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22/11/2017 Morais

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JESUS E AS COMUNIDADES PRIMITIVAS: Um estudo sobre a cristologia do hino de Fl 2,6-11


Augusto Lívio Nogueira de Morais, Francisco Cornélio Freire Rodrigues

Última alteração: 2017-11-15

Resumo

Os textos de Paulo são os mais antigos do Novo Testamento. No estudo dos protopaulinos foram identificadas perícope
em seu conteúdo, trazem fragmentos de origem pré-paulina, retomados pelo apóstolo dentro de seu pensamento. Essa
descoberta possibilitou conhecer alguns elementos significativos da fé cristológica vivenciada pelas comunidades primit
antes da contribuição de Paulo e das formulações dos evangelhos. Por meio de pesquisa bibliográfica e da análise do h
Fl 2,6-11, este trabalho investiga como as comunidades cristãs primitivas pré-paulinas interpretavam a pessoa de Jesu
naqueles primeiros anos após os eventos pascais.

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http://www.unicap.br/ocs/index.php/semanadeteologia/semanadeteologia22/paper/view/620 1/1
Anais Eletrônicos da Semana de Teologia | ISSN 2238-894X
XXII Semana de Teologia | Simpósio Internacional de Mariologia | Maria no Mistério de Cristo e da Igreja
Recife, 10 a 12 de maio de 2017

JESUS E AS COMUNIDADES PRIMITIVAS:


Um estudo sobre a cristologia do hino de Fl 2,6-11

Esp. Augusto Lívio Nogueira de Morais1


Ms. Francisco Cornélio Freire Rodrigues 2

Introdução

Os textos de Paulo são os mais antigos do Novo Testamento3. No estudo


dos protopaulinos4 foram identificadas perícopes que, em seu conteúdo, trazem
fragmentos de origem pré-paulina, retomados pelo apóstolo dentro de seu
pensamento5. Essa descoberta possibilitou conhecer alguns elementos significativos
da fé cristológica vivenciada pelas comunidades primitivas antes da contribuição de
Paulo e das formulações dos evangelhos.
Por meio de pesquisa bibliográfica e da análise do hino de Fl 2,6-116, este
trabalho investiga como as comunidades cristãs primitivas pré-paulinas
interpretavam a pessoa de Jesus naqueles primeiros anos após os eventos pascais.

1 Bacharel em Teologia e Especialista em Teologia Bíblica pela Faculdade Diocesana de Mossoró –


FDM. Professor de Teologia Fundamental, Cristologia e Sagrada Escritura na Faculdade Diocesana
de Mossoró – FDM. Atualmente, mestrando em Teologia pela Universidade Católica de Pernambuco –
UNICAP. E-mail: augustolivio@yahoo.com.br.
2 Mestre em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino – Angelicum (Roma).

Professor de Antigo e Novo Testamento na Faculdade Diocesana de Mossoró – FDM. E-mail:


fco_cornelio.fr@hotmail.com.
3 Sobre a datação dos textos paulinos ver: BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento.

São Paulo: Paulinas, 2004; CASALEGNO, Alberto. Paulo: o evangelho do amor fiel de Deus. São
Paulo: Loyola, 2001; MURPHY-O’CONNOR, J. Paulo: biografia crítica. São Paulo: Loyola, 2000.
4 Para a classificação das cartas paulinas cf. VOUGUA, François. O corpus paulino. In: MARGUERAT,

Daniel (Org.). Novo testamento: história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2009, p. 185-186.
5 Cf. BARBAGLIO, Giuseppe. As cartas de Paulo (II). 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2009, p. 377. Paulo,

ao fazer uso de textos da tradição litúrgica das comunidades, adaptou-os para utilizá-los dentro do
seu discurso teológico.
6 A carta aos Filipenses é um texto do grupo de cartas consideradas protopaulinas, e esse hino é

considerado, por vários biblistas, como de origem pré-paulina. Cf. KUSCHEL, Karl-Josef. Generato
prima di tutti i secoli: la controversia sull’origine di Cristo. Brescia, Itália: Queriniana, 1996, p. 324;
BARBAGLIO, op. cit., p. 375.
24

HINO DE FILIPENSES 2,6-117


I- o qual (= Ele) em forma de Deus existindo (= estando, sendo)
não rapina considerou o ser igual a Deus,
mas a si mesmo se esvaziou
forma de escravo tomando,
II- em semelhança de seres humanos tornando-se,
em forma (exterior) achado como ser humano
humilhou-se a si mesmo
tornando-se obediente até (a) morte, [e morte de cruz.]
III- Por isso Deus a ele grandemente exaltou
e concedeu a ele o nome acima de todo nome,
para que em o nome de Jesus todo joelho se dobre,
[de (seres) celestiais, de (seres) terrestres e de (seres) debaixo da
terra]
e toda língua confesse que Senhor (é) Jesus Cristo
[para a glória de Deus Pai.]

Estrutura Formal e Fontes da composição do texto

O hino está organizado em torno de três temas, que seriam o da pré-


existência de Cristo, o de sua vida terrena e o da vida celeste, o que lhe dá uma
estrutura em três estrofes8.
Ao procurar as influências que marcaram a composição desse hino,
encontram-se várias perspectivas9. Entre elas, destacam-se três: o servo sofredor do

7 Não é o objetivo deste trabalho fazer uma exegese detalhada do texto, mas procurar extrair
elementos da compreensão sobre Jesus nas comunidades primitivas. Por isso, será feita uma análise
mais ampla sem deter-se no pensamento de Paulo nem em expor minúcias exegéticas no texto.
Todos os textos bíblicos utilizados no corpo deste trabalho foram retirados de duas traduções: BÍBLIA
DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002; NOVO TESTAMENTO INTERLINEAR GREGO-
PORTUGUÊS. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004. Na tradução do hino de Fl 2, 6-11 o
que está entre parênteses com o sinal de igual (=) significa termo equivalente ou possibilidade
oferecida na tradução, o que está entre parênteses () significa um complemento necessário para a
compreensão do texto e o que está entre colchetes [ ] é referente ao que é considerado acréscimo de
Paulo ao hino original.
8 Cf. MURPHY-O’CONNOR, op. cit. p. 232-233; CERFAUX, L. Cristo na teologia de Paulo. 2ª ed.

São Paulo: Paulus / Teológica, 2003, p. 297-298. Eles fazem uma análise da estrutura buscando nos
elementos linguísticos a base de sustentação para justificar esta forma de apresentação do hino.
Entretanto, não é pacífica a questão da estrutura do hino. Sobre outras perspectivas de divisão: cf.
BARBAGLIO, op. cit., p. 375-378; CASALEGNO, op. cit. p. 92; BROWN, op. cit., p. 652.
9 Cf. BARBAGLIO, op. cit., p. 376-377.
25

livro de Isaías10; a cristologia adâmica11; e a cristologia da Sabedoria nos


sapienciais12.

Elementos Cristológicos

a) Primeira estrofe

Seguindo as interpretações a partir da cristologia da Sabedoria, o hino,


em seu início, afirma uma realidade divina em Jesus e aponta a possibilidade da
ideia de uma pré-existência, porém não explica que tipo de existência é essa que ele
possui ao dizer “em forma de Deus existindo” (v. 6a)13. Na interpretação da
cristologia adâmica, por meio dessa expressão, pode-se relacionar Jesus com Adão
antes da queda, pois o homem, criado a imagem divina, participava da
incorruptibilidade de Deus14. Por isso, em Jesus, a comunidade encontrava “as
maravilhosas origens da humanidade, ainda não tocadas pelo pecado [...] renovadas
em Cristo, participante por direito da imortalidade divina” (BARBAGLIO, 2009, p.
378).
Jesus, o Adão que Deus queria15, poderia ser reconhecido como tendo
uma pré-existência, incorruptível, antes de esvaziar-se e “forma de escravo
tomando” (v. 7b)16, seguindo uma comparação com Adão que gozava de uma
situação de incorruptibilidade antes da queda e, após esta, tornou-se sujeito à
corrupção e à morte, levando consigo todo o gênero humano17.
Na linha do servo sofredor de Isaías, Jesus é aquele que não se apegou
ao poder ostentar uma posição superior aos seres humanos por sua condição divina,

10 Cf. CERFAUX, op. cit. p. 294-297.


11 Cf. DUNN, James D. G. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003, p. 331-339.
12 Cf. BARBAGLIO, op. cit., p. 378-380; CASALEGNO, op. cit. p. 92; KUSCHEL, op. cit., p. 340-344.
13 Cf. Sb 9,9; Eclo 24,5; KUSCHEL, op. cit., p. 341.
14 Cf. Gn 1, 26-27; Sb 2, 23.
15 Cf. DUNN, op. cit. p. 339.
16 Esta é uma possível compreensão que as comunidades poderiam chegar ao se admitir que o

Evangelho anunciado no mundo helênico buscou na figura de Adão a referência de comunhão


afirmando a origem comum da humanidade e o modo de sua participação no projeto salvífico de Deus
manifestado e realizado em Jesus, superando a dicotomia judeus x pagãos. Cf. DUNN, op. cit., p.
243-248.
17 Cf. Gn 3; Sb 2, 24; Rm 5, 12.
26

mas livremente, em uma atitude humilde, se esvaziou, fazendo-se sujeito aos limites
e situações da condição humana18, ou seja, ele “se coloca em uma situação oposta
àquela que sua realidade divina exige” (CASALEGNO, 2001, p. 94).
Desse modo, tem-se a compreensão presente na comunidade do que
significou para Jesus a entrada na história: um esvaziamento, um tornar-se escravo,
condição humana sujeita às vicissitudes da história. Ao mesmo tempo em que
também se tenta expressar como ele entrou na história: esvaziando-se, tomando
forma de escravo19.

b) Segunda estrofe

Essa estrofe apresenta Jesus em sua vida terrena, porém, o que desta é
destacado é aquilo que o kerygma, bem conhecido dos primeiros cristãos,
anunciava: viveu entre nós como homem, sofreu e morreu20.
A humanidade de Jesus não é absolutizada, pois sua forma humana é
“forma exterior”, ou seja, é homem, mas o é sendo também diferente, pois “é o
homem incorruptível do projeto do Criador” (BARBAGLIO, 2009, p. 379).
Jesus assume a condição mortal do ser humano por livre escolha. Isto fica
evidente quando se olham as expressões “a si mesmo se esvaziou” (v.7a), da
primeira estrofe, e “humilhou-se a si mesmo” (v. 8a) e “tornando-se obediente” (v.
8b), da segunda estrofe, revelando que a comunidade interpretava que havia uma
iniciativa de Jesus em tudo que ele viveu e no que lhe aconteceu.

18 Cf.BARBAGLIO, op. cit., p. 378-379.


19 Note-se que não aparece o termo encarnação com toda a força que este vai tomar nos evangelhos
sinóticos. Para CERFAUX, a atenção estaria voltada para a ideia da humilhação em assumir uma vida
humana, ou seja, para a humanidade de Cristo, ao invés de interessar-se pela encarnação do modo
como nós conhecemos. Entretanto, DUNN percebe algo que indica o tema da encarnação, mas ele
está olhando para o início da estrofe seguinte, “em semelhança de seres humanos tornando-se”(v.
7c), associando sua interpretação a outros textos paulinos que possuem expressão similar. Cf.
CERFAUX, op. cit. p. 302; DUNN, op. cit. p. 337-338.
20 Nesta perspectiva, o hino apresenta uma poetização do kerygma cristão e, mesmo que se retirem

os acréscimos de Paulo, o texto ainda conserva sua base fundamental. Cf. I Cor 15, 3-4.
27

Surge também a imagem do servo sofredor dos poemas de Isaías 21 que,


pela aparência confundido com os malfeitores devido aos seus sofrimentos, na
verdade, tudo enfrentava por permanecer obediente, fiel a Javé 22.
Também o tema da obediência aponta para a figura de Adão, pois, pela
obediência de Jesus, é redimida a humanidade ferida pela desobediência de Adão 23.
Portanto, Jesus pôde ser compreendido como o representante da
humanidade inteira tanto na imagem de Adão, aquele que Deus queria, como na
imagem do servo sofredor que assume o papel expiatório em favor dela. Em ambos
os casos, Jesus era entendido como aquele que redime toda a humanidade.

c) Terceira estrofe

Essa estrofe apresenta, não somente, que a morte não foi a última
palavra sobre Jesus, mas sua condição definitiva na história e, consequentemente,
quem ele é para os cristãos e para toda a criação.
Na perspectiva do servo sofredor, Jesus, por sua “obediência até a morte”
foi “grandemente exaltado” (v. 9a)24, recebendo a glorificação do justo que foi
perseguido e oprimido, e os que a ele se associarem gozarão dos seus benefícios25.
A glorificação de Jesus consiste no recebimento do “nome”, mas não é um
nome qualquer, e sim “o nome acima de todo nome” (v. 9b), ou seja, nome que não
tem comparação alguma. No v. 11 descobrimos que o nome dado é o de Senhor,
título próprio de Deus26, estando isso evidente na atitude de reverência e adoração
que todas as criaturas com uso de inteligência em todos os níveis da criação, sem
exceção, devem prestar-lhe segundo os vs. 10-1127.

21 Cf. Is 50, 4-11.


22 Cf. Is 52,13 – 53,12.
23 Cf. Rm 5, 19.
24 Cf. Is 52, 12-15; CERFAUX, op cit. p. 304-305.
25 É difícil não cruzar os diversos panos de fundo do A.T. que podem ser referência para a

composição deste hino. Aqui se cruzam o servo sofredor com a Sabedoria divina e é evidente que
não se contradizem, ao contrário, se enriquecem. Cf. Is 49, 4-6; Sb 3, 1-9; BARBAGLIO, op. cit., p.
379.
26 “Para a Antiguidade, o nome não é apenas um sinal distintivo. Revela sobretudo a dignidade e a

natureza e, por assim dizer, difunde e torna manifesta a essência” (KÄSEMANN, apud BARBAGLIO,
op. cit., p. 379).
27 Esta reverência é devida ao próprio Deus, cf. Is 45, 21-23; 50, 10. Mas também ela é aplicada ao

seu servo, cf. Is 49, 7; CERFAUX, op. cit. p. 305-307; CASALEGNO, op. cit. p. 94.
28

Entretanto, é importante notar que Jesus se torna Senhor não por sua
condição pré-existente, mas por não ter se apegado a ela, rebaixando-se, algo
impensável para alguém que gozasse desta condição28.
O reconhecimento de Jesus como Senhor parece ser a compreensão
mais antiga que as comunidades tinham sobre quem ele era e o que significava,
estando o tema de sua origem divina profundamente relacionada com este título29.

Considerações finais

Diante do que foi exposto é possível perceber vários elementos da


interpretação sobre Jesus presente nas comunidades primitivas e que o hino
estudado neste trabalho expressa.
Um elemento é certa tensão entre Jesus homem e sua condição divina.
Admite-se sua entrada na história, sua existência como homem entre os homens e
sua morte, entretanto, afirma-se, concomitantemente, uma dimensão divina que ora
parece identificá-lo como sendo Deus, ora o apresenta como divinizado pela ação de
Deus nele e por meio dele. O texto não deixa claro até que ponto havia uma
consciência sobre Jesus como Deus. Também se deve lembrar de que a reflexão
sobre a Trindade não estava desenvolvida, por isso é difícil pensar que já houvesse
essa consciência diante da fé monoteísta das comunidades30.

28 Cf. I Cor 1, 23; II Cor 13, 4a.


29 Partindo do princípio de que este hino é pré-paulino, esta afirmação encontra sustentação
plausível. A dificuldade está em saber se há ou não diferença entre a compreensão pré-paulina deste
título atribuído a Jesus e a compreensão que surge nos escritos de Paulo. Há uma continuidade, ou
evolução, ou mudança de perspectiva? Um interessante artigo sobre esse título nas comunidades
primitivas é o de Antonio Pitta: cf. PITTA, Antonio. Jesucristo proclamado Señor en la Iglesia: Pablo y
las primeras profesiones de fe. Scripta theologica: revista de la Facultad de Teología de la
Universidad de Navarra, vol. 40, n. 2, p. 385-404, may/ago 2008. Disponível em
<http://dadun.unav.edu/bitstream/10171/35067/1/Pitta%20%282008%29.pdf> Acesso em: 05 abr.
2017.
30 Apesar da presença das expressões “Deus Pai”, “Jesus Cristo” ou “Filho” ou “Senhor” e “Espírito

Santo” nos escritos de Paulo (cf. Rm 1, 1.3-4.6-7; Gl 1, 1-2; I Cor 12, 4-6; II Cor 13, 13), não é
possível a evidência de uma compreensão trinitária de Deus ou de uma elaboração clara sobre Deus
uno e trino. Esta reflexão irá amadurecendo progressivamente nas comunidades, como e pode
perceber, por exemplo, na celebração do batismo, pois se fala de um batismo em nome de Jesus (cf.
Rm 6, 3; At 2, 38) que, depois, vai assumir uma fórmula trinitária (cf. Mt 28, 19). Somente a partir da
segunda metade do século II, com o surgimento de heresias que vão desembocar no arianismo, no
modalismo, no adocionismo, entre outras, é que a Igreja se viu forçada a elaborar, de modo claro,
como a fé cristã entendia a realidade de um Deus em três pessoas. Cf. COLLANTES, Justo. A fé
católica: documentos do Magistério da Igreja: das origens aos nossos dias. Rio de Janeiro/Anápolis:
Lumen Christi, 2003. Para uma abordagem mais histórica cf. SESBOÜÉ, Bernard; WOLINSKI,
Joseph. Historia dos dogmas: o Deus da salvação – Tomo I. São Paulo: Loyola, 2002.
29

Outro elemento é que as comunidades tinham uma forte presença da


tradição do Antigo Testamento, ou por meio de catequeses ou pelo tipo de
composição da comunidade31. Isto está evidente nas imagens as quais o hino
recorre para tentar expressar a fé em Jesus: o Adão, a Sabedoria e o Servo sofredor.
O hino expressa, sobre o Jesus de Nazaré, sua existência como homem e
sua morte. Em relação à interpretação de fé, encontra-se sua pré-existência e sua
exaltação como Senhor após a humilhação e o esvaziamento de si. Isso evidencia
uma ênfase do aspecto da fé sobre o aspecto do Jesus histórico32.
Portanto, o hino traz vários elementos da interpretação das comunidades
primitivas sobre Jesus. Entretanto, também é evidente que há um processo de
compreensão que ainda estava em andamento. Usando uma linguagem poética, o
hino expressa uma interpretação aberta, não dogmática, sobre Jesus, dentro de uma
tensão na busca da compreensão de sua pessoa.

Referências

BARBAGLIO, Giuseppe. As cartas de Paulo (II). 2. ed. São Paulo: Loyola, 2009.

BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.

BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulinas,


2004.

CASALEGNO, Alberto. Paulo: o evangelho do amor fiel de Deus. São Paulo: Loyola,
2001.

CERFAUX, L. Cristo na teologia de Paulo. 2. ed. São Paulo: Paulus/Teológica,


2003.

COLLANTES, Justo. A fé católica: documentos do Magistério da Igreja: das origens


aos nossos dias. Rio de Janeiro/Anápolis: Lumen Christi, 2003.

DUNN, James D. G. A teologia do apóstolo Paulo. São Paulo: Paulus, 2003.

KUSCHEL, Karl-Josef. Generato prima di tutti i secoli: la controversia sull’origine


di Cristo. Brescia, Itália: Queriniana, 1996.

31 A comunidade (ou comunidades) na qual o hino poderia ter surgido é de origem mista, composta
por judeus e gentios ou judeus cristãos da diáspora. Cf. KUSCHEL, op. cit., p. 344.
32 Isso não exclui a possibilidade de haver algum conhecimento sobre os ensinamentos de Jesus e

sobre sua pessoa por meio do processo de catequese existente nas comunidades. O hino é uma
expressão poética da fé cristológica, não uma síntese de toda a catequese recebida. DUNN defende
uma catequese feita nas comunidades antes da redação das cartas (feita por Paulo ou por outros
responsáveis por tal tarefa). Cf. DUNN, op. cit. p. 223-238.
30

LOHSE, Eduard. Contexto e ambiente do Novo Testamento. São Paulo: Paulinas,


2000.

MACKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. 7. ed. São Paulo: Paulus, 1984.

MARGUERAT, Daniel (Org.). Novo testamento: história, escritura e teologia. São


Paulo: Loyola, 2009.

MURPHY-O’CONNOR, J. Paulo: biografia crítica. São Paulo: Loyola, 2000.

NOVO TESTAMENTO INTERLINEAR GREGO-PORTUGUÊS. Barueri, SP:


Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.

PITTA, Antonio. Jesucristo proclamado Señor en la Iglesia: Pablo y las primeras


profesiones de fe. Scripta theologica: revista de la Facultad de Teología de la
Universidad de Navarra, vol. 40, n. 2, p. 385-404, may/ago 2008. Disponível em
<http://dadun.unav.edu/bitstream/10171/35067/1/Pitta%20%282008%29.pdf>.
Acesso em: 05 abr. 2017.

SESBOÜÉ, Bernard; WOLINSKI, Joseph. Historia dos dogmas: o Deus da


salvação – Tomo I. São Paulo: Loyola, 2002.

VOUGUA, François. O corpus paulino. In: MARGUERAT, Daniel (Org.). Novo


testamento: história, escritura e teologia. São Paulo: Loyola, 2009, p. 181-203.

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