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Serv. Soc. Soc., São Paulo, n. 105, p. 185-193, jan./mar. 2011 185
previsto na Constituição de 1988, voltado estatal”, na Uerj/RJ, nos dias 22 e 23 de
para os interesses da população, e não para novembro de 2010, com a presença de
sua privatização. movimentos sociais, sindicatos, centrais
As Organizações Sociais (OS) e as sindicais, núcleos e/ou setoriais de partidos
Organizações da Sociedade Civil de Inte- políticos, professores e estudantes vin
resse Público (Oscip) pretendem transfor- culados à saúde, totalizando quatrocentos
mar a gestão pública e surgem nos anos participantes.
1990 por meio da chamada Reforma do Esse seminário teve por objetivo for-
Estado do governo FHC que teve como talecer a articulação nacional entre os
protagonista Bresser Pereira. Fóruns de Saúde dos diversos estados, a
Franco (1998), ao analisar as Organi- articulação com outras entidades, bem
zações Sociais, apresenta seis razões como a mobilização para a ampliação do
contrárias a essa proposição e que se con- movimento para todos os estados brasi
trapõem ao SUS constitucional: leiros por meio da criação de Fóruns de
Saúde com intenção de defender a saúde
— quebra do “sistema”, na forma conce- pública estatal.
bida originalmente pelo SUS; Na plenária final do seminário foi
— extinção do quadro de servidores pú- criada a Frente Nacional contra a Privati-
blicos da Saúde, nos estabelecimentos
zação da Saúde com uma coordenação
gerenciados pelas OS;
nacional composta por diversas entidades,1
— gestão dos recursos humanos centrali-
que tem o propósito de articular as ações
zadora e normativa;
— a saúde deixa de ser um direito público
da frente, ampliar o debate e estimular a
e passa a ser assumida pelo mercado; criação de fóruns em outros estados.
— não há possibilidade de um novo mo- A Frente está enfrentando, no momen-
delo de assistência; to, duas grandes medidas contrárias ao
— as OS não valorizam o controle social. Sistema Único de Saúde (SUS) previsto
na Constituição de 1988, além das lutas já
Rezende (2008) também faz diversas encaminhadas:
críticas às Organizações Sociais e às Or- — A Lei Complementar aprovada em
ganizações da Sociedade Civil de Interes- 22/12/2010, na Assembleia Legislativa de
se Público, destacando os seguintes aspec-
tos: as ações serão focalizadas, não haverá
1. Abepss, Andes, Asfoc, Central de Movimentos
participação da comunidade nem controle
Populares, CFESS, Conselho Nacional de Saúde, CSP-
social, a descentralização das ações será Conlutas, CTB, Executiva Nacional dos Estudantes de
para a iniciativa privada. Enfermagem, Fasubra, Fenasps, Fentas, Fórum Nacional
Como proposta dos Fóruns de Saúde de Residentes, Intersindical, MST, Seminário Livre pela
Saúde: os Fóruns de Saúde já existentes: Rio de Janeiro,
citados, foi realizado o Seminário Nacional Alagoas, São Paulo, Paraná, Londrina, Rio Grande do
“20 anos de SUS: Lutas sociais contra a Norte e os setoriais e/ou núcleos dos partidos políticos:
privatização e em defesa da saúde pública PSOL, PCB, PSTU, PT, Consulta Popular.
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São Paulo, que permite que as Organiza- Considera-se, portanto, na atual con-
ções Sociais utilizem até 25% de sua ca- juntura, fundamental a Frente Nacional
pacidade para atender pacientes privados através da articulação entre diversos mo-
com ou sem planos de saúde. Isto significa vimentos sociais e entidades com vistas à
a utilização de critérios de discriminação construção de resistência às medidas re-
econômica em vez de critérios de priori- gressivas quanto aos direitos sociais e de
dade baseados na necessidade de saúde. O mercantilização das políticas sociais. A
mobilização em torno da viabilização do
investimento feito com recursos públicos,
Projeto de Reforma Sanitária, construído
extraído dos impostos pagos por toda a
nos anos 1980 no Brasil, é uma estratégia
população, será disponibilizado de forma
para a defesa da saúde concebida como
não igualitária, permitindo a entrada dife- melhores condições de vida e de trabalho,
renciada no sistema de saúde para os que bem como para a construção de uma so-
têm fontes privadas de financiamento. ciedade justa e igualitária.
— A Medida Provisória n. 520, de 31
de dezembro de 2010, que cria a Empresa
Artigo recebido em dez./2010
Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSH),
n
uma empresa pública com personalidade
Aprovado em dez./2010
jurídica privada, sem qualquer espaço de
controle social, conforme preconizado pela
legislação do SUS. Esta empresa tem a
possibilidade de administrar não só os Referências bibliográficas
hospitais universitários, mas qualquer
unidade hospitalar no âmbito do SUS por CISLAGHI, J. F. MP 520/2010: Golpe na
meio de contrato de gestão. A EBSH, como saúde pública e na democracia. Rio de Janeiro,
2011. (Mimeo.)
prevê a proposta de Fundações Estatais de
Direito Privado, poderá contratar funcio- FRANCO, Túlio Batista. As Organizações
nários por CLT e por contrato temporário Sociais e o SUS, junho de 1998. Disponível em:
<www.datasus.gov.br/cns/temas/as_organiza-
de até dois anos, acabando com a estabili-
ções_sociais_e_o_sus.htm>. Acesso em: 12
dade e implementando a lógica da rotati-
mar. 2010.
vidade, típica do setor privado, compro-
REZENDE, Conceição Aparecida Pereira. O
metendo a continuidade e a qualidade do
modelo de gestão do SUS e as ameaças do
atendimento. Está previsto também a cria- Projeto Neoliberal. In: BRAVO, Maria Inês
ção de previdência privada para os seus Souza et al. (Orgs.). Política de saúde na atual
funcionários (Cislaghi 2011).2 conjuntura: modelos de gestão e agenda para
a Saúde. 2. ed. Rio de Janeiro: Rede Sirius/
Adufrj-SSind, 2008.
2. Para ler a MP na íntegra, acesse <http://www.
sinditest.org.br/portal/noticias/dilma-assume-com-cria-
cao-de-nova-estatal-para-educacao-e-saude/>.
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