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Faculdade Teológica Batista de São Paulo

Jorge Francisco Cacuto

Novo Testamento: Contexto e cultura

Relatório da Síntese da Unidade Curricular


apresentado nas disciplinas de Pentateuco e
Livros Históricos para o curso de Pós-Graduação
em Exposição e Ensino da Bíblia (EAD),
Professores Luiz Alberto Teixeira Sayão e Dr.
Pedro Evaristo Conceição Santos da Faculdade
Teológica Batista de São Paulo

São Paulo – SP
2022
2

O pentateuco e os livros históricos um resumo das duas partes na forma inversa


(Livros históricos precedem o pentateuco).

Depois da parte introdutória que envolveu breve devocional e a apresentação do


curso, o professor situou o Cânon da Bíblia como coleção de escritos, chamados
também de Sagradas Escrituras ou Livros Sagrados. O cânon da Bíblia Hebraica é
mais breve e também é chamada de TaNaK (acróstico das inicias de cada uma
das três palavras que formam seus três blocos) e suas subdivisões: Torah
(Instrução), Nebi’îm (Profetas anteriores e posteriores) e Ketubîm (Escritos) 1. Isto
posto, ficou claro que o que chamamos de livros históricos na presente unidade,
equivale aos profetas anteriores no cânon hebraico. A questão da crítica profética
está presente nos profetas anteriores em que os reis foram descritos ou segundo
a linhagem davídica ou segundo a linhagem de Jeroboão.

Na apresentação da finalidade dos livros históricos ficou patente a necessidade de


renovar a esperança do povo e dar uma nova cosmovisão ao povo. A abordagem
entre história e historiografia, entre a recontagem dos acontecimentos como fatos,
mas também a própria vinculação e solidariedade do historiador no presente,
ilustrado no texto de Deuteronômio 26.1-11. Na história do cristianismo é ilustrado
pelo memorial profético (a ceia do Senhor). Isto é, ao olhar para o passado como
referência à morte violenta de Jesus no passado remoto, mas que tem implicações
em como cada participante deste memorial deve viver em alerta, hoje. Ou seja, o
que se aprende com esta história e como ela afeta o senso de identidade
comunitária nas gerações seguintes.

A renovação da aliança em Siquém segue o mesmo padrão usado para tratados


no mundo antigo e no livro de Deuteronômio. Tratava-se de prática era comum,
como o afirma Merrill, 2002. “Era comum no antigo Oriente Médio que cada nova
geração de vassalos ouvisse e respondesse aos termos da aliança que fora

1 Uma divisão feita por GONZAGA, 2019 apontado na bibliografia abaixo apresenta os diferentes
tipos de divisões judaico-cristãs ao longo da história.
3

incialmente formada entre seus antepassados e o suserano” MERRILL 2002, pg.


140.

Também foi destacado que embora não tenhamos a autoria definida de quem
escreveu os livros históricos, eles partem de tradições enquanto estabelecem
novas e que o pressuposto é que a história tem continuidade e o que vem depois
está embasado no que veio antes 2. Na primeira metade do século XX se propagou
a ideia de História deuteronomista, que em confrontou a teoria de coleção de
documentos fragmentados, sugeriu que os Profetas Anteriores foram
cuidadosamente trabalhados e que formavam um documento unificado, talvez
com alguns documentos assimilados, reunida em estágios sob as lideranças de
Ezequias (VIII Século), Josias (VII século) e desembocou no tempo do exílio sob a
liderança de Esdras (VI Século).

O conceito do monoteísmo experimental. Hill & Walton, 2007 preferência na


adoração de uma divindade única. O Sinai apresentou a Israel um conceito novo
incompatível com o politeísmo cananeu3.

As questões da terra, sua posse e a constituição de uma liderança piedosa em


Josué, alertam para o fracasso em Juízes. Assim como o estabelecimento da
dinastia de Davi foram destacados nos livros de Samuel e Reis 4.

Quanto a autoria do pentateuco destacou-se a questão da teoria da Hipótese


Documental ou Hipótese Documentária que se tornou amplamente difundida no
final do século XIX, através do teólogo Julius Wellhausen, ao propor que o
Pentateuco não teria sido escrito por um único autor devido a aparentes recortes e

2 Andiñach, 2015; Chisholm Jr., 2011; Köstenberger & Patterson, 2015; entre outros.

3 Esta discussão também lança a referência aos autores Hill & Walton, 2007, à crítica das fontes,
cujo desenvolvimento resulta em uma posição de que tudo o que é aparentemente mais elaborado
teologicamente seria fruto de uma redação supostamente “recente”, de modo que temas tais como
sacerdócio araônico, monoteísmo, etc., passam a ser considerados como interpolações conceituais
tardias (geralmente tidas por tais eruditos como pós-exílicas).

4 Vide a divisão feita por Gonzaga, 2019.


4

segmentações na redação do mesmo, o uso do pronome na terceira pessoa em


referência a Moisés, os relatos anteriores a Moisés no livro de Gênesis, além de
repetições desnecessárias e contraditórias (como nas referências à tribo de Dã e à
monarquia em Gênesis 14.14; 36.31).

Para esta teoria, quatro fontes distintas podem ter sido observadas no corpo do
texto: J, E, D, P. Sendo que o documento “J” também conhecido como Javista
(950-850 aC), representa os momentos em que o tetragrama YHWH para referir-
se a Deus, sendo que o redator teria vivido na época de Davi ou Salomão; seu
objetivo teria sido manter as tradições orais em uma época em que Israel estava
se organizando como uma nação.

No documento “E”, Eloísta (750 – 700 aC), o redator teria usado o nome Elohim
para indicar a divindade e teria escrito por volta do ano 700 a.C. Posteriormente,
os documentos “J” e “E” foram reunidos por um redator após a destruição de
Jerusalém, por isso as siglas J e E, muitas vezes, são usadas conjuntamente (JE).

O documento “D” diz respeito ao código deuteronômico encontrado em meados do


século VII a.C, durante o reinado de Josias. Tal código teria sido redigido por um
grupo de sacerdotes que estavam preocupados com o culto e com detalhes da lei.

Por fim, o documento “P” (Priestly [expressão alemã para sacerdotal]). O redator,
segundo a teoria da Hipótese Documentária, teria acrescentado alguns pontos ao
Pentateuco, sendo que este possui fortes aspectos de um jurista 5.

Destacou-se o desenvolvimento da teologia de cada livro do Pentateuco e as


alianças, expressam os propósitos redentores e salvadores de Deus para Israel.

Destacou-se as abordagens do método Histórico-Crítico. O método histórico-


crítico vem sendo construído nos últimos 250, 300 anos, forjado e aplicado em
meio a conflitos e tensões de ordem institucional. O dilema continua no presente

5 Para o desenvolvimento das ideias da Teoria da Hipótese Documentária, expresso minha


dependência em ARCKER Jr., 1994 e McDOWELL, 1993.
5

não só do ponto de vista dos seus críticos, mas também de seus usuários. O
método está embasado em quatro abordagens: A crítica textual ou (baixa crítica),
a crítica da fonte (ou alta crítica), a crítica da forma e a crítica da redação 6.

Discutiu-se alguns assuntos também abordados em conteúdos anteriores como


por exemplo o valor da lei e os grupos religiosos que surgiram no período
intertestamentário. Finalmente abordou-se os desdobramentos e a importância da
Teologia do Antigo Testamento a partir do Pentateuco (proposta de estudo)
quanto a discussão e definição do Centro Teológico e como os vários temas se
encaixam na compreensão do Novo Testamento. Merrill, 2009, destaca este
desafio:

É impossível para o teólogo cristão ignorar o Novo Testamento, pois


mesmo se ele não continuar (e no nosso caso, não podemos fazer isso) a
buscar a teologia bíblica para a conclusão de todo o cânon, ele não pode
escapar de sua tradição e da consciência ou, até mesmo, bagagem
subconsciente que isso envolve. Ele não consegue ler o Antigo
Testamento sem o profundo impacto e impressão do Novo Testamento
sobre sua psique, sem falar de tentar apresentar uma construção
teológica coerente e objetiva destituída de qualquer dado do Novo
Testamento. Assim, confessamos que desenvolvemos uma teologia do
Antigo Testamento através da lente cristã do Novo Testamento e não nos
desculpamos por isso. MERRILL, 2009, p. 618.

Portanto o desenvolvimento teológico dos fatos marcantes da história de Israel à


luz da fé no Deus Único e Monoteísta, que se revelou de várias formas, mas para
a lente cristã através da revelação especial e de forma permanente (não
ocasional) como amplamente visto nesta unidade curricular, ou no caso deste
pesquisador e repetindo Merrill 2009, “não nos desculpamos por isso”, ter sido
agraciado por esta experiência religiosa como o povo da Aliança que tem
relacionamento com o seu Senhor. Fica evidente também que se trata de um
longo processo de convergências e análises de elementos que precisam ser
estudados (em destaque o conceito do método histórico crítico).

Referências Bibliográficas

6 Este assunto despertou interesse de aprofundamento de estudo e discussão neste pesquisador


que merecerá oportunamente (o que pode ser feito aqui dada a limitação de espaço).
6

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Leopoldo: Sinodal Est, 2015.

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