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Direito Processual Penal

Professor Renato Ercolin

TRIBUNAL DO JÚRI

Previsão: O Tribunal do Júri está previsto na Constituição 426, §, 4º, CPP).


Federal no rol dos Direitos e Garantias Individuais e
Coletivos (art. 5º, XXXVIII) Sobre a restrição da participação de jurado a novo julgamento
de processo em que ele participou do primeiro julgamento, vide
Composição do Tribunal do Júri: 01 juiz presidente Súmula 206 do STF: É nulo o julgamento ulterior pelo júri com
(togado) e 25 jurados, dentre os quais 07 serão sorteados a participação de jurado que funcionou em julgamento
para formar o Conselho de Sentença. anterior do mesmo processo

QUEM PODE SER JURADO? REQUISITOS: Vale lembrar que para efeitos penais o jurado é considerado
funcionário público (art. 327, CP).
- Cidadãos (brasileiros natos ou naturalizados que estejam
em gozo de seus direitos políticos) maiores de 18 anos de O Tribunal do Júri é um órgão colegiado e heterogêneo, de
notória idoneidade (previsão legal) primeira instância, da Justiça Comum Estadual ou Federal.

- Que residam na mesma comarca do julgamento Garantias constitucionais:


(doutrina, com base na antiga previsão legal), que sejam
alfabetizados e estejam em boa condição de saúde física e
mental (doutrina) a. Plenitude de defesa: é o efetivo exercício da ampla
defesa (defesa técnica e autodefesa). Nesse ponto,
vale ressaltar que a defesa técnica (advogado) não
Peculiaridades: Nenhum desconto será feito nos precisa ficar adstrita apenas aos fatos e cotejá-
vencimentos ou salário do jurado sorteado que comparecer los com a aplicação da lei. A defesa técnica pode
à sessão do júri. se valer de qualquer argumento extrajurídico,
podendo ser religioso, emocional, político,
Já o exercício efetivo da função de jurado (atuação humanitário, etc. Assim, é possível afirmar que a
no Conselho de Sentença) constituirá serviço público plenitude de defesa é mais abrangente que a ampla
relevante e estabelecerá presunção de idoneidade defesa. Quanto à autodefesa, o réu pode apresentar
moral. Ademais, o jurado terá preferência, em igualdade versão totalmente distinta da sustentada pelo seu
de condições, nas licitações públicas e no provimento, advogado. Nesse caso o magistrado deve quesitar
mediante concurso, de cargo ou função pública, bem como ambas as teses.
nos casos de promoção funcional ou remoção voluntária.

b. Sigilo nas votações: O voto de cada jurado é


O serviço do júri é obrigatório e a sua recusa injustificada sigiloso, realizado em sala secreta. O ato de votação
gera a imposição de multa de 01 a 10 salários mínimos. dos quesitos não é aberto ao público. A publicidade
do ato de votação dos jurados é restrita ao Juiz
No entanto, algumas pessoas estão isentas do serviço do presidente, aos seus auxiliares (oficial de justiça
júri (art. 437, CPP. Ex.: maiores de 70 anos; autoridades e os e escrivão), ao membro do Ministério Público
servidores da polícia e da segurança pública, etc.). (ao assistente e ao querelante, se houver) e ao
defensor do acusado.
Há também a previsão da escusa de consciência para não
servir como jurado, desde que haja a prestação de serviço Esta reserva para a realização da votação evita a
alternativo que o juiz fixar, sob pena da suspensão dos intimidação dos jurados pelo público.
direitos políticos (art. 438, CPP.)

Vale lembrar que no momento de abertura dos


O QUE SE ENTENDE POR “JURADO PROFISSIONAL”? votos o magistrado deve parar a apuração assim
que se constituir a maioria num ou noutro sentido.
É aquele jurado que já integrou o Conselho de Sentença nos Esta postura visa impedir a identificação do
12 meses que antecederam a publicação da lista geral. Se sentido de cada voto. Ex.: Imaginemos que todos
ele já integrou o Conselho de Sentença no referido período, os jurados votaram no mesmo sentido. Se o juiz
deverá ser excluído da lista. O CPP foi alterado em 2008 presidente revelar todos os votos, todos saberão
(Lei 11.689/08) para proibir o “jurado profissional” (art. que a votação foi unânime. Logo, o procedimento

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que deve ser adotado é o seguinte: assim que


obtida a votação por maioria (4 x 0) o magistrado
interrompe a apuração do quesito, consignando QUAIS SÃO OS CRIMES DOLOSOS CONTRA
em qual sentido foram os votos majoritariamente A VIDA, SUJEITOS AO PROCESSAMENTO E
(Sim ou Não). JULGAMENTO PELO TRIBUNAL DO JÚRI?

R: homicídio (art. 121, CP); induzimento, instigação ou


Art. 489.  As decisões do Tribunal do Júri serão auxílio a suicídio (art. 122); infanticídio (art. 123, CP); aborto
tomadas por maioria de votos.   (arts. 124, 125 e 126).

Trata-se de uma cláusula pétrea, não podendo ser


No Brasil também vigora a incomunicabilidade afastada por emenda constitucional. Não obstante, é uma
dos jurados. Assim, eles não podem utilizar o competência mínima, podendo o legislador ampliar as
aparelho celular, ler mensagens, falar sobre o hipóteses de crimes de competência do Tribunal do Júri.
processo entre eles ou com os servidores, juiz,
membro do MP, etc. Inclusive, se o julgamento Atenção: As hipóteses a seguir elencadas, isoladamente,
não terminar no mesmo dia, os jurados devem não são de competência do Tribunal do Júri (não vão a Júri)
permanecer confinados em local próprio, não
podendo retornar para casa. Exceções:

1.  Latrocínio: É crime contra o patrimônio. (Súmula 603 do


A incomunicabilidade dos jurados dura até o STF – justiça comum).
encerramento da sessão de julgamento. Após
o encerramento, o jurado está livre para se 2.  Competência por prerrogativa de função nos
comunicar, não havendo qualquer nulidade se Tribunais, prevista na CF: Quando o foro por
revelar como votou. prerrogativa for fixado na Constituição Federal, este
prevalecerá sobre a competência do Tribunal do Júri
(princípio da especialidade – Súmula nº 721, convertida
c. Soberania dos veredictos: O juiz presidente (juiz na SV nº 45, do STF: “A competência constitucional do
togado) não pode mudar a decisão tomada pelos Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa
jurados (Conselho de Sentença), devendo se ater de função estabelecido exclusivamente pela
à dosimetria da pena. No entanto, a soberania Constituição Estadual”);
dos veredictos não significa que a decisão seja
irrecorrível. É possível a interposição de recurso, 3.  Ato infracional análogo a crime contra a vida: Os
todavia os desembargadores não poderão atos infracionais estão sujeitos ao processamento
substituir a vontade dos jurados quanto ao mérito. perante à Vara da Infância e da Juventude, a partir de
Assim, é possível aos desembargadores darem Representação do Ministério Público;
provimento ao recurso para determinar que o réu
seja submetido a novo julgamento. Verifica-se, 4.  Crime político de homicídio contra os Presidentes
então, que o mérito do julgamento continua a cargo da República, do Senado Federal, da Câmara dos
dos jurados. Deputados ou do STF: (art. 29 da Lei nº 7.170/83). Nesse
caso, será competente a Justiça Federal - juiz singular
Exceção: Na hipótese de ajuizamento de Revisão (art. 109, IV, CF).
Criminal, o Tribunal (desembargadores) podem
desconstituir a sentença do Tribunal do Júri, 5.  Militar que comete crime doloso contra a vida de
substituindo a decisão de mérito. militar (ambos da ativa): a) caso seja militar das Forças
Armadas que mata dolosamente militar das Forças
Armadas, compete à Justiça Militar da União, ainda que
Competência: Crimes dolosos contra a vida, tentados ou ambos não estejam em serviço (CPM, art. 9º, II, “a”); b)
consumados, e crimes conexos (salvo se forem crimes se o militar da ativa for do Estado e matar dolosamente
militares ou eleitorais, quando deverá haver a separação militar da ativa do Estado, será competente a Justiça
dos processos – art. 78, I, CPP). Militar Estadual, mesmo que ambos não estejam em
serviço.

“Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou 6.  Civil que mata dolosamente militar das Forças
continência, serão observadas as seguintes regras: Armadas em serviço em lugar sujeito à administração
militar: Compete à Justiça Militar da União o seu
I. no concurso entre a competência do júri e a de julgamento (art. 9º, III, “b”). Obs.: A Justiça Militar do
outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a Estado não tem competência para julgar civil (art. 125,
competência do júri;” § 4º, CF)

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7.  Crime doloso contra a vida de civis praticados Quem julga a representação pelo desaforamento: É o
por militares das Forças Armadas em algum dos Tribunal
contextos do § 2º, do art. 9º, do CPM (Lei nº 13.491/17):
Esta exceção se aplica apenas aos militares das Forças Se o juiz não for o responsável pela representação pedindo
Armadas. Caso o crime doloso contra a vida de civil o desaforamento, ele deverá ser ouvido pelo Tribunal.
seja praticado por militares dos Estados contra civil, a
competência será do Tribunal do Júri. Consoante o teor da Súmula 712, do STF, a defesa sempre
deverá ser ouvida: “é nula a decisão que determina o
Obs.: O genocídio não é considerado crime contra a vida, desaforamento de processo da competência do júri sem
pois o bem jurídico tutelado é “no todo ou em parte, grupo audiência da defesa”.
nacional, étnico, racial ou religioso” (Lei nº 2.889/56).
No entanto, se o genocídio for praticado mediante a Destino para o qual o processo será desaforado: O
morte de membros, o autor responderá pelo genocídio processo é remetido para a comarca mais próxima da
e também pelos crimes de homicídio (concurso formal região, onde não existam os motivos que fundamentaram
impróprio) perante o Tribunal do Júri da Justiça Federal o desaforamento.
(STF, RE 351.487/RR, Plenário, Rel. Min. Cezar Peluso,
03/08/2006) – Caso Massacre de Haximú (matança de Momento: só é cabível após a preclusão da decisão de
índios Yanomamis, no ano de 1993, em Roraima) pronúncia do réu. Assim, se ele estiver pronunciado, mas
houver recurso contra a pronúncia, a representação pelo
Obs.: Alguns manuais de processo penal elencam como desaforamento não será admitida. Também não será
princípios reitores do Tribunal do Júri: a) a plenitude cabível o pedido quando já tiver ocorrido o julgamento,
de defesa; b) o sigilo nas votações; c) a soberania dos salvo se os motivos surgirem durante ou após o julgamento
veredictos; d) a competência para julgar crimes dolosos e ele tiver sido anulado.
contra a vida.
Reaforamento: É a possibilidade de retorno do processo
que foi desaforado para a comarca originária. Não há
Desaforamento: Trata-se da possibilidade de retirar o previsão legal. Há entendimento no sentido de que
julgamento do foro natural e encaminhá-lo para outra depende do Regimento Interno de cada Tribunal.
comarca. É o deslocamento de competência territorial
para que o processo seja julgado pelo Tribunal do Júri de
outra comarca. Atenção: O desaforamento não tem qualquer relação
(não se confunde) com o incidente de deslocamento
É possível ocorrer o desaforamento nas seguintes de competência previsto no Art. 109, V-A, e § 5º, da
hipóteses: Constituição Federal. Este último tem o condão de
a. Interesse da ordem pública: quando o julgamento deslocar a competência da Justiça Estadual para a Justiça
puder ensejar a perturbação da ordem, da paz Federal, a partir de representação do Procurador Geral da
e da tranquilidade. Ex.: Tumulto causado pela República, perante o STJ, na hipótese de grave violação
população. de direitos humanos, com a finalidade de assegurar o
b. Dúvida sobre a imparcialidade do júri: Pode ser cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
ocasionado por influência política, ódio ou simpatia internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja
evidente pelo réu, evidenciando antecipadamente parte (“federalização da investigação e do julgamento”)
a probabilidade concreta de falta de isenção dos
jurados. Obs,: No ano de 2005 foi a primeira vez em que se pediu
c. Falta de segurança pessoal do acusado; a federalização de um caso envolvendo direitos humanos
d. Se o julgamento não puder ser realizado no (Caso Dorothy Stang – freira, vítima de homicídio no Pará).
prazo de 6 (seis) meses, contado do trânsito em Na ocasião o pedido foi negado, pois não se reconheceu a
julgado da decisão de pronúncia, em razão do omissão das autoridades estaduais.
comprovado excesso de serviço, ouvidos o juiz
presidente e a parte contrária: Nesse prazo não se A primeira decisão de transferência de um caso da Justiça
computa os adiamentos, diligências ou incidentes Estadual para a Justiça Federal ocorreu no ano de 2010,
de interesse da defesa. no caso do advogado e defensor dos Direitos Humanos
Manoel Mattos, vítima de homicídio na Paraíba no ano
anterior.
LEGITIMIDADE PARA REQUERER O
DESAFORAMENTO: QUEM PODE REQUERER?
a. o Ministério Público; Procedimento do Júri: O procedimento é bifásico, também
b. o assistente da acusação; conhecido como escalonado, pois ele possui duas fases
c. o querelante; distintas:
d. o acusado;
e. o juiz competente

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1.  fase de formação da culpa ou iudicium accusationis: É uma decisão interlocutória mista terminativa
fase também conhecida como sumário da culpa, que (interlocutória pois não diz se o acusado é culpado ou
começa com o oferecimento da ação penal e acaba com inocente – mérito; mista, pois põe fim a uma fase do
a preclusão da decisão de pronúncia; procedimento; terminativa pois acarreta a extinção do
processo antes do final do procedimento do júri)
2.  fase de julgamento ou iudicium causae: Tem início com
a preparação do processo para plenário, conforme art. Contra a decisão de impronúncia cabe o recurso de
422, do CPP (O juiz presidente intima as partes para, no Apelação (até 2008 o recurso cabível era o RESE)
prazo de 05 dias, apresentar até 05 testemunhas para
depor em plenário).
Impronúncia não é sinônimo de despronúncia. A
despronúncia ocorre quando uma decisão de pronúncia
Na primeira fase, tem-se o seguinte procedimento: anterior é revertida em impronúncia por força da
interposição de recurso (nesse caso houve a pronúncia, a
1.  Oferecimento de denúncia, podendo ser arroladas defesa interpôs RESE, o juiz exerceu o juízo de retratação
até 08 testemunhas por fato; e despronunciou o réu ou então, se o juiz não se retratou, o
Tribunal despronunciou).
2.  Recebimento pelo juiz e ordem de citação para que o
acusado a responda por escrito em até 10 dias;
Desclassificação do crime: Quando o crime não é da
3.  Apresentação de resposta à acusação, podendo ser competência do Tribunal do Júri o juiz deve proferir
arroladas até 08 testemunhas; decisão de desclassificação e remeter os autos ao juízo
competente. Ex.: Juiz entende que não houve uma tentativa
4.  Oitiva do Ministério Público sobre preliminares e de homicídio, mas uma lesão corporal; Ex.2: Juiz entende
documentos juntados, em 05 dias; que não houve o crime de homicídio, mas o de latrocínio.

5.  Audiência de instrução, ouvindo-se o ofendido, O juiz não deve dizer expressamente qual crime
quando possível, e as testemunhas da acusação e da efetivamente ocorreu, mas apenas que a competência
defesa, seguindo-se ao interrogatório do acusado; não é do Tribunal do Júri, pois a nova capitulação legal
é atribuição do juiz que receber o processo. Ex.: Ao
6.  Alegações orais pela acusação e pela defesa, no desclassificar, mencionar que não há prova de que o autor
tempo de 20 minutos para cada, prorrogáveis por do delito teve vontade de matar. Assim, não há animus
mais 10. (O tempo se conta pelo número de réus. É necandi (veja-se que não foi afirmado que o crime foi o
individual; para cada réu). de lesão corporal); Ex.2: mencionar que o autor do delito
almejou o patrimônio da vítima, não sendo o caso de crime
7.  Decisão do juiz presidente, que pode ser: doloso contra a vida.
impronúncia; desclassificação do crime; absolvição
sumária e pronúncia. Contra a decisão de desclassificação cabe o Recurso em
Sentido Estrito - RESE
Veja-se que no procedimento do Júri não há a previsão de
absolvição sumária logo que o juiz analise a resposta à
acusação (é diferente em relação ao rito comum ordinário, Absolvição sumária: O juiz deve absolver sumariamente o
em que isso é possível, conforme prevê o art. 397, do CPP) réu nas seguintes hipóteses: I – provada a inexistência do
fato; II – provado não ser ele autor ou partícipe do fato; III – o
fato não constituir infração penal; IV – demonstrada causa
Decisões do juiz presidente ao final da fase de formação de isenção de pena ou exclusão do crime (Ex.: isenção de
da culpa: pena: coação moral irresistível e obediência hierárquica;
exclusão do crime: quando o acusado está acobertado por
alguma causa excludente de ilicitude – legítima defesa,
Impronúncia: A decisão de impronúncia se dá quando estado de necessidade, estrito cumprimento do dever
não há prova da existência do crime (não há prova da legal e exercício regular de direito.
materialidade) ou não há indícios de autoria. Nesse
caso, o processo pode ser reaberto se surgirem novas Obs.: Em relação ao inimputável, só se aplicará a absolvição
provas (substancialmente novas: inéditas, até então sumária imprópria (aquela que gera a imposição de medida
desconhecidas; formalmente novas: já existentes, mas de segurança) quando a inimputabilidade for a única tese
que ganham nova versão). defensiva. Se houver outra tese e for o caso de pronúncia,
o acusado deve ser submetido a julgamento no plenário
do Tribunal do Júri, pois, eventualmente, os jurados podem
acatar a sua tese defensiva e absolvê-lo – é mais benéfico
do que a absolvição sumária imprópria, pois não haverá a

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aplicação de medida de segurança. Após a preclusão da decisão de pronúncia há preclusão


das nulidades relativas não arguidas (art. 593, III, “a”) e
Contra a absolvição sumária cabe o recurso de Apelação inicia-se a segunda fase do procedimento do Júri (a fase de
(até 2008, cabia RESE) julgamento em plenário, perante o Tribunal do Júri).

Súmula 191 do STJ: A pronúncia é causa interruptiva


Pronúncia: Quando houver prova da existência do crime da prescrição, ainda que o Tribunal do Júri venha a
(prova da materialidade) e indícios suficientes de autoria desclassificar o crime.
ou participação, o juiz deve pronunciar o réu a fim de
submetê-lo a julgamento pelo Tribunal do Júri. Nesse
caso, o juiz deve classificar precisamente o crime (se o A segunda fase do procedimento do júri (fase de acusação),
que vai a julgamento é um homicídio simples; privilegiado; tem início com as diligências do art. 422: O juiz determina a
qualificado, bem como quais são as qualificadoras. intimação do órgão do Ministério Público ou do querelante,
Atenuantes e agravantes não devem constar na decisão de no caso de queixa, e do defensor, para, no prazo de 5 (cinco)
pronúncia). Além disso, deve indicar a prova da existência dias, apresentarem rol de testemunhas que irão depor em
do crime e os indícios suficientes de autoria, sem adentrar plenário, até o máximo de 5 (cinco), oportunidade em que
em especificidades ou fazer valorações. poderão juntar documentos e requerer diligência (art. 422). 

Caso o magistrado faça considerações que saiam desse


escopo, estará caracterizada a eloquência acusatória, que Em seguida, deliberando sobre os requerimentos de
causa a nulidade da decisão de pronúncia, que deverá ser provas a serem produzidas ou exibidas no plenário do júri,
desentranhada dos autos. Isso porque os termos utilizados e adotadas as providências devidas, o juiz presidente: I –
pelo juiz podem influenciar a convicção dos jurados. Assim, ordenará as diligências necessárias para sanar qualquer
a decisão de pronúncia deve ser objetiva e precisa. Vale nulidade ou esclarecer fato que interesse ao julgamento da
lembrar, nesse ponto, que durante os debates realizados causa; II – fará relatório sucinto do processo, determinando
no plenário as partes não poderão fazer referência à sua inclusão em pauta da reunião do Tribunal do Júri. Este
decisão de pronúncia como argumento de autoridade relatório será entregue aos jurados imediatamente após a
formação do Conselho de Sentença;

A decisão de pronúncia é um juízo de admissibilidade da


acusação de crime doloso contra a vida, que delimita a Ordem do julgamento: Salvo motivo relevante que
acusação em plenário. Não se exige, assim, um juízo de autorize alteração na ordem dos julgamentos, terão
certeza quanto à autoria, mas indícios suficientes (prova preferência: I – os acusados presos; II – dentre os acusados
semiplena) presos, aqueles que estiverem há mais tempo na prisão;
III – em igualdade de condições, os precedentemente
pronunciados. (art. 429)
É uma decisão interlocutória mista não terminativa, que gera
a interrupção da prescrição, mesmo que posteriormente Assistente da acusação: O assistente somente será
o Conselho de Sentença (jurados) desclassifique o delito admitido se tiver requerido sua habilitação até 5 (cinco)
para outro, que não seja de competência do tribunal do Júri dias antes da data da sessão na qual pretenda atuar. (art.
– Súmula 191, STJ) 430) 

Atenção: Entende-se que nessa fase vigora o princípio Julgamento no Plenário do Júri:
do “in dubio pro societate”, isto é, na dúvida, o juiz deve
pronunciar o réu.
Na sessão de julgamento o juiz presidente verifica a
presença dos jurados, podendo instalar os trabalhos se
O réu precisa ser intimado da decisão de pronúncia, estiverem presentes, no mínimo 15 jurados. Em seguida o
todavia, tal intimação pode ser feita por edital. (Antes da juiz deve verificar se há causas de suspeição, impedimento
reforma processual de 2008 o réu só podia ser intimado e incompatibilidade
pessoalmente se o crime fosse inafiançável. Assim, caso
o réu não fosse encontrado, o processo ficava paralisado.
Esse fenômeno era conhecido como “crise de instância”) Obs.: Reunião periódica é diferente de sessão de julgamento. A
reunião periódica é o período do ano em que o Tribunal do Júri se
reúne para as sessões de julgamento. A sessão de julgamento
O recurso cabível contra a decisão de pronúncia é o Recurso se refere ao julgamento realizado de um acusado(s) de
em Sentido Estrito (RESE) determinado processo.

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Ausências: Para a inquirição das testemunhas arroladas pela defesa,


a. Do jurado: será passível de multa; o defensor do acusado formulará as perguntas antes do
b. Do membro do Ministério Público: adia-se o júri. Ministério Público e do assistente
Se a ausência for injustificada, comunica-se o
Procurador Geral. Os jurados também poderão formular perguntas, as quais
c. Do acusador particular em caso de ação penal serão feitas por intermédio do juiz presidente.
privada subsidiária da pública: o Promotor assume
a acusação e o júri não é adiado;
d. Do advogado do réu: adia-se o júri. Se a ausência As partes e os jurados poderão requerer acareações,
for injustificada, oficia-se a OAB e a Defensoria reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento
Pública. Se o advogado não comparecer na nova dos peritos, bem como a leitura de peças que se refiram,
data, nomeia-se um Defensor Público. Vale exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória e
lembrar que há entendimento no sentido de que às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis.
se deve intimar o réu para, se quiser, nomear novo
advogado (ampla defesa, direito de escolha). Assim, Em seguida é realizado o interrogatório do acusado, onde o
o Defensor só atuaria se o advogado indicado pelo Ministério Público, o assistente, o querelante e o defensor,
réu não comparecesse no novo julgamento. nessa ordem, poderão formular, diretamente, perguntas
e. Do advogado do assistente do MP: não se adia o júri. ao acusado.
f. Da testemunha: em regra não se adia, salvo se ela
for arrolada com cláusula de imprescindibilidade, Quanto ao uso de algemas, só será lícito nas hipóteses
após tentativa de condução coercitiva. trazidas pela Súmula Vinculante nº 11, do STF: “Só é
g. Ausência do réu solto: realiza-se o julgamento lícito o uso de algemas  em casos de resistência e de
normalmente; fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física
h. Ausência do réu preso: se for ausente em razão própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros,
de sua não condução pelos agentes de segurança justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de
pública (falha estatal), o júri deverá ser adiado. responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da
autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual
Realizado o sorteio dos jurados, é possível que as partes a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do
façam recusas. Neste caso, a defesa fala antes da Estado”
acusação.
Debates: Durante os debates não será permitida a leitura
de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido
- Recusa motivada: caso de suspeição, impedimento juntado aos autos com a antecedência mínima de 3 (três)
ou incompatibilidade, quando não revelada pela própria dias úteis, dando-se ciência à outra parte
testemunha. Não há número máximo de recusas
motivadas. O tempo destinado à acusação e à defesa será de 1h30mim
(uma hora e meia) para cada, e de 1 (uma) hora para a
réplica e outro tanto para a tréplica. Se houver assistente
- Recusa imotivada ou peremptória: tanto a defesa como de acusação ou dois advogados de defesa para um único
a acusação tem direito a 3 recusas imotivadas. réu, o tempo de cada um deve ser combinado ou então o
juiz determinará o tempo de cada um.

O que é o “estouro de urna”? É a impossibilidade de Havendo mais de 1 (um) acusado, o tempo para a acusação
formação do Conselho de Sentença com 07 jurados, seja e a defesa será acrescido de 1 (uma) hora e elevado ao
pelo não comparecimento de jurados, devido a recusas dobro o da réplica e da tréplica.
motivadas e peremptórias.
O que é o direito de aparte? É a possiblidade de um parte
pedir a palavra durante o tempo destinado ao debate
Formado o Conselho de Sentença, o juiz faz a exortação, da outra parte. O juiz pode conceder o aparte por até 3
que é o compromisso dos jurados de examinar a causa de minutos, acrescendo ao final esse tempo
forma imparcial e de acordo com os ditames da justiça, que
responderão: “Assim o prometo”. Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados
se estão habilitados a julgar ou se necessitam de outros
esclarecimentos. 
Iniciada a instrução plenária, o juiz, o membro do Ministério
Público, o advogado do assistente (se houver), o advogado
do querelante (se houver) e o defensor do acusado tomarão,
sucessiva e diretamente, as declarações do ofendido,
se possível, e inquirirão as testemunhas arroladas pela
acusação.

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Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente Súmula 156 do STF: É absoluta a nulidade do julgamento,
prestará esclarecimentos à vista dos autos. pelo júri, por falta de quesito obrigatório.

Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos


autos e aos instrumentos do crime se solicitarem ao juiz Sentença:
presidente.
1.  Absolutória: se o réu estiver preso, deverá ser colocado
Se a verificação de qualquer fato, reconhecida como em liberdade imediatamente. A sentença absolutória
essencial para o julgamento da causa, não puder ser é denominada própria quando não impõe medida
realizada imediatamente, o juiz presidente dissolverá de segurança e imprópria quando impõe medida de
o Conselho, ordenando a realização das diligências segurança.
entendidas necessárias
2.  Condenatória: Somente a aplicação da pena é
Preparação e Votação dos Quesitos fundamentada

- o juiz deve perguntar se os jurados estão habilitados 3.  Desclassificação do crime: a) desclassificação própria:
para o julgamento da causa; há a desclassificação pelos jurados sem indicação
de qual crime teria ocorrido. Ex.: desclassificação
- em seguida, faz a leitura pública dos quesitos, que devem de tentativa de homicídio. O julgamento passa para
ser impugnado nesse momento pelas partes; o juiz presidente; b) desclassificação imprópria: há
desclassificação pelos jurados, determinando-se qual
- na sala secreta são distribuídas cédulas contendo as crime ocorreu. Ex.: homicídio doloso desclassificado
palavras “sim” e “não” para homicídio culposo. O juiz só fixa a pena; Há
entendimento no sentido de que com a inserção no
- realiza-se a votação, a qual é decidida por maioria. CPP do quesito “o jurado absolve o acusado?”, esta
desclassificação teria sido esvaziada c) crime conexo
Nessa fase, o sistema de apreciação das provas é o com crime da competência do júri: O juiz julga tanto o
da íntima convicção, pois os jurados não precisam crime desclassificado como o conexo. Ex.: tentativa de
fundamentar a sua decisão. homicídio desclassificada e estupro conexo.

Ordem dos quesitos: Obs.: na hipótese de desclassificação do crime


para outro que seria de competência do Juizado Especial
1.  Materialidade do fato; (ex.: tentativa de homicídio desclassificada para
lesão leve), incumbe ao juiz presidente aplicar as medidas
2.  Autoria ou participação; despenalizadoras previstas na Lei nº 9.099/95.

3.  Tentativa ou desclassificação;


Recurso: Apelação.
4.  Absolutório (“o jurado absolve o acusado”)
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:
5.  Causa de diminuição da pena
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando
6.  Circunstância qualificadora ou causa de aumento de a. ocorrer nulidade posterior à pronúncia;          
pena. b. for a sentença do juiz-presidente contrária à lei
expressa ou à decisão dos jurados;
Quando também houver a tese de inimputabilidade, essa c. houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da
quesitação deve ser feita logo após o quesito absolutório pena ou da medida de segurança;
(Ex.: “o acusado, por doença mental ou desenvolvimento d. for a decisão dos jurados manifestamente contrária
mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou à prova dos autos. 
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse Súmula 713 do STF: O efeito devolutivo da apelação
entendimento?) contra decisões do júri é adstrito aos fundamentos da sua
interposição.

Se alguma das partes alegar que uma testemunha


mentiu em plenário, deverá ser feita a quesitação do
falso testemunho, por último. Reconhecida a falsidade,
não haverá a condenação da testemunha neste instante,
mas a remessa de cópia dos autos à Polícia para instaurar
inquérito.

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