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10.37885/201102094
RESUMO
Em pouco mais de 200 anos de sua fundação, a cidade de Maceió, em Alagoas, de-
monstra uma evolução urbana consideravelmente adensada. Iniciada através do porto
instalado no bairro de Jaraguá esse processo de expansão percorreu a orla marítima e
lagunar. A paisagem natural foi alterada consideravelmente, sendo hoje bastante edifica-
da e pontuada por fragmentos arquitetônicos importantes, muitas vezes remanescentes
apenas no imaginário coletivo. O presente artigo apoia-se na relação entre transformações
urbanas ao longo do tempo e a paisagem consolidada na memória dos moradores. A pro-
posta versa sobre um estudo da paisagem através de um roteiro cultural baseado na
experiência de um flâneur. O recorte na cidade se fez a partir dos bairros do Centro e
Jaraguá, sítios históricos onde se registra o início da ocupação urbana, que se estende
pela orla marítima nos bairros de Pajuçara, Ponta Verde, Jatiúca e Cruz das Almas. Além
das transformações futuras ao longo do Litoral Norte alagoano, que vem sofrendo com
o impacto provocado pela expansão imobiliária. Ainda pela invisibilidade da orla lagunar
escondida pela lama e suas raízes excrescentes, soterrada enquanto espaço cultural,
como o próprio sururu. Propõe-se assim, que os andarilhos se comportem um pouco com
o flâneur, que embora sem destino, possui uma visão crítica da cidade.
A expansão urbana de Maceió data de 1970 quando já tinha mais de 95% da sua po-
pulação na área urbana. Porém, só em 1981 teve seu primeiro Plano Diretor, sendo revisado
em 2007. Atualmente passa por processo de revisão novamente.
Hoje a cidade apresenta um crescimento horizontal e vertical que percorreu a orla
marítima e lagunar, assim como também aconteceu no platô, região chamada de parte alta
da cidade. Apresenta uma paisagem urbana consideravelmente adensada que é alterada,
principalmente, pelo processo de verticalização. Tais processos, de adensamento e verti-
calização, acontecem tão rápido que muitas vezes os habitantes perdem suas referências
territoriais e afetivas de maneira abrupta, criando uma sensação de “amnésia urbana”.
Figuras 04 e 05. Os balaústres em concreto substituíram a ponte de ferro destroçada pela tromba d´água de 1924.
1 Gentrificação advém do termo de língua inglesa gentrificacion, utilizado para designar o enobrecimento (gentry) de uma área histórica
deteriorada através da implementação de projetos urbanos que visam a sua requalificação, resultando na expulsão direta ou indireta
da população nativa, por meio da desapropriação ou pela opção de venda dos imóveis inseridos na referida área a ser valorizada
(Chuva, 2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das considerações de Nora (1993), quanto à análise crítica desse fenômeno
de alteração da paisagem urbana sedimentada em fragmentos materiais ou não, pode-se
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