Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Capa > SEMANA DE TEOLOGIA > XXII Semana de Teologia 2017 / Simpósio Internacional de Mariologia > Submissões
gerais > Morais
Tamanho da
Resumo
Os textos de Paulo são os mais antigos do Novo Testamento. No estudo dos protopaulinos foram identificadas perícope
em seu conteúdo, trazem fragmentos de origem pré-paulina, retomados pelo apóstolo dentro de seu pensamento. Essa
descoberta possibilitou conhecer alguns elementos significativos da fé cristológica vivenciada pelas comunidades primit
antes da contribuição de Paulo e das formulações dos evangelhos. Por meio de pesquisa bibliográfica e da análise do h
Fl 2,6-11, este trabalho investiga como as comunidades cristãs primitivas pré-paulinas interpretavam a pessoa de Jesu
naqueles primeiros anos após os eventos pascais.
http://www.unicap.br/ocs/index.php/semanadeteologia/semanadeteologia22/paper/view/620 1/1
Anais Eletrônicos da Semana de Teologia | ISSN 2238-894X
XXII Semana de Teologia | Simpósio Internacional de Mariologia | Maria no Mistério de Cristo e da Igreja
Recife, 10 a 12 de maio de 2017
Introdução
São Paulo: Paulinas, 2004; CASALEGNO, Alberto. Paulo: o evangelho do amor fiel de Deus. São
Paulo: Loyola, 2001; MURPHY-O’CONNOR, J. Paulo: biografia crítica. São Paulo: Loyola, 2000.
4 Para a classificação das cartas paulinas cf. VOUGUA, François. O corpus paulino. In: MARGUERAT,
Daniel (Org.). Novo testamento: história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2009, p. 185-186.
5 Cf. BARBAGLIO, Giuseppe. As cartas de Paulo (II). 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2009, p. 377. Paulo,
ao fazer uso de textos da tradição litúrgica das comunidades, adaptou-os para utilizá-los dentro do
seu discurso teológico.
6 A carta aos Filipenses é um texto do grupo de cartas consideradas protopaulinas, e esse hino é
considerado, por vários biblistas, como de origem pré-paulina. Cf. KUSCHEL, Karl-Josef. Generato
prima di tutti i secoli: la controversia sull’origine di Cristo. Brescia, Itália: Queriniana, 1996, p. 324;
BARBAGLIO, op. cit., p. 375.
24
7 Não é o objetivo deste trabalho fazer uma exegese detalhada do texto, mas procurar extrair
elementos da compreensão sobre Jesus nas comunidades primitivas. Por isso, será feita uma análise
mais ampla sem deter-se no pensamento de Paulo nem em expor minúcias exegéticas no texto.
Todos os textos bíblicos utilizados no corpo deste trabalho foram retirados de duas traduções: BÍBLIA
DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002; NOVO TESTAMENTO INTERLINEAR GREGO-
PORTUGUÊS. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004. Na tradução do hino de Fl 2, 6-11 o
que está entre parênteses com o sinal de igual (=) significa termo equivalente ou possibilidade
oferecida na tradução, o que está entre parênteses () significa um complemento necessário para a
compreensão do texto e o que está entre colchetes [ ] é referente ao que é considerado acréscimo de
Paulo ao hino original.
8 Cf. MURPHY-O’CONNOR, op. cit. p. 232-233; CERFAUX, L. Cristo na teologia de Paulo. 2ª ed.
São Paulo: Paulus / Teológica, 2003, p. 297-298. Eles fazem uma análise da estrutura buscando nos
elementos linguísticos a base de sustentação para justificar esta forma de apresentação do hino.
Entretanto, não é pacífica a questão da estrutura do hino. Sobre outras perspectivas de divisão: cf.
BARBAGLIO, op. cit., p. 375-378; CASALEGNO, op. cit. p. 92; BROWN, op. cit., p. 652.
9 Cf. BARBAGLIO, op. cit., p. 376-377.
25
Elementos Cristológicos
a) Primeira estrofe
mas livremente, em uma atitude humilde, se esvaziou, fazendo-se sujeito aos limites
e situações da condição humana18, ou seja, ele “se coloca em uma situação oposta
àquela que sua realidade divina exige” (CASALEGNO, 2001, p. 94).
Desse modo, tem-se a compreensão presente na comunidade do que
significou para Jesus a entrada na história: um esvaziamento, um tornar-se escravo,
condição humana sujeita às vicissitudes da história. Ao mesmo tempo em que
também se tenta expressar como ele entrou na história: esvaziando-se, tomando
forma de escravo19.
b) Segunda estrofe
Essa estrofe apresenta Jesus em sua vida terrena, porém, o que desta é
destacado é aquilo que o kerygma, bem conhecido dos primeiros cristãos,
anunciava: viveu entre nós como homem, sofreu e morreu20.
A humanidade de Jesus não é absolutizada, pois sua forma humana é
“forma exterior”, ou seja, é homem, mas o é sendo também diferente, pois “é o
homem incorruptível do projeto do Criador” (BARBAGLIO, 2009, p. 379).
Jesus assume a condição mortal do ser humano por livre escolha. Isto fica
evidente quando se olham as expressões “a si mesmo se esvaziou” (v.7a), da
primeira estrofe, e “humilhou-se a si mesmo” (v. 8a) e “tornando-se obediente” (v.
8b), da segunda estrofe, revelando que a comunidade interpretava que havia uma
iniciativa de Jesus em tudo que ele viveu e no que lhe aconteceu.
os acréscimos de Paulo, o texto ainda conserva sua base fundamental. Cf. I Cor 15, 3-4.
27
c) Terceira estrofe
Essa estrofe apresenta, não somente, que a morte não foi a última
palavra sobre Jesus, mas sua condição definitiva na história e, consequentemente,
quem ele é para os cristãos e para toda a criação.
Na perspectiva do servo sofredor, Jesus, por sua “obediência até a morte”
foi “grandemente exaltado” (v. 9a)24, recebendo a glorificação do justo que foi
perseguido e oprimido, e os que a ele se associarem gozarão dos seus benefícios25.
A glorificação de Jesus consiste no recebimento do “nome”, mas não é um
nome qualquer, e sim “o nome acima de todo nome” (v. 9b), ou seja, nome que não
tem comparação alguma. No v. 11 descobrimos que o nome dado é o de Senhor,
título próprio de Deus26, estando isso evidente na atitude de reverência e adoração
que todas as criaturas com uso de inteligência em todos os níveis da criação, sem
exceção, devem prestar-lhe segundo os vs. 10-1127.
composição deste hino. Aqui se cruzam o servo sofredor com a Sabedoria divina e é evidente que
não se contradizem, ao contrário, se enriquecem. Cf. Is 49, 4-6; Sb 3, 1-9; BARBAGLIO, op. cit., p.
379.
26 “Para a Antiguidade, o nome não é apenas um sinal distintivo. Revela sobretudo a dignidade e a
natureza e, por assim dizer, difunde e torna manifesta a essência” (KÄSEMANN, apud BARBAGLIO,
op. cit., p. 379).
27 Esta reverência é devida ao próprio Deus, cf. Is 45, 21-23; 50, 10. Mas também ela é aplicada ao
seu servo, cf. Is 49, 7; CERFAUX, op. cit. p. 305-307; CASALEGNO, op. cit. p. 94.
28
Entretanto, é importante notar que Jesus se torna Senhor não por sua
condição pré-existente, mas por não ter se apegado a ela, rebaixando-se, algo
impensável para alguém que gozasse desta condição28.
O reconhecimento de Jesus como Senhor parece ser a compreensão
mais antiga que as comunidades tinham sobre quem ele era e o que significava,
estando o tema de sua origem divina profundamente relacionada com este título29.
Considerações finais
Santo” nos escritos de Paulo (cf. Rm 1, 1.3-4.6-7; Gl 1, 1-2; I Cor 12, 4-6; II Cor 13, 13), não é
possível a evidência de uma compreensão trinitária de Deus ou de uma elaboração clara sobre Deus
uno e trino. Esta reflexão irá amadurecendo progressivamente nas comunidades, como e pode
perceber, por exemplo, na celebração do batismo, pois se fala de um batismo em nome de Jesus (cf.
Rm 6, 3; At 2, 38) que, depois, vai assumir uma fórmula trinitária (cf. Mt 28, 19). Somente a partir da
segunda metade do século II, com o surgimento de heresias que vão desembocar no arianismo, no
modalismo, no adocionismo, entre outras, é que a Igreja se viu forçada a elaborar, de modo claro,
como a fé cristã entendia a realidade de um Deus em três pessoas. Cf. COLLANTES, Justo. A fé
católica: documentos do Magistério da Igreja: das origens aos nossos dias. Rio de Janeiro/Anápolis:
Lumen Christi, 2003. Para uma abordagem mais histórica cf. SESBOÜÉ, Bernard; WOLINSKI,
Joseph. Historia dos dogmas: o Deus da salvação – Tomo I. São Paulo: Loyola, 2002.
29
Referências
BARBAGLIO, Giuseppe. As cartas de Paulo (II). 2. ed. São Paulo: Loyola, 2009.
CASALEGNO, Alberto. Paulo: o evangelho do amor fiel de Deus. São Paulo: Loyola,
2001.
31 A comunidade (ou comunidades) na qual o hino poderia ter surgido é de origem mista, composta
por judeus e gentios ou judeus cristãos da diáspora. Cf. KUSCHEL, op. cit., p. 344.
32 Isso não exclui a possibilidade de haver algum conhecimento sobre os ensinamentos de Jesus e
sobre sua pessoa por meio do processo de catequese existente nas comunidades. O hino é uma
expressão poética da fé cristológica, não uma síntese de toda a catequese recebida. DUNN defende
uma catequese feita nas comunidades antes da redação das cartas (feita por Paulo ou por outros
responsáveis por tal tarefa). Cf. DUNN, op. cit. p. 223-238.
30