num efeito dominó. Se, no auge do arroz, Ituiutaba centralizava
mais de uma centena de arrozeiras, nos anos de 1990, detinha somente um
representante comercial, cuja matéria prima, adquiria a preços módicos de
fornecedores do Sul, para ser acessível ao mercado regional.

Como vemos, se houve uma dinâmica que levou o arroz a “brilhar”


nacionalmente, e, principalmente, em nível regional, na metade do século
XX, percebemos também que seu declínio ocorreu em função de diversas
situações estruturais e naturais.

Foi um período breve na história Ituiutaba e sua região, mas que


deixou frutos materializados no campo e na cidade, uma fase lembrada e
exaltada por todos aqueles cidadãos que vivenciaram aquele momento.

Com a crise, houve uma reestruturação sócio-econômica, espaço-


cultural pós 1970. A pecuária despontava como a atividade principal na
Microrregião e a sociedade Tijucana perdia seu título, mas não a
“majestade”.

A economia voltava-se para serviços especializados na cidade e no


campo; o espaço rural/urbano criava novas exigências e adaptava-se em
serviços que contivessem informações, técnica e ciência; a cidade produzia
equipamentos fixos que atraíam novos fluxos; a saída da “roça” criava a
figura do “volante”, emergindo uma imagem de gente simples, de cultura
“roceira”. São esses novos aspectos que veremos a seguir.
91

3.2 – O Sucesso da Pecuária Regional: sua transição frente ao


Período Técnico Científico Informacional

O período pós 2a Guerra Mundial simbolizou uma fase de


transformações sócio-espaciais de grande relevância, especialmente para os
países em desenvolvimento.

O processo produtivo (produção, circulação, distribuição e consumo)


passou, após 1970, a ter uma relação com a ciência e a tecnologia; o espaço
tornou-se conhecido e sua utilização cada vez mais possível e necessária.
Passamos a viver um novo período histórico, denominado por Santos (1985)
de Período técnico científico informacional (PTCI).

As mudanças na forma/conteúdo foram introduzidas em todos os


espaço de produção e de consumo, urbano e rural.

O pacote tecnológico tido como a solução da fome foi logo


incorporado no Brasil pelas grandes empresas multinacionais; era a chegada
do capital estrangeiro criando novas necessidades no campo, incorporando
o setor rural à ciência, tecnologia e informação, e alterando as funções das
cidades, principalmente das pequenas, levando-as a equiparem-se com
serviços especializados e com um comércio mais elaborado, buscando
atender à nova demanda do campo modernizado.

A reestruturação do campo/cidade foi complementar aos programas


agrícolas que o governo federal almejava implantar no país, cujos
resultados foram de grandes proporções.

As alterações ocorridas no espaço geográfico brasileiro vieram a criar


um novo meio, denominado por Santos (1985) de Meio técnico científico
informacional (MTCI), o qual se tornou palco de novos sistemas de
engenharia, cuja estrutura “fixa” é capaz de interagir e complementar com
ondas de fluxos que movimentam informação, capital, pessoas e mensagens.
92

O campo, não menos que as cidades, absorvia essas transformações e


ganhava novas funções, como o exemplo dos cerrados mineiros, por meio
de ações político-econômicas.

Brandão (1989) sustenta que a localização da região do Triângulo


Mineiro/Alto Paranaíba foi fundamental para torná-lo um entreposto
comercial, e com isso, receber investimentos em infra-estrutura rodo-
ferroviária.

Fatores que vieram fortalecer o interesse do governo federal em


escolher a área para implantar o Programa POLOCENTRO, além da
topografia plana favorável à modernização da agricultura, recursos
hídricos, reservas minerais, terras férteis e proximidade com grandes
centros econômicos. Tal programa foi uma das importantes ferramentas
para a inserção da região ao PTCI.

O grande incentivo creditício para as lavouras e a formação de vastas


pastagens nos cerrados do país tiveram resultados rápidos. Coelho (2001)
afirma que, embora o programa POLOCENTRO tenha planejado destinar a
maior parte da área para lavoura, o resultado foi o inverso: as pastagens
ficaram com mais de 60% dos recursos e as lavouras com 40%.

Havia três tipos de créditos disponíveis durantes o programa; -


Investimento, o principal mecanismo de estímulo ao processo de adoção de
novas tecnologias capital intensivos, como a mecanização, correção do solo
e irrigação; - Custeio, o qual permitiria a compra de insumos modernos e
fertilizantes químicos e sementes melhoradas; e – Comercialização , que
fornecia a oportunidade de transportar o produto no tempo, evitando a
concentração da oferta na época da safra.

É importante frisar que o pequeno produtor quase nunca tem sido o


melhor beneficiado nos programas de empréstimos. Gonçalves Neto (1991)
divide em cinco grupos os agentes que sempre estão em vantagem:

a) O sistema bancário comercial, o qual utiliza recursos que, de outra


forma, seriam recolhidos ao banco central e remunerados a taxas
inferiores às cobradas no crédito rural;
93

b) os grandes proprietários , que têm acesso facilitado ao crédito e


contratam a maior parte do seu valor, além, de utilizarem os recursos
públicos e aplicá-los no mercado financeiro, imobiliário e outras
atividades não agropecuárias;

c) as culturas comerciais , normalmente exploradas pelos grandes


produtores, os quais utilizam volume de crédito bem superior à sua
participação na produção agrícola;

d) as regiões mais desenvolvidas – Sul e Sudeste , onde estão os


produtores mais integrados às formas modernas de produzir; e

e) a agroindústria , que é o destinatário final de grande parte do critério


subsidiado nas três modalidades – custeio, investimentos e
comercialização.

Na Microrregião de Ituiutaba, a soja não foi o canal principal de


grãos, o algodão teve maior aceitação, durante as décadas de 1960 e 1970,
chegando a render altas produções até 1980, principalmente em
Capinópolis, como podemos visualizar na tabela 13.

Tabela 13 - Produção de algodão (t) na Microrregião de Ituiutaba no


período de 1960 a 1996.

Toneladas/décadas
Cidades
1960 1970 1980 1996
Ituiutaba 529 1768 1225 3240
Cachoeira Dourada - 117 609 4000
Capinópolis 506 1318 5503 13206
Ipiaçú - 628 446 4810
Santa Vitória 5152 72 12 240
Gurinhatã - 192 149 296
Fonte : Censo Agrícola de 1960. IBGE. Minas Gerais. Censo Agropecuário de 1970 e
1980. IBGE. Minas Gerais. Site < www.ibge.gov.br > em out. 2002. Org.: OLIVEIRA, B.
S., Jul./2002.
94

Segundo entrevista de Sr. Manuel Junqueira Vilela, o algodão


resultou em outra época de grande riqueza para a região; foi chamado de
“Ouro branco” no final da década de 1960, início de 1970.

Nessa época, a Camig instalou aqui uma usina de


beneficiamento do algodão; concomitantemente com a Camig,
foi instalada uma particular na região, a Alisa, empresa do
grupo Jurandir Vilela [...], tinha algodão de ótima qualidade e
em grande quantidade e aí passou a ser uma lavoura
empresarial. (Informação verbal).

O algodão era plantado entre as ruas de milho e de arroz e, aos


poucos, foi ganhando relevância. Como o arroz, o cultivo de algodão exigia
mão-de-obra além de uma maior tecnificação, com o uso de trator, adubos e
insumos químicos para evitar doenças e pragas. No entanto, por ser muito
suscetível às pragas, seu ciclo reduziu-se quando essas começaram a
aparecer na região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba, conforme nos
relata Sr. Carlos André, sendo um fator determinante para sua saída
regional.

A pecuária regional, que já era praticada como meio de subsistência


paralelo às atividades de agricultura, ganhou nesse sentido, mais incentivo
para tornar-se a atividade principal e os campos abertos para cultivo
passaram a ser transformados automaticamente em pastos.

Como incentivo à pecuária, alguns projetos beneficiaram fazendeiros


na Microrregião de Ituiutaba, destacando-se o Conselho de
Desenvolvimento da Pecuária (CONDEPE) e o Programa de
Desenvolvimento da Pecuária do Cerrado (PROPEC), conforme dados de
Duarte (2001).

A introdução do capim Brachiara nos cerrados também foi um


incentivo na alimentação do gado. Desenvolvido por técnicos da Embrapa,
que buscavam uma espécie de gramínea que respondesse com uma alta
produção em massa para sustentar os animais, não apenas no período das
águas como no da seca.
95

Na visão do Sr. Carlos André, para a produção do leite, a Brachiara


não é a gramínea mais recomendada, mas na região, passou a ser a gramínea
predominante a partir da década de 1990, justamente pela sua duração e a
sua resistência ao clima.

Como observamos, a introdução do PTCI no campo, tem incorporado


a ciência na produção, na circulação, na economia.

A seguir, veremos como a mudança de atividade afetou a economia


regional, tanto fosse nas questões sociais como espaciais no campo.

3.2.1 – Mudanças na economia regional

Os traços de mudanças no setor rural do Triângulo Mineiro/Alto


Paranaíba foram sentidos logo após a implantação do programa
POLOCENTRO; o que ocorreu também na Microrregião de Ituiutaba, com a
diferença que era a atividade leiteira que ganhava impulso.

Freitas (1985) faz uma análise sobre as mudanças nas regiões


agrícolas mais modernas do país e comenta que o Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba, à semelhança das demais, teve sua produção agropecuária
marcada, nos anos de 1970, pelos seguintes traços: intensificação do uso da
terra na pecuária; expansão das culturas modernas em detrimento das
tradicionais, com a elevação da defasagem tecnológica e o reflorestamento.

O cultivo do arroz, além de não exigir técnicas sofisticadas e


insumos, também se deslocava espacialmente, como nos demonstra
Guimarães (1990). Segundo esse autor, na primeira metade do século XX, o
arroz era tradicionalmente cultivado no norte do Triângulo Mineiro, nas
proximidades de Uberlândia, por volta de 1925.

À medida que as terras foram ficando cansadas, o arrendamento


encarecia e os transportes ampliavam o espaço mercantil, o plantio
deslocava-se para novas áreas, passando por Ituiutaba, Tupaciguara,
Sudoeste goiano e Mato Grosso.
96

Sobre as técnicas utilizadas, o autor considera que não houve uma


modernização agrícola voltada para esse setor, mas apenas uma resposta
extensiva, com produtividade decrescente aos impulsos do mercado.

Ao contrário do cultivo do arroz, a pecuária passou a exigir cuidados


técnicos, ao mesmo tempo em que gerava grandes impactos sócio-espaciais
e econômicos.

Novas espécies bovinas foram adaptadas, novas gramíneas foram


desenvolvidas para o gado, despesas com vacinas e carrapaticidas passavam
a fazer parte do consumo produtivo rural. Mas, se de pronto essas
exigências não foram impactantes para os fazendeiros, devido à pecuária
constituir-se uma praxe na região, por outro lado, a dispensa em massa da
mão de obra rural teve maiores reflexos, principalmente nas áreas urbanas
da região.

O Estatuto do trabalhador rural constituiu-se num importante


obstáculo para alguns fazendeiros e foi causa/conseqüência da expulsão
desses trabalhadores para a cidade; que, segundo Freitas (1985), pôs em
relevo o temor dos proprietários rurais de incorporarem-se nas peias legais,
não se dispondo a manter nas fazendas trabalhadores residentes como
colonos, agregados e parceiros.

Mas, como vimos anteriormente, a mudança da atividade rizícula para


a pecuária não teve como causa somente a legislação trabalhista, ainda que
tenha sido esse um fator relevante para a expulsão do homem do campo na
região.

Após a década se 1970/80, os municípios da Microrregião de


Ituiutaba passaram a investir numa economia voltada ao setor leiteiro e de
carnes; serviços foram adaptados em função desse novo rural; técnicos e
instituições de pesquisa ganharam relevância, tais como Embrapa, Emater,
Universidade do estado de Minas Gerais-UEMG, entre outros.

Em 1976, Ituiutaba foi privilegiada com a instalação de uma fábrica


de leite em pó da Nestlé, responsável, posteriormente, por mudanças
relevantes nesse setor, envolvendo os produtores regionais.
97

Empresas e cooperativas de menor porte também dividiam o mesmo


espaço em Ituiutaba no ramo de laticínios, além de frigoríficos que
absorviam a área de corte bovina e suína.

Como verificamos, uma refuncionalização tomou conta do


campo/urbano na economia regional, substituindo as famosas
beneficiadoras de arroz e as filas de caminhões carregados com produto.

Se, por um lado, o campo foi o lócus que concentrou maior parte da
população regional (e nacional) até 1970, a partir dessa década, o fluxo
populacional ganhou nova direção, dessa vez, para os centros urbanos.

Ituiutaba acompanhou o mesmo ritmo do país nesse período, e as


situações que levaram à expulsão dos trabalhadores rurais foram as mesmas
que ocorreram em todo o país: - Mecanização do campo; - Estatuto do
trabalhador rural; - Mudança de atividade econômica (agricultura para
pecuária); e - Especialização produtiva, relacionada com a crescente
importância do trabalhador “volante” no mercado rural. (FREITAS, 1985).

Já no fim da década de 1960, Ituiutaba perdia seu papel de município


polarizador e atrator de mão-de-obra (principalmente para o nordestino)
para o campo.

Com a mudança de atividade econômica, o campo passou a repulsar


essa massa populacional, a cidade de Ituiutaba voltava a ser centro
polarizador de fluxo, dessa vez, dos desempregados rurais.

O redirecionamento dos fluxos populacionais exigiu dos centros


urbano um planejamento que, para a época, era inesperado.

A precariedade em infra-estrutura, o tamanho do perímetro urbano, a


disponibilidade de serviços, empresas e empregos fizeram com que a crise
do campo se deslocasse para as cidades. E com Ituiutaba não foi diferente,
como veremos logo mais a seguir.

Os “efeitos modernos” ocorridos no campo ficaram evidenciados com


mais intensidade nos anos de 1990, quando ícones do Meio técnico
científico informacional seriam incorporados no setor rural como uma
necessidade “vital” para o bom desempenho da atividade.
98

Numa pesquisa realizada pelo SEBRAE-MG 2 9 , em 1995, no município


de Ituiutaba, com um universo de 219 entrevistados do setor rural, foram
obtidas as seguintes informações sobre os aspectos sócio-econômicos e
modernizantes do campo:

- A ocupação fundiária de propriedades do município concentra-se no


estrato de até 200 ha, caracterizando-se por propriedades de pequena
e média extensão;

- As condições das estradas que interligam as fazendas a Ituiutaba e


outros municípios são boas, e algumas são asfaltadas - ou seja, a
circulação rodoviária é propícia ao fluxo de produção;

- O leite é produzido por 80,8% dos entrevistados;

- A maior parte do leite (66,5%) é comercializado com a Nestlé;

- A bovinocultura para o abate é utilizada por apenas 17,4% dos


entrevistados;

- A inseminação artificial e o confinamento são práticas pouco


utilizadas; a maioria (94,2% e 85,4% respectivamente) dos
produtores bovinos não a utiliza;

- Vacinas contra a aftosa (91,8%), manqueira (89 %) e brucelose (84%)


são as mais utilizadas;

- O equipamento mecânico mais utilizado é o trator (80,4%), 65,8%


ainda utilizam o arado mecânico, e 5,9% dos proprietários se mantêm
com o arado manual;

- Símbolo do MTCI – a ordenhadeira mecânica, ainda tem espaço


restrito entre os proprietários, na fase da pesquisa; apenas 1,4% dos
entrevistados a possuíam e 1,8% utilizavam a ensacadeira;

29
SEBRAE/MG. Sistema de informações mercadológicas municipais – Ituiutaba
diagnóstico municipal. Belo Horizonte: SEBRAE/MG, 1995. 178 p. – Este trabalho foi o
resultado de várias pesquisas realizadas no município de Ituiutaba entre diversos
setores (agropecuarista, meeiros, parceiros, comerciantes e consumidores), onde cada
um deles participou com um número diferenciado de entrevistados como método próprio
do SEBRAE.
99

- O uso de sementes modificadas geneticamente também é realidade


entre os proprietários rurais; 65,8% utilizam sementes híbridas;
também na utilização de insumos na produção, o fertilizante é
especialmente o mais consumido, num total de 86,9% dos
entrevistados;

- A assistências técnica é realidade entre os proprietários rurais,


contudo 53,4% a utilizam, o destaque vai para assistência veterinária
e assistência agrícola;

- A maior parte dos proprietários não são beneficiados por créditos


bancários (93,6%); fatores como altas taxas de juros, instabilidade do
mercado e burocracia do processo, dificultam as concessões;

- Ainda que a declividade das glebas facilite a mecanização, a


irrigação é utilizada por apenas 5,9% dos produtores, numa área que
não ultrapassa 5 ha. Os empecilhos devem-se ao alto custo de
montagem e de manutenção.

A pecuária, tal qual a agricultura, exige no atual Período tecnológico,


uma modificação na forma-conteúdo do espaço rural. Por mais que o
produtor relute em se manter com métodos tradicionais, de algum modo, o
processo produtivo irá “obrigá-lo” a modernizar, pois novas funções são
atribuídas a esse espaço.

A mudança de atividade gerou novas relações que são visualizadas no


campo e no urbano de Ituiutaba; a instalação de uma grande empresa
multinacional (Nestlé) passou a reestruturar as relações comerciais,
econômicas, sociais e políticas no município.

Sua presença gerou a necessidade entre os fazendeiros de se


adaptarem ao sistema tecnológico que a Nestlé exigiu, “tudo por uma
melhor qualidade do produto”; sua instalação passa a ser
causa/conseqüência da especialização leiteira da Microrregião de Ituiutaba
e o seu nome passa a ter um importante significado para a cidade, como
veremos a seguir.
100

3.2.2 – A inserção da Nestlé em solo Ituiutabano: um


importante ícone

O setor industrial de Ituiutaba, inaugurado em 1974 na gestão do


prefeito Feud José Dib (1973-1976), eleito pelo MDB, foi a base geográfica
da primeira fábrica de leite em pó na América Latina – Nestlé, segundo
informações de Zoccoli (2001).

Segundo informações locais, a industrialização do leite iniciou-se


com a instalação do Laticínio Nobreza de Jerônimo Ferreira, que,
posteriormente, foi adquirido pelo Grupo Malibu de Campina Verde/MG e,
finalmente, repassado à Nestlé, que iniciou suas operações na cidade de
Ituiutaba, comprando leite e transportando-o para outras filiais, enquanto
constituía sua fábrica local.

Por ser uma empresa internacional, não nos foram concedidas


informações de nível estratégico/localizacional; ou seja, quais motivos
levaram-na a instalar-se na região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba,
especificamente, em Ituiutaba.

Questões como a alta produtividade leiteira de Minas Gerais e da


tradicional pecuária Triangulina devem ter sido levadas em conta, bem
como a proximidade com o estado de Goiás e das rodovias que se
direcionam para São Paulo.

É certo que houve uma pesquisa realizada pela empresa em busca de


condições favoráveis à sua instalação, a qual exigiu um mercado regional
fornecedor/consumidor de sua matéria-prima, além de infra-estrutura de
circulação e telecomunicação.

Levantamos essa questão pelo fato de, como sabemos, a Microrregião


de Ituiutaba ser conhecida nacionalmente pela agricultura e não pela
produção leiteira, ainda que esta atividade ocorresse paralelamente.
Percebemos que a empresa soube aproveitar a situação da atividade rizícula
estar em franco declínio e a pecuária despontar como a principal.
101

Sua presença passou a ser a causa e, ao mesmo tempo, a conseqüência


da euforia leiteira regional. Significou para os fazendeiros um grande
incentivo e a certeza de um comprador para o leite, contribuindo
decididamente para a especialização da pecuária regional.

Como um ícone do Período técnico científico informacional, essa


empresa exerceu fortes modificações nas relações comerciais e na própria
atividade. Foram vários anos de pesquisa do Departamento de assistência ao
produtor, com o objetivo de melhorar a qualidade do gado e
conseqüentemente, do leite.

Inicialmente, começou a introduzir animais de sangue europeu,


especialmente a holandesa, por serem raças especializadas na produção de
leite.

Experiente no ramo, Sr. Manuel Junqueira Vilela informou-nos que a


Nestlé fazia cruzamento do gado holandês com as vacas de sangue Gir,
passando a ser mestiças “Meio-sangue”, denominadas de Girolanda.

A assistência técnica da Nestlé “aconselhava” os fazendeiros a


escolher o tipo de gado, a fazer os cruzamentos e, inclusive, o tipo de
alimento que seria dado ao animal.

A raça jérsei [...] é um gado que sente muito o clima nosso aqui,
clima quente; então o gado tem problemas de adaptação. Por
isso que as rezes de pele escura não deram resultados, mas a
Nestlé já sabia disso também, porque ela aconselhava os
produtores a fazer o cruzamento; também começou aqui a
profissão de conserva de alimento para o fornecimento na seca.
Na época em que a Nestlé entrou aqui, não tinha pasto né, daí
ela começou a fazer silagem de milho, capim elefante, o farelo
da soja e, mais pra frente, a ração concentrada . (Informação
verbal 3 0 )

Foram mudanças que exigiram mais atenção e capital do fazendeiro,


com vacinas, remédios, carrapaticidas, alimentação, pastagens, e que
retornaram para a Nestlé e para a própria economia da cidade.

30
Entrevista concedida pelo Sr. Manuel Junqueira Vilela em ago. de 2002.
102

Diante disso, novas relações comerciais surgiram entre fazendeiros,


laticínios e cooperativas regionais; novos tipos de serviços foram criados
ou ampliados, tais como veterinários, técnicos, agrônomos, lojas
veterinárias, serviço de implementos e insumos, bancos, lojas
concessionárias de automóveis, cartório, laticínios entre outros.

Ampliou-se o comércio local, bem como o ICMS para o município,


além das vagas de emprego direto e indireto e das relações comerciais que
levavam o nome da cidade.

Além disso, criou-se a necessidade na fazenda de melhor equipá-la,


fosse água encanada, luz elétrica, telefone, internet, tv a cabo; fixos que
exemplificam a introdução do Meio tecnológico no setor rural da
Microrregião de Ituiutaba.

Já no final da década de 1990, a Nestlé passou a fazer nova exigência


para melhorar sua qualidade; implantou entre seus fornecedores o “sistema
de coleta a granel”, por meio de tanques de resfriamento instalados na
propriedade do produtor, passando a ser excluído o sistema de coleta em
latão.

De algum modo, os pequenos fornecedores que tinham interesse em


manter suas relações comerciais com a Nestlé tiveram de adaptar-se, mesmo
que fosse à custa de empréstimos bancários e dívidas a longo prazo.
Contudo, o retorno não tem sido como o esperado pelo produtor, como nos
afirma Sr. Carlos André, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais:

Realmente, a Nestlé trouxe um crescimento muito grande para a


pecuária, nós não podemos negar; mas a gente tem um
posicionamento um tanto reservado porque ela também deixou de
remunerar os produtores pela sua qualificação; ou seja, ela deu
incentivo inicial, o produtor respondeu com a produção; ela
exigiu mais eficiência e qualidade e o produtor respondeu na
mesma altura; só que ela não respondeu ainda na questão da
remuneração por esse custo; ou seja, o produtor hoje está
pagando para entregar o leite [...]. (Informação verbal).

Como vemos, o MTCI exige custos a esses agentes e nem sempre o


retorno é o esperado.
103

A Nestlé paga o diferencial para seus fornecedores assim como paga


mais para o produtor manter a média de produção na época das águas como
nas secas; uma remuneração que varia entre R$0,30 a R$0,40 centavos 3 1 .
Um “incentivo” da empresa para que o produtor mantenha a
qualidade/produção durante todo o ano.

Agora, ao que se refere aos custos, o produtor tem mais é a obrigação


de se adequar e abaixar seus custos, ou seu prejuízo será maior. Por esse
motivo, a remuneração oferecida pela empresa é considerada insuficiente.

Esta situação de remuneração por litro de leite e preço de mercado


dissimula outro fator de importância político-econômica pouco refletida
entre os consumidores finais, denominada na entrevista do Sr. Manuel
Junqueira Vilela, de “efeito perverso”. Para ele, quanto mais o produtor
rural produz, mais pobre e com menos poder ele fica, em outras palavras,
seu exemplo explica melhor sua reflexão:

Eu produzia 1.000 litros de leite diários; era o dono da fazenda


e tinha quatro empregados dedicados à atividade leiteira. Então,
cinco pessoas no campo, produziam 1.000 litros de leite; se a
gente for dividir, vamos ter uma pessoa produzindo 200 litros. O
consumo brasileiro percapita é de 100 ml [...] por dia; em
conseqüência disso, um produtor, eu, produzia para 2.000
consumidores. Agora você olha isso sobre a ótica do político;
um voto no campo e 2.000 votos na cidade [...]. O governo se
interessa quando baixa o preço do leite ? Não, ele quer que a
população tenha leite barato em casa. Ele não tá olhando para o
produtor. Ele quer que o leite fique baixo mesmo! Agora, quando
o produtor começa a sofrer e diminui sua eficiência, aí o
governo vai lá e fala assim: - olha, nós não podemos deixar a
nossa “galinha dos ovos de ouro” morrer. Vamos lá acudir! E
começa a dar uma ajudinha aqui, uma ajudinha ali, pra ele ficar
vivo; porque se não a população urbana vai gritar, vai faltar
leite! E a fome é má conselheira! [...] Então isso é uma coisa
trágica, que faz com que o campo seja relegado a certo
abandono por parte do governo. (Informação verbal).

Se, de um lado, o produtor reclama pelo baixo custo do leite, e de


outro, o consumidor final reclama porque paga mais caro, qual seria o

31
Valor informado no Sindicato dos Produtores Rurais em agosto de 2002, período em
que o salário mínimo se encontrava a R$200,00.
104

motivo? Primordialmente, por existir uma cadeia intermediária que absorve


em torno de 70% do valor no varejo.

Enquanto o governo tabelou o preço do leite, ou ainda, quando o


mercado passou a administrá-lo, o produtor recebia em torno de 70% do
preço no varejo. No entanto, segundo informações do Sr. Manuel Junqueira
Vilela, a Assembléia Legislativa votou por apenas 22% do preço do leite no
varejo no ano de 2000, e o que aconteceu? A cadeia intermediária
apropriou-se do mercado e surgiu como uma força nova no mercado
leiteiro. “Tem mais poder que a Nestlé, que a Parmalat; e aí fica o produtor
e o consumidor na pior!”.

Entre esses intermediários, destaca-se a Tetraparck, única empresa no


Brasil autorizada a fabricar a embalagem do leite “Longa vida”. Seu
contrato lhe dá direito de explorar esse subproduto por um período de 20
anos, conforme nos informou Sr. Carlos André. Segundo este entrevistado,

(...) não existe preço tabelado; enquanto você compra um leite


por R$ 1,30 ou R$ 1,40, o produtor está recebendo por ele R$
0,30 centavos (...). Há uma grande diferença no preço do leite
que sai da indústria e aquele que o mercado coloca à venda; ou
seja, o supermercado está usando também uma margem de lucro
muito grande . (Informação verbal).

Ocorre uma mudança na forma de comercialização desses produtos,


que deixam de ser adquiridos diariamente e passam a ser renegociados em
grandes quantidades pelos hiper e super mercados.

Como temos verificado, o efeito perverso ocorre em ambos os lados.


Com ou sem benefícios (sob diversas óticas), a presença da Nestlé gerou
ainda outro fator para a cidade, criou uma imagem, uma representatividade
regional interligada à atividade pecuária.

Seu renome internacional sobressai, sem dúvida, aos Laticínios Canto


de Minas e Beija Flor e a Cooperativa Agropecuária do Triângulo Mineiro -
COOPONTAL. Essas pequenas empresas, pela propriedade de seu capital
local, são responsáveis pela pasteurização e frigorização do leite, enquanto
a produção de queijos finos, iogurte, leite em pó e farinhas lácteas,
pertencem ao capital estrangeiro, tais como a Nestlé.
105

Diante dessa potencialidade como empresa estrangeira, tornou-se um


signo para os Ituiutabanos e região e é aclamada por políticos, autores,
imprensa e outros meios de telecomunicação. Transformou-se num elo entre
o campo, induzindo-o a se modernizar, e o urbano, onde são realizadas suas
relações comerciais.

Após considerar diversas questões ligadas ao campo, sua fase de


“mutação” pós 1970 e compreender um pouco das relações ocorridas nesse
espaço, iremos investigar como o urbano e seu conteúdo reagiram frente à
atividade pecuária e seus reflexos de modernização rural.

3.3 – Da dinâmica “Capital do Arroz” `a pacata “Cidade


Modelo” pós 1980

Ituiutaba tem demonstrado ser uma cidade que, paulatinamente,


cresce e se infra-estrutura; perdeu sua dinâmica dos anos de 1950/60 e se
arrefeceu aos olhos da população; contudo, aos olhos da elite agrária,
projetou-se como a “cidade tranqüila”, “o melhor lugar para se criar os
filhos e netos”, onde a ausência de empresas e indústrias significava
também, a ausência de criminalidade e perigo.

Apesar da economia caminhar a passos lentos pela década de 1980,


veremos que a cidade possui sua dinâmica própria, capaz de transformar o
urbano em função das necessidades sociais.

A chegada em massa do trabalhador “expulso” do campo exigiu


espaço para acomodá-lo, e a prefeitura e a Cohab foram agentes
responsáveis por essa distribuição espacial. O homem do campo precisou
adaptar-se ao urbano, e o urbano precisou ser adaptado à vivencia do
homem rural.
106

3.3.1 – Atores urbanos: o papel da política local

O início da década de 1970 constituiu-se num choque cultural para a


época. Era a modernização do campo exigindo a retirada do trabalhador
rural, o avanço da tecnologia, chegada da TV, quebra de costumes rígidos,
surgiram movimentos com a intenção de mudar as características sociais,
culturais, políticas e humanas, refletindo-se inclusive em Ituiutaba.

Um exemplo desses movimentos que chegaram na cidade, abordado


por Zoccoli (2001), foi o dos hippies; quando jovens os imitavam na
maneira de vestir, no comportamento, barba e cabelos compridos, dançavam
rock e usavam drogas, abalando a pacata estrutura familiar da época.

Além dessa sociedade em transição, a cidade, que recebia o migrante


do campo, em meados de 1970, atingiria mais de 40.000 habitantes no
decorrer da década, caracterizando-se com uma infra-estrutura incipiente;
cuja água encanada era considerada de péssima qualidade, chegando às
torneiras com as cores barrentas do Ribeirão São Lourenço; a energia
elétrica, de responsabilidade da ELFISA, ainda era avaliada como luz de
lamparina e ainda, o comércio e os serviços eram pouco diversificados.

Sem planejamento, a estrutura espacial e de saneamento ficaria a


desejar e, nesse sentido, o deslocamento do trabalhador rural significou
para muitos um choque e um novo desafio, ao chegar à cidade. O
direcionamento de muitas dessas famílias recém-chegadas teve de ser as
periferias, cujos loteamentos regulares, foram ocorrendo paulatinamente.

Em 1970, a cidade já era composta por vinte e nove bairros, os quais


seguem na tabela 14, e uma área central, composta por uma zona central e a
Vila Natal.

Já havia muitos loteamentos abertos durante as décadas de 1950 e


1960, a maior parte na década de 1950, especificadamente, nos primeiros
anos, período em que a cidade recebia grande fluxo de imigrantes, num
total de quinze loteamentos, como observamos na figura 15 logo mais a
seguir, a qual evidencia a evolução urbana de Ituiutaba desde 1950.
107

Tabela 14 - Ituiutaba/MG: denominação dos bairros constantes no Plano


Diretor Físico de 1970.

Data de Data de
Bairros Bairros
Aprovação Aprovação

Vila Platina 30/11/1943 Vila Gardênia 18/12/1959

Vila Tupã 19/06/1952 Vila São José 21/06/1960

Vila Santa Maria 16/10/1958 B. Nossa Sra. Aparecida 26/12/1960

Vila Santo Antônio 23/12/1952 Vila Elândia 16/13/1961

Vila Progresso 1953 Vila Ribeiro 23/09/1961

Vila Cristina 07/07/1953 Vila Guimarães 19/12/1962

Vila Tiradentes 07/07/1953 Satélite Andradina 21/11/1963

Vila Maria Vilela 22/07/1953 B. Pirapitinga 10/08/1964

Vila Marta Helena 10/11/1953 B. Camargo 17/05/1967

Bairro Independência 30/03/1954 Vila Novo Mundo 01/06/1967

Vila Hélio 02/04/1954 B. Paranayba 01/06/1967

B. Bela Vista 21/05/1954 Vila Brasil 02/05/1968

B. Alcides Junqueira 22/10/1954 Jardim do Rosário 15/08/1968

B. Novo Horizonte 19/04/1955 Vila Capão da Lagoa -

Bairro Central 31/10/1958

Fonte : Plano Diretor Físico do Município de Ituiutaba, 1972. Prefeitura Municipal de


Ituiutaba. Secretaria de Planejamento. Cartório de I e II Registro de Imóveis de
Ituiutaba, 2002. Org.: OLIVEIRA, B. S., Jul./2002.

A década de 1960 também teve uma abertura relevante de


loteamentos, somando um total de doze, com isso, havia espaços
disponíveis para habitação futura dos migrantes rurais. Após a década de
1970, novos loteamentos foram abertos, incluindo a construção de
conjuntos habitacionais da COHAB e outras construtoras.

Mediante a tabela 15, podemos averiguar que os conjuntos projetados


não representam o grande montante das edificações da cidade, pois foram
poucas as casas construídas, salvo alguns conjuntos mais extensos.
108

Tabela 15 - Ituiutaba/MG: conjuntos habitacionais e construtoras


responsáveis pela obra, 1950 a 2000.

N o aproximado Ano de
L ocalização Construtoras
casas/apto. construção

B. Natal 70 casas SERFHAU 1957

B. Ipiranga 300 casas COHAB 1967

Setor Sul 60 aptos CONSTRUTIL 1974

Setor Sul 85 casas Coop. Habit. Tijucana 1975

Setor Sul – B. Progresso 08 casas CONSTRUTIL 1976

Setor Sul 70 casas CONSTRUTIL 1977

B. São José – I etapa 20 casas CONSTRUTIL 1977

Maria Vilela 07 casas CONSTRUTIL 1977

B. alvorada 282 casas Coop. Hab. de Ituiutaba e 1977


INOCOOP

São José (II etapa) 28 casas CONSTRUTIL 1978

Sol Nascente 300 casas SEULAR 1980

São José (III etapa) 07 casas CONSTRUTIL 1982

B. Marta Helena 06 casas SEULAR 1982

Sol Nascente 30 casas SEULAR 1982

B. Eldorado 154 casas COMPREL 1991

Lagoa Azul 89 casas SEULAR 1991

Lagoa Azul II 195 casas Const. Ferreira Lima 1990

Novo tempo II 496 casas Const. Guimarães Castro 1990

Vila Elândia 47 cassas Prolar Prominas Const. 1991

Lagoa Azul 07 casas SEULAR 1991

B. Jerônimo Mendonça 90 casas PROLAR 1991

Fonte : FERREIRA, J. Secretaria de Planejamento, Prefeitura Municipal de Ituiutaba,


2002. Org .: OLIVEIRA, B. S., Maio/2002.
109

Na segunda metade da década de 1950 e de 1960 houve a construção


de conjuntos habitacionais, cujo número de habitação foi relevante; no
entanto, nossa atenção volta-se para a segunda metade da década de 1970,
início de 1980, cujo volume e intensidade das construções foram maiores.

Durante a década de 1980, as construções se arrefeceram à reflexo da


economia nacional, voltando à ativa somente na década de 1990. A figura
14 evidencia a espacialização dos conjuntos habitacionais em Ituiutaba
durante o período de 1950 a 2000.

O mesmo fato ocorreu com os loteamentos pós-1970, cuja intensidade


de abertura e regularização foi menor em relação a 1950/60, como nos
indica a figura 13.

Figura 13
Fonte : Secretaria de Planejamento, Prefeitura Municipal de Ituiutaba, Out. 2002. Org.:
OLIVEIRA, B. S., 2002.

Em 1970, foram abertos seis novos loteamentos e oito regularizações


foram feitas; nas décadas seguintes (1980/90), o número de loteamentos
reduziu-se para cinco, havendo regularização de mais dois bairros; “Mirim”
em 20/09/1996 e Esperança em 15/04/1997.
110

Figura 14 – Ituiutaba/MG: conjuntos habitacionais construídos entre as


décadas de 1950 a 1990
111

Dos vinte e nove bairros abertos até a década de 1970 e regularizados


mediante a Lei de Abairramento 3 2 , somente outros dezesseis novos
loteamentos foram abertos e regularizados até 2002, como evidencia a
tabela 16.

Tabela 16 - Ituiutaba/MG: loteamentos abertos e regularizados após 1970.

Data de Data de
Bairros Bairros
Aprovação Aprovação

Cidade 1901 Santa Edwirges 10/08/1987

Setor Norte 1953 Lagoa Azul I 10/08/1987

Setor Sul 1953 Eldorado 14/01/1988

Natal 1953 Morada do sol 14/09/1989

Setor Industrial Norte 31/05/1973 Novo Tempo II 01/08/1990

Carvalho 15/12/1975 Jerônimo Mendonça 12/12/1990

Setor Universitário 14/11/1978 Lagoa Azul II 19/07/1991

Ipiranga 14/11/1978 Jardim Jamila 08/08/1991

Alvorada 1978 Resid. Monte Verde 27/05/1995

Sol Nascente 10/09/1979 Mirim (Regulariz.) 20/091996

Distrito Industrial 11/09/1985 Esperança (Regulariz.) 15/04/1997

Fonte : Secretaria de Planejamento, Prefeitura Municipal de Ituiutaba, Out./2002. Or g.:


OLIVEIRA, B. S., 2002.

Com exceção do bairro “Cidade”, que foi o núcleo central onde


surgiu Ituiutaba, e, que portanto, não tem uma data de origem definida, os
demais bairros, Natal, Setores Norte e Sul, foram criados na década de
1950.

32
O abairramento passou a ocorrer após 1970 com a aprovação da Lei Municipal N o
1362/1970, em que ocorreu a regularização pela prefeitura, de todos os loteamentos
abertos irregularmente em Ituiutaba.
112

Frente ao exposto, percebemos que a evolução urbana de Ituiutaba


esteve mais intensa entre as décadas de 1950/60, evidenciando a dinâmica
comercial e social da cidade, mantendo-se com mais moderação nas décadas
posteriores.

A figura 15 evidencia a intensidade de loteamentos abertos pós 1940


a 2000 em Ituiutaba. Por ela, temos a noção da configuração que a cidade
ganhou ao longo de cinco décadas (1950-2000).

A massa recém-chegada em Ituiutaba foi direcionando-se para os


loteamentos abertos entre as décadas de 1970/80 e para os espaços vagos,
presentes nos loteamentos mais antigos da cidade, tais como os bairros
Junqueira e Natal.

Segundo Duarte (2001, p. 54), nos bairros que circundam a cidade,


predominam pessoas originárias do meio rural e, nas regiões centrais ou
próximas ao centro, além daquelas famílias que compõem a elite agrária,
fixaram-se componentes da camada média, “(...) como os profissionais
liberais, os comerciantes, os profissionais do ensino e os funcionários
públicos tecnicamente melhor qualificados”.

A introdução desses migrantes rurais na periferia contribuiu para que


as “vilas”, após 1970, fossem recebendo infra-estrutura adequada pelo setor
público, mediante reivindicações da população.

O asfaltamento dessas vilas teve início em meados da década de


1980, a maior parte na gestão do ex-prefeito Romel Anízio, que calçou as
ruas com 900.000 m 2 de asfalto, e que, segundo críticos, foram ações em
função do urbano, mas que geraram muitas dívidas para os cofres públicos
municipais, restando um grande saldo negativo aos prefeitos posteriores.

Contudo, ações públicas para modernizar e equipar a cidade vieram


ocorrendo de forma gradual nas últimas duas décadas do século XX;
ampliou-se o número de estabelecimentos comerciais, bancários, escolares
e hospitalares; criaram-se novos cursos superiores; novos equipamentos
urbanos (praças, postos de saúde, área de lazer, creches); além de melhorar
e/ou estender serviços de água e esgoto aos bairros.
113

Figura 15 – Ituiutaba/MG: evolução urbana entre as décadas de 1940 a


1990
114

No final da década de 1980 e meados de 1990, Ituiutaba apresentava-


se com 98% de sua água tratada e 96% de rede de esgoto instalada.
Finalmente, no final da década de 1990, foi criado e ERPAI (Estação de
Recuperação Ambiental de Ituiutaba) na gestão do Prefeito Públio Chaves
(PMDB/PDT/PSB).

Essas estruturas, ocorridas ao longo dos anos, têm resultado uma


nova imagem para a cidade, em que a qualidade de vida tem se destacado.

3.3.2 – A verticalização da “cidade do campo”

“Cidade do campo” é um termo muito utilizado por Santos (1996) ao


se referir às Cidades locais 3 3 ; que são definidas não por seu tamanho
populacional, mas por sua função em atender ao campo e seu entorno com
equipamentos e serviços básicos.

Ituiutaba caracteriza-se como uma cidade média pelo porte


demográfico, serviços disponíveis e qualidade de vida que oferece, contudo
sua grande ligação econômica é com o setor de agronegócios, cuja
contribuição com o PIB municipal é de 73%, de acordo com a Prefeitura
Municipal de Ituiutaba (2002).

A cidade possui um “cordão umbilical” com o campo e a


agroindústria de carnes e leite, tendo em vista as características da elite
que compõe a política local, o comércio e os serviços, o modo de ser e agir
da população, principalmente as periféricas, cujas manifestações culturais e
de lazer revelam tradições e costumes do campo. Esses aspectos podem
identificar Ituiutaba como uma cidade do campo.

Ficou materializado no país, durante a década de 1990, um período


rico e intenso em tecnologia, robótica, genética, além do desenvolvimento
da internet, tv a cabo, celular e tantas outras inovações, toda essa

33
Tema que será abordado no capítulo 4.
115

tecnologia chegou ao campo, gerando uma nova “roupagem” para o “mundo


caipira”; era a modernidade chegando !

Comparando-se a outros tempos, já na década de 1960, a construção


de edifícios, revelava, no urbano, tudo de mais moderno para a época, no
país, além dos carros, do asfalto, do cinema, entre outros.

Aquilo que é considerado moderno num tempo também envelhece, e


perde seu valor; é a presença do Meio tecnológico em nosso espaço, criando
novidades e rugosidades.

Em Ituiutaba, a cidade que se voltou para o campo apresenta uma


área central bastante delimitada, cujo comércio e os edifícios concentram-
se entre as ruas 18 e 26 e as avenidas 19 e 7 (figura 16). Nelas, há edifícios
de vários andares, contrastando com a imagem de uma cidade pacata e
tranqüila (figura 18).

Os empreendedores imobiliários iniciaram sua atuação no solo urbano


de Ituiutaba tão logo ela recebera o título de “Capital do Arroz”, na década
de 1950.

Durante 1950 e 1960, o objetivo principal dos empreendedores


imobiliários estava ligado à abertura de loteamentos e não à construção
verticalizada.

A sociedade da época era muito simples, cuja raiz estava intimamente


ligada ao rural – o quintal era extensão da casa, portanto fundamental para
as relações familiares e de vizinhança, para a existência da horta e do
pomar.

Sendo assim, o edifício, sinônimo de modernidade, poder e luxo nos


grandes centros, foi um modo que não foi incorporado à cidade pequena.
Isso em função de diversos fatores, tais como a dinâmica rural
local/regional que predomina, a disponibilidade de grandes espaços na
cidade, a pouca disputa por solo, além dos custos elevados com o
empreendimento.
116

Figura 16 – Ituiutaba/MG: verticalização com três ou mais andares, 2002


117

Somente após 1970, como evidencia a figura 17, foi que os


empreendedores voltaram sua atenção para esse tipo de construção, no caso
de Ituiutaba.

Figura 17
Fonte : Pesquisa de campo. Out./2002. Org.: OLIVEIRA, B. S, 2002.

Durante a década de 1970, dez edifícios foram erguidos, contendo, na


sua maioria, 10 a 14 andares. Na década seguinte, reduziu-se o número de
loteamentos urbanos, e investiu-se, cada vez mais, na construção em
alvenaria, mediante novos edifícios e conjuntos habitacionais. Em 1990, a
atuação dos agentes imobiliários enfraqueceu, os edifícios erguidos
somavam apenas um total de seis, abrigando a elite local, o que evidencia o
arrefecimento urbano local.

Com o processo de verticalização, criou-se em Ituiutaba uma


“aparência” de cidade grande do interior, remodelando suas formas;
contudo, o conteúdo social ligado ao campo, permaneceu. A figura 18
ilustra o resultado da ação dos agentes imobiliários na cidade, no fim dos
anos de 1990.
118
119

3.3.3 - As manifestações do campo

Chamam-nos a atenção as resistências encontradas no PTCI pois as


mudanças impostas pela globalização, nem sempre, são incorporados no
mesmo “tempo” pelas sociedades. Suas raízes, suas culturas, suas tradições,
transferidas de geração para geração, por mais que se percam, ainda se
transfiguram como resistências, principalmente nas cidades do interior do
país, como Ituiutaba.

A presença da camionete do ano e do cartão de crédito não substituiu


por completo o costume do fogão de lenha, as conversas de fim de tarde, a
horta no fundo do quintal, as rezas e benzeções. São manifestações do rural
presentes na cidade, especialmente nas periferias.

Segundo Duarte (2001), o homem migrante do campo trouxe uma


história cultural com ele, são as predileções pelas manifestações do
cultural, da crença, das festas, do informal.

A presença de ícones modernos na cidade do campo, como o edifício,


surge como mais um fator limitante entre a elite e a população; uma
distância a mais entre dois mundos tão interligados; o edifício simboliza o
“capital”, o “poder”; a periferia simboliza a “pobreza”, o “caipira”; as
moças são “etiquetadas” pela localização de sua moradia – são as “moças
da vila”; são as “moças do centro”, cuja conotação traz um conteúdo de
preconceito.

São características culturais mescladas de elementos urbanos e rurais.


Duarte (2001, p. 11) afirma que hábitos sócio-culturais típicos do campo
são freqüentes na cidade; tais como “camionetas trafegando ao lado de
carroças; casas situadas em bairros nobres (...) têm o gramado (...) visitado
por bois e galinhas”.

Nos bairros de periferia, os costumes rurais são mais intensos: a


calçada ganha função de horta; nas ruas, as pessoas transitam com a mesma
tranqüilidade de quem caminha por trilhas; as drogas farmacêuticas são
substituídas pelas ervas medicinais ensinadas pela sabedoria popular; as
120

festas religiosas, tais como folia de reis, festa junina, terços (“quarto de
Santa Luzia”), novenas, benzições, também fazem parte do cotidiano desse
povo.

Como vemos, resistências do tradicional em contradição/harmonia


com o moderno, com os costumes que são criados pelas novas gerações e
pela mídia.

A convivência “pacífica” entre o urbano e o rural evidencia uma


cidade um tanto “paralisada” em relação às décadas de 1950/60; uma
pequena cidade que movimentara, naquele momento, um intenso fluxo de
dinheiro e de pessoas.

A cidade cresceu demograficamente; estruturou-se, possui um setor


agro-industrial relevante para a Microrregião; mas, aos olhos do antigo
morador, ou do visitante, vê-se uma cidade cujas funções arrefeceram-se;
onde acabaram as fases de safras e entressafras e o dinheiro sumiu. O
cinema fechou e os bailes diminuíram; pergunta-se pela sociedade Tijucana
dos anos de 1950... Da cidade dinâmica; o que poderia ter causado esse
arrefecimento?

3.4 - A “cidade dos sonhos” adormecida

A mudança de atividade em Ituiutaba gerou muitos impactos no


urbano, sentidos a partir do final dos anos de 1970 e ao longo de toda a
década de 1980.

A cidade passou a movimentar outro fluxo populacional em relação a


década de 1950, de origem do campo e não mais diretamente de retirantes
nordestinos, de paulistas e de mineiros.

A onda do algodão, na década de 1960, paralela ao arroz e ao milho,


em muito contribuiu para a saída desse fluxo rural, visto que as lavouras
desse produto, caracterizava-se como “solteiras”, ou seja, exclusivas e
empresariais, sem a função de meeiros, dispensava mão-de-obra e exigia
121

insumos modernos, sob pena de perda de produtividade e de qualidade do


produto, por meio do uso de novas tecnologias na agricultura regional.

Diante disso, aumentava o êxodo rural e surgia uma nova categoria de


trabalhadores, os “bóias-frias”.

Se ainda havia sonhadores distantes em busca de realizações, estes


sentiram o choque do desenvolvimento em Ituiutaba. O desemprego rural
também foi causa/conseqüência do desemprego urbano. Com isso, a cidade
viu crescer suas áreas periféricas, sem poder oferecer, a curto prazo, as
infra-estruturas necessárias.

Ituiutaba não estava apta para receber tamanho fluxo populacional.


Em 1960, a população urbana era pouco mais de 30.000 habitantes, saltando
para 65.000 em 1980, ou seja, em 20 anos, a população urbana dobrou, em
contrapartida, a população rural reduziu de 35.500 (1960) para 9.000, em
1980. Uma redução de aproximadamente 75%, como pode ser verificado na
tabela 17.

Tabela 17 - Ituiutaba/MG: população rural/urbana e taxa de crescimento


populacional no período de 1970 a 2000.

Evolução Evolução Evolução


1970 1980 1991 2000
1970/80 1980/91 1991/2000
Urbana
46.784 65.153 78.205 83.589

Rural 17.444 9.094 17 % 6.372 11% 5.234 5%

Total 64.228 74.247 84.577 88.823

Fonte: IBGE Ituiutaba, 1970-2000. SOARES, B. R. et al. A importância econômica


das cidades médias do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba . 2000. Projeto de
pesquisa - Fapemig. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia. 2000. (CD ROOM
– Banco de dados). Org.: OLIVEIRA, B. S., 2002.

O declínio da rizicultura afetara a setor econômico urbano, e, com


isso, inúmeras fábricas e empresas fecharam suas portas. O dinheiro que
“corria” na cidade foi se tornando minguado e a cidade dinâmica, ao
poucos, viu-se paralisada. A atividade da pecuária e a instalação da Nestlé
122

vieram vigorar os diversos setores em baixa na cidade e, ao longo de


1980/90, têm criado novas expectativas na população urbana.

Contudo, nem todos concordam que a cidade voltou a seu dinamismo


do passado. Moradores, políticos e viajantes, cada qual tem sua opinião,
mas a que prevalece, é a idéia de que Ituiutaba teve uma moderação na sua
economia bem como no aspecto social.

Certamente que é relativo esse “arrefecimento”. Não se trata de um


município que não consegue gerar ICMS industrial, ou cuja população
esteja totalmente desempregada ou mesmo que a cidade não tenha recursos
para melhorar sua infra-estrutura básica.

Pelo contrário, Ituiutaba recebeu em sua prefeitura, no decorrer da


década de 1990, prefeitos preocupados com o “social”, e que buscaram
produzir um urbano melhor equipado com água tratada e encanada, luz
elétrica, asfaltamento, transporte coletivo, esgoto e melhor atendimento
hospitalar e educacional.

Também há um setor industrial capaz de gerar capital para o


município, ligado ao setor leiteiro e de carnes, como a Nestlé, o Laticínio
Canto de Minas, ou mesmo o Frigorífico Bertin que geram ICMS e
empregos.

Mas, então, a que arrefecimento as pessoas referem-se?

Ituiutaba é considerada, pelos seus 88.823 habitantes (Censo 2000),


como tendo boa infra-estrutura e IDH de 0,81, uma cidade média, capaz de
atender às cidades vizinhas com serviços e equipamentos urbanos. Em
1994, ficou em 3 o lugar em arrecadação de tributos estaduais no Triângulo
Mineiro, perdendo para Uberlândia e Uberaba (SEBRAE, 1995). Possui,
ainda, instituições de ensino superior e algumas empresas de grande porte.

Diante disso, as pessoas se questionam, onde está o movimento de


pessoas como foi no passado? Que deixavam as calçadas e o comércio
“vivos”, cheios de gente, caminhando, consumindo, grupos conversando,
cinema cheio...Onde estão os jovens? Onde está o dinheiro que corria no
comércio e no bolso dos moradores? E no mais, o que gerou esse
123

“desânimo” sócio-econômico ? Essa realidade passou a se vista, mais


intensamente, a partir da década de 1980.

Nessa fase, o dinheiro, que “corria” na cidade, tornou-se minguado.


Reflexo da situação sócio-econômica que o país tem vivido nos últimos 20
anos, em que o salário foi achatado e a inflação invisível aos olhos dos
economistas do governo, tem tirado o direito de consumo dos cidadãos; em
que a tecnologia tem avançado sobre a vaga de emprego de pais de família
e a casa própria tem se tornado o sonho utópico de tantos brasileiros, cuja
renda mínima impede sua realização.

São muitos os exemplos da crítica situação sócio-econômica


brasileira das últimas décadas que têm contribuído diretamente para o
“sumiço” do nosso dinheiro.

O censo 2000, registrou em Ituiutaba, uma concentração populacional


de 33,85% na faixa etária acima de 40 anos, revelando uma população
jovem em sua maioria. Contudo, ao contrário do que a informação
evidencia, nos deparamos com uma cidade em que a ausência de jovens
pelas ruas e avenidas é visível.

Isso não quer dizer que eles não estejam lá; na verdade, há uma parte
que se tornou pendular, vão estudar ou trabalhar em cidades próximas e
retornam nos fins de semana ou nas férias, a outra parte fica dispersa pela
cidade. Todavia, não há “points” que concentram essa massa jovem, nem a
presença deles pelas calçadas e ônibus da cidade. O desânimo e a falta de
emprego e de melhores oportunidades têm levado jovens a migrar de
Ituiutaba em busca de boas condições de vida.

Diante disso, percebemos que, se no passado a cidade atraia


sonhadores, anos futuros, estaria exportando aqueles que têm mais sede de
estabilidade financeira. A tabela 17 evidencia essa situação, após 1970 a
cidade tem sentido uma redução na sua taxa de crescimento. Contudo nos
questionamos, quais outros fatores têm contribuído para esse arrefecimento,
sejam eles ligados ao contexto local ou geral e que serão analisados a
seguir.
124

Fatores localizacionais

Os meios de comunicação local e muitos políticos ainda vêem a


localização do município como estratégica, e, portanto, não sendo um fator
que levasse a cidade ao arrefecimento.

No entanto, sabemos que, aos olhos estratégicos de uma grande


empresa, não basta matéria-prima e mão-de-obra barata disponível. É
relevante um acordo fiscal e um espaço infra-estruturado para a instalação
dessa empresa, o que Ituiutaba certamente dispõe.

Ainda é de fundamental importância a presença de estruturas fixas


para o escoamento, tais como rodovias, aeroporto e mesmo galpões de
armazenamento. Estruturas de que a cidade também dispõe.

E com relação à localização? Numa visão estratégica, realizada num


outro momento histórico (1950/60), para um bom planejamento, certamente
que a cidade apresentava-se bem situada nacionalmente.

Distancia-se a 630 Km da capital estadual, Belo Horizonte; 700 Km


da capital econômica, São Paulo; 530 Km da capital federal, Brasília; 350
Km de Goiânia-GO e 130 Km de Uberlândia-MG.

Está situada a 120 Km de São Simão-GO, entrada de Goiás, sendo


caminho para aqueles que vinham de outras cidades de Minas ou São Paulo
pela BR 365, com rota à GO desde meados de 1970 até final da década de
1980.

A partir desse período, quando foi asfaltada a BR 452 ligando a BR


365 (próximo a Uberlândia) à Itumbiara-GO, o fluxo do trânsito
direcionado para Goiás, via São Simão ou Canápolis, foi desviado por esse
caminho, sem haver a necessidade de ter que passar por Ituiutaba, como
pode ser averiguado na figura 1.

Diante disso, o fluxo que passava por Ituiutaba, via BR 365 – São
Simão, reduziu visivelmente. Caminhoneiros que querem ir a GO têm a
opção de seguir direto pela rodovia 153 (São Paulo – MG – GO), passando
125

pelo Trevão (trevo que faz intersecção das BR 153 e 365), ou pela BR 452,
ou ainda seguindo por Catalão-GO, com a vantagem de rodar em rodovias
mais conservadas.

Nesse sentido, a localização de Ituiutaba perde parte de sua


importância “localizacional”. A ausência de rodovias estratégias torna-se
mais um fator de peso, e, numa disputa municipal, certamente que fatores
com esses são relevantes para o desenvolvimento regional/local.

Crise nacional dos anos de 1980

Sabemos que o “desânimo” sócio-econômico de Ituiutaba (e sua


Microrregião) deu-se por várias instâncias de nível local e estadual e
consideramos a crise nacional da década de 1980 também como mais um
fator que contribuiu, ainda que indiretamente, para tal situação.

O Milagre Brasileiro ocorrido entre 1967-73 revelou a potência


brasileira aberta à industrialização e as altas taxas se PIB confirmaram a
importância econômica que o país viveu.

Com a eclosão da Crise internacional do petróleo, em 1973, o período


áureo nacional foi freado, desregulando a economia nos anos seguintes.

A década de 1980 resultou num período extremamente tumultuado,


em função da presença de uma inflação desordenada e “galopante”, o PIB
estagnado, as crises financeiras e, ainda, a abertura da economia em 1990.

Diversos planos foram criados como intento de controlar a inflação,


mas, por falta de controle político, monetário e fiscal, o fracasso tomou
conta da situação. Entre eles, destaca-se o Plano Cruzado de 1986, Plano
Bresser de 1987, Plano Verão de 1989 e outros pós-1990.

Mesmo ao longo dos anos de 1990, a instabilidade econômica se fez


presente, com a diferença de que o Plano Real, durante seu primeiro
quadriênio (1994-98), manteve uma relativa estabilidade nacional.
126

Diante desse quadro, percebemos que tal situação de crise afetou o


crescimento econômico geral; Minas Gerais atravessou sua melhor fase na
década de 1970 (Milagre Mineiro), contudo, durante a “década perdida”
(1980), a estagnação foi generalizada, e o estado, bem como Ituiutaba não
fugiram à regra.

O país “repulsava” os investidores internacionais por apresentar-se


instável, e mesmo os empresários locais estavam amedrontados em realizar
novos investimentos. Como vemos, foi uma fase em que houve um
arrefecimento econômico geral no país, contribuindo, portanto, com a
mesma situação em nível regional/local.

Fim das entressafras

O período de safras (agricultura/leite) sempre foi o período em que


entrava muito dinheiro na cidade, segundo Sr. Manuel Junqueira Vilela,
contudo a tecnologia fez com que se tivesse (no caso da pecuária) boi gordo
a qualquer época do ano, mediante os confinamentos, e, com isso, não havia
uma visão do fluxo de capital girando com maior ou menor intensidade no
município.

Falência do setor rizícola

O declínio do arroz “quebrou” muitos setores que o tinham como


suporte, principalmente as beneficiadoras do produto. Com a falência
destas, reduziu-se progressivamente, também, o fluxo de caminhões e
trabalhadores que movimentavam esse setor; assim, ficou um “vazio” para
os moradores que se haviam acostumado a assistir às cenas diárias, durante
anos, daquele movimento.
127

Política “bairrista”

Uma característica relevante em Ituiutaba é o próprio setor político.


Este, desde suas origens, sempre foi determinado por uma elite agrária, que
governa conforme seus interesses locais.

Segundo Duarte (2001), Ituiutaba é tradicionalmente comandada por


dois grandes grupos políticos, formados originalmente pelo ARENA e o
MDB (atual PMDB), este último manteve-se no poder durante toda a década
de 1970 até 1982; saiu do poder cedendo espaço para o PDS (oposição), que
era uma das facções do ARENA (PDS, PFL, PPB, PTB), a troca ocorreu em
1996, quando a PMDB retornou ao governo local.

São grupos partidários que não diferem essencialmente no que é


relativo a projetos político-ideológicos, à forma de administrar e até mesmo
às estratégias eleitorais.

A representação na Câmara Federal tem sido restrita. Em 1990 foram


eleitos dois representantes que integravam o mesmo grupo político, oriundo
do ARENA/PDS. Um deles tem se mantido no poder já há algumas
sucessivas eleições, e tem se constituído numa liderança cujas funções
mesclam entre o “populismo e o coronelismo”. (DUARTE, 2001).

A discussão para Ituiutaba ocorreu em função desta questão: não


existe um interesse maior desse grupo político em dinamizar a cidade, em
desenvolver projetos que visem ao “progresso” e ao “desenvolvimento
urbano-industrial” local.

Várias cidades de Goiás, tais como Catalão e Rio Verde, foram


beneficiadas pela agroindústria. Para isso ocorrer, foi travada uma “guerra
política” com o setor privado, em que o poder político federal/municipal
precisou oferecer vantagens fiscais e estruturais para o assentamento da
empresa, apresentando características espaciais, localizacionais e
estratégicas.

Duarte (2001, p. 121), como moradora da cidade, faz uma reflexão


sobre o assunto, para ela, “tais grupos têm se limitado, quando no poder, ao
128

continuísmo administrativo, não demonstrando interesses ou ação que


visem ao desenvolvimento do parque industrial ou do setor de serviços”,
contentando-se com pequenas obras políticas.

A visão que prevalece, na escala municipal e federal, é a de que


Ituiutaba é uma cidade tranqüila para se criarem filhos e netos, por isso,
não há motivo para trazer o “desenvolvimento local”, se ele significa
“insegurança, violência, crime”. O importante, como afirma Sr. Manuel
Junqueira Vilela, é a qualidade de vida, e boa qualidade de vida tem aqui,
agora o desemprego também tem aqui, mas tem em todo lugar . (Informação
verbal).

Percebemos que, se existem fatores espaciais, estratégicos e


estruturais, também o papel da política é de fundamental importância para
que o município venha a crescer economicamente mediante uma
diversificação de atividades.

Proximidades de grandes centros

É preciso considerar a proximidade de centros como Uberlândia e


mesmo Goiânia, particularmente, o primeiro que, até a década de 1970, não
era cidade que se destacava no cenário estadual, mas que, a partir desse
período, tornou-se centro atrativo de mão de obra regional.

Destacamos Uberlândia por sua proximidade maior com Ituiutaba,


tendo em vista sua inserção no mercado nacional pós-1970, mediante o
desenvolvimento de empresas atacadistas (Martins/Arcom/Peixoto),
multinacionais (Souza Cruz, Nestlé, Coca-Cola, Cargil, Daiwa) e outras que
formam um complexo agroindustrial (Rezende Alimentos, que se tornou
Sadia, Reimassas, Algar).

Uberlândia passou a gerar uma ilusão de cidade do futuro, onde há


chances para todos, a exemplo de Ituiutaba nos anos de 1950.
Paulatinamente, um fluxo regional expressivo de pessoas de Ituiutaba foi se
129

dirigindo para esse centro, ou seja, Tijucanos com sede de vida e de


trabalho, principalmente, os jovens.

Foi justamente a estratégia localizacional de Uberlândia e sua força


política que reuniram para si características que foram responsáveis pelo
desenvolvimento urbano e econômico-industrial, além do “inchamento” de
periferias num curto período de três décadas (1970/90), cuja população
urbana saltou de 111.000 para 231.000 e 358.000 respectivamente.
(>www.almg.gov.br<).

A presença de um grande centro tão próximo, espacialmente e com


vantagens localizacionais, econômicas e fiscais, exige no mínimo que
Ituiutaba venha a ter um corpo político mais atuante e presente para esses
assuntos, cuja visão de desenvolvimento esteja menos ligada aos limites
territoriais de suas fazendas.

3.5 – O arrefecimento da “Cidade modelo”

Como foi exposto anteriormente, o “arrefecimento” Tijucano é visto


de forma relativa. Em entrevista realizada com o Sr. Manuel Junqueira
Vilela, Secretário de Abastecimento da Prefeitura Municipal (2002) e Sr.
Carlos André, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Ituiutaba
(2002), verificamos que ambos possuem pontos de vista diferentes, com
relação ao desenvolvimento da cidade. Na visão do Sr. Carlos André,
ocorre uma certa estagnação em Ituiutaba, em relação a outras cidades
próximas:

Eu morei quatro anos em Rio Verde-GO. Fui pra lá em 1984, saí


no final de 1988; eu vi aquela cidade crescer assustadoramente
naquela época. Eu voltei lá em 90 e 92 e vi novamente uma
grande diferença e a gente não nota realmente toda essa
expansão, esse crescimento dentro de Ituiutaba. É lógico que
Ituiutaba melhorou, tem hoje mais condições, mais infra-
estruturas, isso a agente não pode negar; é uma das poucas
cidades na questão de saneamento básico, tem seus lados
positivos. Mas a questão de mercado, a questão econômica, a
gente vê que fica a desejar por exemplos muitos próximos daqui
que a gente tem. (Informação verbal)
130

Para Sr. Manuel Junqueira Vilela, se o progresso da cidade diminuiu


ou se a cidade “paralisou” trata-se de um assunto discutível. Na sua
opinião, Ituiutaba não está “estagnada”, afinal 73% do PIB vêm do
agronegócio.

A cidade tem uma diversificação muito grande sobre cereais,


soja, milho, mas tem também o gado, o leite, veio a Nestlé pra
cá, então está bastante diversificado. Agora, ainda falta muita
coisa a ser feita, melhoria de produtividade. A cultura irrigada
já está tendo aqui, também o Banco da Terra, uma volta ao
campo. (Informação verbal)

Sua visão está voltada para o lado econômico da cidade, em que


percebe uma dinâmica interna, considerando os agentes existentes. Por
outro lado, Sr. Carlos André analisa o crescimento demográfico e
econômico em função da dinâmica populacional e industrial e conclui que o
crescimento da cidade tem ocorrido, contudo, com uma taxa reduzida e
lenta.

O setor industrial de Ituiutaba, apesar de restrito, tem grande


relevância para o município. Nos dias atuais, pela tecnologia empregada, a
mão-de-obra tem reduzido muito, porém ainda continua sendo fonte de
recursos mediante os impostos gerados, além de incentivar o sistema
produtivo local/regional, criando elos com fornecedores e consumidores e
gerando mão-de-obra indireta.

Do ponto de vista econômico, a cidade de Ituiutaba não está


realmente estagnada. Certamente esse não é o termo mais correto para nos
referirmos à desaceleração da sócio-econômica local. Por isso, referimo-nos
a ela com uma visão de arrefecimento de suas atividades em relação às
décadas de 1950 a 1970.

Em nenhum momento, a economia ou a população paralisou seu


crescimento; porém, a reflexo da economia do país, sempre instável,
Ituiutaba perde parte de seus dinamismo de outrora. A título de exemplo da
economia Tijucana, verificamos que o PIB (Produto Interno Bruto) tem
131

apresentado um crescimento relativo nas décadas de 1980, 1990 e 2000


conforme nos evidencia a tabela 18.

Tabela 18 - Ituiutaba/MG: produto Interno Bruto de 1985 a 1995 (a preços


constantes de 1995 – R$ 1.000,00).

1985 1990 1995


Ituiutaba
204.332,00 192.314,00 210.664,00

Triângulo
Mineiro/Alto 2.807.970,00 3.279.626,00 4.026.904,00
Paranaíba

MG 37.505.202,00 41.115.255,00 47.759.275,00

Fonte : Prefeitura Municipal de Ituiutaba. Fundação João Pinheiro. Elab. Cepes,


UFU, 2002. Org.: OLIVEIRA, B. S., Out./2003.

Entre as décadas de 1980 e 1990, o PIB de Ituiutaba não ganhou


grandes proporções, chegando a reduzir em 1990 e depois crescer
novamente, dobrando em 2000, no total de R$ 450.000,00. Isso ocorreu em
parte, em função da “estabilidade” que o país vivenciou entre 1994-98,
quando a moeda nacional, o “Real”, chegou a ultrapassar o valor do dólar
no mercado internacional, incentivando a economia nacional e dando mais
suporte aos pequenos e microempresários. Também nesse período, a cidade
recebeu uma nova empresa, processadora de milho híbrido, a Syngenta
Seeds, o que deu novo impulso à economia local.

O ICMS, que, em 1998, era de R$ 13.798.062,00, cresceu para R$


18.031.716,00 em 2001 (Cepes/UFU, 2002), um aumento de quase 40% em
três anos. As atividades que mais arrecadam estão ligadas ao setor de leite
e derivados, com uma fatia de 43,36%, em segundo está o comércio, cuja
arrecadação está em torno de 29,62% e a indústria em terceiro lugar, com
10,89%. (Receita Estadual de Ituiutaba, 2002).

Como percebemos, a Nestlé e demais laticínios, além dos frigoríficos,


têm um peso importante para a economia local, elevando a atividade da
pecuária na região. Segundo informações da Receita Estadual, as dez (10)
empresas que mais arrecadam no município, são: - Nestlé Brasil Ltda;
132

Syngenta Seeds Ltda; Frigorífico Bertin Ltda; Uberlândia Refrescos Ltda;


Magazine Luiza S/A; Alisa Algodoeira Líder Ltda; Arthur Lundgren
Tecidos S/A; Cooperativa Agropecuária do Pontal Ltda; Laticínios Canto de
Minas Ltda e Autoclã Ltda.

Juntas, essas empresas representam 71,96% do total de ICMS


arrecadado, além da maior parte delas estarem ligadas ao setor da
agroindústria.

É relevante considerar que a pecuária de corte é bastante


representativa para o município, bem como para a região do Triângulo
Mineiro/Alto Paranaíba. Segundo informações de Duarte (2001), o
Frigorífico Bertin, instalado em Ituiutaba, destaca-se como um dos maiores
frigoríficos do país, responsável por 47% da carne exportada.

Quanto à pecuária leiteira, a fábrica de leite em pó da Nestlé e o


Laticínio Canto de Minas projetam-se regionalmente pela capacidade de
processamento que possuem.

O panorama sobre a economia local revela um município que não está


estagnado como defendem alguns setores. Com relação à infra-estrutura,
políticos, escritores, moradores e leigos, afirmam que a cidade melhorou
muito na década de 1990.

Representando o saneamento básico, a SAE (Superintendência de


Água e Esgoto), de autarquia municipal, modernizou sua fonte de captação
de tratamento de água, elevando para 400 l/seg., assegurando água potável
para 99% da população e esgoto tratado para 95%.

No que diz respeito a energia elétrica, a CEMIG também atende a


99% da população municipal, conforme informações da Prefeitura
Municipal.

O atendimento nas áreas da saúde, educação (fundamental, médio e


superior) e transportes coletivos urbanos e intermunicipais, também é
satisfatório, revelando “uma qualidade de vida” que é defendida por todos.
No período de 1970 a 2000, a taxa de crescimento de Ituiutaba foi
reduzindo década após década.
133

Em trinta anos, o crescimento populacional alcançou apenas 38,2%


em detrimento os anos dourados (1940 a 1970) que foi de 83,2%. Contudo,
essa tem sido uma realidade entre as cidades da Microrregião de Ituiutaba
nos últimos trinta anos. Se observarmos a taxa de crescimento delas (tabela
19), veremos que somente no período de 1991/2000, quase todas perderam
população ou tiveram seu crescimento populacional reduzido, como o caso
de Ituiutaba.

Por caracterizar-se como uma cidade de porte maior, Ituiutaba ainda


conseguiu manter uma média positiva de crescimento no último período,
mediante o equilíbrio da mortalidade/natalidade e da recepção de fluxos
populacionais, evidenciando-se assim, como o município que obteve maior
índice na sua Microrregião, compreendendo a faixa de 5,0%.

Todavia, ainda questionamos, por que a cidade modelo para políticos


e antigos moradores, não é mais uma referência para os mais jovens e para
novos migrantes? Por que a taxa de crescimento tem reduzido com o passar
dos anos?

Em duas décadas (1980 e 1990), o fluxo populacional tomou nova


direção na região. Cidades como Uberlândia, Patos de Minas, Tupaciguara e
outras de Goiás, tornaram-se centros atrativos por oferecerem emprego,
expectativa de vida e ensino técnico e superior. Esses fatores têm exercido
efetiva atração sobre a população jovem do interior, principalmente das
pequenas cidades, em direção aos médios e grandes centros.

Ituiutaba, sendo considerada uma cidade modelo por sua qualidade de


vida, não consegue despertar o mesmo significado para a população mais
jovem local. O ensino superior existente, por ser privado, restringe seu
público alvo e a quantidade de vagas disponíveis de emprego no mercado
formal também é restrita, tornando-se motivo para ausentarem-se da cidade.

Segundo dados do censo 2000, a população jovem, selecionada entre


10 e 39 anos de idade, perfazia 50% da população total, como vemos na
tabela 20. Por falta de dados mais específicos da faixa jovem compreendida
no período de 20 a 30 anos, não há como verificar seu real crescimento.
134

Tabela 19 - Microrregião de Ituiutaba: população e taxa de crescimento dos municípios, 1970 – 2000.

População Total Taxa Média de Crescimento - %


Municípios 1970 1980 1991 2000 1970/ 1980/ 1991/
1980 1991 2000
Cachoeira Dourada 4305 2361 2283 2306 -45,2 -3,3 1,0
Capinópolis 14280 13286 15061 13371 -7,0 13,4 -11,2
Gurinhatã 14120 9251 7643 6880 -34,5 -17,4 -9,9
Ipiaçu 6865 4403 4122 4027 -35,9 -6,4 -2,3
Ituiutaba 64228 74247 84577 88823 17,0 11,0 5,0
Santa Vitória 19635 20174 16580 16299 2,7 -17,8 -1,6
Fonte: IBGE Ituiutaba, 1970-2000. SOARES, B. R. et al. A importância econômica das cidades médias do Triângulo Mineiro e
Alto Paranaíba . 2000. Projeto de pesquisa - Fapemig. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia. 2000. (CD ROOM –
Banco de dados). Org.: OLIVEIRA, B. S., Nov./2002.

Tabela 20 - Ituiutaba/MG: faixa etária da população residente em 2000.

Idade Habitantes %

0-9 14.127 15,85

10-39 44.802 50,30

Mais de 40 30.162 33,85

Fonte : >www.ibge.gov.br< em jan. 2003. Org .: OLIVEIRA, B. S., 2002.


135

A evasão da população jovem é uma situação real, no entanto, ainda não


há dados que comprovem essa dispersão populacional, a constatação só é feita
no campo, colhendo informações com a população local, trafegando pelas
calçadas do centro, nos coletivos, nos “points” dos fins de semana. Trata-se
de uma “fuga virtual” e pendular, visto que em períodos de férias (dezembro,
janeiro e julho), a cidade volta a receber o fluxo jovem em seu espaço.

Se, para os idosos e a elite Tujucana, Ituiutaba é uma cidade modelo em


qualidade de vida, “o melhor lugar para se viver”, para os jovens ansiosos por
uma vida melhor, a cidade já perdeu seu encanto, e a solução é buscar
oportunidades em outros lugares, nem que seja para retornar no futuro, depois
que estiverem com seus planos realizados, o que, para muitos, é ter a “vida
feita”.

3.6 – Novas expectativas locais: uma visão de futuro

Ituiutaba sempre foi administrada por uma elite agropecuarista, cuja


visão conservadora, é voltada para seus próprios interesses.

A tentativa de “organizar a casa”, implantando infra-estrutura e


contribuindo para construir uma cidade modelo em qualidade de vida, tem
garantido um fiel “curral eleitoral” há décadas.

O desejo de crescimento econômico por parte dessa elite ocorre somente


até o ponto em que eles não se sintam ameaçados em suas atividades pessoais
e financeiras. Portanto, são três décadas de pecuária exclusiva na
Microrregião de Ituiutaba, em que a agricultura ocorre em número reduzido,
sem grandes investimentos, realizada por fazendeiros e arrendatários da
região.

Em pesquisa realizada pelo SEBRAE (1995), dos 219 produtores


entrevistados, 80,8 % deles viviam da atividade leiteira, enquanto 12,8%
realizavam a atividade de hortifrutigranjeiros.
136

Segundo essa mesma pesquisa, as terras para lavoura concentram-se no


estrato de até 20 ha, enquanto as de pastagens artificiais, limitam-se de 20 a
400 ha; as principais culturas produzidas são milho, feijão, arroz e sorgo.

Do universo pesquisado, 23 proprietários trabalham em parceria ou


arrendamento, cujas áreas disponíveis ficam entre 20 a 50 ha, na sua maioria;
o restante é controlado pela elite pecuarista, que “fecha” a região, impedindo
a maior diversidade de atividades.

Brandão (1989) faz uma reflexão sobre esta situação de domínio


territorial. Segundo esse autor,

[...] o fechamento de uma região por suas classes dominantes


requer, exige e somente se dá, portanto, enquanto estas classes
dominantes conseguem reproduzir a relação social de dominação,
ou mais claramente as relações de produção. E nessa reprodução,
obstacularizam e bloqueiam a penetração de formas diferenciadas
de geração do valor e de novas relações de produção. A abertura da
região e a conseqüente integração nacional, no longo caminho até a
dissolução completa das regiões, ocorre quando a relação social
não pode mais ser reproduzida, e por essa impossibilidade, percola
a perda de hegemonia das classes dominantes locais e a
substituição por outras, de caráter nacional e internacional. (p.
07)

Em Ituiutaba, a dissolução do domínio no setor pecuarista não irá


ocorrer num curto período de tempo, alterando a mentalidade de dominação de
uma elite que atua há cinco décadas.

Os proprietários e arrendatários voltados para a agricultura não buscam


uma mudança radical de atividade econômica, mas uma diversificação para
haver maior dinamização da economia local/regional. Buscam desenvolver a
agricultura na região com maior ênfase, com mais incentivo, aguardando dessa
atividade, maiores oportunidades de desenvolvimento sócio-econômico em
Ituiutaba.

Após 1970, a forte inclinação do município para a pecuária, reduziu a


produção agrícola, tornando-a menos significativa, como vemos na tabela 21.
137

Tabela 21 - Ituiutaba/MG: produção agropecuária realizada entre as décadas


de 1970 a 2002.

Produto 1970 1980 1991 2002

Algodão 2.449 561 2.000 1.000

Arroz 19.526 8.615 3.430 250

Banana 24 33 45 -

Cana de açúcar 63 144 300 1.000


Área de
Produção Feijão 1.521 33 110 -

Agrícola Laranja 10 35 75 560


(ha)
Mandioca 7 122 350 500

Milho 12.236 10.626 12.000 6.000

Soja 41 2.096 2.500 12.000

Sorgo - 30 - 1.000

Total 35.836 19.841 20.810 22.310

No. cabeças 83.972 166.886 178.222 220.000

Produção bovinos

pecuária Leite “in 5.430.000 20.807.000 26.253.000 28.000.000


natura”

Fonte : IBGE Ituiutaba, 2002. Org.: OLIVEIRA, B. S., Out./2002.

O arroz e o algodão representam muito pouco do que já simbolizaram


para a Microrregião de Ituiutaba; a cana-de-açúcar tem crescido devido à
instalação de uma usina de álcool no município de Canápolis, servindo como
matéria-prima. Contudo, o milho e a soja, esta última após a década de 1990,
têm sido os grãos mais plantados pelos produtores, principalmente pelos
arrendatários.
138

A produção leiteira praticamente triplicou, e a de carne dobrou entre


1970-80, aumentando, posteriormente, com taxas reduzidas de crescimento, a
reflexo da crise nacional dos anos de 1980.

Com vistas ao retorno que a agricultura pode oferecer, alguns


produtores ligados ao setor, pecuaristas menos conservadores e instituições de
apoio ao desenvolvimento econômico, tal qual o SEBRAE, podem ser
considerados como um novo grupo, cuja visão é menos “fechada”, menos
conservadora. Um grupo que vê potencial na agricultura da região,
principalmente da Microrregião de Ituiutaba e consegue prever, a médio e a
longo prazos, os resultados dessa atividade nos diversos setores da economia
de Ituiutaba.

Diante disso, temos que a cidade apresenta dois grupos distintos em


suas idéias e concepções sobre o desenvolvimento econômico e o
arrefecimento local. Se a elite pecuarista não incentiva o desenvolvimento
econômico mediante incentivo e ampliação do parque industrial, por outro
lado, esse novo grupo, que emerge com uma visão mais progressista, tem
ganhado muitos adeptos que apostam na idéia.

O desejo de que haja novas perspectivas de desenvolvimento envolve


muitas pessoas e setores. Na pesquisa SEBRAE (1995), realizada com setores
secundários e terciários de Ituiutaba, num montante de 351 participantes,
ficou evidenciado que 76,6% desse universo acreditavam que o município tem
futuro, que é possível ter expectativas de desenvolvimento.

O próprio SEBRAE vê necessidade de estabelecer uma política


econômica no município, centrada em prioridades de incentivo à agricultura,
de maneira que se possam aproveitar as fontes provenientes também do setor
pecuarista. Segundo esse órgão, falta ao município aproveitamento industrial
das suas atividades agrícolas.

Com incentivo, os grupos existentes poderão buscar maior integração


entre os vários elos da cadeia produtiva até chegar ao consumidor, a partir da
instalação de indústrias alimentícias que possam aproveitar a produção
agrícola local e da Microrregião de Ituiutaba.
139

3.6.1 - A aposta do futuro: a Bolsa de Arrendamento

A implantação da Bolsa de Arrendamento no município, em 2002, aos


moldes de Uberaba, foi a materialização do trabalho em conjunto do governo
do estado com a Federação das Indústrias do estado de Minas Gerais –
FIEMG.

Ituiutaba foi escolhida para ser a sede do Escritório Regional Pontal do


Triângulo pela sua localização. Sua realização ocorreu em parceria com o
Poder público municipal, o Sindicato dos Produtores Rurais, a Associação
Brasileira de Máquinas e Implementos Agrícolas – Abmaq -, a Cooperativa
Agropecuária do Pontal do Triângulo Mineiro – Coopontal -, a Cooperativa de
Crédito do Pontal do Triângulo Mineiro – Credipontal - e outros segmentos do
agronegócio.

Com a função de tornar mais eficiente a parceria rural entre


proprietários de terras e produtores arrendatários, a Bolsa visa a algo mais
importante, ou seja, estimular a agroindústria na região.

A proposta de sua instalação deu-se mediante pesquisa da FIEMG, a


qual verificou que 853 mil ha de terras do Pontal do Triângulo 3 4 estavam
sendo degradadas ou sub-utilizadas e que poderiam servir para utilização de
soja. Nesse sentido, a criação da Bolsa de arrendamento resolveria dois
problemas de uma única vez, conforme artigo do SEBRAE na Revista Estado
de Minas, 2002:

[...] o primeiro com relação aos pastos cansados; um arrendamento


voltado para a plantação de soja despejaria nitrogênio no solo e o
deixaria apto para produzir 5 vezes mais capim, num prazo de 3 a 5
anos. O segundo e mais importante [...] é a possibilidade de
criação de 18 mil empregos diretos com a vinda de agroindústria de
beneficiam ento de soja para a região. (p. 47)

34
Segundo informações da FIEMG, o Pontal do Triângulo compõem-se de quinze
municípios que foram inscritos: 1 – Araporã; 2 – Cachoeira Dourada; 3 – Campina Verde;
4 – Canápolis; 5 – Capinópolis; 6 – Carneirinho; 7 – Centralina; 8 – Gurinhatã; 9 – Ipiaçú;
10 – Ituiutaba; 11 – Iturama; 12 – Limeira do Oeste; 13 – Santa Vitória; 14 – São
Francisco de Sales; 15 – União de Minas.
140

A partir de sua instalação, o reconhecimento e a procura foram grandes,


somente no primeiro ano, foram inscritas 120 pessoas, num total de 46 mil ha
em andamento, como nos informou Sr. Manuel Jorge Beltrão, consultor da
FIEMG. A procura tem sido de interessados do estado de São Paulo, Santa
Catarina, Paraná, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e até do Paraguai.

Os contratos têm duração de cinco anos, e o foco central é o plantio de


soja, pelo fato das “comodities” estarem em alta, ainda que haja uma pequena
procura para o milho e o sorgo.

Na visão desse grupo, a Bolsa de Arrendamento, além de promover a


economia na região do Pontal do Triângulo, também irá contribuir para
resolver problemas ambientais, como o desgaste dos pastos que já dura vinte e
cinco anos e que será solucionado com o plantio da soja.

Contudo é preciso ressaltar que essa visão ambiental está um pouco fora
da realidade, uma vez que o Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba tem sido
exemplo pioneiro do uso da soja e que o resultado tem gerado impactos
ambientais, havendo a necessidade de usar cada vez mais corretivos nos solos,
agrotóxicos, novas formas de manejos para combater pragas, erosões e
assoreamento.

Mas o argumento principal, o qual move o grupo, está baseado no


desenvolvimento econômico, enquanto as terras são arrendadas, gerando renda
para os proprietários rurais, novos empregos e indústrias serão trazidos para a
região.

A agricultura não impedirá que a pecuária mantenha sua vocação, porém


a idéia é de que a indústria de beneficiamento de soja também ganhe espaço,
criando mais uma opção de investimento e de renda para os municípios
integrados no projeto.
141

3.6.2 – O papel das Usinas de Álcool

Outro fator muito relevante, que está ocorrendo na Microrregião de


Ituiutaba, trata-se da instalação de usinas de álcool, o que tem contribuído
com o bom desempenho da Bolsa de Arrendamento.

A primeira, Triácool, sediada no município de Canápolis em 1988,


muito ajudou para incentivar o plantio de cana-de-açúcar na Microrregião,
cuja produção tem sido de 90 ton. de cana/ha. A segunda usina, em fase de
término (2002), está sendo construída no município Capinópolis.

Ambas de propriedade do empresário alagoano João Lyra, que, além de


investir na indústria de álcool, também arrenda terras na região para o plantio
em alta escala de cana-de-açúcar. A mão-de-obra, principalmente para os
cargos de confiança, têm sido buscada no próprio estado do Alagoas,
contribuindo para uma nova migração estadual.

Por outro lado, o ICMS dessas usinas é direcionado para os municípios


que as sediam, e, sendo assim, Ituiutaba e a Microrregião também se
beneficiam com o fluxo de capital que a indústria gera, mediante o uso de
mão-de-obra volante (bóias-frias); consumo dos funcionários e da própria
indústria em busca de serviços locais, tais como alojamento, combustível,
alimentação, bancos, medicamentos, lazer entre outros.

A nova usina de álcool já tem exercido mudanças no setor rural de


Capinópolis, predominando neste município um intenso plantio de cana-de-
açúcar.

Nesse sentido, com a instalação de mais uma usina, a cana passa a pagar
uma renda melhor do que a soja e o boi, e grande parte dos pequenos
arrendatários que trabalham naquela região com cultivo de grãos, tem
procurado as terras de Ituiutaba, visto que não conseguem concorrer com os
grandes.

Com a valorização do solo em Capinópolis, os pequenos arrendatários


ligados ao setor de hortifrutigranjeiros estão sendo “expulsos” e, diante disso,
142

estão indo em busca de áreas acessíveis economicamente, havendo em


conseqüência, uma homogeneização na produção da cana-de-açúcar na região
de Canápolis e Capinópolis, concorrendo para o avanço da agricultura, em
detrimento da pecuária regional.

De qualquer modo, a Bolsa de Arrendamento e a instalação de uma nova


usina irão gerar resultados mais concretos somente a médio e longo prazos.
Mediante tais transições, é possível que ocorra uma mudança na mentalidade
da atual elite pecuarista Tijucana, para quem a visão de desenvolvimento
incomoda, pois sustenta a idéia de manter a cidade sempre tranqüila para os
“filhos serem criados sem perigo”.

Se não houver incentivo econômico da parte política, o arrefecimento


poderá deixar a cidade dos sonhos adormecida, e desse modo, a pacata cidade
verá seus filhos e netos criados, dando adeus e partindo para outros lugares
onde encontrem aquilo que Ituiutaba, outrora, teve grandes chances de
oferecer: sucesso e desenvolvimento.

Apesar desse dilema sócio-econômico interno, a cidade continua sua


“dinâmica própria” de cidade média, oferecendo qualidade de vida aos seus
“filhos” e influenciando os moradores de seu entorno.

No próximo capítulo, veremos que os serviços oferecidos por Ituiutaba


apresentam um público consumidor que extrapola suas fronteiras municipais.
Trata-se de uma polarização regional exercida por sua rede urbana.
143

CAPÍTULO 4

4 – A FORMAÇÃO DE UMA REDE TIJUCANA


144

A década de 1970 foi considerada um período de transição no Meio


geográfico brasileiro. Desde então, mudanças nas funções, nas formas e nas
estruturas têm ocorrido no campo e na cidade. Estas últimas têm evidenciado
uma transformação dinâmica, uma mudança visível de papéis, que ocorre em
conformidade com a região onde estão inseridas e pela função que
desempenham regionalmente.

Em outras palavras, se estamos tratando de uma pequena cidade,


inserida numa região agrária, perceberemos que ela irá se equipar em função
desse campo, por outro lado, analisando uma cidade média, voltada para o
setor industrial, a função desenvolvida por ela, em nível regional, estará
vinculada ao setor econômico/industrial.

Diante disso, interessa-nos conhecer a função que Ituiutaba desempenha


regionalmente e qual sua área de polarização, considerando sua inserção numa
região tradicionalmente agropecuária e partindo do princípio de que seu
desenvolvimento culminou numa cidade equipada com o necessário para
atender à Microrregião em que está inserida, no setor agropecuárista e de
serviços.

Longe de ser uma cidade industrial, a “pacata” Ituiutaba apresenta


característica que se funde entre o urbano e o rural; uma cidade média, de
população acima de 80 mil habitantes e que, pela sua localização, consegue
tornar-se “pólo regional” no âmbito de sua Microrregião.

A inserção do PTCI criou meios para que as cidades do interior


pudessem equipar-se com serviços bancários, informações, telecomunicações,
meios de armazenagem, sistema de circulação e transportes, comércio
especializado e profissionais voltados para o campo tecnificado.

O elo entre campo/cidade tornou-se cada vez mais intenso, ou seja,


interdependentes, e mesmo as cidades econômicas e industriais têm no setor
rural, sua fonte de matéria-prima.

As cidades médias ainda apresentam mais equipamentos e condições de


atendimento que as pequenas e, por isso, ainda são referências regionais.
Ituiutaba, ao longo de algumas décadas, desenvolveu/melhorou setores na área
145

de saúde, educação superior e transportes intermunicipais, e paulatinamente,


foi criando suporte e estrutura suficientes para dar apoio à sua população
municipal e às suas cidades vizinhas.

Nesse sentido, atraiu um fluxo consumidor de tais serviços e gerou


divisas para o município e uma maior expansão de sua imagem/potencialidade
na região. Em outras palavras, criou-se uma rede de serviços entre Ituiutaba e
essas pequenas cidades “locais”, evidenciando uma polarização regional.

4.1 – Algumas contribuições teóricas sobre a rede urbana

A questão da rede urbana foi assunto polêmico nos debates geográficos


dos anos de 1960/70 e início de 1990. Dois autores que muito tem contribuído
nessa discussão no Brasil, são Roberto Lobato Corrêa e Milton Santos, que
analisaram a rede urbana brasileira e suas metamorfoses diante das
transformações estruturais que ocorreram no país a partir de meados do século
XX.

O significado de rede urbana é amplo e sua compreensão na academia


tem sido feita, as vezes, por meio de polêmicas discussões frente a correntes
que ignoram a existência dessas redes nos países subdesenvolvidos ou
consideram que elas estariam em fase embrionária, ou mesmo seriam
desorganizadas.

Roberto Lobato Corrêa caracteriza-se como um autor que contraria os


argumentos dessa corrente de pensamento e defende a existência dessas redes.
Em seus estudos sobre a rede urbana, o autor discute clássicos como Walter
Christaller e David Harvey, levantando pontos que merecem ser discutidos no
momento que o país vive.

Segundo esse autor, na sua obra de 1989, a rede urbana é um reflexo


dos efeitos acumulativos da prática de diversos agentes sociais,
principalmente das grandes corporações “ multinacionais e multiorganizadas ”,
146

que introduzem, na cidade/campo, atividades que geram diferenciações entre


os centros urbanos e que condicionam a novas ações.

Carlos (1992) e Corrêa (1989) discutem posições parecidas sobre a rede


urbana, considerando a sua forma espacial, entretanto, divergem entre fatores
sociais e funcionais respectivamente.

Carlos (1992) admite que a rede urbana pode ser considerada como
forma sócio-espacial de realização do ciclo de exploração 3 5 da grande cidade
sobre o campo e centros menores, onde há relação de inter-relação entre a
grande cidade, os pequenos centros e o campo.

Para Corrêa (1989, p. 71), a rede pode ser considerada como uma forma
espacial através da qual suas funções urbanas se realizam. Trata-se das
funções de comercialização de produtos rurais, produção industrial, vendas
varejistas, prestação de serviços diretos, entre outras, as quais se reportam
aos processos sociais dos quais “a criação, apropriação e circulação do valor
excedente constitui-se no mais importante, ganhando características na
estrutura capitalista”.

Outro autor que contribui para o estudo da rede urbana trata-se de


Rocheford (1998), que desenvolveu sua tese com base no setor terciário da
economia dos países desenvolvidos, mas que também muito enriquece a
discussão. Segundo esse autor, as redes urbanas configuraram-se a partir do
momento em que os transportes modernos facilitaram os deslocamentos de
relações, elaborados no século XIX.

Diante disso, para entender uma rede, é necessário levar em conta uma
dada região e as cidades que aí se distribuem em alguns tipos caracterizados
por certo papel econômico mais ou menos influenciados pela história; a
inserção geográfica dessas cidades em sua região vai repercutir na maneira
pela qual elas cumprem seus papeis com relação a esta última.
35
Por ciclo de exploração, entende-se que existem dois, em que, no primeiro, a grande
cidade, “cabeça da rede urbana”, extrai do campo e das cidades menores, via migrações,
força de trabalho, produtos alimentares, matérias-primas, lucros comerciais e renda
fundiária. No segundo ciclo, que realimenta o primeiro, trata-se, portanto, do mesmo
processo, ou seja, a cidade grande exporta para os centros menores e o campo, capitais,
bens, serviços, idéias e valores. (CARLOS, 1992)
147

Segundo esse autor, para caracterizar uma rede, duas categorias devem,
de fato, ser colocadas em evidência: determinar os tipos de cidades que a
região encerra e discriminar as zonas de influência das cidades grandes e
médias, que se constituem como os dois primeiros escalões dessa hierarquia.

Entretanto é Walter Christaller, clássico nessa discussão, que contribuiu


intensamente sobre os estudos de redes urbanas, pela sua teoria dos lugares
centrais. Apesar de caracterizar-se como uma teoria assentada numa visão
bastante econômica, ainda foi base de diversos estudos sobre a rede urbana,
desde a década de 1940, influenciando notadamente vários autores brasileiros.

4.1.1 – O modelo clássico de Walter Christaller

Como destaque da tradição neoclássica de estudos sobre a rede urbana,


destaca-se a “teoria dos lugares centrais”, elaborada em 1933, que trata a
relação entre capital-interior numa perspectiva espacial. Essa relação traduziu
a presença de uma hierarquia entre cidades determinadas pela lógica da
“extração tributária” e pelas necessidades da “circulação mercantil”
estabelecidas de forma permanente no território.

Fatores que, segundo o IPEA (2000), definem localizações privilegiadas


no território da cidade, e, sendo assim, as condições de reprodução social vão
espelhar-se numa segregação espacial no que diz respeito ao acesso às redes
de infra-estrutura e serviços urbanos, cuja lógica responde à dinâmica do
sistema urbano na sua totalidade e não às necessidades locais.

A racionalidade dos agentes sociais envolvidos, tais como os varejistas


e prestadores de serviços, de um lado, e os consumidores finais, de outro,
geram localizações otimizadas por parte dos primeiros e deslocamento
racionais por parte dos segundos, nos quais, para um dado bem ou serviço, o
custo e o tempo são minimizados.

Segundo Tavares (2001), o conjunto de centros de uma região ou país,


tais como cidades, vilas, povoados e estabelecimentos comerciais isolados na
148

zona rural, tendo um papel de distribuição varejista e de prestação de serviços


para uma população neles residente, são denominados, na teoria
Christalleriana, de “localidades centrais” e a centralidade de que dispõe é
derivada de seu papel como centros distribuidores de bem e serviços, ou seja,
das funções centrais que desempenham.

Outra questão de que essa teoria trata diz respeito à hierarquia da rede
urbana, questionando o tamanho, as funções econômicas e a localização das
cidades num dado espaço.

Estudiosos como Christaller (1966) e Losch (1954), citados no estudo


do IPEA (2000, p. 26), notaram que existem aglomerações urbanas de todos os
tamanhos, “dotadas de funções centrais que consistem na produção e na
distribuição de bens e serviços a um “hinterland” em relação ao qual o centro
urbano ocupa posição central”. Na visão desses autores, a localização das
atividades básicas induz à organização de um sistema hierárquico de cidades.

Na teoria christalleriana, qualquer estabelecimento comercial, industrial


ou de prestação de serviços, fornece bens e serviços a uma região próxima do
centro fornecedor, representando, nesse sentido, uma polarização espacial da
aglomeração urbana.

Desse modo, haveria a constituição de uma hierarquia de cidades, em


que, no nível mais elementar, estariam as cidades produtoras basicamente de
bens e serviços, aqueles mais procurados pela população para sua reprodução
social cotidiana, e, do outro lado, estariam os centros urbanos maiores,
geradores de produtos e serviços mais especializados para uma área territorial
mais extensa.

Seria, segundo Corrêa (1997, p. 41), uma região homogênea e


desenvolvida economicamente, havendo, portanto, uma hierarquia
caracterizada de níveis estratificados de localidades centrais, nos quais os
centros de mesmo nível hierárquico “oferecem um conjunto semelhante de
bens e serviços e atuam sobre áreas semelhantes no que diz respeito à
dimensão territorial e ao volume da população”.
149

Ainda no estudo da rede urbana, outra corrente de característica mais


humana e radical, em oposição ao modelo neoclássico de Christaller,
destacou-se; trata-se de uma corrente fundamentada em argumentos
estruturalistas, que questiona a separação entre a produção e distribuição
assumida pelas teorias locacionais, e “(...) enfatizam aspectos históricos
relacionados à constituição das cidades e dos conflitos entre agentes sociais e
econômicos que disputam o acesso à terra urbana” (IPEA, 2000, p. 24),
privilegiando o processo de urbanização.

Harvey e Castells apud IPEA (2000), foram autores que muito


contribuíram nessa corrente, justamente por reconhecerem o limite analítico
imposto por modelos que tinham como base o “equilíbrio geral” do modelo
neoclássico e também por perceberem que o desequilíbrio ligado à expansão
capitalista traz consigo permanente movimento gerador de regiões dinâmicas,
em contraposição às regiões estagnadas.

4.1.2 – Das novas contribuições: a rede urbana numa visão


“brasileira”

Temos sido agentes e observadores do processo de produção do espaço


brasileiro há várias décadas, e as transformações são consideráveis, inclusive
nos setores da economia, como o terciário, que, a modelo dos outros, sofre
mudanças relacionadas ao uso da informática, da tecnologia e da
comunicação.

Essas reestruturações causaram alterações significativas não só no


padrão de acumulação como também na organização espacial, influenciando o
arranjo da hierarquia urbana.

Nesse contexto, as críticas que surgem em relação às abordagens


tradicionais dos estudos da rede urbana, decorrem da defasagem histórica das
teorias, frente às mutações significativas ocorridas após os anos de 1970, nos
países em subdesenvolvimento.
150

Fatores tais como a redução nos custos de transporte, facilidades na


área de telecomunicações, boa mobilidade para as pessoas, generalização de
serviços, equipamentos e comércio, que antes foram reservados às grandes
cidades, bem como os serviços de alta especialização, constituem alguns dos
fatores que concorreram para as mudanças processadas na organização das
redes.

Diante disso, considerando o atual quadro brasileiro, faz-se necessário


abordar autores que tenham contribuído sobre os estudos das redes urbanas no
país, dentre eles, destacamos Milton Santos e Roberto Lobato Corrêa, que
muito somaram nessa temática.

d) Milton Santos: uma soma relevante

A obra de Milton Santos também constituiu uma contribuição


importante para a temática da rede urbana. Já na década de 1970 analisava as
modificações nos sistemas de produção brasileira e das redes, por meio de
dois sistemas que denominou circuitos superior e inferior.

Uma das questões que Santos (1996) muito tem discutido trata-se da
urbanização brasileira e da reestruração espacial pela qual temos passado
nesse recente período caracterizado pelo desenvolvimento da ciência,
tecnologia e informação, bem como a “função” que cada centro passa a
assumir na rede.

Para esse autor, uma rede urbana é o resultado de um equilíbrio instável


de massas e de fluxos, “cujas tendências à concentração e à dispersão,
variando no tempo, proporcionam as diferentes formas de organização e de
domínio do espaço pelas aglomerações”. (SANTOS, 1989, p. 165)

Tradicionalmente, a Geografia descritiva isolava diferentes funções e


estabelecia uma classificação de cidades de acordo com uma ou várias funções
determinantes. Todavia, para Santos (1989), é preferível uma distribuição
segundo o grau de evolução das cidades, mas isso não nos deve dispensar de
reconhecer centros com função preponderante ou de liderança.
151

Na análise do autor, os dois circuitos da economia interferem na rede de


localidades centrais, estruturando-a de modo que cada centro atue
simultaneamente nos circuitos, dispondo de duas áreas de influência. Essa
interferência se faz, em realidade, mediante mecanismos básicos de
estruturação da hierarquia urbana, com alcance espacial mínimo e máximo, em
três níveis de centros: a metrópole, a cidade intermediária e a cidade local.

A cidade local atua efetivamente por meio do circuito inferior, enquanto


a metrópole o faz pelo superior; as cidades intermediárias ficam numa posição
de centralidade, que lhes é fornecida pelos dois circuitos, em que, ora um tem
maior importância, ora o outro.

Convém ainda esclarecer sobre os circuitos que o inferior, é constituído


por atividades que não dependem de capitais de modo intensivo e possui uma
organização primitiva, tal como a fabricação de bens, certas formas de
comércio e serviços que não exigem especializações e atende, sobretudo, a
população de baixa renda.

Por outro lado, o circuito superior é resultado da modernização


tecnológica, sendo constituído pelos bancos, comércio e indústria moderna
voltados para exportação e vinculados ao mercado interno, pelos serviços
modernos, empresas atacadistas e de transporte.

Ainda sobre as redes urbanas, Santos (1989) teoriza o assunto em três


elementos de base, que constituem, conforme esse autor, a própria substância
da organização das redes: as massas, os fluxos e o tempo.

As massas caracterizam-se pela população, sua densidade e sua


distribuição, também a produção, a distribuição e o valor. Os fluxos, que
contêm as massas, são a expressão dos fluxos populacionais, produções
agrícolas, fluxos monetários, informações, ordens.

O fator tempo, também trabalhado por Corrêa (1997), pondera os dois


elementos anteriores, explicando os fenômenos de disparidade, principalmente
os temporais, como o grau de arcaísmo de infra-estrutura agrícola, industrial,
dos transportes e serviços, dependendo da região.
152

Com a crescente especialização regional, com os inúmeros fluxos de


todos os tipos, intensidades e direções, Santos (1996) vê o mundo numa outra
ótica, cuja organização dos sub-espaços passa a ser articulados a partir de
uma lógica global. Portanto, temos de falar em circuitos espaciais de
produção e, não mais, em circuitos regionais.

Diante dessas transformações, principalmente a técnica, é importante


analisar esses elementos, compreender como agem na funcionalidade dos
centros e como contribuem para sua configuração na rede, considerando as
supostas modificações pelas quais a rede pode passar diante do dinamismo das
massas e fluxos.

As mudanças espaciais, mediante as facilidades de fluxos e fixos,


também levaram Santos (1996) a questionar a hierarquia urbana, a qual, num
primeiro momento, se submeteu a uma organização hierárquica em que os
fluxos processavam-se das cidades menores para as progressivamente maiores.

No entanto, com as facilidades do PTCI, passaram a existir múltiplas


possibilidades de cidades de diferentes padrões relacionarem-se. Desse modo,
os núcleos urbanos necessariamente não mais estabelecem fluxos que possam
caracterizar um padrão rígido de hierarquia.

As mudanças de função na rede urbana, frente às mudanças no espaço


geográfico, foram também analisadas por Corrêa. Suas contribuições buscam
contextualizar as teorias Christallerianas nos países subdesenvolvidos
mediante as transformações ocorridas durante o Período técnico científico
informacional.

e) Roberto Lobato Corrêa: uma contribuição necessária

Esse autor tem sido reconhecido com mérito por muito ter contribuído
para o estudo das redes urbanas no que tange ao caso brasileiro. Sua
preocupação sobre essa temática já ocorre desde a década de 1980.
153

No seu estudo, Corrêa (1989) procura identificar a natureza e o


significado da rede urbana, levando em consideração fatores como a divisão
territorial do trabalho, as relações entre a rede urbana e os ciclos de
exploração, bem como a forma espacial desta.

Quanto à materialização da rede urbana, o autor argumenta que “os


processos sociais que definem e redefinem uma rede urbana não atuam por
igual em toda a sua extensão”, ou seja, há seguimentos da rede que
incorporam vários momentos da história e/ou do presente, portanto, verifica-
se que a periodização ocorre de modo espacialmente desigual. (CORRÊA,
1989, p. 79)

Em razão da desigual espaço-temporalidade dos processos sociais, da


qual Corrêa (1997) considera a rede urbana um reflexo e uma condição, pode-
se verificar a existência de diversos tipos de redes, de acordo com o padrão
espacial, a complexidade funcional dos centros e o grau de articulação interna
e externa da cada rede.

Para esse autor, pode existir rede urbana nos países subdesenvolvidos 3 6 ,
desde que três condições sejam satisfeitas: primeiro, que exista uma economia
de mercado com uma produção que é negociada por outra e que não tenha sido
produzida local ou regionalmente; segundo, a existência de pontos fixos no
território, em que a troca é realizada, ainda que periodicamente; esses pontos
tendem a concentrar outras atividades, tais como aquelas de controle político-
administrativo e ideológico, transformando-se em núcleos de povoamento
composto de diferentes atividades; e a terceira condição refere-se à existência
de um mínimo de articulação entre os núcleos anteriormente referidos, o que
dá origem e reforça a diferenciação entre os núcleos urbanos no que se refere
ao volume e tipo de produtos comercializados, às atividades político-
administrativa, entre outras; e que se traduz em uma hierarquia entre núcleos
urbanos e em especializações funcionais. (CORRÊA, 1989).

Diante dessas explanações e tecendo uma análise sobre os países


subdesenvolvidos, esse autor discute que há uma semelhança muito grande
entre as redes de localidades centrais desses países com o descrito no esquema
36
Esta denominação foi utilizada na obra de Corrêa, 1997.
154

christalleriano, mas que se distinguem por três modos de organização


distintos, que podem coexistir numa mesma rede: - uma rede dendrítica de
localidades centrais; - mercados periódicos; e – desdobramento da rede em
dois circuitos da economia.

As redes dendríticas caracterizam-se como de origem colonial; uma


cidade estratégica que concentra as principais funções econômicas e políticas
da hinterlândia 3 7 e um expressivo número de pequenos centros no seu entorno.

Quanto aos mercados periódicos, estes são definidos como aqueles


núcleos de povoamento pequenos, que, periodicamente, se transformam em
localidades centrais e que, passado o período de intenso movimento
comercial, voltam a ser pacatos núcleos rurais, com grande parte da população
engajada em atividades primárias.

Os dois circuitos da economia, superior e inferior, elaborados por


Milton Santos (1979), constituem uma bipolarização interligada, visto que
possuem origem em comum e o mesmo conjunto de causas.

Segundo Corrêa (1997), a existência de uma classe média que utiliza um


e outro circuito, impede o isolamento de ambos, além do que ainda existem
articulações de complementariedade e de dependência, envolvendo
intercâmbios de insumos entre esse sistema.

Outra contribuição relevante, que Corrêa (1997) aborda sobre o


entendimento das redes, trata-se de algumas dimensões que precisam ser
consideradas para realizar estudos sobre o urbano. São as dimensões
organizacional, temporal e espacial, que não se dissociam.

O autor esclarece que a dimensão organizacional refere-se à


configuração interna de um entidade estruturada na rede, pode ser uma cidade,
uma empresa e abrange agentes sociais envolvidos, a origem da rede, a

37
Hinterlândia caracteriza-se como a área unida social e economicamente a um núcleo
urbano. Em sua grande maioria, esses núcleos são modernos e seus hinterlands são
economicamente independentes, em vez de ser tributários uns dos outros. Geralmente, as
cidades maiores exercem uma influência particularmente intensa sobre as áreas que a
rodeiam, até o ponto de afirmar-se que elas organizam suas hinterlands formando regiões
funcionais. (TAVARES, 2001)
155

natureza dos fluxos, a função e a finalidade da rede, sua existência,


construção, formalização e organização.

Quanto a dimensão temporal, esta associa-se à duração da rede, à


velocidade dos fluxos, à freqüência com que ela se estabelece e à história;
essa dimensão está ligada à espacial, bem como à organizacional; ademais
essa última não adquire concreticidade se estiver desvinculada do tempo e do
espaço.

Essas dimensões podem ser visualizadas no território brasileiro,


principalmente pelas transformações ocorridas no país, tais como a
industrialização, a melhoria da circulação e dos transportes, o
desenvolvimento de uma estratificação social mais complexa, bem como a
modernização do campo e a incorporação de novas áreas. Fatores que levaram
a uma “complexicação funcional ” dos centros urbanos, como afirma Corrêa
(1997, p. 99).

Dessa forma, verifica-se que “a posição de cada centro na hierarquia


urbana não é mais suficiente para descrever e explicar a sua importância na
rede de cidades”.

Tornou-se relevante considerar suas especializações funcionais, sejam


elas relativas à indústria ou aos serviços.

Nesse contexto, em que há uma complexidade funcional, Corrêa (1997,


p. 100) entende que cada centro passa a situar-se em pelo menos duas redes,
onde “(...) uma é constituída por lugares centrais e na qual cada centro tem
uma posição (metrópole, capital regional, centro sub-regional, centro de zona,
centro local) e outra menos sistemática e mais irregular”, em que cada centro
desempenha um papel singular e/ou complementar aos outros.

Diante disso, a rede urbana brasileira não pode ser mais tratada
exclusivamente por interações do tipo rígida, descrita na teoria
Christalleriana, mas deve incluir também interações de complementariedade
no âmbito da rede urbana, visto que a complexidade da divisão territorial do
trabalho leva a numerosas especializações funcionais, que definem diversos
centros urbanos.
156

Essas inter-relações podem ser vistas em uma capital regional por


exemplo, que, no passado, se relacionava quase que exclusivamente com uma
única metrópole e que, atualmente, passa a relacionar-se com outras, além de
diversas capitais regionais, e mesmo com centros menores mais afastados.

4.1.3 – A crítica ao modelo tradicional

Analisar essas teorias isoladas, para entendê-las no contexto dos países


subdesenvolvidos, como fez Corrêa (1997), constitui-se numa tarefa árdua.

Verifica-se que há validade e grandes contribuições, mas que também


há fatores discutíveis ou a ausência de outros, e, sendo assim, é necessário
repensá-las, considerando as transformações conjunturais e estruturais nas
diversas escalas da economia, que tem levado a intensas modificações, no que
diz respeito ao território brasileiro após 1970.

As críticas mais intensas são feitas à teoria dos lugares centrais de


Christaller, que tem sido base para muitos estudos, mas que, diante das
transformações do espaço geográfico brasileiro, não tem conferido uma visão
de flexibilidades entre os diversos centros urbanos, que o atual período exige.

A teoria dos lugares centrais não leva em consideração uma série de


serviços especializados, que foram sendo desenvolvidos após sua elaboração
e, por isso mesmo, eles não estão presos num modelo de hierarquia urbana
estratificado, em que estejam necessariamente disponíveis nos grandes
centros, mas, ao contrário, tornaram-se mais acessíveis por meio da melhoria
da rede de comunicação e dos transportes.

Outros fatores a serem repensados nessa teoria diz respeito à disposição


espacial das cidades num determinado território, que tende a não obedecer a
uma distribuição rigorosamente geométrica e nem mesmo populacional, que
está distante de ser homogênea. São essas dimensões populacionais e
econômicas das cidades que se destacam na teoria de Christaller e não uma
157

dimensão funcional, que é indispensável na organização espacial de um


território, ainda que essa se modifique com o decorrer do tempo.

Nesse sentido, manter a posição na hierarquia urbana requer, portanto,


capacidade de inovação, pois, dessa forma, as funções econômicas, que
decorrem cada vez mais da capacidade de inovar, permitem apontar outras
classificações mais elaboradas com base no nível de desenvolvimento
econômico e nas estruturas mais ou menos complexas dos centros urbanos.

O modelo de Christaller apresenta-se como uma situação ideal,


utilizando-se somente da função de distribuição dentre os diversos papéis que
são desempenhados pelos núcleos urbanos.

O papel da funcionalidade, destacado por Santos e Corrêa


anteriormente, somado a uma estrutura instável e dinâmica dos países
subdesenvolvidos, revela novas configurações significativas para as redes
urbanas.

As melhorias nos transportes e telecomunicações têm encurtado o tempo


e as distâncias entre os centros. O espaço geográfico torna-se virtual para
diversas relações, mas, em nenhum momento, perde sua importância, pois não
deixa de existir.

As características da teoria de Christaller estão presentes entre os


centros, tanto nas relações de distribuição regionais como nos moldes da rede
dendrítica, onde a cidade pólo reúne as principais funções do hinterland
formando uma hierarquia piramidal rígida.

Ao analisar tal situação mediante as facilidades do PTCI, da


implantação de fixos de transportes e comunicações, observamos que os
fluxos têm ganhado dimensões diversas e, portanto, não ficam presos a uma
rede.

Mas ainda existem necessidades básicas quanto aos serviços de saúde,


de educação e de prestação de serviços especializados (para o campo),
denotando a existência de uma hierarquia ativa, cujos pequenos núcleos do
hinterland são polarizados por uma cidade mais equipada.
158

Contudo mesmo essas atividades não ficam presas num único pólo
urbano, visto que no atual período, centros de diversos tamanhos
complementam-se e nada impede que esse fluxo populacional consuma
serviços em centros de porte, funções e localizações variadas.

Veremos que Ituiutaba, em relação à distribuição de serviços regionais,


apresenta-se como a cidade mais equipada de sua Microrregião,
caracterizando-se como uma cidade pólo. Serviços na área educacional, saúde
pública e transporte intermunicipal ainda são exemplos de atividades que
polarizam, gerando uma hinterland regional.

Consideremos que essa “hierarquia” de Ituiutaba com sua hinterland


seja flexível, de modo que esses mesmos centros consumidores buscam os
mesmos serviços (com melhor qualidade, especialização, preço, atendimento,
facilidade, crédito e etc.) em outros pólos, tais como Uberlândia, Goiânia ou
São Paulo.

Percebemos que, também as funcionalidades por meio das quais cada


centro urbano se especializa, contribui para que eles se tornem atrativos ou
repulsivos aos fluxos.

4.2 – As transformações na rede urbana frente o Período Técnico


Científico Informacional

O processo de urbanização é um fenômeno muito recente na história do


homem e, no entanto, já tem adquirido grandes proporções na escala mundial.
No final do século XIX, conforme nos apresenta Sposito (1997, p. 39), a
população considerada urbana correspondia a apenas 1,7% da população total.
“Nos anos 50, esse percentual cresceu para 21%, e posteriormente aumentou
para 25% em 1960, 37,4% em 1970 e cerca de 41,5% em 1980. Em 1990,
atinge 51%”.
159

No Brasil, o processo de urbanização começou após a 2 a Guerra


Mundial, mas, até 1960, ainda era um país predominantemente agrícola, com
uma taxa de urbanização de 44,7%.

Essa urbanização não foge a regra dos países em desenvolvimento. Após


o golpe militar de 1964, o país criou condições de uma rápida integração com
um movimento de internacionalização para investir intensamente no campo e
modernizá-lo, tendo como finalidade atender a um mercado consumidor
interno em expansão e a uma demanda externa.

Diante dessa reestruturação no campo, ocorreu a expulsão de um intenso


contingente de trabalhadores rurais, e foram as grandes cidades as
acolhedoras desse fluxo, vistas como lugares que ofereciam melhores
condições de vida, com maior acesso à saúde, educação e empregos,
implicando o esvaziamento do campo e de pequenos centros.

Toda essa reestrutração que ocorreu no campo e na cidade foi a base


para a instalação de um novo Meio geográfico, - os meios e os fins -,
caracterizado pela informação, tecnologia e cientificidade.

Santos (1996) denomina esse novo Meio geográfico de “Meio técnico


científico informacional”, que se desenvolve num período de mesmo nome, e
distingue-se por duas características no país: - grande desenvolvimento na
configuração territorial, em que o homem cria sistemas de engenharia que
superpõem à natureza, a fim de criar condições de trabalho, próprias de cada
época; - intenso desenvolvimento da produção material, agrícola e industrial,
em que as mudanças que são estabelecidas nesses setores acarretam também
alterações nas formas de circulação e distribuição e, conseqüentemente, sobre
o consumo.

Nesse período, a urbanização ganhou novo impulso e o espaço do


homem, tanto nas cidades como no campo, foi tornando-se um espaço
instrumentalizado, aculturado, tecnificado, cada vez mais trabalhado segundo
os ditames da ciência.

Diante disso, a rede urbana tornava-se cada vez mais diferenciada e


complexada, haja visto que cada cidade e seu campo passavam a responder por
160

relações específicas, próprias a sua realidade sócio-econômica e, dessa forma,


percebemos que toda a reestruturação sócio-espacial e econômica pela qual o
território tem passado, além do processo de urbanização, contribuíram para
que houvesse uma extrema diferenciação entre os tipos urbanos e sua
hierarquia de tamanho e funções.

No Brasil, o desenvolvimento da produção, circulação, informação e de


novas formas de consumo, tem gerado novas funcionalidades entre os centros
urbanos e uma nova configuração no interior das redes urbanas. Diante disso,
é possível uma relação de complementariedade e prestação de serviços entre a
pequena cidade local com a cidade média, com a metrópole regional ou, em
certos níveis, mesmo diretamente com a metrópole nacional. Esse novo meio
tecnificado e informatizado cria uma "contração" do tempo e o
"encurtamento" das distâncias, beneficiando essa relação.

Importa considerar o processo de globalização, porquanto este tem


modificado os consumos consuntivo e produtivo da população e dos meios de
produção, refletindo-se diretamente no meio rural/urbano e induzindo as mais
diferentes aglomerações a participar do jogo entre local e o global. É dessa
forma que “as cidades pequenas e médias acabam beneficiadas ou, ao
contrário, são feridas ou mortas em virtude da resistência desigual dos seus
produtos e de suas empresas face ao movimento de globalização”. (SANTOS
2001, p. 281).

Diante disso, percebemos uma hierarquia flexível de cidades, em que a


dinâmica dos fluxos (sejam eles econômicos, demográficos, informacionais) é
capaz de gerar funcionalidades às cidades, despontando-as numa rede, bem
como a possibilidade de estagná-las, num curto período de tempo.

Assim, notamos que o processo de mundialização não implica o


desaparecimento de uma estrutura hierarquizada de relações e articulações
entre as cidades, mas que possibilita maiores interações entre eles,
independente de seu tamanho, funcionalidade ou localização, como iremos
verificar no contexto das cidades médias e pequenas a seguir.
161

4.2.1 – A refuncionalização das cidades Médias

Nesse processo de transformação do espaço geográfico mediante a


inserção do PTCI, muitos centros têm se (re)funcionalizado na rede urbana em
que estão inseridos. Os pequenos centros, criados sob determinadas condições
de demanda e circulação, por longo tempo, permaneceram com a função
exclusiva de reservatório de força de trabalho rural.

As novas técnicas absorvidas pelo campo, além de aumentarem a


produção e alterarem o sistema fundiário, passaram a gerar novas
necessidades, cujo “lócus” representante são as pequenas e médias cidades.

Diante da reestruturação dos centros urbanos, e consequentemente das


redes, a cidade média não é mais apenas um intermédio entre os centros
menores e maiores do que ela, mas um centro de atração de mão-de-obra
qualificada, reduto de uma classe média, altos índices de qualidade de vida,
espaço de lazer, “ lócus” de novos investimentos industriais e de serviços;
revela-se como um reflexo da produção e das atividades desenvolvidas
regionalmente, visível na rede em que estiver inserida.

O fator demográfico isolado não afirma se uma cidade pode ser


considerada média, importante, hoje, frente às configurações do espaço
brasileiro, considerá-la em sua rede regional, as características de seus
centros, a qualidade de vida de sua população, a funcionalidade, a
localização, entre outros fatores.

Não há ainda um consenso entre os autores brasileiros a respeito do


tamanho populacional, todavia Santos (2001) afirma-nos que o novo limiar
para a cidade média está acima dos 100.000 habitantes, mas que há três ou
quatro décadas, esse número estava em torno de 20.000.

Muitas vezes, as atividades urbanas especializam-se em função da


produção regional que exige ciência, técnica e informação e inclui uma
demanda expressiva de bens e serviços voltados para a cidade e para o campo,
visto que este cria necessidades a serem empregadas no plantio, na lavoura, na
162

colheita, na armazenagem, no empacotamento, no transporte e na


comercialização.

As cidades médias, atualmente, comandam os aspectos técnicos da


produção regional, deixando o essencial dos aspectos políticos para os centros
maiores no país, ou mesmo no estrangeiro, entretanto, conforme nos esclarece
Santos (2001), não deixa de ser um espelho de contradições entre as
preocupações ligadas à produção (lado técnico) e as ligadas à realização (lado
político).

Outra característica das cidades médias trata-se de que elas apresentam-


se como o “ lócus” do trabalho intelectual, o lugar onde se obtêm informações
necessárias às atividades econômicas.

Nesse sentido, são cidades que reclamam continuamente mais trabalhos


qualificados, enquanto as maiores, por sua própria composição orgânica do
espaço, “(...) poderão continuar a acolher populações pobres e desamparadas”.
(SANTOS, 1996, p. 123).

Nessas mudanças de papéis, verificamos que a cidade média hoje,


também chamada de intermediária por Santos (2001), caracteriza-se por ser o
suprimento imediato e próximo da informação requerida pelas atividades
agrícolas e, desse modo, constitui-se em intérpretes da técnica e do mundo.

Nesse contexto, a cidade média não deixa de estar envolvida numa


suposta hierarquia urbana, uma vez que oferece bens, serviços, lazer, entre
outros, à população dos centros menores que nela forem buscar.

Todavia, temos visto que essas relações ocorrem de forma


complementar entre centros de diversos níveis, sem uma rigidez de relações,
como defende a teoria dos lugares centrais de Christaller.

As cidades médias da região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba


apresentam uma relevante especialização regional em função do campo, nelas,
são implantados fixos que, por vezes, exigem mais informação, força políticas
e econômicas para materializá-los.

São os centros que contêm formação para profissionais e técnicos,


grandes armazéns e silos, grande número de bancos, sedes de poder político
163

de abrangência regional, bolsas de negócios (voltados para campo), sistema de


saúde mais equipado, educação completa (básica, técnica e superior), sistema
de transporte rodoferroviário intermunicipal amplo, poder judiciário,
escritórios regionais (cartórios, IBGE, EMATER, etc.) que geram uma
especialização de âmbito mais regional a esses centros.

Nesse contexto de refuncionalização da rede urbana, a pequena cidade,


assim como a média também tem adquirido proporções e importância vitais
para a (e na) região onde se inserem, como será tratado a seguir.

4.2.2 – O papel dos pequenos centros: a cidade Local

As interações que a pequena cidade, chamada de “cidade local” por


Santos (1979), com a média tem sido distintas de outros períodos, haja visto
que ambas se refuncionalizaram após a década de 1970.

A pequena cidade, que antes dependia do campo de um modo tradicional


(divisão do trabalho, alimento), passou a equipar-se em função do campo,
agora tecnificado, com equipamentos, mão-de-obra especializada, informações
técnicas, sementes, adubos, bancos armazéns e outros.

Constroem-se meios de transporte (rodoviários, ferroviários e aéreos);


elos que são criados e articulados, alterando o processo produtivo entre ambos
por meio das solicitações de produção, circulação, distribuição e consumo.

De acordo com Santos (1993), deixa de ser a cidade dos “notáveis”,


onde quem tem vez é o juiz, o prefeito, o padre e a professora; ganham
relevância outras funções que o Meio técnico veio acrescentar: profissionais e
técnicos responsáveis pelo solo, pelo gado, pelo plantio; em que a qualidade
do produto, a preocupação com setores jurídicos ambientais e trabalhistas e a
estabilidade do mercado fazem-se presentes; por isso, torna-se a cidade
econômica; cuja função é adequar-se ao campo, tecnificado, especializado,
deixando de ser apenas uma “cidade no campo”.
164

Segundo Oliveira e Soares (2000), nesse processo, em que a técnica,


ciência e informação infiltram-se rapidamente, as pequenas cidades são as
mais prejudicadas, porque não apresentam condições concretas de suprirem-se
de todos os bens e serviços ou os vendem a preços muito elevados, por não
conseguirem competir no mercado, e, sendo assim, sempre perdem população.
Muda-se a função e aumentam-se as necessidades, diante de seu nível urbano
elementar.

A cidade local, segundo Santos (1979), caracteriza-se por ser a “célula


mater”, que atende às necessidades de uma população, distingue-se de uma
cidade média pela sua influência estritamente local, atendendo a seu entorno,
ou seja, as vilas e a zona rural.

Essas pequenas cidades aumentaram rapidamente a partir de 1970;


cidades que foram se emancipando e/ou refuncionalizando para atender às
exigências locais e do entorno.

Nesse processo de modernização, vão se abastecer de um aparelho


comercial, administrativo e bancário, fundamentais para o novo Período
tecnológico.

Oliveira e Soares (2000) afirmam que o tema das cidades locais gera
polêmica na pesquisa, já que deixa lacunas diante de estudos empíricos.

São cidades que não apresentam tamanhos definidos, podendo-se


entender que as funções elementares voltadas ao local e ao entorno podem
também ser resultado de vários processos locais e regionais. Isso porque
“cada lugar é singular, e uma situação não é semelhante a qualquer outra;
cada lugar combina de maneira particular variáveis que podem, muitas vezes,
ser comuns a várias lugares”. (SANTOS, 1988, p. 57).

Portanto, consideramos que a materialização das pequenas cidades


locais da Mesorregião do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e suas relações
com o campo e com as cidades maiores apresentam-se, ao mesmo tempo,
semelhantes e diferentes da realidade de pequenas cidades locais de outras
regiões e estados.
165

Fatores endógenos a região, tais como a inexistência de resistência


cultural, o papel das elites locais e o tempo de inserção do Meio técnico
foram fundamentais para o desenvolvimento dos pequenos centros
Triângulinos, em equiparem-se para o campo tecnificado da região. Uma
realidade regional distinta, mediante um processo histórico-econômico-
político singular no estado de Minas Gerais.

Além dessa configuração urbana, o Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba


tornou-se um entreposto comercial entre os estados de Goiás e São Paulo,
recebendo intensos investimentos nos setores de transporte (rodovias e
ferrovias), comunicação e na formação de um complexo agroindustrial (soja,
café, leite e carne).

A especialização das pequenas cidades locais do Triângulo


Mineiro/Alto Paranaíba supre apenas as necessidades básicas da população
local e do campo, como impõem o Período tecnológico e a necessidade
regional. A presença do aparelho comercial, administrativo e bancário,
segundo Santos (1979), é o suficiente para considerar esses centros como
cidades locais.

Os estudos de Oliveira e Soares (2000), sobre as pequenas cidades


locais do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba revelaram que, por ser essa
Mesorregião especializada na produção voltada para a agroindústria, os
pequenos centros vão equipar-se conforme a demanda da produção regional.

Além do aparelho voltado para o Meio técnico, como determina Santos


(1979), outros fatores também caracterizaram as pequenas cidades locais da
região: a presença de pelo menos um hospital, escolas de ensino Fundamental
e Médio, redes de abastecimento de água e coleta de esgoto sanitário, redes de
energia elétrica, serviços de telecomunicações (telefone, emissoras de rádio,
jornal local), agências bancárias, correios, e particularmente, serviços de
armazenagem (armazéns e silos), representantes da especialidade em grãos da
região.

Analisar a função que as cidades locais exercem no seu local/entorno,


frente ao Período técnico científico informacional, é fundamental para
entendermos sua dinâmica com a cidade média numa determinada região. São
166

essas interações que geram especializações regionais, formando as redes,


sejam elas de serviços, comércio, comunicação, transporte, entre outras.

Se considerarmos em seus aspectos físicos, sócio-econômicos, políticos


e culturais, levando em conta suas especificidades, os municípios que
compõem a Microrregião de Ituiutaba têm a mesma evolução histórica de
Ituiutaba, cuja base econômica é a agropecuária.

Esses pequenos municípios, ligados ao campo, têm buscado equipar-se


com aquilo que é necessário (e possível) para atender à demanda do campo
tecnificado.

Nos estudo de Oliveira e Soares (2000), realizado com base na


contagem populacional de 1996, as cidades de Capinópolis e Santa Vitória são
vistas como cidades locais; as demais ainda não conseguiram equipar-se com
um aparelho comercial, administrativo e bancário completo, capaz de atender
a seu entorno, como evidencia a tabela 22.

Trata-se apenas de pequenas cidades que não atingiram grau de


funcionalidade local, como exige o Meio técnico científico informacional.

Todos os municípios da Microrregião, com exceção de Ituiutaba, são


considerados pequenas cidades, e estão intimamente ligadas ao campo.

Tabela 22 - Microrregião de Ituiutaba: caracterização, população e grau de


urbanização das cidades. (Contagem de 1996)

Grau de
Municípios Caracterização População
urbanização

Ituiutaba Cidade Média 87.751 92,7

Cachoeira - 2.278 81,5


Dourada

Capinópolis Cidade Local 15.013 89,5

Gurinhatã - 7.146 38,7


167

Ipiaçú - 3.984 86,6

Santa Vitória Cidade Local 16.920 78,1

Fonte : Oliveira e Soares, 2000. Soares, B. R. et al., 2000. Org.: OLIVEIRA, B. S.,
Dez./2002.

Ituiutaba, nesse sentido, representa o centro médio que atende a esses


núcleos com serviços mais qualificados e especializados de que o pequeno
centro ainda não dispõe, tais como um curso técnico ou superior, uma
consulta médica especializada, um ônibus que tenha trajeto mais distante e
que não passe pelo pequeno município ou mesmo um comércio que venda
peças e equipamentos mais especializados.

São funções que as pequenas cidades vêm discretamente desenvolvendo,


mas que, em muitos casos, são buscados na cidade média, quando não, na
grande.

4.3 – Ituiutaba: a “estrela” do Pontal 3 8 ?

Ituiutaba tem se caracterizado como uma cidade de destaque na sua


Microrregião, mediante sua infra-estrutura de serviços e equipamentos. Por
ser mais completa que os demais centros urbanos próximos, tornou-se um
centro atrativo e polarizador, em que esses pequenos núcleos tendem a ir
buscar serviços e consumo em geral.
38
Nesse sub-capítulo, “Pontal” refere-se a Microrregião de Ituiutaba e alguns municípios
mais próximos, trata-se de um termo usado popularmente pela mídia Triângulina.
168

Santos (1985, p. 88) afirma que o nível de serviços “oferta provável”


deve ser previsto na cidade, e, ainda, esse mesmo nível deverá ser para cada
classe urbana, satisfatório. “Como as cidades interagem ao máximo com a
área de ação correspondente à sua ordem, o nível dos serviços nela existentes
tem um efeito certo sobre a região”, além do mais, o desenvolvimento
econômico e social da região fará com que muitas dessas funções sejam
realizadas em cidades próximas, à medida que aumente a acessibilidade física
e financeira de todos.

Essa acessibilidade física tem sido o fator predominante para a


materialização das interações que os pequenos centros têm realizado com
Ituiutaba. O desenvolvimento da circulação (BR 365, MG 154, BR 153), além
de uma melhoria e ampliação da rede de transporte interurbano contribuem
para tal.

Por outro lado, a acessibilidade financeira que ora restringe, ora


possibilita, também cria relações fortes entre Ituiutaba e os centros da região.
Serviços de saúde pública e de educação superior são exemplos de
polarização, contudo, nem sempre, a situação financeira, permite que todos
gozem dos mesmos direitos e vantagens, com a mesma intensidade.

Nesse sentido, a classe mais abastada tem possibilidade de procurar


serviços em centros mais distantes e mais equipados, enquanto as mais pobres
ficam restritas a usar no máximo, os serviços disponíveis e acessíveis nas
cidades mais bem equipadas que estão mais próximas.

O mesmo ocorre com relação ao comércio e setor industrial. Em uma


pesquisa realizada pelo SEBRAE-MG (1995), com empresários desses setores
em Ituiutaba, ficou evidenciado que a clientela principal está concentrada em
primeiro lugar, no município (89,2%) e, em segundo, na região (33,1%).

Entre essas cidades consumidoras do setor industrial, comercial e de


serviços Tijucanos, destacam-se: Capinópolis, Santa Vitória, Frutal, Monte
Alegre de Minas, Gurinhatã, São Simão, Cachoeira dourada, Uberaba e
Uberlândia.
169

Como vemos, a flexibilidade da hierarquia é tão real, que mesmo


grandes centros da região, ao contrário do que se espera, também buscam em
centros menores, a solução para suas necessidades.

Em seguida, fragmentamos nosso estudo em três itens, necessários para


compreender a polarização de Ituiutaba com seu entorno. São eles: educação
superior, saúde pública e transporte intermunicipal.

Mediante pesquisa de campo e análise de dados, poderemos verificar


quais centros urbanos são influenciados por esses serviços e qual a função
resultante desse processo para a cidade de Ituiutaba.

4.3.1 – Educação Superior: uma ampla rede

A educação sempre foi, para os Ituiutabanos, sinônimo de orgulho. A


preocupação com o ensino materializou-se muito cedo; o primeiro grupo
escolar data do início do século XX, durante emancipação da cidade (1901),
cujo nome era “Vila Platina”, passando, posteriormente, a ser denominado de
Escola João Pinheiro.

Após seis décadas, o município já apresentava trinta e uma escolas


rurais, dez grupos escolares, seis escolas particulares, quatro
estabelecimentos de curso médio, quatro ginásios, duas escolas de datilografia
e uma escola de pilotagem. (ZOCOLI, 2001).

Também em 1960, surgiu o interesse de diversos representantes e


instituições em introduzir o ensino superior na cidade; um desafio que se
tornou realidade ainda na mesma década, mediante a criação de duas
faculdades que atuam até os dias atuais (início século XXI).

A primeira foi a Universidade do Estado de Minas Gerais, UEMG, que


se iniciou com a criação da Fundação Educacional de Ituiutaba – FEIT
mediante a Lei Estadual n o 2914.

O terreno para sua instalação foi cedido pelo prefeito Samir Tannús; um
total de 55.000 m 2 , e o primeiro vestibular foi realizado em março de 1970
170

para os cursos de Ciências biológicas, Matemática, Letras, Pedagogia e


História. Em 1973, ampliaram-se as vagas para as áreas de Ciências, Estudos
sociais e Pedagogia.

Em 1986, ocorreu a fusão das faculdades de Filosofia, Agronomia e


Engenharia Elétrica, surgindo o Instituto Superior de Ensino e Pesquisa de
Ituiutaba (ISEPI).

Na metade da década de 1990, o ISEPI teve os curso de Tecnologia em


Informática e Química reconhecidos, restando a autorização dos cursos de
Psicologia e Engenharia de computação, em 1998, e Direito em 2001.

A FEIT/ISEPI/UEMG constitui-se num centro bem montado com


atendimento pra 1.800 alunos, distribuídos em doze cursos. Ainda que
mantenha a denominação de “Estadual de Minas Gerais”, esta Universidade
não está estadualizada e mantém regime privativo, cobrando mensalidade de
seus alunos (figura 19).

A outra instituição de ensino superior, denominada de Escola Superior


de Ciências Contábeis e Administrativas de Ituiutaba - ESCCAI – (figura 20),
teve sua fundação em 1968, cujo órgão responsável foi a Associação
Comercial e Industrial de Ituiutaba - ACII - sua mantenedora.

A autorização pelo MEC e o início do seu funcionamento só ocorreram


em 1970. Iniciaram a primeira turma nas dependências do Instituto Marden,
passando para sua sede própria em 1972. Até 1983, a instituição tinha o nome
de Escola de Administração de Empresas de Ituiutaba – EAEI.
171

Figura 19 – Ituiutaba/MG: Universidade Estadual de Minas Gerais – UEMG –


Bloco dos cursos de Agronomia, Sistema de Informação e Eng. Elétrica, 2002.

Autor : OLIVEIRA, B. S., 2002.

Em 1984, foi autorizado o curso de Ciências Contábeis, obtendo seu


reconhecimento em 1989 e, com isso, a escola passou a ser denominada pelo
atual nome de ESCCAI. Finalmente, em 2002, foram implantados mais dois
novos cursos: Turismo e Comunicação social – Publicidade e Propaganda.

Ambas as instituições de ensino superior geram grande


representatividade para Ituiutaba na região e indiretamente no país.
Percebemos isso, mediante a origem dos alunos ingressantes no vestibular. Na
ESCCAI, conforme informações repassadas pela secretaria da escola, durante
os vestibulares de 2000, 2001 e 2002, houve uma porcentagem reduzida de
alunos oriundos de outras cidades matriculados na instituição, predominando
o fluxo local com mais de 70% de presença (figura 21). Os demais são de
outras cidades da região do Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e do estado de
Goiás.
172

Figura 20 – Ituiutaba/MG: vista parcial da Escola Superior de Ciências


Contábeis e Administrativas de Ituiutaba - ESCCAI, 2002.

Autor : OLIVEIRA, B. S., 2002.

Em 2000 e 2001, os números de alunos ingressantes de Ituiutaba foram


de 108 e 106, respectivamente, e pouco mais de 30 alunos originários de
outras cidades. Em 2002, com a instalação dos cursos de Turismo e
Comunicação Social, o fluxo de alunos dobrou, passando para 206
ingressantes de Ituiutaba e 66 de outras cidades, contudo, como vemos na
figura 21, a porcentagem mantém-se proporcional aos dois anos anteriores.

Por falta de informações mais detalhadas, não foi possível saber a


porcentagem com a qual cada cidade participa, mas somente seus nomes,
como verificamos na tabela 23.
173

Figura 21

Fonte : Escola Superior de Ciências Contábeis e Administrativas de Ituiutaba – ESCCAI,


2002. Org .: OLIVEIRA, B. S., Set ./2002.

Tabela 23 - ESSCAI/Ituiutaba-MG: origem dos alunos ingressantes entre


2000 a 2002.

Triângulo Mineiro/Alto GOIÁS


Paranaíba-MG

Araporã Cachoeira Dourada de Goiás


Cachoeira Dourada Itaguaçú
Canápolis Itumbiara
Capinópolis São Simão
Centralina Rio Verde
Gurinhatã Jataí
Ipiaçú Quirinópolis
Monte Alegre de Minas
Santa Vitória
Uberlândia
Fonte : Escola Superior de Ciências Contábeis e Administrativas de
Ituiutaba – ESCCAI, 2002. Org.: OLIVEIRA, B. S., Set./2002.
174

As cidades que compõem a área de polarização da ESSCAI/Ituiutaba são


todas próximas, num raio máximo de 130 Km (Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba); um fluxo pendular que se dirige a Ituiutaba e retorna para sua
cidade de origem diariamente, mediante ônibus que as prefeituras locais
cedem, como podemos observar na figura 22.

Figura 22 – Ituiutaba/MG: ônibus escolares cedidos pelas prefeituras dos


municípios vizinhos para trafegar com alunos da ESCCAI e da UEMG, 2002.

Autor : OLIVEIRA, B. S., Jul./2002.

Quanto às cidades de Goiás, estas são mais distantes, havendo algumas


com mais de 200 Km de distância, tais como Jataí, Rio Verde, Quirinópolis e
Itaguaçú. O fluxo de alunos originário delas, tende a fixar-se em Ituiutaba,
retornando, periodicamente, aos seus locais de origem.

Já na UEMG, o fluxo de aluno é bem maior que na ESCCAI, pelo fato


de possuir uma estrutura montada para doze cursos superiores.
175

Também possui um sistema de informação mais sistematizado, o que


nos permitiu analisar com mais profundidade a origem dos alunos ingressantes
nos vestibulares de 1999, 2000 e 2001.

Com base nessas informações, selecionamos o fluxo de alunos oriundos


da Microrregião de Ituiutaba, incluindo a cidade sede e estados. Perceberemos
que, a exemplo da ESCCAI, a maior intensidade do fluxo de alunos
matriculados também são de origem de Ituiutaba, como nos evidencia a tabela
24.

Tabela 24 - UEMG/Ituiutaba-MG: porcentagem dos alunos ingressantes entre


1999 e 2001, originados da Microrregião de Ituiutaba.

Cidades 1999 (%) 2000 (%) 2001 (%)

Ituiutaba 50,72 52,15 50,22


Capinópolis 3,15 3,77 6,67
Santa Vitória 3,01 3,11 6,84
Ipiaçú 0,64 0,47 0,71
Gurinhatã 0,64 0,37 0,98
Cachoeira Dourada 1,50 3,10 3,02
Total 59,66 62,97 68,44

Fonte : Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, 2002. Org .: OLIVEIRA, B. S.,
Set./2002.

Somente as cidades da Microrregião de Ituiutaba, com exceção da


cidade polo, participam numa faixa entre 8 e 18% de alunos, um fluxo
relevante diante daquele proveniente do restante de Minas Gerais e outros
estados, tais como GO e SP, que também contribuem com o fluxo de
estudantes em Ituiutaba, como vemos na tabela 25.

O ensino superior tem sido um fator de polarização de Ituiutaba com


outros centros, inclusive com alguns distantes, localizados nos estados do
Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Paraná, entre outros.
176

Tabela 25 - UEMG/Ituiutaba: porcentagem de alunos ingressantes entre 1999


e 2001, por estados brasileiros.

Vestibulares anuais (%)


Estados
1999 2000 2001
BA 0,07 0,18 0,18
DF 0,14 0,19 0,54
ES 0,14 0,19 -
GO 14,8 15,86 13,10
MA - 0,09 -
MG 80,41 81,48 82,49
MS 0,14 - 0,27
MT 0,35 0,28 0,63
RJ 0,07 - 0,09
RO 0,07 - 0,09
SP 3,46 1,36 2,61
TO 0,35 0,19 -
PE - 0,09 -
PR - 0,09 -
Total absoluto de
1.396 1.062 1.125
alunos matriculados
Fonte : Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, 2002. Org .: OLIVEIRA, B. S.,
Set./2002.

Entretanto, são os estados de MG, GO e SP que concentram maior


porcentagem de alunos que utilizam o ensino superior de Ituiutaba. Goiás
representa o segundo estado de maior representatividade, perdendo apenas
para Minas Gerais. Participa com cerca de 13 a 15% de fluxo no período de
1999 a 2001. As cidades que mais se destacam são Itumbiara, São Simão e
Cachoeira Dourada de Goiás.

São Paulo fica em terceiro lugar, com uma participação menor que 4%
no período, porém relevante. Cidades tais como Araminas, Ribeirão Preto, São
José do Rio Preto e Votuporanga são algumas que se destacam entre as
177

demais. No entanto, é Minas Gerais o estado que mais dispõe de alunos que se
direcionam para Ituiutaba.

Além da própria Microrregião, outras cidades do Triângulo


Mineiro/Alto Paranaíba também se sobressaem, entre elas: Canápolis,
Centralina, Campina Verde, Monte Alegre de Minas, Araguari, Uberaba e
Uberlândia. Diante desses dados, temos que Ituiutaba consegue exercer
polarização nos serviços de educação superior, principalmente em nível
regional e em menor intensidade sobre outras cidades de Minas Gerais e de
outros estados.

4.3.2 – Saúde Pública: palco de fluxo regional

A saúde, desde os primórdios da cidade, também tem sido palco de


importância entre moradores e autoridades. Logo no início do século XX,
entre 1902 e 1905, a então “Vila Platina” recebia o seu primeiro médico, Dr.
José Petraglia.

Em cinco décadas, quando a cidade já era conhecida como “Capital do


Arroz”, sediava cinco hospitais com 88 leitos, um serviço de saúde e
dezenove médicos exercendo a profissão (IBGE, 1959), destacando-se como
um exemplo na região. Nesse período, havia uma população estimada em
pouco mais de 50 mil habitantes.

Após mais cinco décadas (2000), verificamos uma configuração mais


heterogênea e mais sólida com relação à saúde, ao todo, são sete hospitais
particulares que atendem pelo SUS, nove postos de saúde e um total de 594
leitos; um aumento de quase seis vezes mais em relação à 1950, enquanto a
população cresceu, nesse meio século, quase 70%, passando de 52 mil
habitantes para mais de 88 mil. (Censos de 1950 e 2000). Aumentou a
população e, junto, a demanda por profissionais da saúde, que saltou para 128
médicos. (Prefeitura Municipal Ituiutaba, 2001).
178

A proximidade de Ituiutaba com centros capacitadores na área de


medicina, tais com Uberlândia e Uberaba, incentivou a ampliação desse setor.
Além do número de médicos, ampliou-se também suas diversas
especialidades, com verificamos na tabela 26.

Tabela 26 - Ituiutaba/MG: especialidades médicas, 2002.

N o de N o de
Especialidade Médica Especialidade Médica
especialistas especialistas
Anatomia patológica 01 Nefrologia 01
Neurologia e
Anestesiologista 05 02
neurocirurgia
Angiologia e Cirurgia
02 Oftalmologia 05
Vascular
Ortopedia e
Cardiologia 04 07
traumatologia
Cirurgia Geral 14 Otorrinolaringologia 03
Cirurgia Plástica 03 Patologia Clínica 01
Clínica Geral 26 Pediatria e Neonatologia 10
Clínica Médica 08 Pneumologia 01
Dermatologia 03 Proctologia 02
Ecocardiografia 02 Psiquiatria 03
Endocrinologia e
01 Radiologia 04
Metabologia
Endoscopia Digestiva 01 Reumatologia 01
Fisiatria 01 Terapia intensiva 01
Ginecologia e Obstetrícia 12
Urologia 03
Medicina do Trabalho 09
Fonte : UNIMED Ituiutaba, 2002. Org .: OLIVEIRA, B. S., Set./2002.

A variedade de especialistas e a boa estruturação do setor médico


instaladas em Ituiutaba, geram necessidades desses serviços nas pequenas
cidades próximas.

Estas, por apresentarem um corpo médico restrito, aproveitam da


proximidade e da infra-estrutura urbana e rodoviária que Ituiutaba oferece.
179

Diante disso, para uma melhor organização do sistema de saúde local e


com o objetivo de atender à região, a Secretaria Regional de Saúde de
Ituiutaba (figura 23), estabeleceu um procedimento de “cotas” com os
municípios de Canápolis, Capinópolis, Ipiaçú, Gurinhatã, Centralina, Campina
Verde, Cachoeira Dourada e Santa Vitória, conforme visualizamos na figura
24.

A pactuação desses municípios com Ituiutaba tem validade pelo período


de um ano, fazendo-se a renovação no ano seguinte. A partir disso, eles
passam a compreender a Diretoria Regional de Saúde (DRS) de Ituiutaba.

Nessa pactuação, o município interessado em servir-se das


especialidades médicas presentes em Ituiutaba precisa repassar mensalmente
uma verba (cujo valor não nos foi informado) e, com isso, adquire uma cota
própria de saúde com determinado número de vagas para consultas e exames,
em diversas especialidades.

Figura 23 – Ituiutaba/MG: Secretaria Municipal de Saúde, 2002.

Autor : OLIVEIRA, B. S., Ago./2002.


180

Figura 24 – Ituiutaba/MG: área atendida por cotas no setor da saúde durante o


ano de 2001 a 2002
181

Como o valor da cota é pactuado, o município interessado não pode


ultrapassar o limite de vagas estipuladas mensalmente. Para o ano de 2001-
2002, as cotas foram estipuladas da seguinte forma (figura 25):

Figura 25
F onte : Secretaria Regional de Saúde de Ituiutaba, 2002. Org.: OLIVEIRA,
B. S., Set./2002.

O número de cotas médicas não é estabelecido em função do número de


habitantes do município pactuado, mas sim pelo valor que esse município
paga ao SUS de Ituiutaba. Como exemplo, temos Gurinhatã, com 6.880
habitantes, que teve assegurado em 2001-2002 mais cotas médicas que
Centralina e Capinópolis, ambos, municípios com população acima de 10 mil
habitantes.

Esses mesmos municípios da DRS, incluindo Ituiutaba, mantêm


pactuação com Uberlândia e são atendidos no Hospital de Clínicas da
Universidade Federal de Uberlândia.
182

Trata-se de novas vagas para consultas e exames especializados, tais


como citopatologia, eletroencefalograma, anatomia patológica, entre outros,
de que Ituiutaba não dispõe ou que seja mais restrito.

As consultas são marcadas por telefone; a secretaria de saúde do


município pactuado entra em contato com a de Ituiutaba e agenda suas
consultas e exames e o meio de transporte utilizado por esses pacientes são os
ônibus da prefeitura das cidades pactuadas ou ambulâncias para casos de
internação.

Como verificamos, o setor médico, precário nacionalmente, ainda


mantém funções atuantes fundamentais para a população de baixa renda; as
pequenas cidades são as que mais reclamam esses serviços pela necessidade
de profissionais da saúde local.

A melhoria da circulação e dos transportes em muito contribuiu para


que melhorasse e se descentralizasse esse tipo de atendimento; um exemplo
disso ocorre na Microrregião de Ituiutaba onde o paciente não fica “preso” em
Ituiutaba; se não houver sua especialidade nessa cidade, existem meios para
deslocar-se em busca de atendimento gratuito em Uberlândia ou Ribeirão
Preto ou mesmo na grande São Paulo.

Contudo, evidenciamos que, para um atendimento básico e com


determinado grau de especialização, Ituiutaba tem se mostrado como um pólo
regional voltado também para a saúde, cujo raio de atuação compreende sua
Microrregião e outros pequenos municípios próximos, tais como Campina
Verde, Centralina e Canápolis.

4.3.3 – Transporte Intermunicipal: o destino dos fluxos

Analisar o serviço de transporte intermunicipal em Ituiutaba constituiu-


se numa árdua pesquisa, justamente pelo fato de não existirem informações e
dados arquivados sobre a origem dos passageiros, o que, a priori, era nosso
maior interesse.
183

Ao nos depararmos com a ausência dessas informações, fosse pela


Secretaria do Terminal Rodoviário “Fernando Alexandre” (figura 26), fosse
pelas próprias empresas que atuam em Ituiutaba, decidimos considerar a
importância do fluxo que sai da cidade, qual seu destino e qual o raio de
atuação.

Figura 26 – Ituiutaba/MG: vista do Terminal Rodoviário “Fernando


Alexandre”, 2002.

Autor : OLIVEIRA, B. S., 2002.

Por esse motivo, existem lacunas nessa pesquisa que poderão ser mais
bem analisadas num próximo estudo, que diz respeito ao destino/origem real
dos passageiros; se eles realmente residem em Ituiutaba ou vêm de outra
cidade próxima, fazendo baldeação ou simplesmente estão retornando para
suas cidades, bem com se eles têm como destino real a cidade referida no
184

bilhete ou vão descer no meio do trajeto. Contudo, interessa-nos somente


analisar o destino que os bilhetes das empresas evidenciam.

Sabemos que o destino e a distância percorridos por esses passageiros


levam o conhecimento de Ituiutaba a outros lugares, criando uma imagem
qualquer ou uma curiosidade naquele que ouve o nome, mas desconhece a
cidade e sua história.

Vários são os motivos que geram a necessidade do deslocamento, mas é


nas férias o período de maior movimento do fluxo, são os filhos da cidade que
se ausentaram para estudar ou trabalhar ou aqueles que voltam para visitar
familiares, além de viajantes em busca de negócios e de consumo.

Com relação ao último caso, o SEBRAE (1995) concluiu, numa pesquisa


realizada com 267 consumidores de Ituiutaba, que 17% desses entrevistados
têm o hábito de comprar fora da cidade. Entre eles, 63,8% o fazem em
Uberlândia, 12,8% em São Paulo e 8,5% em Goiânia.

Essas mesmas cidades possuem um fluxo considerável de passageiros


em sua direção. Uberlândia, por exemplo, mantém uma linha da Empresa
Transcol, que trafega quatorze horários entre as 6:00 e as 21:00 horas,
atendendo a uma demanda intensa, além de São Paulo e Goiânia, que mantêm
também uma linha diária pela empresa Nacional Expresso com dois horários.

Além dessas cidades, o fluxo regional dirige-se para outras capitais,


tais como Belo Horizonte e Brasília, além de cidades do Goiás e do próprio
Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

Diga-se de passagem que o fluxo populacional que movimentou a cidade


nas décadas de 1950 e 60, gerou uma posição privilegiada para Ituiutaba, que
ficou conhecida nacionalmente pelo arroz. Diante disso, um dos signos desse
movimento era a própria rodoviária, a qual, segundo informações locais,
concentrava uma grande frota de ônibus, muito maior que a dos anos de 1990;
o comércio era bastante acirrado e cada espaço tinha preço de ouro.

Contudo, por diversas situações já apontadas anteriormente, o fluxo


reduziu-se na cidade, e o signo do movimento perdeu seu significado. O
185

terminal adquiriu um aspecto pacato, em que o fluxo de pessoas é lento e o


comércio é limitado.

Apenas oito empresas atendem o município: Expresso São Marcos,


Transporte Coletivo de Uberlândia, Empresa Gontijo, Viação Platina,
Nacional Expresso, Empresa Auto Ônibus Santa Rita, Viação Rio Grande e
Viação Estrela; ao todo, fazem 27 linhas diferentes que abrangem MG, GO,
DF, SP, MT, MS e RO.

Mediante informações sobre o destino dos passageiros por


linha/empresa, cedidas pela secretaria do terminal rodoviário, verificamos que
os picos maiores ocorrem nos meses de férias, tais com dezembro/ janeiro e
julho. A figura 27, com o exemplo de Uberlândia, São Simão, Goiânia e São
Paulo, evidencia o fluxo de passageiros entre os meses de janeiro a dezembro
de 2001.

Figura 27
Fonte : Terminal Rodoviário Fernando Alexandre, jul./2002. Org .: OLIVEIRA, B. S.,
2002.

Uberlândia foi a cidade que recebeu o maior contingente populacional


durante o ano de 2001, cuja média mensal alcançou 5.021 passageiros,
186

restando um segundo lugar para São Simão, ambas tendo um raio de distância
máximo de 130 Km.

A primeira caracterizando-se como a maior cidade da região, cuja oferta


de serviços e mercadorias é mais completa em nível regional e a segunda é a
porta de entrada para Goiás. E, ainda, Goiânia e São Paulo destacam-se por
serem as capitais mais procuradas pela população Tijucana e região.

As demais linhas possuem um número reduzido de passageiros, mas


todas evidenciam a mesma intensidade de movimento entre dezembro, janeiro
e julho.

Dentre essas linhas, algumas cidades conseguiram se sobressair em


2001, compreendendo uma “teia urbana” unida à Ituiutaba, como visualizamos
na figura 28.

Pela figura 28, verificamos que os fluxos que partem de Ituiutaba


dirigem-se principalmente para cidades da Microrregião, Goiás e São Paulo,
compreendendo no mínimo, um tráfego de quinhentos passageiros circulando
no mês de janeiro de 2001, mês que se caracterizou de maior pico naquele
ano.

Cidades tais como Cachoeira Dourada (GO), Gurinhatã (MG), Frutal


(MG), Belo Horizonte, São Paulo e Ribeirão Preto (SP), foram as que se
destacaram por receber um fluxo entre 500 e 1000 passageiros nos meses de
férias.

Os centros que receberam fluxo entre 1000 e 3000 passageiros,


visualizados na figura anterior, foram Cachoeira Dourada (MG), Quirinópolis
(GO), Ipiaçú (MG), Uberaba (MG) e Goiânia. E apenas dois municípios
receberam de Ituiutaba, um fluxo acima de 3000 passageiros no período de
férias, foram eles: Uberlândia (MG) e São Simão (GO).

Vários outros municípios compreendem a teia urbana de Ituiutaba ligada


pelo transporte urbano, contudo, não possuem um fluxo tão intenso como os
demais citados anteriormente.
187

Figura 28 – Ituiutaba/MG: fluxo de passageiros durante o período de férias –


embarque de 2001 a 2002
188

Entre as principais empresas que atuam em Ituiutaba, destacam-se os


seguintes municípios, evidenciados na tabela 27:

Tabela 27 - Ituiutaba/MG: empresas responsáveis pelo transporte interurbano


e principais cidades que receberam fluxo de passageiros em 2001.

Empresas Cidades

São Marcos Gurinhatã (MG)

Transcol Uberlândia (MG), Cachoeira Dourada (MG), Ipiaçú


(MG), Cachoeira Dourada (GO) e Quirinópolis
(GO)

Gontijo São Simão (GO) , Paranaiguara (GO) e Belo


Horizonte (BH)

Platina Uberaba (MG)

Nacional Expresso São Paulo (SP) e Goiânia (GO)

Viação Estrela Brasília (DF)

Fonte : Terminal Rodoviário Fernando Alexandre, Jul./2002. Org.: OLIVEIRA, B. S.


2002.

Destacamos pela Empresa Nacional Expresso, São Paulo e Goiânia, as


quais atingem picos em janeiro com mais de 1.200 e 1.700 passageiros,
respectivamente. No entanto, o fluxo com destino para São Paulo sofre
variações ao longo do ano, reduzindo-se a uma média de 400 a 700
passageiros. Geralmente, são comerciantes e sacoleiros de Ituiutaba e região
em busca de produtos mais baratos na capital para revenda local.

Por outro lado, Goiânia, que divide com São Paulo os consumidores e
comerciantes, certamente por sua proximidade geográfica e custos
relativamente reduzidos, consegue reter um alto fluxo durante todo o ano.
Uma média de 1.000 a 1.200 passageiros/mês, com exceção para os meses de
janeiro e julho, em que o fluxo ultrapassou 1.600.
189

De um modo geral, verificamos que os estados de GO e SP mantêm uma


estreita ligação com Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba e, particularmente,
com Ituiutaba. Sua localização em muito influenciou na inter-relação com
esses estados, pois faz intersecção com ambos por meio da BR 365 e 153.

Essa interação de Ituiutaba com as demais cidades desses estados, e


com a própria região, gera uma teia urbana, cuja polarização é evidenciada no
próprio contexto da situação, em que os passageiros que saem de Ituiutaba
têm duas opções: saem dessa cidade temporariamente (salvo exceções) para
retornar posteriormente, ou estão voltando para sua cidade destino.

Como o período de pico é dezembro/julho, estamos tratando de um


fluxo ligado ao setor escolar, mais jovem, por vezes, universitários,
aproveitando as férias escolares e festas de fim de ano, bem com
trabalhadores ou grupos familiares que se deslocam para/de Ituiutaba para
outras visitas.

Nesse contexto, o fluxo/destino leva uma imagem de cidade pacata e


serena, reservada para visitas a familiares e amigos e, cujo o povo Tijucano
“esconde” uma força interna, uma vontade de vencer e uma solidariedade
regional, em que a saúde, a educação superior e o transporte intermunicipal
possuem forças capazes de polarizar mais que sua própria Microrregião,
levando, com isso, sua mensagem para outros estados e exercendo seu papel
no cenário regional.

Ainda guarda na essência suas virtudes de “Capital do Arroz”, contudo,


a pecuária veio restabelecer sua economia numa fusão de valores sociais e
econômicos. Hoje, início do novo século, Ituiutaba representa uma estrela –
pólo, localizada no Pontal do Triângulo, mais próxima de Goiás do que do
resto do estado de Minas Gerais; em cujo locus ocorre uma fusão nordestina e
goiana em que o resultado é visto no jovem Mineiro, sedento por uma nova
dinâmica local, por uma vida melhor, tal qual seus avós já desfrutaram nos
anos de 1950.
190

CONSIDERAÇÕES FINAIS

CONSIDERAÇÕES FINAIS
191

Compreender a dinâmica local e regional de Ituiutaba, a distribuição de


suas atividades produtivas, a concentração e desconcentração no espaço
geográfico, leva-nos a refletir que nem sempre esses fatores obedecem a uma
tendência única e específica, mas, sim, a um conjunto de circunstâncias
históricas, que envolvem “desenvolvimento tecnológico, espaço construído e
organização social da produção, do consumo, da circulação e da distribuição”.
São agentes que não agem livremente, mas condicionam e são condicionados
por uma lógica econômica de reprodução do capital no espaço.

Nesse sentido, contextualizamos Ituiutaba e suas transformações sócio-


econômicas e espaciais após 1950, buscando compreender as circunstâncias
históricas que levaram à atual conjuntura.

Foi enriquecedor ser estimulado, como pesquisador, a desvendar aquilo


que “está por trás” das aparências e, principalmente, compreender os fatores
que agiram em conjunto nas metamorfoses do espaço geográfico.

Estivemos diante de um caso impar, em que a imagem de cidade pacata


dos últimos 20 anos oculta o grande potencial econômico que Ituiutaba
chegou a ser em cinco décadas atrás.

“Capital do Arroz” foi título que a cidade ganhou nesse período e


representou toda a euforia econômica do momento; os frutos adquiridos desse
período foram transformados e/ou investidos no próprio espaço geográfico
local.

As fazendas foram paulatinamente alterando sua atividade arrozeira


para a pecuária, a qual já era uma prática em menor intensidade, e a cidade
passou a receber o fluxo oriundo do campo, exigindo novos loteamentos,
construção de conjuntos habitacionais e primordialmente, instalação de infra-
estrutura básica.

A instalação de uma filial da Nestlé, processadora de leite em pó, em


Ituiutaba, mostrou que o leite já ganhara espaço na região e incentivou ainda
mais para sua especialização. Passou a exigir técnicos e equipamentos
modernos. Diante disso, os fazendeiros dos anos 1980/90 vivenciaram uma
192

nova realidade em relação aos anos de 1950, e a cidade buscou adaptar – se a


essas mudanças do Período tecnológico.

Muda a atividade econômica, mas permanece o tradicional coronelismo


político, cuja elite, ligada à agropecuária há décadas, tem governado em
função de seus interesses pessoais. Transmitem a visão de uma “cidade
pacata, boa para se viver e criar os filhos”, em que o progresso e
desenvolvimento não fazem parte de seus ideais.

Possuem uma visão negativa do desenvolvimento industrial, creditando


nele, os males da sociedade, como malandragem, roubos e crimes, que
poderão ameaçar a paz de Ituiutaba.

Paralela a esse grupo conservador, desponta, no final década de 1990,


outra classe de caráter mais empresarial, ligada aos setores agro-industrial,
cujos integrantes estão ligados também a elite pecuarista, fazendeiros,
comerciantes e órgãos como a FIEMG e a ACII, interessados no crescimento e
desenvolvimento de Ituiutaba e região do Pontal.

O trabalho mais concreto desse grupo foi a instalação de uma Bolsa de


Arrendamento de terras, visando intensificar novamente a agricultura na
região, a partir da soja, em médio e longos prazos, e incentivar a
agroindústria local.

A tentativa de dinamizar a cidade em todos seus aspectos,


principalmente o sócio-econômico-industrial, tende a chocar-se com os ideais
políticos enraizados na classe conservadora e na população local, que tem
digerido a ideologia do “bem estar social” pregada pela elite.

Esse novo grupo busca melhorar a qualidade de vida da cidade mediante


novos empregos, capital e maior consumo dos habitantes. Talvez com isso, a
imagem da cidade possa modificar-se novamente, foi a “Capital do Arroz” na
década de 1950, a “cidade pacata e tranqüila do Pontal” nos anos de 1980/90,
e, no futuro, com a introdução de empresas e empregos, o sonho de consumo
da população mais jovem seja materializado e tenhamos aí uma cidade
dinâmica novamente.
193

Até então, Ituiutaba concentra um misto de rural/urbano no seu setor


urbano, fruto das experiências e (contra)tradições da população local.
Contudo, essas particularidades não impediram que a cidade fosse
desenvolvendo-se nos setores de saneamento básico e infra-estrutura geral. E
são essas estruturas que impedem que a grande massa populacional se
desloque para outros centros, mas, ao contrário, a cidade já consegue
promover uma atração regional em busca de seus serviços.

Neste estudo, analisamos três deles: saúde pública, ensino superior e


transporte intermunicipal, e concluímos que a polarização existente ultrapassa
a Microrregião de Ituiutaba, atingindo a região do Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba, além de outros estados, tais como Goiás e São Paulo.

Ao contextualizar a teoria de Christaller (1966), frente as críticas de


Santos (1996) e Corrêa (1989), verificamos uma contribuição no sentido de
compreender a existência de um centro distribuidor e um hinterland em nosso
objeto de estudo. Percebemos uma hierarquia urbana flexível, em que centros
de diversos tamanhos adquiriram a possibilidade de manter inter-relações uns
com os outros, mediante as facilidades de Meio técnico científico
informacional, no território brasileiro, após 1970.

Sabemos que as hierarquias não deixam de existir, visto que muitos


centros ainda têm a necessidade de adquirir determinados serviços de que não
dispõem. Mas há toda possibilidade desse fluxo buscar o mesmo serviço em
centros maiores, mais equipados e, por vezes, mais distantes.

A melhoria nas informações, telecomunicações, transporte e circulação,


“quebrou” as barreiras espaciais entre os centros urbanos, “encurtando” a
distância e “contraindo” o tempo.

A hierarquia tornou-se flexível, e os centros de vários tamanhos,


localização e funções, passaram a criar uma complementariedade entre si,
como ocorre entre Ituiutaba e sua Microrregião. Esta possui centros mais
equipados e de maior porte, num raio de 200 Km, tais como Uberlândia e
Uberaba e outros mais distantes, como Ribeirão Preto, São Paulo e Goiânia.
194

Existe, portanto, a possibilidade de “fugir” da hierarquia pois não é


necessário que os pequenos centros da teia urbana de Ituiutaba fiquem
“presos” aos seus serviços.

Um exemplo é a saúde pública oferecida em Ituiutaba, que consegue


atender ao local e outros pequenos centros localizados nas suas proximidades,
mas verificamos que esses mesmos centros possuem pactuação com
Uberlândia e, em casos mais extremos, com Ribeirão Preto. Como vemos, a
pequena cidade tem a possibilidade de ir diretamente ao grande centro
buscando atender a suas necessidades.

O mesmo ocorre com a educação superior, ainda que 50% dos alunos
ingressantes sejam da própria Ituiutaba, o restante caracteriza-se como um
público da região e de outros estados interessados naquele serviço. Além do
transporte intermunicipal, um sinônimo do Meio técnico informacional, capaz
de transportar fluxos populacionais a grandes distâncias. Torna-se o elo entre
Ituiutaba e o resto do país, levando o conhecimento da cidade para onde se
destina.

Certamente, Ituiutaba poderia ser mais dinâmica e gerar novas


polarizações, no entanto, o “ar de arrefecimento”, que paira na cidade há mais
de três décadas (1970 - 2000), tem desmotivado a população local, a
Prefeitura e outros órgãos municipais e federais, em produzir mecanismos e
estratégias para modificar e melhorar a cidade ou simplesmente seu
atendimento.

Esta situação foi o grande obstáculo da pesquisa, a falta de organização


interna dos órgãos públicos, de memória (informações sistematizadas) na
Prefeitura, em instituições e escritórios regionais (IBGE, CEF, Emater,
Rodoviária, ESCCAI e UEMG), foi marcante.

E ainda, a ausência de um Plano Diretor recente, pós 1990, com


diretrizes concretas para o município, o atual, data da década de 1970 e não
dispõe de metas a médio e longo prazos.
195

Com isso, fica uma clara demonstração de falta de organização e


interesse no desenvolvimento da cidade, posto que, sem informações de base,
fica difícil programar um futuro bem estruturado.

A partir dessa virada de século XX/XXI, novas expectativas tomam


conta da população Tijucana; a estadualização da UEMG promoverá o acesso
de vários jovens à universidade e criará a possibilidade de novos
investimentos locais; uma nova geração poderá participar da política local
contribuindo para alterar o conteúdo e a mentalidade da elite dominante e,
principalmente, a materialização das metas desenvolvimentistas da Bolsa de
Arrendamento a médio e longo prazos poderá trazer um novo dinamismo a
Ituiutaba.

A junção desses fatores possibilitará uma nova fase para Ituiutaba


levando a economia regional a tomar um novo rumo e a emergir uma nova
imagem da cidade.

Finalmente, novos estudos temáticos regionais poderão ser realizados e


nesse sentido, esperamos ter contribuído para o enriquecimento dessas
pesquisas, bem como para o despertar crítico dos leitores, agentes e
personagens da história Tijucana.
196

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ENTREVISTAS

VILELA, Manuel Junqueira. Entrevista concedida pelo secretário Municipal


da S. M. de Abastecimento de Ituiutaba. Ituiutaba, ago. de 2002.
205

ANDRÉ, Carlos. Entrevista concedida pelo presidente do Sindicato dos


Produtores Rurais de Ituiutaba. Ituiutaba, ago. de 2002.
206

ANEXOS

ANEXO A - Roteiro de entrevista realizada com o Sr. Manuel J. Vilela

1 – Desde quando o Sr é agropecuarista? Cultivou arroz durante sua fase áurea?

2 – No município de Ituiutaba, que órgão realizava empréstimos voltados para o


arroz na década de 1960? Quais os critérios exigidos para concedê-los?

3 – Na sua opinião, quais motivos levaram a cultura do arroz a perder posição no


município? Como o arroz era escoado de Ituiutaba? Quais eram os principais
municípios compradores?
207

4 – Nas décadas de 1970 e 80, foram implantados projetos agropecuários tais como
o POLOCENTRO e o PRODECER na região. A nível local, em que esses projetos
beneficiaram o produtor? Houve incentivos à pecuária?

5 – Por que a pecuária cresceu intensamente após a segunda metade de 1970? Em


que a Nestle beneficiou? Houve projetos voltados para o desenvolvimento local?
Quais critérios para ser um beneficiado?

6 – O que significou a vinda da Nestle para Ituiutaba? Houve uma maior


especialização do setor leiteiro após sua instalação?

7 – É possível que o plantio da soja na região tenha incentivado a pecuária no


município de Ituiutaba? Há pecuaristas que se ocupam das atividades do gado e da
agricultura ao mesmo tempo?

8 – Seria vantajoso plantar soja na Microrregião de Ituiutaba? E arroz? Qual o


preço atual do custo e venda da saca de arroz? Por ser de sequeira, o arroz tem
qualidade inferior frente ao mercado nacional?

9 – O Sr. concorda que Ituiutaba tem passado por uma certa estagnação nas últimas
décadas? Por que?

10 - Como a política local (estadual) tem visto essa questão de estagnação? Há


planos para se criar uma nova imagem na cidade, a fim de se atrair novos
investimentos?

11 – Na sua opinião, qual será a tendência de Ituiutaba após a instalação da Bolsa


de Arrendamento?

ANEXO B – Roteiro de entrevista realizada no Sind. Produtores Rurais


– Sr. Carlos André.

1 – Quando foi fundado o Sindic ato Rural em Ituiutaba e em que ele contribuiu para o
pequeno produtor, o meeiro, o arrendatário e o agregado?
2 – O sindicato teve o papel de repassar ao produtor rural (após 1950) seus direitos e
deveres com relação ao direitos trabalhistas?
3 - Quando iniciou a decadência do arroz na Microrregião de Ituiutaba?
4 – O que pode ter levado a decadência do arroz na região?
208

5 – Por que a irrigação não teve sucesso na Microrregião de Ituiutaba?


6 – Ainda há alguma beneficiadora de arroz na cidade? De onde são seus fornecedores?
7 – Você acha que a questão da Legislação Trabalhista contribuiu para a mudança de
atividade na Microrregião (da agricultura para a pecuária) ?
8 – O algodão também teve um pe ríodo áureo na região. Quando foi iniciado o cultivo e o
que gerou as altas produções? Por quais motivos esse produto entrou em decadência?
9 – Os agricultores tem atualmente algum subsídio do governo federal?
10 – Após 1973, o governo federal direcionou bastante crédito para a soja. Isso pode ter
prejudicado a cultura do arroz na região?
11 – E por que na Microrregião de Ituiutaba, a soja não teve sucesso após o cultivo do
arroz ?
12 – A partir de quando a pecuária passa a ser mais expressiva na Microrregião de
Ituiutaba?
13- Na década de 1970, houve projetos voltados para a agricultura como o POLOCEN TRO,
o PRODECER, nos cerrados. Houve projetos voltados para a pecuária? Quais?
14 – A soja de alguma forma, contribuiu para que a região do Pontal se especializasse
mais na pecuária? Como?
15 – Com relação à alimentação do gado, a soja pode ter barateado os custos da pecuária?
16 – Qual a característica do pecuarista na região? Pequeno, médio ou grande?
17 – Os produtores vendem o leite para quais empresas? Quanto recebem por litro e quanto
vendem a arroba do boi?
18 – Quando a fábrica da Nestle foi instalada no município de Ituiutaba? Qual sua
importância local e regional?
19 – Antes da instalação da Nestle, Ituiutaba era conhecida pelo arroz e depois pelo
algodão. Então, o que pôde ter atraído a Nestle ?
20– A Nestle contribuiu com a especialização da pecuária na Microrregião de Ituiutaba?
21 – A Nestle interferiu diretame nte na pecuária local/regional? Como o produtor reagiu
as novas mudanças?
22 – Se a fábrica da Nestle fechasse suas portas hoje, quais seriam as conseqüências para o
município e para a economia regional?
23 – Enquanto morador, você concorda que Ituiutaba tem vivido uma estagnação
econômica após 1970? O que poderia ser a(s) causa(s) disso?
24 – Quando iniciou a Bolsa de Arrendamento? Como funciona?

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