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TRIBUNAL DO JÚRI
QUEM PODE SER JURADO? REQUISITOS: Vale lembrar que para efeitos penais o jurado é considerado
funcionário público (art. 327, CP).
- Cidadãos (brasileiros natos ou naturalizados que estejam
em gozo de seus direitos políticos) maiores de 18 anos de O Tribunal do Júri é um órgão colegiado e heterogêneo, de
notória idoneidade (previsão legal) primeira instância, da Justiça Comum Estadual ou Federal.
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Direito Processual Penal
“Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou 6. Civil que mata dolosamente militar das Forças
continência, serão observadas as seguintes regras: Armadas em serviço em lugar sujeito à administração
militar: Compete à Justiça Militar da União o seu
I. no concurso entre a competência do júri e a de julgamento (art. 9º, III, “b”). Obs.: A Justiça Militar do
outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a Estado não tem competência para julgar civil (art. 125,
competência do júri;” § 4º, CF)
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Direito Processual Penal
7. Crime doloso contra a vida de civis praticados Quem julga a representação pelo desaforamento: É o
por militares das Forças Armadas em algum dos Tribunal
contextos do § 2º, do art. 9º, do CPM (Lei nº 13.491/17):
Esta exceção se aplica apenas aos militares das Forças Se o juiz não for o responsável pela representação pedindo
Armadas. Caso o crime doloso contra a vida de civil o desaforamento, ele deverá ser ouvido pelo Tribunal.
seja praticado por militares dos Estados contra civil, a
competência será do Tribunal do Júri. Consoante o teor da Súmula 712, do STF, a defesa sempre
deverá ser ouvida: “é nula a decisão que determina o
Obs.: O genocídio não é considerado crime contra a vida, desaforamento de processo da competência do júri sem
pois o bem jurídico tutelado é “no todo ou em parte, grupo audiência da defesa”.
nacional, étnico, racial ou religioso” (Lei nº 2.889/56).
No entanto, se o genocídio for praticado mediante a Destino para o qual o processo será desaforado: O
morte de membros, o autor responderá pelo genocídio processo é remetido para a comarca mais próxima da
e também pelos crimes de homicídio (concurso formal região, onde não existam os motivos que fundamentaram
impróprio) perante o Tribunal do Júri da Justiça Federal o desaforamento.
(STF, RE 351.487/RR, Plenário, Rel. Min. Cezar Peluso,
03/08/2006) – Caso Massacre de Haximú (matança de Momento: só é cabível após a preclusão da decisão de
índios Yanomamis, no ano de 1993, em Roraima) pronúncia do réu. Assim, se ele estiver pronunciado, mas
houver recurso contra a pronúncia, a representação pelo
Obs.: Alguns manuais de processo penal elencam como desaforamento não será admitida. Também não será
princípios reitores do Tribunal do Júri: a) a plenitude cabível o pedido quando já tiver ocorrido o julgamento,
de defesa; b) o sigilo nas votações; c) a soberania dos salvo se os motivos surgirem durante ou após o julgamento
veredictos; d) a competência para julgar crimes dolosos e ele tiver sido anulado.
contra a vida.
Reaforamento: É a possibilidade de retorno do processo
que foi desaforado para a comarca originária. Não há
Desaforamento: Trata-se da possibilidade de retirar o previsão legal. Há entendimento no sentido de que
julgamento do foro natural e encaminhá-lo para outra depende do Regimento Interno de cada Tribunal.
comarca. É o deslocamento de competência territorial
para que o processo seja julgado pelo Tribunal do Júri de
outra comarca. Atenção: O desaforamento não tem qualquer relação
(não se confunde) com o incidente de deslocamento
É possível ocorrer o desaforamento nas seguintes de competência previsto no Art. 109, V-A, e § 5º, da
hipóteses: Constituição Federal. Este último tem o condão de
a. Interesse da ordem pública: quando o julgamento deslocar a competência da Justiça Estadual para a Justiça
puder ensejar a perturbação da ordem, da paz Federal, a partir de representação do Procurador Geral da
e da tranquilidade. Ex.: Tumulto causado pela República, perante o STJ, na hipótese de grave violação
população. de direitos humanos, com a finalidade de assegurar o
b. Dúvida sobre a imparcialidade do júri: Pode ser cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
ocasionado por influência política, ódio ou simpatia internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja
evidente pelo réu, evidenciando antecipadamente parte (“federalização da investigação e do julgamento”)
a probabilidade concreta de falta de isenção dos
jurados. Obs,: No ano de 2005 foi a primeira vez em que se pediu
c. Falta de segurança pessoal do acusado; a federalização de um caso envolvendo direitos humanos
d. Se o julgamento não puder ser realizado no (Caso Dorothy Stang – freira, vítima de homicídio no Pará).
prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em Na ocasião o pedido foi negado, pois não se reconheceu a
julgado da decisão de pronúncia, em razão do omissão das autoridades estaduais.
comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz
presidente e a parte contrária: Nesse prazo não se A primeira decisão de transferência de um caso da Justiça
computa os adiamentos, diligências ou incidentes Estadual para a Justiça Federal ocorreu no ano de 2010,
de interesse da defesa. no caso do advogado e defensor dos Direitos Humanos
Manoel Mattos, vítima de homicídio na Paraíba no ano
anterior.
LEGITIMIDADE PARA REQUERER O
DESAFORAMENTO: QUEM PODE REQUERER?
a. o Ministério Público; Procedimento do Júri: O procedimento é bifásico, também
b. o assistente da acusação; conhecido como escalonado, pois ele possui duas fases
c. o querelante; distintas:
d. o acusado;
e. o juiz competente
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1. fase de formação da culpa ou iudicium accusationis: É uma decisão interlocutória mista terminativa
fase também conhecida como sumário da culpa, que (interlocutória pois não diz se o acusado é culpado ou
começa com o oferecimento da ação penal e acaba com inocente – mérito; mista, pois põe fim a uma fase do
a preclusão da decisão de pronúncia; procedimento; terminativa pois acarreta a extinção do
processo antes do final do procedimento do júri)
2. fase de julgamento ou iudicium causae: Tem início com
a preparação do processo para plenário, conforme art. Contra a decisão de impronúncia cabe o recurso de
422, do CPP (O juiz presidente intima as partes para, no Apelação (até 2008 o recurso cabível era o RESE)
prazo de 05 dias, apresentar até 05 testemunhas para
depor em plenário).
Impronúncia não é sinônimo de despronúncia. A
despronúncia ocorre quando uma decisão de pronúncia
Na primeira fase, tem-se o seguinte procedimento: anterior é revertida em impronúncia por força da
interposição de recurso (nesse caso houve a pronúncia, a
1. Oferecimento de denúncia, podendo ser arroladas defesa interpôs RESE, o juiz exerceu o juízo de retratação
até 08 testemunhas por fato; e despronunciou o réu ou então, se o juiz não se retratou, o
Tribunal despronunciou).
2. Recebimento pelo juiz e ordem de citação para que o
acusado a responda por escrito em até 10 dias;
Desclassificação do crime: Quando o crime não é da
3. Apresentação de resposta à acusação, podendo ser competência do Tribunal do Júri o juiz deve proferir
arroladas até 08 testemunhas; decisão de desclassificação e remeter os autos ao juízo
competente. Ex.: Juiz entende que não houve uma tentativa
4. Oitiva do Ministério Público sobre preliminares e de homicídio, mas uma lesão corporal; Ex.2: Juiz entende
documentos juntados, em 05 dias; que não houve o crime de homicídio, mas o de latrocínio.
5. Audiência de instrução, ouvindo-se o ofendido, O juiz não deve dizer expressamente qual crime
quando possível, e as testemunhas da acusação e da efetivamente ocorreu, mas apenas que a competência
defesa, seguindo-se ao interrogatório do acusado; não é do Tribunal do Júri, pois a nova capitulação legal
é atribuição do juiz que receber o processo. Ex.: Ao
6. Alegações orais pela acusação e pela defesa, no desclassificar, mencionar que não há prova de que o autor
tempo de 20 minutos para cada, prorrogáveis por do delito teve vontade de matar. Assim, não há animus
mais 10. (O tempo se conta pelo número de réus. É necandi (veja-se que não foi afirmado que o crime foi o
individual; para cada réu). de lesão corporal); Ex.2: mencionar que o autor do delito
almejou o patrimônio da vítima, não sendo o caso de crime
7. Decisão do juiz presidente, que pode ser: doloso contra a vida.
impronúncia; desclassificação do crime; absolvição
sumária e pronúncia. Contra a decisão de desclassificação cabe o Recurso em
Sentido Estrito - RESE
Veja-se que no procedimento do Júri não há a previsão de
absolvição sumária logo que o juiz analise a resposta à
acusação (é diferente em relação ao rito comum ordinário, Absolvição sumária: O juiz deve absolver sumariamente o
em que isso é possível, conforme prevê o art. 397, do CPP) réu nas seguintes hipóteses: I – provada a inexistência do
fato; II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; III – o
fato não constituir infração penal; IV – demonstrada causa
Decisões do juiz presidente ao final da fase de formação de isenção de pena ou exclusão do crime (Ex.: isenção de
da culpa: pena: coação moral irresistível e obediência hierárquica;
exclusão do crime: quando o acusado está acobertado por
alguma causa excludente de ilicitude – legítima defesa,
Impronúncia: A decisão de impronúncia se dá quando estado de necessidade, estrito cumprimento do dever
não há prova da existência do crime (não há prova da legal e exercício regular de direito.
materialidade) ou não há indícios de autoria. Nesse
caso, o processo pode ser reaberto se surgirem novas Obs.: Em relação ao inimputável, só se aplicará a absolvição
provas (substancialmente novas: inéditas, até então sumária imprópria (aquela que gera a imposição de medida
desconhecidas; formalmente novas: já existentes, mas de segurança) quando a inimputabilidade for a única tese
que ganham nova versão). defensiva. Se houver outra tese e for o caso de pronúncia,
o acusado deve ser submetido a julgamento no plenário
do Tribunal do Júri, pois, eventualmente, os jurados podem
acatar a sua tese defensiva e absolvê-lo – é mais benéfico
do que a absolvição sumária imprópria, pois não haverá a
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Direito Processual Penal
Atenção: Entende-se que nessa fase vigora o princípio Julgamento no Plenário do Júri:
do “in dubio pro societate”, isto é, na dúvida, o juiz deve
pronunciar o réu.
Na sessão de julgamento o juiz presidente verifica a
presença dos jurados, podendo instalar os trabalhos se
O réu precisa ser intimado da decisão de pronúncia, estiverem presentes, no mínimo 15 jurados. Em seguida o
todavia, tal intimação pode ser feita por edital. (Antes da juiz deve verificar se há causas de suspeição, impedimento
reforma processual de 2008 o réu só podia ser intimado e incompatibilidade
pessoalmente se o crime fosse inafiançável. Assim, caso
o réu não fosse encontrado, o processo ficava paralisado.
Esse fenômeno era conhecido como “crise de instância”) Obs.: Reunião periódica é diferente de sessão de julgamento. A
reunião periódica é o período do ano em que o Tribunal do Júri se
reúne para as sessões de julgamento. A sessão de julgamento
O recurso cabível contra a decisão de pronúncia é o Recurso se refere ao julgamento realizado de um acusado(s) de
em Sentido Estrito (RESE) determinado processo.
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Direito Processual Penal
O que é o “estouro de urna”? É a impossibilidade de Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação
formação do Conselho de Sentença com 07 jurados, seja e a defesa será acrescido de 1 (uma) hora e elevado ao
pelo não comparecimento de jurados, devido a recusas dobro o da réplica e da tréplica.
motivadas e peremptórias.
O que é o direito de aparte? É a possiblidade de um parte
pedir a palavra durante o tempo destinado ao debate
Formado o Conselho de Sentença, o juiz faz a exortação, da outra parte. O juiz pode conceder o aparte por até 3
que é o compromisso dos jurados de examinar a causa de minutos, acrescendo ao final esse tempo
forma imparcial e de acordo com os ditames da justiça, que
responderão: “Assim o prometo”. Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados
se estão habilitados a julgar ou se necessitam de outros
esclarecimentos.
Iniciada a instrução plenária, o juiz, o membro do Ministério
Público, o advogado do assistente (se houver), o advogado
do querelante (se houver) e o defensor do acusado tomarão,
sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido,
se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela
acusação.
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Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente Súmula 156 do STF: É absoluta a nulidade do julgamento,
prestará esclarecimentos à vista dos autos. pelo júri, por falta de quesito obrigatório.
- o juiz deve perguntar se os jurados estão habilitados 3. Desclassificação do crime: a) desclassificação própria:
para o julgamento da causa; há a desclassificação pelos jurados sem indicação
de qual crime teria ocorrido. Ex.: desclassificação
- em seguida, faz a leitura pública dos quesitos, que devem de tentativa de homicídio. O julgamento passa para
ser impugnado nesse momento pelas partes; o juiz presidente; b) desclassificação imprópria: há
desclassificação pelos jurados, determinando-se qual
- na sala secreta são distribuídas cédulas contendo as crime ocorreu. Ex.: homicídio doloso desclassificado
palavras “sim” e “não” para homicídio culposo. O juiz só fixa a pena; Há
entendimento no sentido de que com a inserção no
- realiza-se a votação, a qual é decidida por maioria. CPP do quesito “o jurado absolve o acusado?”, esta
desclassificação teria sido esvaziada c) crime conexo
Nessa fase, o sistema de apreciação das provas é o com crime da competência do júri: O juiz julga tanto o
da íntima convicção, pois os jurados não precisam crime desclassificado como o conexo. Ex.: tentativa de
fundamentar a sua decisão. homicídio desclassificada e estupro conexo.
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