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CARREIRA JURÍDICA

Direito Penal – Aula 06


Rogério Sanches

Imunidades parlamentares político (conveniência e oportunidade) e não técni-


co.
As imunidades parlamentares encontram previsão
na Constituição Federal. Tal e qual as diplomáticas, O STF, no entanto, de forma excepcional, no final
as imunidades parlamentares não configuram “privi- de 2015, decretou prisão preventiva de Senador
légios”, mas “prerrogativas” necessárias ao desem- (Delcídio do Amaral), a exemplo do que, num pas-
penho independente da atividade parlamentar e à sado recente, fez em relação a um deputado esta-
efetividade do Estado Democrático de Direito, mar- dual, igualmente imune. Em resumo, o Senador,
cado pela representatividade dos cidadãos- buscando embaraçar investigação em curso na
eleitores. Operação Lava Jato, evitando futura delação, pro-
põe a um filho de preso um verdadeiro plano de
Obs: fuga para seu pai, bem como anuncia exercer inde-
Imunidade parlamentar relativa vida influência em Ministros da Corte Suprema, o
Encontra previsão no artigo 53, §1º ao §8º, da que garantiria a tão almejada liberdade do conde-
CF/88. nado. Oferece, ainda, uma ajuda de custo (R$
Relativa ao foro 50.000,00) para o condenado manter-se no país de
Nos termos do artigo 53, §1º da CF/88, “Os Deputa- destino.
dos e Senadores, desde a expedição do diploma,
serão submetidos a julgamento perante o Supremo O afastamento da aplicação de regras válidas ante
Tribunal Federal”. as circunstâncias específicas do caso concreto é
conhecido como derrotabilidade (ou superabilidade).
Obs: Em tais hipóteses, o intérprete confere ao princípio
Da simples leitura do parágrafo, percebe-se que o da justiça e aos princípios que justificam o afasta-
foro especial se estende da diplomação (e não da mento da regra um peso maior do que ao princípio
posse) até o fim do mandato. da segurança jurídica e àqueles subjacentes à re-
gra. A ponderação, portanto, não é feita entre a
Imaginemos um parlamentar (Deputado Federal ou regra e o princípio, mas entre princípios que forne-
Senador) que, percebendo que seu processo-crime cem razões favoráveis e contrárias à aplicação da
foi colocado em pauta para final julgamento no STF, regra naquele caso específico. Não há nisso, qual-
buscando procrastinar a decisão final, renuncia na quer desobediência ao direito, pois a decisão é pau-
véspera para que o feito seja remetido para o juiz de tada por normas estabelecidas pelo próprio orde-
1º grau: namento jurídico.
Essa escoteira opção retira do STF a competência
para julgá-lo? Cabe prisão civil contra o Congressista devedor
de alimentos?
Relativa à prisão Relativa ao processo.
A imunidade relativa à prisão, também denominada
pelo Supremo Tribunal Federal de “incoercibilidade A imunidade parlamentar relativa ao processo está
pessoal dos congressistas (freedom from arrest)”, disciplinada no artigo 53, §§3º ao 5º da CF/88, al-
está prevista no art. 53, § 2º, da CF/88, que anun- cançando os crimes praticados pelos congressistas
cia: após a diplomação. Nesses casos, permite-se à
“Desde a expedição do diploma, os membros do Casa Legislativa respectiva sustar, a pedido de par-
Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo tido político com representação no Legislativo Fede-
em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os ral, o andamento da ação penal pelo voto ostensivo
autos serão remetidos dentro de vinte e quatro ho- e nominal da maioria absoluta de seus membros. A
ras à Casa respectiva, para que, pelo voto da maio- suspensão da ação penal deverá ser apreciada no
ria de seus membros, resolva sobre a prisão”. prazo improrrogável de quarenta e cinco dias e,
caso se entenda pela sustação, ela persistirá en-
A garantia, portanto, presente desde a diplomação quanto durar o mandato, acarretando, igualmente, a
(e não da posse), recai sobre prisão provisória, ex- suspensão da prescrição.
cepcionada apenas a prisão em flagrante decorren-
te de prática de crime inafiançável (ex: racismo). Relativa à condição de testemunha.
Realizada a prisão em flagrante por crime inafiançá- A regra é que os parlamentares são obrigados a
vel, os autos serão remetidos no prazo de 24 (vinte testemunhar, prestando compromisso, salvo nas
e quatro) horas para a Casa respectiva, que delibe- duas hipóteses previstas no artigo 53, §6º da CF/88:
rará, por maioria de votos, sobre a prisão. A delibe- (A) sobre informações recebidas ou prestadas em
ração sobre a prisão terá caráter eminentemente razão do exercício do mandato; e

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(B) sobre as pessoas que lhes confiaram ou deles Os vereadores, por força do art. 29, VIII, da CF/88,
receberam informações. desfrutam somente de imunidade absoluta, desde
que as suas opiniões, palavras e votos sejam profe-
Embora a testemunha tenha o dever de comparecer ridos no exercício do mandato (nexo material) e na
quando intimados pelo juízo para prestar seu de- circunscrição do Município (critério territorial).
poimento, o artigo 221 do Código de Processo Pe-
nal estabelece que os deputados e senadores terão Foro por prerrogativa de função x Tribunal do Júri
a prerrogativa de ajustar dia, horário e local com O foro por prerrogativa de função, previsto na
essa finalidade. CF/88, prevalece sobre a competência constitucio-
nal do Tribunal do Júri (é a Carta Maior excepcio-
Imunidades parlamentares e o estado de sítio nando-se a si mesma). Dentro desse espírito, caso
§ 8º As imunidades de Deputados ou Senadores pratique crime doloso contra a vida, o congressista
subsistirão durante o estado de sítio, só podendo será julgado perante o STF, enquanto que o parla-
ser suspensas mediante o voto de dois terços dos mentar estadual, pelo Tribunal de Justiça (ou Tribu-
membros da Casa respectiva, nos casos de atos nal Regional Federal, se o caso).
praticados fora do recinto do Congresso Nacional,
que sejam incompatíveis com a execução da me- Súmula Vinculante nº 45:
dida.
“A competência constitucional do tribunal do
CONCLUSÃO: júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de fun-
As imunidades subsistem, ainda que durante o es- ção estabelecido exclusivamente pela constituição
tado de sítio. Nos termos do artigo 53, §8º da CF/88, estadual”.
as imunidades de deputados e senadores somente
serão suspensas se houver votação da Casa res- INFRAÇÃO PENAL(CRIME/CONTRAVENÇÃO
pectiva, com votação de dois terços pela suspen- PENAL)
são. O conceito de infração penal varia conforme o enfo-
que.
Imunidades do parlamentar licenciado Sob o enfoque formal, infração penal é aquilo que
Caso o parlamentar se licencie do cargo para o qual assim está rotulado em uma norma penal incrimina-
foi eleito com o objetivo de exercer outro, por exem- dora, sob ameaça de pena.
plo, Ministro de Estado, não manterá sua imunidade Num conceito material, infração penal é comporta-
(que não é pessoal, mas da função), salvo no que mento humano causador de relevante e intolerável
toca ao foro especial lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico tutelado,
A 1ª Turma concedeu habeas corpus para cassar passível de sanção penal.
decreto de prisão expedido por juiz de direito contra O conceito analítico leva em consideração os ele-
deputado estadual. Entendeu-se que, ante a prerro- mentos estruturais que compõem infração penal,
gativa de foro, a vara criminal seria incompetente prevalecendo fato típico, ilícito e culpável.
para determinar a constrição do paciente, ainda que
afastado do exercício parlamentar”. (STF – Info nº Infração penal é gênero, podendo ser dividida em
628 – HC 9548 – Rel. Min. Marco Aurélio – DJe crime (ou delito) e contravenção penal.
24/05/2011) Obs1:
Obs2:
Imunidades dos deputados estaduais Obs3:
As imunidades estudadas, por força do mandamen-
to insculpido no artigo 27, §1º, CF/88, também de- Diferenças entre crime e contravenção penal
vem ser aplicadas aos deputados estaduais.
Obs: Apesar de ontologicamente idênticos (aplicando-se
às contravenções as regras gerais do CP), crime e
contravenção possuem algumas diferenças trazidas
pela própria lei:

Quanto à pena privativa de liberdade imposta


Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal:
“Considera-se crime a infração penal que a lei co-
mina pena de reclusão ou de detenção, quer isola-
damente, quer alternativa ou cumulativamente com
Imunidades dos vereadores
a pena de multa; contravenção, a infração penal a
que a lei comina, isoladamente, pena de prisão sim-

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ples ou de multa, ou ambas alternativa ou cumulati- 1ª corrente: a pessoa jurídica não pode praticar
vamente”. crimes, nem ser responsabilizada penalmente. A
empresa é uma ficção jurídica, um ente virtual, des-
Porte de droga para uso próprio é crime ou con- provido de consciência e vontade. A intenção do
travenção penal? Constituinte não foi criar a responsabilidade penal
da pessoa jurídica. O texto do § 3º do art. 225, da
Quanto à espécie de ação penal CF apenas reafirma que as pessoas naturais estão
Art. 17 da LCP: sujeitas a sanções de natureza penal, e que as pes-
“A ação penal é pública, devendo a autoridade pro- soas jurídicas estão sujeitas a sanções de natureza
ceder de ofício”. administrativa.

Vias de fato é perseguida mediante ação penal 2ª corrente: apenas pessoa física pratica crime.
pública incondicionada? Entretanto, nos crimes ambientais, havendo relação
objetiva entre o autor do fato típico e ilícito e a em-
Quanto à admissibilidade da tentativa presa (infração cometida por decisão de seu repre-
Art. 4º. LCP: sentante legal ou contratual, ou de seu órgão cole-
“Não é punível a tentativa de contravenção”. giado, no interesse ou benefício da entidade), admi-
te-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica.
Quanto à extraterritorialidade da lei penal brasileira Conclusão:
Art. 2º da LCP:
“A lei brasileira só é aplicável à contravenção prati- 3ª corrente: a pessoa jurídica é um ente autônomo e
cada no território nacional”. distinto dos seus membros, dotado de vontade pró-
pria. Pode cometer crimes ambientais e sofrer pena.
Quanto à competência para processar e julgar A CF/88 autorizou a responsabilidade penal do ente
Art. 109, CF/88: coletivo, objetiva ou não. Deve haver adaptação do
“ Aos juízes federais compete processar e julgar: juízo de culpabilidade para adequá-lo às caracterís-
IV - os crimes políticos e as infrações penais prati- ticas da pessoa jurídica criminosa. O fato de a teoria
cadas em detrimento de bens, serviços ou interesse tradicional do delito não se amoldar à pessoa jurídi-
da União ou de suas entidades autárquicas ou em- ca, não significa negar sua responsabilização penal,
presas públicas, excluídas as contravenções e res- demandando novos critérios normativos. É certo,
salvada a competência da Justiça Militar e da Justi- porém, que sua responsabilização está associada à
ça Eleitoral”. atuação de uma pessoa física, que age com ele-
mento subjetivo próprio (dolo ou culpa).
Quanto ao limite das penas
Art. 10 da LCP: O STF vem decidindo que a responsabilização pe-
“A duração da pena de prisão simples não pode, em nal da pessoa jurídica independe da pessoa física.
caso algum, ser superior a 5 anos (...)”. Argumentou-se que a obrigatoriedade de dupla im-
Sujeitos (ativo e passivo) do crime putação caracterizaria afronta ao art. 225, § 3º, da
Constituição Federal, pois condicionaria a punição
Sujeito ativo do crime: da pessoa jurídica à condenação simultânea da
Pessoa jurídica pode figurar como sujeito ativo de pessoa física: (RE 548.181, Primeira Turma, Rel.
crime? Min. Rosa Weber, DJe 19/06/2013).
A CF/88, no art. 225, § 3º, anuncia: “As condutas e Pessoa jurídica de direito público pode ser respon-
atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sabilizada penalmente por delito ambiental?
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas,
a sanções penais e administrativas, independente- Classificação do crime quanto ao sujeito ativo:
mente da obrigação de reparar os danos causados”
(grifos aditados). O sujeito passivo:
Seguindo o mandado constitucional de criminaliza-
ção, nasceu a Lei 9.605/98 (Lei dos Crimes Ambien- O sujeito passivo classifica-se em:
tais). Reza seu art. 3º, caput: “As pessoas jurídicas A) sujeito passivo constante (mediato, formal, geral
serão responsabilizadas administrativa, civil e pe- ou genérico):
nalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos B) sujeito passivo eventual (imediato, material, par-
em que a infração seja cometida por decisão de seu ticular ou acidental):
representante legal ou contratual, ou de seu órgão
colegiado, no interesse ou benefício da sua entida- Classificação doutrinária quanto ao sujeito passivo:
de”. Crimes de dupla subjetividade passiva?
Morto pode ser vítima de crime?

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E os animais?
Objetos (material e jurídico) do crime material
Objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual
recai a conduta criminosa.

É possível crime sem objeto material?


Objeto jurídico do delito revela o interesse tutelado
pela norma, o bem jurídico protegido pelo tipo penal.

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