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INFORME-SE

Frente nacional contra a Lei n. 8.666/93, com redação dada pelo


artigo 1º da Lei n. 9.648/98, que permite

privatização e sua luta a dispensa de licitação para a celebração


de contratos de prestação de serviços com
as organizações sociais (OS).
em defesa da saúde As ações desenvolvidas por esses

pública estatal Fóruns de Saúde tem sido: pautar junto ao


Supremo Tribunal Federal (STF) a impor-
tância da votação favorável à Adin n.
1923/98, por intermédio de audiências com
Maria Inês Souza Bravo* os ministros; divulgar carta nacional pedin-
do a aprovação da Adin assinada por enti-
A ampliação das Organizações So- dades e movimentos sociais do país (a
ciais em vários estados do Brasil propi- carta pode ser vista em <http://www.pela-
saude.blogspot.com> e tem 316 assinaturas
ciou a articulação dos Fóruns de Saúde
de entidades até o dia 9/1/2011); constituir
do Rio de Janeiro, Paraná, Alagoas, São
campanha por meio de abaixo-assinado
Paulo e Londrina, em maio de 2010, para
digital, a fim de mobilizar a população e
compor uma Frente Nacional pela proce-
explicitar os problemas de mercantilização
dência da Ação Direta de Inconstitucio-
do serviço público. Veja o abaixo-assinado
nalidade (ADIn) n. 1.923/98, contra a Lei
com 5.352 assinaturas em: <http://www.
n. 9.637/98, que “dispõe sobre a qualifi-
pelasaude.blogspot.com>.
cação de entidades como organizações
Como desdobramentos dessa mobili-
sociais, a criação do Programa Nacional
zação foram previstas pelos respectivos
de Publicização, a extinção dos órgãos e
Fóruns as seguintes ações:
entidades que menciona e a absorção de
— Dia nacional de luta contra as Or-
suas atividades por organizações sociais,
ganizações Sociais (OS);
e dá outras providências”, e contra a al-
— realização de um seminário nacio-
teração do inciso XXIV do artigo 24 da
nal com a presença dos Fóruns de Saúde e
das entidades nacionais que estão partici-
* Assistente social, doutora em Serviço Social pando mais diretamente da frente;
(PUC/SP) e pós-doutora em Serviço Social pela UFRJ,
— mobilização e articulação com
professora aposentada da UFRJ, professora adjunta da
Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado outros fóruns que estão surgindo nos di-
do Rio de Janeiro — Uerj; procientista da Uerj — Rio versos estados, como o Fórum em Defesa
de Janeiro/RJ, Brasil, e coordenadora dos projetos da Saúde do Rio Grande do Norte.
“Políticas Públicas de Saúde: o potencial dos Conselhos
do Rio de Janeiro” e “Saúde, Serviço Social e movi-
A importância da manifestação contra
mentos sociais”, financiado pelo CNPq e Uerj. E-mail: as Organizações Sociais se insere na defe-
mibravo@uol.com.br. sa do Sistema Único de Saúde (SUS),

Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 105, p. 185-193, jan./mar. 2011 185
previsto na Constituição de 1988, voltado estatal”, na Uerj/RJ, nos dias 22 e 23 de
para os interesses da população, e não para novembro de 2010, com a presença de
sua privatização. movimentos sociais, sindicatos, centrais
As Organizações Sociais (OS) e as sindicais, núcleos e/ou setoriais de partidos
Organizações da Sociedade Civil de Inte- políticos, professores e estudantes vin­
resse Público (Oscip) pretendem transfor- culados à saúde, totalizando quatrocentos
mar a gestão pública e surgem nos anos participantes.
1990 por meio da chamada Reforma do Esse seminário teve por objetivo for-
Estado do governo FHC que teve como talecer a articulação nacional entre os
protagonista Bresser Pereira. Fóruns de Saúde dos diversos estados, a
Franco (1998), ao analisar as Organi- articulação com outras entidades, bem
zações Sociais, apresenta seis razões como a mobilização para a ampliação do
contrárias a essa proposição e que se con- movimento para todos os estados brasi­
trapõem ao SUS constitucional: leiros por meio da criação de Fóruns de
Saúde com intenção de defender a saúde
— quebra do “sistema”, na forma conce- pública estatal.
bida originalmente pelo SUS; Na plenária final do seminário foi
— extinção do quadro de servidores pú- criada a Frente Nacional contra a Privati-
blicos da Saúde, nos estabelecimentos
zação da Saúde com uma coordenação
gerenciados pelas OS;
nacional composta por diversas entidades,1
— gestão dos recursos humanos centrali-
que tem o propósito de articular as ações
zadora e normativa;
— a saúde deixa de ser um direito público
da frente, ampliar o debate e estimular a
e passa a ser assumida pelo mercado; criação de fóruns em outros estados.
— não há possibilidade de um novo mo- A Frente está enfrentando, no momen-
delo de assistência; to, duas grandes medidas contrárias ao
— as OS não valorizam o controle social. Sistema Único de Saúde (SUS) previsto
na Constituição de 1988, além das lutas já
Rezende (2008) também faz diversas encaminhadas:
críticas às Organizações Sociais e às Or- — A Lei Complementar aprovada em
ganizações da Sociedade Civil de Interes- 22/12/2010, na Assembleia Legislativa de
se Público, destacando os seguintes aspec-
tos: as ações serão focalizadas, não haverá
1. Abepss, Andes, Asfoc, Central de Movimentos
participação da comunidade nem controle
Populares, CFESS, Conselho Nacional de Saúde, CSP-
social, a descentralização das ações será Conlutas, CTB, Executiva Nacional dos Estudantes de
para a iniciativa privada. Enfermagem, Fasubra, Fenasps, Fentas, Fórum Nacional
Como proposta dos Fóruns de Saúde de Residentes, Intersindical, MST, Seminário Livre pela
Saúde: os Fóruns de Saúde já existentes: Rio de Janeiro,
citados, foi realizado o Seminário Nacional Alagoas, São Paulo, Paraná, Londrina, Rio Grande do
“20 anos de SUS: Lutas sociais contra a Norte e os setoriais e/ou núcleos dos partidos políticos:
privatização e em defesa da saúde pública PSOL, PCB, PSTU, PT, Consulta Popular.

186 Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 105, p. 185-193, jan./mar. 2011
São Paulo, que permite que as Organiza- Considera-se, portanto, na atual con-
ções Sociais utilizem até 25% de sua ca- juntura, fundamental a Frente Nacional
pacidade para atender pacientes privados através da articulação entre diversos mo-
com ou sem planos de saúde. Isto significa vimentos sociais e entidades com vistas à
a utilização de critérios de discriminação construção de resistência às medidas re-
econômica em vez de critérios de priori- gressivas quanto aos direitos sociais e de
dade baseados na necessidade de saúde. O mercantilização das políticas sociais. A
mobilização em torno da viabilização do
investimento feito com recursos públicos,
Projeto de Reforma Sanitária, construído
extraído dos impostos pagos por toda a
nos anos 1980 no Brasil, é uma estratégia
população, será disponibilizado de forma
para a defesa da saúde concebida como
não igualitária, permitindo a entrada dife- melhores condições de vida e de trabalho,
renciada no sistema de saúde para os que bem como para a construção de uma so-
têm fontes privadas de financiamento. ciedade justa e igualitária.
— A Medida Provisória n. 520, de 31
de dezembro de 2010, que cria a Empresa
Artigo recebido em dez./2010
Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSH),
  n 
uma empresa pública com personalidade
Aprovado em dez./2010
jurídica privada, sem qualquer espaço de
controle social, conforme preconizado pela
legislação do SUS. Esta empresa tem a
possibilidade de administrar não só os Referências bibliográficas
hospitais universitários, mas qualquer
unidade hospitalar no âmbito do SUS por CISLAGHI, J. F. MP 520/2010: Golpe na
meio de contrato de gestão. A EBSH, como saúde pública e na democracia. Rio de Janeiro,
2011. (Mimeo.)
prevê a proposta de Fundações Estatais de
Direito Privado, poderá contratar funcio- FRANCO, Túlio Batista. As Organizações
nários por CLT e por contrato temporário Sociais e o SUS, junho de 1998. Disponível em:
<www.datasus.gov.br/cns/temas/as_organiza-
de até dois anos, acabando com a estabili-
ções_sociais_e_o_sus.htm>. Acesso em: 12
dade e implementando a lógica da rotati-
mar. 2010.
vidade, típica do setor privado, compro-
REZENDE, Conceição Aparecida Pereira. O
metendo a continuidade e a qualidade do
modelo de gestão do SUS e as ameaças do
atendimento. Está previsto também a cria- Projeto Neoliberal. In: BRAVO, Maria Inês
ção de previdência privada para os seus Souza et al. (Orgs.). Política de saúde na atual
funcionários (Cislaghi 2011).2 conjuntura: modelos de gestão e agenda para
a Saúde. 2. ed. Rio de Janeiro: Rede Sirius/
Adufrj-SSind, 2008.
2. Para ler a MP na íntegra, acesse <http://www.
sinditest.org.br/portal/noticias/dilma-assume-com-cria-
cao-de-nova-estatal-para-educacao-e-saude/>.

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