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O PENTATEUCO – OS CINCO LIVROS DA LEI

Os Hebreus chamam torá (Lei) os primeiros cinco livros da Bíblia: gênesis, êxodo, levítico, números
e deuteronômio.

Na tradição cristã, ao invés, estes livros são chamados com o termo grego de Pentateuco.
Literalmente significa: os “cinco estojos”, que continham os rolos de pergaminho no qual eram escritos os
cinco livros. O fato de tê-los reunido, também materialmente, todos juntos, significa sua particular
dignidade, que os distingue de todos os outros livros; e também uma particular unidade entre eles.

Moisés – Autor do Pentateuco?

De onde nasce esta dignidade e esta unidade de fundo? Do fato de a tradição constante de Israel
atribuir, também como composição literária, a Moisés: sobre esta certeza se move o mesmo N.T. (cf. Jo 1,
45; 7,19.22). De outra parte, também se é verdade que estes cinco livros tratam argumentos diferentes,
permanece, entretanto, verdade que Moisés é em tudo isso a figura dominante e unificante: assim, por
exemplo, o mesmo Deuteronômio, que é certamente posterior de vários séculos, é composto de três
grande “discursos”, imaginariamente colocados na boca do grande legislador, para dar a eles maior
dignidade.

Ninguém contestava a autoria de Moisés, até que um biblista notou que o texto do Deuteronômio
34 descrevia a morte de Moisés, o que logicamente não poderia ter sido feito por ele.

Hoje nenhum estudioso atribui mais a Moisés o Pentateuco: permanece verdadeira, porém, a
intuição de fundo que refere a Moisés não só a história dos grandes fatos da libertação de Israel da
escravidão egípcia (Êxodo e livros sucessivos), mas também a revelação religiosa, a mesma estrutura
legislativa do antigo povo de Deus.

Efetivamente, lendo o Pentateuco, nos damos conta facilmente que ele é um magma composto de
estilos literários, de tradições, de teologia, de interpretações diversas, senão algumas vezes claramente
contrastantes.

Assim, por exemplo, temos duas narrações notavelmente divergentes da criação (Gn 1 e Gn 2 – 3);
por duas vezes se narra a aliança de Deus com Abraão (Gn 15 e !7); por três vezes se descreve a
vocação de Moisés (Ex 3.4.6); a narração do milagre do maná e das codornizes, que Deus manda para
matar a fome dos Hebreus no deserto é repetido duas vezes (Ex 16; Nm 11); igualmente a narração da
água brotada da rocha (Ex 17; Nm 20).

As Diversas Tradições do Pentateuco

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Esses foram somente alguns exemplos para dizer que o Pentateuco não foi escrito por uma pessoa
só, mas é fruto de uma lenta elaboração que demorou pelo menos cinco séculos (do séc. X ao séc. V
a.C.), em lugares e situações diversas, expressão mais de uma consciência “coletiva” do povo, o qual
reflete sobre seus acontecimentos e sobre suas nem sempre fáceis relações com Deus, do que de uma
reflexão “individual” de qualquer personagem solitário.

Estamos, portanto, diante de depósitos de tradições histórico-religiosas, transmitidas primeiro


oralmente, quem sabe em lugares de culto, onde o povo em certas ocasiões se reunia, e depois postas
por escrito com acréscimos sucessivos; tais tradições depois de encontraram e se fundiram com outras
tradições, que narravam os mesmos fatos, mas com acentos ou interpretações diversas.

Uma ou mais tradições finais colocaram junto todo esse material com mais ou menos sucesso,
fazendo entrever ao leitor os pontos de costura ou a mistura das diversas tradições utilizadas.

Os estudiosos modernos falam mais comumente de 4 grandes traições (ou fontes) que teriam
confluído juntas, num longo período de tempo, para formar o atual Pentateuco. Há que se dizer, de
qualquer forma, que nem tudo é claro e definitivo nas recíprocas interações destas várias tradições
literárias, e também pelo que diz respeito à sua efetiva datação.

Tradição Javista

A mais antiga é aquela chamada Javista, assim dita pela utilização que faz do nome IHWH para
designar Deus.

Teria nascido no tempo de Salomão (séc. X a. C.), em Jerusalém, com um duplo interesse:
religioso e político. Relê os fatos do passado, começando pela criação do mundo, com uma perspectiva de
grande confiança, senão de otimismo: Deus é o criador do mundo, mas é também o Deus que se
manifestou, IHWH, a Moisés (Ex 3, 14).

Usa uma linguagem antropomórfica e tem uma grande capacidade narrativa: assim, Deus vem
apresentado no ato de formar o primeiro homem, como um “oleiro” que molda o barro com o qual trabalha
(Gn 2,7); ou como um senhor que passeia ao frescor da tarde no jardim de sua casa (Gn 3,8); ou como um
misterioso lutador noturno, que leva a melhor sobre Jacó (Gn 32, 23-33).

Tradição Eloísta

Diferentemente caracterizada é a tradição Eloísta, assim chamada pelo diferente nome com que
designa Deus (Elohim).

Teria nascido no séc. IX – VIII a.C., no reino do Norte com a capital Samaria, no tempo em que
operavam os grandes profetas Elias e Eliseu, Amós e Oséias, de cujo influxo se nota.
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Ela inicia a sua história com a vocação de Abraão, e, portanto, com a eleição de Israel (Gn 12, 1-6).
Não usa a linguagem antropomórfica da precedente tradição para exprimir o agir de Deus; serve-se ao
invés das aparições dos anjos ou dos sonhos para transmitir a mensagem de Deus, com o objetivo de
salvaguardar a sua transcendência.

Com a ruína do reino do Norte, com a destruição da Samaria por parte do exército assírio (722), a
tradição eloísta parece ter migrado para Jerusalém, onde se teria fundido com aquela javista, sofrendo
inevitáveis retoques e acomodações. É aquela que alguns estudiosos chamam “tradição jehovista”.

Tradição Deuteronomista

De origem jerolimitana (natural de Jerusalém) parece ser também a 3° grande tradição, que os
estudiosos chamam deuteronomista, porque se expressa, sobretudo, no livro do Deuteronômio.

Deveria coincidir com o famoso “livro da lei”, reencontrado no Templo por ocasião da grande
reforma religiosa feita pelo piedoso Josias (622) e assumido como texto base para um novo esforço de
“fidelidade” de todo o povo ao pacto do Sinai (2Re 22 e 33).

A ideia de fundo que atravessa todo o livro é que Israel é o povo escolhido por Deus, ao qual está
ligado com um contrato-aliança que o vincula a um amor único e exclusivo: “Escuta, Israel, o Senhor é o
nosso Deus, o Senhor é um só. Tu amarás o Senhor, teu Deus, com todo o coração, com toda a alma,
com todas as forças” (Dt 6, 4-5).

O ideal a este ponto, para evitar riscos e tentações idolátricas, é que exista também um “único”
local de culto, isto é, o Templo de Jerusalém: daí a “centralização” do culto, que é uma inovação de grane
relevo, introduzida pelo Deuteronômio.

Ao redor destas ideias centrais da tradição, ou “escola deuteronomista”, desenvolveu-se um grande


esforço de pensamento, que releu toda a história de Israel, da conquista da terra prometida até à ruína de
Jerusalém (586 a.C.).

Os livros de Josué, dos Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, hão de se colocar à sombra das
perspectivas teológicas do Deuteronômio.

Tradição Sacerdotal

Precisamente datada da destruição de Jerusalém e do sucessivo exílio babilônico (586-538) tem


início uma nova escola de pensamento, que tenta enfrentar o desastre nacional repropondo aos Hebreus,
sem confiança e agora desorientados na terra do exílio, elementos da própria “identidade” nacional e
espiritual. Mesmo não possuindo mais a sua terra, os Hebreus podem reencontrar-se em certos valores

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fundamentais: por exemplo, a Lei, o sábado (Gn 2,1-4), a circuncisão (Gn 17), e outras coisas
semelhantes.

Esta escola é encabeçada por círculos “sacerdotais” que, na destruição de tudo, tentaram recolher
as “memórias” do passado, reorganizando-as sob o sinal da observância da Torá, que torna Israel “povo”
consagrado a IHWH, separado de todos os outros povos: não para ser, porém, uma espécie de seita, mas
uma sociedade modelo para toda a humanidade. Daí a importância que a escola sacerdotal dá a
“legislação”, que se exprime nos vários códigos: religiosos, litúrgicos, penais, processuais (Ex 20-23; 25-
31; 35-40; Levítico por inteiro).

Esta 4° tradição é chamada “sacerdotal” pelo motivo já dito. Vem designada com a sigla P do nome
dado pelos críticos alemães “Priestercodex”, isto é, “Código Sacerdotal”. Tem um estilo solene, litúrgico,
como convinha à classe sacerdotal que o expressou.

Para dar-se conta basta simplesmente confrontar a 1° narração da criação (Gn 1), de tradição
sacerdotal, com a segunda (Gn 2-3), de tradição javista.

Moisés no Centro

Concluindo, deve-se dizer que o Pentateuco é como um grande rio, com diversos afluentes que foi-
se formando no arco de cerca de 5 séculos: Moisés está na origem não tanto literária dos livros, quanto
dos fatos mais clamorosos e da revelação mais alta do divino que a história de Israel nos transmite. Mais
do que autor, ele é o protagonista maior dos fatos que estes livros nos narram.

Não é de se admirar, por isso, que Josué, seu sucessor na condução do povo e o tenha introduzido
na terra prometida, convocando Israel em Siquém para fazê-lo renovar o “pacto” de fidelidade à IHWH,
releia com inspiração poética a história passada, e aquela mais recente, pondo ao centro os fatos de
Moisés: “Assim diz o Senhor, Deus de Israel... Eu tomei o vosso pai Abraão além do rio e o fiz percorrer
todo o país de Canaã, multipliquei a sua descendência... Os seus filhos desceram ao Egito... Depois
mandei Moisés e Aarão e golpeei o Egito com os prodígios que fiz no meio deles. Depois os fiz sair... Os
egípcios seguiram os nossos pais com carros e cavaleiros até o deserto... dei-vos uma terra que vós não
trabalhastes e habitastes cidades que não construístes e comestes os frutos das vinhas e das oliveiras
que não plantastes” (Js 24, 2-13).

Pois bem, esta profissão de fé colocada na boca de Josué e preparada por uma passagem mais
arcaica do Deuteronômio (26, 5-9) pode ser quase a miniatura essencial do Pentateuco inteiro articulado
entorno a 3 eventos centrais: a vocação à fé dos Patriarcas, o grande dom da liberdade na época do
Êxodo e o maravilhoso sinal da terra prometida na qual Israel viverá a sua história. Estes eventos
comentados, narrados e meditados dos livros da Torá, constituem a trama fundamental da história da
salvação, são a grande revelação vivente de Deus.

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A SEPTUAGINTA

O que é a Septuaginta e por que ela é importante?

A tradução grega do Antigo Testamento tem uma história única e foi altamente valorizada pelos
primeiros cristãos

Aproximadamente 200 anos antes do nascimento de Jesus, foi feita uma tradução grega das
escrituras hebraicas que se tornou amplamente aceita como uma tradução legítima (e até inspirada).

A tradição relata como o rei Ptolomeu II do Egito estabeleceu uma vasta biblioteca em Alexandria.
E ele queria ter ali uma cópia das escrituras hebraicas.

Ptolomeu então enviou representantes a Jerusalém e convidou anciãos judeus a preparar uma
nova tradução grega do texto. Setenta e dois anciãos, seis de cada uma das 12 tribos de Israel, chegaram
ao Egito para atender ao pedido.

Eles foram levados à ilha de Pharos, onde, ao fim de 72 dias, seu trabalho estaria concluído. O rei
Ptolomeu ficou satisfeito com o resultado e colocou o trabalho em sua biblioteca.

Outra tradição acrescenta que todos os tradutores foram colocados em salas separadas e
instruídos a produzir seu próprio texto. Quando a tarefa foi concluída, os tradutores compararam todos os
textos e descobriram que cada um era milagrosamente idêntico aos outros.

O resultado desse trabalho mais tarde ficou conhecido como Septuaginta (da palavra grega
relacionada a 70) e ficou especialmente popular entre os judeus de língua grega durante os séculos que
se seguiram. Muitos desses judeus se converteram ao cristianismo e, como resultado, a Septuaginta se
tornou uma fonte primária para os escritores do Evangelho e muitos outros cristãos primitivos.

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Alguns séculos depois, ao formular o cânone oficial das Escrituras, a Igreja Católica procurou a
Septuaginta para discernir quais livros manter. O cânone católico do Antigo Testamento incluía alguns
textos e acrescentava outros (por exemplo, os Livros de Judite, Tobias, Sabedoria, Eclesiástico)
originalmente escritos em grego, não em hebraico e, portanto, não considerados parte das Escrituras
Judaicas, embora respeitados e lido por judeus.

Embora a história da formação da Septuaginta seja considerada pelos estudiosos bíblicos


modernos como uma lenda sem uma base histórica real, a localização e o período da tradução geralmente
são considerados verdadeiros.

De acordo com a Enciclopédia Católica, é mais provável que “judeus alexandrinos, usando o
Pentateuco traduzido em suas reuniões litúrgicas, também desejavam ler os livros restantes e, portanto,
gradualmente os tenham traduzido para o grego, que se tornara sua língua materna; isso seria muito mais
provável, pois seu conhecimento do hebraico diminuía constantemente”.

Qualquer que seja a origem do texto grego, seu caráter antigo ainda é altamente valorizado, e os
tradutores bíblicos geralmente consultam a Septuaginta para entender melhor determinada passagem
bíblica.

VULGATA

São Jerônimo – O Grande Tradutor da Bíblia

São Jerônimo foi um homem de grande cultura, era doutor nas Sagradas Escrituras, teólogo,
escritor, filósofo, historiador. Foi ele quem traduziu a Bíblia pela primeira vez, do hebraico e grego para o
latim, a língua falada pelo povo. Sua tradução foi chamada de Vulgata, ou seja, popular.

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História de São Jerônimo

São Jerônimo nasceu na Dalmácia, hoje Croácia, no ano de 340. Sua família era rica, culta e de
raiz cristã. Ele era filho único e herdou uma pequena fortuna de seus pais. Após a morte deles, Jerônimo
foi morar em Roma. Lá, estudou retórica, que é a arte de falar bem, oratória, com os melhores mestres da
época. Com isso, adquiriu mais cultura ainda.

Batismo

Apesar de vir de uma família cristã, São Jerônimo ainda não tinha sido batizado. Só aos vinte e
cinco anos ele tomou uma decisão madura e pediu o batismo. Então, foi batizado pelo Papa Libério.
Depois disso, em oração, sentiu o chamado para a vida monástica. Mas não simplesmente vida
monástica. Seu chamado era para a vida monástica dedicada à oração e ao recolhimento e ao estudo.
Então, ele descobriu monges que viviam na Gália, atual França, e foi morar com eles. Lá, Jerônimo formou
uma comunidade com seus amigos e discípulos. Estes dedicavam-se ao estudo da Bíblia e das obras de
teologia.

A vida radical de São Jerônimo

São Jerônimo tinha um temperamento forte e radical. Por isso, foi procurar o deserto. No deserto,
entrava num ritmo de orações e jejuns tão rigorosos que quase chegou a falecer. Tempos depois de se
fortalecer no deserto, ele foi para Constantinopla, segunda capital do império romano. Lá, onde encontrou-
se com São Gregório. Este lhe mostrou o caminho do amor pelo estudo das Sagradas Escrituras.

Por isso, São Jerônimo decidiu dedicar sua vida ao estudo da Palavra de Deus, para transmitir o
cristianismo em sua máxima fidelidade, ao maior número de pessoas passível. Por causa desse objetivo, e
usando sua grande aptidão para aprender línguas, estudou hebraico e grego. Seu objetivo era
compreender as escrituras nas suas línguas originais para transmitir um ensinamento seguro aos fiéis.

A Vulgata, primeira tradução da bíblia

A fama da cultura e sabedoria de São Jerônimo se espalhou e chegou até Roma. Por isso, o Papa
Damaso o chamou e lhe deu a grandiosa missão de traduzir a Bíblia para o Latim, a língua do povo. Por
isso, sua tradução foi chamada de Vulgata, ou seja, popular. O Papa queria uma tradução mais fiel
possível do hebraico e do grego para o latim e que, ao mesmo tempo, o povo pudesse compreender.

São Jerônimo reunia todas as condições para fazer este trabalho. Ele se tornou, então, o secretário
do Papa. Por causa disso é que temos hoje a Bíblia traduzida para o português e várias línguas. Essas
traduções vieram da Tradução Popular de São Jerônimo.
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São Jerônimo e os anos de trabalho árduo

Este trabalho de São Jerônimo durou muitos anos, pois ele procurava, em cada versículo, a
tradução mais fiel possível, para que o povo conhecesse em profundidade as riquezas da Palavra de
Deus. Por isso, a tradução de São Jerônimo se tornou a base da tradução bíblica da igreja, aprovada
no Concilio de Trento. Em sua tradução, além da extrema fidelidade aos textos originais, São Jerônimo
mostrou uma grande riqueza de informações sobre a história da salvação.

Mudança para Belém

Terminado esse imenso trabalho, São Jerônimo foi morar em Belém, a terra onde Jesus nasceu.
Lá, viveu como monge num mosteiro fundado por Santa Paula, sua grande amiga e auxiliadora nos
trabalhos de estudo e tradução da Bíblia.

Morte de São Jerônimo

São Jerônimo morreu com quase 80 anos no dia 30 de setembro do ano 420. Ele é o Padroeiro dos
estudos bíblicos, dos estudiosos da Bíblia. O dia da Bíblia foi colocado no dia de sua morte. Ele
escreveu: Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras, ignora o poder e
a sabedoria de Deus; portanto, ignorar as Escrituras Sagradas é ignorar a Cristo.

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