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Professora Ana Paula Correia de Souza

Direito Processual Penal II

TRIBUNAL DO JÚRI

- Origem histórica:

● Inglaterra (1215) - Tribunal composto pelo Grande Júri (ou Júri de acusação),
com 23 membros e que se manifestava, tão somente, sobre a procedência da
acusação. A votação se sucedia por maioria absoluta, no qual, se o grande júri
entendesse pela procedência da acusação, o acusado era levado ao Juiz
presidente do pequeno Júri, para que este perguntasse ao réu se ele se declarava
culpado ou inocente. Se o acusado confessasse o crime, a ele era imputado a
pena, no entanto, se negasse, os doze jurados do pequeno Júri se reuniam para
debater a matéria e, ao final, proferir o veredicto.

● Na Constituição de 1824, o Tribunal do Júri foi colocado no capítulo pertencente


ao Poder Judiciário. Era um tribunal com competência para julgar causas cíveis
e criminais.

● Com a Proclamação da República, o instituto do Júri foi mantido no


ordenamento jurídico brasileiro e, por uma influência da Constituição
americana, o Júri passou a constar na Constituição Republicana como um direito
e uma garantia individual do cidadão.

● A Constituição de 1934 voltou a inserir o júri no capítulo referente ao Poder


Judiciário.

● Já na Constituição de 1937, não existia qualquer dispositivo referente ao


Instituto do Júri. Somente em 1938, através do Decreto-lei 167, confirmou-se a
existência do Júri no Brasil, porém, sem soberania.

● O Tribunal do Júri voltou ao texto constitucional com a Constituição de 1946,


tendo sido inserido no Capítulo dos direitos e garantias individuais.

● Na Constituição de 1964, a instituição do Júri foi mantida no Capítulo dos


Direitos e Garantias individuais, no entanto, não se falava em soberania, sigilo
das votações e plenitude de defesa. Tratava-se apenas acerca da competência
para julgar os crimes dolosos contra a vida.
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● Com a Constituição Cidadã (1988), novamente previu-se o júri no Capítulo dos


Direitos e Garantias individuais, voltando a garantir assim, como feito na carta
de 1946, a soberania dos veredictos, o sigilo das votações e a plenitude de
defesa, além de estabelecer a competência mínima para os crimes dolosos contra
a vida.

Desde 1988, o júri é uma garantia individual, precipuamente, mas também um


direito individual. Constitui cláusula pétrea na Constituição Federal, nos termos do
artigo 60, §4º, da CF.

- Competência:
O artigo 5º. XXXVIII, alínea “d” da CF, estabelece a competência do Júri para
julgamento de crimes dolosos contra a vida.
O texto constitucional prevê apenas a competência mínima, ou seja, existe a
possibilidade de ampliação da competência do Tribunal do Júri. No entanto, atualmente,
apenas os crimes previstos nos artigos 121 a 127 do Código Penal são julgados perante
este tribunal (artigo 74, parágrafo único/CPP).
Vale destacar que a Lei nº 13.968, de 26 de dezembro de 2019, alterou a redação
do artigo 122/CP, a qual passou a prever como crime o induzimento, instigação ou
auxílio a suicídio ou a automutilação Em razão da referida modificação, a nova lei
incluiu ao citado artigo duas figuras qualificadas e a possibilidade de três aumentos de
pena (em diversas causas).
Observa-se que o legislador colocou, em um só artigo, condutas que visam
proteger bens jurídicos distintos, visto que no caso de suicídio, o bem jurídico
protegido é a vida e, no caso da automutilação, é a integridade corporal.
Diante disso, surgiu a discussão acerca da competência para julgamento da
conduta relacionada à automutilação. Majoritariamente, entende-se que se a conduta do
agente consiste em induzir, instigar ou prestar auxílio material ao suicídio, a
competência é do Tribunal do Júri que julga os crimes dolosos contra a vida (homicídio,
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio, infanticídio e aborto), na forma tentada
ou consumada (CF, art. 5º, XXXVIII, alínea d, c/c CPP, art. 74, §1º).
No entanto, se a conduta for dirigida somente à automutilação, a competência
será do Juiz Singular por não se tratar de crime doloso contra a vida. Ainda que da
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automutilação resulte morte, este resultado será preterdoloso, logo, a competência


seguirá com o Juiz Singular.
O Júri é também competente para julgar os crimes conexos, mesmo quando o
réu tenha sido absolvido da imputação principal. E, no caso de concurso entre a
competência do Júri e de outro órgão de jurisdição comum, prevalecerá a competência
do Júri (CPP, art. 78, I).

Ressalta-se ainda que será também de competência do Tribunal do Júri o


julgamento dos delitos conexos, aqueles que, por força da atração exercida pelo júri,
devem ser julgados, também, pelo tribunal popular (artigo 76, 77 e 78 do CPP).
Obs.: o STF entende que o crime de genocídio não é de competência do
Tribunal do Júri. Somente seria de competência desse se houvesse
conexão com delitos dolosos contra a vida desconectados no genocídio.

- Princípios do Tribunal do Júri:


Os princípios que regem o Tribunal do Júri são os seguintes:
0. Plenitude de defesa: Contudo, possui um sentido mais abrangente do
que esta, já que a plenitude de defesa engloba argumentos jurídicos e extrajurídicos,
como sociais, morais, religiosos e culturais. Além disso, a plenitude de defesa é um
princípio exclusivo do rito especial do Tribunal do Júri.
a. Sigilo das votações: É garantido com a incomunicabilidade dos jurados
e com a leitura dos votos até se chegar à maioria.
b. Soberania dos veredictos: o julgamento proferido pelos jurados não
pode ser modificado pelo juiz togado ou pelo tribunal que venha a apreciar um recurso.
Atenção: No julgamento de uma revisão criminal de um processo de
competência do Tribunal do Júri, o Tribunal poderá absolver o réu
condenado injustamente pelo júri em sentença transitada em julgado.

- Características:
- Órgão heterogêneo: o Tribunal do Júri é um órgão composto de um juiz
presidente (togado) e de 25 jurados (art. 447/CPP). Ressalta-se que para instauração de
uma sessão de julgamento é necessário a presença de no mínimo 15 jurados (463,
caput/CPP). Dentre os jurados presentes, 7 tomaram assento no conselho de sentença.
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- Órgão horizontal: não existe hierarquia entre o juiz presidente do Tribunal do


Júri e os jurados.
- Órgão temporário: a composição do Júri se altera anualmente.
- Órgão bifásico/Escalonado.

- Fases:
1ª) Judicium accusationis/formação de culpa/sumário de culpa/ instrução
preliminar/ juízo de admissibilidade/ juízo de acusação:
Nessa fase, a tramitação ocorrerá exclusivamente perante o juiz do Tribunal do
Júri.
Em sendo ajuizada a ação penal, o processo seguirá o rito estabelecido nos
artigos 406 a 412 do Código Processo Penal - rito comum ordinário, até a fase prevista
nos artigos 413 a 419.
Ressaltam-se algumas diferenças do rito em comento com relação ao rito
comum ordinário:
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● Vista dos autos ao autor da ação após resposta acusação do réu : No rito
comum ordinário não existe a previsão legal de remessa dos Autos ao Ministério
Público para que este tome conhecimento dos argumentos apresentados pela
defesa em sede de resposta à acusação. No rito do Tribunal do Júri, tal situação
está prevista no artigo 409 do CPP.

● Prazo para realização da audiência de instrução e julgamento : No rito do


Júri, o juiz deverá realizar audiência de instrução e julgamento no prazo de 10
dias. Já no rito comum ordinário esse prazo é de 60 dias. Artigo 410 do CPP

● Inexistência da fase do artigo 402/CPP: Não há previsão legal, no rito do


Tribunal do Júri, de, ao final da audiência as partes requererem diligências,
como ocorre no rito comum ordinário.

● Alegações finais orais: segundo o disposto no artigo 411, §§4º e 6º, do


CPP, as alegações finais no rito do Júri deverão ser apresentadas de forma oral.
Não existe previsão legal, como ocorre no rito comum ordinário (artigo 403, §3º
e artigo 404, parágrafo único do CPP). Vale ressaltar que, em sendo
apresentadas as alegações finais por meio de memoriais, não ocorre qualquer
nulidade, consistindo apenas em uma mera irregularidade. Inclusive, na decisão
do HC 176058, o STF entendeu que não há nulidade na apresentação de
alegações finais por memoriais no rito da primeira fase do Júri quando o
advogado do réu, embora devidamente intimado sobre o ato, não demonstra
qualquer irresignação, in verbis:
[...] 2. Não há falar em ilegalidade na decisão do magistrado de
origem que determina a substituição dos debates orais pela
apresentação de memoriais escritos quando o advogado do réu,
embora devidamente intimado acerca de tal ato, não demonstra
qualquer irresignação. Ainda, a decisão está lastreada no art. 403, § 3º,
do Código de Processo Penal, segundo o qual o juiz poderá,
considerada a complexidade do caso ou o número de acusados,
conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a
apresentação de memoriais. [...] (STF, HC 176058 AgR, Relator(a):
ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em
21/02/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-047. DIVULG 05-03-
2020. PUBLIC. 06-03-2020)

ATENÇÃO: O STF tem entendido que a falta de alegações finais no rito


do Tribunal do Júri gera apenas nulidade relativa do feito (Informativo
597).
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● Prazo para conclusão da fase do sumário de culpa : segundo o disposto no


artigo 412 do CPP, a primeira fase do rito do Júri deverá ser concluída no prazo
de 90 dias. Tal prazo não é previsto no rito comum ordinário.

Após a audiência de instrução, debates e julgamentos, o juiz poderá tomar quatro


tipos de decisão: a) pronunciar o réu (art. 413, CPP); b) impronunciá-lo (art. 414, CPP);
c) desclassificar a infração penal (art. 419, CPP) ou d) absolver sumariamente o acusado
(art. 415, CPP).

PRONÚNCIA
Art. 413. O juiz, fundamentadamente, pronunciará o acusado, se
convencido da materialidade do fato e da existência de indícios
suficientes de autoria ou de participação.
§1º A fundamentação da pronúncia limitar-se-á à indicação da
materialidade do fato e da existência de indícios suficientes de autoria
ou de participação, devendo o juiz declarar o dispositivo legal em que
julgar incurso o acusado e especificar as circunstâncias qualificadoras
e as causas de aumento de pena.
§2º Se o crime for afiançável, o juiz arbitrará o valor da fiança para a
concessão ou manutenção da liberdade provisória.
§3º O juiz decidirá, motivadamente, no caso de manutenção,
revogação ou substituição da prisão ou medida restritiva de liberdade
anteriormente decretada e, tratando-se de acusado solto, sobre a
necessidade da decretação da prisão ou imposição de quaisquer das
medidas previstas no Título IX do Livro I deste Código.

A decisão de pronúncia será proferida quando houver indícios suficientes de


autoria e prova da materialidade delitiva, submetendo o acusado, então, ao julgamento
em Plenário.

Natureza jurídica:
Decisão interlocutória (porque não julga o mérito, condenando ou absolvendo o
réu) mista (porque põe fim a uma fase procedimental) não terminativa (porque não
encerra o processo).

Efeitos da Pronúncia:
1º Submissão do acusado ao julgamento em Plenário;
2º Limitação da imputação na segunda fase: a pronúncia possui a eficácia
preclusiva, pois ela fixa os limites da imputação que será feita pelo autor da ação penal
na segunda fase do Tribunal do Júri - princípio da correlação entre pronúncia e
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quesitação. Exemplo: Se o acusado for pronunciado por homicídio simples, não poderá,
o promotor de justiça, sustentar a incidência de alguma qualificadora.
3º Preclusão das nulidades relativas não arguidas até a pronúncia: Observe que o
artigo 593, III, “a” do CPP, traz como um dos fundamentos da apelação, recurso cabível
contra a sentença proferida na segunda fase do Júri (e não contra a pronúncia) apenas as
nulidades posteriores à pronúncia.
4º Causa interruptiva da prescrição: artigo 117, II, do CP.

Preclusão da decisão de pronúncia:


Depois de encerrado o prazo para interposição de recurso contra a decisão de
pronúncia, essa decisão não poderá mais ser alterada – preclusão pro judicato.
Somente se houver circunstância superveniente que altere a classificação do
crime, como por exemplo, a morte da vítima, tornando o crime consumado, o juiz
deverá abrir vistas dos autos ao Ministério Público para proceder ao aditamento da
denúncia (mutatio libelli).
Embora o artigo 421 não exija vista dos autos pela defesa, recomenda-se
que, antes da sua decisão, o magistrado ouça a defesa.

Fundamentação:
Na decisão de pronúncia, o juiz só poderá fazer referência aos indícios de
autoria e prova da materialidade, às qualificadoras, às causas especiais de aumento de
pena e às causas que indiquem a extensão do crime, como por exemplo, o concurso de
pessoas ou se o crime foi consumado ou tentado.
Observa-se que o artigo 413 faz referência a prova de materialidade e indícios
suficientes de autoria ou de participação. Logo, o juiz, ao pronunciar, estará convencido
da existência de indícios acerca da existência do crime. Quanto aos indícios de autoria
ou de participação, deve-se interpretar a palavra indícios como prova semiplena, ou
seja, elemento de prova mais tênue, com o valor menos persuasivo. - Juízo de
probabilidade.
Existe uma divergência quanto ao juízo de certeza ou de probabilidade acerca da
materialidade do fato. Para alguns doutrinadores, exige-se um conjunto de provas que
leve o juiz à certeza de que ocorreu um crime doloso contra a vida. Portanto, seu juiz
não tivesse certeza acerca da materialidade do fato, o juiz deverá impronunciar o réu.
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Noutro giro, há quem sustente que o juiz não pode afirmar nem a materialidade
do fato/existência do delito nem a autoria, sob pena de induzir ao prejulgamento por
parte dos jurados. Logo, juiz não deve externar suas “certezas” para não afetar a
necessária independência que os jurados devem ter no momento do julgamento.
Não poderão ser incluídas na pronúncia as causas especiais de diminuição de
pena, como por exemplo, as causas que configurem o homicídio privilegiado (art. 121,
§1º/CP), pois são circunstâncias que os jurados decidirão após os debates. Além disso,
não poderão ser feitas referências às circunstâncias agravantes e atenuantes, bem como
circunstâncias judiciais, que são as circunstâncias que o juiz presidente analisará no
momento da dosimetria da pena, caso o acusado venha a ser condenado.

Excesso de linguagem/eloquência acusatória:


Como explicado acima, a decisão de pronúncia deve ser pautada em um juízo de
probabilidade, impedindo o juiz de demonstrar seu convencimento acerca do mérito da
causa.
Em sendo praticado excesso de linguagem ou, segundo a doutrina, eloquência
acusatória, a decisão de pronúncia será nula.

In dubio pro reo X in dubio pro societati:


A doutrina majoritária e o STJ (AgRg no REsp 1167720/DF) entendem que na
fase de pronúncia aplica-se o princípio do in dubio pro societate, uma vez que os
julgadores do mérito são os jurados, logo se o juiz togado tiver qualquer tipo de dúvida,
deverá dar continuidade ao processo, submetendo o acusado ao julgamento em plenário.
No entanto, existe uma corrente ainda minoritária que sustenta que o princípio
aplicável no ordenamento jurídico brasileiro será sempre o do in dubio pro reo, em
razão da presunção de inocência. Dentre os defensores dessa corrente estão Renato
Brasileiro, Paulo Rangel, Aury Lopes Jr e foi o entendimento do STF no julgado ARE
1067392, em 2019, pela 2ª turma.1

1
No mesmo sentido: decidiu a Segunda Turma do STF, no agravo Ag 1.304.605/PR. No voto do relator,
Ministro Ricardo Lewandowski, este reputou ser inconstitucional o aforismo jurídico in dubio pro
societate (STF, ARE 1304605 ED-AgR., Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em
12/05/2021, PROCESSO ELETRÔNICO. DJe-092. DIVULG. 13-05-2021. PUBLIC. 14-05-2021).
Na decisão do HC 180144, entendeu a Segunda Turma que: “A regra “in dubio pro societate” – repelida
pelo modelo constitucional que consagra o processo penal de perfil democrático – revela-se
incompatível com a presunção de inocência, que, ao longo de seu virtuoso itinerário histórico, tem
prevalecido no contexto das sociedades civilizadas como valor fundamental e exigência básica de
respeito à dignidade da pessoa humana” (STF, HC 180144, Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma,
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A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) restabeleceu
decisão em que o juízo não verificou indícios de autoria de crime que
justificasse o julgamento de dois homens perante o Tribunal do Júri (a
chamada sentença de impronúncia). Por maioria, o colegiado seguiu o voto
do ministro Gilmar Mendes (relator), segundo o qual, havendo dúvida sobre a
preponderância de provas, deve ser aplicado o princípio que favorece o réu
em caso de dúvida (in dubio pro reo), previsto no artigo 5º, inciso LVII, da
Constituição Federal.
Na hipótese dos autos, o juízo de primeiro grau pronunciou um corréu
(decidiu que ele deve ser julgado pelo júri) e impronunciou os outros dois
denunciados em caso que envolveu um homicídio no Ceará. Diante do
depoimento de seis testemunhas presenciais, o juiz não verificou qualquer
indício de autoria atribuído aos dois acusados. O Ministério Público estadual
então recorreu ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, que proveu o
recurso sob o entendimento de que, nessa fase processual, o benefício da
dúvida deve favorecer a sociedade (in dubio pro societate) e determinou que
ambos fossem submetidos a julgamento pelo Tribunal do Júri.
No Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1067392 interposto ao
Supremo, a defesa sustentou que, se o Tribunal estadual reconheceu a
existência de dúvida sobre a autoria do crime, os recorrentes deveriam ter
sido impronunciados em respeito ao princípio da presunção de inocência.
Alegou que o TJ-CE valorou depoimentos de testemunhas não presenciais em
detrimento das testemunhas oculares.
Valoração de provas:
Em seu voto, o ministro Gilmar Mendes explicou que, embora não
existam critérios de valoração de provas rigidamente definidos, o juízo sobre
os fatos deve ser orientado pela lógica e pela racionalidade e pode ser
controlado em âmbito recursal. Segundo o relator, o TJ-CE, em lugar de
considerar a motivação do juízo de primeiro grau, formada a partir de relatos
de testemunhas presenciais ouvidas em juízo que afastaram a participação
dos acusados na morte, optou por dar maior valor a depoimento de “ouvi
dizer” e a declarações prestadas nas investigações e não reiteradas em juízo,
não submetidas, portanto, ao contraditório. “É inegável que uma declaração
de alguém que não presenciou os fatos, mas somente ouviu o relato de outra

julgado em 10/10/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-255 DIVULG 21-10-2020 PUBLIC 22-10-2020).


No julgamento do HC 227.328/ PR, pelo Min. Gilmar Mendes, o qual aduziu que: "Com todas as vênias,
no processo penal, a dúvida sempre se resolve em favor do réu, de modo que é imprestável a resolução
em favor da sociedade. O suposto “princípio in dubio pro societate”, invocado pelo Ministério Público
local e pelo Tribunal de Justiça não encontra qualquer amparo constitucional ou legal e acarreta o
completo desvirtuamento das premissas racionais de valoração da prova. Além de desenfocar o debate e
não apresentar base normativa, o in dubio pro societate desvirtua por completo o sistema bifásico do
procedimento do júri brasileiro com o total esvaziamento da função da decisão de pronúncia." (STF, HC
227.328/ PR, decisão monocrática Min. Gilmar Mendes, julgamento 10/05/2023, publicado em
15/05/2023).
No âmbito do STJ, o “in dubio pro societate” também tem sido questionado, conforme demonstrado nos
seguinte julgados: AgRg no HC 729.002/RS “[...] 2. Não se desconhece também o entendimento
consolidado de que na fase processual do judicium accusationis, eventual dúvida acerca da robustez dos
elementos de prova, resolve-se em favor da sociedade, consoante o princípio do in dubio pro societate.
Ocorre, porém, que esse entendimento vem sendo criticados por alguns doutrinadores que ensinam
que, havendo dúvida quanto à materialidade delitiva, ou em relação à existência de indícios suficientes
de autoria ou de participação, deve prevalecer a presunção constitucional de inocência. [...]” (STJ, AgRg
no HC n. 729.002/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, QUINTA TURMA, julgado em 21/06/2022, DJe
29/06/2022). No mesmo sentido: STJ, AgRg no HC n. 783.582/RS, relator Ministro Ribeiro Dantas,
Quinta Turma, julgado em 13/2/2023, DJe de 16/2/2023”; “STJ, AgRg no HC n. 704.868/AL, relatora
Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em 8/11/2022, DJe de 18/11/2022.
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pessoa, tem menor força probatória que outras testemunhas presenciais que
foram ouvidas em juízo”, afirmou.
Para o ministro, o tribunal local aplicou ao caso “lógica confusa e
equivocada ocasionada no suposto princípio in dubio pro societate, que, além
de não encontrar qualquer amparo constitucional ou legal, desvirtua as
premissas racionais de valoração da prova”. A submissão de um acusado ao
julgamento pelo Tribunal do Júri, conforme Mendes, pressupõe a existência
de provas consistentes da tese acusatória. Não se convencendo da
materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria ou de
participação, o juiz, de forma fundamentada, impronunciará o acusado.
Essa medida, segundo o relator, visa impedir o envio de casos ao júri
“sem um lastro probatório mínimo da acusação, de modo a se limitar o poder
punitivo estatal em respeito aos direitos fundamentais”. Ainda que haja
dúvida diante de elementos incriminatórios e absolutórios, para o ministro,
deve ser aplicado o princípio in dubio pro reo. Por fim, Gilmar Mendes
lembrou que a decisão de impronúncia não impede o oferecimento de nova
denúncia, desde que surjam novas provas, conforme prevê o artigo 414,
parágrafo único, do Código de Processo Penal.
Em seu voto, Mendes negou seguimento ao recurso da defesa pela
impossibilidade de revolvimento de provas em sede de recurso
extraordinário, mas concedeu habeas corpus de ofício para, afastando o
acórdão do TJ-CE, restabelecer a sentença de impronúncia. Os ministros
Celso de Mello e Ricardo Lewandowski acompanharam o relator.
Divergência
O ministro Edson Fachin também negou seguimento ao recurso, mas
divergiu quanto à concessão do habeas de ofício. Para Fachin, o juízo de
segundo grau, apesar do estado de dúvida, considerou haver indícios mínimos
de materialidade e autoria. “Trata-se de reconhecimento de que é o Júri o
juízo competente para dirimir essas dúvidas”, disse. A ministra Carmen Lúcia
também votou nesse sentido. Ambos ficaram vencidos sobre a concessão da
ordem.
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=406894

Recurso:
A decisão de pronúncia está sujeita ao recurso em sentido estrito, nos termos do
artigo 581, inciso IV/CPP.

Crimes conexos:
Ao pronunciar o acusado, o juiz sumariante deve se ater a imputação referente
ao crime doloso contra a vida, abstendo-se de fazer qualquer análise em relação ao
crime conexo.
Assim, não é permitido que o juiz pronuncie o acusado pelo crime doloso contra
a vida e o absolva ou o impronuncie pelo crime conexo. Ao pronunciar, o crime conexo
será automaticamente remetido à análise do Júri.

Prisão preventiva:
O artigo 413, §3º, do CPP determina que o juiz sumariante, ao pronunciar,
decida, motivadamente, acerca da necessidade da prisão preventiva do acusado.
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Essa prisão somente poderá ser decretada se realmente estiverem presentes os


fundamentos e requisitos da prisão preventiva, não sendo, automática, como simples
efeito da pronúncia.

Intimação:
Art. 420. A intimação da decisão de pronúncia será feita:
I – pessoalmente ao acusado, ao defensor nomeado e ao Ministério
Público;
II – ao defensor constituído, ao querelante e ao assistente do
Ministério Público, na forma do disposto no §1º do art. 370 deste
Código.
Parágrafo único. Será intimado por edital o acusado solto que não for
encontrado.

Ao acusado, a intimação da decisão de pronúncia deverá ser feita pessoalmente.


Se o acusado solto não tivesse sido encontrado para a intimação pessoal e tendo
esgotado os meios de sua localização, será admitida a intimação por Edital. Assim, caso
ele não compareça ao julgamento, será decretada sua revelia e o processo seguirá
normalmente.
Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do
acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver
sido regularmente intimado.

Já o defensor constituído, o querelante e o assistente de acusação serão


intimados por meio da Imprensa.

IMPRONÚNCIA:
Art. 414. Não se convencendo da materialidade do fato ou da
existência de indícios suficientes de autoria ou de participação, o juiz,
fundamentadamente, impronunciará o acusado.
Parágrafo único. Enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade,
poderá ser formulada nova denúncia ou queixa se houver prova nova.

Caso o juiz entenda que não existem indícios suficientes de autoria ou prova da
materialidade delitiva, ele deverá impronunciar o acusado.

Natureza jurídica:
Decisão interlocutória (Não aprecia o mérito para dizer se o acusado é culpado
ou inocente) mista (põe fim a uma fase procedimental) terminativa (acarreta extinção
do processo antes do fim do procedimento).
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Recurso:
De acordo com o artigo 416/CPP, contra a decisão de impronúncia caberá o
recurso de apelação.

Crimes conexos:
Impronunciando acusado, o magistrado deve abster-se de analisar o crime
conexo. Logo, depois de transitada em julgado a decisão de pronúncia, os autos devem
ser encaminhados ao juiz competente para julgar o crime conexo.

Despronúncia:
Contra a decisão de pronúncia, cabe a interposição do recurso em sentido estrito
(art. 581, IV, CPP). Esse recurso tem efeito regressivo, ou seja, o juiz a quo poderá
exercer o juízo de retratação e impronunciar o réu. Caso o juiz a quo não se retrate, os
autos serão remetidos ao Tribunal de Justiça, que poderá reformar a decisão de
pronúncia, reconhecendo a impronúncia.
Em ambos os casos, haverá a chamada despronúncia. Logo, a despronúncia
consiste na impronúncia obtida em grau de recurso quando anteriormente pronunciado.

Coisa julgada:
Considerando que na impronúncia o juiz não analisa o mérito, não se pode
concluir que tal decisão faz coisa julgada formal, assim, surgindo novas provas, nova
denúncia ou queixa poderão ser oferecidas, enquanto não ocorrer a extinção da
punibilidade.

ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA:
Art. 415. O juiz, fundamentadamente, absolverá desde logo o
acusado, quando:
I – provada a inexistência do fato;
II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato;
III – o fato não constituir infração penal;
IV – demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV do caput deste
artigo ao caso de inimputabilidade prevista no caput do art. 26 do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal,
salvo quando esta for a única tese defensiva.

A absolvição sumária é uma decisão (sentido amplo) que julga o mérito de


forma antecipada, o que se exige um juízo de certeza.
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Natureza jurídica e coisa julgada


Sentença definitiva (análise de mérito), a qual faz coisa julgada formal e
material. Logo, se surgirem novas provas depois do trânsito em julgado desta decisão, o
acusado não poderá ser novamente processado pelo mesmo fato.

Inimputabilidade:
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito
do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o
agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente
capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.

O juiz só poderá absolver sumariamente o acusado por considerá-lo inimputável


(art. 26, caput, CP) se esta for a única tese sustentada pela defesa. Neste caso, trata-se de
uma sentença absolutória imprópria, uma vez que será imposta ao acusado uma medida
de segurança.
Havendo outra tese defensiva, como por exemplo, legítima defesa, o magistrado
deverá pronunciar o acusado, pois caberá aos jurados decidir sobre as teses defensivas.
Assim, caso conselho de sentença reconheça a legítima defesa, o acusado não será
submetido a uma medida de segurança.
Atenção: Caso seja reconhecida a semi-imputabilidade do acusado
(parágrafo único do artigo 26/CP), o juiz deverá pronunciar o acusado,
havendo prova da materialidade e indícios de autoria, uma vez que tal
circunstância consiste apenas de uma causa de diminuição de pena.
Recurso:
De acordo com o artigo 416/CPP, contra a decisão de absolvição sumária caberá
o recurso de apelação.

Crime conexo:
Havendo crime conexo com crime doloso contra vida em que o juiz decidiu pela
absolvição sumária do acusado, aquele deverá remeter cópia dos Autos ao juízo
competente para julgamento do crime remanescente.
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Direito Processual Penal II

DESCLASSIFICAÇÃO:
Desclassificar é dar ao fato uma definição jurídica diversa, seja ela mais grave
ou mais leve.

Tipos:
a) Própria: ocorrerá quando o julgador concluir que o fato em análise não foi
um crime doloso contra vida, ou seja, o delito será desclassificado para um crime que
não seja da competência do próprio Tribunal do Júri.
Momento:
- 1ª fase
- Artigo 419/CPP o juiz sumariante dá o fato nova classificação jurídica, e

Art. 419. Quando o juiz se convencer, em discordância com a


acusação, da existência de crime diverso dos referidos no §1º do art.
74 deste Código e não for competente para o julgamento, remeterá os
autos ao juiz que o seja.
Parágrafo único. Remetidos os autos do processo a outro juiz, à
disposição deste ficará o acusado preso.

Exemplos: desclassificação do crime homicídio para o crime de


latrocínio, de crime de lesão corporal seguida de morte, de homicídio culposo.
Ressalta-se que apesar de o juiz reconhecer que foi praticado um
crime diverso do crime doloso contra a vida, ele não deve apontar o tipo penal que ele
entende estar enquadrada a conduta narrada na denúncia. Ele deverá apenas declarar que
os fatos não constituem crime doloso contra vida e por isso o Júri é incompetente para
julgá-los.
Contra decisão de desclassificação própria na primeira fase do
Júri, caberá o recurso em sentido estrito (artigo 581, II/CPP).
Conflito de competência: caso o juiz que receber os autos do
crime desclassificado entender que o fato se trata, na verdade, de um crime doloso
contra vida, poderá suscitar conflito negativo de competência, a ser julgado pela
Turma/Câmara Especial Criminal do Tribunal de Justiça (entendimento majoritário).
Uma outra corrente (minoritária) entende que este novo juízo não poderá suscitar o
conflito negativo de competência para restabelecer a competência do Tribunal do Júri,
uma vez que, ou as partes se conformaram com a desclassificação proferida pelo juiz
sumariante e não recorreram da decisão, ou o Tribunal, por ocasião do julgamento do
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Direito Processual Penal II

RESE interposto contra a decisão de desclassificação, concordou com a


desclassificação. Além disso, essa corrente defende que caso fosse suscitado conflito de
competência, poderia ocorrer a reformatio in pejus indireta.

- 2ª fase

- Artigo 492, §§ 1º e 2º/CPP Correrá quando os jurados entenderem pela prática de um crime

Art. 492, §1º Se houver desclassificação da infração para outra, de


competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá
proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante
da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de
menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no
9.099, de 26 de setembro de 1995.
§ 2º Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso
contra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri,
aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1o deste artigo.

Observe que aqui, o juiz-presidente não remete os autos para o


juiz singular, devendo ele mesmo proferir a sentença.

b) Imprópria: ocorrerá quando o julgador entender que o fato em análise trata-se


de um outro crime também doloso contra a vida.
Momento:
-1ª Fase: Art. 418/CPP O juiz sumariante dá ao fato nova
classificação jurídica, mas o crime residual continua sendo de competência do Júri.
Assim, ele desclassifica para um outro crime doloso contra a vida (diverso do capitulado
na denúncia) e pronuncia o acusado, uma vez que o novo crime continua na esfera de
competência do Tribunal do Júri.
Art. 418. O juiz poderá dar ao fato definição jurídica diversa da
constante da acusação, embora o acusado fique sujeito a pena mais
grave.

Exemplo: desclassificação do crime de homicídio simples para o


crime de infanticídio.
Contra decisão de desclassificação imprópria na primeira fase
do Júri, caberá o recurso em sentido estrito (artigo 581, IV/CPP).
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal II

- 2ª fase
Correrá quando os jurados entenderem pela prática de um outro crime do

Desclassificação X desqualificação:
A desqualificação ocorre quando o juiz sumariante, ao pronunciar, afasta uma
(ou todas) qualificadora(s). Assim, caso juiz da primeira fase entender que determinada
qualificadora constante na denúncia queixa é manifestamente improcedente descabida
deverá desqualificar o crime. No entanto, se o juiz sumariante entender que existem
indícios da incidência da qualificadora, ele pronunciará o acusado pelo crime
qualificado e caberá ao conselho de sentença analisar a incidência ou não da
qualificadora.

Organograma – 1ª fase:

2ª) Judicium causae/julgamento em plenário:


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Direito Processual Penal II

Depois de transitada em julgado a decisão de pronúncia, a segunda fase do Júri é


inaugurada com a abertura de vistas dos autos à acusação e à defesa para indicarem
quais as provas que pretendem produzir em Plenário, no prazo de cinco dias, conforme
o disposto no artigo 422/CPP.
Art. 422. Ao receber os autos, o presidente do Tribunal do Júri
determinará a intimação do órgão do Ministério Público ou do
querelante, no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5
(cinco) dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em
plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que poderão
juntar documentos e requerer diligência.
Prova testemunhal:
Para a segunda fase do Júri o número máximo de testemunha é reduzido para 5
(primeira fase: 8 testemunhas). Como o próprio nome diz, as testemunhas “de plenário”
serão ouvidas diante do Conselho de Sentença, logo não será admitida a indicação de
testemunhas para serem ouvidas por carta precatória.

● Cláusula de imprescindibilidade: ao apresentar o rol de testemunhas, as partes


devem declarar expressamente que o fazem em caráter de imprescindibilidade,
uma vez que o artigo 461 do CPP estabelece que a sessão de julgamento só será
adiada se a parte tiver requerido a intimação da testemunha por mandado,
declarando não prescindir do depoimento e indicando sua localização.
Art. 461. O julgamento não será adiado se a testemunha deixar de
comparecer, salvo se uma das partes tiver requerido a sua intimação
por mandado, na oportunidade de que trata o art. 422 deste Código,
declarando não prescindir do depoimento e indicando a sua
localização.
§1º Se, intimada, a testemunha não comparecer, o juiz presidente
suspenderá os trabalhos e mandará conduzi-la ou adiará o julgamento
para o primeiro dia desimpedido, ordenando a sua condução.
§2º O julgamento será realizado mesmo na hipótese de a testemunha
não ser encontrada no local indicado, se assim for certificado por
oficial de justiça.
Se a testemunha for arrolada sem a cláusula de imprescindibilidade e esta não
comparecer à sessão de julgamento, ainda que tenha sido regularmente intimada, o
julgamento será realizado.

Demais provas:
As partes poderão também juntar documentos e requerer diligências, (ex.:
oficiar o Instituto de Criminalística para juntada de laudo pericial).
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Em seguida, o juiz deverá ordenar a realização de diligências, sanear o feito e


elaborar um relatório sucinto do processo para depois determinar a inclusão em pauta da
reunião do Tribunal do Júri para julgamento.
Art. 423. Deliberando sobre os requerimentos de provas a serem
produzidas ou exibidas no plenário do júri, e adotadas as providências
devidas, o juiz presidente:
I – ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer nulidade ou
esclarecer fato que interesse ao julgamento da causa;
II – fará relatório sucinto do processo, determinando sua inclusão em
pauta da reunião do Tribunal do Júri.

Desaforamento:
- Artigos 427 e 428 do CPP.
É o deslocamento de competência territorial de uma Comarca para outra para a
realização da sessão plenária do Tribunal do Júri.
Ressalta-se que o desaforamento só é possível para a segunda fase do Júri
- julgamento em Plenário.
Esse deslocamento de competência territorial não ofende o princípio do juiz
natural. Trata-se de uma medida excepcional, determinada pelo interesse público, sem
prejuízo para o julgamento justo, não ensejando a criação de um tribunal de exceção.

- Desaforamento X deslocamento de competência: o deslocamento de


competência previsto no artigo 109, inciso V-A, e §5º da CF consiste em um incidente
processual de deslocamento da competência de Justiça, ou seja, da Justiça Estadual para
a Justiça Federal.

- Competência para julgamento do pedido de desaforamento: será o Tribunal de


Justiça ou Tribunal Regional Federal, conforme o caso.

- Hipóteses:
a) Interesse de ordem pública: diz respeito à paz e tranquilidade dos
julgamentos. Segundo Aury Lopes Jr, nessa hipótese poderão ser considerados o clamor
ou comoção social, a falta de segurança para o acusado e também para os jurados ou, até
mesmo, a inexistência de um local adequado para realização do Júri.

b) Dúvida sobre a imparcialidade do Júri: consiste em uma hipótese


dificílima de ser comprovada. em geral, decorre da “animosidade, antipatia e ódio” ao
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acusado, podendo ocorrer em razão do excesso de visibilidade e exploração do caso nos


meios de comunicação.

c) Segurança do acusado: decorre da análise quanto à repercussão


negativa do crime que gera revolta, indignação e comoção popular, causando receio de
que a integridade física do acusado esteja em risco.

- Legitimidade: nas hipóteses acima são legitimados para requerer o


desaforamento o Ministério Público, o assistente, o querelante, o acusado
e o próprio juiz- presidente do Júri, por meio de uma representação.
Caso a medida não tenha sido solicitada pelo juiz, o relator do pedido de
desaforamento deve providenciar sua efetivação.
Quando o pedido não for realizado pela defesa, deverá ela
obrigatoriamente ser ouvida, sob pena de nulidade da própria decisão que
determina o desaforamento. (Súmula 712/STF: É nula a decisão que
determina o desaforamento de processo da competência do júri sem
audiência da defesa).
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver
dúvida sobre a imparcialidade do júri ou a segurança pessoal do
acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do
assistente, do querelante ou do acusado ou mediante representação do
juiz competente, poderá determinar o desaforamento do julgamento
para outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles
motivos, preferindo-se as mais próximas.
§1º O pedido de desaforamento será distribuído imediatamente e terá
preferência de julgamento na Câmara ou Turma competente.
§2º Sendo relevantes os motivos alegados, o relator poderá
determinar, fundamentadamente, a suspensão do julgamento pelo
júri.
§3º Será ouvido o juiz presidente, quando a medida não tiver sido por
ele solicitada.
§4º Na pendência de recurso contra a decisão de pronúncia ou
quando efetivado o julgamento, não se admitirá o pedido de
desaforamento, salvo, nesta última hipótese, quanto a fato
ocorrido durante ou após a realização de julgamento anulado.

d) Excesso de serviço: estava vinculada à eficácia do direito de ser


julgado em um prazo razoável, previsto no artigo 5º, LXXVIII/CF.
Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado, em razão
do comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz presidente e a
parte contrária, se o julgamento não puder ser realizado no prazo de 6
(seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão de
pronúncia.
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§1º Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se computará
o tempo de adiamentos, diligências ou incidentes de interesse da
defesa.

- Legitimados: na hipótese acima são legitimados para requerer o


desaforamento o Ministério Público, o assistente, o querelante e o
acusado. Diferente das hipóteses previstas nas letras “a”, “b” e “c”, aqui
o magistrado não poderá requisitar o desaforamento, mas deverá ser
ouvido pelo Tribunal.

- Aceleração de julgamento: Não se trata de um pedido de desaforamento.


Art. 428, §2º Não havendo excesso de serviço ou existência de
processos aguardando julgamento em quantidade que ultrapasse a
possibilidade de apreciação pelo Tribunal do Júri, nas reuniões
periódicas previstas para o exercício, o acusado poderá requerer ao
Tribunal que determine a imediata realização do julgamento.

- Desaforamento para outro Estado: Não é possível, salvo na hipótese de um


crime doloso contra vida ser de competência da Justiça Federal, desde que dentro dos
limites territoriais de competência do respectivo Tribunal Regional Federal.

Recurso:
Não há previsão de recurso contra decisão que admite ou não desaforamento,
sendo possível, porém, o manejo de habeas corpus.

Jurados:
Art. 436. O serviço do júri é obrigatório. O alistamento compreenderá
os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade.
§ 1o Nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do júri ou
deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo,
profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução.
§ 2o A recusa injustificada ao serviço do júri acarretará multa no valor
de 1 (um) a 10 (dez) salários-mínimos, a critério do juiz, de acordo
com a condição econômica do jurado.

Trata-se de um serviço obrigatório, o qual só poderá ser mitigado pelas causas


de isenção estabelecidas no artigo 437/CPP:
Art. 437. Estão isentos do serviço do júri:
I – o Presidente da República e os Ministros de Estado;
II – os Governadores e seus respectivos Secretários;
III – os membros do Congresso Nacional, das Assembleias
Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais;
IV – os Prefeitos Municipais;
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V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria
Pública;
VI – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da
Defensoria Pública;
VII – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública;
VIII – os militares em serviço ativo;
IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeiram sua
dispensa;
X – aqueles que o requererem, demonstrando justo impedimento.

Ressalta-se que o inciso X trata de uma cláusula aberta, que deixa a critério do
juiz decidir pela dispensa ou não (exemplo: mulher no período de amamentação).

- Escusa de consciência: A recusa baseada na crença religiosa, filosófica ou


política não gera a perda ou suspensão de direitos políticos, contudo, deverá cumprir um
serviço alternativo, e o não cumprimento desse serviço autoriza a aplicação do disposto
no artigo 15 da Constituição Federal.
Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa,
filosófica ou política importará no dever de prestar serviço alternativo,
sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto não prestar o
serviço imposto.
§1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de
caráter administrativo, assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo,
no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no Ministério Público ou
em entidade conveniada para esses fins.
§2º O juiz fixará o serviço alternativo atendendo aos princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade.

- Impedimento: Considerando que os jurados são os julgadores da causa, eles


devem também ser imparciais. O artigo 448 elenca as pessoas que estão impedidas de
servir como jurados no mesmo conselho.
Art. 448. São impedidos de servir no mesmo Conselho:
I – marido e mulher;
II – ascendente e descendente;
III – sogro e genro ou nora;
IV – irmãos e cunhados, durante o cunhadio;
V – tio e sobrinho;
VI – padrasto, madrasta ou enteado.
§ 1º O mesmo impedimento ocorrerá em relação às pessoas que
mantenham união estável reconhecida como entidade familiar.

Art. 450. Dos impedidos entre si por parentesco ou relação de


convivência, servirá o que houver sido sorteado em primeiro lugar.

Além das hipóteses citadas acima, para os jurados também são aplicadas as
regras de impedimento e suspeição previstas para o magistrado, respectivamente, nos
artigos 252 e 254 do CPP
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Art. 448, §2 Aplicar-se-á aos jurados o disposto sobre os
impedimentos, a suspeição e as incompatibilidades dos juízes togados.

Além disso, o artigo 449 elenco outras hipóteses em que o cidadão não poderá
servir como jurado:
Art. 449. Não poderá servir o jurado que:
I – tiver funcionado em julgamento anterior do mesmo processo,
independentemente da causa determinante do julgamento posterior;
II – no caso do concurso de pessoas, houver integrado o Conselho de
Sentença que julgou o outro acusado;
III – tiver manifestado prévia disposição para condenar ou absolver o
acusado.

- Súmula 206/STF: É nulo o julgamento ulterior pelo júri com a participação de


jurado que funcionou em julgamento anterior do mesmo processo.

Instauração da sessão de julgamento:


Art. 457. O julgamento não será adiado pelo não comparecimento do
acusado solto, do assistente ou do advogado do querelante, que tiver
sido regularmente intimado.
§ 1º Os pedidos de adiamento e as justificações de não
comparecimento deverão ser, salvo comprovado motivo de força
maior, previamente submetidos à apreciação do juiz presidente do
Tribunal do Júri.
§ 2° Se o acusado preso não for conduzido, o julgamento será adiado
para o primeiro dia desimpedido da mesma reunião, salvo se houver
pedido de dispensa de comparecimento subscrito por ele e seu
defensor.

Com a reforma processual de 2008, o julgamento poderá ser realizado sem a


presença do acusado. Segundo Renato Brasileiro, essa possibilidade vem ao encontro do
princípio do nemo tenetur se detegere, veja:
(...) se o acusado não é obrigado a produzir prova contra si mesmo,
tem que ver o exercício desse direito se possa extrair qualquer
consequência negativa, não é razoável exigir a sua presença na sessão
de julgamento tão somente para se sentar no banco dos réus e dizer,
diante dos jurados, que pretende permanecer calado. como pessoas
leigas que são, os jurados poderiam ser influenciados negativamente
pelo exercício do direito ao silêncio. logo, se o acusado pretende fazer
o uso desse direito, talvez seja mais interessante aos seus interesses
simplesmente deixar de comparecer à sessão de julgamento, o que
agora ele é facultado pelo artigo 457, caput, do CPP.

Para que possa ser instalada a sessão de julgamento, é necessária a presença de


pelo menos 15 jurados, ressaltando que os jurados excluídos por impedimento,
suspeição ou incompatibilidades serão considerados para a Constituição do número
legal exigível para realização da sessão.
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Art. 463. Comparecendo, pelo menos, 15 (quinze) jurados, o juiz
presidente declarará instalados os trabalhos, anunciando o processo
que será submetido a julgamento.
§1º O oficial de justiça fará o pregão, certificando a diligência nos
autos.
§2º Os jurados excluídos por impedimento ou suspeição serão
computados para a constituição do número legal.

Caso não haja presença de pelo menos 15 jurados, o juiz presidente procederá ao
sorteio dos suplentes e designará a nova data para a sessão do Júri.
Art. 464. Não havendo o número referido no art. 463 deste Código,
proceder-se-á ao sorteio de tantos suplentes quantos necessários, e
designar-se-á nova data para a sessão do júri.

Formação do Conselho de sentença:


Em uma urna constaram no mínimo 15 e no máximo 25 nomes dos jurados
presentes, dos quais serão sorteados 7 jurados que formarão o Conselho de Sentença.

- Recusa dos jurados:


- Motivada: caso jurado não revele espontaneamente a causa de
suspensão, impedimento ou incompatibilidade, as partes poderão argui-la oralmente,
após a realização do sorteio, devendo o juiz decidir de plano nos termos do artigo 106
do CPP. Por se tratar de uma recusa em que se questiona a imparcialidade do jurado, as
partes poderão utilizá-la quantas vezes forem necessárias, desde que comprove o
alegado.
Art. 468. À medida que as cédulas forem sendo retiradas da urna, o
juiz presidente as lerá, e a defesa e, depois dela, o Ministério Público
poderão recusar os jurados sorteados, até 3 (três) cada parte, sem
motivar a recusa.
Parágrafo único. O jurado recusado imotivadamente por qualquer das
partes será excluído daquela sessão de instrução e julgamento,
prosseguindo-se o sorteio para a composição do Conselho de Sentença
com os jurados remanescentes.

- Imotivada/peremptória: tanto a acusação quanto a defesa poderão recusar até


três jurados sorteados, sem a necessidade de justificação. Primeiramente, caberá à
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defesa e, depois dela, ao Ministério Público dizer se aceita ou não cada um dos jurados
sorteados.

- 2 ou mais réus: as recusas poderão ser feitas por um único defensor.


Art. 469. Se forem 2 (dois) ou mais os acusados, as recusas poderão
ser feitas por um só defensor.
§1º A separação dos julgamentos somente ocorrerá se, em razão das
recusas, não for obtido o número mínimo de 7 (sete) jurados para
compor o Conselho de Sentença.
§2º Determinada a separação dos julgamentos, será julgado em
primeiro lugar o acusado a quem foi atribuída a autoria do fato ou, em
caso de co-autoria, aplicar-se-á o critério de preferência disposto
no art. 429 deste Código.

No entanto, há um precedente no STJ no sentido de que é direito da defesa


recusar imotivadamente até três jurados deve ser garantido para cada um dos acusados,
ainda que as recusas tenham sido realizadas por um só defensor. (STJ, 6ª Turma, RESp
1.540.151/MT, DJe 29/09/2005).
No entanto, há precedentes no STJ no sentido de que é direito da defesa recusar
imotivadamente até três jurados deve ser garantido para cada um dos acusados, ainda
que as recusas tenham sido realizadas por um só defensor. (STJ, 6ª Turma, RESp
1.540.151/MT, DJe 29/09/2015). No julgamento do REsp n. 1.843.481/PE, aduziu a
Sexta Turma que: “o direito às recusas imotivadas previsto no art. 468 do CPP é
garantia do próprio réu, de modo que cada acusado poderá recusar, sem necessidade
de motivação, três pessoas sorteadas para compor o Conselho de Sentença.” (STJ,
REsp n. 1.843.481/PE, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em
7/12/2021, DJe de 14/12/2021) 2

- Estouro de urna: ocorre quando o conselho de sentença não é formado por não
se alcançar um número de 7 jurados em decorrência das recusas (motivadas e/ou
peremptórias) ou em virtude da ausência de jurados convocados. a consequência do
estouro de urna será a prevista no artigo 471 do CPP
Art. 471. Se, em consequência do impedimento, suspeição,
incompatibilidade, dispensa ou recusa, não houver número para a
formação do Conselho, o julgamento será adiado para o primeiro dia
desimpedido, após sorteados os suplentes, com observância do
disposto no art. 464 deste Código.

Início do Julgamento:
2
No mesmo sentido: STJ, HC n. 777.205/PB, relator Ministro Antônio Saldanha Palheiro, Sexta Turma,
julgado em 2/5/2023, DJe de 5/5/2023.
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- Tomada de compromisso dos jurados:


Art. 472. Formado o Conselho de Sentença, o presidente, levantando-
se, e, com ele, todos os presentes, fará aos jurados a seguinte
exortação:
Em nome da lei, concito-vos a examinar esta causa com
imparcialidade e a proferir a vossa decisão de acordo com a vossa
consciência e os ditames da justiça.
Os jurados, nominalmente chamados pelo presidente, responderão:
Assim o prometo.
Parágrafo único. O jurado, em seguida, receberá cópias da pronúncia
ou, se for o caso, das decisões posteriores que julgaram admissível a
acusação e do relatório do processo.

- Ordem de oitivas:
1º - Ofendido;
2º Testemunhas de acusação;
3º Testemunhas de defesa - o defensor pergunta primeiro;
4º Esclarecimentos de peritos (se houver);
5º Reconhecimento de coisas ou pessoas (se necessário);
6º Acareações (se necessário);
7º Interrogatório do acusado
As perguntas poderão ser feitas diretamente pelas partes, exceto pelos jurados,
que precisam passar pelo juiz-presidente.
Art. 473. Prestado o compromisso pelos jurados, será iniciada a
instrução plenária quando o juiz presidente, o Ministério Público, o
assistente, o querelante e o defensor do acusado tomarão, sucessiva e
diretamente, as declarações do ofendido, se possível, e inquirirão as
testemunhas arroladas pela acusação.
§1º Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa, o
defensor do acusado formulará as perguntas antes do Ministério
Público e do assistente, mantidos no mais a ordem e os critérios
estabelecidos neste artigo.
§2º Os jurados poderão formular perguntas ao ofendido e às
testemunhas, por intermédio do juiz presidente.
§3º As partes e os jurados poderão requerer acareações,
reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, bem
como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas
colhidas por carta precatória e às provas cautelares, antecipadas ou
não repetíveis.
Art. 474. A seguir será o acusado interrogado, se estiver presente, na
forma estabelecida no Capítulo III do Título VII do Livro I deste
Código, com as alterações introduzidas nesta Seção.
§1º O Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor, nessa
ordem, poderão formular, diretamente, perguntas ao acusado.
§2º Os jurados formularão perguntas por intermédio do juiz
presidente.

- Uso de algemas: É medida excepcional, a ser adotado nas seguintes hipóteses:


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a) para impedir, prevenir ou dificultar a fuga ou reação indevida do


preso, desde que haja fundada suspeita ou justificado receio de que tanto venha ocorrer;
b) evitar agressão do preso contra os próprios policiais, contra terceiros
ou contra si mesmo.
Art. 474, §3º Não se permitirá o uso de algemas no acusado durante o
período em que permanecer no plenário do júri, salvo se
absolutamente necessário à ordem dos trabalhos, à segurança das
testemunhas ou à garantia da integridade física dos presentes.

Súmula Vinculante nº 11: Só é lícito o uso de algemas em casos de


resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade
física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada
a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da
prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.

Ressalta-se ainda que no momento dos debates, as partes não poderão,


sob pena de nulidade, fazer referências ao uso de algemas como argumento de
autoridade que beneficie ou prejudique o réu.
Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de
nulidade, fazer referências:
I – à decisão de pronúncia, às decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação ou à determinação do uso de algemas como
argumento de autoridade que beneficiem ou prejudiquem o acusado;
II – ao silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de
requerimento, em seu prejuízo.

- Debates:
Art. 476. Encerrada a instrução, será concedida a palavra ao
Ministério Público, que fará a acusação, nos limites da pronúncia ou
das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação,
sustentando, se for o caso, a existência de circunstância agravante.
§1º O assistente falará depois do Ministério Público.
§2º Tratando-se de ação penal de iniciativa privada, falará em
primeiro lugar o querelante e, em seguida, o Ministério Público, salvo
se este houver retomado a titularidade da ação, na forma do art. 29
deste Código.
7§3º Finda a acusação, terá a palavra a defesa.
§4º A acusação poderá replicar e a defesa treplicar, sendo admitida a
reinquirição de testemunha já ouvida em plenário.

As partes poderão apresentar aos jurados o fato delituoso pelo qual o acusado foi
pronunciado e as provas constantes do processo, procurando convencê-los de suas
razões.
O Ministério Público é livre para sustentar a procedência total ou parcial da
pretensão acusatória e, também, a improcedência do pedido de condenação do acusado.
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal II

O que não se admite é que o MP ultrapasse os limites delimitados na decisão de


pronúncia em prejuízo do acusado.
Após manifestação da defesa, o Ministério Público poderá voltar em réplica.
Trata-se de uma faculdade que a acusação pode exercer livremente. Caso a acusação
não tenha interesse em ir à réplica, deve limitar-se a dizer “não”, pois qualquer outro
pronunciamento quanto à sustentação oral da defesa significa o uso da réplica.
A defesa só terá direito a tréplica se a acusação voltar em réplica. Parte da
doutrina entende que se houver réplica, a defesa está obrigada a ir à tréplica, sob pena
de o réu ser considerado indefeso. Com a devida vênia, a outra parte da doutrina
defende um raciocínio mais lógico, no sentido de que assim como a acusação não é
obrigada a voltar em réplica, à defesa assiste a mesma faculdade.

- Inovação de teses na tréplica: 3 correntes:


a) Não é admitida a inovação em tréplica, sob pena de violação ao
contraditório, sendo este o entendimento do STJ, conforme decisão infra3:
RECURSO ESPECIAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO. SENTENÇA
ABSOLUTÓRIA. NULIDADE EM PLENÁRIO. INOVAÇÃO DE
TESE NA FASE DE TRÉPLICA. NÃO CONFIGURAÇÃO.
RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. A
inovação de conteúdo na tréplica viola o princípio do
contraditório, pois, embora seja assegurada ao defensor a palavra
por último - como expressão inexorável da ampla e plena defesa -
tal faculdade, expressa no art. 477 do CPP, não pode implicar a
possibilidade de inovação em momento que não mais permita ao
titular da ação penal refutar seus argumentos. Tal entendimento,
todavia, não se aplica à tese de clemência, uma vez que o quesito
previsto no art. 483, III, do Código de Processo Penal é obrigatório,
independentemente do sustentado em plenário, em razão da garantia
constitucional da plenitude de defesa, cuja ausência de formulação
acarreta nulidade absoluta. 2. Na hipótese, embora haja sido pugnada
a absolvição genérica sem conteúdo na tréplica, não identifico a
ocorrência de nenhum prejuízo à acusação, nem mesmo violação do
contraditório. Isso porque não se pode aceitar haver sido o Ministério
Público surpreendido pela defesa - razão de ser da norma processual
inserta no art. 482, parágrafo único, do CPP -, especialmente
porquanto, pela ata de julgamento, a defesa apenas sustentou a tese
absolutória sem conteúdo, ou seja, aquela prevista obrigatoriamente
em lei. 3. Recurso especial conhecido e não provido. (STJ, REsp n.
1.451.538/DF, relator Ministro Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma,
julgado em 8/11/2018, DJe de 23/11/2018.) (grifo nosso)

3
No mesmo sentido: STJ, AgRg no REsp n. 1.359.840/RS, relator Ministro Antonio Saldanha Palheiro,
Sexta Turma, julgado em 15/3/2022, DJe de 18/3/2022”; “STJ, REsp n. 1.390.669/DF, relator Ministro
Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, julgado em 20/6/2017, DJe de 26/6/2017; STJ, AgRg no AREsp n.
538.496/PA, relator Ministro Gurgel de Faria, Quinta Turma, julgado em 18/8/2015, DJe de 1/9/2015;
STJ, HC n. 143.553/DF, relatora Ministra Marilza Maynard (Desembargadora Convocada do TJ/SE), Sexta
Turma, julgado em 20/2/2014, DJe de 7/3/2014; STJ, AgRg no REsp n. 1.306.838/AP, relator Ministro
Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, julgado em 28/8/2012, DJe de 12/9/2012.
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal II

b) Em decorrência do princípio da plenitude de defesa aplicável ao


Tribunal do Júri, é possível que o advogado apresente nova tese por ocasião da tréplica.
Quanto ao argumento de violação ao princípio do contraditório, essa corrente sustenta
que o referido princípio garante às partes o direito de se manifestar quanto às provas ou
fatos novos e não quanto às teses jurídicas. Além disso, a lei garante a possibilidade de
utilização dos apartes durante os debates, garantindo assim, o contraditório;
c) Só será possível a inovação na tréplica, se for concedida a palavra
imediatamente depois à acusação, em consonância com o princípio do contraditório.

- Tempo destinado aos debates:


UM ACUSADO + DE UM ACUSADO

1º 1h30min para a acusação 2h30 para a acusação

2º 1h30min. para a defesa 2h30min. para a defesa

3º 1h de réplica 2h de réplica

4º 1h de tréplica 2h de tréplica

Art. 477. O tempo destinado à acusação e à defesa será de uma hora


e meia para cada, e de uma hora para a réplica e outro tanto para
a tréplica.
§1º Havendo mais de um acusador ou mais de um defensor,
combinarão entre si a distribuição do tempo, que, na falta de acordo,
será dividido pelo juiz presidente, de forma a não exceder o
determinado neste artigo.
§2º Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação e a
defesa será acrescido de 1 (uma) hora e elevado ao dobro o da
réplica e da tréplica, observado o disposto no §1º deste artigo.

- Vedação quanto à surpresa:


Art. 479. Durante o julgamento não será permitida a leitura de
documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado aos
autos com a antecedência mínima de 3 (três) dias úteis, dando-se
ciência à outra parte.
Parágrafo único. Compreende-se na proibição deste artigo a leitura de
jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos,
gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro meio
assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato
submetida à apreciação e julgamento dos jurados.

Quesitação e sala secreta:


Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal II

Ao final dos debates, o juiz deverá perguntar os jurados se eles estão aptos a
votarem. Nesse momento os jurados terão acesso aos autos e aos instrumentos do crime
e solicitarem ao juiz-presidente e esse deverá prestar os esclarecimentos necessários.
Para formulação dos quesitos o juiz vai se basear na pronúncia (que limita a
acusação nesta fase), no interrogatório do acusado e nas alegações das partes durante os
debates.
Art. 482. O Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de
fato e se o acusado deve ser absolvido.
Parágrafo único. Os quesitos serão redigidos em proposições
afirmativas, simples e distintas, de modo que cada um deles possa
ser respondido com suficiente clareza e necessária precisão. Na sua
elaboração, o presidente levará em conta os termos da pronúncia ou
das decisões posteriores que julgaram admissível a acusação, do
interrogatório e das alegações das partes.

A lei 11.689/08 trouxe para o artigo 483 do CPP uma redação simplificada:

Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando


sobre:
I – a materialidade do fato;
II – a autoria ou participação;
III – se o acusado deve ser absolvido;
IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
V – se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena
reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação.
§1º A resposta negativa, de mais de 3 (três) jurados, a qualquer dos
quesitos referidos nos incisos I e II do caput deste artigo encerra a
votação e implica a absolvição do acusado.
§2º Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os
quesitos relativos aos incisos I e II do caput deste artigo será
formulado quesito com a seguinte redação: O jurado absolve o
acusado?
§3º Decidindo os jurados pela condenação, o julgamento prossegue,
devendo ser formulados quesitos sobre:
I – causa de diminuição de pena alegada pela defesa;
II – circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena,
reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que julgaram
admissível a acusação.
§4° Sustentada a desclassificação da infração para outra de
competência do juiz singular, será formulado quesito a respeito, para
ser respondido após o 2º (segundo) ou 3º (terceiro) quesito, conforme
o caso.
§5º Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou
havendo divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da
competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito acerca
destas questões, para ser respondido após o segundo quesito.
§6º Havendo mais de um crime ou mais de um acusado, os quesitos
serão formulados em séries distintas.
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal II

Observe que os três primeiros quesitos são invariáveis e obrigatórios. Inclusive,


ressalta-se o teor da Súmula 156 do STF: É absoluta a nulidade do julgamento, pelo
júri, por falta de quesito obrigatório.
O primeiro quesito deverá versar sobre a existência do fato delituoso:
Exemplo: no dia 20 de Março de 2018, na Rua Augusta, a vítima Tício
foi atingida dolosamente por disparo de arma de fogo, sofrendo as lesões
corporais descritas no laudo de folhas…que resultaram em sua morte?
Sendo positivo esse primeiro quesito, ou seja, se tiver ao menos 4 votos “sim”, a
votação prosseguirá e será indagado aos jurados quanto à autoria ou participação.
Exemplo:
- Autoria: Mévio (réu) foi o autor dos disparos que
causaram a lesão/morte de Tício (vítima)?
- Coautoria: Ao dirigir o carro usado para o transporte de
Mévio (réu), Dória concorreu como coautor para a prática do
crime de homicídio?
- Participação: Jurema, ao instigar Mévio, concorreu para
a prática do crime?
Se for sustentada tese de ocorrência do crime na forma tentada ou havendo
divergência sobre a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri,
o juiz presidente formulará quesito acerca destas questões, para ser respondido após o
segundo quesito (§5º)
Sendo positivo esse segundo quesito obrigatório, ou seja, se tiver ao menos 4
votos “sim” quanto à autoria, a votação prosseguirá e será indagado aos jurados quanto
à absolvição:
“Os jurados absolvem o acusado?”
Nesse quesito, os jurados poderão reconhecer eventuais teses de legítima
defesa, inexigibilidade de conduta diversa, inimputabilidade e até a clemência,
sustentadas pela defesa, pois não há um quesito específico para essas defensivas.
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal II

Se uma das teses sustentada em plenário for a desclassificação do crime doloso


contra a vida para outro de competência do juiz singular, também será formulado
quesito a respeito, depois do 3º quesito (§4º)
Declarada a absolvição pelo Conselho de Sentença, o juiz presidente encerrará o
julgamento. No entanto, se ao menos 4 jurados votarem “não” a este quesito, a votação
prosseguirá e será indagado aos jurados quanto às causas de diminuição de pena
alegadas pela defesa (Exemplos: semi-imputabilidade; participação de menor
importância; o fato de o crime ter sido cometido por motivo de relevante valor social ou
moral ou sob o domínio de violenta emoção; logo após injusta provocação da vítima). A
esse respeito, é importante ressaltar o teor da Súmula 162 do STF: É absoluta a
nulidade do julgamento pelo júri, quando os quesitos da defesa não precedem aos das
circunstâncias agravantes.
Superado o quesito pertinente a causa de diminuição de pena, passa-se a quesitar
sobre as qualificadoras e causas de aumento de pena, nesta ordem.
Exemplos:
- Qualificadora: o acusado Mévio agiu por motivo fútil
consistente em uma briga de bar?
- Causa de aumento de pena: a vítima era menor de 14
anos, tendo o acusado Mévio consciência dessa circunstância?
Se houver mais de um réu o mais de um crime, os quesitos devem ser feitos em
séries distintas. se houver mais de um réu, a votação será iniciada por aquele que teve
participação de maior importância.
Ressalta-se também que no caso de haver dois réus, um pronunciado como autor
do crime e o outro como partícipe, ocorrendo a absolvição do primeiro,
automaticamente o último ser absolvido, em respeito a teoria monista e da
acessoriedade limitada vigentes no direito penal.
Encerrada a votação do crime doloso contra a vida e não ocorrendo a
desclassificação, passa-se a quesitação dos crimes conexos.
Encerrada a votação, deverá o juiz presidente proferir sentença, observando os
elementos dispostos no artigo 492/CPP:
Art. 492. Em seguida, o presidente proferirá sentença que:
I – no caso de condenação:
a) fixará a pena-base;
b) considerará as circunstâncias agravantes ou atenuantes alegadas nos
debates;
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal II
c) imporá os aumentos ou diminuições da pena, em atenção às causas
admitidas pelo júri;
d) observará as demais disposições do art. 387 deste Código;
e) mandará o acusado recolher-se ou recomendá-lo-á à prisão em que
se encontra, se presentes os requisitos da prisão preventiva, ou, no
caso de condenação a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos
de reclusão, determinará a execução provisória das penas, com
expedição do mandado de prisão, se for o caso, sem prejuízo do
conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos;
f) estabelecerá os efeitos genéricos e específicos da condenação;
II – no caso de absolvição:
a) mandará colocar em liberdade o acusado se por outro motivo não
estiver preso;
b) revogará as medidas restritivas provisoriamente decretadas;
c) imporá, se for o caso, a medida de segurança cabível.
§ 1º Se houver desclassificação da infração para outra, de
competência do juiz singular, ao presidente do Tribunal do Júri caberá
proferir sentença em seguida, aplicando-se, quando o delito resultante
da nova tipificação for considerado pela lei como infração penal de
menor potencial ofensivo, o disposto nos arts. 69 e seguintes da Lei no
9.099, de 26 de setembro de 1995.
§ 2º Em caso de desclassificação, o crime conexo que não seja doloso
contra a vida será julgado pelo juiz presidente do Tribunal do Júri,
aplicando-se, no que couber, o disposto no § 1o deste artigo.
§ 3º O presidente poderá, excepcionalmente, deixar de autorizar a
execução provisória das penas de que trata a alínea e do inciso I do
caput deste artigo, se houver questão substancial cuja resolução pelo
tribunal ao qual competir o julgamento possa plausivelmente levar à
revisão da condenação. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019 -
“Pacote anticrime”) (Vigência)
§ 4º A apelação interposta contra decisão condenatória do Tribunal do
Júri a uma pena igual ou superior a 15 (quinze) anos de reclusão não
terá efeito suspensivo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019 -
“Pacote anticrime”) (Vigência)
§ 5º Excepcionalmente, poderá o tribunal atribuir efeito suspensivo à
apelação de que trata o § 4º deste artigo, quando verificado
cumulativamente que o recurso: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019
– “Pacote anticrime”) (Vigência)
I - não tem propósito meramente protelatório; e (Incluído pela Lei nº
13.964, de 2019 - “Pacote anticrime”) (Vigência)
II - levanta questão substancial e que pode resultar em absolvição,
anulação da sentença, novo julgamento ou redução da pena para
patamar inferior a 15 (quinze) anos de reclusão.
§ 6º O pedido de concessão de efeito suspensivo poderá ser feito
incidentemente na apelação ou por meio de petição em separado
dirigida diretamente ao relator, instruída com cópias da sentença
condenatória, das razões da apelação e de prova da tempestividade,
das contrarrazões e das demais peças necessárias à compreensão da
controvérsia. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019 - “Pacote
anticrime”) (Vigência)

Art. 493. A sentença será lida em plenário pelo presidente antes de


encerrada a sessão de instrução e julgamento.

Ressalta-se o disposto no §4º do artigo 492 que trata de uma inovação


Legislativa incluída pela Lei 13.964/19 - pacote anticrime e que consagra a regra de
execução provisória da pena privativa de liberdade em condenações proferidas pelo
Tribunal do Júri, tema controverso no âmbito da jurisprudência há tempos.
Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal II

Em agosto de 2023, no julgamento de um recurso extraordinário do Ministério


Público de Santa Catarina (MPSC), o STF formou maioria pelo entendimento de que é
possível o cumprimento imediato da pena após a condenação pelo tribunal do júri com
pena superior a 15 anos. O caso citado foi afetado como leading case do Tema de
Repercussão Geral n° 1.068, em que se discute, à luz do art. 5º, inciso XXXVIII, alínea
"c", da Constitucional Federal, se a soberania dos veredictos do Tribunal do Júri
autoriza a imediata execução de pena imposta pelo Conselho de Sentença.
No caso em comento, o tribunal do júri de Chapecó (SC) havia condenado um
homem a 26 anos e 8 meses de prisão, por ele ter matado sua ex-companheira e após a
condenação, o Juiz-presidente do tribunal do júri negou ao réu o direito de recorrer em
liberdade. No entanto, o STJ invalidou a prisão, entendendo que o imediato
cumprimento da pena não poderia ser determinado antes de se esgotar os recursos e sem
a confirmação da condenação pelo tribunal de segunda instância. Diante de tal decisão,
o MPSC recorreu do referido acórdão.
Todavia, apesar de já ter formado maioria de seis votos a três, em plenário
virtual do STF, a favor da tese de execução imediata da pena no Tribunal do Júri,
conforme citado acima, o julgamento foi direcionado para o plenário presencial e terá a
votação reiniciada.
Ressalta-se ainda que no §3º, entretanto, prevê que o juiz presidente,
excepcionalmente, poderá deixar de autorizar a execução provisória citada acima, se
houver questão substancial cuja resolução pelo Tribunal ao qual compete o julgamento
do recurso contra a sentença condenatória possa plausivelmente levar à revisão da
condenação.

ASSISTIR: (104) Tribunal do Júri - YouTube


Professora Ana Paula Correia de Souza
Direito Processual Penal II

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