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Rabote 1 : Uma Amalgama chamado Jesus

João Valerio Scremin 2

1. Introdução

Jesus é um personagem ímpar e singular na história e na teologia

cristã mundial. Ele foi uma pessoa que dividiu e ainda divide a

humanidade, por meio da reprodução de seu discurso, contidos na Bíblia,

e que intriga a muitos e fascinam outros tantos a procurar entender esse,

Filho de Deus, sua pregação e seus ensinamentos.

Ao narrarmos sobre Jesus, sua vida e sua personalidade e as

conseqüências de suas pregações, não nos propomos a fazer uma

biografia 3 , no entanto, não deixamos de seguir as orientações de Jacques

Le Goff (1989), acerca de, como se deve escrever uma biografia

histórica, segundo este autor, a biografia histórica está articulada em

torno de acontecimentos tanto individuais quanto coletivos.

Ao analisar a ordem em que um discurso é produzido sobre

determinado acontecimento, fato ou pessoa, Foucault (2007, p. 10)

observa que independente do modo como o discurso é feito, ele revela

logo “sua ligação com o desejo e com o poder”, assim ele – o discurso -,

não é a simples manifestação do desejo, nem tão pouco a simples

1
Plaina grande para desbastar madeira.
2
Mestre em Educação pela UNICAMP, Graduado em História pela UNIMEP. Professor de História,
Teologia, Ética e Cidadania.
3
De acordo com Sofia Rosado (2005, p.1) Termo etimologicamente composto por bio- (indicativo da
ideia de “vida”, com origem no grego bíos) e -grafia (de grafo [+ sufixo –ia], elemento de composição
culta, que traduz as ideias de “escrever” e “descrever”, com origem no grego grápho-, “escrever”). O
género biografia é um ramo da literatura que se dedica à descrição ou narração da vida de alguém que se
notabilizou de alguma forma.

1
tradução das lutas dos sistemas de dominação, mas se constitui no objeto

do desejo e na luta para se apoderar do poder.

Pearlman (2001), ao analisar as doutrinas contidas na Bíblia e

suas relações com o cristianismo, destaca que os evangelistas escreveram

seus relatos de diversos pontos de vista o que denota uma distinção sobre

a pessoa de Jesus, ou seja, a diferenças entre as narrativas. Para este

autor os evangelistas não pretenderam escrever uma biografia completa

sobre o Cristo, mas escolheram os discursos que destacavam o caráter

messiânico de Jesus.

Piovesan (2007, p. 06), destaca que o historiador deve ter como

foco a “reconstrução dos relatos, da trajetória cultural de um

determinado grupo, ou ainda, das forças que constituem o campo social”.

Assim, nesse trabalho, objetivamos estabelecer os relatos contidos nas

Escrituras Sagradas, entendendo, essas, como relatos de uma

possibilidade de abordagem, acerca de Jesus e da sociedade, em que ele,

estava inserido, bem como as forças que estavam sendo tensionadas, para

a construção de um possível campo social novo, ou seja, a constituição

de uma nova religião, o cristianismo.

Observa-se que há duas apresentações nos Evangelhos sobre a

genealogia de Jesus. Uma elas está logo no início do livro de Mateus,

capítulo 1, versículo 17 e se refere a uma suposta linhagem real de Jesus

por intermédio de José, seu pai, apresentando-o como descendente do Rei

Davi (SHEDD, 1997, p. 1328). Há outra apresentação encontra-se

registrada no Evangelho de Lucas, no capítulo 3, versículo 23 ao 38 e

fala da linhagem de Maria que também descende de Davi (SHEDD, 1997,

p. 1429).

2
Mateus, sinteticamente, menciona uma totalidade de 46

antepassados que teriam vivido até, aproximadamente, dois mil anos

antes de Jesus, começando por Abraão. Em seu relato, o apóstolo cita não

somente os heróis da fé (SHEDD, 1997, p. 1719) não deixando de

mencionar os nomes das mulheres estrangeiras que fizeram parte da

genealogia, tanto de Jesus quanto de Davi, a saber, Rute, Raabe e Tamar.

Também não omite os nomes dos perversos Manassés e Abias, ou

de pessoas que não alcançaram destaque nas Escrituras judaicas

(SHEDD, 1997, p. 1328). Assim, o Evangelho de Mateus, divide a

genealogia de Jesus em três grupos de catorze gerações: de Abraão até

Davi, de Davi até o cativeiro babilônico ocorrido em 586 a.C. e do exílio

judaico até Jesus.

De acordo com a Bíblia Shedd (1997, p. 1429), Lucas aborda a

genealogia de Jesus a partir de sua mãe retrocedendo continuamente até

Adão, talvez com o objetivo de mostrar o lado humano de Jesus. E,

superando Mateus, Lucas fornece um número maior de antepassados de

Jesus.

2. O homem
Yeshua ( ‫ )ע ו ש י‬4 é considerado por muitos ser o nome hebraico ou

aramaico de Jesus. Este nome é usado principalmente pelos judeus-

messiânicos. O nome "Yeshua" deriva-se de uma raiz hebraica formada

por quatro letras – ‫עושי‬ (Yod, Shin, Vav e Ain) - que significa salvar,

4
O nome árabe para Jesus usado pelos cristãos, Yasu’a – ‫يسوع‬, sendo derivada de “Yeshua” (ou seja, a
mesma coisa se considerarmos que esta letra "a" que aparece aqui no árabe tem som de "e", como em
mohamed, e se considerarmos também o "s" xiado), mas não é o nome usado para "Jesus" no Alcorão e
em outras fontes muçulmanas. O nome tradicional para Jesus é “‘Isa” (‫عيسى‬, Ayn – Ya – Sin – Ya).
Aparentemente este nome lembra o nome hebraico de Esaú – ‫( וישע‬ESAV, Ain – Shin – Vav). Sabe-se
que este nome árabe citado no Alcorão para Jesus é realmente derivado do aramaico “Yeshua'”, qual
considera também ser o nome original de "Jesus".

3
sendo muito parecido com a palavra hebraica para salvação – ‫העושי‬,

yeshuah – e é considerado também uma forma reduzida pós-exilio

babilônico do nome de Josué em hebraico – ‫עשוהי‬, Yehoshua – que

significa, o Eterno salva.

Essa forma reduzida era muito comum na Bíblia hebraica ou

Tanakh 5 , que cita dez indivíduos que tinham este nome, como

observamos nos escritos de de Esdras capítulo 2, versículo 2 e no 3,

versículo 2 e Neemias 12:10 (SHEDD, 1997, p. 669 e 702).

A afirmação de que a forma Yeshua é o nome original de "Jesus"

tem sido muito debatida, alguns afirmam que era Yehoshua ou que a

própria forma grega do nome “Jesus” era usada entre os crentes

primitivos, principalmente as comunidades existentes em Israel que

tinham no grego sua língua ofícial. Durante o período helenístico e

posteriormente, sempre afirmaram que os manuscritos originais do Novo

Testamento foram escritos primariamente em Grego.

De qualquer maneira, já se tem provas explícitas de que Jesus e

seus discípulos que viviam em Israel naquele período, falavam Aramaico

ou um tipo de Hebraico-Aramaico. Mackenzie (1983) de acordo com

Eusébio de Cesareia (265 – 339 d.C.) relata que Mateus e João

escreveram seus evangelhos na língua hebraica, um termo que era usado

referente a um dialeto do Aramaico ou a língua hebraica propriamente

dita 6 . Mackenzie (1983) destaca ainda que na Septuaginta e na língua


5
A palavra Tanakh ou Tanach (em hebraico ‫ )ך״נת‬é um acrônimo utilizado dentro do judaísmo para
denominar seu conjunto principal de livros sagrados, sendo o mais próximo do que se pode chamar de
uma Bíblia Judaica. O conteúdo do Tanakh é equivalente ao Antigo Testamento, porém com outra
divisão. A palavra é formada pelas sílabas iniciais das três porções que a constituem, a saber: A Torá (
‫)תורה‬, também chamado ‫( שומח‬Chumash, isto é "Os cinco") refere-se aos cinco livros conhecidos como
Pentateuco), o mais importante dos livros do judaísmo. Neviim (‫" )םיאיבנ‬Profetas" Kethuvim (‫" )םיבותכ‬os
Escritos". O Tanach é às vezes chamado de Mikrá (‫)ארקמ‬.
6
Artioli (2005, p. 22) destaca que com a interpretação alegórica, a História do povo judeu, narrada na
Bíblia, tornou-se parte da História da humanidade. Antigo e Novo Testamentos espelham os
acontecimentos de todos os tempos, permitindo que o cristianismo concebesse a História sagrada como
algo universal, isto é, englobando todos os tempos, todos os espaços e também todos os povos.39 As

4
grega usada em textos judaicos como os escritos de Josefo e de Fílon de

Alexandria, Ιησούς (Iēsoûs), foi a forma padrão grega do nome hebraico

“Josué” - ‫( עשוהי‬Yehoshua) 7 .

Todas as pessoas chamadas pelo nome de "Yeshua" (Jesuá nas

Bíblias portuguesas) citados anteriormente, sempre foram traduzidos

também como Iēsoûs ou primeiramente na forma Iēsoua´. Demonstrando

ser realmente uma forma reduzida do nome “ Josué” – Yehoshua – usado

no dialeto falado durante tempo de Esdras e Neemias, Yeshua foi o nome

preferido para o filho de "José" (Yosseph). As ocorrências desta forma

reduzida se encontram nos livros de Crônicas, Esdras e Neemias. Dois

são citados em outros livros bíblicos, mas na sua forma original –

Yehoshua (Josué filho de Nun e Josué filho de Jozadaque). Esta forma

reduzida do nome é usada por Jesus filho de Sirá em fragmentos

hebraicos do Livro de Sirá ou conhecido também como Eclesiástico .

Baseados numa comparação destes textos, acadêmicos aceitam o fato de

que este livro de Jesus ben Sirach foi originalmente escrito em hebraico,

deixando evidente nele referências a estes antigos fragmentos hebraicos

oiginais 8 .

obras históricas, que floresceram a partir do século III, como a de Eusébio de Cesaréia (c.265-330),
escrita em grego, que resume a História do mundo até 324 d.C., e que foi traduzida para o latim e
continuada até o ano 381 por São Jerônimo (†420), comprovam o caráter universal que os cristãos
atribuíam à História. Tais obras buscam conciliar as Histórias de todos os povos em uma única, aquela
que se inicia com a criação do mundo e que terminará com o Juízo Final, criando uma correspondência
cronológica entre os principais acontecimentos históricos de toda a humanidade.
7
Um argumento a favor da originalidade da forma “Yeshua” pode ser encontrada no fato do uso dessa na
Antiga Bíblia Siríaca (composta no séc. III d.C.). A Peshitta (versão aramaica do Novo Testamento) usa
também a forma “Yeshua” em seus escritos. A moderna pronúncia do Síriaco deste nome é Eeshoo,
Yishuh, ou seja, temos o testemunho árabe da problemática da letra "E", e do "A" final - como visto no
sobrenome citado acima; mas sua pronúncia antiga era similar a “Yeshua”(i-êi-shú-ah). Com isso, pode-se
argumentar que os falantes do Aramaico, que usavam este nome na sua forma “Yeshua”, escreveram-na
em seus escritos e evangelhos afim de preservar o nome original de "Jesus" usados por eles.

8
Se isso for verdadeiro, pode-se estender a evidência do uso do nome Yeshua até o século II a.C..
Nenhum uso do nome Yeshua é achado no Talmud, exceto em citações literais da Bíblia hebraica quando
esta cita Josué filho de Jozadaque. Porém o nome Yehoshua foi muito utilizado durante o período dos
Hasmoneus e até um pouco depois. Ao referir-se a "Jesus", o Talmud o chama de "Yeshu", pois podemos
ler no Talmude Babilônico a acusação dos judeus contra Ele: "Na véspera da Páscoa eles penduraram

5
Este ensaio está longe de se propor a esgotar o assunto acerca de

Jesus, pelo contrário, a intenção é abrir um debate sobre o processo

envolvendo sua vida e as categorias que compunham sua dúbia pessoa.

Procuram-se, entender alguns aspectos de sua personalidade, seu

cotidiano e sua época e obscura condenação à luz das Sagradas

Escrituras, a qual o trata como profeta, sacerdote e um sujeito que se

sacrificou por uma vontade divina, tornando-se inimigo de sua própria

sociedade, mas, mesmo assim, morreu por ela.

Jesus era particularmente uma amalgama e uma incógnita em seu

tempo e, é, até os dias de hoje, um sujeito indecifrável.

Para o historiador Flávio Josefo, que viveu entre 37 e 103 d.C.

Jesus era um homem, não só dotado de uma sabedoria humana, mas uma

pessoa que era difícil de ser interpolada. Em sua obra Antiguidade

Judaicas, destaca-se:

Nesse mesmo tempo, apareceu Jesus que era um homem sábio, se é


que podemos considerá-lo simplesmente um homem, tão admiráveis
eram as suas obras. Ele ensinava os que tinham prazer em ser
instruídos na verdade e foi seguido por muitos judeus, mas também
por muitos gentios. Ele era o CRISTO (2008, p. 832).

Quanto a sua condenação de Jesus e sua messianidade, Josefo

esclarece que

Os mais ilustres dentre os de nossa nação acusaram-no perante


Pilatos, e este ordenou que o crucificassem. Os que o havia
amado durante a vida não o abandonaram depois da morte. Ele
lhes apareceu ressuscitado e vivo no terceiro dia, como os santos
profetas haviam predito, dizendo também que ele faria muitos

Yeshu [...] ia ser apedrejado por prática de magia e por enganar Israel e fazê-lo se desviar [...] e eles o
penduraram na véspera da Páscoa." (Talmude Babilônico, Sanhedrim 43a). Nos relatos de Toledoth
Yeshu, elementos dos Evangelhos sobre Jesus são conflitados com descrições dos indivíduos chamados
pelo nome de “Yeshu” no Talmud. A diminuição, por assim dizer, do sotaque galileu, que pronunciou
YESHU, se deu devido sua dificuldade de falar a letra final gutural. Isso também podemos detectar em
nomes de pessoas árabes, como por exemplo o sobrenome IACHOUH (pronuncia-se: i-ê-shú, ou às vezes
i-ê-shú-ah).

6
outros milagres. É dele que os cristãos, os quais vemos ainda
hoje, tiraram o seu nome (2008, p. 832).

Em contraponto a reflexão expostas sobre a obra de Josefo,

Nabeto (2003, p.1) esclarece que existem duas versões distintas sobre

esse trecho, uma mais antiga, em língua grega, que testemunha a

messianidade de Jesus, e uma tradução árabe que omite tal afirmativa.

Segundo esse autor,

alguns estudiosos afirmam que o testemunho da messianidade


não se deve à pena de Josefo, tratando-se de uma interpolação
acrescentada posteriormente por mão cristã; ocorre que o
testemunho está presente em todos os códices e em
concordância com o estilo de Josefo, motivo pelo qual boa parte
dos estudiosos consideram o texto integralmente genuíno (2003,
p.1).

No texto grego, destaca-se que ele apareceu vivo, após três dias

de sua morte, entre seus discípulos ou seguidores. Porém como destacou

Nabeto (2003), a versão árabe difere quanto essa afirmação, sobre a

ressurreição do Cristo. De acordo com essa versão

Naquela época vivia Jesus, homem sábio, de excelente conduta e


virtude reconhecida. Muitos judeus e homens de outras nações
converteram-se em seus discípulos. Pilatos ordenou que fosse
crucificado e morto, mas aqueles que foram seus discípulos não
voltaram atrás e afirmaram que ele lhes havia aparecido três dias após
sua crucificação: estava vivo. Talvez ele fosse o Messias sobre o qual
os profetas anunciaram coisas maravilhosas (2003, p.1).

Tanto a versão de Josefo quanto os esclarecimentos feito por

Nabeto (2003) são pertinentes e fundamentais para a reflexão proposta

por este estudo, mas não essenciais 9 para se discutir a pessoa de Cristo.
9
Fundamental e essencial são aqui interpretado como conceitos distintos que se complementam.
Fundamental, como algo que me faz chegar até o essencial. Assim, os estudos debatidos são fundamentais
para se chegar a uma reflexão plausível sobre a pessoa de Jesus, essencial para o trabalho ora proposto.

7
3. A profecia

Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim

destruir, mas cumprir (Mateus 04: 17)

Segundo Buckland (1998), na sociedade cristã, interpreta-se como

profeta alguém encarregado por Deus para tornar sua vontade conhecida

ao homem. A palavra profeta tem sua origem no grego: πρoφήτης –

prophétes –, que significa em uma de suas interpretações, aquela pessoa

que supostamente, é dotada da capaciadade de predizer acontecimentos

futuros ou ainda uma pessoa que fala por inspiração divina ou em nome

de Deus. O nome profeta “representa a paalvra hebraica chozeh, que

propriamente significa ‘vidente’, e refere-se àqueles que tem visões”

(BUCKLAND, 1998, p. 360)

No livro de Deuternômio, capítulo 18, notamos o destaque e a

importância que é atribuida ao profeta, tanto que, aos falsos profetas

aplicava-se, incontestavelmente, de acordo com a Lei Moisaica, a pena

de morte. Como observamos na passagem deuterônomica, que diz: “O

profeta que presumir de falar alguma palavra em meu nome, que eu lhe

não mandei falar, ou o que falar em nome de poutros deuses, esse profeta

será morto” (SHEDD, 1997, p. 278).

Buckland (1998) destaca que os profetas, de acordo com os

costumes judaicos, eram escolhidos por Deus e tinham enorme autoridade

religiosa e influência. Normalmente, eles eram tidos como conselheiros e

instrutores da Lei instituidas por Deus, por meio de Moisés.

8
A instituição dos profetas seguiam algumas regras, observamos as

principais delas no livro do Gênesis, que narra a vida de Noé como um

exemplo de profeta, pois era um homem justo, integro entre os seus

contemporâneos e que principalmente andava com Deus, se constituindo,

por essas qualidades, como profeta do diluvio (SHEDD, 1997 e ELIADE,

1983).

De acordo com a definição de Buckland (1998, p. 360), o assim

chamado ministério do profeta, era caracterizado, de acordo com os

quatro Evangelhos, por cinco funções: A pregação ou sermão; o ensino; a

função de mestre, também entendido como didakolos ou professor; o

discipulado; a profecia e, por fim, a operação de milagres. Todas essas

características, estão detalhadas, em especial, nos Evangelhos de Lucas,

Marcos e João.

Segundo Pearlman (1999), Jesus se apresentava como profeta,

quando se autodenominou filho de Deus e revelador da vontade divina,

tanto em relação ao tempo presente quanto acerca dos acontecimentos

futuros. Ainda, de acordo com este autor, como profeta, Jesus pregou a

Salvação que se daria por meio de sua morte na cruz, anunciou o Reino

de Deus, não como um reino terreno, mas como um reino espiritual e

predisse o futuro, quando previu o triunfo de sua causa, “mediante as

mudanças da história humana” (1999, p. 111).

Deve-se separar os chamados profetas, do Sumo Sacerdote de

Israel que, do hebraico ‫ר מ ו כ ה‬, é o nome dado ao mais alto posto religioso

do antigo povo de Israel. Segundo Buckland (1998), o sumo sacerdote

coordenava o culto e os sacríficios, primeiro no tabernáculo, depois no

Templo de Jerusalém. De acordo com a tradição bíblica , apenas os

descendentes de Arão, irmão de Moisés, poderiam ser elevados ao cargo

9
(SHEDD, 1997). Do Latim – expiatione – a palavra expiação é o conceito

que se caracteriza em um dos principais assuntos das Escrituras

Sagradas. A palavra é mais conhecida, no contexto bíblico, como

reconciliação de Deus para com seu povo, remissão de pecados e

obtenção de perdão, por meio do sangue do cordeiro. A importância da

expiação, para os cristãos, se da na crença de que com a queda de Adão

era necessária uma consternação para que a humanidade pudesse ser

salva. Esta aconteceu por intermédio de Jesus Cristo no Jardim do

Getsemani, na cruz do calvário e terminou em sua ressurreição,

permitindo assim, segundo a doutrina cristã, que toda a humanidade

pudesse ser salva.

4. A ponte entre Deus e os homens


De acordo com Buckland (1998), no tocante a morte de Cristo em

prol da humanidade, foi um sacrifício em oferenda do seu sangue e da

sua vida. Ele morreu, não para seu próprio bem, mas para o bem de todos

os outros. Cristo padeceu e sua morte é representada como a penalidade

de nosso pecado, como nosso substituto sacrifical. Ou seja, Cristo

tornou-se, segundo a doutrina cristã, um sacrifício necessário à nossa

redenção ou um sacrifício propiciatório. Essa ação também é

caracterizada como um sacrifício expiatório, um sacrifício propício ou

um ritual. Assim, a morte de Cristo se caracterizou também como uma

reconciliação da humanidade decadente para com Deus, ou seja, o

modelo de reconciliação com Deus por meio de Jesus Cristo.

Tal ação empreendida por Jesus era necessária para a “salvação

do homem” (BUCKLAND, 1998, p. 230). O primeiro capítulo do Gênesis

fala sobre a criação de Deus. Deus criou os céus e a terra e viu que o que

10
estava criando era “bom”. Ele, então, criou o homem e a mulher e os

declarou que eram muito bons. Adão e Eva viviam na terra de Deus sob a

benção de Deus (SHEDD, 1997). As pessoas tinham shalom (paz) com

Deus, umas com as outras e com o meio ambiente.

A palavra hebraica ‫– םולש‬ shalom -, é usada em muitas passagens

da Bíblia. Ela é traduzida para o português como paz. A definição

portuguesa moderna de paz é a ausência de tensão ou guerra. Porém, a

palavra shalom significa mais do que isto. Ela significa integridade e

totalidade com Deus, com os outros e com a criação.

Nota-se, entretanto em Gênesis três, que a criação de Deus foi

danificada pelo pecado (SHEDD, 1997). Desta feita o shalom do jardim

do Éden foi destruído. As relações das pessoas, da humanidade, com

Deus foram rompidas. Isto resultou no rompimento das relações entre as

pessoas e entre as pessoas e o meio ambiente. O resto da Bíblia é um

relato do plano de Deus para restaurar Sua criação – trazer sua criação de

volta para a relação certa com Ele.

Observa-se, esta restauração da humanidade, em Isaías, no

capítulo 9, que narra a profecia sobre a vinda de Jesus. O versículo 6 do

mesmo livro, descreve-o como o “Príncipe da Paz” (SHEDD, 1997, p.

991). Destaca-se que, no Novo Testamento, a idéia hebraica de shalom, é

interpretada como a totalidade na presença de Deus. Shalom, ou paz, vem

por meio da morte de Jesus na cruz. Ele seria desta feita, a promessa de

uma nova aliança de Deus para com a humanidade.

Em Colossenses o apostolo Paulo, traz uma reflexão pertinente a

esta questão dizendo:

porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que,


havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele,

11
reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer
nos céus (SHEDD, 1997, p. 1672).

Nessa dinâmica, o papel de Jesus é trazer as pessoas de volta à

relação certa com Deus, umas com as outras e com a criação como um

todo. Observamos essa afirmação na missiva da Revelação que diz:

“Deus habitará com o seu povo e não haverá mais morte, nem pranto,

nem clamor, nem dor” (SHEDD, 1997, p. 1784).

Segundo Pearlman (1999), aos cristãos ficava a incumbência em

comprometer-se com a reconciliação das pessoas com Deus. Tal

afirmação, feita pelo autor é baseada nos escritos do apostolo São Paulo,

contidos, em sua segunda carta aos Coríntios 5: 18-20, diz que Deus deu

a todos o ministério da reconciliação, e nomeou seus seguidores de

“embaixadores de Cristo” (SHEDD, 1997, p. 1636), cujo objetivo era o

de compartilhar a mensagem de reconciliação com os outros. Este seria o

chamado de todos os seguidores da doutrina cristã: testemunhar, a

salvação em Cristo, para os que ainda não estão reconciliados com Deus.

As Escrituras Sagradas estampam que a reconciliação com os

outros esta intimamente ligada com a reconciliação com Deus, mostrando

também que as relações rotas são as raízes da pobreza, da marginalização

e do conflito. Pode-se observar, na visão cristã, que estamos vivendo

num mundo em que a posição humana, se caracteriza em ser contrária a

Deus, levando o homem e a mulher ao egocentrismo, o qual, por sua vez,

resulta na exclusão, na desconfiança, na ganância e na injustiça. Na

Bíblia cristã a intenção de Deus é que haja reconciliação no seio da

comunidade.

Nesse contexto e contrário ao plano de salvação da humanidade

está, de acordo com a tradição cristã, o principal inimigo do chamado

12
povo de Deus, Satanás ou Satã, do hebraico ‫ט ן‬
ָ‫ש‬ָ , que significa adversário

ou acusador. A palavra ‫ש ָט ן‬
ָ (significando adversário, acusador) assim

como o árabe ‫( انلنشنينطناننن‬shaitan), derivam da raiz semítica š ṭ n , significando

ser hostil, acusar. O Tanakh utiliza a palavra ‫ש ָט ן‬


ָ para se referir a

adversários ou opositores no sentido geral assim como opositores

espirituais.

Sabe-se que na íntegra, não devemos confundir Satanás com

Lúcifer, pois são seres distintos, ou seja, Lúcifer seria o conhecido

portador da luz ou reluzente, do latim Lux fero, Phosphoros e Héspero.

Para os fundamentalistas, ele era um anjo que vivia com Deus e contra

esse se rebelou, juntamente com uma legião de seguidores.

Posteriormente sendo expulso do Céu pelo anjo Gabriel a mando de

Senhor.

Por outro lado, a palavra diabo significa, de acordo com Mckenzi

(1983, p. 852) "acusador", do grego diabolos, podendo se referir

genericamente a qualquer pessoa que acusa e se opõe a outra. Já a

interpretação da figura de Satanás teve uma característica e interpretação

um pouco diferente. Ele simplesmente abandonou Deus e junto levou

também os seus seguidores e todos vieram para a Terra (McKENZI,

1983).

Ao desvirtuar o homem, a intenção do inimigo de Deus era levar a

humanidade, de acordo com a interpretação cristã, a prática de toda a

imoralidade. Segundo Mora (2001, p. 2011), a palavra moral se constitui

em um conjunto de regras de conduta ou hábitos julgados válidos, quer

de modo absoluto, que para grupos ou pessoa determinada. E a ética

significa estudo dos juízos de apreciação (merecimento) referentes à

13
conduta humana, do ponto de vista do bem e do mal. Mais

especificamente, o autor destaca que

Moral deriva de mos, costumes. Em algumas línguas, o moral opõe-se


ao físico, o que explica o fato de as ciências morais compreenderem
em oposição às ciências naturais, tudo àquilo que não é puramente
físico no homem, isto é, tudo aquilo que corresponde às produções do
espírito subjetivo e mesmo o próprio espírito subjetivo (MORA, 2001,
p. 2011).

Ainda segundo Mora, o conceito, moral, deve ser interpretado

como

o oposto ao imoral e ao amoral, na medida em que aquilo que se acha


inserido na esfera da ética se opõe ao que é adversário dessa esfera ou
que se mantém indiferente à ela. Nesse caso, é moral aquilo que se
submete a um valor, ao passo que o imoral e o amoral são,
respectivamente, aquilo que se opõe a todo valor e aquilo que é
indiferente ao valor (MORA, 2001, p. 2011).

Para Jesus, o poder de Deus era maior que o pecado e qualquer

erro, e ele ensinava que o arrependimento e a fé podiam salvar os

homens. Os dez mandamentos, eram o que todos deveriam praticar, mas

os sacerdotes esqueceram disso, praticando coisas para se autogloriarem,

Jesus declarava que veio para cumprir a lei em seus comentários e

ensinamentos sobre a lei, e sua prática.

Na passagem supracitada no início desse estudo, o apóstolo

Mateus, no Capítulo 4, versículo17, está nos dando duas informações

importantíssimas. Primeiro de que Jesus não estava presente para destruir

a lei e segundo que ele também não destruiria os profetas, por fim seu

objetivo era cumprir a lei, em especial os dez mandamentos.

Em Êxodo, capitulo 20, Deus entrega para Moisés, no Monte

Sinai, as duas tábuas da lei, onde constavam os dez mandamentos:

14
Não terás outros deuses diante de mim.
Não farão para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em
cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não te encurvarão diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor
teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos
até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam.
e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os
meus mandamentos.
Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor
não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão.
Lembra-te do dia do sábado, para santificá-lo.
Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho; mas o sétimo dia é o
sábado do Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem
tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem
o teu animal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas.
Porque em seis dias fez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que
neles há, e ao sétimo dia descansou; por isso o Senhor abençoou o dia
do sábado, e o santificou.
Honra o teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na
terra que o Senhor teu Deus te dá.
Não matarás. (este é o menor versículo da bíblia e não: Jesus chorou.)
(João 11: 35).
Não adulterarás.
Não furtarás.
Não dirás falso testemunho contra o teu próximo.
Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu
próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu
jumento, nem coisa alguma do teu próximo (SHEDD, 1997, p. 102).

Jesus resumiu todos estes mandamentos, em Mateus 22,

reduzindo-os a dois, ao ser indagado por um fariseu doutor da lei. Esses

doutores indagarem o mestre Jesus, como observamos na passagem de

Mateus 22: 36-40, que diz

Mestre, qual é o grande mandamento na lei?


Respondeu-lhe Jesus: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.
Este é o grande e primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti
mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (SHEDD,
1997, p. 1368).

Em Lucas 04: 16-21, Jesus confirma que não veio para destruir os

profetas, mas sim, para cumprir as profecias:

15
Indo para Nazaré, onde fora criado; entrou na sinagoga no dia de
sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.
Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías; e abrindo-o, achou o lugar
em que estava escrito:
O Espírito do Senhor está sobre mim, porquanto me ungiu para
anunciar boas novas aos pobres; enviou-me para proclamar libertação
aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os
oprimidos, e para proclamar o ano aceitável do Senhor.
E fechando o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e os olhos de
todos na sinagoga estavam fitos nele.
Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta escritura aos vossos
ouvidos (SHEDD, 1997, p. 1431).

Estes magistrados eram divididos entre os saduceus 1 0 , que

formavam um partido judaico. Estudiosos afirmavam que seu nome vinha

do sacerdote Zadoque, de acordo com as informações contidas em I Rs.

01:08 e I Cr. 29:22 (SHEDD, 1997, p. 478 e 612). Durante mais de um

século antes do nascimento de Jesus Cristo constituíram um importante

partido nacional, todos os sumos sacerdotes, nos tempos do Novo

Testamento eram saduceus.

Buckland (1998) destaca que os saduceus não acreditavam em

ressurreição, para eles as almas morrem com os corpos. Na sua essência,

também não criam na existência de anjos e espírito, mas de acordo com

Atos 23: 06-08 (SHEDD, 1997, 1570), ao se tornarem magistrados,

tiveram que aceitar tal doutrina, para serem tolerados pelo povo.

Em oposição estavam os fariseus 1 1 , que por sua vez, formavam “a

mais importante das escolas judaicas” (BUCKLAND, 1998, p. 157), de

acordo com o livro de Atos 26: 04-05, de caráter religioso, que

10
Segundo Flávio Josefo (2008, p. 827), para os saduceus as almas morrem com os corpos e que a única
coisa que eles eram obrigados a fazer era observar a lei, sendo um ato de virtude não tentar exceder em
sabedoria os que a ensinam. Para o autor os adeptos dessa seita são em pequeno número, mas ela é
composta de pessoas da mais alta condição. Quase sempre nada se fazia sem o seu parecer.
11
De acordo com Josefo (2008, p. 826), a maneira de viver dos fariseus não era fácil nem cheia de
delícias, pelo contrário, era simples. Eles se apegavam obstinadamente ao que se convencia que deveriam
abraçar. Honravam de tal modo os velhos que não ousavam nem mesmo contradizê-los. Josefo (2008, p.
826) destaca, ainda, que os fariseus atribuíam ao destino tudo o que acontecia. De sorte que, sendo, para
os fariseus, tudo feito pela ordem de Deus, dependia, no entanto, da vontade do homem se entregar aos
vícios e virtudes. Para os fariseus a alma é imortal, julgadas em outro mundo, julgadas e condenadas ou
recompensadas segundo a vida de virtudes ou vícios.

16
funcionaram 150 anos antes de Cristo. Se auto-intitulavam separados de

outros judeus, nos alimentos e nos rituais, porém realmente acreditavam

naquilo que faziam, de acordo com o Evangelho de Mateus no capítulo

23: 25-28.

Em suma, para eles, o jejum 1 2 , as esmolas 1 3 , as abluções (limpeza

do corpo) e as confissões eram suficientes na expiação pelo pecado. Os

pensamentos e desejos não eram pecaminosos, a não ser que fossem

postos em ação. Reconheciam que a alma é imortal e a esperavam futuros

castigos ou futuras recompensas; enfim, acreditavam na existência de

anjos bons e maus e na ressurreição do corpo.

Tendo como base as Escrituras Sagradas pode-se observar, neste

estudo, que Jesus cumpria a lei mosaica à risca, mas os sacerdotes e

sumo sacerdotes, não estavam preocupados em segui-la, pois a

sobrepujando, instituíram uma Moral, contrária aos mandamentos de

Deus, com o intuito de se manterem no poder, principalmente perante o

Império Romano.

É consenso para uma grande gama de pesquisadores que, e m suas

pregações, Jesus anunciava o reino de Deus e afirmava ser ele o próprio

Filho de Deus 1 4 . Também afirmava ter o poder de perdoar pecados, o que

não foi aceito pelos líderes religiosos judaicos, que conspiraram a sua

crucificação. Segundo a Bíblia, Jesus realizou inúmeros milagres e

instruiu a todos em um novo ensino dizendo que o caminho para a vida

eterna não era uma trajetória, mas sim uma pessoa (ele mesmo). Em João

capítulo 14, versículo 6 , nota-se que ele anunciava ser o caminho, a

12
Segundo Buckland (1998, p. 209), havia somente um dia no ano, isto é, o dia da expiação, em que a Lei
prescrevia o jejum a todos os israelitas (Lv. 16: 29 e 31).
13
De acordo com Buckland (1998, p. 142), a palavra esmola (do grego eleêmosynê) repetidas vezes se vê
no Novo Testamento, mas não no Antigo Testamento, embora o dever de dar esmola estivesse bem
determinado na Lei de Moisés.
14
Cf. Evangelho de João 10: 36; Evangelho de Lucas 01: 35.

17
verdade e a vida e que ninguém chegaria ao Pai, Deus, senão por ele

(SHEDD, 1997, p.1512).

Os mestres da Galiléia, tanto os saduceus quanto os fariseus, não

confiavam em Jesus, porque ele não evitava os pecadores. Também o

temiam porque ele parecia modificar certas práticas estabelecidas, seus

discípulos acreditavam ser Jesus o Messias. No evangelho de Mateus

capítulo 16, versículo 16 observa-se que certa vez, quando Jesus

perguntou aos discipulos quem eles pensavam que ele era, Pedro

respondeu: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo" (SHEDD, 1997, p.

1356). Jesus combatia a hipocrisia e a crueldade para com os fracos.

Sentava à mesa com pecadores e por isso foi muito criticado pelos

fariseus. Estava sempre disposto a perdoar, mesmo antes que as pessoas

se mostrassem arrependidas.

Assim, Jesus que tinha uma moral e seguia uma ética 1 5 segundo

os propósitos instituídos por Deus se tornará uma ameaça aos poderosos

e aos religiosos de seu tempo, sendo condenado por estes.

5. A sentença
Mas, como bem nos lembra Varo (2005), devemos ser prudentes

quando estamos tratando da questão acerca da condenação de Jesus, pois

as generalizações precipitadas levam a injustiça e não podemos atribuir

aos judeus a culpabilidade por sua morte. Assim, os cristãos também

causam, por meio do pecado, o suplício de Jesus, como narrado em

Mateus 25: 44 e 45 (SHEDD, 1997, p. 1374).

A principal definição da palavra Justiça seria a virtude de dar a

cada um aquilo que lhe é merecido ou que é seu por direito legal (direito

15
Para Mora (2001, p. 931) o termo ética deriva de costumes, por isso foi frequentemente definida como
doutrina dos costumes.

18
definido nas leis do país). Justiça também seria a faculdade de julgar

segundo o direito e a melhor consciência. É o termo que designa, em

Direito, aquilo que se faz de acordo com o direito. É a faculdade de

julgar segundo o que prescreve a lei, o direito e a razão. É

imparcialidade na interpretação do ordenamento jurídico.

Em se tratando da forma em que Jesus foi condenado, em seu

tempo, Varo (2009, p.1) salienta que as autoridades de Jerusalém se

mostraram inquieta, frente ao personagem controverso de Jesus e que

Las elites imperiales también, ya que en unos tiempos en que


periódicamente había rebrotes de alzamientos contra la ocupación
romana encabezados por líderes locales que apelaban al carácter
propio de los judíos, las noticias que les llegaban acerca de este
maestro que hablaba de prepararse para la llegada de un «reino de
Dios» no resultaban nada tranquilizadoras. Unos y otros estaban, pues,
prevenidos contra él, aunque por diversos motivos (VARO, 2009,
p.1).

De acordo com Varo (2009, p.1),

Parece que houve momentos de dúvida de Pilatos sobre o


procedimento, ainda que finalmente optou por um processo segundo a
fórmula mais habitual nas províncias romanas, a chamada cognitio
extra ordinem, que significava um processo no qual o próprio pretor
determinava o procedimento e ele mesmo ditava a sentença. Isso se
pode concluir de alguns detalhes aparentemente acidentais que
ficaram refletidos nos relatos: Pilatos recebe as acusações, interroga,
se senta no tribunal para ditar a sentença (Jn 19,13; Mt 27,19), e a
condenação à morte na cruz por um delito formal: foi justiciado como
“rei dos judeus” segundo fez-se constar no titulus crucis (VARO,
2009, p.1).

Apesar de a condenação vir de um decreto romano, atendendo a

um pedido do povo incitado por líderes judaicos, Barros (2009, p. 1),

destaca que Jesus, tinha o conhecimento de

que passaria todo aquele sofrimento e que morreria na cruz. Assim,


chamou seus discípulos e fez a santa ceia, oferecendo pão e vinho para
os mesmos. O evangelho segundo Lucas explica essa passagem: "E,
tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto

19
é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.
Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o
cálice da Nova Aliança [ou Novo Pacto] do meu sangue derramado
em favor de vós." (Lucas 22: 19-20). Esses elementos passaram a ser
considerados como o corpo e o sangue de Cristo em busca da vida
eterna (BARROS, 2009, p. 1).

Recorrendo a uma tradição cristã, Pearlman (1999, p. 115),

destaca que existia uma “relação verdadeira entre o homem e seu

Criador” e que essa foi intenrrompida pelo pecado e estando o homem

manchado em seu caráter, por si só ele não é capaz de removê-lo, assim a

liberdade terá que acontecer por parte de Deus. De acordo com o autor,

Jesus ao ser crucificado removeu essa barreira, e este fato é a essência de

sua expiação. Interpretar esse amalgama chamado Jesus é uma tarefa

desafiadora para todo pesquisador que procura entender os discursos

produzidos acerca de sua pessoa.

6. Considerações Finais

Esse artigo procurou abrir um debate sobre o processo da vida de

Jesus, sobre as categorias que compunham sua pessoa. Procurou ainda,

entender alguns aspectos de sua personalidade, sua trajetória, seus

ensinamentos e a significação de sua condenação e morte à luz das

Sagradas Escrituras. Jesus era uma única pessoa que foi tratada como:

homem, como profeta, como sacerdote, interpretado como sacrifício

divino. Tratado como inimigo de sua própria sociedade.

Para Bukland (1998, p. 217), “o mundo pelo que se via estava

amplamente preparado para Cristo”, ou seja, segundo este autor, diversas

20
variantes indicavam que, “Cristo não era um caso isolado, mas um fato

estritamente relacionado com a história da humanidade” (BUKLAND,

1998, p. 217), politicamente e racionado com o auge da expansão e

consolidação do Império Romano, uma nova religião era plenamente

possível, decorrente de fatores como a facilidade na comunicação, visto

que o grego era a língua falada em todo o império.

Segundo Buckland (1998), do ponto de vista dos judeus a

sociedade pagã marchava para a barrocada moral e espiritual, causando

um profundo sentimento de abandono por parte das autoridades

eclesiásticas do período. Estas prerrogativas tornar-se-iam essenciais,

para a expansão dessa nova religião, expressa por Jesus, que respondia

aos anseios, em especial da população oprimida que vivia na região da

Palestina.

Quando procuramos entender todos os aspectos e circunstâncias

que envolviam Jesus, ou seja, a sociedade do período e suas concepções;

suas tradições e suas crenças. Pode-se, perceber que, o Cristo, como ele

foi e é aclamado até os dias atuais era um personagem que intrigava seus

contemporâneos e provoca até hoje debates entre as pessoas que tentam

decifrá-lo. Jesus era uma amalgama.

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