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PROCEDIMENTO

ESPECIAL DO TRIBUNAL
DO JÚRI
DIREITO PROCESSUAL PENAL II

Prof. Guilherme Roman Borges


PREVISÃO
CONSTITUCIONAL
Trata-se de um PROCEDIMENTO ESPECIAL previsto no
art. 5º, XXXVIII, da CF para processamento dos crimes
dolosos contra a vida, na sua forma tentada e
consumada.

Art. 5º. (...)


(...)
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a
organização que lhe der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
contra a vida;
CARACTERÍSTICAS
Plenitude de defesa:
Não se restringe à ampla defesa, mas se trata de uma defesa “acima da média”, que não pode ser
suprida pela atuação judicial.

Técnica:
O advogado não precisa se restringir a argumentos técnicos, pode utilizar argumentos extrajurídicos,
invocando razões de ordem social, emocional ou política.
A defesa poderá inovar na tréplica, trazendo argumentos não apresentados nas fases anteriores.
O juiz pode considerar o réu indefeso e lhe nomear outro defensor (art. 497, V, CPP)

Autodefesa:
No interrogatório, o réu poderá alegar a seu favor qualquer tese, inclusive contrária àquela trazida
pela defesa técnica, a qual deve consta na quesitação.
CARACTERÍSTICAS
Sigilo das votações:
Embora o júri seja pública, as votações serão realizadas de forma reservada. Tal medida
tem por objetivo garantir que os jurados manifestarão seu voto livremente, sem
constrangimentos.

A forma de votação não permite conhecer o voto dos jurados. O juiz anuncia os votos até
obter 4 votos positivos ou negativos para cada quesito. Antes de 2008, ele anunciava os 7
votos e permitia deduzir como tinham votado os jurados.

A incomunicabilidade dos jurados também garante o sigilo das votações (art. 466, § 1º,
do CPP).
CARACTERÍSTICAS
Soberania dos vereditos
No Tribunal do Júri, o veredito dos jurados não pode ser substituído pela decisão de um
órgão judiciário.

Isso não significa que as decisões do júri seja irrecorríveis, elas podem ser anuladas, elas
podem ser cassadas porque contrárias as provas dos autos, mas nesses casos será realizado
outro júri.

A soberania dos vereditos também não se sobrepõe à revisão criminal, pois a garantia de
liberdade deve prevalecer. Assim, ao decidir uma revisão criminal, o Tribunal poderá
absolver o réu.
CARACTERÍSTICAS

Competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida (tentados ou consumados)
•Homicídio
•Feminicídio
•Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio
•Infanticídio
•Aborto

*Crimes conexos: art. 78, I, do CPP


*Crime de genocídio (Lei nº 2.889/56) não é de competência do júri e será julgado pelo
Justiça Comum Federal, salvo quando conexo ao homicídio. (BJ: pluralidade e diversidade
humanas)
* Latrocínio não é de competência do júri. (BJ: patrimônio)
4 INSTRUÇÕES
INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR
Notícia de crime – relatório do IP
IUS ACCUSATIONIS
Oferecimento da denúncia – Pronúncia
FASES DO IUDICIUM CAUSAE
PROCEDIMENTO Requerimento da acusação – julgamento
PLENÁRIO
2 FASES
IUS ACCUSATIONIS (ART. 406-421, do CPP)
IUDICIUM CAUSAE (ART. 422-497, do CPP)
1. Denúncia (8 testemunhas)
2. Juízo de Admissibilidade
3. Resposta à acusação no prazo de 10 dias (8
testemunhas)
4. Manifestação MP (acusação antes da defesa?)
5. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA?
(10 dias para marcar audiência de instrução)
6. Audiência de instrução
- Declarações do ofendido (vivo)
-Inquirição das testemunhas da acusação
IUS -Inquirição das testemunhas de defesa
-Esclarecimentos do perito
ACCUSATIONIS -Interrogatório
-Alegações orais - 90 dias
7. Pronúncia (art. 413, CPP)
Natureza jurídica
Decisão Interlocutória mista não terminativa
Fundamentos e requisitos
- Materialidade do fato
- Indícios suficientes de autoria
- Declaração do dispositivo legal
- Circunstâncias qualificadoras e as causas de
aumento de pena descritas na denúncia
- Motivação da manutenção, revogação ou
substituição das medidas cautelares
IUS
ACCUSATIONIS
7. Pronúncia (art. 413, CPP)
*Não tratará de agravantes e atenuantes.
*Demarcará os limites da acusação deduzida em
plenário.
*O juiz poderá dar ao fato narrado qualificação
jurídica diversa da denúncia.
*Recurso em sentido estrito.
*Interrupção do prazo prescricional.
Intimação da pronúncia
•Pessoalmente: MP/ defensor nomeado/acusado
preso
IUS •Por edital: acusado solto não encontrado
•Via diário oficial: defensor constituído
ACCUSATIONIS
7. Impronúncia (art. 414, do CPP)
Natureza jurídica
Decisão Interlocutória mista terminativa.
Decisão gravada de efeitos análogos ao da cláusula
rebus sic stantibus.
Fundamentos e requisitos
Não há elementos suficientes que comprovam
materialidade e indicam a autoria de um crime
doloso contra a vida.
*INCONSTITUCIONALIDADE (Presunção de
inocência)
IUS * O crime conexo é remetido para o juiz
competente
ACCUSATIONIS * Recurso de Apelação.
8. Absolvição sumária (art. 415, do CPP)
Natureza jurídica
Sentença
Fundamentos e requisitos
- Provada a inexistência do fato.
- Provado não ser o acusado autor do fato.
- O fato não constitui infração penal.
- Causa de exclusão do crime ou isenção de pena.
- Inimputabilidade, quando for a única tese
defensiva.
IUS O crime conexo é enviado ao juiz competente.
ACCUSATIONIS * Recurso de Apelação
9. Desclassificação (art. 419, do CPP)
Natureza jurídica
Decisão interlocutória simples.
Fundamentos
- Declaração de incompetência do júri por não se
tratar de crime doloso contra a vida.
-Envio ao juízo competente.
* Recurso em sentido estrito
DESCLASSIFICAÇÃO ≠ DESQUALIFICAÇÃO
IUS Ex: Feminicídio para Homicídio
ACCUSATIONIS A desclassificação de homicídio doloso para
culposo no trânsito deve ser feita pelo Júri (STJ)
IUDICIUM 9. REQUERIMENTO DA ACUSAÇÃO
Prazo: 5 dias
CAUSAE Indicação das 5 testemunhas; apresentação de documentos e
novas diligências.
10. REQUERIMENTO DA DEFESA
Prazo: 5 dias
Indicação das 5 testemunhas; apresentação de documentos e
novas diligências.
11. SANEAMENTO DO PROCESSO
Realização das diligências e saneamento do processo.
12. RELATÓRIO SUCINTO DO PROCESSO
Será entregue aos jurados
IUDICIUM CAUSAE
13. PREPARAÇÃO DO JÚRI
Composição do Júri: 1 juiz togado e 25 jurados

Requisitos para ser jurado


•Maior de 18 anos (isentos maiores de 70 anos).
•Notória idoneidade.
•Cidadão brasileiro no gozo dos direitos políticos.
•Alfabetizado.
•Não pode ser surdo.
•Não pode ter integrado outro júri nos 12 meses que precederam a publicação
da lista geral de jurados.
• Isentos (art. 437, do CPP)
• Serão alistados: 800 a 1.500 jurados, em comarcas com mais de 1 milhão de
habitantes; 300 a 700, em comarcas com mais de cem mil habitantes, e 80 a
400, em comarcas menores.
IUDICIUM CAUSAE
Publicação da lista de jurados

•Até o dia 10 de outubro será publicada pela primeira vez a lista geral de
jurados, em que constam o nome e a profissão.
•Qualquer do povo pode reclamar e pedir a exclusão de jurado da lista geral.
•No dia 10 de novembro será publicada a lista definitiva.
•Os nomes da lista serão verificados pelo MP, pela Defensoria Pública e pela
OAB e serão depositado numa urna, guardada pelo juiz-presidente do júri.
•Entre 15 e 10 dias úteis antes, o juiz sorteará os 25 jurados (+ suplentes) que
participarão da reunião periódica do Tribunal do Júri. (Curitiba é mensal).
•Os 25 jurados devem participar de todas as sessões que integram a reunião.
IUDICIUM CAUSAE
Direitos do jurado
Tem preferência, em igualdade de condições, nas licitações públicas e nos
concursos públicos.
Prisão especial.
Pode se recusar a integrar o júri por motivo de crença religiosa, filosófica ou
política, devendo nesse caso cumprir prestação alternativa.
Não comparecer por justo motivo ou força maior.

Habilitação do assistente da acusação até 5 dias antes do julgamento.

Juntada de documentos lidos em plenário até 3 dias úteis antes do julgamento.

Diante da recusa imotivada do jurado em comparecer, será aplicada multa de 1


a 10 salários mínimos.
IUDICIUM CAUSAE
14. JULGAMENTO EM PLENÁRIO

Verificação da presença das partes


Ausência do MP – adiamento e comunicado ao Procurador-Geral
Ausência Advogado de Defesa – adiamento e comunicado OAB. Nomeação de
outro defensor para eventual repetição da ausência.
Ausência do acusado solto intimado – realização da sessão.
Ausência do acusado preso – adiamento (deve ser requisitado ou deve se negar
a participar por meio de carta)
Ausência do assistente do MP – realização da sessão.
Verificação da presença das testemunhas
Ausência de testemunhas – falta de intimação/adiamento – intimada/condução.
Verificação da presença de pelo menos 15 jurados.
IUDICIUM CAUSAE
Instalação da sessão de julgamento

Pregão do Oficial de Justiça

Advertência aos jurados das causas de impedimento e suspeição (arts. 448


e 449, do CPP.

Advertência aos jurados de sua incomunicabilidade

Sorteio dos 7 jurados – Cada parte poderá fazer 3 recusas imotivadas.

Juramento – “Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com


imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa
consciência e os ditames da justiça.”
IUDICIUM CAUSAE
Entrega aos jurados da cópia da PRONÚNCIA; das DECISÕES QUE
CONFIRMARAM A PRONÚNCIA E do RELATÓRIO.

Declaração do ofendido

Inquirição das testemunhas da acusação (juiz-presidente, o MP, o


assistente, o defensor, os jurados através do juiz).

Inquirição das testemunhas da defesa

Eventuais acareações e esclarecimento de peritos

Leitura das peças referentes às provas colhidas por carta precatória, às


provas cautelares, antecipadas e irrepetíveis.
IUDICIUM CAUSAE
Interrogatório (o juiz não faz perguntas)
Uso de algemas – Súmula vinculante 11.
Debates Acusação/Defesa
Tempo: 1h30
+ de 1 acusado – acréscimo de 1h
Réplica e Tréplica
Tempo: 1h
+ de 1 acusado – dobra
Não poderão fazer referência à pronúncia, às decisões posteriores que a
confirmaram, à decisão que determinou o uso de algemas e ao silêncio do
acusado no interrogatório.
Apartes de 3 minutos deferidos pelo juiz.
IUDICIUM CAUSAE
Esclarecimentos aos jurados

Quesitação

Com base na pronúncia, no interrogatório e nos debates o juiz formula os


quesitos.

A série de quesitos será sobre cada crime e para cada réu.

O juiz lê os quesitos e submete à apreciação das partes.

Pergunta se os jurados estão prontos para julgar.

Recolhimento à sala secreta


IUDICIUM CAUSAE
Votação

1. Materialidade do fato
No dia 22 de março de 2013, na Rua “A”, Bairro “B”, nesta cidade, a vítima X
foi atingida por disparo de arma de fogo, sofrendo as lesões corporais descritas
no laudo de fls. 148/149? SIM ou NÃO. Se 4 jurados responderem NÃO,
encerra o julgamento.

Essas lesões foram a causa eficiente da morte da vítima? Se 4 responderem


NÃO, encerra o julgamento.

Tentativa: No dia 22 de março de 2013, na Rua “A”, Bairro “B”, nesta cidade, a
vítima X foi alvo de disparo de projéteis de arma de fogo, sem que fosse
atingida?
IUDICIUM CAUSAE
2. Autoria ou participação
Y foi autor dos disparos que atingiram a vítima X? Se 4 jurados responderem
NÃO, Y está absolvido.

3. Desclassificação
Y quis a morte da vítima X?
Y assumiu o risco de matar a vítima X?
Se 4 jurados responderem NÃO, ocorre a desclassificação e o juiz julga o caso.

4. Absolvição
O jurado absolve o acusado?
Se 4 jurados responder SIM, o julgamento é encerrado.
IUDICIUM CAUSAE
5. Causa de diminuição alegada pela defesa
Privilégios e minorantes
Y cometeu o crime sob violenta emoção?

6. Qualificadoras
Devem estar contidas na pronúncia
Y matou X por motivo fútil?

Sentença
Após a votação, o juiz elabora a sentença com base no veredito dos jurados e a
publica em plenário.

Se a pena for igual ou superior a 15 anos, o juiz determinará a execução


imediata.
IUS ACCUSATIONIS

DENÚNCIA ADMISSIBILIDADE CITAÇÃO RESPOSTA À ACUSAÇÃO MP

AUDIÊNCIA ALEGAÇÕES ALEGAÇÕES PRONÚNCIA/IMPRONÚNCIA


DA DA ABSOLV. SUMÁRIA/DESCLASSIFCAÇÃO
ACUSAÇÃO DEFESA
IUDICIUM CAUSAE

PREPARAÇÃO JÚRI
ACUSAÇÃO DEFESA

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