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Autoria: Rejane Prevot, Celina Maria Frias Leal Martins, Denise Franca Barros,
Alessandra de Sá Mello da Costa
Resumo:
A presente pesquisa, assumindo que a perspectiva histórica contribui para os estudos da área
de Administração, tem por objetivo identificar possíveis aproximações entre as trajetórias
históricas da cidade de Duque de Caxias e da REDUC como forma de melhor compreender as
configurações políticas, econômicas e sociais da região. Neste sentido, dois momentos
mereceram destaque: 1) o de construção da refinaria como parte de uma política estatal maior
de direcionamento de investimentos para industrialização daquela região; e 2) o de
reconhecimento pelo governo federal após 1964, dado o papel estratégico da refinaria lá
situada, de Caxias como território de segurança nacional.
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1. Introdução
Um grupo de pesquisadores da área, no entanto, buscam ampliar ainda mais o escopo de suas
pesquisas e direcionam seus esforços no sentido de entender as cidades como organizações
que, em seu processo de constituição, relacionam-se com diferentes agentes sociais e como, a
partir deste processo de inter-relação, todos vão se construindo e reconstruindo socialmente
(COIMBRA e SARAIVA, 2013; SARAIVA e CARIERI, 2012).
De acordo com Castells e Borja (1996, p.1), as cidades “adquirem, cada dia mais, um forte
protagonismo tanto na vida política como na vida econômica, social, cultural e nos meios de
comunicação” o que nos permite falar “(...) das cidades como atores sociais complexos e de
múltiplas dimensões”. E são estas múltiplas dimensões que muitas vezes aparecem nos
estudos sobre cidades e regiões, expressas por meio de dilemas, dicotomias e/ou paradoxos
identificados, fruto de acelerados e constantes processos de mudança.
É neste sentido que, assumindo que a perspectiva histórica contribui para os estudos da área
de Administração, a presente pesquisa tem por objetivo identificar possíveis aproximações
entre a trajetória histórica da cidade de Duque de Caxias e a trajetória história da REDUC,
como forma de melhor compreender – em função destas aproximações – específicas
configurações políticas, econômicas e sociais da região escolhida para análise.
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2. As Origens do Município no Território da Baixada Fluminense
De acordo com dados do último Censo (IBGE, 2010), a população da Baixada Fluminense
corresponde à aproximadamente 3,5 milhões de habitantes, um terço da população do Estado.
Duque de Caxias é o município mais populoso dessa região, com 855 mil habitantes. Parte
predominante da população da Baixada é composta por pessoas do sexo feminino, negras,
com renda familiar de até dois salários mínimos.
A colonização da região onde hoje é o município de Duque de Caxias teve início ainda no
século XVI (COSTA VELHO, 1965). Ainda neste século a região foi dividida em sesmarias
que foram concedidas a um personagem chamado Braz Cubas, segundo Costa Velho (1965) o
proprietário da “Fazenda Real” em torno da qual mais tarde se constituiu o povoado de São
João Batista de Trairaponga, primeira denominação deste trecho da Baixada. No século XVIII
a região deu lugar a numerosos engenhos de açúcar e cana, o que provocou um aumento no
contingente populacional. O escoamento da produção dos engenhos era realizado por meio de
transporte fluvial, uma vez que os rios constituíam, neste período, o melhor meio de
acesso para aquela região (OLIVEIRA; SANTOS, 2005). Por meio dos rios da Baixada é que
eram também transportados o ouro vindo de Minas Gerais (parte do chamado “Caminho do
Ouro”) e o café produzido no Vale do Paraíba, o que reforça o papel da região como uma rota
econômica importante para o país no período. Os registros históricos descrevem a região da
Baixada no século XVIII, em termos ambientais, como extremamente diversificada, com
características de mata atlântica, alimentada por uma extensa bacia hidrográfica (TORRES,
2004).
Contudo, a partir dos séculos XVIII e XIX, com a construção das primeiras linhas férreas, o
transporte fluvial deu lugar ao transporte de mercadorias e passageiros pela via ferroviária.
Em 1854 é inaugurada a primeira estação ferroviária da região (e do país), construída pelo
Barão de Mauá, o empresário Irineu Evangelista de Souza (COSTA VELHO, 2005). Este
fato, aliado à produção de citricultura no século seguinte, redesenham o mapa sócio-
econômico da região e intensificam o processo de desmatamento da floresta tropical local.
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Iguaçu colocava o Brasil – uma economia dependente de um padrão agrário-
exportadora – entre os principais exportadores de laranja do mundo”.
Contudo, a partir da Segunda Guerra Mundial, diante das dificuldades de transporte dos
produtos de exportação, feito por via marítima no Oceano Atlântico, que era uma área
conflagrada, a produção de laranjas da Baixada Fluminense é fortemente afetada. Além da
dificuldade de chegar ao mercado importador, os laranjais foram afetados por uma praga
chamada “mosca do mediterrâneo”, o que determinou o fim da produção de laranjas na
região. Os chamados “Barões da Laranja”, a fim de minimizarem seus prejuízos, aliaram-se
então aos incorporadores imobiliários recortando suas fazendas em centenas de pequenos
loteamentos, que podiam ser comercializados a preços bem baixos, atraindo desta forma
famílias de baixa renda, que não podiam morar na capital, trabalhadores agrícolas e outros
trabalhadores e migrantes da região.
Este processo é marcado por intensos conflitos entre fazendeiros e camponeses, estes últimos
contidos por jagunços e pelas forças policiais, inclusive por meio de assassinatos. É neste
período que tem início a história de violência e consolida-se imagem da Baixada como
território onde impera a ausência de direitos, que ainda hoje caracteriza a região (COMISSÃO
DE DIREITOS HUMANOS E MINORIAS, 2006). Esta visão se consolidou na década de
1960, com a ascensão, no município de Duque de Caxias, da figura política de Tenório
Cavalcante, cujo poder político era sustentado pelo uso da violência e de práticas clientelistas
da região (ENNE, 2004).
Na década de 1970, a Baixada Fluminense estava presente, sobretudo, nas páginas policiais
dos jornais, por ser local escolhido para “desova” de vitimas de homicídios de outras regiões
do estado. Apesar do esforço dos poderes públicos locais em desvincular dos municípios da
Baixada a imagem de regiões violentas, observa-se ainda nestes municípios a incidência de
homicídios ligados à atuação de grupos armados, tal como a chacina que ocorreu em março de
2005 nos municípios de Queimados e Nova Iguaçu que vitimou 29 pessoas.
Por outro lado, a ausência de algum tipo de fiscalização sobre as condições de habitação dos
loteamentos na década de 1940 permitiu que lugares sem qualquer condição de moradia
fossem comercializados, por conta da especulação imobiliária que se instaurou na região.
Assim, as famílias compravam lotes que estavam localizados em mangues ou pântanos, e aí
construíam suas casas. Nestas condições insalubres doenças como a cólera e a malária
proliferavam entre a população local. Remonta desta época os problemas com relação ao
saneamento básico da região, alguns dos quais perduram até hoje (ENNE, 2004). Data
também deste período a vocação dos municípios da Baixada para “cidades dormitórios”, para
onde os trabalhadores empregados na capital do Estado retornavam apenas para dormir, após
uma jornada de trabalho permeada por horas de locomoção no precário transporte público que
atende a região. Segundo Relatório da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (2006), “a
Baixada Fluminense cumpria seu papel de receptáculo daqueles que eram removidos
compulsoriamente, devido ao processo de segregação urbana engendrada com maior vigor a
partir dos anos 50”.
Embora povoado desde de fins do século XIX, pertencente ao distrito de Nova Iguaçu, o
nome Caxias surge apenas em 1931. Inicialmente de vocação rural, a localidade transita para
o urbano a partir da década de 1920, e mais acentuadamente nos anos 1940 e 1950,
crescimento este estimulado pela crescente industrialização daquela região (LIMA, 2010).
Como já dito anteriormente, as fazendas decadentes com o fim do ciclo da laranja foram,
segundo Alves (2003), recortadas em pequenos lotes agora administrados por meeiros ou
simplesmente abandonadas, dando início aos primórdios dos núcleos urbanos nas
proximidades das estações da Leopoldina Railway, no início da década de 30:
Os loteamentos se destinavam à população de baixa renda, pois só aqueles sem
nenhuma alternativa de moradia se submeteriam a residir em uma região que
ainda apresentava condições crônicas de insalubridade. Obras públicas de
saneamento começaram a ser realizadas já no início do século, mas a malária
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só foi efetivamente debelada no final de década de 50. Além disso, mesmo
apos a redução dos surtos epidêmicos, mantiveram-se as péssimas condições de
vida graças à precariedade dos serviços públicos, destacando-se a quase
inexistência de abastecimento de água e rede de esgotos, que contribuíam para
índices elevadíssimos de mortalidade infantil (LIMA, 2010, p.146).
Apesar dos graves problemas estruturais, a ocupação dos loteamentos era crescente, chegando
à 30 mil habitantes em 1930, devido à intensa migração do interior para a capital federal e às
mudanças urbanísticas no distrito federal que deslocaram moradores simples dos morros e
favelas da cidade. Ainda em 1930, a abertura da estrada Rio/Petrópolis, modifica para pior o
quadro, acrescentando uma escalada de violência em função da valorização imobiliária das
terras. De acordo com Fuchs (1988, p.19), “a nova estrada trouxe os aventureiros, bandidos e
oportunistas”. Segundo Silva (1954, p.20, apud BRAZ e ALMEIDA, 2010):
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Anos mais tarde, em 1960, é inaugurada no município a Refinaria Duque de Caxias
(REDUC), a maior refinaria da Petrobrás, responsável por alavancar significativamente o PIB
municipal desde então.
Ainda nos anos 1940 observa-se no município a ascensão do líder político Tenório Cavalcante
(prefeito de Caxias de 1963 a 1967), cuja trajetória é caracterizada pelo uso explícito da
violência, o que fica explícito pelo seu comportamento assemelhado ao dos “justiceiros” dos
sertões nordestinos e por sempre estar acompanhado de uma metralhadora, batizada por ele de
“Lourdinha”, e dispondo de um exército de 40 homens armados (WILLEMAN, 2013). A
ascensão e popularidade de Cavalcante, em que pese a violência de seu discurso e de seu
comportamento, pode estar associada a sua origem nordestina (ele era um migrante do estado
de Alagoas), assim como os habitantes do município, o que possibilitaria uma identificação
daquela população com sua trajetória. Lopes (2010, p.147), destaca ainda que Cavalcante:
A base política de Cavalcante foi construída a partir do uso de práticas populistas que iam
desde a resolução de problemas familiares até a alocação em empregos, fornecimento de
comida, documentos, dentre outros “favores’. Sua atividade política foi abreviada com o
golpe de 1964, posto que paulatinamente, por sua aproximação com o povo e, em particular,
com os camponeses quando da sua eleição para deputado federal, Cavalcante passou a ser
associado com o viés político de esquerda (WILLEMAN, 2013).
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Willeman (2013) aponta como característica histórica predominante na formação política dos
municípios da Baixada o populismo, com o uso de dois elementos para cooptação dos
indivíduos: “o uso das políticas sociais de forma assistencialista, fragmentada e como controle
de ‘distúrbios’ e ‘desvios sociais’; e, na incapacidade dessa primeira estratégia, o uso da
repressão através da violência estrita” (p. 50). Para esta autora, esta lógica utilitarista das
políticas sociais, empregadas de forma assistencialista e clientelista, marca até os dias atuais
as relações entre a sociedade local e o poder público e que possibilitam a dominação dos
indivíduos por meio de práticas paternalistas, nepotistas, pelo apadrinhamento e pela
distribuição de “favores”:
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Segundo Costa (2009, p.111) “após a Segunda Grande Guerra, o consumo nacional de
petróleo aumentou, ocasionando o racionamento de combustível, que por sua vez, criou um
mercado negro do óleo (…) [como] A indústria e a aviação também necessitavam de óleo
diesel (…) A falta do ouro negro foi então recebendo ares de questão política”. No entanto,
somente em 1953 com a campanha “O Petróleo é nosso” é aprovada a criação da Petrobrás
pelo Congresso Brasileiro. Esta demora pode ser entendida em parte porque, de acordo com
Skidmore (1982, p.128), a proposta do Presidente Getulio Vargas de criação de uma empresa
estatal de Petróleo:
Segundo Skidmore (1982, p.381), a década de 1950 pode ser compreendida como “(...) um
período em que o Brasil seguiu uma estratégia mista, valendo-se do investimento público e
privado, interno e externo, para desenvolver a base industrial e o capital social necessários
para uma economia industrializante”. Desenvolvimento e busca por maior autonomia para
crescer: a opção de Vargas era por uma solução nacionalista para uma questão de política de
investimentos em uma área de estrangulamento e o foco não era somente o Petróleo, mas
também outras áreas, como a de energia elétrica (que seria ampliada, por exemplo, também
pela criação da ELETROBRAS). Ou seja, pode-se afirmar que “(...) Vargas tratou de três
importantes questões – petróleo, siderurgia e energia elétrica – porque as compreendia como
essenciais para o pulo de desenvolvimento industrial que viria depois da crise internacional e
o fim das reformas institucionais necessárias ao novo Estado e à sua relação com o mercado”
(COSTA, 2009, p.105).
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Cabe ressaltar, entretanto, que a trajetória da REDUC (Refinaria Duque de Caxias), começou
a ser desenhada antes da criação da Petrobrás. A previsão para a construção de uma refinaria
por meio da aprovação, pelo Conselho Nacional de Petróleo, do Plano de Localização de
Refinarias de Petróleo no Brasil ocorreu em 4 de abril de 1952. O objetivo era a criação de
uma refinaria localizada na costa que fosse capaz de atender os estados da Guanabara, Rio de
Janeiro, Espírito Santo e parte de Minas Gerais (BR/PETROBRAS, 2001). Cabe ressaltar que,
como argumenta Costa (2009, p.44), “durante os anos 1950 e 1960 (…) a política nacional
mostrava-se preocupada com essa problemática e organizou diversos programas regionais de
desenvolvimento (…) Com efeito, os estados estruturaram diversos instrumentos de
desenvolvimento ao final da década 1960, aliados ao grande projeto nacional de
industrialização”.
Em 1956, foi aberta concorrência pública para definir a empresa que iria construir a REDUC.
Em 1957, a empresa Foster Weeler foi anunciada como a escolhida para iniciar a construção
da refinaria (BR/PETROBRAS, 2001). Como desdobramento, em 29 de janeiro de 1958, o
então presidente Juscelino Kubistchek lançou a pedra fundamental para a obra. De 1958 a
1961, diversas obras foram realizadas para criar o que seria a terceira maior refinaria do
Brasil. Durante os primeiros anos, foram desenvolvidas obras de infraestrutura e instalações
provisórias como almoxarifado, oficinas, garagens, entre outras (BR/PETROBRAS, 2001).
As obras para a fundação do prédio foram iniciadas em 23 de junho de 1959. Neste mesmo
ano, foram montados alguns equipamentos. Em 20 de janeiro de 1961, a Reduc foi inaugurada
pelo presidente Juscelino Kubistchek, contudo o inicio das operações e a apresentação da
primeira gasolina produzida na refinaria ocorreram somente em 9 de setembro de 1961, no
momento em que João Goulart ocupava a presidência da República (BR/PETROBRAS,
2001).
No ano da sua inauguração, a Reduc estava processando 90 mil barris de petróleo por dia,
com cinco unidades de processo: Reforma Catalítica, Desasfaltação a Solvente, Tratamento
Cáustico de Gasolina, Destilação Atmosférica e a Vácuo e Tratamento Cáustico de GLP (gás
liquefeito de petróleo). Em 1963, a refinaria aumentou a capacidade de processamento para
110 mil barris por dia. E, no ano seguinte, estava processando 19 mil barris por dia, operando
com uma nova unidade que aumentou em 37% a produção de gasolina e triplicou a produção
de GLP (BR/PETROBRAS, 2001).
Na década de 1970, a Reduc entra na era dos lubrificantes. Em 1972, é construído o primeiro
Conjunto de Lubrificantes. Em 1973, é inaugurada a Unidade de Óleos Lubrificantes
Acabados com uma produção de 740 m³/dia. em 1979, o presidente da Petrobras, general
Araken de Oliveira, inaugurou o segundo Conjunto de Lubrificantes da Reduc, tornando o
Brasil autossuficiente em lubrificantes básicos parafínicos. A Reduc é considerada a mais
complexa refinaria da Petrobras por possuir o maior conjunto para a produção de lubrificantes
(BR/PETROBRAS, 2001).
No que diz respeito ao contexto dos anos 1970, cabe lembrar que (1) em 1975 ocorre a fusão
entre o Estado da Guanabara e o Estado do Rio de Janeiro, resultando, segundo Costa (2009,
p.20) em uma “(...) nova dinâmica econômica-política-social em toda a Baixada Fluminense”;
e de 1975 a 1979 são redefinidas as estratégias econômicas por meio do II Plano Nacional de
Desenvolvimento (PND).
A década de 1980 é a era do gás para a refinaria. Estavam sendo processados cerca de 240 mil
barris de petróleo por dia. Neste período, o gás vindo de Campos começa a chegar através de
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um sistema provisório. Este gás substitui grande quantidade do óleo combustível queimado
nas caldeiras (BR/PETROBRAS, 2001). Na década de 1990, a Reduc precisou modernizar-se
para atender as exigências do mercado no que tange a qualidade dos produtos e o meio
ambiente. Esta modernização ocorreu a partir da aquisição de novos equipamentos e
certificações, capacitação do corpo técnico, ampliações, preocupação com o meio ambiente
entre outros (PETROBRAS, 2013).
Atualmente, a Reduc é uma das maiores refinarias do Brasil, sendo responsável por 80% da
produção de lubrificantes, pelo maior processamento de gás natural e pelo maior portfólio de
produtos da Petrobras. Possui a extensão de 13 km², em que 9 km² são de área construída
(PETROBRAS, 2013). A refinaria tem 43 unidades de processo, produzindo 55 produtos,
dentre eles: óleo diesel, gasolina, querosene de aviação, parafinas, lubrificantes, gases
petroquímicos, coque e enxofre. Está ligada a diversos terminar no país e atende os mercados
Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia, Ceará, Paraná, Rio Grande do
Sul (PETROBRAS, 2013).
O bairro de Campos Elíseos, na época uma parte completamente rural de Duque de Caxias,
foi escolhido como o local dentro do município onde a nova refinaria seria construída. A
escolha da localização no Km 113,7 da Rodovia Washington Luiz deveu-se a diversos fatores,
dentre eles: (1) facilidades para o recebimento e escoamento do petróleo e derivados devido a
proximidade com diversas rotas tais como: Rodovia Washington Luiz, Presidente Dutra e
Avenida Brasil; (2) as características e o isolamento da área específicos para um complexo
industrial e com possibilidade de expansão; e (3) proximidade com rios e riachos para suprir a
necessidade de água e o esgotamento dos resíduos industriais (BR/PETROBRAS, 2001).
Assim, o bairro (no 2 º distrito de Duque de Caxias) foi historicamente criado como resultado
da vinda de REDUC. A fim de permitir a construção da refinaria no município de Duque de
Caxias, um grande número de trabalhadores foram trazidos de outras partes do Brasil, que
construíram casas em torno do lugar onde eventualmente REDUC seria localizada.
Campos Elíseos é o lar de empresas de pequeno, médio e grande portes e a região é palco de
dois grandes aglomerados que fazem uma importante contribuição para o PIB do município e
do Estado: o Polo de Gás-Químico e Polo Petroquímico do Centro, bem como uma série de
empresas de logística e transporte. Apesar do desenvolvimento óbvio do parque industrial na
região, não há instituições de lazer ou de natureza cultural na área. Da mesma forma,
infraestrutura básica local é bastante precária: de acordo com dados fornecidos pela própria
Prefeitura Municipal, apenas 20% de todas as residências da região têm acesso ao sistema de
água e esgoto canalizado. Pode-se também observar que as estradas secundárias da região
ainda carecem de asfalto.
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Um primeiro ponto de aproximação identificado seria exatamente o momento de construção
de refinaria como parte de uma política estatal maior de direcionamento de investimentos para
a industrialização daquela região nos anos 1960. Neste período Caxias, teve um crescimento
populacional de aproximadamente 163%, conforme apresentado no quadro abaixo.
Além deste crescimento populacional, a cidade passou a ser o segundo maior arrecadador de
impostos do Estado, ficando atrás apenas de Niterói. Durante a década de 1960, houve
também um crescimento do colégio eleitoral e foi fundado o Sindicato dos Petroleiros pelos
funcionários da refinaria, em 1962.
Outro fator de preocupação a ser considerado com o desenvolvimento desta refinaria foi a
grande quantidade de água utilizada. No momento da implantação, a água vinha somente de
Xerém (Sistema Saracuruna), segundo distrito de Duque de Caxias. Em 1978, foi
implementado o Sistema Guandu. Contudo diversos motivos levam a REDUC a optar pelo
Sistema Saracuruna, são eles: este sistema pertence a Reduc e sua água é mais limpa,
enquanto o Guandu é da Cedae e precisa ser pago e a água necessita de 6 vezes mais
elementos químicos do que o Saracuruna. Apesar do tratamento de água realizado pela
refinaria, para cada m³ de petróleo processado, há um consumo de mais de 1 m³ de água
(COSTA, 2009).
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Rio de Janeiro a ser denominado como “Área de Segurança Nacional” devido a força do
MBD que havia vencido as eleições e a localização da Reduc na região. Esta denominação fez
com que o poder estadual e federal indicasse um novo prefeito, definido como interventor. Os
interventores escolhidos de 1971 a 1982 não tinham relação direta com o município, somente
Hydekel de Freitas nomeado em 1982 possuía relação com Duque de Caxias (CANTALEJO,
2008).
O objetivo com estes interventores era acabar com a prática de clientelismo existente até
então em Duque de Caxias, implementando a prática da racionalidade técnico-burocrática.
Contudo, na realidade essa mudança não ocorreu visto que os interventores precisavam do
clientelismo para estruturar suas relações políticas na localidade e manter a confiança dos seus
superiores, senão perdiam o cargo (CANTALEJO, 2008). Esta relação fez com que os
políticos locais não perdessem sua autonomia por completo, conforme citado por Cantalejo
(2008, p. 176):
Assim, segundo Costa (2009, p.63), pode-se pensar que “existe uma relação essencial entre
espaço e sociedade (...) [e] que muitas vezes (...) a cidade é usada privativamente (pela
indústria) como condição geral de produção, ao passo que a população tem que conviver com
as desvantagens originadas pelo desenvolvimento industrial: congestionamento, poluição,
acidentes industriais etc”. Mais especificamente no que se refere à REDUC, os dois pontos
acima identificados podem juntar-se a mais um que merece ser foco de estudos futuros, qual
seja: o fato da REDUC ser a maior poluidora da Baía de Guanabara, sendo responsável por
30% de mais de nove toneladas de óleo derramados diariamente na baía (COSTA, 2009).
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