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Aula 7

PROCEDIMENTOS

Tribunal do Júri

1 - Conceito: Órgão colegiado5 do Poder Judiciário1, com competência mínima para julgar os crimes dolosos contra
a vida2, dotado de soberania quanto às suas decisões3, tomadas de maneira sigilosa e inspiradas pela íntima
convicção4, sem fundamentação, de seus integrantes leigos.

1.1 - Órgão do Poder Judiciário: previsão constitucional fora do capítulo referente ao Poder Judiciário (arts. 92 a
126), pois a ideia do Constituinte era determinar que se trata de um direito fundamental (art. 5º), com característica
de cláusula pétrea.

1.2 - Competência mínima para julgar os crimes dolosos contra a vida: o legislador ordinário até pode encorpar
a competência do Tribunal do Júri, mas jamais restringi-la. “Mínima” porque também tem competência para
eventuais crimes conexos ou continentes – força atrativa

1.3 - Soberania quanto às suas decisões: a decisão de mérito do julgamento dos jurados não pode ser modificada
por um Tribunal, que é composto de juízes togados.

Art. 483 do CPP:

O que é decidido pelos jurados nos quesitos (decisão de mérito), que não pode ser substituído por juízes
togados (soberania dos veredictos):
a materialidade do fato;
a autoria ou participação;
se o acusado deve ser absolvido;
se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões
posteriores que julgaram admissível a acusação.

1.4 – Íntima convicção dos julgadores leigos: jurados não são obrigados a fundamentar sua decisão, na medida em
que não gozam das mesmas garantias dos juízes togados.

1.5 – Órgão colegiado: Colegiado e heterogêneo – formado por juiz presidente e por mais 25 jurados - 25 jurados,
dos quais 7 irão compor o conselho de sentença. (Caráter democrático do tribunal do júri).

2 – Previsão Constitucional

CF/88, art. 5º (…)


XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa:
A plenitude de defesa teria maior extensão que a ampla defesa.
No âmbito do júri, a defesa (técnica e autodefesa) não precisa se limitar a argumentos técnicos, podendo se
valer de argumentos extrajurídicos (Ex.: emocionais, de política criminal, sociológicos...)
1
Jurisprudência:
STF: “(...) Quanto mais grave o crime, deve-se observar, com rigor, as franquias constitucionais e legais,
viabilizando-se o direito de defesa em plenitude. PROCESSO PENAL - JÚRI - DEFESA. Constatado que a defesa
do acusado não se mostrou efetiva, impõe-se a declaração de nulidade dos atos praticados no processo,
proclamando-se insubsistente o veredicto dos jurados. JÚRI - CRIMES CONEXOS. Uma vez afastada a valia do
júri realizado, a alcançar os crimes conexos, cumpre a realização de novo julgamento com a abrangência do
primeiro”. (STF, 1ª Turma, HC 85.969/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 04/09/2007, Dje 18 31/01/2008).

b) o sigilo das votações: a ninguém é permitido conhecer dos votos dos jurados.

b.1) Votação unânime: vide art. 483, § 1º, do CPP

c) a soberania dos veredictos: vide item 1.3

* Vide art. 593, inciso III e parágrafos 1º a 3º, do CPP.

c.1) Revisão criminal: é uma ação autônoma de impugnação que tem como objetivo desconstituir uma decisão
transitada em julgado. Segundo a doutrina, havendo provas posteriores ao trânsito em julgado demonstrando a
inocência do acusado, é cabível a ação rescisória.

Razão: tanto a revisão criminal quanto a soberania dos veredictos são garantias que foram concebidas em prol da
proteção de liberdade de locomoção do indivíduo. Por isso, são plenamente compatíveis.

* exemplo: decisão do júri baseada em provas falsas.

O Tribunal, ao julgar a ação rescisória, pode tanto cassar (anular) a decisão do júri como inocentar o réu.

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

d.1 - Crimes dolosos contra a vida???: quais são?

d.2 - Infrações Penais Envolvendo Mortes Dolosas que não são Julgadas pelo Júri.

1) Latrocínio: não é crime doloso contra a vida, mas sim patrimonial, logo não será julgado pelo júri.

Súmula 603 do STF: A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do
tribunal do júri.

2) Ato infracional: Aquela conduta descrita como crime ou contravenção, ainda que dolosa contra a vida, será
julgada pelo Juizado da Infância e Adolescência. Ex.: sujeito com menos de 18 anos estupra e mata a vítima.
Mesmo havendo uma morte dolosa, o ato infracional não será julgado pelo Júri, mas sim pelo Juizado da Infância e
da Adolescência. Serão aplicadas medidas socioeducativas do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).

3) Genocídio (Lei 2.889/56): O genocídio não é crime doloso contra a vida. Segundo a doutrina e a jurisprudência,
o genocídio é um crime que tutela a existência de grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Por não se tratar de
crime doloso contra a vida, em regra, não é julgado pelo júri. Cuidado: se o genocídio praticado mediante morte de
membros do grupo, deverá o agente responder pelos crimes de homicídio em concurso formal impróprio com o
delito de genocídio, sendo inviável a aplicação de quaisquer dos princípios que regulam o conflito aparente de

2
normas (especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade). Nesse caso, os homicídios deverão ser
processados e julgados perante um Tribunal do Júri, que exercerá força atrativa em relação ao crime conexo de
genocídio;

4) Militar da ativa das Forças Armadas que comete homicídio doloso contra militar da ativa das Forças
Armadas. A Constituição Federal também ressalva a competência da Justiça Militar, a qual está prevista, também,
no Código Penal Militar. O CPM dispõe que, neste caso, a competência é da própria Justiça Militar. Como ambos
sujeitos são das Forças Armadas, o crime será julgado na Justiça Militar da União.

5) Civil que comete homicídio doloso contra militar das Forças Armadas em serviço em lugar sujeito à
administração militar. (STF – HC 91.003). A Constituição Federal também ressalva a competência da Justiça
Militar, a qual está prevista, também, no Código Penal Militar. O CPM dispõe que, neste caso, a competência é da
própria Justiça Militar. Ainda que cometida por civil, como a vítima é militar do Exército em serviço em lugar
sujeito à administração militar, a conduta é considerada como crime militar de acordo com o art. 9º, III, b), do CPM.

6) Foro previsto na CF – Aquele que matou a pessoa tem foro privilegiado por prerrogativa de função. Neste caso,
será julgado pelo Tribunal de Justiça, tendo em vista que, assim como a competência do júri, a competência por foro
privilegiado está prevista na CF, devendo ser aplicado o critério/princípio da especialidade.

7) Crime político de matar o Presidente da República, do STF, do Senado e da Câmara (Lei 7.170/83).
Esse crime não é considerado um crime doloso contra a vida. Ele é tratado pela legislação como se fosse um crime
de natureza política. Em tese, como crime político, deverá ser julgado por um juiz singular federal (art. 109, IV,
CF).

8) Tiro de abate (previsto no CPM, art. 9º, §único, in fine).


O tiro de abate foi introduzido no CPM pela lei 12.432/2011. Essa lei prevê que o tiro de abate é da
competência da Justiça Militar. No caso, será Justiça Militar da União, já que é efetuado pela Força Aérea
Brasileira.

3 – Procedimento Bifásico (escalonado) do Tribunal do Júri

3.1 – Fases do Procedimento

Tabela das aulas de Renato Brasileiro (com adaptações)

1ª fase: sumário da culpa (iudicium accusationis)2ª fase julgamento em plenário (IUDICIUM


CAUSAE)
Apenas o juiz sumariante Juiz presidente + 25 jurados (7 compõem o
Conselho de Sentença
Início: oferecimento ou recebimento da denúncia - Depois da Lei 11.689/08: preparação
(como exceção, queixa-crime) para julgamento em plenário (quando ocorrer a
preclusão da pronúncia)

Término: impronúncia; desclassificação; Término: sentença na sessão de julgamento


absolvição sumária e pronúncia

Assemelha-se com procedimento comum


ordinário, mas com algumas diferenças

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3.2 - Primeira fase (sumário da culpa)

1º Oferecimento da denúncia/queixa (MP/querelante)


2º Recebimento da denúncia/queixa-crime pelo juiz
3º Resposta à acusação
4º Oitiva da acusação
5º Audiência de instrução e julgamento
6º Alegações finais
7º Decisão (pronúncia, impronúncia; desclassificação; absolvição sumária)

Decisão de pronúncia: é um juízo positivo de admissibilidade, em que o juiz admite que o acusado seja levado a
julgamento perante o Tribunal do Júri.

Regra probatória: in dubio pro societate

Natureza jurídica: A natureza jurídica da decisão de pronúncia é de decisão interlocutória mista não terminativa,
pois não há a apreciação do mérito e haverá fim à primeira fase procedimental.

CPP, art. 413, § 1º: “A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da materialidade do fato e da
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em
que julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras e as causas de aumento de pena”
(Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008). A eloquência acusatória é o excesso de fundamentação por ocasião da
pronúncia. O seu grande problema é contaminar os jurados.

Recurso cabível: recurso em sentido estrito.

Decisão de impronúncia: diante da fragilidade da prova, quanto à materialidade e indícios suficientes de autoria, o
acusado será impronunciado (art. 414). Isto é, não será submetido a julgamento pelo Conselho de Sentença.
Recurso cabível: apelação.

* O CPP estabelece que, ainda que o indivíduo venha a ser impronunciado, caso surjam provas novas, é possível
que uma nova denúncia seja oferecida contra ele. Portanto, a coisa julgada em torno da impronúncia é meramente
formal.

Desclassificação: o juiz sumariante entende que não se trata de crime doloso contra a vida, remetendo os autos para
o juiz que seja competente (art. 419). Exemplo: juiz entende que não se trata de homicídio doloso, mas de latrocínio.
Recurso cabível: recurso em sentido estrito.

Absolvição sumária: sentença em que o juiz sumariante, mediante um juízo de certeza, absolve o réu (ler art.
415).
Recurso cabível: Apelação.

* A coisa julgada que se forma em torno da absolvição sumária é formal e material. Portanto, se o indivíduo for
absolvido sumariamente não se admite a reabertura desse processo versando sobre a mesma imputação, ainda que
surjam novas provas.

* Juiz sumariante é o juiz togado que atua na 1ª fase do júri. Em algumas situações, o juiz sumariante pode ser a
mesma pessoa do juiz presidente.

3.2.1 – Diferenças em relação ao Procedimento Comum

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Tabela das aulas de Renato Brasileiro (com adaptações)

PROCEDIMENTO ORDINÁRIO IUDICIUM ACCUSATIONIS


Não há previsão expressa de oitiva da acusação Há previsão expressa de oitiva da acusação após a
após a resposta à acusação. resposta à acusação (Art. 409, CPP). Prazo: 5 dias
A sumári pode depoi d A absolvição sumária pode ocorrer ao final da audiência de
absolvição a s (Art. e instrução.
apresentada respost ocorrer à 397 -
hipóteses) a acusação

3.3 – Segunda fase (julgamento em plenário)

Essa fase tem início a partir da preclusão da pronúncia, ou seja, quando não couber mais recurso contra a pronúncia
(vide arts. 421 e 422 do CPP).

3.3.1 – Sessão de Julgamento

O Júri é formado pelo juiz presidente + 25 jurados (7 integram o Conselho de Sentença).

O Tribunal do Júri é um órgão colegiado heterogêneo, já que, de um lado, há o juiz presidente e, de outro lado, os
7 jurados que integram o conselho de sentença.

Os jurados decidem sobre materialidade, autoria, absolvição, causas de diminuição, qualificadoras e causas de
aumento. O juiz presidente decide o restante da matéria.

3.3.2 – Requisitos para ser jurado

Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de
notória idoneidade.
§1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia,
raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução.
§2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor de 1 (um) a 10 (dez) salários mínimos, a
critério do juiz, de acordo com a condição econômica do jurado.

CPP
Art. 437. Estão isentos do serviço do júri:
I – o Presidente da República e os Ministros de Estado;
II – os Governadores e seus respectivos Secretários;
III – os membros do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais; IV –
os Prefeitos Municipais;
V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública;
VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública; VII – as autoridades e os
servidores da polícia e da segurança pública;
VIII – os militares em serviço ativo;
IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua dispensa; X – aqueles que o requererem,
demonstrando justo impedimento.

Doutrina (Renato Brasileiro): jurado tem que ser alfabetizado e não pode ser cego, surdo ou mudo, já que o
procedimento do júri é fundado no princípio da oralidade, e o voto do jurado é sigiloso. Se essas pessoas tivessem
que atuar no júri, outra pessoa teria que atuar como intérprete, o que poderia colocar em risco o sigilo das votações.

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3.3.3 – Recusas de Jurados

As partes podem opor recusas a determinados jurados

Motivadas (arts. 448 e 449 do CPP): arguição de alguma causa de suspeição ou impedimento. Esse tipo de recusa
é ilimitado. O reconhecimento da suspeição é apreciado pelo próprio juiz presidente.

Imotivadas (peremptória): não há necessidade de se apontar o motivo da recusa. Só é possível exercer 3 (três)
recusas imotivadas (art. 468 do CPP).

3.3.4 – Argumento de autoridade

Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências: (Redação dada pela Lei
nº 11.689, de 2008)
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram admissível a acusação ou à determinação do uso de
algemas como argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado; (Incluído pela Lei nº 11.689, de
2008)
II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo. (Incluído
pela Lei nº 11.689, de 2008)

3.3.5 – Quesitação

Conceito: São perguntas formuladas aos jurados para que se pronunciem quanto ao mérito da acusação. Os jurados
não fundamentam seus votos. Eles votam através de cédulas, onde constam “sim” ou “não”. Como os jurados não
fundamentam seus votos, há a necessidade de se apresentar perguntas a eles, a fim de que se pronunciem quanto ao
mérito da acusação.

Momento (CPP, art. 484): após a conclusão dos debates, se os jurados afirmarem que estão em condições de
proceder ao julgamento, deve o juiz-presidente fazer a leitura dos quesitos.

Ordem dos quesitos: art. 483 do CPP

- Desaforamento

Conceito (Renato Brasileiro): consiste no deslocamento da competência territorial de uma comarca para outra, a fim
de que nesta seja realizado o julgamento pelo Tribunal do Júri. Aplica-se exclusivamente ao julgamento em
plenário. Vide art. 427 do CPP

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