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TRIBUNAL DO JÚRI
- Origem histórica:
● Inglaterra (1215) - Tribunal composto pelo Grande Júri (ou Júri de acusação),
com 23 membros e que se manifestava, tão somente, sobre a procedência da
acusação. A votação se sucedia por maioria absoluta, no qual, se o grande júri
entendesse pela procedência da acusação, o acusado era levado ao Juiz
presidente do pequeno Júri, para que este perguntasse ao réu se ele se declarava
culpado ou inocente. Se o acusado confessasse o crime, a ele era imputado a
pena, no entanto, se negasse, os doze jurados do pequeno Júri se reuniam para
debater a matéria e, ao final, proferir o veredicto.
- Competência:
O artigo 5º. XXXVIII, alínea “d” da CF, estabelece a competência do Júri para
julgamento de crimes dolosos contra a vida.
O texto constitucional prevê apenas a competência mínima, ou seja, existe a
possibilidade de ampliação da competência do Tribunal do Júri. No entanto, atualmente,
apenas os crimes previstos nos artigos 121 a 127 do Código Penal são julgados perante
este tribunal (artigo 74, parágrafo único/CPP).
Vale destacar que a Lei nº 13.968, de 26 de dezembro de 2019, alterou a redação
do artigo 122/CP, a qual passou a prever como crime o induzimento, instigação ou
auxílio a suicídio ou a automutilação Em razão da referida modificação, a nova lei
incluiu ao citado artigo duas figuras qualificadas e a possibilidade de três aumentos de
pena (em diversas causas).
Observa-se que o legislador colocou, em um só artigo, condutas que visam
proteger bens jurídicos distintos, visto que no caso de suicídio, o bem jurídico
protegido é a vida e, no caso da automutilação, é a integridade corporal.
Diante disso, surgiu a discussão acerca da competência para julgamento da
conduta relacionada à automutilação. Majoritariamente, entende-se que se a conduta do
agente consiste em induzir, instigar ou prestar auxílio material ao suicídio, a
competência é do Tribunal do Júri que julga os crimes dolosos contra a vida (homicídio,
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, infanticídio e aborto), na forma tentada
ou consumada (CF, art. 5º, XXXVIII, alínea d, c/c CPP, art. 74, §1º).
No entanto, se a conduta for dirigida somente à automutilação, a competência
será do Juiz Singular por não se tratar de crime doloso contra a vida. Ainda que da
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Direito Processual Penal II
- Características:
- Órgão heterogêneo: o Tribunal do Júri é um órgão composto de um juiz
presidente (togado) e de 25 jurados (art. 447/CPP). Ressalta-se que para instauração de
uma sessão de julgamento é necessário a presença de no mínimo 15 jurados (463,
caput/CPP). Dentre os jurados presentes, 7 tomaram assento no conselho de sentença.
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Direito Processual Penal II
- Fases:
1ª) Judicium accusationis/formação de culpa/sumário de culpa/ instrução
preliminar/ juízo de admissibilidade/ juízo de acusação:
Nessa fase, a tramitação ocorrerá exclusivamente perante o juiz do Tribunal do
Júri.
Em sendo ajuizada a ação penal, o processo seguirá o rito estabelecido nos
artigos 406 a 412 do Código Processo Penal - rito comum ordinário, até a fase prevista
nos artigos 413 a 419.
Ressaltam-se algumas diferenças do rito em comento com relação ao rito
comum ordinário:
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Direito Processual Penal II
● Vista dos autos ao autor da ação após resposta acusação do réu : No rito
comum ordinário não existe a previsão legal de remessa dos Autos ao Ministério
Público para que este tome conhecimento dos argumentos apresentados pela
defesa em sede de resposta à acusação. No rito do Tribunal do Júri, tal situação
está prevista no artigo 409 do CPP.
PRONÚNCIA
Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se
convencido da materialidade do fato e da existência de indícios
suficientes de autoria ou de participação.
§1º A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da
materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria
ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que
julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras
e as causas de aumento de pena.
§2º Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para a
concessão ou manutenção da liberdade provisória.
§3º O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção,
revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade
anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre a
necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das
medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código.
Natureza jurídica:
Decisão interlocutória (porque não julga o mérito, condenando ou absolvendo o
réu) mista (porque põe fim a uma fase procedimental) não terminativa (porque não
encerra o processo).
Efeitos da Pronúncia:
1º Submissão do acusado ao julgamento em Plenário;
2º Limitação da imputação na segunda fase: a pronúncia possui a eficácia
preclusiva, pois ela fixa os limites da imputação que será feita pelo autor da ação penal
na segunda fase do Tribunal do Júri - princípio da correlação entre pronúncia e
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Direito Processual Penal II
quesitação. Exemplo: Se o acusado for pronunciado por homicídio simples, não poderá,
o promotor de justiça, sustentar a incidência de alguma qualificadora.
3º Preclusão das nulidades relativas não arguidas até a pronúncia: Observe que o
artigo 593, III, “a” do CPP, traz como um dos fundamentos da apelação, recurso cabível
contra a sentença proferida na segunda fase do Júri (e não contra a pronúncia) apenas as
nulidades posteriores à pronúncia.
4º Causa interruptiva da prescrição: artigo 117, II, do CP.
Fundamentação:
Na decisão de pronúncia, o juiz só poderá fazer referência aos indícios de
autoria e prova da materialidade, às qualificadoras, às causas especiais de aumento de
pena e às causas que indiquem a extensão do crime, como por exemplo, o concurso de
pessoas ou se o crime foi consumado ou tentado.
Observa-se que o artigo 413 faz referência a prova de materialidade e indícios
suficientes de autoria ou de participação. Logo, o juiz, ao pronunciar, estará convencido
da existência de indícios acerca da existência do crime. Quanto aos indícios de autoria
ou de participação, deve-se interpretar a palavra indícios como prova semiplena, ou
seja, elemento de prova mais tênue, com o valor menos persuasivo. - Juízo de
probabilidade.
Existe uma divergência quanto ao juízo de certeza ou de probabilidade acerca da
materialidade do fato. Para alguns doutrinadores, exige-se um conjunto de provas que
leve o juiz à certeza de que ocorreu um crime doloso contra a vida. Portanto, seu juiz
não tivesse certeza acerca da materialidade do fato, o juiz deverá impronunciar o réu.
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Noutro giro, há quem sustente que o juiz não pode afirmar nem a materialidade
do fato/existência do delito nem a autoria, sob pena de induzir ao prejulgamento por
parte dos jurados. Logo, juiz não deve externar suas “certezas” para não afetar a
necessária independência que os jurados devem ter no momento do julgamento.
Não poderão ser incluídas na pronúncia as causas especiais de diminuição de
pena, como por exemplo, as causas que configurem o homicídio privilegiado (art. 121,
§1º/CP), pois são circunstâncias que os jurados decidirão após os debates. Além disso,
não poderão ser feitas referências às circunstâncias agravantes e atenuantes, bem como
circunstâncias judiciais, que são as circunstâncias que o juiz presidente analisará no
momento da dosimetria da pena, caso o acusado venha a ser condenado.
1
No mesmo sentido: decidiu a Segunda Turma do STF, no agravo Ag 1.304.605/PR. No voto do relator,
Ministro Ricardo Lewandowski, este reputou ser inconstitucional o aforismo jurídico in dubio pro
societate (STF, ARE 1304605 ED-AgR., Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em
12/05/2021, PROCESSO ELETRÔNICO. DJe-092. DIVULG. 13-05-2021. PUBLIC. 14-05-2021).
Na decisão do HC 180144, entendeu a Segunda Turma que: “A regra “in dubio pro societate” – repelida
pelo modelo constitucional que consagra o processo penal de perfil democrático – revela-se
incompatível com a presunção de inocência, que, ao longo de seu virtuoso itinerário histórico, tem
prevalecido no contexto das sociedades civilizadas como valor fundamental e exigência básica de
respeito à dignidade da pessoa humana” (STF, HC 180144, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma,
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Direito Processual Penal II
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) restabeleceu
decisão em que o juízo não verificou indícios de autoria de crime que
justificasse o julgamento de dois homens perante o Tribunal do Júri (a
chamada sentença de impronúncia). Por maioria, o colegiado seguiu o voto
do ministro Gilmar Mendes (relator), segundo o qual, havendo dúvida sobre a
preponderância de provas, deve ser aplicado o princípio que favorece o réu
em caso de dúvida (in dubio pro reo), previsto no artigo 5º, inciso LVII, da
Constituição Federal.
Na hipótese dos autos, o juízo de primeiro grau pronunciou um corréu
(decidiu que ele deve ser julgado pelo júri) e impronunciou os outros dois
denunciados em caso que envolveu um homicídio no Ceará. Diante do
depoimento de seis testemunhas presenciais, o juiz não verificou qualquer
indício de autoria atribuído aos dois acusados. O Ministério Público estadual
então recorreu ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, que proveu o
recurso sob o entendimento de que, nessa fase processual, o benefício da
dúvida deve favorecer a sociedade (in dubio pro societate) e determinou que
ambos fossem submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri.
No Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1067392 interposto ao
Supremo, a defesa sustentou que, se o Tribunal estadual reconheceu a
existência de dúvida sobre a autoria do crime, os recorrentes deveriam ter
sido impronunciados em respeito ao princípio da presunção de inocência.
Alegou que o TJ-CE valorou depoimentos de testemunhas não presenciais em
detrimento das testemunhas oculares.
Valoração de provas:
Em seu voto, o ministro Gilmar Mendes explicou que, embora não
existam critérios de valoração de provas rigidamente definidos, o juízo sobre
os fatos deve ser orientado pela lógica e pela racionalidade e pode ser
controlado em âmbito recursal. Segundo o relator, o TJ-CE, em lugar de
considerar a motivação do juízo de primeiro grau, formada a partir de relatos
de testemunhas presenciais ouvidas em juízo que afastaram a participação
dos acusados na morte, optou por dar maior valor a depoimento de “ouvi
dizer” e a declarações prestadas nas investigações e não reiteradas em juízo,
não submetidas, portanto, ao contraditório. “É inegável que uma declaração
de alguém que não presenciou os fatos, mas somente ouviu o relato de outra
Recurso:
A decisão de pronúncia está sujeita ao recurso em sentido estrito, nos termos do
artigo 581, inciso IV/CPP.
Crimes conexos:
Ao pronunciar o acusado, o juiz sumariante deve se ater a imputação referente
ao crime doloso contra a vida, abstendo-se de fazer qualquer análise em relação ao
crime conexo.
Assim, não é permitido que o juiz pronuncie o acusado pelo crime doloso contra
a vida e o absolva ou o impronuncie pelo crime conexo. Ao pronunciar, o crime conexo
será automaticamente remetido à análise do Júri.
Prisão preventiva:
O artigo 413, §3º, do CPP determina que o juiz sumariante, ao pronunciar,
decida, motivadamente, acerca da necessidade da prisão preventiva do acusado.
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Intimação:
Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será feita:
I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério
Público;
II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do
Ministério Público, na forma do disposto no §1º do art. 370 deste
Código.
Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que não for
encontrado.
IMPRONÚNCIA:
Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz,
fundamentadamente, impronunciará o acusado.
Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade,
poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova.
Caso o juiz entenda que não existem indícios suficientes de autoria ou prova da
materialidade delitiva, ele deverá impronunciar o acusado.
Natureza jurídica:
Decisão interlocutória (Não aprecia o mérito para dizer se o acusado é culpado
ou inocente) mista (põe fim a uma fase procedimental) terminativa (acarreta extinção
do processo antes do fim do procedimento).
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Recurso:
De acordo com o artigo 416/CPP, contra a decisão de impronúncia caberá o
recurso de apelação.
Crimes conexos:
Impronunciando acusado, o magistrado deve abster-se de analisar o crime
conexo. Logo, depois de transitada em julgado a decisão de pronúncia, os autos devem
ser encaminhados ao juiz competente para julgar o crime conexo.
Despronúncia:
Contra a decisão de pronúncia, cabe a interposição do recurso em sentido estrito
(art. 581, IV, CPP). Esse recurso tem efeito regressivo, ou seja, o juiz a quo poderá
exercer o juízo de retratação e impronunciar o réu. Caso o juiz a quo não se retrate, os
autos serão remetidos ao Tribunal de Justiça, que poderá reformar a decisão de
pronúncia, reconhecendo a impronúncia.
Em ambos os casos, haverá a chamada despronúncia. Logo, a despronúncia
consiste na impronúncia obtida em grau de recurso quando anteriormente pronunciado.
Coisa julgada:
Considerando que na impronúncia o juiz não analisa o mérito, não se pode
concluir que tal decisão faz coisa julgada formal, assim, surgindo novas provas, nova
denúncia ou queixa poderão ser oferecidas, enquanto não ocorrer a extinção da
punibilidade.
ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA:
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o
acusado, quando:
I – provada a inexistência do fato;
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
III – o fato não constituir infração penal;
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste
artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal,
salvo quando esta for a única tese defensiva.
Inimputabilidade:
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
Crime conexo:
Havendo crime conexo com crime doloso contra vida em que o juiz decidiu pela
absolvição sumária do acusado, aquele deverá remeter cópia dos Autos ao juízo
competente para julgamento do crime remanescente.
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DESCLASSIFICAÇÃO:
Desclassificar é dar ao fato uma definição jurídica diversa, seja ela mais grave
ou mais leve.
Tipos:
a) Própria: ocorrerá quando o julgador concluir que o fato em análise não foi
um crime doloso contra vida, ou seja, o delito será desclassificado para um crime que
não seja da competência do próprio Tribunal do Júri.
Momento:
- 1ª fase
- Artigo 419/CPP o juiz sumariante dá o fato nova classificação jurídica, e
- 2ª fase
- Artigo 492, §§ 1º e 2º/CPP Correrá quando os jurados entenderem pela prática de um crime
- 2ª fase
Correrá quando os jurados entenderem pela prática de um outro crime do
Desclassificação X desqualificação:
A desqualificação ocorre quando o juiz sumariante, ao pronunciar, afasta uma
(ou todas) qualificadora(s). Assim, caso juiz da primeira fase entender que determinada
qualificadora constante na denúncia queixa é manifestamente improcedente descabida
deverá desqualificar o crime. No entanto, se o juiz sumariante entender que existem
indícios da incidência da qualificadora, ele pronunciará o acusado pelo crime
qualificado e caberá ao conselho de sentença analisar a incidência ou não da
qualificadora.
Organograma – 1ª fase:
Demais provas:
As partes poderão também juntar documentos e requerer diligências, (ex.:
oficiar o Instituto de Criminalística para juntada de laudo pericial).
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Desaforamento:
- Artigos 427 e 428 do CPP.
É o deslocamento de competência territorial de uma Comarca para outra para a
realização da sessão plenária do Tribunal do Júri.
Ressalta-se que o desaforamento só é possível para a segunda fase do Júri
- julgamento em Plenário.
Esse deslocamento de competência territorial não ofende o princípio do juiz
natural. Trata-se de uma medida excepcional, determinada pelo interesse público, sem
prejuízo para o julgamento justo, não ensejando a criação de um tribunal de exceção.
- Hipóteses:
a) Interesse de ordem pública: diz respeito à paz e tranquilidade dos
julgamentos. Segundo Aury Lopes Jr, nessa hipótese poderão ser considerados o clamor
ou comoção social, a falta de segurança para o acusado e também para os jurados ou, até
mesmo, a inexistência de um local adequado para realização do Júri.
Recurso:
Não há previsão de recurso contra decisão que admite ou não desaforamento,
sendo possível, porém, o manejo de habeas corpus.
Jurados:
Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá
os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade.
§ 1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou
deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo,
profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução.
§ 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor
de 1 (um) a 10 (dez) salários-mínimos, a critério do juiz, de acordo
com a condição econômica do jurado.
Ressalta-se que o inciso X trata de uma cláusula aberta, que deixa a critério do
juiz decidir pela dispensa ou não (exemplo: mulher no período de amamentação).
Além das hipóteses citadas acima, para os jurados também são aplicadas as
regras de impedimento e suspeição previstas para o magistrado, respectivamente, nos
artigos 252 e 254 do CPP
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Art. 448, §2 Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os
impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados.
Além disso, o artigo 449 elenco outras hipóteses em que o cidadão não poderá
servir como jurado:
Art. 449. Não poderá servir o jurado que:
I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo,
independentemente da causa determinante do julgamento posterior;
II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de
Sentença que julgou o outro acusado;
III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o
acusado.
Caso não haja presença de pelo menos 15 jurados, o juiz presidente procederá ao
sorteio dos suplentes e designará a nova data para a sessão do Júri.
Art. 464. Não havendo o número referido no art. 463 deste Código,
proceder-se-á ao sorteio de tantos suplentes quantos necessários, e
designar-se-á nova data para a sessão do júri.
defesa e, depois dela, ao Ministério Público dizer se aceita ou não cada um dos jurados
sorteados.
- Estouro de urna: ocorre quando o conselho de sentença não é formado por não
se alcançar um número de 7 jurados em decorrência das recusas (motivadas e/ou
peremptórias) ou em virtude da ausência de jurados convocados. a consequência do
estouro de urna será a prevista no artigo 471 do CPP
Art. 471. Se, em consequência do impedimento, suspeição,
incompatibilidade, dispensa ou recusa, não houver número para a
formação do Conselho, o julgamento será adiado para o primeiro dia
desimpedido, após sorteados os suplentes, com observância do
disposto no art. 464 deste Código.
Início do Julgamento:
2
No mesmo sentido: STJ, HC n. 777.205/PB, relator Ministro Antônio Saldanha Palheiro, Sexta Turma,
julgado em 2/5/2023, DJe de 5/5/2023.
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- Ordem de oitivas:
1º - Ofendido;
2º Testemunhas de acusação;
3º Testemunhas de defesa - o defensor pergunta primeiro;
4º Esclarecimentos de peritos (se houver);
5º Reconhecimento de coisas ou pessoas (se necessário);
6º Acareações (se necessário);
7º Interrogatório do acusado
As perguntas poderão ser feitas diretamente pelas partes, exceto pelos jurados,
que precisam passar pelo juiz-presidente.
Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a
instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o
assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e
diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as
testemunhas arroladas pela acusação.
§1º Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o
defensor do acusado formulará as perguntas antes do Ministério
Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e os critérios
estabelecidos neste artigo.
§2º Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às
testemunhas, por intermédio do juiz presidente.
§3º As partes e os jurados poderão requerer acareações,
reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem
como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas
colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou
não repetíveis.
Art. 474. A seguir será o acusado interrogado, se estiver presente, na
forma estabelecida no Capítulo III do Título VII do Livro I deste
Código, com as alterações introduzidas nesta Seção.
§1º O Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessa
ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado.
§2º Os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz
presidente.
- Debates:
Art. 476. Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao
Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou
das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação,
sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante.
§1º O assistente falará depois do Ministério Público.
§2º Tratando-se de ação penal de iniciativa privada, falará em
primeiro lugar o querelante e, em seguida, o Ministério Público, salvo
se este houver retomado a titularidade da ação, na forma do art. 29
deste Código.
7§3º Finda a acusação, terá a palavra a defesa.
§4º A acusação poderá replicar e a defesa treplicar, sendo admitida a
reinquirição de testemunha já ouvida em plenário.
As partes poderão apresentar aos jurados o fato delituoso pelo qual o acusado foi
pronunciado e as provas constantes do processo, procurando convencê-los de suas
razões.
O Ministério Público é livre para sustentar a procedência total ou parcial da
pretensão acusatória e, também, a improcedência do pedido de condenação do acusado.
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No mesmo sentido: STJ, AgRg no REsp n. 1.359.840/RS, relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro,
Sexta Turma, julgado em 15/3/2022, DJe de 18/3/2022”; “STJ, REsp n. 1.390.669/DF, relator Ministro
Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 20/6/2017, DJe de 26/6/2017; STJ, AgRg no AREsp n.
538.496/PA, relator Ministro Gurgel de Faria, Quinta Turma, julgado em 18/8/2015, DJe de 1/9/2015;
STJ, HC n. 143.553/DF, relatora Ministra Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do TJ/SE), Sexta
Turma, julgado em 20/2/2014, DJe de 7/3/2014; STJ, AgRg no REsp n. 1.306.838/AP, relator Ministro
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 28/8/2012, DJe de 12/9/2012.
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3º 1h de réplica 2h de réplica
4º 1h de tréplica 2h de tréplica
Ao final dos debates, o juiz deverá perguntar os jurados se eles estão aptos a
votarem. Nesse momento os jurados terão acesso aos autos e aos instrumentos do crime
e solicitarem ao juiz-presidente e esse deverá prestar os esclarecimentos necessários.
Para formulação dos quesitos o juiz vai se basear na pronúncia (que limita a
acusação nesta fase), no interrogatório do acusado e nas alegações das partes durante os
debates.
Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de
fato e se o acusado deve ser absolvido.
Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições
afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa
ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua
elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou
das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do
interrogatório e das alegações das partes.
A lei 11.689/08 trouxe para o artigo 483 do CPP uma redação simplificada: