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Partes Civis:
o Têm uma intervenção limitada no processo - limitada à pretensão cível.
o Nota:
O PP organiza-se de forma a determinar a responsabilidade criminal
de alguém mas também pode incluir uma ação cível que visa reparar
os danos sofridos pela vítima.
No processo cível podemos falar de partes =/= sujeitos processuais.
As partes civis são o lesado e a pessoa com responsabilidade civil:
o Lesado – 74º:
É a pessoa que sofreu danos ocasionados pelo crime e deduz um
pedido de indemnização civil, ainda que não se tenha constituído ou
não possa vir a constituir-se assistente.
Ela deduz um pedido de indemnização civil contra a pessoa com RC.
o Pessoa com Responsabilidade Civil – 73º:
Estas pessoas podem ser demandadas não pela parte criminal, mas
pela reparação dos danos civis.
Quando se diz “alguém passível de ser demandado” não se quer
excluir o arguido.
E.g – casos de seguradoras, que são demandadas no pedido de
indemnização que acompanha o PP.
o Exemplo:
A foi objeto de um crime de agressão à integridade física, teve
despesas hospitalares e pede uma indemnização.
-> esta parte da indemnização é questão conexa, mas autonomizada
em relação à questão penal.
o Exemplo:
Se um adolescente de 14 anos é titular do bem jurídico “integridade
física” que é objeto que uma agressão, claramente que é o lesado, mas
como é menor não se pode constituir assistente.
= Os assistentes serão os seus pais que podem ter tido despesas
autónomas e assumir a posição de lesado nessa parte (não se
confunde com o estatuto de assistente)
o Pode existir tanto na parte ativa como na parte passiva.
Definição – 1º/c) do CPC, 55º e 56º da LOIC (Lei 49/2008) atualizada em 2015.
Não são sujeitos processuais.
o MAS são absolutamente decisivos = realizam, na prática, a investigação
criminal.
Não são SP:
o O CPC não lhes atribui a titularidade de nenhuma fase processual.
o = São intervenientes adjuvantes quer ao tribunal quer ao MP.
o Fazem a IC, mas não são eles a tomar as decisões em função dessa
investigação.
o Não podem promover autonomamente a passagem do processo da
investigação para a fase de instrução.
Eles executam os seus atos sob direção funcional.
Ofendido
Não é um SP.
Tem alguns poderes significativos.
o Por exemplo, no campo do segredo de justiça.
Se o ofendido quiser ter um estatuto mais intenso, tem de se constituir assistente.
Vítimas
Suspeito
O Tribunal Penal
Regras Constitucionais
Critérios Legais
Competência Funcional
Competência Territorial
De acordo com este critério, o tribunal competente é aquele que permite uma certa
conexão do crime com aquela localização geográfica -> 19º a 23º do CPP.
Regra Fundamental – 19º/Nº1:
o É competente para conhecer de um crime o tribunal em cuja área se tiver
verificado a consumação:
Conceito de consumação formal = significa a verificação integral de
todos os elementos do tipo incriminador.
E.g – crime de furto – é o local onde o agente tiver suprido um
objeto com intenção de apropriação.
o Nota – Crimes com Resultado Morte– Regime Legal desde 2007:
Segundo o Nº1, o local em que tiver morrido uma pessoa será o lugar
onde será julgado o crime de homicídio.
Em 2007, legislador criou a exceção do Nº2:
Tratando-se de crime que compreenda como elemento do
tipo a morte de uma pessoa, o critério é o do local onde a
conduta foi praticada (a ação ou omissão que culminou na
morte) e não o local da consumação = vale o local da ação e
não o local da morte.
Razão desta exceção:
O regime anterior associava a competência do tribunal ao local
onde tivesse ocorrido a morte:
o . Se uma pessoa fosse atacada em Coimbra, mas fosse
transportada de helicóptero para Lisboa, a aplicação
do critério geral obrigava a que todas as provas e
todos os envolvidos fossem reconduzidos para
Lisboa.
Opinião FCP = acredita que esta opção é muito razoável
porque gera uma aproximação entre o tribunal competente,
as pessoas envolvidas e o local da prática do ato.
Outros números do 19º - Regras Especiais:
o Nº3 – Crimes Habituais e Crimes Duradouros:
= é competente o tribunal em cuja área se tiver praticado o último ato
ou tiver cessado a consumação.
= Regra Especial que contempla Crimes de Natureza Diferente.
Crimes Habituais:
Crimes que pressupõem uma repetição homogénea de um
facto que realiza o mesmo tipo.
Exemplo - caso do crime de exercício ilegal de uma profissão,
do crime de tráfico de droga ou do lenocínio (169º), tráfico de
pessoas (160º), exploração de menores (296º).
NESTES CASOS – Critério da Lei:
o O critério é o do local do último ato que tiver sido
praticado.
o E.g - se alguém vendeu droga em Cascais e em Lisboa,
e isso corresponde ao mesmo crime de tráfico de
droga, é competente o tribunal do último local em
que tiver sido praticada a venda de droga.
Crimes Duradouros/Permanentes:
Crime cuja conduta típica é suscetível de se prolongar no
tempo e no espaço por vontade do agente.
o = O facto típico não se esgota num certo momento.
Exemplo – caso de sequestro – 158º:
o A pessoa é detida num certo momento e, enquanto
for mantida nessa situação, a pessoa está sequestrada
e o crime está a verificar-se.
o Neste caso temos 2 momentos de consumação - a
agressão do bem jurídico e a ilicitude que se prolonga
no tempo por decisão do agente.
Outro exemplo - crime de furto de uso de veículo - 208º CP:
o O crime de furto é instantâneo = ocorre no momento
com o ato de subtração do objeto.
o O crime de furto de uso de veículo é duradouro = o
facto prolonga-se no tempo e no espaço.
Temos 2 momentos de consumação = a consumação prolonga-
se no tempo mas também pode prolongar-se no espaço o que
coloca questões de territorialidade.
NESTES CASOS – Critério da Lei:
o Nº3 - é o local em que cessou o período de
consumação.
o Se a pessoa foi sequestrada em Lisboa, mas fugiu em
Coimbra, é esse segundo local a área do tribunal
competente.
o Nº4 – Para atos preparatórios puníveis ou para a tentativa:
Se o crime não tiver chegado a consumar-se, é competente para dele
conhecer o tribunal em cuja área se tiver praticado o último ato de
execução ou o último ato de preparação.
Exemplo:
Se foi tentada a extorsão por uma chamada telefónica de
Cascais para Lisboa, o último ato será o que determina a
competência.
20º - Competência Territorial para os crimes ocorridos a bordo de navios ou
aeronaves:
o Estabelece o critério do local onde está ou para onde se dirige o veículo.
21º - Situações de dúvida ou de local desconhecido de consumação:
o Se o crime estiver relacionado com diversas áreas e houver dúvidas:
É competente o tribunal de qualquer das áreas, preferindo-se aquela
onde primeiro tiver havido notícia do crime.
o Se for desconhecida a localização do elemento relevante, é competente o
tribunal da área onde primeiro tiver havido notícia do crime:
É um critério funcional residual.
E.g - aparece um cadáver em São João do Estoril, que faz parte da
comarca de cascais, mas percebe-se pela medicina legal que a pessoa
morreu dois dias antes e foi largada ali - desconhecendo-se o local da
consumação ou da ação que conduziria à consumação, é competente
o tribunal da comarca de cascais que é a área onde houve notícia do
crime.
Competência Material
Critérios Quantitativos:
o Medida da Pena:
Resulta do confronto entre o 16º e o 14º:
Quando os crimes têm uma pena máxima abstrata superior a 5
anos de prisão são da competência do tribunal coletivo.
Contrariamente, se a pena máxima for igual ou inferior a 5
anos, o crime é da competência do tribunal singular.
MAS este critério sofre várias alterações:
o Além do critério quantitativo, o legislador aplica também critérios
qualitativos - certas matérias ou certos crimes são atribuídos a um certo
tribunal.
E.g – critério relacionado com a natureza do crime (crime doloso de
homicídio) - 14º/Nº2/a) – nestes casos, em que temos um crime
doloso em que a morte faz parte do tipo, temos obrigatoriamente a
competência do tribunal coletivo.
o Ou seja:
No crime do homicídio privilegiado (133º CP) ou no infanticídio (136º
CP) a pena abstrata máxima não ultrapassa os 5 anos -> olhando
apenas para o critério quantitativo, diríamos que a competência
material seria do tribunal singular.
Se olharmos para o critério qualitativo, como há dolo de morte,
concluiríamos que o tribunal competente seria o coletivo.
Articulação dos Critérios – Regras Hermenêuticas - Prevalência dos Critérios
Qualitativos e Prevalência das Reservas de Competência:
o Os critérios não se podem confundir = quando se usa um não se usa o outro.
o Prevalência dos Critérios Qualitativos:
Temos de atender à natureza do crime e não à medida da pena.
Assim = os crimes de homicídio dolosos são sempre da competência
do tribunal coletivo, independentemente da medida da pena.
Mesmo que sejam casos de homicídio privilegiados ou
infanticídios.
o Prevalência das reservas de competência:
Alguns critérios qualitativos estão formulados como reserva de
competência de um tribunal – temos 2 reservas:
14º/Nº2/a):
Estabelece que os homicídios dolosos são da reserva de
competência do tribunal coletivo perante o singular.
o (está a prescindir do critério da medida da pena – é
residual)
16º:
Crimes que são da reserva de competência do tribunal
singular.
o Para preservar as regras legais de distribuição material de competência, têm
que ser respeitadas as reservas legais de competência:
E.g – o legislador entendeu eliminar a reserva do tribunal coletivo em
2013, mas recuperou-a em 2016.
Nota:
o A competência é uma questão prévia em relação ao conhecimento do mérito
da causa.
o Os enquadramentos que determinam estas competências para o julgamento
são os que constam do conteúdo da acusação.
o Temos de respeitar a prevalência dos critérios qualitativos sobre os
quantitativos + a reserva da competência a um certo tribunal.
Desrespeito = regime de nulidade = 119º/e).
Crimes do TColetivo que são proibidos pela CRP de serem da competência do Tribunal
de Júri:
o Como não podem ser do Júri, acabam por ser da reserva do tribunal coletivo.
= Não pode em relação a eles existir requerimento para júri.
Se for formado tribunal de júri, haverá uma incompetência
material que viola a CRP.
Reserva legal do tribunal coletivo em função da natureza de certos crimes – 14º/Nº2:
o É relativo aos crimes dolosos ou agravados pelo resultado e quando a morte
faz parte do tipo:
Abrange todos os homicídios dolosos, independentemente da medida
da pena porque a morte faz parte do tipo e é doloso.
o Estes casos não podem ser objeto de um reenvio para o tribunal singular.
o MAS não há reserva perante o tribunal do júri:
Se a pena for superior a 8 anos, pode haver requerimento para o
tribunal de júri.
o Este regime significa ainda que não pode nestes casos ser aplicado o
mecanismo do 16º/Nº3:
Este permite o reenvio para tribunal singular de crimes que, apesar de
a pena abstrata ser superior a cinco anos, o MP considera que a pena
concreta será inferior a cinco anos de prisão.
= É relativo a situações que por via da medida da pena abstrata seriam
da competência do tribunal coletivo, mas pode ser reenviada para o
tribunal singular se o MP considerar que a pena concreta deve ser
inferior a cinco anos.
A competência originária é do tribunal coletivo, mas há
possibilidade de reenvio para o singular.
ORA - Se tivermos um crime de homicídio doloso que a morte faz
parte do tipo, com pena de prisão entre 8 a 16 anos:
Não usamos o critério quantitativo.
Usamos o critério qualitativo do 14º/Nº2 que faz com que não
se possa ativar o 16º/Nº3.
Diferentemente, se forem dois crimes de ofensas simples à
integridade física, com 6 anos de pena máxima.
A competência seria do coletivo = critério quantitativo.
MAS seria possível fazer uso do mecanismo de reenvio para o
tribunal singular do 16º/Nº3.
o + Questão:
Se o tipo incriminador for doloso, tiver a morte como elemento do
tipo, mas a pena for inferior a 5 anos, o que acontece?
-> Se usarmos o critério da medida da pena temos competência do
singular, mas se formos pela natureza do crime vamos para o tribunal
coletivo.
Solução:
Alguma doutrina entendia que o tribunal regra era o singular
e que este tinha competência em função da medida da pena.
o = Isto significava que todos os homicídios privilegiados
com pena até 5 anos seriam julgados pelo singular e
não estavam na reserva do coletivo.
Hoje é pacifico que a reserva do tribunal coletivo não é
condicionada pela medida da pena:
o Qualquer crime doloso com morte como elemento do
tipo é da reserva do coletivo, independentemente do
critério quantitativo.
o Que crimes se incluem no 14º/Nº2?
Homicídios Privilegiados;
Crimes agravados pelo resultado:
Quando o resultado é a morte enquanto agravante de um
crime doloso base.
Sempre que se imputa a morte de uma pessoa a um facto
doloso = há intervenção do tribunal coletivo (vai ser apreciado
por conjunto de 3 juízes).
Quanto à Tentativa de Homicídio – TS ou TC?
Opinião FCP:
o A ratio do regime legal faz com que a tentativa de
homicídio esteja incluída na reserva do tribunal
coletivo.
o Razões:
1º - A tentativa é a punição de um facto
associado a um tipo em especial = a tentativa
é um tipo dependente.
2º - O dolo da tentativa é o mesmo dolo da
forma consumada = em ambos há dolo de
morte.
Princípio da congruência temporal =
do ponto de vista do dolo não há
diferença entre a tentativa e a
consumação.
3º - O que se exige no 14º/Nº2/a) é que a
morte faça parte do tipo e não que a morte se
verifique.
Interpretação Declarativa = não se
exige a produção efetiva da morte.
o Conclusão = a tentativa de homicídio está na reserva
do tribunal coletivo porque é um tipo dependente, o
dolo de morte é o mesmo e a norma não exige
expressamente a verificação da morte.
Jurisprudência:
o Foi-se confirmando esta solução e hoje é um aspeto
pacífico.
o MAS pode deixar de ser pacífico num caso concreto =
a tentativa não vem expressamente referida nestas
normas sobre a competência.
2 Questões Controvertidas:
o Cláusulas de Suicídio:
A questão que se coloca consiste em saber se, quando a morte está
prevista no tipo incriminador como uma agravante, pelo suicídio da
vítima, como morte autoacusada pela pessoa, esses casos são da
reserva do coletivo ou não.
Exemplo – quando na sequência de uma violação ou um
sequestro, a vítima se suicida.
FCP:
Faz uma interpretação extensiva e considera que devemos
incluir na reserva do tribunal coletivo todos os crimes que
tenham um resultado agravante em que surja a morte de
uma pessoa.
2 Razões:
o 1º - O suicídio se imputa enquanto desvalor do
resultado ao facto doloso:
Se tivermos um sequestro que é sucedido de
suicídio da vítima, esse resultado é-lhe
imputado nem que seja a título de
negligência.
o 2º - Argumento literal, formal = a referência legal no
14º/Nº2/a) é a uma morte que faça parte do tipo, não
especifica se é auto ou hétero provocada.
o Crimes de Aborto:
140º a 142º CP.
Discute-se se são da reserva do tribunal coletivo por caberem no
14º/Nº2/a) ou se, não sendo, se opera o critério quantitativo.
Prática jurídica:
Os crimes de aborto têm sido julgados de acordo com o
critério quantitativo:
o Se se tratar de um aborto enquadrado com pena
máxima inferior a 5 anos, será da competência do
tribunal singular;
o Se for um aborto enquadrado com pena máxima
superior a 5 anos, já será da competência do coletivo,
mas com possibilidade de reenvio para o singular –
16º/Nº3.
Considera que o aborto não é homicídio (daí haver uma
distinção) e logo não cabe nesta norma.
o CP considera que só há uma pessoa a partir do
momento em que se inicia o parto.
= é a medida da pena (critério quantitativo) a determinar o
tribunal competente + há a possibilidade de aplicar o
mecanismo de reenvio do 16º/Nº3.
MAS – Opinião Diversa – FCP:
Defende que pela gravidade ético-social, os crimes de aborto
devem ser da competência do tribunal coletivo:
o Qualquer agressão que tenha por objeto a mãe e o
feto, ambos merecem tutela.
o = Defende que a vida humana é sempre a mesma e
que a diferença é entre a vida humana em formação e
a vida humana já formada.
A diferença entre o crime de aborto e do
crime de infanticídio, está na ideia de vida
não autónoma.
Podemos falar de uma pessoa na mesma, mas
uma pessoa em formação.
Implicações de seguir esta linha de raciocínio:
o Inserir todos os crimes de aborto no 14º/Nº2/a) =
incluídos na reserva do tribunal coletivo.
o Consideraríamos o critério qualitativo + afasta-se a
possibilidade de usar o mecanismo de reenvio para o
tribunal singular.
É competente para julgar todos os casos cuja pena máxima não exceda os cinco anos
de prisão – 16º/Nº2/b):
o Exceto as reservas do tribunal coletivo.
Outra reserva – Crimes contra a Autoridade Pública – 16º/Nº2/a):
o Razão:
Deve-se a uma razão de eficácia e de celeridade.
Como o singular é o tribunal com maior cobertura no país, é um
tribunal com menos dificuldades de agenda ou de funcionamento que
o coletivo e como tem competência para julgar os processos especiais,
o legislador entendeu que os crimes contra a autoridade pública,
independentemente da medida da pena, são da competência
exclusiva do singular.
3 outras situações:
o Casos que são enviados para um tribunal singular por uso do mecanismo de
reenvio do 16º/Nº3:
TS tem uma competência específica que resulta de o MP utilizar o
mecanismo para promover o julgamento em tribunal singular.
o Crime de Homicídio Negligente:
É da competência do TS porque não é doloso, apesar de a morte fazer
parte do tipo.
Exemplo - mesmo que haja concurso de vários homicídios
negligentes, no caso de um acidente de viação por exemplo, o
que corresponderia a pena máxima de três anos por cada
morte, sendo da competência do tribunal coletivo por
aplicação do critério quantitativo, poderia ser reenviado para
o tribunal singular.
Se ele estiver associado a um crime agravado pelo resultado, é do
tribunal coletivo = 14º/Nº2/a).
o Crime de participação em rixa:
No tipo incriminador previsto no 151º CP, o comportamento ilícito é
participar na rixa.
+ A condição de punibilidade da rixa é existir uma morte ou
uma ofensa grave = a rixa só se torna facto punível quando
desta resultar ou a morte ou uma ofensa grave.
Se virmos os tipos, participação em rixa e homicídio, percebemos que
estes se afastam reciprocamente:
Se alguém participar numa rixa com dolo de homicídio estará
na verdade a executar um crime de homicídio e não de
participação em rixa – aí será TC.
Estes elementos de condição objetiva de punibilidade (morte ou
ofensa grave) não se imputam subjetivamente, pelo que não se
realiza a imputação prevista no artigo 14º nº2 a).
A condição objetiva de punibilidade é uma restrição do âmbito
do tipo, enquanto o 14º/Nº2/a) exige uma imputação
subjetiva no sentido de que há dolo de morte.
Não é 14º/Nº2/a) porque este exige que o crime seja doloso e a
morte faça parte do tipo = pressupõe sempre dolo ou negligência (em
relação à morte).
O 151º pressupõe que não há uma imputação subjetiva da morte = se
quem participa numa rixa tem dolo de morte, então não podemos
julgar como participava de rixa, mas sim tentativa de homicídio.
15.11
O Regime do 16º/Nº3
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Pressupostos e Efeitos
Pressupostos:
o 1º - Pluralidade de processos distintos;
Não há CdC por concurso de crimes.
o 2º - Pluralidade de tribunais competentes.
-> Portanto, exige vários processos com vários tribunais competentes.
o 3º - Fator de conexão/ de relação entre os processos.
Situações de conexão – 24º/Nº1 e 25º.
Normalmente estes fatores de conexão são objetivos (entre os crimes)
ou subjetivos (entre os agentes) ou mistos.
o 4º - Tramitação Concomitante – 24º/Nº2:
Os processos têm de estar na mesma fase processual para que se
possam juntar.
+ Efeito:
o Há o alargamento da competência de um tribunal com derrogação da dos
outros.
o Exemplo:
Se um homicida em série praticar vários crimes de acordo com o
mesmo padrão ao longo do país =em cada lugar que ocorreu o crime,
há um processo.
Poderá acontecer que estes processos sejam agregados num só
tribunal que, em princípio, será o tribunal com maior competência.
Finalidades/Razões de Ser
1º - A CpC permite uma melhor apreensão da prova:
o É possível obter uma melhor apreciação da prova em conjunto com os vários
factos dos vários processos conexos.
2º - Comunhão de Prova:
o O facto de existirem provas que individualmente têm pouco valor, mas em
conjunto são o bastante para fazer prova de um facto.
3º - Economia Processual:
o Em vez de termos vários processos e vários tribunais que até podem envolver
um mesmo o arguido a repartir-se por todos eles, passamos a concentrar tudo
num só.
o Essas razões de economia processual funcionam quer para o aparelho de
justiça, quer para o arguido e o seu defensor.
4º - Evitar a contradição de julgados:
o Podem existir vicissitudes processuais diversas que determinem decisões
distintas e assim evita-se uma aparência de contradição.
o Se for tratado tudo junto, minimizam-se as discrepâncias na condução do
processo.
5º - Ponderando tudo junto, consegue-se entender melhor os aspetos do concurso da
própria determinação da pena única:
o As penas não são somadas de forma aritmética porque em concurso há o
cúmulo jurídico mitigado.
Se os processos estiverem dispersos, na prática vamos ter uma
espécie de cumulo aritmético por via judicial.
A dispersão de processos dificulta, por isso, a aplicação do cúmulo
jurídico mitigado e se for tudo junto para efeitos de julgamento, a
decisão final faz ela própria o cumulo jurídico mitigado.
o Exemplo – cúmulo jurídico:
77º CP – Regras de Punição do Concurso.
Imaginemos um arguido que cometeu três crimes com as seguintes
penas: crime A, 5 anos, crime B, 4 anos e crime C, 5 anos.
-> Um regime de cúmulo material (ou aritmético) seria somar
estes valores, o que resultaria numa pena de 14 anos.
O nosso sistema é de cúmulo material, mas mitigado por um
critério jurídico – o 77º CP exige que se aplique uma pena
única determinada de acordo com uma nova moldura penal
que resulta das somas concretamente aplicadas.
Assim, o limite máximo será a soma das penas (neste caso 14
anos) e a pena concretamente mais elevada será o limite
mínimo (neste caso 5 anos).
o Desta forma, e tendo em conta o exemplo, a moldura
penal dentro da qual o juiz definirá a pena em
concreto será de 5 a 14 anos.
Razão deste mecanismo:
Serve para que se relacione a culpa do arguido;
Porque as penas têm efeitos cumulados:
o Quer isto dizer que os efeitos da pena não são
aritméticos e aumentam quanto maior for o período
de isolamento do agente.
o Quando uma pessoa cumpre uma pena de 9 anos, não
está a cumprir 3 + 3 + 3, porque há uma quebra de
laços com o mundo exterior, maior isolamento, entre
outros fatores que fazem com que o sofrimento do
agente vá aumentando consoante o passar do
tempo. Assim, os segundos 3 anos serão muito mais
penosos do que os primeiros 3, daí que tenha havido
uma opção pela pena única.
o Assim, pelo facto de o limite máximo desta moldura
penal ser a soma das penas concretamente aplicáveis,
o agente vai, na maiorias das vezes, beneficiar de uma
pena menor àquela que seria aplicada no caso de não
haver esta regra do 77º CP.
24º/Nº2:
o Os processos só se fazem operar pelas regras de competência de conexão
quando se encontram simultaneamente na mesma fase.
Interpretação Restritiva – Jurisprudência:
o Consiste em dizer que não basta que os processos estejam simultaneamente
na mesma fase, é necessário que estejam em momentos compatíveis da
mesma fase.
o Exemplo:
A fase de julgamento vai desde o saneamento à efetiva decisão.
Se um processo estiver no saneamento e o outro estiver já no fim do
julgamento, seria absurdo conectá-los porque seria um fator de
perturbação processual já que implicaria repetir ou anular os atos
processuais já praticados neste último processo.
= Assim sendo, além de os processos terem de estar na mesma fase processual, devem
estar em momentos compatíveis.
Aplicação das regras de conexão: competência para o julgamento (24º e ss) e também
instrução (288º-2) e inquérito (264º-5).
MINISTÉRIO PÚBLICO
O MP: origem, natureza e funções, artigo 4º Lei 68/2019
Regime – 401º/Nº1/a)
A direção funcional do MP tem de ser articulada com a autonomia dos próprios OPC:
o Ver 2º, 1º e 4º LOIC.
O que significa o reconhecimento legal da autonomia técnica e tática dos OPC?
o A forma, o modo e o tempo de fazer as coisas = cabem aos OPC decidir.
o Ver 2º, 5º e 6º LOIC.
Mas há uma relação de direção funcional do MP:
o É uma relação de supremacia sem hierarquia.
o 2º LOIC, Lei 48/2008:
O MP pode determinar a realização de certas diligências, pode dar
indicação preferencial quanto à obtenção de certos meios de prova,
pode avocar os processos que tenham sido distribuídos à polícia
judiciária ou aos órgãos de polícia criminal e pode realizar ele próprio
as diligências no caso concreto.
Tem poderes de dirigir, requerer, fiscalizar, dar instruções e avocar o
processo – 2º/Nº7 LOIC.
Exemplo:
Pode enviar um processo para investigação, mas depois
entender que, para ouvir certas testemunhas ou arguidos, é
preferível que seja devolvido ao MP.
o = Isto está previsto na LOIC e não colide com a
autonomia técnica e tática dos OPC.
Artigo 1º:
o Os OPCs são entidades com uma estrutura ou natureza policial a quem cabe a
prática de atos previstos no código.
o = É a lei que qualifica as entidades como órgãos de polícia criminal, não é a
prática do ato:
Uma entidade administrativa pode colaborar numa investigação
criminal, mas não se converte em órgão de polícia criminal por isso.
Continua a ser uma entidade administrativa, a colaborar no
processo criminal, considerados coadjuvantes ou de
assistência.
LOIC – 2 parâmetros importantes:
o 1- Relação entre Ministério Público (titular do inquérito) + e os órgãos de
polícia (executam as diversas diligências com maior ou menor autonomia.)
o 2 - A repartição de competências entre os órgãos de polícia criminal,
estabelecendo, designadamente, uma competência reservada à polícia
judiciária em certos casos e competência genérica aos outros.
Classificação como OPC – Dupla Técnica Legislativa:
o É feita pela lei diretamente ou por equiparação.
Ou o legislador declara que uma certa entidade é um órgão de polícia
criminal;
Ou declara que se equipara a órgão de polícia criminal, o que significa
que de acordo com a sua natureza não é, mas tem os poderes e o
estatuto de um órgão de polícia criminal.
Classificação feita por lei – 3º LOIC:
o Nº1 - OPC de competência genérica - PJ PSP e GNR;
o Nº2 - OPC de competência específica - SEF, ASAE, AT;
o + nota:
As entidades reguladores não são órgãos de polícia criminal, mesmo
que tenham algumas competências paracriminais ou que se articulem,
= Banco de Portugal, CMVM, a Autoridade de Seguros, a Autoridade
da Concorrência, o que aliás seria incompatível com a sua natureza.
Funções:
o OPC podem constituir arguido (58º-3)
o Podem deter um suspeito e lavrar auto de notícia que dá origem à constituição
(58º-2-c) e d) e 243º-3).
o Podem aplicar TIR (196-1)
o Têm deveres de comunicação às autoridades judiciárias (58º-3; 243º-3; 248º;
259º CPP, em regra no prazo máximo de 10 dias (com exceção da detenção
que é imediato).
o Praticam todos os atos cautelares necessários e urgentes à conservação da
prova (art.5 LOIC), previstos no art. 248º e ss.
o Iniciam o processo, mas a competência final para abrir o inquérito formal é
sempre do MP (263º e ss).
Considerações Finais
Notas Iniciais
Para a doutrina, o que importa é determinar qual o bem jurídico e se esse bem
jurídico tem alguma relação com uma esfera jurídica concreta.
o = o fundamental para determinar se alguém é ou não ofendido, é a operação
hermenêutica de determinação do bem jurídico.
+ Note-se que este conceito de ofendido respeita a letra da lei, a sua intencionalidade
e o objetivo de garantir que a vítima tenha uma posição ativa no processo como
sujeito processual.
Conclusões:
o 1º - Todos os bens jurídicos de caráter individual permitem identificar
ofendidos em concreto.
= Todos os crimes contra as pessoas permitem identificar bens
jurídicos.
o 2º - Os bens jurídicos exclusivamente supraindividuais, sem qualquer relação
com esferas jurídicas concretas, são da titularidade do Estado, sendo que a
representação da sua proteção judicial se faz pelo Ministério Público e não
admitem constituição de assistente.
+ A doutrina, com o prof. FD à cabeça, sempre identificou também bens jurídicos de
caráter misto, com dimensão individual e supraindividual – 3 exemplos:
o 1º - Ambiente:
Por um lado, o ambiente é um bem jurídico supraindividual que não
está numa esfera jurídica concreta, mas existe independentemente
de esferas jurídicas concretas.
Por outro lado, o direito ao ambiente também pode ser o direito de
certas pessoas concretas = ter uma dimensão individual.
= Discutia-se se os delitos ambientais não seriam de natureza mista,
em que, por um lado, se podia falar em bens jurídicos supraindividuais
e, noutros casos, em bens jurídicos individuais, caso que haveria
constituição de assistente.
o 2º - Interesses protegidos pelo Segredo de Justiça:
O crime de violação do segredo de justiça tem evoluído com o
paradigma de um crime em que o bem jurídico era supraindividual.
A reforma de 2007 baralhou isto:
Ao configurar a sujeição do processo a segredo em função da
legitimidade do próprio ofendido, independentemente de ele
se constituir assistente, o próprio legislador veio demonstrar
que uma pessoa em concreto podia ter interesse no regime
do segredo de justiça = uma vez violado o segredo de justiça
era também violado o interesse de uma pessoa concreta pelo
facto ilícito.
= No fundo, não podemos dizer que o crime de violação de
justiça protege apenas o interesse supraindividual de boa
realização da justiça, quando a própria lei veio permitir que o
segredo de justiça exista por iniciativa de um particular,
designadamente um ofendido ou assistente.
= Veio permitir afirmar que o BJ em causa tinha uma natureza
compósita = uma dimensão supraindividual MAS também tem uma
repercussão jurídica na esfera jurídica de um particular (interesses
individuais associados ao SdJ)
Resultado disto:
Quando há violação do segredo de justiça com relevância
criminal, as pessoas interessadas na preservação do segredo
de justiça podem ser também os particulares:
o O arguido - pode requerer a sujeição do processo a
segredo;
o Ou o ofendido - pode requerer a sujeição do processo
a segredo.
o 3º - Liberdade Religiosa:
O crime de perturbação de culto visa proteger a liberdade religiosa =
dimensão supraindividual.
MAS num crime de perturbação de culto pode estar em causa o culto
de pessoas concretas que estão a exercer um culto que é perturbado
de forma ilícita.
De acordo com o conceito amplo de ofendido, essas pessoas
concretas têm legitimidade para se constituírem assistente.
Conclusão:
o O conceito de ofendido amplo abrange:
Todos os bens jurídicos de caráter pessoal ou individual;
Todos os bens jurídicos mistos (com dimensão individual e
supraindividual).
o + Não depende da natureza pública, semipública ou particular do crime:
Há crimes públicos em que o bem jurídico protegido é individual –
homicídio.
o Portanto, saber qual é o bem jurídico protegido para saber se o crime implica
ou não a constituição de assistente em função desse regime não depende da
natureza processual do crime, depende sim da concretização do conceito de
ofendido.
o + De acordo com a doutrina maioritária, o conceito é amplo e tem a ver com a
titularidade do bem jurídico ou com a cotitularidade do bem jurídico que tem
uma dimensão individual e supraindividual.
Exemplos = tutela da veracidade dos documentos num crime de falsificação de
documentos, os interesses protegidos pelo segredo de justiça num crime de violação
do segredo de justiça, os interesses dos investidores ou das empresas num crime de
violação de mercado ou, num crime de perturbação de culto, os interesses das
pessoas cujo culto concretamente foi perturbado.
o + Demonstra que a ‘Teoria dos BJ’ tem uma dimensão processual muito significativa:
o Estudamo-la do ponto de vista substantivo para verificar os tipos
incriminadores, mas é em função do bem jurídico, da sua natureza e da sua
associação a uma esfera jurídica que pode ser definida a posição do
assistente.
ESTATUTO DO ARGUIDO
Essencialidade e Importância
Ora:
o Nos processos de natureza inquisitória = o arguido é considerado um objeto
do processo.
o Nos processos de natureza acusatória = uma parte do processo.
o Nos processos como o nosso, de natureza mista:
Nas fases preliminares (inquérito) e, em grande parte dos casos, o
arguido é tratado como objeto processual.
= ele é o visado pelos vários atos processuais.
MAS, ainda assim, é-o com um estatuto de sujeito processual.
Nas fases de audiência de julgamento é que os direitos ganham a sua
plenitude.
Então:
Os direitos do arguido não são exatamente os mesmos na
fase de inquérito e no julgamento.
= Variam consoante as fases processuais e as próprias
matérias em causa.
Razão desta ambivalência = erosão e mutação dos tempos ao Estatuto de Arguido:
o 1º - Para o CPP, o estatuto de arguido é algo de vantajoso:
Investe numa certa pessoa uma posição processual que lhe dá algum
poder para controlar o processo na medida dos seus interesses.
Com a constituição do arguido, a pessoa é visada pelo processo mas
também tem o estatuto de sujeito processual.
O estatuto de arguido é invocado para não ser tratado apenas como
objeto do processo e das diligências processuais, mas como alguém
que pode participar construtivamente através da sua defesa, na
descoberta da verdade material, e dá-lhe poderes para isso.
o 2º - De um ponto de vista social ou comunicacional, o estatuto de arguido tem
um desvalor:
Nota – este desvalor não está previsto no CPP, mas hoje, do ponto de
vista social na sociedade portuguesa e europeia, quando alguém é
constituído arguido, tem uma carga negativa.
Assim, o CPP confere poderes processuais para organizar a sua defesa e apresentar a
sua versão dos factos:
o É desagradável ser-se constituído arguido, mas a lógica do CPP é constituir um
estatuto processual para ter garantias de defesa sem as quais o processo penal
não é legítimo.
Por mais deturpados e falsos que sejam os discursos comunitários, nós juristas não
devemos perder o fio extraordinário de conquista histórica dos direitos fundamentais
e das garantias de defesa = não há ‘garantias a mais’ no PP.
Pode acontecer que o PP tem a morosidade própria de ser construído numa dialética
acusação-defesa, mas não queiramos viver num Estado sem garantias de defesa.
A nossa lei prevê a possibilidade do suspeito requerer a sua constituição como arguido
no 59º = é um direito potestativo.
E.g – Caso do Desaparecimento da Maddie McCann:
o Na altura, os investigadores consideraram os pais suspeitos do
desaparecimento da criança.
o Eles podiam recusar-se a responder ou requerer o estatuto de arguido – 59º.
o Na perspetiva do advogado do casal, a melhor solução era requerer o estatuto
de arguidos:
Ao requerer o estatuto de arguidos, passam a ter não só o direto a não
responder às perguntas como um direito de acompanhamento
processual = isto dá-lhes um diferente controlo do processo.
o Lá está, aquela ambivalência do EA:
As pessoas acharam isto peculiar porque viam a conversão do casal
como arguidos como uma espécie de confissão.
MAS a conversão do suspeito em arguido é a maneira de este ficar
protegido e exercer uma série de direitos processuais.
A lei prevê a possibilidade de constituição de arguido por 2 formas:
o 1º - 58º/Nº1/a) – é obrigatória a constituição de arguido quando se interroga
um suspeito concreto.
o 2º - 59º:
Se essa constituição não for feita quando o suspeito é chamado a
depor, existe o direito residual do suspeito requerer a sua
constituição como arguido.
É um direito potestativo:
o Uma vez exercido, não pode ser questionado pelo
interlocutor do suspeito que requer a constituição de
arguido.
o Produz os seus efeitos pelo simples requerimento de
constituição de arguido.
Nota Prévia:
o Alguns regimes de imunidade de direito público impedem a constituição de
arguido.
É possível a existência de limites à constituição de arguido – em regra,
são limites transitórios relacionados com o exercício de funções.
Exemplos - os estatutos de diplomatas (+ por vezes os seus familiares),
os titulares de alguns cargos políticos.
Razão do Regime:
o Roxin:
Traduz-se na necessidade de articular os interesses penais de um
facto com outros interesses do ordenamento jurídico:
Neste caso, a preservação dos canais de representação
diplomática entre os Estados e os mecanismos de
representação política.
o Razão de Direito Público, simultaneamente penal e extrapenal:
Extrapenal:
É necessário preservar os órgãos do poder político,
garantindo o seu funcionamento fora do quadro de
perturbação das investigações criminais;
Penal:
É também do interesse do direito público não ser
instrumentalizado como arma de combate político.
Quanto aos Diplomatas:
o 31º, 32º, 37º da Convenção de Viena de 1968.
o Para os diplomatas serem constituídos arguidos é necessária uma quebra da
imunidade diplomática.
Quanto aos Deputados:
o 157º CRP.
o Não podem ser livremente constituídos como arguidos:
É necessária autorização da AR.
É obrigatória esta autorização da AR se se tratar de caso em que
existem fortes indícios da prática de crime doloso com pena superior
a três anos.
o Razão para esta diferença:
Resulta de um critério constitucional de retirar da luta política as
infrações de menor gravidade.
Ajuda a preservar o equilíbrio de funcionamento do poder político,
articulando-o razoavelmente no 157º com as condições e constituição
de arguido.
+ Se assim não fosse, existiram limitações significativas ao exercício da
função de Deputado.
+ Se assim não fosse, a constituição de arguido, com as restrições
inerentes ao termo de identidade e residência, previsto no 196º CPP,
implicariam limitações à liberdade e ao trabalho político dos
Deputados.
Ter de ficar na residência, não poder viajar, etc.
o = Há uma prevalência do interesse político do parlamento:
Nem é a própria pessoa que decide, mas sim o parlamento.
Há um interesse supraindividual.
o Exemplo prático:
157º/Nº2 estabelece que os Deputados não podem ser ouvidos nem
como declarantes, nem como arguidos + nem podem ser ouvidos
como testemunhas.
Repare-se que se poderia perturbar uma votação convocando alguém
como testemunha num processo e esta norma evita isso.
Em suma = temos um regime de DC que articula o interesse na justiça penal com os
compromissos de atividade parlamentar ou canais do poder diplomático.
Existência de Arguido como Requisito da Acusação + Arguido tem de ser ouvido antes de ser
deduzida acusação – 272º/Nº1
Nota prévia:
o O estatuto de arguido é absolutamente fundamental, não para se abrir
inquérito, mas para ser deduzida acusação.
57º - A própria constituição do arguido pode acontecer com a
acusação.
283º/Nº1 e Nº2:
o Retira-se que a existência de arguido é requisito da acusação.
o Nº2 - Pode haver um inquérito aberto contra incertos, mas para acusar, exige-
se que se identifique a pessoa (o arguido) a quem os factos são imputados =
não pode haver acusação contra incertos.
Nº3 – comina a falta de identificação do arguido com nulidade.
Quanto a esta identificação do 283º:
o Esta identificação do arguido é ope legis:
Por vezes não há segurança ou certeza absoluta quanto aos
elementos de identificação, designadamente quando se trata de
cidadãos estrangeiros ou existam documentos falsificados.
= O que o CPC claramente exige é uma pessoa concreta identificada
na medida do possível.
Essa flexibilidade não é quanto ao arguido, e sim quanto aos
elementos de identificação.
Se a pessoa os não tiver, ou a identificação for assumida por
mera declaração verbal, o que acontece?
o Se a pessoa for estrangeira, e não houver
documentos, tudo resulta das suas declarações.
Não se pode dizer que é verdadeira, mas é a identificação
possível = tem é de haver alguma identificação.
O estatuto do arguido mantém-se durante o processo, inclusivamente, enquanto não
existir um ato de despronunciamento de arguido, a sua posição mantém-se LOGO a
posição do arguido é irrenunciável (mas admite-se o não exercício dos direitos que
lhes correspondem)
Desde 1998, o arguido não só tem de estar identificado na acusação, como tem de ser
ouvido antes de ser deduzida acusação.
272º/Nº1:
o Exige a audição desse concreto suspeito na qualidade de arguido antes de ser
deduzida acusação.
o Cominação do desrespeito desta norma?
Mera irregularidade – 118º/Nº2.
Não está prevista a nulidade.
Por esta razão, é muitas vezes esquecida.
o + A própria lei diz-nos que a constituição do arguido pode ocorrer com a
acusação, no 57º:
É uma norma que sobrou do regime anterior a 1998.
Assim, não há a força cominatória da nulidade do 283º.
Razão deste audição:
o Não deve ser possível alguém ser surpreendido com uma acusação sem ter
sido ouvido.
o Esta exigência é particularmente intensa e congruente com o facto de o MP,
entre nós, não ser uma parte mas um sujeito processual, assumido por uma
magistratura de carreira e orientada por critérios de verdade material:
Não pode haver uma verdade parcial, assumida na acusação, que
resulte apenas de uma leitura própria dos meios de prova.
Assim, há uma progressão do estatuto do suspeito no processo:
o 1º - ele é ouvido antes de se deduzir a acusação – 272º/Nº1.
o 2º - é concretamente identificado – 283º/Nº1.
1987:
o CPP é aprovado.
o Atribui um grande peso ao arguido, enquanto sujeito processual:
A nível de poderes:
Tem poderes iguais ao do MP para conduzir o processo
(posição vantajosa)
A nível de ónus:
Termo de identidade e residência (medida de coação, que
limita a liberdade de circulação do arguido)
2007:
o Surgiu o processo Casa Pia que trouxe vários problemas.
o Assim, atenuou-se a obrigatoriedade de prestação de declarações que só
gera constituição de arguido quando há suspeita fundada + o auto de notícia
só gera constituição de arguido quando não é manifestamente infundado.
Objetivo = Travar a constituição de arguido mal alguém fosse chamado
ao processo (nem que fosse só para dizer onde estavam naquele dia –
neste caso houve imensos intervenientes)
2013:
o O legislador veio fazer uma alteração significativa porque passou a permitir
que, em certos casos, o que era dito no inquérito poderia ser utilizado depois:
Exemplos - 357.º, 141.º/4/b) e 61.º/1/f).
o MAS a doutrina dividiu-se:
Escola de Lisboa: este regime é inadmissível pois violava a estrutura
acusatória.
FCP: não considera que viola as garantias de defesa, pois basta
informar o arguido que “tudo o que disser agora poderá ser usado
contra si, ou até contra outros” e depois, o advogado aconselhava o
seu cliente conforme o andamento do processo.
Defesa Pessoal
Defesa Técnica
Por outro lado, o arguido tem o direito a ser assistido pelo defensor – 61º/Nº1/f) e
62º.
o Nalguns casos especificados na lei, o arguido é obrigatoriamente
acompanhado por defensor legal – 64º.
Assim, a defesa técnica abrange:
o O direito a ter defensor quando assim entenda;
o Nalguns casos, é obrigatório tê-lo.
63º/Nº2 – Prevalência da Defesa Pessoal sobre a Defesa Técnica:
o Permite que o arguido retire eficácia ao ato praticado ou realizado em seu
nome pelo defensor.
Isto DESDE que o faça por declaração expressa antes da decisão
relativa àquele ato.
o Exemplo:
O advogado do arguido apresenta uma peça processual da qual ele
discorda, o arguido pode retirar-lhe eficácia, desde que o faça
expressamente antes da decisão em causa.
O Problema da Autorrepresentação
Questão – O regime legal português é ou não violador do artigo 6º CEDH, que prevê a
possibilidade a da autorrepresentação em matéria penal?
o Visão Doutrinária 1, PPdA:
Entende que a norma do CPP que prevê a obrigatoriedade de
assistência por advogado (64º) em alguns casos é inconstitucional.
Razão:
O 8º da CRP faz vigorar o direito internacional na nossa
ordem interna = engloba a CEDH.
Assim, o CPP estaria a limitar ou excluir a possibilidade de
autorrepresentação em PP.
+ para PPdA:
O regime do CPP viola o 6º CEDH, uma norma equivalente ao
14º PIDCP, e, como estes diplomas estão em vigor na nossa
ordem jurídica por via do 8º CRP, isto significa uma
derrogação à nossa CRP.
o Visão Doutrinária 2, FCP:
O CPP não exclui a autorrepresentação, o que exclui é a possibilidade
de o processo avançar sem existir defesa técnica:
Aquilo que o CPP não permite é que a pessoa seja
exclusivamente o único defensor de si próprio.
O CPP garante plenamente o regime de autorrepresentação:
Garante mecanismos de defesa pessoal:
o O arguido pode, por ato próprio, defender.
+ Ainda garante a possibilidade de retirar eficácia ao ato
praticado pelo defensor obrigatório.
o -> Isto demonstra o princípio fundamental de
prevalência da defesa pessoal.
+ pode sempre confessar os factos.
Dentro da defesa técnica:
Pode articular a sua estratégia com o advogado.
-> O arguido pode representar-se a si próprio, tem é que, além disso,
ter um advogado que se assuma como seu defensor no processo.
Assim, as 2 vias estão garantidas.
o Conclusão:
FCP entende que não há qualquer inconstitucionalidade ou
incompatibilidade do regime do CPP com o direito internacional.
Entende que até é um regime bastante equilibrado, que inclui:
Garantia de distanciamento e frieza necessários para
acompanhar o processo sem ser influenciado pelo mesmo;
Existência de pessoas com competências reconhecidas por
uma ordem profissional para acompanhar a defesa do
arguido;
Articulação consequente entre defesa técnica e pessoal.
Formalidades
57º/Nº1:
o 1º - A dedução de acusação contra certa pessoa constitui-a como arguido.
o 2º - Norma equipara o requerimento de abertura de instrução à acusação:
Em termos de conteúdo, o RAI descreve factos que são relevantes
para a prática de um crime e imputa-os a alguém.
O RAI, quando apresentado pelo assistente, constitui alguém como
arguido ope legis = tem efeito legal automático de um ato processual.
Nota - a prática judiciária não segue esta norma quanto ao RAI:
o A prática judiciária cria uma certa dilação temporal e às vezes não dá
cumprimento - nem sempre o RAI, em especial quando traz arguidos novos, dá
origem à constituição de arguido.
o O que devia acontecer era o RAI constituir o sujeito como arguido + sujeição a
termo de identidade e residência.
Resulta do 58º/Nº1/d:
o Também a comunicação do auto de notícia pode ser uma causa legal de
constituição como arguido, desde que seja minimamente fundado.
Razão – AdN:
o O auto de notícia tem um certo conteúdo factual = corresponde aos factos
com relevância criminal que foram presenciados por quem lavra o auto.
o = Quando o auto é comunicado ao arguido, tem um conteúdo semelhante ao
de uma peça acusatória, no sentido em que descreve os factos e tem um
conteúdo mínimo.
o assim, é uma “acusação sem esse nome” = quando o AdN é comunicado à
pessoa, dá origem à sua constituição automática como arguido.
59º/Nº1 prevê a possibilidade de, durante uma inquirição, alguém mudar de estatuto.
o = Esta passagem é possível durante a própria prestação de declarações, em
função do conteúdo da própria diligência.
Acontece quando durante qualquer inquirição feita a pessoa que não é arguido, surgir
fundada suspeita de crime por ela cometido:
o Aqui, a entidade que procede ao ato tem de suspender a inquirição e fazer a
constituição de arguido.
= É possível uma pessoa ser chamada numa qualidade e sair de lá como arguido.
o Claramente, o acervo de direitos e deveres passa a ser diferente.
59º/Nº1 prevê que é possível alguém requerer a constituição como arguido a seu
pedido quando estiver a ser feita uma diligência destinada a comprovar uma
inquirição que compromete a própria pessoa.
o = Se a diligência estiver a adensar suspeitas concretas, que permitam um juízo
sobre a própria pessoa, esta pode pedir para ser constituída arguido.
Condições concreta - diligências destinada a comprovar uma imputação que
pessoalmente afeta a pessoa:
o Se não a afetar pessoalmente, o exercício do direito a ser constituído arguido
é ilegítimo, estando fora dos pressupostos processuais.
Nota – diferença de tratamento para ‘pessoa chamada a depor’ e testemunha’:
o Testemunha - 132º/Nº2:
No caso de testemunha, não é preciso pedir constituição como
arguido porque já têm o direito a não responder (não precisam de ser
constituídas arguidas para esse efeito).
= O Nº2 garante a possibilidade de uma testemunha não responder às
perguntas que impliquem suspeitas concretas da prática do facto que
possam gerar responsabilidade criminal.
o Se a pessoa não tiver esse estatuto de testemunha não o pode invocar, o que
pode fazer é requerer a sua constituição de arguido:
= Corresponde a um direito potestativo processual.
Objetivos do Regime Legal - A violação do regime legal - A prova proibida associada ao regime
de constituição de arguido
Nota Prévia
Direito ao Silêncio
Nos últimos 10 anos, o DS tem dado origem a imensas dúvidas na prática judiciária.
Definição – Direito ao Silêncio – 61º/Nº1/d)
o O direito ao silêncio está previsto como o direito a não responder a perguntas
feitas por qualquer entidade sobre factos imputados e o conteúdo de
declarações.
Conteúdo do DS na nossa lei – 61º/Nº1/d), 343º e 345º:
o Direito a não responder a perguntas;
o Direito a não dar explicações sobre respostas dadas;
o Direito a que o silêncio não seja valorado;
o Direito a não responder a todas ou a algumas perguntas (direito a selecionar)
Dúvida 2 – O DS pode ou não ser exercido de forma legítima em relação a informação essencial
para a promoção das investigações?
Dúvida 4 - Quando o arguido invoca o direito ao silêncio, o sujeito processual que pretende
fazer as perguntas pode, ainda assim, formulá-las? = O direito a não responder impede que se
façam as perguntas?
Artigos:
o 61º/Nº6/d) - sendo pedidos elementos para exame ou análise e futura
apresentação, esse elemento pedido pode ser solicitado com cominação de
desobediência.
= o direito ao silêncio não abrange o direito a não entregar elementos
materiais que tenha na sua posse.
Exceção – Lei do Cibercrime – fornecer passwords ou chaves
de desencriptação de documentos.
o 172º - dever de sujeição a exame;
o 178º - apreensões;
Razão - o CPP confirmou o dever de entrega de objetos quando pedidos para exame
por se entender que o exame é uma diligência de prova, e, portanto, em relação a ele
o arguido está numa situação de sujeição.
Questões:
o Saber se a realização de uma zaragatoa local, em que se retira um pouco de
células do interior da boca, para identificação de marcadores de ADN, é ou
não uma diligência que pode ser acompanhada do exercício de poderes de
autoridade e se a arguido está numa situação de sujeição.
Resposta do TC:
Entendeu que havia essa situação de sujeição, porque este
exame pericial é uma diligência de obtenção de prova.
o = Não lhe é exigido qualquer contributo material, e
sim que ceda material biológico relevante.
Utilizou argumento adicional de que não há lugar à aplicação
da GAI porque o resultado da diligência não é em si mesmo
incriminatório.
Ora, o resultado da diligência, no momento em que é
realizada, é neutro = depois pode é ser coincidente com
outros marcadores de ADN, e isso ser um resultado posterior
a obtenção desses elementos.
o MAS a obtenção de material biológico não revela, por
si mesmo, um conteúdo autoincriminatório.
= Quando o resultado da diligência não é incriminatório, não
se pode invocar a garantia contra a autoincriminação.
Para já, esta é a tendência jurisprudencial.
Previsto no 61º/e):
o O arguido tem o direito a constituir advogado ou solicitar a nomeação de um
defensor;
o + f) - Tem também direito a ser assistido por esse defensor em todos os atos
processuais em que participar e, quando detido, comunicar, mesmo em
privado, com ele.
62º:
o Essa constituição de defensor pode ser feita a qualquer altura do processo e
que o arguido pode constituir mais do que um defensor.
Esta relação entre o defensor e o arguido merece tutela do nosso sistema = limites
legais às apreensões e publicações de correspondência entre os dois e às escutas que
abranjam as conversas entre ambos.