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A IMPORTÂNCIA DE JOSEFO PARA A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Técio Alves dos Santos1

Resumo: Muitas pessoas já ouviram falar de Josefo, mas poucas pessoas


conhecem as suas obras e a contribuição que estas trazem para a interpretação
da Bíblia. Este artigo tem como objetivo fazer uma exposição da figura desse
historiador judeu, apresentando uma sinopse de sua vida assim como de suas
obras literárias. Serão analisadas brevemente algumas passagens nas quais ele
cita personagens bíblicos famosos tais como João Batista, Jesus, Tiago, e a
contribuição que esses escritos trazem para uma maior compreensão das
Escrituras.

Palavras-chave: Josefo; Interpretação; Novo Testamento; João Batista; Jesus;


Tiago

THE VALUE OF JOSEPHUS FOR BIBLICAL INTERPRETATION

Abstract: Many people have heard about Josephus, but few know their works
and the contribution that they bring to the interpretation of the Bible. This article
has as its goal to make a figure exposure this Jewish historian, presenting a
synopsis of his life as well as his literary works. Will be briefly analyzed some
passages in that he quote famous biblical characters such as John the Baptist,
Jesus, James, and the contribution that this writings bring to a major
comprehension of Scriptures.

Key-words: Josephus; Interpretation; New Testament; John the Baptist; Jesus;


James

Quando o leitor da Bíblia se move de Malaquias a Mateus, ele encontra


muitas ideias novas, movimentos e instituições nunca dantes mencionados no
Antigo Testamento (AT). Da mesma maneira são apresentados personagens,
governantes, regiões e localidades, que são introduzidos no relato como se o
leitor presumisse a existência deles.
Nos evangelhos, por exemplo, é lido sobre sinagogas, fariseus, saduceus,
zelotes e romanos. Essas palavras e muitas outras nunca aparecem no AT. O
leitor também pode descobrir que o AT foi escrito em hebraico, enquanto que o
Novo Testamento (NT) foi escrito em grego. Ele pode se surpreender de como
essas novas ideias e mudanças surgiram.

1 Bacharel em Teologia pela Universidade Adventista da Bolívia (UAB). Pós-graduando em


Teologia Bíblica pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). E-mail:
tecioalvesdossantos@gmail.com
As respostas a essas questões, jazem em uma compreensão do período
o qual os cristãos chamam de “período intertestamentário” (BLOMBERG, 1997,
p. 7).2 Nesse período surgiram figuras históricas que estão relacionadas ao
ambiente no qual o cristianismo se desenvolveu, e tiveram influência direta sobre
o início do próprio cristianismo. Uma das fontes mais completas para a
compreensão desse período são os escritos do historiador judeu Flávio Josefo.
O presente artigo tem a intenção de familiarizar o leitor com a figura de
Josefo e os seus escritos e avaliar a importância destes para a compreensão do
mundo do Novo Testamento e seus personagens. Serão tratados aqui temais
tais como a identidade de Flavio Josefo e as obras cuja autoria são atribuídas a
ele. Será dada ênfase especial a referência de três personagens do Novo
Testamento que aparecem em suas obras e a discussão que gira em torno
dessas referências.
Flavio Josefo: Vida
Josefo nasceu no ano 37 EC. Seu nome de nascimento era José ben
Matias, e ele descendia de uma das famílias sacerdotais mais populares em
Jerusalém. Sua mãe era descendente da família real hasmonea, mais
popularmente conhecida como “macabeus”. A própria descrição de Josefo de
sua infância revela talvez mais de seu conceito do que os fatos propriamente
ditos:

“Enquanto eu era um simples garoto, por volta dos catorze anos


de idade, eu ganhei a aprovação universal pelo meu amor às
letras; de maneira que o principal dos sacerdotes e os líderes da
cidade constantemente vinham a mim por informações precisas
em algumas das nossas ordenanças particulares” (WARNER,
1990, p. 70).

Josefo, então investigou os ensinos de três das principais “seitas” judaicas


de seus dias – os saduceus, os essênios e os fariseus. Ele é uma das principais

2 Esse é claramente, um termo cristão baseado na crença de que o Novo Testamento é uma
segunda coleção de revelações de Deus seguinte às Escrituras hebraicas (o Antigo Testamento).
Em alguns círculos a expressão “período do Segundo Templo”, é frequentemente preferida. Esse
termo se refere ao período que começa na reconstrução do templo judeu no final do sexto século
Antes da Era Comum (AEC) e finaliza com sua destruição no ano 70 da Era Comum (EC). Outros
autores estendem o período até a “segunda Revolta Judaica” ou “Revolta de Bar Kokhba” por
volta do ano 135 EC (WISE, 1992, p. 1598).
fontes sobre as crenças desses grupos importantes. Pela idade de dezoito anos,
ele ingressou na seita dos fariseus.
Depois de visitar a Roma, onde provou pela primeira, mas não pela última
vez, a vida romana, ele retornou a Judéia no início da rebelião judaica contra os
romanos. Ele logo foi feito comandante das forças militares na Galiléia e
começou a se preparar para a inevitável invasão das legiões romanas. No ano
67 a.C. as forças de Josefo foram sitiadas pelo exército de Vespasiano na
Fortaleza galileia de chamada Jotapata. Ao contrário de se render, os últimos
dez sobreviventes concordaram em matar-se uns aos outros lançando sortes.
Mas quando Josefo e outro sobrevivente permaneceram, ele persuadiu seu
companheiro a que se rendessem aos romanos e esperassem por misericórdia.
Josefo logo predisse que seu captor, Vespasiano, seria elevado à
condição de imperador de Roma – um evento que de fato transpirou três anos
mais tarde. Pelo restante da guerra, Josefo acompanhou Vespasiano e
posteriormente seu filho, Tito, até que Jerusalém foi conquistada e queimada no
ano 70 d.C. Por tanto, ele foi uma testemunha ocular dos trágicos eventos que
ocorreram e nos proporcionada um relato em primeira mão como um antigo
correspondente de guerra judeu.
Seguinte à guerra, Josefo recebeu a cidadania romana e tomou o nome
da família de Vespasiano, “Flávio”. Foi proporcionado a ele uma vila próximo a
Roma, onde ele gastou o resto dos seus dias escrevendo obras históricas,
biográficas e apologéticas antes de falecer próximo ao fim do primeiro século
(FELDMAN, 1992, p. 982).

Flavio Josefo: Obras

Josefo compôs quatro obras diferentes: uma é biográfica; uma é


apologética; e duas são históricas.
Vida
Essa não é verdadeiramente uma autobiografia mas, principalmente, uma
defesa de suas ações em Jotapata durante a guerra. Ele descreve seus
primeiros 25 anos em duas páginas e devota o restante do espaço à sua conduta
durante os primeiros meses da rebelião contra Roma. Dos escritos de Josefo
esse é o de menor valor (WARNER, 1990, p. 70, 71).
Contra Apion
Apion foi um gentio antisemita que havia primeiramente lançado um
ataque difamatório contra os judeus antes do imperador Calígula. Josefo
defende brilhantemente seu povo e suas Escrituras respondendo as alegações
de uma maneira mais interessante e persuasiva (WARNER, 1990, p. 71). Essa
obra pode ser considerada o seu maior tratado apologético.
Guerras Judaicas
Corretamente considerada a obra maestro de Josefo, esse é seu
testemunho ocular, vívido, da primeira revolta judaica contra os romanos (66-73
d.C.). É frequentemente referido pelo seu título em latim Bellum Judaicus, ou
“B.J.” para abreviar. Às vezes é publicado separadamente e é uma fonte primaria
de valor incalculável sobre a topografia de Jerusalém. Também contém uma
descrição da fortaleza de Masada e o suicídio em massa dos soldados judeus
que aconteceu ali (WARNER, 1990, p. 71-72).
Essa obra, está dividida em sete livros: I, o período de Antíoco Epifânio
até Herodes, o Grande; II, de 4 AD até 66 AD, cobrindo os primeiros eventos da
guerra; III, acontecimentos na Galiléia em 67 AD; IV, o curso da guerra até o
cerco de Jerusalém; V e VI, a investida e a queda de Jerusalém; e VII, os
resultados da rebelião (JUNIOR, 2007, p. 93).
Antiguidades
É a obra mais extensa de Josefo e está dividida em 20 livros. Traça a
história do povo judeu desde as suas raízes bíblicas até o início da guerra em 65
EC. Seu tratamento dos relatos do Antigo Testamento é algumas vezes simples,
quase reproduzindo o texto bíblico palavra por palavra. No entanto,
frequentemente ele acrescenta muitos detalhes, e em outras vezes ele faz
flagrantes omissões (WARNER, 1990, p. 72).
A quantidade de informações relativas à Bíblia e a história do povo judeu
fornecidas por Josefo, são muitas.

Josefo e o Novo Testamento

As contribuições de Josefo interpretação do mundo do NT, são


extremamente relevantes. Não se deve esquecer que “as razões mais óbvias
para o interesse cristão em Josefo é que ele menciona três personalidades
proeminentes do NT: João Batista, Tiago o irmão de Jesus, e o próprio Jesus”
(MASON, 1992, p. 110, tradução livre).3
O que será visto a seguir portanto, é como Josefo apresenta esses
personagens em suas obras e o debate gerado em torno desses testemunhos.
João Batista
Ao discutir sobre a vida de Herodes Antipas especialmente no que diz
respeito à sua relação adúltera com a mulher do próprio irmão, Josefo cita João
Batista.
Josefo relata que a paixão de Antipas pela esposa do seu irmão, o levou
a abandonar a sua própria esposa que era a filha do rei Aretas IV, seu vizinho.
Já havia uma indisposição de Aretas com relação a Antipas pelo fato de uma
disputa territorial, e ao saber da atitude de Herodes com relação à sua filha, ele
reúne seu exército e se lança em uma batalha contra Antipas na qual acabou
infringindo severas perdas ao exército de Antipas. Josefo (Antiguidades
XVIII.5.2)4 comenta da seguinte forma
“Mas para alguns dos judeus a destruição do exército de
Herodes pareceu ser uma vingança divina, e certamente uma
justa vingança, pelo seu tratamento para com João, apelidado
de Batista. Por Herodes tê-lo levado à morte, ainda que ele fosse
um bom homem e houvesse exortado os judeus a viver de
maneira justa, praticar a justiça para com seus semelhantes e
piedade para com Deus, e ao fazê-lo entrar no batismo”

O relato de Josefo parece estar de acordo com o testemunho bíblico, o


qual apresenta João como sendo um pregador (Mt 3:1), que exortava as pessoas
a uma vida santa, justa e piedosa (Mt 3:2,7-10) e que batizava (Mt 3:11).
Também está em harmonia ao relatar que Herodes deu cabo à vida de João (Mt
14:1-12), afirmando
“ainda que João, por causa das suspeitas de Herodes, fora posto
em cadeias na fortaleza de Maquero, que já mencionamos
previamente, e ali fora morto, ainda assim o veredito dos judeus
foi que a destruição que visitou o exército de Herodes foi uma
vindicação de João, dado que Deus achou por bem infringir tal
golpe sobre Herodes” (Ant. 18.116–119, LCL)

3 “The most obvious reason for Christian interest in Josephus is that he mentions three prominent
NT personalities: John the Baptist, Jesus, and Jesus’ brother James.”
4 As referências de Josefo utilizadas nesse artigo estão baseadas na tradução de WHISTON, W.

(Trad.). The works of Josephus: complete and unabridged. Peabody: Hendrickson Publishers,
1987. A versão em portugues será a versão de PEDROSO, V.; (Trad.). História dos hebreus:
de Abraão à queda de Jerusalém. 8 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004.
Certos especialistas encontram um problema nas diferentes razões dadas
para a prisão de João. Josefo diz que foi por causa da grande eloquência do
pregador. Em um período marcado pelos sucessivos movimentos populares que
deixavam as autoridades muito nervosas, sua popularidade certamente parecia
conduzir os líderes a distúrbios. Assim como os governadores romanos da
Judeia não hesitavam em destruir tais movimentos na própria Judéia, da mesma
forma o tetrarca da Galiléia e Peréia achou melhor remover esse grupo pela raiz
ao destruir seu líder (MANSON, 1992, p. 111).
Esses especialistas duvidam da autenticidade da referência a João
Batista, dado que a linguagem é particularmente típica dessa parte das
Antiguidades.
Comentando sobre o assunto, Feldman argumenta que (2000, ) se um
cristão a interpolou, é difícil explicar porque ele fez quase o dobro maior do que
a passagem sobre Jesus; porque ele teria contradito o relato dos evangelhos do
motivo de João haver sido morto por Herodes Antipas; e por que ele não teria
dito nada sobre a conexão de João com Jesus.
Os evangelhos por sua parte, afirmam que Antipas matou João por causa
da pregação que denunciava o casamento ilegal do tetrarca com sua cunhada:
“Pois João lhe dizia: Não te é lícito possuir a mulher de teu irmão” (Mc 6:18; Mt
14:4; Lc 3:19, RA 1993).
Um primeiro ponto seria que as afirmações não são exclusivistas.
Portanto, uma explicação poderia ser o fato de que João havia se tornado mui
estimado entre o povo judeu, e o teor de sua pregação envolvia inclusive a
relação imoral de Herodes. Sendo assim, Herodes vendo-se acusado por João,
e temendo ser de alguma forma prejudicado, decidiu prender João com o intuito
de fazê-lo silenciar, utilizando o pretexto de que ele poderia ser um rebelde que
ameaçava o governo.
O que pode ser visto portanto, é que na visão de Josefo, João Batista era
um homem bom, que ensinava a virtude que era respeitado entre os judeus e
que foi morto injustamente por Herodes. No que está relacionado à causa de sua
prisão, os pontos podem não ser contraditórios e sim complementários.
Tiago, o irmão de Jesus
Uma das personalidades mais influentes da igreja primitiva foi Tiago5, o
irmão de Jesus e é um dos poucos personagens da igreja primitiva ao qual
Josefo cita diretamente.
Josefo menciona a Tiago próximo ao final de suas Antiguidades, enquanto
discute os eventos políticos na Judeia em meados de 60 EC. O governador
Pórcio Festo havia morrido em atividade (62 EC), e o imperador Nero enviou
Albino para substituí-lo (62-64 EC). No mesmo período, o rei Agripa II, a quem
havia sido garantido o controle sobre o sumo sacerdócio, outorgou essa função
a Ananias II. Apesar de que Josefo houvesse elogiado as virtudes desse homem
em Guerras, aqui ele deseja expor as ilegalidades de muitos líderes judeus antes
da revolta, para explicar a causa da catástrofe. Assim ele introduz a Ananias II
como um indivíduo imprudente e impertinente (MASON, 1992, p. 113). Josefo
(Antiguidades, XX.9.1) relata a ação de Ananias da seguinte maneira

Ele aproveitou o tempo da morte de Festo, e Albino ainda não


tinha chegado, para reunir um conselho, diante do qual fez
comparecer Tiago, irmão de Jesus, chamado Cristo, e alguns
outros; acusou-os de terem desobedecido às leis e os condenou
ao apedrejamento. Esse ato desagradou muito a todos os
habitantes de Jerusalém, que eram piedosos e tinham
verdadeiro amor pela observância de nossas leis. Mandaram
secretamente pedir ao rei Agripa que ordenasse a Anano, nada
mais fazer de semelhante, pois o que ele fizera, não se podia
desculpar. Alguns deles foram à presença de Albino, que então
tinha partido de Alexandria, para informá-lo do que se havia
passado e dizer-lhe que Anano não podia nem devia ter reunido
aquele conselho sem sua licença.

Percebe-se que Josefo “diz muito pouco sobre esse homem [Tiago], mas
o fato de que ele o menciona incidentalmente é um forte apoio para a
autenticidade da passagem. Nenhum copista tentou converter essa passagem
em uma confissão religiosa de qualquer espécie” (MASON, 1992, p. 116,

5 Tiago é identificado como o “irmão do Senhor” (Gl 1:19), uma “coluna” da igreja de Jerusalém
(Gl 2:9), um participante na reunião(ões) em Jerusalém (Gl 2:1-10; At 15:1-20), e como alguém
que viu o Senhor ressuscitado (1Co 15:7). Geralmente é aceito que o homem mencionado por
Paulo em 1Co 15:7; Gl 1:19; 2:9,12 é o mesmo referido em Atos 12:17; 15:13; 21:18. Como “o
irmão do Senhor,” essa pessoa é igualada também com o Tiago de Marcos 6:3 (Mt 13:55) e
Tiago 1:1 e Judas 1 (GILLMAN, 1992, p. 620).
tradução livre)6. Ademais, “praticamente todos os acadêmicos aceitam sua
autenticidade” (FELDMAN, 2000, p. 301 ), o que torna essa passagem,
altamente confiável.
Jesus
Josefo se refere a Jesus pelo menos duas vezes. A primeira e mais breve
delas, está localizada no contexto da referência a Tiago7 “o irmão de Jesus,
chamado Cristo”. Aqui pode ser identificada uma conexão íntima entre Jesus e
Tiago, assim como a crença de parte de alguns que Jesus era o Messias
(HABERMAS, 1996, p. 192).
No entanto, o parágrafo mais conhecido e disputado das obras de Josefo,
referentes a Jesus, sem dúvida é o testimonium flavianum ou testemunho de
Flávio. O texto está preservado da seguinte maneira:

Nesse mesmo tempo, apareceu Jesus, que era um homem


sábio, se é que podemos considerá-lo simplesmente um
homem, tão admiráveis eram as suas obras. Ele ensinava os que
tinham prazer em ser instruídos na verdade e foi seguido não
somente por muito judeus, mas também por muitos gentios. Ele
era o Cristo. Os mais ilustres dentre os de nossa nação
acusaram-no perante Pilatos, e este ordenou que o
crucificassem. Os que o haviam amado durante a sua vida não
o abandonaram depois da morte. Ele lhes apareceu
ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos profetas
haviam predito, dizendo também que ele faria muitos outros
milagres. É dele que os cristãos, os quais vemos ainda hoje,
tiraram o seu nome (Antiguidades, XVIII.3.4)

Dada a escassez de referências históricas a Jesus, fora dos evangelhos


(LEA; BLACK, 2003, p. 86), esse texto se torna importante não somente pelo seu
conteúdo, mas também pela forma como ele descreve a Jesus. Josefo se refere
a Jesus como um homem sábio que realizou “obras admiráveis” e declara que
depois da sua crucifixão “apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia”.
As declarações desse texto são tão extraordinárias a ponto de muitos
eruditos considerarem esses comentários como sendo uma interpolação8 dentro

6 “says very little about this man, but the fact that he mentions him incidentally is strong support
for the authenticity of the passage. No copyist has tried to turn this passage into a religious
confession of any sort.”
7 A referência já foi citada anteriormente na alusão que Josefo faz a Tiago.
8 Interpolação é a inserção ou inclusão deliberada de uma ou mais palavras em uma determinado

passagem, alterando de alguma maneira o sentido do texto.


no texto (LEA; BLACK, 2003, p. 86), no entanto outros especialistas tem apoiado
o final original (DANIEL-ROPS, 1962, p. 21).
Edwin Yamauchi afirma que “atualmente existe um notável consenso
entre os eruditos judeus e cristãos que a passagem completa é autêntica ainda
que possam haver algumas interpolações” (STROBEL, 2000, p. 92, tradução
livre).9
Existem boas indicações de que a maioria do texto é genuína. Não há
evidencia textual contra essa ideia, pelo contrário, existe boa evidência dos
manuscritos para essa declaração sobre Jesus. Adicionalmente, os principais
estudiosos sobre as obras de Josefo tem testificado que essa porção está escrita
no estilo do escritor judeu. Dessa maneira, se conclui que existem boas razões
para aceitar essa versão da declaração de Josefo sobre Jesus, com
modificações de palavras questionáveis. De fato, é possível que essas
modificações possam ser precisamente determinadas (HABERMAS, 1996, p.
193).
Essas modificações foram analisadas pelo professor Schlomo Pines
(apud HABERMAS, 1996, p. 193),10 em 1972, que após a investigação, retirando
todas as possíveis interpolações, pôde concluir com base no testimonium
flavianum que: Jesus foi conhecido como um homem sábio e virtuoso, alguém
reconhecido por sua boa conduta; ele teve muitos discípulos, ambos judeus e
gentios; Pilatos o condenou à morte, sendo a crucificação o modo pelo qual se
deu a execução. Os discípulos relataram que ele ressuscitou dos mortos e
apareceu a eles no terceiro dia após a sua crucificação. Consequentemente os
discípulos continuaram a proclamar seus ensinos. Bruce (2000, p. 112)
apresenta uma lista de fatos similar a essa, extraída do mesmo testemunho de
Flávio Josefo.
Considerações finais
As menções que Josefo faz de personalidades emblemáticas para o
cristianismo faz dele uma das principais fontes extra bíblicas para a
compreensão do mundo do Novo Testamento.

9 “hoy día hay un notable consenso entre los eruditos judíos y cristianos de que el pasaje
completo es auténtico, aunque haya algunas interpolaciones.”
10 Para uma análise detalhada da declaração, consultar a obra HABERMAS, G. The historical

Jesus: ancient evidence for the life of Christ. Joplin, Missouri: College Press, 1996.
Nesse sentido, Maier (1994, p. 7) comenta que o valor do historiador judeu
[Josefo] é menor no que respeita ao Antigo Testamento, mas cresce
dramaticamente para o período intertestamentário até se fazer totalmente
indispensável para compreender o marco político, topográfico, social, intelectual
e religioso da era do Novo Testamento.
Se observa que contribuição para a interpretação, se dá de várias formas.
Ele complementa os relatos do Novo Testamento ao proporcionar inumeráveis
detalhes históricos e culturais os quais lançam luz sobre muitos personagens e
eventos. Também fala de muitos dos principais personagens não cristãos no
Novo Testamento tais como: Herodes o Grande (Mt 2), seu filho Herodes Antipas
(Mc 6:14–29), seu neto Herodes Agripa (Atos 12), e seu bisneto Agripa II (Atos
26). Descreve o governo de Pôncio Pilatos, assim como detalha o magnífico
Templo Herodiano em Jerusalém. Enquanto conduzem suas escavações, os
arqueólogos tem continuamente elogiado a descrição precisa que Josefo faz da
Jerusalém do período do Novo Testamento (WARNER, 1990, p. 71-72).11
Após quase 2.000 anos desde a sua composição, as obras de Josefo
continuam sendo relevantes. Aqueles que as consultam, se acharão
grandemente enriquecidos não somente pela quantidade de informação contida
ali, mas também por seu estilo claro e convidativo. A história e a teologia têm
uma dívida de gratidão para com o comandante, apologista, escritor e historiador
judeu Flávio Josefo.

Referências
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life of Christ. London: Burns & Oakes, 1962.

11As obras de Josefo, especialmente Vida e Guerras, estão cheias de alusões, e algumas
vezes descrições completas da Galileia, suas cidades, vilas e povoados (AVIAM;
RICHARDSON, p. 177)
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