É necessário, atualmente, refletir sobre a construção do espaço em
todos os seus aspectos, o que remete levar em consideração a perspectiva da totalidade de relações envolvidas na sociedade e sua reprodução no espaço geográfico, ou seja, como perspectiva analítica a dinâmica de produção social desta.
Na Amazônia, tal fato fica mais evidente dadas as emergências postas e
pensadas e que ainda se encontram de certa forma, pouco explorada nos estudos das cidades ribeirinhas.
Para corroborar com a tal ideia Higa (2011) faz uma busca histórica sobre o processo de urbanização da Amazônia comparando-a com as outras regiões do pais:
Em termos temporais, o processo de urbanização da Amazônia pode
ser dividido e analisado tomando-se como referência a década de 1960, que se constituiu em divisor das políticas ocupacionais do país. Nesta década, o modelo de desenvolvimento nacional, centralizado nas regiões Sudeste e Sul, foi redefinido e dirigido com mais ênfase para as regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, na forma de programas especiais de desenvolvimento regional. Assim, no primeiro período, anterior aos anos 1960, a formação das cidades respondeu à necessidade de concretizar a ocupação do território nacional, especialmente nas áreas mais distantes dos principais centros econômicos e políticos do país, representado pela região Amazônica e grande parte do Centro-Oeste brasileiro. (HIGA, 2011, p.109)
Dentro da ótica analisada acima , depreendem-se as importantes modificações
que perpassam pela região amazônica e os impactos latentes que se materializam neste espaço. Fatores como o sistema das “drogas do sertão” e o “ciclo da borracha”, constituíram e contribuíram para o surgimento desta nova configuração geográfica de alteração na divisão internacional do trabalho, que existiam neste espaço.
Trindade Júnior (2010) descreve esse processo na Amazônia
destacando que até a década de 1960, as “cidades da floresta” eram as mais comuns na região. Estas caracterizavam-se como pequenas cidades e eram ligadas fortemente à circulação fluvial, desta maneira conferiam a tais cidades
A fortes ligações com a dinâmica da natureza, com a vida rural não
moderna e com o ritmo da floresta ainda pouco explorada. Além disso, tais cidades sempre estabeleceram forte relação com os seus respectivos entornos e com as localidades próximas (vilas, povoados, comunidades ribeirinhas etc.). Ainda que muitas cidades venham perdendo essas características, consideradas rurais, elas não desapareceram efetivamente, e ainda são marcas fortes de algumas sub-regiões da Amazônia. (TRINDADE JR,2010, p.118).
O segundo padrão, anteriormente citado, refere-se ao período que permeia o
século XX, trazendo consigo a cisão do padrão anterior. Novas estruturas sociais são remontadas e novas perspectivas são planejadas para a região amazônica, como a implantação de modais rodoviários e a instalação dos grandes projetos, que começam a ser fomentados a partir deste momento. Outro aspecto
A rede urbana é parte integrante das sociedades e de sua dinâmica,
sendo reflexo, meio e condição social dessa sociedade, incorporando e agindo sobre as suas contradições, conflitos e negociações. Sendo assim, é possível esperar que as diferenças econômicas, políticas, sociais, demográficas e culturais vão influenciar as diferenças estruturas entre as redes urbanas. Para confirmar esta ideia Corrêa (1989, p. 48-49) salienta que:
A rede urbana se constitui simultaneamente em um reflexo e uma
condição para a divisão territorial do trabalho. É um reflexo à medida que em razão de vantagens locacionais diferenciadas, verificam-se uma hierarquia urbana e uma especialização funcional definidoras de uma complexa tipologia de centros urbanos. (...) A rede urbana é uma condição para a divisão territorial do trabalho. A cidade em suas origens constitui-se não só em uma expressão da divisão entre trabalho manual e intelectual, como também em um ponto do espaço geográfico que, através da apropriação de excedentes agrícolas, passou de certo modo a controlar a produção rural. Este papel de condição é mais tarde transmitido à rede urbana: sua gênese e evolução verificam-se na medida em que, de modo sincrônico, a divisão territorial do trabalho assumia progressivamente, a partir do séc. XVI, uma dimensão mundial.
As redes urbanas apresentam variadas diferenças estruturais que
revelam-se por meio de distintas estrutura: dimensional, funcional e espacial, as três estão interconectadas e geram alguns padrões de redes urbanas e que foram estudadas por diversos teóricos.
Esta menção nos abre a ideia para as ponderações de Corrêa(1987)
quando analisa essa diferença de tempo no espaço amazônico: Na Amazônia, essa diferença de tempos espaciais é muito marcante no âmbito da rede urbana. Tão marcante que se pode falar em seguimentos “velhos” que possuem um tempo espacial longo e segmentos “novos”, como exemplifica-se com as cidades ribeirinhas, de um lado, e as cidades e os embriões urbanos que surgiram recentemente ao longo dos grandes eixos rodoviários que rasgaram a Amazônia. (CORRÊA,1987, p.42)
Foi com a incorporação da região à “fronteira do capital” que passa a
se estabelecer um conjunto de transformações no que diz respeito ao espaço amazônico, desta forma ele afirma que: A incorporação da Amazônia ao processo geral de expansão capitalista no país verifica-se a partir de sua transformação em ‘fronteira do capital’. Dada a dimensão territorial dos recursos- a floresta, a terra, o potencial hídrico e os minérios, bem como dada a dimensão dos capitais disponíveis, o capitalismo criou na Amazônia uma fronteira ampla e extremamente diversificada que envolve uma variedade de agentes, propósitos e ações, bem como, conflitos também distintos. ( CORRÊA,1987, p.57) Observamos uma nova lógica de surgimento de núcleos urbanos e de organização da rede urbana; lógica esta que privilegia a estrada no que tange ao nascimento de novos núcleos urbanos. Com a implementação do modelo rodoviário de transporte, chegava à Amazônia não só essa nova forma de circulação, mas ela trazia consigo novas culturas, introduzindo novos elementos ao imaginário local. Daí, dizer-se que ela atingiu não somente o modo de circulação, mas também a cultura ribeirinha existente, imprimindo e mesclando-a a novos valores, significados e práticas socioculturais (TRINDADE JR. e TRINDADE, 2012, p. 39-40
A abertura de novas estradas concede a oportunidade de
“engrandecer” o lugar, ou seja, o espaço que fica ao redor das estradas ganham novas feições e atingindo novas características, geralmente para fins mercantilistas. É o que podemos perceber quando viajamos de um município a outro, a maioria das construções edificadas as margens das estradas são comércios de diferentes tipos, que atendem a quase todos os tipos de necessidades. Ao entender estes processos considera-se que o fluxo de capital, mercadorias e pessoas, exigem do modelo urbano para se manter. A acessibilidade do fluxo é fundamental para a expansão capitalista, e como consequência, observa-se que as rodovias ganharam espaço para o desenvolvimento do espaço urbano.