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DIREITO PÚBLICO

CF, ELE, CTN, AMB e ADM

DIREITO CONSTITUCIONAL

ART. 5º - DIREITOS FUNDAMENTAIS

1) O Judiciário pode determinar a realização de obras de


acessibilidade para adequação de prédios públicos?

O Poder Judiciário pode condenar universidade pública a adequar


seus prédios às normas de acessibilidade a fim de permitir a sua utilização por
pessoas com deficiência. No campo dos direitos individuais e sociais de
absoluta prioridade, o juiz não deve se impressionar nem se sensibilizar com
alegações de conveniência e oportunidade trazidas pelo administrador relapso.
Se um direito é qualificado pelo legislador como absoluta prioridade,
deixa de integrar o universo de incidência da reserva do possível, já que a
sua possibilidade é obrigatoriamente fixada pela Constituição ou pela lei.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.607.472-PE, Rel. Min. Herman Benjamin,


julgado em 15/9/2016 (Info 592).

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2) STJ pode determinar que as companhias aéreas ofereçam


transporte gratuito às pessoas com deficiência?

A Lei nº 8.899/94 previu que as pessoas com deficiência possuem


direito à gratuidade no transporte coletivo interestadual. Esta Lei foi
regulamentada pela Portaria Interministerial nº 003/2001, que, no entanto,
afirmou que apenas as empresas de transporte rodoviário, ferroviário e
aquaviário teriam o dever de oferecer essa gratuidade. Houve, assim, uma
omissão quanto ao transporte aéreo. O MP propôs ação civil pública na qual
pretendia garantir a gratuidade também no transporte aéreo. Ao julgar um
recurso neste processo, o STJ afirmou que não poderia conceder o pedido.
Isso porque: O STJ não possui competência constitucional para ampliar os
modais de transporte interestadual submetidos ao regime da gratuidade
prevista na Lei nº 8.899/94 e nos atos normativos secundários que a
regulamentam.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.155.590-DF, Rel. Min. Marco Buzzi,


julgado em 27/11/2018 (Info 640).

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3) Idosos com gratuidade no transporte coletivo também


gozam de isenção das tarifas de pedágio?

A reserva de 2 (duas) vagas gratuitas por veículo para idosos com


renda igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos, prevista no art. 40, I, do
Estatuto do Idoso, não se limita ao valor das passagens, abrangendo eventuais
custos relacionados diretamente com o transporte, em que se incluem as
tarifas de pedágio e de utilização dos terminais.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.543.465-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes


Maia Filho, julgado em 13/12/2018 (Info 641).

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4) O juiz pode determinar que o autor da ofensa seja obrigado


a divulgar a sentença condenatória nos mesmos veículos de
comunicação onde a ofensa foi proferida?

O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui


previsão na Constituição da República e na Lei Civil, não tendo sido afastado
pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF 130/DF. O princípio da
reparação integral (arts. 927 e 944 do CC) possibilita o pagamento da
indenização em pecúnia e in natura, a fim de se dar efetividade ao instituto da
responsabilidade civil. Dessa forma, é possível que o magistrado condene o
autor da ofensa a divulgar a sentença condenatória nos mesmos veículos de
comunicação em que foi cometida a ofensa à honra, desde que fundamentada
em dispositivos legais diversos da Lei de Imprensa.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio


Bellizze, julgado em 12/02/2019 (Info 642).

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5) Ação penal em curso impede o exercício da atividade de


vigilante?
Viola o princípio da presunção de inocência o impedimento de
participação ou registro de curso de formação ou reciclagem de vigilante, por
ter sido verificada a existência de inquérito ou ação penal não transitada em
julgado. Assim, não havendo sentença condenatória transitada em julgado, o
simples fato de existir um processo penal em andamento não pode ser
considerada antecedente criminal para o fim de impedir que o vigilante se
matricule no curso de reciclagem.

STJ. 2ª Turma. REsp 1597088/PE, Rel. Min. Herman Benjamin,


julgado em 15/08/2017.

A existência de condenação criminal transitada em julgado


impede o exercício da atividade profissional de vigilante por ausência de
idoneidade moral.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.666.294-DF, Rel. Min. Herman Benjamin,


julgado em 05/09/2019 (Info 658).

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6) Decisão judicial pode quebrar o sigilo de dados


informáticos?

A determinação judicial de quebra de sigilo de dados informáticos


estáticos (registros), relacionados à identificação de usuários que operaram em
determinada área geográfica, suficientemente fundamentada, não ofende a
proteção constitucional à privacidade e à intimidade.

STJ. 3ª Seção. RMS 61.302-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,


por maioria, julgado em 26/08/2020 (Info 681).

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7) Veículo de imprensa possui direito líquido e certo ao


acesso a mortes registradas em ocorrências policiais?

Caso concreto: o jornal Folha de São Paulo pediu para que o


Governo do Estado fornecesse informações relacionadas a mortes registradas
pela polícia em boletins de ocorrência. O pedido foi negado sob o fundamento
de que, apesar de terem natureza pública, esses dados deveriam ser
divulgados com cautela e não seriam indispensáveis para o trabalho
jornalístico.
O STJ não concordou e afirmou que não cabe à administração
pública ou ao Poder Judiciário discutir o uso que se pretende dar à informação
de natureza pública. A informação, por ser pública, deve estar disponível ao
público, independentemente de justificações ou considerações quanto aos
interesses a que se destina. Não se pode vedar o exercício de um direito –
acessar a informação pública – pelo mero receio do abuso no exercício de um
outro e distinto direito – o de livre comunicar.

Em suma: veículo de imprensa jornalística possui direito líquido e


certo de obter dados públicos sobre óbitos relacionados a ocorrências policiais.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.852.629-SP, Rel. Min. Og Fernandes,


julgado em 06/10/2020 (Info 682).

PODER LEGISLATIVO

ART. 53, §2º, CF – IMUNIDADE FORMAL

Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e


penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. §1º Os
Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão
submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal. § 2º
Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional
não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável.
Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas
à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros,
resolva sobre a prisão.

Juiz pode afastar vereador da função que ocupa?

É possível que o Juiz de primeiro grau, fundamentadamente,


imponha a parlamentares municipais as medidas cautelares de afastamento de
suas funções legislativas sem necessidade de remessa à Casa respectiva para
deliberação.
STJ. 5ª Turma. RHC 88.804-RN, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 07/11/2017 (Info 617).

ART. 54 – IMPEDIMENTOS

Parlamentares estão impedidos de exercer a advocacia?

O art. 30, II, da Lei nº 8.906/94, prevê que os membros do Poder


Legislativo (Vereadores, Deputados e Senadores) são impedidos de exercer a
advocacia contra ou a favor das pessoas jurídicas de direito público, empresas
públicas, sociedades de economia mista, fundações públicas, entidades
paraestatais ou empresas concessionárias ou permissionárias de serviço
público. Essa proibição abrange a advocacia envolvendo qualquer dos entes
federativos (União, Estados, DF e Municípios). Assim, o desempenho de
mandato eletivo no Poder Legislativo impede o exercício da advocacia a favor
ou contra pessoa jurídica de direito público pertencente a qualquer das esferas
de governo – municipal, estadual ou federal.

Ex1: um Deputado Estadual, além de não poder advogar em


causas relacionadas com o Estado-membro, também está impedido de
advogar em processos envolvendo os Municípios ou a União.

Ex2: um Vereador não pode advogar contra o INSS, mesmo


sendo esta uma autarquia federal.

Ex3: um Deputado Federal não pode, advogando em causa


própria, ajuizar uma ação popular, qualquer que seja o ente federativo
envolvido.

STJ. 1ª Seção. EAREsp 519.194-AM, Rel. Min. Og Fernandes,


julgado em 14/6/2017 (Info 607).

ART. 70 - TRIBUNAL DE CONTAS

O Tribunal de Contas se sujeita ao prazo de 5 anos para jugar


a legalidade do ato de aposentadoria? Se sim, quando inicia o prazo?
Os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de 5 anos para o
julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma
ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.506.932/PR, Rel. Min. Auro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 02.03.2021 (Info 687).

ART. 105, II, a – ROC

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...) II - julgar, em


recurso ordinário: a) os "habeas-corpus" decididos em única ou última
instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for
denegatória.

Há alguma possibilidade de impetração de ROC contra


decisão CONCESSIVA de HC?

É admissível a interposição de recurso ordinário para impugnar


acórdão de Tribunal de Segundo Grau concessivo de ordem de habeas corpus
na hipótese em que se pretenda questionar eventual excesso de medidas
cautelares fixadas por ocasião de deferimento de liberdade provisória. A CF/88
não prevê o cabimento de recurso ordinário contra a decisão concessiva de
HC. No entanto, ainda que a liberdade provisória tenha sido concedida, se as
medidas cautelares impostas ao réu se mostram excessivas, ele terá interesse
em interpor recurso ordinário, sendo este o instrumento adequado para
impugnar a decisão.

STJ. 5ª Turma. RHC 65.974-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da


Fonseca, julgado em 10/3/2016 (Info 579).
ART. 196, CF – DIREITO À SAÚDE

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Requisitos para a concessão judicial de medicamentos não


previstos pelo SUS

A concessão dos medicamentos não incorporados em atos


normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos: (I)
comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado
expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou
necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da
moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; (II) incapacidade financeira de
arcar com o custo do medicamento prescrito; e (III) existência de registro na
ANVISA do medicamento.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, julgado em 25/04/2018 (RR) (Info 625).

Requisitos: Imprescindibilidade, incapacidade financeira e registro


na ANVISA.
DIREITO TRIBUTÁRIO

ART. 113, CTN – OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

1) A matriz possui legitimidade para discutir a relação


jurídico-tributária de sua filial?

As filiais são estabelecimentos secundários da mesma pessoa


jurídica, desprovidas de personalidade jurídica e patrimônio próprio, apesar de
poderem possuir domicílios em lugares diferentes (art. 75, § 1º, do CC) e
inscrições distintas no CNPJ. O fato de as filiais possuírem CNPJ próprio
confere a elas somente autonomia administrativa e operacional para fins
fiscalizatórios, não abarcando a autonomia jurídica, já que existe a relação de
dependência entre o CNPJ das filiais e o da matriz.

Os valores a receber provenientes de pagamentos indevidos a


título de tributos pertencem à sociedade como um todo, de modo que a matriz
pode discutir relação jurídico-tributária, pleitear restituição ou compensação
relativamente a indébitos de suas filiais.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.273.046-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria,


julgado em 08/06/2021 (Info 700).

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2) O parcelamento tributário obtido pelo promitente


comprador afasta a solidariedade do promitente vendedor em relação ao
IPTU?

O parcelamento tributário requerido por um dos devedores


solidários não importa em renúncia à solidariedade em relação aos demais
coobrigados.

O mero parcelamento da dívida tributária por um dos devedores


solidários - no caso, a promitente compradora -, desprovida da renúncia
expressa, pelo sujeito ativo da exação, em relação à solidariedade passiva do
promitente vendedor, não configura razão bastante para afastar a lógica da
tese firmada no Tema 122/STJ (tanto o promitente comprador - possuidor a
qualquer título – do imóvel quanto seu proprietário/promitente vendedor -
aquele que tem a propriedade registrada no Registro de Imóveis - são
contribuintes responsáveis pelo pagamento do IPTU).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.978.780-SP, Rel. Min. Assusete


Magalhães, por unanimidade, julgado em 05/04/2022 (Info 732).

ART. 134, CTN – RESPONSABILIDADE DE TERCEIROS

1) Sócio de ME ou EPP pode ser responsabilizado pelo


inadimplemento de tributo após a sua dissolução regular?

No caso de micro e pequenas empresas é possível a


responsabilização dos sócios pelo inadimplemento do tributo, com base no art.
134, VII, do CTN, cabendo-lhes demonstrar a insuficiência do patrimônio
quando da liquidação para exoneração da responsabilidade pelos débitos.

Observa-se que o caso em questão não pode ser enquadrado na


hipótese de dissolução irregular, uma vez existir no regramento das micro e
pequenas empresas a possibilidade de dissolução regular sem a apresentação
da certidão de regularidade fiscal, faculdade esta incluída no sistema jurídico
pátrio para facilitar o término das atividades da pessoa jurídica, mas não para
servir de escudo para o inadimplemento de dívidas fiscais.

Aliás, há de se considerar que o próprio art. 9º, §§ 4º e 5º, da LC


n. 123/2006, ao tratar da baixa do ato constitutivo da sociedade, esclareceu
que tal ato não implica em extinção da satisfação de obrigações tributárias,
nem tampouco do afastamento da responsabilidade dos sócios, aproximando o
caso ao insculpido no art. 134, VII, do CTN.

Com efeito, esta Corte Superior possui entendimento de que tanto


a redação do art. 9º da LC n. 123/2006 como da LC n. 147/2014, apresentam
interpretação de que no caso de micro e pequenas empresas é possível a
responsabilização dos sócios pelo inadimplemento do tributo, com base no art.
134, VII, do CTN, cabendo-lhe demonstrar a insuficiência do patrimônio quando
da liquidação para exonerar-se da responsabilidade pelos débitos.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.876.549-RS, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

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2) Qual sócio-gerente deve responder pelos tributos não
pagos: aquele à época da dissolução irregular ou aquele à época da
ocorrência do FG?

O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na


dissolução irregular da pessoa jurídica executada ou na presunção de sua
ocorrência, pode ser autorizado contra o sócio ou o terceiro não sócio, com
poderes de administração na data em que configurada ou presumida a
dissolução irregular, ainda que não tenha exercido poderes de gerência quando
ocorrido o fato gerador do tributo não adimplido, conforme art. 135, III, do CTN.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.645.333-SP, Rel. Min. Assusete


Magalhães, por maioria, j. em 25/05/2022 (RR - Tema 981) (Info 738).

ART. 138, CTN – DENÚNCIA ESPONTÂNEA

Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da


infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo
devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada
pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa
de apuração. Parágrafo único. Não se considera espontânea a
denúncia apresentada após o início de qualquer procedimento
administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a
infração.

Depósito judicial integral caracteriza denúncia espontânea?

O depósito judicial integral do débito tributário e dos respectivos


juros de mora, mesmo antes de qualquer procedimento do Fisco tendente à
sua exigência, não configura denúncia espontânea (art. 138 do CTN). O
depósito judicial integral não trouxe qualquer vantagem ou redução de custos
para a Administração Tributária. Não houve a chamada "relação de troca entre
custo de conformidade e custo administrativo" a atrair caracterização da
denúncia espontânea (art. 138 do CTN). Obs: para que a denúncia espontânea
seja eficaz e afaste a incidência da multa, é necessário o preenchimento de
três requisitos: a) "denúncia" (confissão) da infração; b) pagamento integral do
tributo devido com os respectivos juros moratórios; e c) espontaneidade
(confissão e pagamento devem ocorrer antes do início de qualquer
procedimento fiscalizatório por parte do Fisco relacionado com aquela
determinada infração).

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.131.090-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, julgado em 28/10/2015 (Info 576).

ART. 150, CTN - LANÇAMENTO POR HOMOLOGAÇÃO

No caso de pagamento a menor de tributo sujeito a


lançamento por homologação, como contar o prazo decadencial?

Na hipótese de lançamento suplementar de ICMS, em


decorrência de dimensionamento incorreto do crédito tributário (creditamento a
maior e diferencial de alíquotas), deve ser aplicado o art. 150, § 4º, e não o art.
173, I, ambos do CTN.

O termo inicial do prazo decadencial de tributo sujeito a


lançamento por homologação - como é o caso, em regra, do ICMS -, depende
da circunstância de ter o contribuinte antecipado, ou não, o pagamento da
exação. Com efeito, nos termos da Súmula 555 do STJ, "quando não houver
declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal para o Fisco constituir o
crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do CTN, nos
casos em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o
pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa". Ou seja, não
antecipado o pagamento, o prazo decadencial inicia-se no primeiro dia do
exercício seguinte àquele em que poderia ter sido efetuado o lançamento. Por
outro lado, antecipado o pagamento do tributo, o prazo decadencial observa o
art. 150, § 4º, do CTN, ou seja, desde a ocorrência do fato gerador inicia-se o
prazo decadencial para o lançamento suplementar, sob pena de homologação
tácita do lançamento.

STJ. 2ª Turma. AREsp 1.471.958-RS, Rel. Min. Assusete


Magalhães, julgado em 18/05/2021 (Info 698).
ART. 151, CTN – SUSPENSÃO EXIGIBILIDADE CT

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: (...) II – o


depósito do seu montante integral. IV - a concessão de medida
liminar em mandado de segurança. V - a concessão de medida
liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial.

1) O prazo prescricional volta a correr com a revogação da


liminar que suspendia a exigibilidade do CT?

A revogação de liminar que suspendeu a exigibilidade do crédito


tributário ocasiona a retomada do lapso prescricional para o Fisco, desde
que inexistente qualquer outra medida constante do art. 151 do CTN ou recurso
especial / extraordinário dotado de efeito suspensivo.

STJ. 1ª Seção. EAREsp 407.940-RS, Rel. Min. Og Fernandes,


julgado em 10/5/2017 (Info 605).

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2) É possível a suspensão da exigibilidade do crédito não


tributário com a apresentação de fiança bancária ou seguro garantia?

É cabível a suspensão da exigibilidade do crédito não tributário a


partir da apresentação da fiança bancária ou do seguro garantia judicial, desde
que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta
por cento.

O dinheiro, a fiança bancária e o seguro garantia são equiparados


para os fins de substituição da penhora ou mesmo para garantia do valor da
dívida ativa, seja ela tributária ou não tributária, sob a ótica alinhada do § 2º do
art. 835 do CPC/15 c/c o inciso II do art. 9º da Lei n. 6.830/80. Por fim, não há
razão jurídica para inviabilizar a aceitação do seguro garantia judicial, porque,
em virtude da natureza precária do decreto de suspensão da exigibilidade do
crédito não tributário (multa administrativa), o postulante poderá solicitar a
revogação do decreto suspensivo caso em algum momento não viger ou se
tornar insuficiente a garantia apresentada.

Inexistindo previsão legal de suspensão de exigibilidade de


crédito não tributário no arcabouço jurídico brasileiro, deve a situação se
resolver, no caso concreto, mediante as técnicas de integração normativa de
correção do sistema previstas no art. 4º da LINDB. Como vimos acima, o art.
9º, da Lei nº 6.830/80 prevê que a fiança bancária e o seguro garantia são
equiparados para fins de garantia do valor da dívida ativa. O art. 835, § 2º do
CPC/2015, por sua vez, também diz que a fiança bancária e o seguro garantia
são equiparados a dinheiro para fins de substituição da penhora. Desse modo,
aplicando, por analogia, esses dispositivos, conclui-se que é cabível a
suspensão da exigibilidade do crédito não tributário a partir da apresentação da
fiança bancária e do seguro garantia

A S. 112, STJ (O depósito somente suspende a exigibilidade do


crédito tributário se for integral e em dinheiro) se estende aos créditos não
tributários oriundos de multa administrativa imposta no exercício do poder de
polícia? Não. Aplica-se apenas aos créditos tributários, já que o art. 151, II,
CTN, é exclusivo de dívidas de natureza tributária. O rol do art. 151 é taxativo.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.381.254-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes


Maia Filho, por unanimidade, julgado em 25/06/2019 (Info 652).

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3) Qual o marco inicial da prescrição no caso de anulação ou


reforma de acórdão favorável ao contribuinte?

O trânsito em julgado da anulação ou da reforma de acórdão


favorável ao contribuinte marca o início do prazo prescricional para o Fisco
cobrar o crédito tributário.

ATENÇÃO: Por falta de previsão legal, a sentença favorável ao


sujeito passivo impugnada por recurso da Fazenda Pública dotado de efeito
suspensivo não suspende a exigibilidade do crédito tributário.

Já o acórdão da apelação que confirma essa sentença, no caso


de natureza declaratória, produz efeitos desde logo, infirmando a certeza do
correspondente crédito inscrito em dívida ativa e, por conseguinte, impedindo o
ajuizamento da execução fiscal.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.280.342-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 15/10/2019 (Info 660).

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4) É possível a concessão de suspensão do pagamento de


tributo via decisão judicial, em razão da COVID?

Na ausência de legislação estadual específica que conceda o


direito à postergação do vencimento ou à suspensão da exigibilidade das
prestações dos parcelamentos de tributos estaduais, não há como se estender
os efeitos de normas aplicáveis no âmbito dos tributos federais ou do Simples
Nacional, ou mesmo benefícios concedidos por outro Estado da Federação,
aos tributos devidos em razão da pandemia (Covid-19).

STJ. 2ª Turma. RMS 67.443-ES, Rel. Min. Assusete Magalhães,


por unanimidade, julgado em 15/03/2022 (Info 729).

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5) A adesão a parcelamento tributário implica na interrupção


do prazo prescricional para cobrança do tributo?

A adesão à programa de parcelamento tributário é causa de


suspensão da exigibilidade do crédito e interrompe o prazo prescricional.

O STJ possui jurisprudência no sentido de que a adesão a


parcelamento tributário é causa de suspensão da exigibilidade do crédito e
interrompe o prazo prescricional, por constituir reconhecimento inequívoco do
débito, nos termos do art. 174, IV, do CTN, voltando a correr o prazo, por
inteiro, a partir do inadimplemento da última parcela pelo contribuinte.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.922.063-PR, Rel. Min. Francisco Falcão,


por unanimidade, julgado em 18/10/2022 (Info 754).

ART. 155-A, CTN – PARCELAMENTO TRIBUTÁRIO


Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição
estabelecidas em lei específica. § 1o Salvo disposição de lei em
contrário, o parcelamento do crédito tributário não exclui a incidência
de juros e multas. § 2o Aplicam-se, subsidiariamente, ao
parcelamento as disposições desta Lei, relativas à moratória. § 3o Lei
específica disporá sobre as condições de parcelamento dos créditos
tributários do devedor em recuperação judicial. § 4o A inexistência da
lei específica a que se refere o § 3 o deste artigo importa na aplicação
das leis gerais de parcelamento do ente da Federação ao devedor em
recuperação judicial, não podendo, neste caso, ser o prazo de
parcelamento inferior ao concedido pela lei federal específica.

1) Apenas lei específica pode prever os requisitos para o


parcelamento tributário?

As condições para a concessão de parcelamento tributário devem


estrita observância ao princípio da legalidade e não há autorização para que
atos infralegais tratem de condições não previstas na lei de regência do
benefício.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.739.641-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria,


julgado em 21/06/2018 (Info 629).

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2) É possível efetivar a penhora online, via Bacenjud, após a


concessão de parcelamento tributário?

O bloqueio de ativos financeiros do executado via sistema


BACENJUD, em caso de concessão de parcelamento fiscal, seguirá a seguinte
orientação: (i) será levantado o bloqueio se a concessão é anterior à
constrição; e (ii) fica mantido o bloqueio se a concessão ocorre em momento
posterior à constrição, ressalvada, nessa hipótese, a possibilidade excepcional
de substituição da penhora online por fiança bancária ou seguro garantia,
diante das peculiaridades do caso concreto, mediante comprovação irrefutável,
a cargo do executado, da necessidade de aplicação do princípio da menor
onerosidade.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.696.270-MG, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, j. em 08/06/2022 (RR – Tema 1.012) (Info 740).
ART. 156 – EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

É preciso prova pré-constituída para impetrar MS objetivando


a declaração do direito à compensação tributária?

Tratando-se de Mandado de Segurança impetrado com vistas a


declarar o direito à compensação tributária, em virtude do reconhecimento da
ilegalidade ou inconstitucionalidade da exigência da exação,
independentemente da apuração dos respectivos valores, é suficiente, para
esse efeito, a comprovação de que o impetrante ocupa a posição de credor
tributário, visto que os comprovantes de recolhimento indevido serão exigidos
posteriormente, na esfera administrativa, quando o procedimento de
compensação for submetido à verificação pelo Fisco.

De outro lado, tratando-se de Mandado de Segurança com vistas


a obter juízo específico sobre as parcelas a serem compensadas, com efetiva
investigação da liquidez e certeza dos créditos, ou, ainda, na hipótese em que
os efeitos da sentença supõem a efetiva homologação da compensação a ser
realizada, o crédito do contribuinte depende de quantificação, de modo que a
inexistência de comprovação cabal dos valores indevidamente recolhidos
representa a ausência de prova pré-constituída indispensável à propositura da
ação.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.715.256-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes


Maia Filho, julgado em 13/02/2019 (RR – Tema 118) (Info 643).

ART. 165, CTN – REPETIÇÃO INDÉBITO

Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio


protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a
modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do
artigo 162, nos seguintes casos: I - cobrança ou pagamento
espontâneo de tributo indevido ou maior que o devido em face da
legislação tributária aplicável, ou da natureza ou circunstâncias
materiais do fato gerador efetivamente ocorrido; II - erro na edificação
do sujeito passivo, na determinação da alíquota aplicável, no cálculo
do montante do débito ou na elaboração ou conferência de qualquer
documento relativo ao pagamento; III - reforma, anulação, revogação
ou rescisão de decisão condenatória.

1) As entidades do sistema S possuem legitimidade passiva


nas ações de repetição de indébito das contribuições sociais recolhidas?

As entidades dos serviços sociais autônomos não possuem


legitimidade passiva nas ações judiciais em que se discute a relação jurídico-
tributária entre o contribuinte e a União e a repetição de indébito das
contribuições sociais recolhidas.

Os serviços sociais autônomos, embora sofram influência


(financeira) da decisão judicial a respeito da relação tributária, como pessoas
jurídicas de direito privado, não têm interesse jurídico quanto à relação jurídico-
tributária da qual se origina a base de cálculo dos valores repassados. O
interesse, sob esse ângulo, é reflexo e meramente econômico, até porque, se
os serviços prestados são relevantes à União, esta se utilizará de outra fonte
para manter a subvenção para caso a relação jurídico-tributária entre
contribuinte e ente federado seja declarada inexistente. De outro lado, basta
notar que eventual ausência do serviço social autônomo no polo passivo da
ação não gera nenhum prejuízo à defesa do tributo que dá ensejo à
subvenção.

Os serviços sociais autônomos são mantidos por meio de


contribuição compulsória paga pelos empregadores com base na folha de
salários. Esta contribuição possui natureza jurídica de tributo, sendo chamada
de “Contribuição para os serviços sociais autônomos”. Há divergência sobre a
natureza jurídica dessa contribuição destinada aos serviços sociais autônomos,
havendo duas posições: 1ª) seria uma espécie de “contribuição social geral”,
estando prevista no art. 240 da CF/88; 2ª) seria uma “contribuição de
intervenção no domínio econômico”, melhor se enquadrando, portanto, no art.
149 da CF/88.
ATENÇÃO: No caso específico do SEBRAE, para fins de
concurso público, não há dúvida de que se trata de uma CIDE porque se trata
da posição do STF.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.954-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria,


julgado em 10/04/2019 (Info 646).

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2) É cabível a restituição do ITBI pago quando a compra e


venda é declarada nula?

A nulidade de negócio jurídico de compra e venda de imóvel


viabiliza a restituição do valor recolhido pelo contribuinte a título de ITBI.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.493.162-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes


Maia Filho, por unanimidade, julgado em 14/10/2020 (Info 682).

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3) Qual o termo inicial da correção monetária e juros no caso


de repetição de indébito tributário? Citação?

Esta Corte Superior possui orientação de que os valores a serem


recolhidos a título de repetição de indébito tributário devem ser atualizados
desde o recolhimento indevido.

Este Superior Tribunal tem posicionamento consolidado segundo


o qual o montante a ser restituído a título de repetição de indébito tributário,
segundo o princípio da isonomia, deve ser atualizado pelos mesmos índices de
correção monetária e de juros de mora aplicados ao tributo em atraso, sendo
legítima a utilização da Taxa Selic desde o recolhimento indevido, inclusive na
esfera estadual, a partir da vigência da lei local que a tenha estabelecendo.

STJ. 2ª Turma. EDcl nos EDcl no AgInt no AREsp n.


1.760.009/SP, rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 13/12/2022.

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4) Posterior declaração de nulidade do lançamento em vista


da inconstitucionalidade da base de cálculo autoriza a repetição?

Se houve o pagamento do crédito tributário, mas, posteriormente,


há declaração de nulidade do lançamento em razão da inconstitucionalidade da
base de cálculo utilizada pelo fisco, o contribuinte tem direito à restituição do
que pagou indevidamente; e o fisco, se não decaído o direito de lançar e
houver norma legal embasadora, deve constituir novo crédito tributário, por
meio de outro lançamento, não se podendo aproveitar o anterior, uma vez que
não se admite a correção do critério jurídico anterior.

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 2.001.298-PR, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, julgado em 29/8/2022 (Info Especial n. 8).

ART. 173 – DECADÊNCIA TRIBUTÁRIA

1) No caso de o contribuinte recolher o imposto a município


diverso, a decadência deve ser contata pelo art. 150, §4º ou art. 173, I?

O recolhimento do tributo a município diverso daquele a quem


seria efetivamente devido não afasta a aplicação da regra da decadência
prevista no art. 173, I do CTN.

As instâncias ordinárias aplicaram a regra do art. 150, § 4°, do


CTN independentemente do momento do conhecimento do município acerca
do fato gerador e de qualquer recolhimento do tributo aos seus cofres, sendo
insustentáveis as conclusões por elas adotadas.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.904.780-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 14/12/2021 (Info 723).

ARTS. 175 E SS. - EXCLUSÃO CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Estende-se às pessoas em atividade a isenção do pagamento


do IR prevista na Lei 7.713/88, art. 6º, XIV?

Não se aplica a isenção do imposto de renda prevista no inciso


XIV do artigo 6º da Lei nº 7.713/88 (seja na redação da Lei nº 11.052/2004 ou
nas versões anteriores) aos rendimentos de portador de moléstia grave que se
encontre no exercício de atividade laboral.

A legislação tributária que outorgue isenção deve ser interpretada


LITERALMENTE (art. 111, II, CTN) e a lei que concede a isenção do IR aplica-
se apenas às pessoas aposentadas ou pensionistas.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.814.919-DF, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 24/06/2020 (RR – Tema 1.037) (Info 676).

PROTESTO DE CDA

É preciso lei local para protesto da CDA?

A validade do protesto de CDA emitida por Fazenda Pública


Estadual ou Fazenda Municipal não está condicionada à previa existência de
lei local que autorize a adoção dessa modalidade de cobrança extrajudicial.

O protesto de título de crédito é matéria afeta ao ramo do direito


civil e comercial, cuja competência legislativa é privativa da União, conforme
preconiza do art. 22, I, da Constituição Federal. Tem-se, assim, que essa
norma federal é de caráter nacional e, por isso, dispensa autorização legislativa
dos outros entes da federação para a sua pronta aplicação.

IMPORTANTE: Todavia, é possível que Estado ou Município edite


lei local RESTRINGINDO o protesto da CDA, por exemplo, estabelecendo
condições mínimas de tempo e valor. Contudo, a ausência da lei não impede o
protesto:

O Poder Legislativo de cada ente federativo pode deliberar por


restringir a atuação da sua Administração, estabelecendo, por exemplo,
condições mínimas de valor e de tempo, para que a CDA seja levada a
protesto, sendo certo que, na ausência dessas restrições legais ao protesto,
não há óbice para que a Fazenda Pública cobre seu crédito por essa via
extrajudicial, que, a toda evidência, é menos grave e onerosa em comparação
com o ajuizamento de execução fiscal.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.895.557-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 22/06/2021 (Info 702).

ICMS
Art. 150 (...) § 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação
tributária a condição de responsável pelo pagamento de imposto ou
contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente,
assegurada a imediata e preferencial restituição da quantia paga,
caso não se realize o fato gerador presumido.

1) É devida a restituição da diferença do ICMS pago a mais no


regime de substituição para frente se a BC for inferior à presumida?

Em adequação ao entendimento do STF, é devida a restituição da


diferença do ICMS pago a mais no regime de substituição tributária para frente
se a base de cálculo efetiva da operação for inferior à presumida.

STJ. 1ª Turma. REsp 687.113-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes


Maia Filho, por unanimidade, julgado em 05/04/2018 (Info 623).

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ERREI 2) Incide ICMS sobre operações financeiras realizadas


no Mercado de Curto Prazo da CCEE?

Não incide ICMS sobre as operações financeiras realizadas no


Mercado de Curto Prazo da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica
(CCEE).

STJ. 1ª Turma. REsp 1.615.790-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria,


julgado em 20/02/2018 (Info 623).

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3) Crédito presumido de ICMS integra a base de cálculo do


IRPJ e CSLL?

Crédito presumido de ICMS não integra a base de cálculo do IRPJ


e da CSLL.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.517.492-PR, Rel. Min. Regina Helena


Costa, julgado em 08/11/2017 (Info 618).

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4) ICMS deve ser incluído na base de cálculo do PIS/PASEP e
COFINS?

O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)


não compõe a base de cálculo para a incidência da contribuição para o PIS e a
COFINS. STF. Plenário. RE 574706/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em
15/3/2017 (repercussão geral) (Info 857).

STJ. 1ª Turma. REsp 1.100.739-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina,


julgado em 27/02/2018 (Info 621).

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5) Aplica-se o cálculo do ICMS por dentro nos casos de


substituição tributária?

O ICMS integra a sua própria base de cálculo, sendo isso


chamado de ICMS "por dentro" ou "cálculo por dentro". O ICMS por dentro está
previsto no art. 13, § 1º, I, da LC 87/96, sendo considerado constitucional pelo
STF. Essa mesma regra aplica-se para o ICMS substituição tributária,
considerando que se trata do mesmo tributo. Assim, ainda que se adote a
substituição tributária como forma de arrecadação de ICMS, é legal aplicar-se a
sistemática do "cálculo por dentro".

STJ. 2ª Turma. REsp 1.454.184-MG, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, julgado em 5/5/2016 (Info 585).

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6) Adquirente de boa-fé pode ser responsabilizado pelo


tributo que deixou de ser pago pela empresa vendedora?

O adquirente de boa-fé não pode ser responsabilizado pelo tributo


que deixou de ser oportunamente recolhido pela empresa vendedora que
realizou a operação mediante indevida emissão de nota fiscal.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.198.146-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria,


julgado em 04/12/2018 (Info 640).

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7) Sacolas plásticas fornecidas aos clientes para


acondicionamento de produtos geram creditamento de ICMS?
Sacolas plásticas fornecidas aos clientes para o transporte ou
acondicionamento de produtos, bem como bandejas, não são insumos
essenciais à atividade dos supermercados, de modo que não geram
creditamento de ICMS.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.830.894-RS, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, julgado em 03/03/2020 (Info 666).

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8) A dilatação volumétrica de combustível é fato gerador do


ICMS?

A fenomenologia física de dilatação volumétrica do combustível


não constitui fato gerador do ICMS.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.884.431-PB, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, julgado em 08/09/2020 (Info 679).

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9) Incide ICMS sobre o serviço de prestação de capacidade


de satélite?

Não incide ICMS-Comunicação sobre o serviço de prestação de


capacidade de satélite. Trata-se de mero serviço preparatório.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.437.550-RJ, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, julgado em 14/12/2021 (Info 723).

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10) Incide ICMS sobre o serviço de inserção de publicidade


em sites da internet?

O ICMS não incide sobre o serviço de inserção de publicidade e


veiculação de propaganda em sites da internet.

O serviço de comunicação apenas está configurado quando o


prestador fornece ao usuário os meios necessários à transmissão e à recepção
de informações e mensagens objeto da comunicação. É pertinente a distinção
da mensagem e da transmissão da mensagem, sendo apenas este último
objeto de tributação pelo ICMS-comunicação.
Especificamente quanto ao serviço de disponibilização de espaço
para publicidade e veiculação de propaganda em sites da internet), há
configuração de serviço de valor adicionado, pois se utiliza dos meios
(infraestrutura) já disponibilizados para o público em geral por terceiros para
acrescentar ao serviço de comunicação novas utilidades relacionadas ao
acesso, armazenamento e apresentação das informações ali contidas.

A esse respeito, o STF, no julgamento da ADI 6034/RJ, firmou o


entendimento segundo o qual "é constitucional o subitem 17.25 da lista anexa à
LC n. 116/2003, incluído pela LC n. 157/2016, no que propicia a incidência do
ISS, afastando a do ICMS, sobre a prestação de serviço de inserção de textos,
desenhos e outros materiais de propaganda e publicidade em qualquer meio
(exceto em livros, jornais, periódicos e nas modalidades de serviços de
radiodifusão sonora e de sons e imagens de recepção livre e gratuita)". (ADI
6034, Relator Dias Toffoli, Tribunal Pleno, julgado em 09/03/2022, DJe
21/03/2022).

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.598.445-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 23/08/2022 (Info 746).

ITCMD

1) Quando inicia o prazo decadencial para que o fisco lance


de ofício o tributo de doação não declarada?

No caso do ITCMD, referente a doação não oportunamente


declarada pelo contribuinte ao fisco estadual, a contagem do prazo decadencial
tem início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento
poderia ter sido efetuado, observado o fato gerador, em conformidade com os
arts. 144 e 173, I, ambos do CTN.

ATENÇÃO: No caso de partilha realizada sem pagamento do


imposto causa mortis, o prazo decadencial para cobrança inicia do trânsito em
julgado da sentença homologatória da partilha.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.841.798/MG, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, julgado em 20/04/2021 (RR – Tema 1.048) (Info 694).

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2) Incide ITCMD sobre os valores recebidos a título de VGBL?

O seguro de vida VGBL não integra a base de cálculo do ITCMD.

Não integrando a herança, isto é, não se tratando de transmissão


causa mortis, está o VGBL excluído da base de cálculo do ITCMD.

O VGBL, segundo a SUSEP e a jurisprudência do STJ, possui


natureza jurídica de seguro. O CC afirma expressamente que no seguro de
vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado não
está sujeito às dívidas do segurado, nem se considera herança (art. 794).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.961.488-RS, Rel. Min. Assusete


Magalhães, julgado em 16/11/2021 (Info 718).

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3) Para homologação da partilha no arrolamento sumário é


necessária a quitação do ITCMD?

No arrolamento sumário, a homologação da partilha ou da


adjudicação, bem como a expedição do formal de partilha e da carta de
adjudicação, não se condicionam ao prévio recolhimento do imposto de
transmissão causa mortis, devendo ser comprovado, todavia, o pagamento dos
tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas, a teor dos arts. 659, §
2º, do CPC/2015 e 192 do CTN.

Os títulos translativos de domínio de bens imóveis obtidos pelas


partes somente serão averbados se demonstrado o pagamento do imposto de
transmissão, consoante dispõem os arts. 143 e 289 da Lei de Registros
Públicos, sujeitando-se os oficiais de registro à responsabilidade tributária em
caso de omissão no dever de observar eventuais descumprimentos das
obrigações fiscais pertinentes (art. 134, VI, do CTN).

De igual modo, a emissão de novo Certificado de Registro de


Veículo - CRV supõe o prévio recolhimento do tributo, conforme determinado
pelo art. 124, VIII, do Código de Trânsito Brasileiro.

Noutro plano, o art. 192 do CTN, por seu turno, não tem o condão
de impedir a prolação da sentença homologatória da partilha ou da
adjudicação, ou de obstar a expedição do formal de partilha ou da carta de
adjudicação, quando ausente o recolhimento do ITCMD.
Isso porque tal dispositivo traz regramento específico quanto à
exigência de pagamento de tributos concernentes aos bens do espólio e às
suas rendas, vale dizer, disciplina hipóteses de incidência cujas materialidades
são claramente distintas da transmissão causa mortis, evidenciando, desse
modo, a ausência de incompatibilidade com o art. 659, § 2º, do CPC/2015.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.896.526-DF, Rel. Min. Regina Helena, por


unanimidade, j. em 26/10/2022 (RR - Tema 1.074) (Info 755).

IPVA

O alienante do veículo tem responsabilidade no caso de não


pagamento do IPVA do bem alienado?

Somente mediante lei estadual/distrital específica poderá ser


atribuída ao alienante responsabilidade solidária pelo pagamento do IPVA do
veículo alienado, na hipótese de ausência de comunicação da venda do bem
ao órgão de trânsito competente.

O art. 134 do CTB não contém disciplina normativa apta a


legitimar a atribuição de solidariedade tributária pelo pagamento do IPVA ao
alienante omisso; porém, observados os parâmetros constitucionais e as
balizas dispostas no CTN, os Estados-membros e o Distrito Federal poderão
imputar-lhe tal obrigação, desde que explicitamente prevista em lei local
específica.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.881.788-SP, Rel. Min. Regina Helena, por


unanimidade, j. em 23/11/2022 (RR - Tema 1.118) (Info 758).

IPTU

1) Qual é o termo inicial do prazo para cobrança judicial do


IPTU? Computa-se no cálculo o parcelamento unilateral concedido pelo
fisco?

O termo inicial do prazo prescricional da cobrança judicial do


Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU - inicia-se no dia seguinte à data
estipulada para o vencimento da exação. Não se computa o parcelamento
unilateral oferecido exclusivamente pelo fisco.
Ex.: IPTU com vencimento em cota única em 31/03/2019 e
parcelamento do tributo em 3x, em 31/03, 30/04 e 31/05, quando se inicia o
prazo prescricional? No dia 01/04/2019. Deve-se IGNORAR o parcelamento.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.658.517/PA, Rel. Min. Napoleão Nunes,


por unanimidade, julgado em 14/11/2018 (RR – Tema 980) (Info 638).

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2) Incide IPTU sobre imóvel qualificado como estação


ecológica?

A qualificação de imóvel como estação ecológica limita o direito


de propriedade, o que afasta a incidência do IPTU.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.695.340-MG, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 17/09/2019 (Info 657).

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3) Credor fiduciário pode ser o sujeito passivo do IPTU?

O credor fiduciário, antes da consolidação da propriedade e da


imissão na posse no imóvel objeto da alienação fiduciária, não pode ser
considerado sujeito passivo do IPTU, uma vez que não se enquadra em
nenhuma das hipóteses previstas no art. 34 do CTN.

Anote-se que, de acordo com o art. 25 da Lei n. 9.514/1997, a


propriedade conferida ao credor fiduciário é resolúvel. Além disso, nos termos
dos arts. 1.231 e 1.367 do Código Civil, essa não é plena e nunca o será.
Ganha relevância a previsão feita nos arts. 27, § 8°, da Lei 9.514/1997 e 1.368-
B, parágrafo único, do CC/2002, quando declaram que sobre o credor
fiduciante recaem todos os encargos (especial atenção dada aos tributos)
incidentes sobre o bem apenas com a consolidação da propriedade e após a
imissão da posse.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.796.224-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 16/11/2021 (Info 720).

IPI
1) Saída física do estabelecimento e roubo da mercadoria.
Incide IPI?

Na hipótese em que ocorrer roubo/furto da mercadoria após a sua


saída do estabelecimento do fabricante não se configura o evento ensejador de
incidência do IPI.

STJ. 1ª Seção. EREsp 734.403-RS, rel. Min. Napoleão Nunes


Maia Filho, por unanimidade, julgado em 14/11/2018 (Info 638).

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2) Brindes incluídos em produtos geram direito ao


creditamento de IPI?

Os brindes, produtos perfeitos e acabados em processo industrial


próprio, incluídos em outros produtos industrializados, não geram direito ao
creditamento de IPI.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.682.920-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 06/08/2019 (Info 654).

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3) Incide IPI sobre veículo importado para uso próprio?

Incide IPI sobre veículo importado para uso próprio, haja vista que
tal cobrança não viola o princípio da não cumulatividade nem configura
bitributação.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.396.488-SC, Rel. Min. Francisco Falcão,


julgado em 25/09/2019 (RR – Tema 695) (Info 657).

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4) Há fato gerador do IPI quando o produto é deslocado para


outra localidade de titularidade do contribuinte?

Havendo mero deslocamento para outro estabelecimento ou para


outra localidade, permanecendo o produto sob o domínio do contribuinte, não
haverá incidência do IPI.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.402.138-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
ITBI

A base de cálculo do ITBI pode estar vinculada à base de


cálculo do IPTU? A declaração do contribuinte goza de presunção de
veracidade?

a) a base de cálculo do ITBI é o valor do imóvel transmitido em


condições normais de mercado, não estando vinculada à base de cálculo do
IPTU, que nem sequer pode ser utilizada como piso de tributação;

b) o valor da transação declarado pelo contribuinte goza da


presunção de que é condizente com o valor de mercado, que somente pode
ser afastada pelo fisco mediante a regular instauração de processo
administrativo próprio (art. 148 do CTN);

c) o Município não pode arbitrar previamente a base de cálculo do


ITBI com respaldo em valor de referência por ele estabelecido unilateralmente.

A jurisprudência pacífica desta Corte Superior do STJ é no


sentido de que, embora o CTN estabeleça como base de cálculo do IPTU e do
ITBI o "valor venal", a apuração desse elemento quantitativo faz-se de formas
diversas, notadamente em razão da distinção existente entre os fatos
geradores e a modalidade de lançamento desses impostos.

O ITBI comporta apenas duas modalidades de lançamento


originário: por declaração, se a norma local exigir prévio exame das
informações do contribuinte pela Administração para a constituição do crédito
tributário, ou por homologação, se a legislação municipal disciplinar que caberá
ao contribuinte apurar o valor do imposto e efetuar o seu pagamento
antecipado sem prévio exame do ente tributante.

A prévia adoção de um valor de referência pela Administração


configura indevido lançamento de ofício do ITBI por mera estimativa e subverte
o procedimento instituído no art. 148 do CTN, pois representa arbitramento da
base de cálculo sem prévio juízo quanto à fidedignidade da declaração do
sujeito passivo.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.937.821-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, por


unanimidade, julgado em 24/02/2022 (RR - Tema 1.113) (Info 730).
IR

Portador de cegueira monocular tem direito à isenção do IR?

Os proventos de aposentadoria ou reforma percebidos por


portador de cegueira monocular também são isentos de imposto sobre a renda.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.553.931-PR, Rel. Min. Regina Helena


Costa, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

SANÇÕES POLÍTICAS E COBRANÇA DE TRIBUTOS

O Estado pode adotar sanções políticas para cobrança de


tributos?

O Estado não pode adotar sanções políticas para constranger o


contribuinte ao pagamento de tributos em atraso.

STJ. 1ª Turma. RMS 53.989-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria,


julgado em 17/04/2018 (Info 626).

S. 70, STF: É inadmissível a interdição de estabelecimento como


meio coercitivo para cobrança de tributo.

S. 323, STF: É inadmissível a apreensão de mercadorias como


meio coercitivo para pagamento de tributos.

S. 547, STF: Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte


em débito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e
exerça suas atividades profissionais.

S. 127, STJ: É ilegal condicionar a renovação da licença de


veículo ao pagamento de multa, da qual o infrator não foi notificado.

RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL

Há Responsabilidade civil estatal em decorrência de


mudança na alíquota do imposto de importação?

Não se verifica o dever do Estado de indenizar eventuais


prejuízos financeiros do setor privado decorrentes da alteração de política
econômico-tributária, no caso de o ente público não ter se comprometido,
formal e previamente, por meio de determinado planejamento específico.

Em tese, somente nos casos em que o Estado se


compromete, por ato formal, a incentivar, no campo fiscal, determinado ramo
do setor privado, por certo período, é que se poderia invocar a quebra da
confiança na modificação de política fiscal.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.492.832-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por maioria, julgado em 04/09/2018 (Info 634).

EXECUÇÃO FISCAL

1) Alienante do imóvel continua responsável pelos débitos


cujo fato gerador ocorreram antes da alienação?

O alienante possui legitimidade passiva para figurar em ação de


execução fiscal de débitos constituídos em momento anterior à alienação
voluntária de imóvel.

Ex: em 01/01/2015, data do fato gerador do IPTU, João era


proprietário de um imóvel; alguns meses mais tarde ele aliena para terceiro;
Município poderá ajuizar execução fiscal contra João cobrando IPTU do ano de
2015.

STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 942.940-RJ, Rel. Min. Herman


Benjamin, julgado em 15/8/2017 (Info 610).

--

2) O incidente de desconsideração da personalidade jurídica


é aplicável à execução fiscal?

Não é necessária a instauração do incidente de desconsideração


da personalidade jurídica (art. 133 do CPC/2015) no processo de execução
fiscal no caso em que a Fazenda Pública exequente pretende alcançar pessoa
distinta daquela contra a qual, originalmente, foi ajuizada a execução, mas
cujo nome consta na Certidão de Dívida Ativa, após regular procedimento
administrativo, ou, mesmo o nome não estando no título executivo, o Fisco
demonstre a responsabilidade, na qualidade de terceiro, em consonância
com os arts. 134 e 135 do CTN. Em outras palavras, a atribuição de
responsabilidade tributária fundada nos art. 134 e 135 do CTN não depende da
instauração de incidente de desconsideração da personalidade jurídica (art.
133 do CPC/2015).

Por outro lado, é necessária a instauração do incidente de


desconsideração da personalidade da pessoa jurídica devedora para o
redirecionamento de execução fiscal a pessoa jurídica que integra o mesmo
grupo econômico, mas que não foi identificada no ato de lançamento (Certidão
de Dívida Ativa) ou que não se enquadra nas hipóteses dos arts. 134 e 135 do
CTN.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.775.269-PR, Rel. Min. Gurgel de Faria,


julgado em 21/02/2019 (Info 643).

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3) É necessário o incidente de desconsideração em caso de


sucessão de empresas com configuração de grupo econômico?

É prescindível o incidente de desconsideração da personalidade


jurídica para o redirecionamento da execução fiscal na sucessão de empresas
com a configuração de grupo econômico de fato e em confusão patrimonial.

Entendimento contrário ao julgado da 1ª Turma, aparentemente.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.786.311-PR, Rel. Min. Francisco Falcão,


Segunda Turma, por unanimidade, julgado em 09/05/2019 (Info 648).

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4) Há possibilidade de recebimento dos embargos do


devedor sem garantia do juízo? A justiça gratuita garante a dispensa da
garantia?

Art. 16. § 1º - Não são admissíveis embargos do executado antes de


garantida a execução.
Deve ser afastada a exigência da garantia do juízo para a
oposição de embargos à execução fiscal, caso comprovado
inequivocadamente que o devedor não possui patrimônio para garantia do
crédito exequendo.

Regra: A garantia do juízo é condição de procedibilidade dos


embargos.

Exceção: Como a CF garante a todos os cidadãos o direito de


acesso ao poder judiciário, ao contraditório e à ampla defesa, a necessidade da
garantia pode ser mitigada em casos de hipossuficiência do embargante.

ATENÇÃO: O simples fato de o embargante ser beneficiário da


gratuidade da justiça não implica, necessariamente, na dispensa da garantia da
execução. O que deve ser analisada é a sua hipossuficiência.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.487.772-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria,


julgado em 28/05/2019 (Info 650).

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5) É possível aplicar em execução fiscal medidas atípicas


aflitivas?

Em execução fiscal não cabem medidas atípicas aflitivas


pessoais, tais como a suspensão de passaporte e da licença para dirigir.

O crédito fiscal é altamente blindado dos riscos de


inadimplemento, por sua própria conformação jusprocedimental. Nesse
raciocínio, é de imediata conclusão que medidas atípicas aflitivas pessoais, tais
como a suspensão de passaporte e da licença para dirigir, não se firmam no
executivo fiscal. A aplicação delas, nesse contexto, resulta em excessos.

STJ. 1ª Turma. HC 453.870-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia


Filho, por maioria, julgado em 25/06/2019 (Info 654).

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6) Existe prazo prescricional para redirecionamento da


execução fiscal em caso de dissolução irregular da empresa?

A) O prazo de redirecionamento da Execução Fiscal, fixado em


cinco anos, contado da diligência de citação da pessoa jurídica, é aplicável
quando o referido ato ilícito, previsto no art. 135, III, do CTN, for precedente a
esse ato processual;

B) A citação positiva do sujeito passivo devedor original da


obrigação tributária, por si só, não provoca o início do prazo prescricional
quando o ato de dissolução irregular for a ela subsequente, uma vez que, em
tal circunstância, inexistirá, na aludida data (da citação), pretensão contra os
sócios-gerentes (conforme decidido no REsp 1.101.728/SP, no rito do art. 543-
C do CPC/1973, o mero inadimplemento da exação não configura ilícito
atribuível aos sujeitos de direito descritos no art. 135 do CTN). O termo inicial
do prazo prescricional para a cobrança do crédito dos sócios-gerentes
infratores, nesse contexto, é a data da prática de ato inequívoco indicador do
intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já em curso de cobrança
executiva promovida contra a empresa contribuinte, a ser demonstrado pelo
Fisco, nos termos do art. 593 do CPC/1973 (art. 792 do novo CPC - fraude à
execução), combinado com o art. 185 do CTN (presunção de fraude contra a
Fazenda Pública); e,

C) Em qualquer hipótese, a decretação da prescrição para o


redirecionamento impõe seja demonstrada a inércia da Fazenda Pública, no
lustro que se seguiu à citação da empresa originalmente devedora (REsp
1.222.444/RS) ou ao ato inequívoco mencionado no item anterior
(respectivamente, nos casos de dissolução irregular precedente ou
superveniente à citação da empresa), cabendo às instâncias ordinárias o
exame dos fatos e provas atinentes à demonstração da prática de atos
concretos na direção da cobrança do crédito tributário no decurso do prazo
prescricional.

O legislador não disciplinou, de forma particularizada, a prescrição


para as hipóteses de redirecionamento da execução fiscal. Em outras palavras,
não existe um dispositivo específico tratando sobre o tema. O art. 174 do CTN
trata, de forma genérica, sobre prescrição da obrigação tributária: Art. 174. A
ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados
da data da sua constituição definitiva. Apesar disso, o STJ afirmou, com razão,
que o redirecionamento não pode ser imprescritível. Logo, o STJ afirmou que
esse mesmo prazo de 5 anos deve ser utilizado para o caso de
redirecionamento. Assim, vigora o seguinte: o redirecionamento da execução
fiscal deve ocorrer no prazo de 5 anos, sob pena de prescrição.

A partir de quando é contado esse prazo? Depende: 1) Se a


dissolução irregular (ato ilícito previsto no art. 135, III, do CTN) ocorreu antes
da citação da pessoa jurídica: o prazo de 5 anos para redirecionamento será
contado da diligência de citação da pessoa jurídica, já que o direito não socorre
aqueles que dormem.

2) Se a dissolução irregular ocorreu após a citação da pessoa


jurídica (ou seja, no curso da execução fiscal): o prazo de 5 anos para
redirecionamento será contado da data em que foi praticado o ato inequívoco
indicador do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já em curso

STJ. 1ª Seção. REsp 1.201.993-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,


julgado em 08/05/2019 (RR - Tema 444) (Info 662).

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7) Execução fiscal extinta sem julgamento do mérito, como


devem ser arbitrados os honorários de sucumbência?

Nos casos em que o acolhimento da pretensão não tenha


correlação com o valor da causa ou não se observe proveito econômico com a
extinção sem resolução do mérito da execução fiscal, os honorários de
sucumbência devem ser arbitrados por apreciação equitativa, com observância
dos critérios dos §§ 2º e 8º do art. 85 do CPC/2015.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.776.512-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

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8) A habilitação de crédito no juízo falimentar implica


renúncia à execução fiscal?

É cabível a coexistência de habilitação de crédito em sede de


juízo falimentar com a execução fiscal desprovida de garantia, desde que a
Fazenda Pública se abstenha de requerer a constrição de bens em relação ao
executado que também figure no polo passivo da ação falimentar.

A jurisprudência histórica do STJ sempre afirmou que a Fazenda


teria uma escolha: ou ajuizar a EF ou habilitar seu crédito na falência, havendo
renúncia ao outro caminho não escolhido. Com o Info 674, há uma mudança de
entendimento, autorizando a coexistência das ações, seja quando a EF for
proposta antes da falência, seja quando apresentada depois, desde que a
Fazenda se abstenha de requerer a constrição de bens.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.831.186-SP, Rel. Min. Regina Helena, por


maioria, julgado em 26/05/2020 (Info 674).

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9) Quem é o responsável pelo pagamento dos honorários na


ação cautelar prévia à execução fiscal?

A ação cautelar de caução prévia à execução fiscal não enseja


condenação em honorários advocatícios em desfavor de qualquer da partes.

A cautelar prévia de caução configura-se como mera antecipação


de fase de penhora na execução fiscal e, via de regra, é promovida no
exclusivo interesse do devedor. Atribuir ao ente federado a causalidade pela
cautelar de caução prévia à execução fiscal representa imputar ao credor a
obrigatoriedade da propositura imediata da ação executiva, retirando-se dele a
discricionariedade da escolha do momento oportuno para a sua proposição e
influindo diretamente na liberdade de exercício de seu direito de ação.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.521.312-MS, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 09/06/2020 (Info 675).

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9) Pode haver o redirecionamento da execução à empresa


sucessora no caso de CDA inscrita no nome da sucedida?

A execução fiscal pode ser redirecionada em desfavor da


empresa sucessora para cobrança de crédito tributário relativo a fato gerador
ocorrido posteriormente à incorporação empresarial e ainda lançado em nome
da sucedida, sem a necessidade de modificação da Certidão de Dívida Ativa,
quando verificado que esse negócio jurídico não foi informado
oportunamente ao fisco. Se houver sido comunicado ao fisco, será aplicada a
S. 392 e a CDA será considerada nula.

Não se aplica o entendimento da S. 392 do STJ: A Fazenda


Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da
sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou
formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução.

O registro na junta comercial, por ser público, implica na


presunção de ciência do fisco?

O simples registro na Junta Comercial não alcança essa


finalidade em relação à administração tributária, visto que não há na Lei n.
8.934/1994 previsão expressa de que esta (a administração tributária) seja
pessoalmente cientificada desses assentamentos. Por outro prisma, não se
mostra razoável exigir dos fiscos da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios a prévia consulta do registro dos atos constitutivos das
empresas contribuintes sempre que realizarem um lançamento.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.848.993/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, por


unanimidade, julgado em 26/08/2020 (RR - Tema 1.049) (Info 678).

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10) O redirecionamento da EF ao sócio depende do trânsito


em julgado da sentença penal condenatória?

O redirecionamento da execução fiscal contra os sócios prescinde


do trânsito em julgado da sentença penal condenatória em crime falimentar.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.792.310/RS, Rel. Min. Herman Benjamin,


por maioria, julgado em 04/02/2020 (Info 678).

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11) É possível o requerimento de inclusão do devedor fiscal


nos cadastros de inadimplentes?

O art. 782, §3º, do CPC é aplicável às execuções fiscais, devendo


o magistrado deferir o requerimento de inclusão do nome do executado em
cadastros de inadimplentes, preferencialmente pelo sistema SERASAJUD,
independentemente do esgotamento prévio de outras medidas executivas,
salvo se vislumbrar alguma dúvida razoável à existência do direito ao crédito
previsto na Certidão de Dívida Ativa - CDA.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.807.180/PR, Rel. Min. Og Fernandes, por


unanimidade, julgado em 24/02/2021 (RR - Tema 1.026) (Info 686).
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12) É possível a fixação de honorários em exceção de pre-


executividade quando o sócio é excluído da execução?

É possível a fixação de honorários advocatícios, em exceção de


pré-executividade, quando o sócio é excluído do polo passivo da execução
fiscal, que não é extinta.

Qualquer alegação de defesa pode ser veiculada por meio de


exceção de pré-executividade, desde que possa ser comprovada por prova
pré-constituída. Ou seja, atualmente, para se verificar o cabimento da exceção,
a matéria não precisa ser, necessariamente, de ordem pública, mas ser
possível pré-constituição.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.764.405-SP, Rel. Min. Assusete


Magalhães, por unanimidade, j. em 10/03/2021 (RR - Tema 961) (Info 688).

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13) Admite-se a alegação de compensação em sede de


embargos à execução?

A compensação tributária adquire a natureza de direito subjetivo


do contribuinte (oponível em sede de embargos à execução fiscal), em
havendo a concomitância de três elementos essenciais: (i) a existência de
crédito tributário, como produto do ato administrativo do lançamento ou do ato-
norma do contribuinte que constitui o crédito tributário; (ii) a existência de
débito do fisco, como resultado: (a) de ato administrativo de invalidação do
lançamento tributário, (b) de decisão administrativa, (c) de decisão judicial, ou
(d) de ato do próprio administrado, quando autorizado em lei, cabendo à
Administração Tributária a fiscalização e ulterior homologação do débito do
fisco apurado pelo contribuinte; e (iii) a existência de lei específica, editada pelo
ente competente, que autorize a compensação, ex vi do artigo 170, do CTN. 2.
Deveras, o § 3º, do artigo 16, da Lei 6.830/80, proscreve, de modo expresso, a
alegação do direito de compensação do contribuinte em sede de embargos do
executado. 3. O advento da Lei 8.383/91 (que autorizou a compensação entre
tributos da mesma espécie, sem exigir prévia autorização da Secretaria da
Receita Federal) superou o aludido óbice legal, momento a partir do qual
passou a ser admissível, no âmbito de embargos à execução fiscal, a alegação
de extinção (parcial ou integral) do crédito tributário em razão de compensação
já efetuada (encartada em crédito líquido e certo apurado pelo próprio
contribuinte, como sói ser o resultante de declaração de inconstitucionalidade
da exação), sem prejuízo do exercício, pela Fazenda Pública, do seu poder-
dever de apurar a regularidade da operação compensatória.

IMPORTANTE: Ambas as Turmas integrantes da 1a. Seção deste


Sodalício possuem a orientação de que somente seria possível a alegação, em
Embargos à Execução Fiscal, de compensação tributária, caso esta já tenha
sido reconhecida administrativa ou judicialmente antes do ajuizamento do feito
executivo. Por isso, a compensação indeferida na seara administrativa não
encontra lugar nos Embargos à Execução Fiscal diante do óbice do art. 16, §
3o. da Lei 6.830/1980 (AgInt no AREsp. 1.327.944/SP, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques, j. em 22/11/2018).

Tese: A compensação efetuada pelo contribuinte, antes do


ajuizamento do feito executivo, pode figurar como fundamento de defesa dos
embargos à execução fiscal, a fim de ilidir a presunção de liquidez e certeza da
CDA, máxime quando, à época da compensação, restaram atendidos os
requisitos da existência de crédito tributário compensável, da configuração do
indébito tributário, e da existência de lei específica autorizativa da citada
modalidade extintiva do crédito tributário.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.008.343/SP. Rel. Min. Luiz Fux, j. em


01/02/2020 (RR – Tema 294).

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14) O pagamento da dívida ativa antes da citação, mas após o


ajuizamento da execução, enseja a fixação de honorários?

Não cabe a condenação em honorários advocatícios por débito


quitado após ajuizamento da execução fiscal e antes da citação.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.927.469-PE, Rel. Min. Og Fernandes, por


unanimidade, julgado em 10/08/2021 (Info 705).

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15) A Fazenda deve recolher as custas para realização do ato


citatório?
A teor do art. 39 da Lei n. 6.830/1980, a fazenda pública
exequente, no âmbito das execuções fiscais, está dispensada de promover o
adiantamento de custas relativas ao ato citatório, devendo recolher o respectivo
valor somente ao final da demanda, acaso resulte vencida.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.858.965-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, por


unanimidade, julgado em 22/09/2021 (RR – Tema 1.054) (Info 710).

15.1) E as custas da diligência do oficial de justiça para


citação, a Fazenda deve recolher previamente?

A isenção prevista em favor da Fazenda Pública no art. 39 da Lei.


n. 6.830/1980 não pode ser estendida às despesas com o deslocamento dos
oficiais de justiça para a prática do ato citatório.

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.995.692-PB, Rel. Min. Sérgio


Kukina, por unanimidade, julgado em 22/08/2022 (Info 747).

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16) Os honorários fixados pelo juiz no despacho que ordena


a citação devem observar os percentuais do art. 85, CPC?

Na Execução Fiscal, quando não incluídos como encargo na


CDA, os honorários provisórios arbitrados no despacho do juiz que ordena a
citação devem observar o percentual estabelecido no art. 827 e não as faixas
do art. 85, § 3°, ambos do CPC/2015.

Diante deste cenário, segundo a previsão do artigo 827 do CPC, o


MM. Julgador, ao proferir despacho inicial, nos processos executivos, fixará, de
plano, a verba honorária, no valor de 10% (dez por cento), a ser paga pela
parte Executada. Aludido valor poderá, inclusive, ser reduzido pela metade,
caso ocorra o pagamento integral do débito exequendo.

STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1.738.784-GO, Rel. Min. Herman


Benjamin, por unanimidade, julgado em 05/10/2021 (Info 713).

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17) É possível o redirecionamento da execução contra o


sócio que, apesar de exercer a gerência da empresa devedora à época do
fato tributário, dela regularmente se afastou, sem dar causa, portanto, à
posterior dissolução irregular da sociedade empresária?
O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na
dissolução irregular da pessoa jurídica executada ou na presunção de sua
ocorrência, não pode ser autorizado contra o sócio ou o terceiro não sócio que,
embora exercessem poderes de gerência ao tempo do fato gerador, sem
incorrer em prática de atos com excesso de poderes ou infração à lei, ao
contrato social ou aos estatutos, dela regularmente se retirou e não deu causa
à sua posterior dissolução irregular, conforme art. 135, III do CTN.

A 1ª Seção do STJ, ao julgar, sob o rito dos recursos repetitivos, o


REsp 1.101.728/SP (Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, DJe de 23/03/2009),
fixou a tese de que "a simples falta de pagamento do tributo não configura, por
si só, nem em tese, circunstância que acarreta a responsabilidade subsidiária
do sócio, prevista no art. 135 do CTN. É indispensável, para tanto, que tenha
agido com excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou ao
estatuto da empresa" (Tema 97 do STJ). No mesmo sentido dispõe a Súmula
430/STJ ("O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera,
por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente").

STJ. 1ª Seção. REsp 1.377.019-SP, Rel. Min. Assusete


Magalhães, por unanimidade, j. em 24/11/2021 (RR – Tema 962) (Info 719).

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18) O seguro-garantia para garantia do juízo pode ter prazo


determinado?

A apólice de seguro-garantia com prazo de vigência determinado


é inidônea para fins de garantia da execução fiscal.

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.924.099-MG, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, julgado em 24/05/2022 (Info 738).

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19) A extinção da execução em razão do cancelamento da


CDA permite a condenação da fazenda nas verbas da sucumbência?

Art. 26 - Se, antes da decisão de primeira instância, a inscrição de


Divida Ativa for, a qualquer título, cancelada, a execução fiscal será
extinta, sem qualquer ônus para as partes.
A necessidade de deferimento de honorários advocatícios nos
casos de extinção de execução fiscal em razão do cancelamento da inscrição
da dívida ativa não pode ensejar ônus excessivo do Estado, sob pena de
esvaziar, por completo, o disposto no art. 26 da Lei de Execução Fiscal.

A jurisprudência desta Corte Superior, sopesando a necessidade


de remunerar a defesa técnica pelo oferecimento de embargos à execução em
momento anterior ao cancelamento administrativo, passou a admitir a fixação
da verba honorária pelo princípio da causalidade, mesmo quando a execução é
encerrada com base no art. 26 da LEF.

Nesse sentido, foi editada a Súmula 153 do STJ: "A desistência


da execução fiscal, após o oferecimento dos embargos, não exime o exequente
dos encargos de sucumbência." Contudo, a necessidade de deferimento de
honorários advocatícios nesses casos não pode ensejar ônus excessivo ao
Estado, sob pena de esvaziar, por completo, o referido artigo de lei.

Então, para esses casos, a remuneração do causídico deve ser


fixada mediante apreciação equitativa, levando-se em conta os parâmetros
elencados nos incisos do § 2º do art. 85, sem prejuízo de que a importância
econômica da causa também possa ser considerada em conjunto com os
demais critérios.

STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1.967.127-RJ, Rel. Min. Gurgel


de Faria, por unanimidade, julgado em 07/06/2022 (Info Especial n. 5).

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20) O executado, vencedor, deve ser ressarcido das despesas


que teve para apresentação do seguro garantia?

É descabido o ressarcimento de valor despendido com a


apresentação de seguro garantia para viabilizar a oposição de embargos à
execução opostos contra pretensão da Fazenda Pública.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.852.810-RS, Rel. Min. Francisco Falcão,


por unanimidade, julgado em 13/09/2022 (Info 750).

ART. 34 – CAUSAS DE ALÇADA


Art. 34 - Das sentenças de primeira instância proferidas em
execuções de valor igual ou inferior a 50 (cinqüenta) Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, só se admitirão embargos
infringentes e de declaração.

§ 1º - Para os efeitos deste artigo considerar-se-á o valor da dívida


monetariamente atualizado e acrescido de multa e juros de mora e
demais encargos legais, na data da distribuição.

§ 2º - Os embargos infringentes, instruídos, ou não, com documentos


novos, serão deduzidos, no prazo de 10 (dez) dias perante o mesmo
Juízo, em petição fundamentada.

§ 3º - Ouvido o embargado, no prazo de 10 (dez) dias, serão os autos


conclusos ao Juiz, que, dentro de 20 (vinte) dias, os rejeitará ou
reformará a sentença.

1) É cabível MS contra sentença das causas de alçada?

Não é cabível mandado de segurança contra decisão proferida


em execução fiscal no contexto do art. 34 da Lei n. 6.830/1980.

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o ARE 637.975-RG/MG, na


sistemática da repercussão geral, firmou a tese de que "É compatível com a
Constituição o art. 34 da Lei 6.830/1980, que afirma incabível apelação em
casos de execução fiscal cujo valor seja inferior a 50 ORTN" (Tema 408/STF).

Essa limitação à utilização de recursos foi uma opção do


legislador, que compreendeu que o aparato judiciário não devia ser mobilizado
para causas cujo valor fosse tão baixo que o custo de tramitação na justiça
ultrapassasse o próprio valor buscado na ação.

STJ. 1ª Seção. IAC no RMS 54.712-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina,


por maioria, julgado em 10/04/2019 (Info 648).

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2) Cabe agravo de instrumento contra interlocutórias das


causas de alçada?

Não cabe agravo de instrumento em execuções fiscais cujo valor


não supere cinquenta Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNS.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.751.847-SP, Rel. Min. Francisco Falcão,
por unanimidade, julgado em 16/08/2022 (Info 745).

ART. 40 – PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE

Art. 40 - O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for


localizado o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa
recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo de prescrição.
§ 1º - Suspenso o curso da execução, será aberta vista dos autos ao
representante judicial da Fazenda Pública. § 2º - Decorrido o prazo
máximo de 1 (um) ano, sem que seja localizado o devedor ou
encontrados bens penhoráveis, o Juiz ordenará o arquivamento dos
autos. § 3º - Encontrados que sejam, a qualquer tempo, o devedor ou
os bens, serão desarquivados os autos para prosseguimento da
execução. § 4o Se da decisão que ordenar o arquivamento tiver
decorrido o prazo prescricional, o juiz, depois de ouvida a Fazenda
Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e
decretá-la de imediato.

1) Início do prazo de suspensão da execução por 1 ano

O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo


prazo prescricional previsto no art. 40, §§ 1º e 2º da Lei n. 6.830/1980 - LEF
tem início automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública a respeito
da não localização do devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no
endereço fornecido, havendo, sem prejuízo dessa contagem automática, o
dever de o magistrado declarar ter ocorrido a suspensão da execução.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 12/09/2018 (Info 635).

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2) Início do prazo da prescrição intercorrente

Havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não


pronunciamento judicial nesse sentido, findo o prazo de 1 (um) ano de
suspensão, inicia-se automaticamente o prazo prescricional aplicável (de
acordo com a natureza do crédito exequendo), durante o qual o processo
deveria estar arquivado sem baixa na distribuição, na forma do art. 40, §§ 2º, 3º
e 4º da Lei n. 6.830/1980 - LEF, findo o qual o Juiz, depois de ouvida a
Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e
decretá-la de imediato.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 12/09/2018 (Info 635).

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3) Marco interruptivo da prescrição intercorrente

A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda que por


edital) são aptas a interromper o curso da prescrição intercorrente, não
bastando para tal o mero peticionamento em juízo, requerendo, v.g., a feitura
da penhora sobre ativos financeiros ou sobre outros bens. Os requerimentos
feitos pelo exequente, dentro da soma do prazo máximo de 1 (um) ano de
suspensão mais o prazo de prescrição aplicável (de acordo com a natureza do
crédito exequendo) deverão ser processados, ainda que para além da soma
desses dois prazos, pois, citados (ainda que por edital) os devedores e
penhorados os bens, a qualquer tempo - mesmo depois de escoados os
referidos prazos -, considera-se interrompida a prescrição intercorrente,
retroativamente, na data do protocolo da petição que requereu a
providência frutífera.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 12/09/2018 (Info 635).

--

4) Nulidade e necessidade de demonstração de prejuízo

A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos


autos (art. 245 do CPC/1973, correspondente ao art. 278 do CPC/2015), ao
alegar nulidade pela falta de qualquer intimação dentro do procedimento do art.
40 da LEF, deverá demonstrar o prejuízo que sofreu (exceto a falta da
intimação que constitui o termo inicial - Tema 566, onde o prejuízo é
presumido), por exemplo, deverá demonstrar a ocorrência de qualquer causa
interruptiva ou suspensiva da prescrição.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 12/09/2018 (Info 635).

--

5) Delimitação dos marcos legais de suspensão e prescrição


e necessidade de fundamentação

O magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá


fundamentar o ato judicial por meio da delimitação dos marcos legais que
foram aplicados na contagem do respectivo prazo, inclusive quanto ao período
em que a execução ficou suspensa.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.340.553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 12/09/2018 (Info 635).

MEDIDA CAUTELAR FISCAL – LEI 8.347/92

É possível autorizar a indisponibilidade de bens de pessoas


que não constam no polo passivo da execução?

A ocorrência de fraude autoriza a indisponibilidade de bens de


participantes do ilícito que não constam no polo passivo da execução fiscal.

Havendo prova da ocorrência de fraude por grupo de pessoas


físicas e/ou jurídicas, como a criação de pessoas jurídicas fictícias para
oportunizar a sonegação fiscal ou o esvaziamento patrimonial dos reais
devedores, o juízo da execução pode redirecionar a execução fiscal às
pessoas envolvidas e, por isso, com base no poder geral de cautela e dentro
dos limites e condições impostas pela legislação, estender a ordem de
indisponibilidade para garantia de todos os débitos tributários gerados pelas
pessoas participantes da situação ilícita, pois, "os requisitos necessários para a
imputação da responsabilidade patrimonial secundária na ação principal de
execução são também exigidos na ação cautelar fiscal, posto acessória por
natureza"
STJ. 1ª Turma. REsp 1.656.172-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria,
por unanimidade, julgado em 11/06/2019 (Info 653).

CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA

Para fazer a prova da constituição definitiva do crédito


tributário se exige a juntada integral do PAF?

Para o início da ação penal, basta a prova da constituição


definitiva do crédito tributário (Súmula Vinculante 24), sendo desnecessária a
juntada integral do Procedimento Administrativo Fiscal correspondente.

STJ. 5ª Turma. RHC 94.288-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da


Fonseca, julgado em 22/05/2018 (Info 627).
DIREITO AMBIENTAL

PRINCÍPIOS AMBIENTAIS E DIREITO CONSTITUCIONAL


AMBIENTAL

Publicidade na seara ambiental

Tese A): O direito de acesso à informação no Direito Ambiental


brasileiro compreende: i) o dever de publicação, na internet, dos documentos
ambientais detidos pela Administração não sujeitos a sigilo (transparência
ativa); ii) o direito de qualquer pessoa e entidade de requerer acesso a
informações ambientais específicas não publicadas (transparência passiva); e
iii) direito a requerer a produção de informação ambiental não disponível para a
Administração (transparência reativa);

Tese B): Presume-se a obrigação do Estado em favor da


transparência ambiental, sendo ônus da Administração justificar seu
descumprimento, sempre sujeita a controle judicial, nos seguintes termos: i) na
transparência ativa, demonstrando razões administrativas adequadas para a
opção de não publicar; ii) na transparência passiva, de enquadramento da
informação nas razões legais e taxativas de sigilo; e iii) na transparência
ambiental reativa, da irrazoabilidade da pretensão de produção da informação
inexistente;

Tese C): O regime registral brasileiro admite a averbação de


informações facultativas sobre o imóvel, de interesse público, inclusive as
ambientais;

Tese D): O Ministério Público pode requisitar diretamente ao


oficial de registro competente a averbação de informações alusivas a suas
funções institucionais.

No âmbito ambiental, o direito de acesso à informação encontra-


se reconhecido no direito internacional, em diversas normas que visam dar
cumprimento ao Princípio 10 da Declaração do Rio. Na América Latina e
Caribe, o Acordo de Escazú dispõe sobre a matéria. Embora não internalizado,
pendente de ratificação, o direito nacional reflete princípios semelhantes por
todo o ordenamento, desde o nível constitucional, que se espalham em
variadas leis federais.
O ainda incipiente Estado de Direito Ambiental, também dito
Estado Ecológico de Direito ou Estado Socioambiental de Direito
(Environmental Rule of Law), brasileiro contempla dentre as medidas de
transparência ambiental (inspiração nas Sunshine laws), entre outras: i) o dever
estatal de produzir relatórios de execução de projetos ambientais, como os
Planos de Manejo de APAs; ii) o dever estatal de publicar tais relatórios na
internet, com periodicidade adequada; e iii) a averbação das APAs nos
registros de imóveis rurais, mediante requisição direta do Ministério Público aos
ofícios.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.857.098-MS, Rel. Min. Og Fernandes, por


unanimidade, julgado em 11/05/2022 (IAC – Tema 13) (Info 737).

ART. 54, LEI 9.605/98 – POLUIÇÃO

Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que


resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que
provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da
flora: Pena — reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Qual a natureza do delito do art. 54 da Lei 9.605/98?

O delito previsto na primeira parte do art. 54 da Lei nº 9.605/98


possui natureza formal, sendo suficiente a potencialidade de dano à saúde
humana para configuração da conduta delitiva, não se exigindo, portanto, a
realização de perícia.

STJ. 3ª Seção. EREsp 1.417.279-SC, Rel. Min. Joel Ilan


Paciornik, julgado em 11/04/2018 (Info 624).

TAC AMBIENTAL
1) Assinatura de TAC impede processo penal?

A assinatura do termo de ajustamento de conduta com órgão


ambiental não impede a instauração de ação penal. Isso porque vigora em
nosso ordenamento jurídico o princípio da independência das instâncias penal
e administrativa.

STJ. Corte Especial. APn 888-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi,


julgado em 02/05/2018 (Info 625).

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2) É possível adaptar o TAC celebrado antes da vigência do


novo código florestal às suas especificações?

O cumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta deve ser


regido pelo Código Florestal vigente à época da celebração do acordo.

Nos termos da orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de


Justiça, "o novo Código Florestal não pode retroagir para atingir o ato jurídico
perfeito, os direitos ambientais adquiridos e a coisa julgada." (AgRg no REsp
1.434.797/PR, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 7/6/2016).
As cláusulas de Termo de Ajustamento de Conduta TAC, ou de documento
assemelhado, devem ser adimplidas fielmente e de boa-fé, incumbindo ao
degradador a prova da satisfação plena das obrigações assumidas. A
inadimplência, total ou parcial, do TAC dá ensejo à execução do avençado e
das sanções de garantia.

EXCEÇÃO: Será possível aplicar disposições retroativas dos novo


código florestal quando houver regulação de situações pretéritas (REsp
1.532.719-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, por
unanimidade, julgado em 08/09/2020).

A compensação de danos ambientais ocorridos em reserva legal


em data anterior à vigência da Lei nº 12.651/2012 (Novo Código Florestal) não
precisa ser feita na mesma microbacia, sendo suficiente que ocorra no mesmo
bioma do imóvel a ser compensado.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.802.754-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,


por unanimidade, julgado em 08/10/2019 (Info 679).
RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

1) Qual a natureza da responsabilidade administrativa


ambiental?

Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação


federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos
causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os
transgressores: I - à multa simples ou diária, nos valores
correspondentes, no mínimo, a 10 (dez) e, no máximo, a 1.000 (mil)
Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNs, agravada
em casos de reincidência específica, conforme dispuser o
regulamento, vedada a sua cobrança pela União se já tiver sido
aplicada pelo Estado, Distrito Federal, Territórios ou pelos Municípios;
II - à perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos
pelo Poder Público; III - à perda ou suspensão de participação em
linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; IV - à
suspensão de sua atividade.

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo,


é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a
terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e
dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade
civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

A responsabilidade administrativa ambiental é de natureza


subjetiva.

A aplicação e a execução das penas limitam-se aos


transgressores; a reparação ambiental, de cunho civil, a seu turno, pode
abranger todos os poluidores, a quem a própria legislação define como "a
pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou
indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental" (art. 3º, inc.
V, da Lei 6.938/81). Assim, o uso do vocábulo "transgressores" no caput do art.
14, comparado à utilização da palavra "poluidor" no § 1º do mesmo dispositivo,
deixa a entender aquilo que já se podia inferir da vigência do princípio da
intranscendência das penas: a responsabilidade civil por dano ambiental é
subjetivamente mais abrangente do que as responsabilidades administrativa e
penal, não admitindo estas últimas que terceiros respondam a título objetivo
por ofensas ambientais praticadas por outrem.

A aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica


da responsabilidade objetiva da esfera cível (para reparação dos danos
causados), mas deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou
seja, a conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com
demonstração de seu elemento subjetivo, e com demonstração do nexo causal
entre a conduta e o dano.

Assim, a responsabilidade CIVIL ambiental é objetiva; porém,


tratando-se de responsabilidade administrativa ambiental, a responsabilidade é
SUBJETIVA.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.318.051-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, julgado em 08/05/2019 (Info 650).

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2) Requisitos para apreensão de veículo utilizado na prática


de infração ambiental – Pode ser apreendido veículo alugado, mesmo que
o ilícito tenha sido praticado pelo locatário?

Exigir que a autoridade ambiental comprove que o veículo era


utilizado específica, exclusiva, reiterada ou rotineiramente para a prática de
delito ambiental caracteriza verdadeira prova diabólica, o que tornaria letra
morta a legislação que ampara a atividade fiscalizatória.

Ainda que se trate de bem locado ao real infrator, a apreensão do


bem é possível. Não se pode dizer que houve uma injusta restrição ao
proprietário (que não deu causa à infração ambiental). Ao alugar o veículo, o
locador assume o risco decorrente da exploração da atividade econômica por
ele exercida. Além disso, seja em razão do conceito legal de poluidor, seja em
função do princípio da solidariedade que rege o direito ambiental, a
responsabilidade administrativa pelo ilícito recai sobre quem, de qualquer
forma, contribuiu para a prática da infração ambiental, por ação ou omissão.
Ademais, aquele que realiza a atividade de locação de veículos deve adotar
garantias para a prevenção e o ressarcimento dos danos causados pelo
locatário. Não é possível admitir que o Judiciário comprometa a eficácia da
legislação ambiental e impeça a apreensão do veículo tão somente porque o
instrumento utilizado no ilícito originou-se de um contrato de locação, cessão
ou de qualquer outro meio juridicamente previsto.

Após a medida de apreensão, a autoridade administrativa deverá


notificar o proprietário do veículo locado para dar a ele a oportunidade de
comprovar a sua boa-fé antes de decidir sobre a destinação do bem
apreendido pela prática de infração ambiental. Cabe ao proprietário do veículo
comprovar sua boa-fé, demonstrando que, pelas circunstâncias da prática
envolvida e apesar de ter tomado as precauções necessárias, não tinha
condições de prever a utilização do bem no ilícito ambiental. A autoridade
administrativa deve notificar o proprietário do veículo locado para oportunizar
que comprove a sua boa-fé antes de decidir sobre a destinação do bem
apreendido pela prática de infração ambiental.

STJ. 2ª Turma. AREsp 1.084.396-RO, Rel. Min. Og Fernandes,


julgado em 19/09/2019 (Info 659).

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3) A cobrança de multa por Município relativa à danos


ambientais já paga à União configura bis in idem?

A cobrança por Município de multa relativa a danos ambientais já


paga à União anteriormente, pelo mesmo fato, não configura bis in idem.

O art. 76 da Lei nº 9.605/98 afirma que, se o Estado, Município,


Distrito Federal ou Território já tiver multado o infrator e esta tiver sido paga,
não é mais possível que seja imposta uma “multa federal”: Art. 76. O
pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, Distrito Federal ou
Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência.

O inverso, contudo, não é verdadeiro.

Assim, se a União já tiver multado o infrator, essa “multa federal”


não substitui a multa imposta pelo Estado, DF ou Município considerando que
isso não foi previsto pelo art. 76. Houve um silêncio eloquente do legislador.
Se o pagamento da multa imposta pela União também afastasse
a possibilidade de cobrança por Estados, Municípios, Distrito Federal e
Territórios, a lei teria afirmado simplesmente que o adimplemento de sanção
aplicada por ente federativo afastaria a exigência de pena pecuniária por
quaisquer dos outros. Dessa forma, não há margem para interpretação de que
a multa paga à União impossibilita a cobrança daquela aplicada pelo Município,
sob pena de bis in idem, uma vez que a atuação conjunta dos poderes
públicos, de forma cooperada, na tutela do meio ambiente, é dever imposto
pela Constituição Federal.

ATENÇÃO: penso que esse entendimento está superado. Os


fatos analisados neste julgado ocorreram quando ainda não estava em vigor a
LC 140/2011. Esta Lei previu que se, mais de um ente federativo lavrar auto de
infração ambiental, deverá prevalecer aquele que foi feito por órgão que
detenha a atribuição de licenciamento (art. 17, § 3º). Isso para evitar bis in
idem. Logo, no caso concreto, seria preciso definir qual dos dois órgãos tinha
competência (União ou Município) e somente iria prevalecer o auto de infração
lavrado por ele. Muito cuidado como esse tema vai ser cobrado em prova.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.132.682-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin,


por unanimidade, julgado em 13/12/2016 (Info 667).

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4) Erro na concessão de licença ambiental afasta a


responsabilidade pelo dano ambiental?

O erro na concessão de licença ambiental não configura fato de


terceiro capaz de interromper o nexo causal na reparação por lesão ao meio
ambiente.

A exoneração da responsabilidade pela interrupção do nexo


causal é admitida na responsabilidade subjetiva e em algumas teorias do risco
que regem a responsabilidade objetiva, mas não pode ser alegada quando se
tratar de dano subordinado à teoria do risco integral. Os danos ambientais são
regidos pela teoria do risco integral, colocando-se aquele que explora a
atividade econômica na posição de garantidor da preservação ambiental,
sendo sempre considerado responsável pelos danos vinculados à atividade,
descabendo questionar a exclusão da responsabilidade pelo suposto
rompimento do nexo causal (fato exclusivo de terceiro ou força maior).

STJ. 3ª Turma. REsp 1.612.887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, por


unanimidade, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

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5) A construção de poço artesiano depende de autorização


pública?

É vedada a captação de água subterrânea para uso de núcleos


residenciais, sem que haja prévia outorga e autorização ambiental do Poder
Público.

A lei fala em necessidade de autorização para edificações de uso


não residencial ou condomínios, de modo que se for uma residência isolada,
penso ser dispensada a autorização.

E se a lei estadual, distrital ou municipal autorizar, de forma


genérica, a perfuração de poços artesianos, sem exigência de autorização
específica? Essa lei será inconstitucional. Compete privativamente à União
legislar sobre águas (art. 22, IV, da CF/88).

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.335.535/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin,


por unanimidade, julgado em 26/09/2018 (Info 678).

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6) A apreensão de veículo utilizado na prática de infração


depende da demonstração da habitualidade de seu uso?

A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental,


fundada na atual redação do § 4º do art. 25 da Lei n. 9.605/1998, independe do
uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada infracional.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.814.944-RN, Rel. Min. Mauro Campbell,


por unanimidade, julgado em 10/02/2021 (RR - Tema 1.036) (Info 685).

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7) A indenização pelo dano ambiental causado deve ser


integral?
A indenização de dano ambiental deve abranger a totalidade dos
danos causados, não sendo possível ser decotadas em seu cálculo despesas
referentes à atividade empresarial (impostos e outras).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.923.855-SC, Rel. Min. Francisco Falcão,


por unanimidade, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

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8) A pretensão de execução de obrigações de fazer previstas


em TAC é prescritível?

A pretensão executória de obrigações de fazer previstas em TAC


firmado para reparação de danos ambientais decorrentes de empreendimento
imobiliário, quando relacionadas a questões meramente patrimoniais, não
visando a restauração de bens de natureza ambiental, sujeita-se à prescrição
quinquenal.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.941.907-RJ, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, julgado em 09/08/2022 (Info 744).

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9) Qual a natureza da responsabilidade estatal no caso de


danos ambientais causados por sua omissão?

A responsabilidade civil por dano ambiental é objetiva e solidária.


E, nos casos em que o Poder Público concorre para o prejuízo por omissão, a
sua responsabilidade solidária é de execução subsidiária (ou com ordem de
preferência).

STJ. 2ª Turma. AREsp 1.756.656-SP, Rel. Min. Francisco Falcão,


por unanimidade, julgado em 18/10/2022 (Info 758).

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10) Os danos ambientais interinos também são passíveis de


indenização?

O cumprimento da obrigação de reparar integralmente o dano


ambiental (in natura ou pecuniariamente) não afasta a obrigação de indenizar
os danos ambientais interinos.
O STJ distingue ao menos três espécies de danos ambientais,
considerados no tempo: i) o dano em si, reparável preferencialmente pela
restauração do ambiente ao estado anterior; ii) o dano remanescente (residual,
perene, definitivo, permanente), que se protrai no tempo mesmo após os
esforços de recuperação in natura , em regra indenizável; e iii) o dano interino
(intercorrente, intermediário, temporário, provisório), que ocorre entre a
ocorrência da lesão em si e a reparação integral, haja ou não dano
remanescente.

É perfeitamente possível e lógico que haja dano interino mesmo


com a integral reparação do meio ambiente degradado, seja essa reparação in
natura ou mediante indenização. As parcelas e suas causas não se
confundem.

No caso do dano interino, sua causa é a lesão experimentada


pelo meio ambiente desde o momento da lesão (tempo passado) até sua
reparação (tempo futuro). Nessas hipóteses, pode perfeitamente haver dano
interino indenizável, ainda que não se vislumbre dano remanescente.

Ele se configura pela diminuição temporária do valor do bem


ambiental (nas diversas manifestações desse valor de uso). É uma
compensação da sociedade pelo período que deixou de gozar dos serviços e
recursos ecológicos, inclusive a título de reserva e precaução.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.845.200-SC, Rel. Ministro Og Fernandes,


julgado em 16/8/2022 (Info Especial n. 8).

CÓDIGO FLORESTAL - LEI 12.651/12

Art. 15: Será admitido o cômputo das Áreas de Preservação


Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal do
imóvel (...).
1) O art. 15 do CF pode retroagir para incidir em situações
anteriores à sua vigência?

O art. 15 da Lei n. 12.651/2012, que admite o cômputo da área de


preservação permanente no cálculo do percentual de instituição da reserva
legal do imóvel, não retroage para alcançar situações consolidadas antes de
sua vigência.

Fundamentos: Princípio do tempus regit actum e à proibição do


retrocesso em matéria ambiental.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.646.193-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por maioria, julgado em 12/05/2020 (Info 673).

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2) Na delimitação da área não edificável em zona urbana deve


ser aplicado o código florestal ou a lei de parcelamento do solo?

Na vigência do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), a


extensão não edificável nas Áreas de Preservação Permanente de qualquer
curso d'água, perene ou intermitente, em trechos caracterizados como área
urbana consolidada, deve respeitar o que disciplinado pelo seu art. 4º, caput,
inciso I, alíneas a, b, c, d e e, a fim de assegurar a mais ampla garantia
ambiental a esses espaços territoriais especialmente protegidos e, por
conseguinte, à coletividade.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.770.760/SC, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, julgado em 28/04/2021 (RR – Tema 1.010) (Info 694).

AÇÃO POPULAR

Competência para julgamento da AP concorrente com outros


APs e ACPs decorrentes do mesmo dano ambiental

Em face da magnitude econômica, social e ambiental do caso


concreto, é possível a fixação do juízo do local do fato para o julgamento de
ação popular que concorre com diversas outras ações individuais, populares e
civis públicas decorrentes do mesmo dano ambiental.
Regra geral competência AP: De acordo com a jurisprudência do
STJ, sendo igualmente competentes o juízo do domicílio do autor popular e o
do local onde houver ocorrido o dano (local do fato), a competência para
examinar o feito é daquele em que menor dificuldade haja para o exercício da
ação popular.

No presente caso, contudo, a ação popular estará competindo e


concorrendo com várias outras ações populares e ações civis públicas, bem
como com centenas de ações individuais, razão pela qual, em se tratando de
competência concorrente, deve ser eleito o foro do local do fato. As
peculiaridades que a distinguem dos casos anteriormente enfrentados pelo STJ
impõem adoção de solução mais consentânea com a imprescindibilidade de se
evitar tumulto processual em demanda de tamanha magnitude social,
econômica e ambiental. Assim, a solução encontrada é de distinguishing à luz
de peculiaridades do caso concreto e não de revogação do entendimento do
STJ sobre a competência para a ação popular, que deverá ser aplicada quando
a ação popular for isolada.

STJ. 1ª Seção. CC 164.362-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, por


unanimidade, julgado em 12/06/2019 (Info 662).
DIREITO ADMINISTRATIVO

SERVIDORES PÚBLICOS

1) Acumulação de cargos da saúde sujeita-se à limitação


horária?

A acumulação de cargos públicos de profissionais da área de


saúde, prevista no art. 37, XVI, da CF/88, não se sujeita ao limite de 60 horas
semanais. O STJ adequou-se à orientação firmada pelo STF (RE 1.094.802, j.
em 11/05/18).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.746.784-PE, Rel. Min. Og Fernandes, por


unanimidade, julgado em 23/08/2018 (Info 632).

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2) Acumulação de cargos públicos e jornada superior a 60h


semanais, é possível?

Não é possível a acumulação de dois cargos públicos quando a


soma da carga horária referente aos dois cargos ultrapassar o limite máximo de
60 horas semanais. Assim, é vedada a acumulação de um cargo de professor
com outro técnico ou científico quando a jornada de trabalho semanal
ultrapassar o limite máximo de 60 horas semanais.

IMPORTANTE: Exceção – profissionais saúde.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.565.429-SE, Rel. Min. Herman Benjamin,


julgado em 24/11/2015 (Info 576).

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2) O desconto dos dias não trabalhados na greve pode ser


parcelado?

Não se mostra razoável a possibilidade de desconto em parcela


única sobre a remuneração do servidor público dos dias parados e não
compensados provenientes do exercício do direito de greve.

STJ. 2ª Turma. RMS 49.339-SP, Rel. Min. Francisco Falcão,


julgado em 6/10/2016 (Info 592).
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3) Hipótese de inaplicabilidade da teoria do fato consumado

A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para


consolidar remoção de servidor público destinada a acompanhamento de
cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade estrita, ainda que tal
situação haja perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não
confirmada por ocasião do julgamento de mérito. Em outras palavras, se a
pessoa consegue uma decisão provisória garantindo a ela a remoção e,
posteriormente, esta decisão é revogada, esta remoção terá que ser desfeita
mesmo que já tenha se passado muitos anos. Não se aplica a "Teoria do Fato
Consumado" em relação a atos praticados sob contestação das pessoas
envolvidas, que o reputam irregular e manifestam a existência da irregularidade
nas vias adequadas, ainda que, pela demora no transcurso do procedimento
destinado à apuração da legalidade do ato, este gere efeitos no mundo
concreto. Verificada ou confirmada a ilegalidade, o ato deve ser desfeito,
preservando-se apenas aquilo que, pela consolidação fática irreversível, não
puder ser restituído ao status quo ante. Se a Administração Pública, mesmo
após a decisão liminar, continuou questionando no processo a legalidade da
remoção do servidor/autor, não se pode aplicar a teoria do fato consumado,
devendo o ato ser desfeito, salvo se tivesse havido uma consolidação fática
irreversível (ou seja, se não fosse mais possível voltar ao "status quo ante").

STJ. Corte Especial. EREsp 1.157.628-RJ, Rel. Min. Raul Araújo,


julgado em 7/12/2016 (Info 598).

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4) Há direito à remoção para acompanhamento de cônjuge


que foi removido à pedido?

Art. 36 (...) Parágrafo único. Para fins do disposto neste artigo,


entende-se por modalidades de remoção: I – de ofício, no interesse
da Administração; II – a pedido, a critério da Administração; III – a
pedido, para outra localidade, independentemente do interesse da
Administração: a) para acompanhar cônjuge ou companheiro,
também servidor público civil ou militar, de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que foi
deslocado no interesse da Administração.

Pedro e Soraia, casados entre si, são servidores públicos federais


lotados em Recife. É aberta uma vaga em Salvador para o cargo de Pedro.
Este concorre no concurso de remoção e consegue ser removido para a capital
baiana. Soraia terá direito de ser removida junto com Pedro, com fulcro no art.
36, parágrafo único, III, “a”? O servidor que é transferido de localidade a
pedido, após concorrer em concurso de remoção, gera para seu cônjuge o
direito subjetivo de também ser transferido para acompanhá-lo,
independentemente do interesse da Administração? NÃO. O servidor público
federal somente tem direito à remoção prevista no art. 36, parágrafo único, III,
"a", da Lei nº 8.112/90, na hipótese em que o cônjuge/companheiro, também
servidor, tenha sido deslocado de ofício, para atender ao interesse da
Administração (nos moldes do inciso I do mesmo dispositivo legal).

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.247.360-RJ, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, julgado em 22/11/2017 (Info 617).

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5) É possível a acumulação de cargo de tradutor de LIBRAS


com o de professor?

É possível a acumulação de um cargo público de professor com


outro de intérprete e tradutor da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.569.547-RN, Rel. Min. Humberto Martins,


julgado em 15/12/2015 (Info 575).

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6) É possível cassar a aposentadoria de servidor pela prática


de falta punida com demissão?

É possível a cassação de aposentadoria de servidor público pela


prática, na atividade, de falta disciplinar punível com demissão.
A pena de cassação de aposentadoria é compatível com a
Constituição Federal, a despeito do caráter contributivo conferido àquela,
especialmente porque nada impede que, na seara própria, haja o acertamento
de contas entre a administração e o servidor aposentado punido. Assim,
constatada a existência de infração disciplinar praticada enquanto o servidor
estiver na ativa, o ato de aposentadoria não se transforma num salvo conduto
para impedir o sancionamento do ilícito pela administração pública. Faz-se
necessário observar o regramento contido na Lei n. 8.112/1990, aplicando-se a
penalidade compatível com as infrações apuradas.

STJ. 1ª Seção. MS 23.608-DF, Rel. Min. Og Fernandes, por


maioria, julgado em 27/11/2019 (Info 666).

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7) Servidor que recebe pagamento indevido em virtude de


erro administrativo é obrigado a devolver?

Os pagamentos indevidos aos servidores públicos decorrentes de


erro administrativo (operacional ou de cálculo), não embasado em
interpretação errônea ou equivocada da lei pela Administração, estão sujeitos à
devolução, ressalvadas as hipóteses em que o servidor, diante do caso
concreto, comprova sua boa-fé objetiva, sobretudo com demonstração de que
não lhe era possível constatar o pagamento indevido.

ATENÇÃO: Existe uma inversão do ônus da prova.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.769.306-AL, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, j. em 10/03/2021 (RR - Tema 1.009) (Info 688).

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7.1) Servidor que recebe benefício previdenciário indevido é


obrigado a devolver?

Os pagamentos indevidos aos segurados decorrentes de erro


administrativo (material ou operacional), não embasado em interpretação
errônea ou equivocada da lei pela Administração, são repetíveis, sendo
legítimo o desconto no percentual de até 30% (trinta por cento) de valor do
benefício pago ao segurado/beneficiário, ressalvada a hipótese em que o
segurado, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé objetiva, sobretudo
com demonstração de que não lhe era possível constatar o pagamento
indevido.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.381.734-RN, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, j. em 10/03/2021 (RR - Tema 979) (Info 688).

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7.2) Servidor que recebe valores em virtude de errônea


interpretação da lei pela administração (erro de direito) é obrigado a
devolver?

É incabível a restituição ao erário dos valores recebidos de boa-fé


pelo servidor público em decorrência de errônea ou inadequada interpretação
da lei por parte da Administração Pública.

Quando a Administração Pública interpreta erroneamente uma lei,


resultando em pagamento indevido ao servidor, cria-se uma falsa expectativa
de que os valores recebidos são legais e definitivos, impedindo, assim, que
ocorra desconto, ante a boa-fé do servidor público.

Em virtude do princípio da legítima confiança, o servidor público,


em regra, tem a justa expectativa de que são legais os valores pagos pela
Administração Pública, porque jungida à legalidade estrita.

Assim, diante da ausência da comprovação da má-fé no


recebimento dos valores pagos indevidamente por erro de direito da
Administração, não se pode efetuar qualquer desconto na remuneração do
servidor público, a título de reposição ao erário.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.244.182-PB, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, julgado em 10/10/2012 (RR – Tema 531).

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7.3) Servidor deve devolver os valores recebidos por conta de


liminar reformada posteriormente?

Valores recebidos por servidores públicos por força de decisão


judicial precária, posteriormente reformada, devem ser restituídos ao erário.

Tendo a servidora recebido os referidos valores amparada por


uma decisão judicial precária, não há como se admitir a existência de boa-fé,
pois a Administração em momento nenhum gerou-lhe uma falsa expectativa de
definitividade quanto ao direito pleiteado. A adoção de entendimento diverso
importaria, dessa forma, no desvirtuamento do próprio instituto da antecipação
dos efeitos da tutela, haja vista que um dos requisitos legais para sua
concessão reside justamente na inexistência de perigo de irreversibilidade.

STJ. 2ª Turma. AREsp 1.711.065-RJ, Rel. Min. Assusete


Magalhães, por unanimidade, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

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8) Para haver remoção de companheiro, é preciso que exista


vaga no local de destino?

Havendo remoção de um dos companheiros por interesse da


Administração Pública, o(a) outro(a) possui direito líquido e certo de obter a
remoção independentemente de vaga no local de destino e mesmo que
trabalhem em locais distintos à época da remoção de ofício.

STJ. 2ª Turma. RMS 66.823-MT, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 05/10/2021 (Info 712).

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9) Quando os antecedentes do servidor podem ser valorados


negativamente para aumento da pena no PAD?

É necessária condenação anterior na ficha funcional do servidor


ou, no mínimo, anotação de fato que o desabone, para que seus antecedentes
sejam valorados como negativos na dosimetria da sanção disciplinar.

Verifica-se que os antecedentes do servidor foram


inapropriadamente valorados como negativos. A Administração poderia
considerar como desfavorável o fato de o servidor ter sido tão imprudente,
mesmo tendo larga experiência, se a legislação autorizasse o exame da
culpabilidade do agente, tal como o art. 59 do CP autoriza.

No entanto, o Estatuto dos Servidores Públicos Federais só


admite considerar, na "dosimetria" da sanção disciplinar, os antecedentes
funcionais, que ostentam concepção técnica própria. Nesse passo, para que
aqueles fossem considerados negativos, deveria constar na ficha funcional do
impetrante alguma condenação anterior, ou, no mínimo, alguma anotação de
fato que desabonasse seu histórico funcional.

STJ. 1ª Seção. MS 22.606-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, por


unanimidade, julgado em 10/11/2021 (Info 718).

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10) Titular de serventia não estatizada submete-se à


aposentadoria compulsória quando receba remuneração dos cofres
públicos?

O STF, ao julgar o RE 647827/PR (Tema 571) fixou a seguinte


tese: Não se aplica a aposentadoria compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da
CF aos titulares de serventias judiciais não estatizadas, desde que não sejam
ocupantes de cargo público efetivo e não recebam remuneração proveniente
dos cofres públicos.

No caso concreto, o STJ reconheceu que o impetrante estava


sujeito à aposentadoria compulsória porque ele se enquadrava na parte final da
tese acima exposta. Apesar de o indivíduo ser titular de serventia não
estatizada, ele recebia remuneração dos cofres públicos. Desse modo, estava
sujeito à aposentadoria compulsória aos 75 anos.

ATENÇÃO: Titulares de serventias EXTRAJUDICIAIS (notários e


registradores) não se submetem à aposentadoria compulsória porque não são
servidores públicos. Titular de serventia JUDICIAL ESTATIZADA se submete à
aposentadoria compulsória. Titular de serventia JUDICIAL NÃO ESTATIZADA
não se submete à aposentadoria compulsória, salvo se receber remuneração
dos cofres públicos.

STJ. 2ª Turma. RMS 57.258-GO, Rel. Min. Herman Benjamin,


julgado em 16/11/2021 (Info 718).

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11) A ADM pode negar a progressão funcional de servidor


que cumpriu os requisitos legais para respeitar as restrições
orçamentárias da LRF?

É ilegal o ato de não concessão de progressão funcional de


servidor público, quando atendidos todos os requisitos legais, a despeito de
superados os limites orçamentários previstos na LRF, referentes a gastos com
pessoal de ente público, tendo em vista que a progressão é direito subjetivo do
servidor público, decorrente de determinação legal, estando compreendida na
exceção prevista no inciso I do parágrafo único do art. 22 da Lei Complementar
n. 101/2000.

O aumento de vencimento em questão não pode ser confundido


com concessão de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de
remuneração a qualquer título, uma vez que o incremento no vencimento
decorrente da progressão funcional horizontal ou vertical - aqui dito vencimento
em sentido amplo englobando todas as rubricas remuneratórias - é inerente à
movimentação do servidor na carreira e não inova o ordenamento jurídico em
razão de ter sido instituído em lei prévia, sendo direcionado apenas aos grupos
de servidores públicos que possuem os requisitos para sua materialização e
incorporação ao seu patrimônio jurídico quando presentes condições
específicas definidas em lei.

Já conceder vantagem, aumento, reajuste ou adequar a


remuneração a qualquer título engloba aumento real dos vencimentos em
sentido amplo, de forma irrestrita à categoria de servidores públicos, sem
distinção, e deriva de lei específica para tal fim. Portanto, a vedação presente
no art. 22, inciso I, da LC n. 101/2002 se dirige a essa hipótese legal.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.878.849-TO, Rel. Min. Manoel Erhardt, por


unanimidade, julgado em 24/02/2022 (RR - Tema 1.075) (Info 726).

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12) Servidor público inativo que não gozou licença prêmio faz
jus a sua conversão em pecúnia?

Presente a redação original do art. 87, § 2º, da Lei n. 8.112/1990,


bem como a dicção do art. 7º da Lei n. 9.527/1997, o servidor federal inativo,
sob pena de enriquecimento ilícito da Administração e independentemente de
prévio requerimento administrativo, faz jus à conversão em pecúnia de licença-
prêmio por ele não fruída durante sua atividade funcional, nem contada em
dobro para a aposentadoria, revelando-se prescindível, a tal desiderato, a
comprovação de que a licença-prêmio não foi gozada por necessidade do
serviço.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.854.662-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina,
unanimidade, j. em 22/06/2022 (RR - Tema 1.086) (Info 742).

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13) É possível o gozo de dois períodos de férias no mesmo


ano civil?

É possível ao servidor que já usufruiu o primeiro período de férias,


após cumprida a exigência de 12 (doze) meses de exercício, usufruir as férias
seguintes no mesmo ano civil, dentro do período aquisitivo ainda em curso, nos
termos do § 1° do art. 77 da Lei n. 8.112/1990.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.907.153-CE, Rel. Min. Manoel Erhardt, por


unanimidade, j. em 26/10/2022 (RR - Tema 1.135) (Info 755).

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14) Qual a justiça competente para resolver controvérsia de


servidor comissionado regido pelo CLT?

Compete à Justiça Comum o julgamento de controvérsia


envolvendo direitos de servidor contratado para exercer cargo em comissão
regido pela CLT.

STJ. 1ª Seção. EDcl no AgInt no CC 184.065-SP, Rel. Ministro


Herman Benjamin, por unanimidade, julgado em 25/10/2022 (Info 760).

CONCURSO PÚBLICO

1) Candidatos aprovados fora do número de vagas e direito


subjetivo à nomeação

O candidato aprovado em concurso público fora do número de


vagas tem direito subjetivo à nomeação caso surjam novas vagas durante o
prazo de validade do certame, desde que haja manifestação inequívoca da
administração sobre a necessidade de seu provimento e não tenha restrição
orçamentária, ou qualquer obstáculo financeiro.

STJ. 1ª Seção. MS 22.813/DF, Rel. Min. Og Fernandes, por


maioria, julgado em 13/06/2018 (Info 630).
A situação pode ser assim definida: REGRA: o surgimento de
novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo durante o
prazo de validade do certame anterior não gera automaticamente o direito à
nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital.
EXCEÇÃO: Haverá direito à nomeação se o candidato conseguir demonstrar,
de forma cabal: a) que existe inequívoca necessidade de nomeação de
aprovado durante o período de validade do certame; e b) que está havendo
preterição arbitrária e imotivada por parte da administração ao não nomear os
aprovados.

Tese fixada pelo STF em repercussão geral: O surgimento de


novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o
prazo de validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à
nomeação dos candidatos aprovados fora das vagas previstas no edital,
ressalvadas as hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte da
administração, caracterizada por comportamento tácito ou expresso do Poder
Público capaz de revelar a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado
durante o período de validade do certame, a ser demonstrada de forma cabal
pelo candidato. Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato
aprovado em concurso público exsurge nas seguintes hipóteses: a)
quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital;
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem
de classificação; e c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo
concurso durante a validade do certame anterior, e ocorrer a preterição
de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da administração
nos termos acima. STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado
em 09/12/2015 (repercussão geral) (Info 811).

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2) De quem é a legitimidade passiva para questionamento de


critérios do exame psicotécnico?

Em ação ordinária na qual se discute a eliminação de candidato


em concurso público – em razão da subjetividade dos critérios de avaliação de
exame psicotécnico previstos no edital – a legitimidade passiva será da
entidade responsável pela elaboração do certame. Ex: o Estado do ES abriu
concurso para agente penitenciário. O CESPE foi contratado para realizar as
provas. João inscreveu-se no certame e foi aprovado nas provas teóricas,
tendo sido, contudo, reprovado no exame psicotécnico. Diante disso, João quer
ajuizar ação ordinária questionando os critérios de avaliação do exame
psicotécnico previstos no edital sob o argumento de que eles eram subjetivos.
Essa ação terá que ser proposta contra o Estado do ES (e não contra o
CESPE).

STJ. 1ª Turma. REsp 1.425.594-ES, Rel. Min. Regina Helena


Costa, julgado em 7/3/2017 (Info 600).

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3) Candidato aprovado fora do número de vagas passa a ter


direito subjetivo a partir da desistência de candidato melhor classificado?

A desistência de candidatos melhor classificados em concurso


público convola a mera expectativa em direito líquido e certo, garantindo a
nomeação dos candidatos que passarem a constar dentro do número de vagas
previstas no edital.

STJ. 1ª Turma. RMS 53.506-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa,


julgado em 26/09/2017 (Info 612).

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4) Nomeação tardia de candidato gera direito à indenização


quando a administração reconhece o erro?

O STF, em sede de repercussão geral, fixou a seguinte tese: Na


hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o
servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido
investido em momento anterior, salvo situação de arbitrariedade flagrante. STF.
Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, julgado em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).

Esse entendimento do STF aplica-se mesmo que o erro tenha


sido reconhecido administrativamente pelo Poder Público (e não por decisão
judicial). Assim, a nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso
público não gera direito à indenização, ainda que a demora tenha origem em
erro reconhecido pela própria Administração Pública.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.238.344-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina,
julgado em 30/11/2017 (Info 617).

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5) É possível a posse em cargo público de menor de idade?

Ainda que o requisito da idade mínima de 18 anos conste em lei e


no edital de concurso público, é possível que o candidato menor de idade
aprovado no concurso tome posse no cargo de auxiliar de biblioteca no caso
em que ele, possuindo 17 anos e 10 meses na data da sua posse, já havia sido
emancipado voluntariamente por seus pais há 4 meses.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.462.659-RS, Rel. Min. Herman Benjamin,


julgado em 1º/12/2015 (Info 576).

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6) Candidata que se encontra amamentando tem direito à


realização do curso de formação em momento posterior?

É constitucional a remarcação de curso de formação para o cargo


de agente penitenciário feminino de candidata que esteja lactante à época de
sua realização, independentemente da previsão expressa em edital do
concurso público.

IMPORTANTE: Não é o simples fato de ser mulher que autoriza a


remarcação de exame físico ou curso de formação. A mulher deve se encontrar
grávida ou em período de amamentação.

STJ. 1ª Turma. RMS 52.622-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria,


julgado em 26/03/2019 (Info 645).

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7) Qual o prazo prescricional e o seu termo inicial da ação


que busca o reconhecimento de preterição de candidato em concurso?

Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso


público, o termo inicial do prazo prescricional quinquenal recai na data em que
foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no certame. Aplica-se o
Decreto 20.910/32.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.643.048-GO, Rel. Min. Assusete
Magalhães, por unanimidade, julgado em 05/03/2020 (Info 668).

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8) O STJ aplica a teoria do fato consumado na temática dos


concursos públicos?

Em regra, o STJ acompanha o entendimento do STF e decide que


é inaplicável a teoria do fato consumado aos concursos públicos, não sendo
possível o aproveitamento do tempo de serviço prestado pelo servidor que
tomou posse por força de decisão judicial precária, para efeito de estabilidade.

Contudo, em alguns casos, o STJ afirma que há a solidificação de


situações fáticas ocasionada em razão do excessivo decurso de tempo entre a
liminar concedida e os dias atuais, de maneira que, a reversão desse quadro
implicaria inexoravelmente em danos desnecessários e irreparáveis ao
servidor.

Em outras palavras, o STJ entende que existem situações


excepcionais nas quais a solução padronizada ocasionaria mais danos sociais
do que a manutenção da situação consolidada, impondo-se o distinguishing, e
possibilitando a contagem do tempo de serviço prestado por força de decisão
liminar, em necessária flexibilização da regra.

Caso concreto: determinado indivíduo prestou concurso para o


cargo de Policial Rodoviário Federal e foi aprovado nas provas teóricas, tendo
sido, contudo, reprovado em um dos testes práticos. O candidato propôs
mandado de segurança questionando esse teste. O juiz concedeu a liminar
determinando a nomeação e posse, o que ocorreu em 1999. Em sentença, o
magistrado confirmou a liminar e julgou procedente o pedido do autor. Anos
mais tarde, o TRF, ao julgar a apelação, entendeu que a exigência do teste
prático realizado não continha nenhum vício. Em virtude disso, reformou a
sentença. O servidor, contudo, continuou cautelarmente no cargo até 2020,
quando houve o trânsito em julgado da decisão contrária ao seu pleito. O STJ
assegurou a manutenção definitiva do impetrante no cargo.

STJ. 1ª Turma. AREsp 883.574-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes


Maia Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666).
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1569719/SP, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 08/10/2019.

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9) A contratação temporária é prova da preterição ilegal de


candidato aprovado em concurso público?

A orientação da jurisprudência do STJ é no sentido de que a


simples existência de contratação temporária não significa, por si só, a
preterição a direito do aprovado em concurso público, e isso porque além de ter
assento constitucional, ou seja, ser uma situação permitida pela lei maior do
país, o que denota a sua regularidade intrínseca, a ilegalidade da contratação
somente ocorrerá quando não observados os requisitos da lei de regência da
respectiva unidade federativa.

A contratação temporária de terceiros para o desempenho de


funções do cargo de enfermeiro, em decorrência da pandemia causada pelo
vírus Sars-CoV-2, e determinada por decisão judicial, não configura preterição
ilegal e arbitrária nem enseja direito a provimento em cargo público em favor de
candidato aprovado em cadastro de reserva.

STJ. 2ª Turma. RMS 65.757-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

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10) A utilização de droga 7 anos atrás é capaz de reprovar o


candidato a policial na sindicância da vida pregressa?

Impedir que candidato em concurso público que já é integrantes


dos quadros da Administração prossiga no certame público para ingresso nas
fileiras da Política Militar na fase de sindicância de vida pregressa, fundada em
relato do próprio candidato no formulário de ingresso na corporação de que foi
usuário de drogas há sete anos, acaba por aplicá-lo uma sanção de caráter
perpétuo, dado o grande lastro temporal entre o fato tido como desabonador e
o momento da investigação social.

STJ. 2ª Turma. AREsp 1.806.617-DF, Rel. Min. Og Fernandes,


por unanimidade, julgado em 01/06/2021 (Info 699).

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11) A pandemia pode servir de fundamento para não
nomeação de aprovados no número de vagas?

Para a recusa à nomeação de aprovados dentro do número de


vagas em concurso público devem ficar comprovadas as situações
excepcionais elencadas pelo Supremo Tribunal Federal no RE 598.099/MS,
não sendo suficiente a alegação de estado das coisas - pandemia, crise
econômica, limite prudencial atingido para despesas com pessoal -, tampouco
o alerta da Corte de Contas acerca do chamado limite prudencial.

STJ. 1ª Turma. RMS 66.316-SP, Rel. Min. Manoel Erhardt, por


unanimidade, julgado em 19/10/2021 (Info 715).

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12) É possível edital de processo seletivo prever a exclusão


de candidato que teve vínculo anterior extinto por conveniência da
administração?

A norma de edital que impede a participação de candidato em


processo seletivo simplificado em razão de anterior rescisão de contrato por
conveniência administrativa fere o princípio da razoabilidade.

STJ. 2ª Turma. RMS 67.040-ES, Rel. Min. Herman Benjamin, por


unanimidade, julgado em 23/11/2021 (Info 719).

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13) Candidato que não detém o título exigido no edital, mas


possui qualificação superior, pode assumir o cargo?

O candidato aprovado em concurso público pode assumir cargo


que, segundo o edital, exige título de Ensino Médio profissionalizante ou
completo com curso técnico em área específica, caso não seja portador desse
título mas detenha diploma de nível superior na mesma área profissional.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.888.049-CE, Rel. Min. Og Fernandes,


julgado em 22/09/2021 (RR – Tema 1.094) (Info 710).

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14) Candidato reclassificado pela administração para dentro
do número das vagas possui direito à nomeação quando a administração
anular tal ato?

A reclassificação do candidato para dentro do número de vagas


oferecidas no edital de abertura de concurso público, operada em razão de ato
praticado pela Administração Pública, confere-lhe o direito público subjetivo ao
provimento no cargo público, ainda que durante a vigência do ato não tenha
sido providenciada a sua nomeação e que, em seguida, o ato de que derivada
a reclassificação tenha sido posteriormente anulado.

STJ. 2ª Turma. RMS 62.093-TO, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 24/05/2022 (Info 738).

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15) A superveniência de lei mais favorável ao candidato é


capaz de afastar as regras previstas no edital de concurso?

A exigência dos requisitos previstos em edital para nomeação em


cargo público não pode ser afastada por legislação posterior mais benéfica ao
candidato.

A entrada em vigor de nova legislação, em momento posterior ao


edital do certame e à homologação do concurso, não pode ter aplicabilidade ao
concurso público já realizado e homologado, seja para prejudicar, seja para
beneficiar o candidato, em face da isonomia entre os participantes, só podendo
a novel legislação ser aplicada aos concursos abertos após a sua vigência.

STJ. 2ª Turma. AgInt no RMS 61.658-RS, Rel. Min. Mauro


Campbell Marques, por unanimidade, julgado em 10/05/2022 (Info 748).

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16) Qual o termo inicial do prazo decadencial do MS em


decorrência de ato da ADM após o prazo de validade do concurso?

A data do último ato administrativo reputado ilegal é o termo inicial


do prazo decadencial para impetração de Mandado de Segurança com objetivo
de reclassificação em concurso público em virtude de anulação de questões
por decisão judicial após o encerramento do prazo de validade do certame.
IMPORTANTE: A jurisprudência do STJ orienta-se no sentido de
que, quanto ao prazo para interposição do mandamus, o entendimento
jurisprudencial consolidado desta Corte é o de que a contagem do prazo
decadencial para impetrar Mandado de Segurança, contra a ausência de
nomeação de candidato aprovado em concurso público, inicia-se na data de
expiração da validade do certame.

STJ. 2ªTurma. RMS 64.025-BA, Rel. Min. Assusete Magalhães,


por unanimidade, julgado em 04/10/2022 (Info 752).

REINTEGRAÇÃO DE CARGO PÚBLICO

Afastamento do servidor decorrente de perseguição política


no regime militar. A ação de reintegração em cargo público é prescritível?

São imprescritíveis as ações de reintegração em cargo público


quando o afastamento se deu em razão de atos de exceção praticados durante
o regime militar.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.565.166-PR, Rel. Min. Regina Helena


Costa, por unanimidade, julgado em 26/06/2018 (Info 630).

É certo que a prescrição representa a regra, devendo o seu


afastamento apoiar-se em previsão normativa. No entanto, verifica-se que a
Constituição da República não prevê lapso prescricional para o exercício do
direito de agir quando se trata de defender o direito inalienável à dignidade
humana, sobretudo quando violados durante o período do regime de exceção.
Nesse cenário, observa-se que esta Corte orienta-se no sentido de reconhecer
a imprescritibilidade da reparação de danos, moral e/ou material, decorrentes
de violação de direitos fundamentais perpetrada durante o regime militar,
período de supressão das liberdades públicas. Por seu turno, a ação buscando
a reintegração ao cargo público, deve seguir o mesmo regramento das ações
indenizatórias, porquanto a causa de pedir também decorre da violação de
direitos fundamentais perpetrada durante o regime militar.

Vale ressaltar, contudo, que a imprescritibilidade da ação que visa


reparar danos provocados pelos atos de exceção não implica no afastamento
da prescrição quinquenal sobre as parcelas eventualmente devidas ao autor.
Não se deve confundir imprescritibilidade da ação de reintegração com
imprescritibilidade dos efeitos patrimoniais e funcionais dela decorrentes,
sob pena de prestigiar a inércia do Autor, o qual poderia ter buscado seu direito
desde a publicação da Constituição da República. Em outras palavras, o
recebimento dos “atrasados” ficará restrito aos últimos 5 anos contados do
pedido.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

1) MP pode instaurar inquérito civil para apurar ato de


improbidade praticado por magistrado e solicitar seu depoimento?

É possível a abertura de inquérito civil pelo Ministério Público


objetivando a apuração de ato ímprobo atribuído a magistrado mesmo que já
exista concomitante procedimento disciplinar na Corregedoria do Tribunal
acerca dos mesmos fatos, não havendo usurpação das atribuições da
Corregedoria pelo órgão ministerial investigante. A mera solicitação para que o
juiz preste depoimento pessoal nos autos de inquérito civil instaurado pelo
Ministério Público para apuração de suposta conduta ímproba não viola o
disposto no art. 33, IV, da LC nº 35/79 (LOMAN).

STJ. 1ª Turma. RMS 37.151-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado


em 7/3/2017 (Info 609).

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2) Tortura caracteriza ato de improbidade?

A tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial


constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.177.910-SE, Rel. Ministro Herman


Benjamin, julgado em 26/8/2015 (Info 577).

--

3) É possível aplicar as sanções de improbidade abaixo do


mínimo legal?

No caso de condenação pela prática de ato de improbidade


administrativa que atenta contra os princípios da administração pública, as
penalidades de suspensão dos direitos políticos e de proibição de contratar
com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios
não podem ser fixadas abaixo de 3 anos, considerando que este é o mínimo
previsto no art. 12, III, da Lei nº 8.429/92. Não existe autorização na lei para
estipular sanções abaixo desse patamar.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.582.014-CE, Rel. Min. Humberto Martins,


julgado em 7/4/2016 (Info 581).

--

4) É possível dupla condenação ao ressarcimento ao erário


pelo mesmo fato?

Não configura bis in idem a coexistência de título executivo


extrajudicial (acórdão do TCU) e sentença condenatória em ação civil pública
de improbidade administrativa que determinam o ressarcimento ao erário e se
referem ao mesmo fato, desde que seja observada a dedução do valor da
obrigação que primeiramente foi executada no momento da execução do título
remanescente.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.413.674-SE, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, julgado em 17/5/2016 (Info 584).

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5) É cabível colaboração premiada em ação de improbidade


administrativa?

Os benefícios da colaboração premiada, previstos nas Leis ns.


8.884/1994 e 9.807/1999, não são aplicáveis no âmbito da ação de
improbidade administrativa.

ATENÇÃO: Os fatos julgados ocorreram antes da modificação da


LIA pelo pacote anticrime.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.464.287-DF, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 10/03/2020 (Info 674).

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6) A suspensão dos direitos políticos acarreta a perda de


mandato eletivo à época do fato ou do trânsito em julgado?
A pena de suspensão dos direitos políticos por ato de
improbidade administrativa alcança qualquer mandato eletivo que esteja sendo
ocupado à época do trânsito em julgado da condenação.

No caso, a perda do mandato eletivo de vereador decorre


automaticamente da condenação judicial de suspensão dos direitos políticos na
ação de improbidade administrativa já transitada em julgado, sendo o ato da
Câmara Municipal vinculado e declaratório.

Além disso, considerando que o pleno exercício dos direitos


políticos é pressuposto para o exercício da atividade parlamentar, determinada
a suspensão de tais direitos, é evidente que essa suspensão alcança qualquer
mandato eletivo que esteja sendo ocupado à época do trânsito em julgado da
sentença condenatória.

Nova LIA: A sanção de perda da função pública, nas hipóteses


dos incisos I e II do caput deste artigo, atinge apenas o vínculo de mesma
qualidade e natureza que o agente público ou político detinha com o poder
público na época do cometimento da infração, podendo o magistrado, na
hipótese do inciso I do caput deste artigo (enriquecimento ilícito), e em caráter
excepcional, estendê-la aos demais vínculos, consideradas as circunstâncias
do caso e a gravidade da infração. Dispositivo suspenso em decorrência de
liminar monocrática na ADI 7236.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.813.255/SP, Rel. Min. Herman Benjamin,


por unanimidade, julgado em 03/03/2020 (Info 678).

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.701.967/RS, Rel. para acórdão Min.


Francisco Falcão, julgado em 09/09/2020.

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7) É possível a celebração de acordo de não persecução cível


em fase recursal?

É possível acordo de não persecução cível no âmbito da ação de


improbidade administrativa em fase recursal.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.314.581/SP, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, julgado em 23/02/2021 (Info 686).
STJ. 1ª Seção. EAREsp 102.585-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria,
por unanimidade, julgado em 09/03/2022 (Info 728).

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8) As decisões interlocutórias em ações de improbidade são


recorríveis por agravo de instrumento?

Aplica-se à ação de improbidade administrativa o previsto no


artigo 19, § 1º, da Lei da Ação Popular, segundo o qual das decisões
interlocutórias cabe agravo de instrumento.

A ideia do microssistema de tutela coletiva foi concebida com o


fim de assegurar a efetividade da jurisdição no trato dos direitos coletivos,
razão pela qual a previsão do artigo 19, § 1º, da Lei da Ação Popular ("Das
decisões interlocutórias cabe agravo de instrumento") se sobrepõe, inclusive
nos processos de improbidade, à previsão restritiva do artigo 1.015 do
CPC/2015.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.925.492-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin,


por unanimidade, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

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9) São cabíveis medidas executivas atípicas no cumprimento


de sentença de improbidade?

São cabíveis medidas executivas atípicas de cunho não


patrimonial no cumprimento de sentença proferida em ação de improbidade
administrativa.

O entendimento do STJ é no sentido de que são cabíveis medidas


executivas atípicas a bem da satisfação de obrigações de cunho estritamente
patrimonial, com muito mais razão elas devem ser admitidas em casos onde o
cumprimento da sentença se dá a bem da tutela da moralidade e do patrimônio
público.

Conforme tem preconizado a Terceira Turma: "A adoção de meios


executivos atípicos é cabível desde que, verificando-se a existência de indícios
de que o devedor possua patrimônio expropriável, tais medidas sejam
adotadas de modo subsidiário, por meio de decisão que contenha
fundamentação adequada às especificidades da hipótese concreta, com
observância do contraditório substancial e do postulado da proporcionalidade".

É cabível a apreensão de passaporte e a suspensão da CNH no


bojo do cumprimento de sentença proferida em ação de improbidade
administrativa.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.929.230-MT, Rel. Min. Herman Benjamin,


por unanimidade, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

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10) É possível incluir a multa civil na indisponibilidade de


bens, mesmo quando o objeto da ação de improbidade seja a violação de
princípios administrativos?

É possível a inclusão do valor de eventual multa civil na medida


de indisponibilidade de bens decretada em ação de improbidade administrativa,
inclusive nas demandas ajuizadas com esteio na prática de conduta prevista no
art. 11 da Lei n. 8.429/1992, tipificador da ofensa aos princípios nucleares
administrativos.

Ainda que inexistente prova de enriquecimento ilícito ou lesão ao


patrimônio público, é possível a decretação da providência cautelar,
notadamente pela possibilidade de ser cominada, na sentença condenatória, a
pena pecuniária de multa civil como sanção autônoma, cabendo sua
imposição, inclusive, em casos de prática de atos de improbidade que
impliquem tão somente violação a princípios da Administração Pública. Essa
providência de inclusão da multa civil na medida constritiva em ações de
improbidade administrativa exclusivamente amparadas no art. 11 da Lei n.
8.429/1992 não implica violação do art. 7º, caput e parágrafo único, da citada
lei, pois destina-se, de todo modo, a assegurar a eficácia de eventual desfecho
condenatório à sanção de multa civil.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.862.792-PR, Rel. Min. Manoel Erhardt, por


unanimidade, julgado em 25/08/2021 (RR - Tema 1.055) (Info 706).

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11) Quando prescritas as sanções do art. 12 da LIA, é


possível seguir com a ação para ressarcimento do erário?
Na ação civil pública por ato de improbidade administrativa é
possível o prosseguimento da demanda para pleitear o ressarcimento do dano
ao erário, ainda que sejam declaradas prescritas as demais sanções previstas
no art. 12 da Lei n. 8.429/1992.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.899.455-AC, Rel. Min. Assusete


Magalhães, por unanimidade, j. em 22/09/2021 (RR – Tema 1.089) (Info 710).

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12) A inicial da ação de improbidade pode ser recebida pelo


fundamento único do in dubio pro societate?

A decisão de recebimento da petição inicial da ação de


improbidade não pode limitar-se ao fundamento de in dubio pro societate.

Convém anotar que a decisão de recebimento da inicial da ação


de improbidade não pode limitar-se à invocação do in dubio pro societate,
devendo, antes, ao menos, tecer comentários sobre os elementos indiciários e
a causa de pedir, ao mesmo tempo que, para a rejeição, deve bem delinear a
situação fático-probatória que lastreia os motivos de convicção externados pelo
órgão judicial.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.570.000-RN, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por maioria, julgado em 28/09/2021 (Info 711).

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13) Existe alguma hipótese na qual o particular pode figurar


isoladamente como réu na ação de improbidade?

É viável o prosseguimento de ação de improbidade administrativa


exclusivamente contra particular quando há pretensão de responsabilizar
agentes públicos pelos mesmos fatos em outra demanda conexa.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.402.806-TO, Rel. Min. Manoel Erhardt,


por unanimidade, julgado em 19/10/2021 (Info 714).

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14) O repasse de verba federal sujeita à prestação de conta


junto ao TCU atribui a competência para julgar à JF?
Nas ações de improbidade administrativa, a competência da
Justiça Federal é definida em razão da presença das pessoas jurídicas de
direito público previstas no art. 109, I, da CF, na relação processual, e não em
razão da natureza da verba federal sujeita à fiscalização da Tribunal de Contas
da União.

A mera transferência e incorporação ao patrimônio municipal de


verba desviada, no âmbito civil, não pode impor de maneira absoluta a
competência da Justiça Estadual. Se houver manifestação de interesse jurídico
por ente federal que justifique a presença no processo, (v.g. União ou
Ministério Público Federal) regularmente reconhecido pelo Juízo Federal nos
termos da Súmula 150/STJ, a competência para processar e julgar a ação civil
de improbidade administrativa será da Justiça Federal.

Súmula 208/STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar


prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante
órgão federal.

Súmula 209/STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar


prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

Esses enunciados foram editados pela 3ª Seção do STJ, que


julga processos e recursos criminais. Desse modo, tais súmulas foram
aprovadas, originalmente, para resolver questões relacionadas com a
competência em matéria penal. Nos processos criminais, para que a
competência seja da Justiça Federal, basta que exista interesse da União, de
suas autarquias ou empresas públicas.

Não se está afirmando que as súmulas 208 e 209 do STJ não


possam ser aplicadas como critérios para definição de competência em matéria
cível. Existem inúmeros precedentes do STJ que utilizam esses enunciados em
processos cíveis, inclusive em ações de improbidade administrativa. Nesse
sentido: STJ. 2ª Turma. REsp 1391212/PE, Rel. Min. Humberto Martins,
julgado em 02/09/2014.

O que se está explicando é que as referidas súmulas, em especial


o enunciado 208, não podem ser aplicadas de forma absoluta nos processos
cíveis. Para a definição da competência cível, o principal será saber se a
União, suas entidades autárquicas ou empresas públicas estão intervindo no
processo ou não. Em relação às matérias penais, o art. 109 estabelece critérios
mais amplos na fixação da competência da Justiça Federal do que quanto às
ações cíveis. Isso porque no âmbito criminal, para que a competência seja
federal, basta que exista interesse da União, entidades autárquicas e empresas
públicas.

Em matéria cível, a Justiça Federal só será competente se a


União possuir interesse que lhe permita atuar como autora, ré, assistente ou
oponente. Logo, se a União, entidade autárquica ou empresa pública não
figurar como parte no processo cível, a competência não será da JF.

STJ. 1ª Seção. CC 174.764-MA, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 09/02/2022 (Info 724).

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15) A contratação de servidor temporário sem concurso,


autorizada por lei local, configura ato de improbidade?

A contratação de servidores públicos temporários sem concurso


público, mas baseada em legislação local, não configura a improbidade
administrativa prevista no art. 11 da Lei n. 8.429/1992, por estar ausente o
elemento subjetivo (dolo), necessário para a configuração do ato de
improbidade violador dos princípios da administração pública.

O afastamento do elemento subjetivo de tal conduta dá-se em


razão da dificuldade de identificar o dolo genérico, situação que foi alterada
com a edição da Lei n. 14.230/2021, que conferiu tratamento mais rigoroso, ao
estabelecer não mais o dolo genérico, mas o dolo específico como requisito
para a caracterização do ato de improbidade administrativa, ex vi do seu art. 1º,
§§ 2º e 3º, em que é necessário aferir a especial intenção desonesta do agente
de violar o bem jurídico tutelado.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.913.638-MA, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 11/05/2022 (RR – Tema 1.108) (Info 736).

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16) É possível inserir no ANPC obrigação de doação a uma


entidade distinta do ente público lesado com o ato de improbidade?
Como bem pontuado pelo Tribunal de origem, no acordo de não
persecução cível celebrado e homologado, fora destinado à Fazenda Pública
do Estado de São Paulo o valor da multa e da indenização, valores estes que
são o produto da reparação integral do dano gerado ao erário, sendo que o
valor estipulado a título de doação à FADUSP não se confunde com aquele,
portanto, a doação não constitui uma sanção reparatória. No que pertinente à
insurgência da parte recorrente acerca da estipulação da doação no acordo de
não persecução cível, imperioso consignar, que além dos pressupostos que
devem ser preenchidos para a celebração do acordo – estando dentre eles as
obrigações atinentes à reparação ao erário e aplicação de uma ou mais
sanções previstas na Lei de Improbidade Administrativa –, é possível que
sejam pactuadas outras obrigações, assim como a doação constante no
presente caso.

Diante de todo o contexto mencionado supra, e a par da


discricionariedade do Ministério Público em moldar o acordo de modo mais
efetivo possível, é que se verifica a ausência de qualquer irregularidade na
estipulação da cláusula de doação inserta no acordo realizado entre as partes.

A estipulação do modo como efetivada, por qualquer prisma que


se busque visualizar, representa livre destinação de recursos ao custeio de
obra pública atendendo, repise-se, a interesse público relevante.

STJ. 2ª Turma. REsp. 1.921.272/SP, rel. Min. Francisco Falcão,


julgado em 17/11/2021.

ORGANZAÇÃO ADMINISTRATIVA

1) Associação de Municípios pode ajuizar ação para tutelar


interesses dos entes?

Associação de Municípios e Prefeitos não possui legitimidade


ativa para tutelar em juízo direitos e interesses das pessoas jurídicas de direito
público.

ATENÇÃO: A Lei 14.341/22 alterou o CPC, de modo que,


atualmente, a conclusão pode ser diversa.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.503.007-CE, Rel. Min. Herman Benjamin,
julgado em 14/6/2017 (Info 610).

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2) A lei 9.656/98 é aplicada à PJ de direito público de natureza


autárquica que presta serviços de assistência à saúde aos seus
servidores?

Aplica-se a Lei n. 9.656/1998 à pessoa jurídica de direito público


de natureza autárquica que presta serviço de assistência à saúde de caráter
suplementar aos servidores municipais.

Apesar de a Lei n. 9.656/1998 (Lei dos Planos de Saúde) dispor,


de forma expressa, que estão submetidas às suas disposições as pessoas
jurídicas de direito privado (art. 1º, caput), em seu § 2º há ampliação de sua
abrangência para também incluir outras espécies de entidades que mantenham
sistemas de assistência à saúde. A utilização das expressões "entidade" e
"empresas" no § 2º, conceitos jurídicos amplos e não propriamente técnicos,
bem como a inserção das "cooperativas" denotam a intenção do legislador de
ampliar a aplicação da Leis dos Planos a todas as pessoas jurídicas que atuem
prestando serviços de saúde suplementar.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.766.181-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas


Cueva, por maioria, julgado em 03/12/2019 (Info 662).

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3) As fundações públicas de direito privado têm isenção de


custas processuais?

As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção


das custas processuais.

No ordenamento jurídico brasileiro, existem três tipos de


fundação, quais sejam: fundação de direito privado, instituída por particulares;
fundações públicas de direito privado, instituídas pelo Poder Público; e
fundações públicas de direito público, que possuem natureza jurídica de
autarquia.

As fundações públicas de direito público são criadas por lei


específica, também chamadas de "fundações autárquicas". Em se tratando de
fundações públicas de direito privado, uma lei específica deve ser editada
autorizando que o Poder Público crie a fundação. No que se refere às custas
processuais, a isenção é devida tão somente às entidades com personalidade
de direito público. Dessa forma, para as Fundações Públicas receberem
tratamento semelhante ao conferido aos entes da Administração Direta é,
necessária natureza jurídica de direito público, que se adquire no momento de
sua criação, decorrente da própria lei.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.409.199-SC, Rel. Min. Luis Felipe


Salomão, por unanimidade, julgado em 10/03/2020 (Info 676).

RESPONSABILIDADE CIVIL ESTATAL

1) Concessionária de rodovia responde por roubo e


sequestro?

Concessionária de rodovia não responde por roubo e sequestro


ocorridos nas dependências de estabelecimento por ela mantido para a
utilização de usuários. A segurança que a concessionária deve fornecer aos
usuários diz respeito ao bom estado de conservação e sinalização da rodovia.
Não tem, contudo, como a concessionária garantir segurança privada ao longo
da estrada, mesmo que seja em postos de pedágio ou de atendimento ao
usuário. O roubo com emprego de arma de fogo é considerado um fato de
terceiro equiparável a força maior, que exclui o dever de indenizar. Trata-se de
fato inevitável e irresistível e, assim, gera uma impossibilidade absoluta de não
ocorrência do dano.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.749.941-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi,


julgado em 04/12/2018 (Info 640).

Cuidado. O STF já reconheceu a responsabilidade civil da


concessionária que administra a rodovia por FURTO ocorrido em seu pátio:
STF. 1ª Turma. RE 598356/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/5/2018
(Info 901).

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2) Há direito de regresso entre a Eletrobrás e a União no caso


de pagamento de empréstimo compulsório pela SEM?
Não há direito de regresso, portanto, não é cabível a execução
regressiva proposta pela Eletrobrás contra a União em razão da condenação
das mesmas ao pagamento das diferenças na devolução do empréstimo
compulsório sobre o consumo de energia elétrica ao particular contribuinte da
exação.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.576.254-RS, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, julgado em 26/06/2019 (RR – Tema 963) (Info 655).

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3) A CEF pode terceirizar serviços jurídicos?

Não é ilegal a terceirização de serviços jurídicos pela CEF, já que


não se relaciona a sua atividade-fim.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.318.740-PR, Rel. Min. Og Fernandes, por


maioria, julgado em 16/10/2018 (Info 659).

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4) A União possui legitimidade passiva em demanda que


envolva erro médico em hospital da rede privada credenciado pelo SUS?

A União não tem legitimidade passiva em ação de indenização


por danos decorrentes de erro médico ocorrido em hospital da rede privada
durante atendimento custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo
com a Lei 8.080/90, a responsabilidade pela fiscalização dos hospitais
credenciados ao SUS é do Município, a quem compete responder em tais
casos.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.388.822-RN, Rel. Min. Og Fernandes,


julgado em 13/5/2015 (Info 563).

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5) Há responsabilidade civil no caso de morte de advogado


causada por disparos dentro do Fórum?

Aplica-se igualmente ao estado o que previsto no art. 927,


parágrafo único, do Código Civil, relativo à responsabilidade civil objetiva por
atividade naturalmente perigosa, irrelevante o fato de a conduta ser comissiva
ou omissiva.
Há culpa (embora desnecessária, à luz do art. 927, parágrafo
único, do Código Civil) e nexo causal, elementos aptos a determinar a
responsabilização do poder público, quando por sua conduta omissiva, deixa
de agir com o cuidado necessário a garantir a segurança, no fórum, dos
magistrados, autoridades, servidores e usuários da Justiça, sem a qual o
evento danoso (falecimento de advogado, dentro do fórum, decorrente de
disparo de arma de fogo efetuada por réu em processo criminal no qual a
vítima figurava como patrono) não teria ocorrido. É certo ainda que a exigência
de atuação nesse sentido não está, de forma alguma, acima do razoável.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.869.046-SP, Rel. Min. Herman Benjamin,


por unanimidade, julgado em 09/06/2020 (Info 674).

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6) O Estado responde por morte em hospital público


decorrente do disparo de arma de fogo em seu interior?

O hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança,


contribuindo de forma determinante e específica para homicídio praticado em
suas dependências, responde objetivamente pela conduta omissiva.

A responsabilidade civil estatal é, em regra, objetiva e decorre do


risco administrativo, a respeito da qual não se exige perquirir sobre existência
de culpa, conforme disciplinado pelos arts. 14 do CDC; 186, 192 e 927 do
Código Civil; e 37, § 6º, da CF. O dualismo ocorre diante dos atos omissivos,
para os quais, embora a lei não tenha feito distinção, há os que entendem que,
para o ente público, a responsabilidade se reveste do caráter subjetivo.

Na toada, entretanto, de que, conforme assevera a doutrina, "não


é dado ao intérprete restringir onde o legislador não restringiu, sobretudo em se
tratando de legislador constituinte", esta Corte, em diversos julgados, tem
procurado alinhar-se ao entendimento do Excelso Pretório de que - inclusive
por atos omissivos - o Poder Público responde de forma objetiva, quando
constatada a precariedade/vício no serviço decorrente da falha no dever legal e
específico de agir.

A omissão do Estado no presente feito revela-se específica e


contribuiu decisivamente para a morte da vítima, pois o hospital público não
ofereceu nenhuma ou sequer a mínima garantia de integridade aos que se
utilizam do serviço e pela qual, em razão do risco da atividade prestada, tem o
dever de zelo e proteção.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.708.325-RS, Rel. Min. Og Fernandes, por


unanimidade, julgado em 24/05/2022 (Info 740).

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7) Qual o prazo prescricional para a cobrança dos prejuízos


causados por fundação privada que atua junto à Universidade?

A fundação privada de apoio à universidade pública presta serviço


público, razão pela qual responde objetivamente pelos prejuízos causados a
terceiros, submetendo-se a pretensão indenizatória ao prazo prescricional
quinquenal previsto no art. 1º-C da Lei n. 9.494/1997.

STJ. 2ª Turma. AREsp 1.893.472-SP, Rel. Min. Og Fernandes,


por unanimidade, julgado em 21/06/2022 (Info 744).

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8) Qual o prazo prescricional aplicável às empresas públicas


estatais prestadoras de serviços públicos essenciais?

Aplica-se a prescrição quinquenal do Decreto n. 20.910/1932 às


empresas estatais prestadoras de serviços públicos essenciais, não dedicadas
à exploração de atividade econômica com finalidade lucrativa e natureza
concorrencial.

O prazo de prescrição quinquenal, previsto no Decreto n.


20.910/32 e no Decreto-Lei n. 4.597/42, aplica-se apenas às pessoas jurídicas
de direito público (União, Estados, municípios, Distrito Federal, autarquias e
fundações públicas), excluindo-se, portanto, as pessoas jurídicas de direito
privado da Administração Pública Indireta (sociedades de economia mista,
empresas públicas e fundações)".

Contudo, este tribunal superior tem esposado entendimento


diverso quando se cuida de empresas estatais destinadas, exclusivamente, à
prestação de serviços públicos essenciais e que, assim, não se dediquem à
exploração de atividade econômica com finalidade lucrativa e não possuam
natureza concorrencial.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.635.716-DF, Rel. Min. Regina Helena
Costa, por unanimidade, julgado em 04/10/2022 (Info 753).

PARTICIPAÇÃO EM LICITAÇÃO DE SOCIEDADE EM


RECUPERAÇÃO

Sociedade empresária em recuperação judicial pode


participar de licitação?

A licitação pública se norteia, entre outros princípios, pelo da


indisponibilidade do interesse público e que o escopo primordial da Lei n.
11.101/2005, nos termos do art. 47, é viabilizar a superação da situação de
crise econômico-financeira do devedor, prevendo em seu art. 52, I, a
possibilidade de contratação com o poder público, o que, em regra geral,
pressupõe a participação prévia em licitação. Todavia, não se deve olvidar a
exigência contida no art. 27, III, da Lei n. 8.666/1993 de demonstração da
qualificação econômico-financeira como condicionante para a participação no
certame. Dessa forma, a interpretação sistemática dos dispositivos das Leis n.
8.666/1993 e n. 11.101/2005 leva à conclusão de que é possível uma
ponderação equilibrada entre os princípios nelas imbuídos, pois a preservação
da empresa, a sua função social e o estímulo à atividade econômica atendem
também, em última análise, ao interesse da coletividade, uma vez que se
busca a manutenção da fonte produtora, dos postos de trabalho e dos
interesses dos credores. Assim, a apresentação de certidão positiva de
recuperação não implica a imediata inabilitação, cabendo ao pregoeiro ou à
comissão de licitação diligenciar a fim de avaliar a real situação de capacidade
econômico-financeira da empresa licitante.

STJ, AREsp 309.867/ES, 1ª Turma, Rel. Min. Gurgel de Faria, por


unanimidade, julgado em 26/06/2018 (Info 631).

SERVIÇOS PÚBLICOS

1) É possível cobrar multa do órgão público em decorrência


do inadimplemento do pagamento?
A concessionária de fornecimento de energia elétrica não pode
exigir de órgão público, usuário do serviço, multa por inadimplemento no
pagamento de fatura, fundamentada no parágrafo único do artigo 4º do
Decreto-Lei n. 2.432/1988.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.396.808-AM, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 14/08/2018 (Info 632).

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2) Qual é o prazo prescricional da ação de repetição de


indébito da tarifa de água/esgoto?

Súmula 412-STJ: A ação de repetição de indébito de tarifas de


água e esgoto sujeita-se ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil. O
prazo prescricional para as ações de repetição de indébito relativo às tarifas de
serviços de água e esgoto cobradas indevidamente é de:

a) 20 (vinte) anos, na forma do art. 177 do Código Civil de 1916;


ou

b) 10 (dez) anos, tal como previsto no art. 205 do Código Civil de


2002, observando-se a regra de direito intertemporal, estabelecida no art. 2.028
do Código Civil de 2002.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.532.514-SP, Rel. Min. Og Fernandes,


Primeira Seção, julgado em 10/5/2017 (RR – Tema 932) (Info 603).

MEDICAMENTOS

1) Medicamentos não incorporados pelo SUS e sem registro


na ANVISA podem ser concedidos?

A concessão dos medicamentos não incorporados em atos


normativos do SUS exige a presença cumulativa dos seguintes requisitos: i)
Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado
expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou
necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da
moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS; ii) incapacidade financeira de
arcar com o custo do medicamento prescrito; iii) existência de registro do
medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados pela agência.
Modula-se os efeitos do presente repetitivo de forma que os requisitos acima
elencados sejam exigidos de forma cumulativa somente quanto aos processos
distribuídos a partir da data da publicação do acórdão embargado, ou seja,
4/5/2018.

Com a decisão do STF, em repercussão geral, veiculada no Info


941, o item III do acórdão do STJ deve ser interpretado da seguinte forma: iii)
“existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos
autorizados pela agência”, podendo, excepcionalmente, haver a concessão
judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora irrazoável da
Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016),
quando preenchidos três requisitos:

a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil


(salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras);

b) a existência de registro do medicamento em renomadas


agências de regulação no exterior; e

c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.

Utilização off label de medicamentos: é aquela em que o médico


prescreve o fármaco para uma finalidade que não consta expressamente na
sua bula, ou seja, que não está autorizada pela ANVISA. Para que o poder
público seja obrigado a fornecer o medicamento é que necessário que sejam
observados os usos autorizados pela agência, que são justamente os que
constam na bula do remédio. O poder público não tem o dever de conceder
remédio para utilização off label.

Atentar para a decisão do Info 632 que avalizou a possibilidade de


obrigar o plano de saúde a fornecer medicamento cujo uso seja off label.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.657.156-RJ, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, julgado em 12/09/2018 (Info 633).

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2) O Estado pode ser obrigado a fornecer medicamento para


uso off-label?

O Estado não é obrigado a fornecer medicamento para utilização


off label, salvo autorização da ANVISA.
STJ. 1ª Seção. PUIL 2.101-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, por
unanimidade, julgado em 10/11/2021 (Info 717).

PRECATÓRIOS

É possível haver o cancelamento de precatório? Se sim, a


pretensão do credor de requerer a nova expedição é prescritível?

Estabelecem, respectivamente, os arts. 2º e 3º da Lei


13.463/2017: "Ficam cancelados os precatórios e as RPV federais expedidos e
cujos valores não tenham sido levantados pelo credor e estejam depositados
há mais de dois anos em instituição financeira oficial", "cancelado o precatório
ou a RPV, poderá ser expedido novo ofício requisitório, a requerimento do
credor".

A pretensão de expedição de novo precatório ou nova RPV, após


o cancelamento de que trata o art. 2º da Lei nº 13.463/2017, não é
imprescritível (prescreve em 5 anos - DL 20.910/32).

O direito do credor de que seja expedido novo precatório ou nova


RPV começa a existir na data em que houve o cancelamento (e não o
depósito) do precatório ou RPV cujos valores, embora depositados, não
tenham sido levantados.

ATENÇÃO: A lei 13.463/17 se aplica APENAS a precatórios


federais. O STF declarou essa disposição INCONSTITUCIONAL.

IMPORTANTE: Divergência com a 1ª Turma, que entende ser


imprescritível o pedido de nova expedição do precatório.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.859.409/RN, rel. Min. Mauro Campbell,


julgado em 16/06/2020.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.833.358/PB, Rel. Min. Og Fernandes, por


unanimidade, julgado em 06/04/2021 (Info 691).

INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE

1) Ente público responde pelos tributos anteriores à


desapropriação?
O ente desapropriante não responde por tributos incidentes sobre
o imóvel desapropriado nas hipóteses em que o período de ocorrência dos
fatos geradores é anterior ao ato de aquisição originária da propriedade.

A desapropriação é uma forma originária de aquisição da


propriedade. Isso porque ela não provém de nenhum título anterior, e, por isso,
o bem expropriado vai para o novo proprietário livre de quaisquer ônus que
sobre ele incidissem antes.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.668.058-ES, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, julgado em 8/6/2017 (Info 606).

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2) Qual a natureza jurídica do compartilhamento de


infraestrutura por concessionárias de serviço público?

O compartilhamento de infraestrutura de estação rádio base de


telefonia celular por prestadoras de serviços de telecomunicações de interesse
coletivo caracteriza servidão administrativa, não ensejando direito à
indenização ao locador da área utilizada para instalação dos equipamentos. O
direito de uso previsto no art. 73 da Lei nº 9.472/97 constitui-se como servidão
administrativa instituída pela lei em benefício das prestadoras de serviços de
telecomunicações de interesse coletivo, constituindo-se direito real, de
natureza pública, a ser exercido sobre bem de propriedade alheia, para fins de
utilidade pública, instituído com base em lei específica.

Ex: João possui um terreno na beira da estrada. Ele celebrou


contrato de locação com a Embratel permitindo que a empresa instalasse, em
seu imóvel, uma torre e uma antena de telecomunicações. Alguns meses
depois, a Embratel permitiu que a TIM compartilhasse de sua infraestrutura.
João ajuizou ação de indenização alegando que o contrato de locação proíbe
que a locatária faça a sublocação do imóvel para outra empresa. Ele não terá
direito à indenização.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.309.158-RJ, Rel. Min. Luis Felipe


Salomão, julgado em 26/09/2017 (Info 614).

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3) Qual o prazo prescricional da ação de desapropriação
indireta?

O prazo prescricional para a ação indenizatória por


desapropriação indireta é de 10 anos, em regra, salvo comprovação da
inexistência de obras ou serviços públicos no local, caso em que o prazo passa
a ser de 15 anos.

STJ. 1ª Seção. EREsp 1.575.846-SC, Rel. Min. Og Fernandes,


por maioria, julgado em 26/06/2019 (Info 658).

O prazo prescricional aplicável à desapropriação indireta, na


hipótese em que o Poder Público tenha realizado obras no local ou atribuído
natureza de utilidade pública ou de interesse social ao imóvel, é de 10 anos,
conforme parágrafo único do art. 1.238 do CC.

Natureza ação de desapropriação indireta: Real, e não pessoal.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.757.352-SC, Rel. Min. Herman Benjamin,


por maioria, julgado em 12/02/2020 (RR – Tema 1.019) (Info 671).

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4) Caracteriza a desapropriação indireta a realização de


serviços públicos de infraestrutura?

Não configura desapropriação indireta quando o Estado limita-se


a realizar serviços públicos de infraestrutura em gleba cuja invasão por
particulares apresenta situação consolidada e irreversível.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.770.001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 05/11/2019 (Info 660).

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ERREI 5) É cabível a reparação de limitações administrativas


em ação de desapropriação indireta?

Em ação de desapropriação indireta é cabível reparação


decorrente de limitações administrativas.

O STJ possui julgados no sentido de que a ação de


desapropriação indireta, ante seu caráter real, não seria adequada para a
postulação de reparação decorrente de limitações administrativas, pretensão
de natureza pessoal.

No entanto, a pretensão à reparação encerrada na ação de


desapropriação indireta resulta do esgotamento econômico da propriedade
privada, cuja origem é, indubitavelmente, o agravo, pelo Poder Público, aos
poderes decorrentes do direito real de propriedade dos particulares, que, nos
termos do art. 1.228, caput, do Código Civil, compreendem "a faculdade de
usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer
que injustamente a possua ou detenha".

Depreende-se, assim, que, nessa ação, busca-se a satisfação de


direito pessoal, cuja gênese está em ato estatal praticado face a direito real de
titularidade do particular. Ademais, devem ser observados os princípios da
instrumentalidade das formas e da primazia da solução integral do mérito para
reconhecer o interesse-adequação da ação para o requerimento de
indenização.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena


Costa, por unanimidade, julgado em 19/11/2019 (Info 662).

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6) Na hipótese de desistência da ação de desapropriação por


utilidade pública, como se calculam os honorários?

Na hipótese de desistência da ação de desapropriação por


utilidade pública, face a inexistência de condenação e de proveito econômico,
os honorários advocatícios sucumbenciais observam o valor atualizado da
causa, assim como os limites da Lei das Desapropriações.

Deve prevalecer a regra do art. 85, §2º, CPC, com relação à base
de cálculo, mas o percentuais não devem ser o do CPC, e sim o art. 27, §1º, do
DL 3.365/41 (meio a 5 por cento do valor da causa).

STJ. 2ª Turma. REsp 1.834.024-MG, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por unanimidade, julgado em 10/05/2022 (Info 736).

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7) É possível haver discussão em ação de desapropriação


direta sobre o terreno contíguo ao desapropriado?
Há violação aos limites das matérias que podem ser discutidas
em ação de desapropriação direta quando se admite o debate - e até mesmo
indenização - de área diferente da verdadeiramente expropriada, ainda que
vizinha.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.577.047-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 10/05/2022 (Info 738).

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8) Pode ser exigida perícia prévia como condição à imissão


na posse do imóvel?

É cabível a avaliação pericial provisória como condição à imissão


na posse nas ações regidas pelo Decreto-Lei n. 3.365/1941, quando não
observados os requisitos previstos no art. 15, § 1.º, do referido diploma.

STJ. 2ª Turma. AREsp 1.674.697-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell


Marques, por maioria, julgado em 08/11/2022 (Info 756).

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9) No caso de desistência da desapropriação, o ente público


deve pagar juros compensatórios pela utilização do imóvel?

Antes de efetuado o pagamento pela desapropriação e se


encontrando o imóvel em condição de devolução, é admissível a desistência da
ação. Impõe-se, entretanto, ao desapropriante a obrigação de pagar, a título de
indenização, juros compensatórios decorrentes da perda antecipada da posse
pelo expropriado, já que, nesses casos, o dano é inerente ao desapossamento
do bem, devendo o montante ser apurado na própria sentença homologatória
da desistência, pelo período compreendido entre a imissão na posse e a efetiva
desocupação do imóvel.

STJ. 1ª Seção. REsp 93416/MG, rel. Min. Castro Filho, julgado


em 22/04/2002.

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10) Se o tombamento for geral, a notificação individual dos


proprietários é dispensada?
Hipótese em que o objeto do tombamento não envolve um bem,
em particular, mas todo um conjunto arquitetônico e urbanístico, assim se
entendendo aquele perímetro urbano do Centro Histórico da Cidade
Oliveira/MG, cuja identificação se fez presente no Processo do IEPHA/CONEP
001/2012, sendo, por conseguinte, desnecessária a notificação pessoal e
individualizada de todos os proprietários de imóveis da região protegida,
bastando a publicação por edital, o que ocorreu no decorrer do procedimento.

STJ. 1ª Turma. RMS 55.090/MG, Rel. Min. Gurgel de Faria,


julgado em 21/11/2019.

PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR

1) De quem é a competência para instauração e julgamento


de PAD contra servidor cedido?

A instauração de processo disciplinar contra servidor efetivo


cedido deve ocorrer, preferencialmente, no órgão em que tenha sido praticada
a suposta irregularidade. Por outro lado, o julgamento e a eventual aplicação
de sanção só podem ocorrer no órgão ao qual o servidor efetivo estiver
vinculado. Ex: João é servidor efetivo (técnico judiciário) do TJDFT e foi cedido
para um cargo em comissão. Quando ainda estava prestando serviços no STJ,
João praticou uma infração disciplinar. A Instauração do PAD deverá ser feita
preferencialmente pelo STJ. Por outro lado, o julgamento do servidor e
aplicação da sanção deverão ser realizados obrigatoriamente pelo TJDFT.

STJ. Corte Especial. MS 21.991-DF, Rel. Min. João Otávio de


Noronha, julgado em 16/11/2016 (Info 598).

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2) Para adoção do mesmo prazo prescricional quando a


infração disciplinar também for crime é necessária a apuração criminal?

Art. 142.  A ação disciplinar prescreverá: I - em 5 (cinco) anos, quanto


às infrações puníveis com demissão, cassação de aposentadoria ou
disponibilidade e destituição de cargo em comissão; II - em 2
(dois) anos, quanto à suspensão; III - em 180 (cento e oitenta) dias,
quanto à advertência.

§ 1o O prazo de prescrição começa a correr da data em que o fato se


tornou conhecido. § 2o Os prazos de prescrição previstos na lei penal
aplicam-se às infrações disciplinares capituladas também como
crime. § 3o A abertura de sindicância ou a instauração de processo
disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final proferida por
autoridade competente. § 4o Interrompido o curso da prescrição, o
prazo começará a correr a partir do dia em que cessar a interrupção.

O prazo prescricional previsto na lei penal se aplica às infrações


disciplinares também capituladas como crime independentemente da apuração
criminal da conduta do servidor.

A Primeira Seção superou seu posicionamento anterior sobre o


tema, passando a entender que, diante da rigorosa independência das esferas
administrativa e criminal, não se pode entender que a existência de apuração
criminal é pré-requisito para a utilização do prazo prescricional penal. Assim,
tanto para o STF quanto para o STJ, para que seja aplicável o art. 142, § 2º da
Lei n. 8.112/1990, não é necessário demonstrar a existência da apuração
criminal da conduta do servidor. Isso porque o lapso prescricional não pode
variar ao talante da existência ou não de apuração criminal, justamente pelo
fato de a prescrição estar relacionada à segurança jurídica.

STJ. 1ª Seção. MS 20.857-DF, Rel. Min. Og Fernandes, por


maioria, julgado em 22/05/2019 (Info 651).

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3) Há nulidade do PAD quando a testemunha se


autoincrimina?

Não implica nulidade do processo administrativo, decorrente da


inobservância do direito à não autoincriminação, quando a testemunha, até
então não envolvida, noticia elementos que trazem para si responsabilidade
pelos episódios em investigação.

STJ. 1ª Seção. MS 21.205-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, por


unanimidade, julgado em 14/10/2020 (Info 682).
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4) É cabível a citação por edital nos processos


administrativos?

Em processo administrativo, a notificação por edital reserva-se


exclusivamente para as hipóteses de: a) interessado indeterminado; b)
interessado desconhecido; ou c) interessado com domicílio indefinido.

STJ. 1ª Seção. MS 27.227-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado


em 27/01/2021 (Info 716).

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5) O impedimento de a administração prosseguir o


andamento do PAD acarreta a suspensão da prescrição da punição?

Se, em razão de determinação judicial, a Administração não pode


realizar nem concluir o interrogatório de servidor em processo administrativo
disciplinar, sem que este possa seguir seu curso natural, deve-se considerar,
por via transversa, suspenso o prazo prescricional.

STJ. 1ª Seção. MS 25.318-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, por


unanimidade, julgado em 22/06/2022 (Info Especial n. 5).

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6) Chefe do Poder Executivo Estadual pode aplicar sanção à


servidor de autarquia ou fundação?

Cabe ao Chefe do Executivo Estadual aplicar sanções aos


servidores vinculados à Administração Direta, ficando a cargo da chefia
superior das autarquias e das fundações punir os servidores a elas
subordinados.

STJ. 1ª Turma. RMS 43.529-MS, Rel. Min. Regina Helena Costa,


por unanimidade, julgado em 14/06/2022 (Info Especial n. 5).

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7) Autoridade julgadora do PAD que oferece denúncia contra


o agente implica na quebra da sua imparcialidade?

O oferecimento de denúncia criminal por autoridade que, em


razão de suas atribuições legais, seja obrigada a fazê-lo não a inabilita, só por
isso, a desempenhar suas funções como autoridade julgadora no processo
administrativo.

STJ. 1ª Turma. RMS 54.717-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, por


unanimidade, julgado em 09/08/2022 (Info 744).

PROCESSO ADMINISTRATIVO

A interposição de recurso administrativo afasta a incidência


dos juros de mora da multa aplicada por agência?

A interposição de recurso administrativo não afasta a incidência


dos juros moratórios sobre multa aplicada por agência reguladora.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.574.873-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 18/10/2022 (Info 754).

CONTRATOS ADMINISTRATIVOS

1) Consórcio pode ser punido pela pendência administrativa


de um dos seus integrantes?

Se um consórcio público celebrou convênio com a União por meio


do qual estão previstos repasses federais, o fato de um dos entes integrantes
do consórcio possuir pendência inscrita no CAUC não pode impedir que o
consórcio receba os valores prometidos. Isso porque o consórcio público é uma
pessoa jurídica distinta dos entes federativos que o integram e, segundo o
princípio da intranscendência das sanções, as punições impostas não podem
superar a dimensão estritamente pessoal do infrator, ou seja, não podem
prejudicar outras pessoas jurídicas que não sejam aquelas que praticaram o
ato. Assim, o fato de ente integrante de consórcio público possuir pendência no
Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias (CAUC) não
impede que o consórcio faça jus, após a celebração de convênio, à
transferência voluntária a que se refere o art. 25 da LC 101/2000.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.463.921-PR, Rel. Min. Humberto Martins,


julgado em 10/11/2015 (Info 577).

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2) Concessionárias de serviço público podem cobrar pela
utilização da faixa de domínio de rodovias concessionadas?

As concessionárias de serviço público podem efetuar a cobrança


pela utilização de faixas de domínio de rodovia, mesmo em face de outra
concessionária, desde que haja previsão editalícia e contratual.

O STF, no julgamento do Tema n. 261 de repercussão geral,


concluiu pela impossibilidade de o ente público realizar cobrança de taxa pelo
uso de espaços públicos municipais por parte das concessionárias de serviço
público. Dessa forma, a Suprema Corte possui orientação consolidada segundo
a qual é vedada a cobrança de valores ao concessionário de serviço público
pelo uso de faixas de domínio de rodovia quando tal exigência emana do
próprio Poder Concedente, tendo em vista que: a) a utilização, nesse caso, se
reverte em favor da sociedade - razão pela qual não cabe a fixação de preço
público; e b) a natureza do valor cobrado não é de taxa, pois não há serviço
público prestado ou poder de polícia exercido.

No entanto, situação distinta exsurge quando o poder concedente


autoriza concessionária de serviço público, com base no art. 11 da Lei n.
8.987/1995, a efetuar cobrança pela utilização de faixas de domínio de rodovia,
mesmo em face de outra concessionária, desde que haja previsão editalícia e
contratual.

Assim, o entendimento fixado no Recurso Extraordinário


581.947/RO (Tema 261/STF), segundo o qual os entes da federação não
podem cobrar retribuição pecuniária pela utilização de vias públicas, inclusive
solo, subsolo e espaço aéreo, para a instalação de equipamentos destinados à
prestação de serviço público, não impede que concessionárias de rodovias
realizem tal exigência pela utilização das faixas de domínio, nos termos do art.
11 da Lei n. 8.987/1995, desde que tal exação seja autorizada pelo poder
concedente e esteja expressamente prevista no contrato de concessão,
porquanto não houve discussão sobre esta hipótese.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.677.414-SP, Rel. Min. Regina Helena


Costa, por unanimidade, julgado em 14/12/2021 (Info 722).

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2.1) É possível a cobrança, pela concessionária, pelo uso de
faixa de domínio por prestadora pública de serviço de saneamento?

É indevida a cobrança promovida por concessionária de rodovia,


em face de autarquia prestadora de serviços de saneamento básico, pelo uso
da faixa de domínio da via pública concedida.

Distinguishing em relação ao Info 722: Embora cedido ao


particular, o bem público de uso comum do povo não se desnatura,
permanecendo, pois, afetado à destinação pública, motivo pelo qual se afigura
ilegítimo exigir remuneração pela sua utilização, quando voltada a viabilizar a
execução de serviço público de saneamento básico prestado por entidade
estatal que esteja fora do regime concorrencial.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.817.302-SP, Rel. Min. Regina Helena


Costa, por unanimidade, julgado em 08/06/2022 (IAC – Tema 8) (Info 740).

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3) Exige-se contraditório antes da decretação de intervenção


em contrato de concessão?

Não se exige contraditório prévio à decretação de intervenção em


contrato de concessão com concessionária de serviço público.

Nos termos do art. 33 da Lei n. 8.987/95: "Declarada a


intervenção, o poder concedente deverá, no prazo de trinta dias, instaurar
procedimento administrativo para comprovar as causas determinantes da
medida e apurar responsabilidades, assegurado o direito de ampla defesa."
Verifica-se que, em se tratando de intervenção, o direito de defesa do
concessionário só é propiciado após a decretação da intervenção, a partir do
momento em que for instaurado o procedimento administrativo para apuração
das irregularidades. Isso porque a intervenção possui finalidades investigatória
e fiscalizatória, e não punitiva.

STJ. 2ª Turma. RMS 66.794-AM, Rel. Min. Francisco Falcão, por


unanimidade, julgado em 22/02/2022 (Info 727).

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4) O edital de licitação pode prever a renúncia aos honorários


de sucumbência devidos ao advogado contratado?
Nos contratos administrativos, é válida a cláusula que prevê
renúncia do direito aos honorários de sucumbência por parte de advogado
contratado.

Não se pode concluir pela abusividade ou ilegalidade da cláusula


contratual que prevê a renúncia do direito aos honorários de sucumbência,
notadamente quando a parte contratada, por livre e espontânea vontade,
manifesta sua concordância e procede ao patrocínio das causas de seu cliente
mediante a remuneração acertada no contrato.

No caso em análise, a parte autora manifestou, de forma


expressa e consciente, a renúncia e só procurou discutir a cláusula após o fim
do contrato.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.825.800-SC, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, por unanimidade, julgado em 05/04/2022 (Info 733).

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5) O Judiciário pode conceder autorização de funcionamento


a rádio comunitária em virtude de demora na apreciação pelo Executivo?

A demora da Administração para apreciar o pedido de autorização


para funcionamento de rádio comunitária não legitima o Poder Judiciário a
conceder, ainda que em caráter precário, o direito de continuidade das
atividades.

A Constituição da República, em seu art. 223, expressamente


define como competência do Poder Executivo, com posterior referendo do
Poder Legislativo, outorgar concessão, permissão e autorização para o serviço
de radiodifusão sonora e de imagens. Não há espaço, portanto, para o
Judiciário interferir em tal questão, sob pena de ofensa ao princípio da
separação dos Poderes.

STJ. 1ª Seção. EDv nos EREsp 1.797.663-CE, Rel. Min. Sérgio


Kukina, por unanimidade, julgado em 10/08/2022 (Info 748).

PODER DE POLÍCIA

1) As agências de turismo que efetuam operações de câmbio


se submetem à fiscalização do BACEN?
A agência de turismo devidamente credenciada para efetuar
operações de câmbio é equiparada a instituição financeira e subordina-se à
regular intervenção fiscalizatória do Bacen.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.434.625-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina,


julgado em 09/04/2019 (Info 647).

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2) O termo “bombeiro civil” pode ser utilizado pelos


profissionais de empresas privadas atuantes no ramo?

Profissionais de empresas privadas que exerçam atividade de


prevenção e combate ao incêndio podem adotar a nomenclatura “bombeiro
civil”.

O art. 2º da Lei nº 11.901/2009 dispõe que são “bombeiros civis”


os empregados contratados tanto por empresas públicas quanto privadas que
exerçam atividade de prevenção e combate ao incêndio. A Lei nº 12.664/2012
não revogou a Lei nº 11.901/2009, mas apenas proibiu o uso de uniformes que
possuam insígnias, distintivos e emblemas representativos das instituições
públicas.

STJ. 1ª Turma. REsp 1.549.433-DF, Rel. Min. Benedito


Gonçalves, julgado em 09/04/2019 (Info 648).

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3) É legal a cobrança da taxa de esgoto quando não realizado


o tratamento final dos dejetos?

A concessionária de água e esgoto pode cobrar “tarifa de


esgotamento sanitário” mesmo na hipótese em que realiza apenas a coleta e o
transporte dos dejetos sanitários, sem fazer o tratamento final dos efluentes.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.330.195-RJ, Rel. Min. Castro Meira,


julgado em 6/12/2012 (Info 514).

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4) No envio da notificação da autuação e penalidade de


infração de trânsito, é necessário o envio de AR?
No processo administrativo para imposição de multa de trânsito,
são necessárias as notificações da autuação e da aplicação da pena
decorrente da infração. Tais notificações, se feitas por remessa postal, não
precisam ser acompanhadas de aviso de recebimento (AR). Não há essa
exigência no Código de Trânsito Brasileiro nem nas Resoluções do CONTRAN.

STJ. 1ª Seção. PUIL 372-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado


em 11/03/2020 (Info 668).

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5) Quais atos relativos ao ciclo do poder de polícia podem ser


delegados?

Atualização da tese de acordo com o STF, na RG n. 532. O único


ciclo do poder de polícia INDELEGÁVEL é a ORDEM de polícia, todos os
demais (sanção, consentimento e fiscalização) são delegáveis.

ATENÇÃO: a sanção de polícia pode ser delegada apenas às


pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública
indireta de capital social majoritariamente público que prestem exclusivamente
serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.

BENS PÚBLICOS

1) É possível a manutenção de quiosques em calçadas,


mediante o pagamento de tributos e sem a aprovação do poder público?

Não é possível a manutenção de quiosques e trailers instalados


sobre calçadas sem a regular aprovação estatal.

O princípio da confiança não socorre quem, em sã consciência ou


assumindo os riscos de sua conduta, ocupa ou usa irregularmente bem público,
irrelevante haja pagamento de tributos e outros encargos, pois prestação
pecuniária não substitui licitação e licenciamento. Em tais circunstâncias, o que
se tem é no extremo oposto da régua ético-jurídica confiança na impunidade,
confiança derivada da impunidade e confiança que fomenta a impunidade,
exatamente a perversão da ordem democrática de direito.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin,


por unanimidade, julgado em 03/03/2020 (Info 671).
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2) É possível a aquisição de imóvel do SFH abandonado, via


usucapião?

Não é possível usucapião de imóvel vinculado ao Sistema


Financeiro de Habitação, ainda que em situação de abandono.

Na eventual colisão de direitos fundamentais, como o de moradia


e o da supremacia do interesse público, deve prevalecer, em regra, este último,
norteador do sistema jurídico brasileiro, porquanto a prevalência dos direitos da
coletividade sobre os interesses particulares é pressuposto lógico de qualquer
ordem social estável.

Mesmo o eventual abandono de imóvel público não possui o


condão de alterar a natureza jurídica que o permeia, pois não é possível
confundir a usucapião de bem público com a responsabilidade da
Administração pelo abandono de bem público. Com efeito, regra geral, o bem
público é indisponível.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.874.632-AL, Rel. Min. Nancy Andrighi, por


unanimidade, julgado em 25/11/2021 (Info 720).

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3) Cabe cobrança de taxa de ocupação de bem público se


inexistente relação jurídica com o Estado?

É cabível a cobrança de taxa de ocupação de imóvel público,


ainda que não haja prévia formalização de ato ou negócio jurídico
administrativo.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.986.143-DF, Rel. Ministro Herman


Benjamin, por unanimidade, julgado em 6/12/2022 (Info Especial n. 8).

ATOS ADMINISTRATIVOS

1) O judiciário pode invalidar atos administrativos


fundamentados em normas técnicas?

A interferência judicial para invalidar a estipulação das tarifas de


transporte público urbano viola a ordem pública, mormente nos casos em que
houver, por parte da Fazenda estadual, esclarecimento de que a metodologia
adotada para fixação dos preços era técnica. Segundo a “doutrina Chenery”, o
Poder Judiciário não pode anular um ato político adotado pela Administração
Pública sob o argumento de que ele não se valeu de metodologia técnica. Isso
porque, em temas envolvendo questões técnicas e complexas, os Tribunais
não gozam de expertise para concluir se os critérios adotados pela
Administração são corretos ou não. Assim, as escolhas políticas dos órgãos
governamentais, desde que não sejam revestidas de reconhecida ilegalidade,
não podem ser invalidadas pelo Poder Judiciário.

STJ. Corte Especial. AgInt no AgInt na SLS 2.240-SP, Rel. Min.


Laurita Vaz, julgado em 7/6/2017 (Info 605).

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2) O Judiciário pode reformar decisão de agência reguladora


para realocar horários de transporte prestados por companhia aérea?

Ao Poder Judiciário não cabe se imiscuir na decisão


administrativa da ANAC acerca da realocação de slots e hotrans (horários de
transporte), serviço prestado por empresa aérea em recuperação judicial, a
ponto de impor a observação absoluta do princípio da preservação da
empresa, quando inexistirem vícios objetivos na decisão, mesmo em prejuízos
à concorrência do setor e aos usuários do serviço público concedido.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.287.461-SP, Rel. Min. Og Fernandes, por


unanimidade, julgado em 21/06/2022 (Info 745).

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3) Qual o termo inicial do prazo de 5 anos para revisar o ato


administrativo?

Nas hipóteses em que não haja exercício do controle de


legalidade por Tribunal de Contas, o prazo decadencial quinquenal previsto no
art. 54 da Lei n. 9.784/1999 transcorre a partir da edição do ato pela
Administração.

STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1.761.417-RS, Rel. Min. Manoel


Erhardt, por unanimidade, julgado em 20/06/2022 (Info 750).
LICITAÇÃO – LEI 14.133/21

1) O administrador pode fixar caução em valor diverso ao


previsto no art. 18?

Art. 18.  Na concorrência para a venda de bens imóveis, a fase de


habilitação limitar-se-á à comprovação do recolhimento de quantia
correspondente a 5% (cinco por cento) da avaliação.

Na concorrência para a venda de bens imóveis, é vedada, à


Administração Pública, a fixação de caução em valor diverso do estabelecido
no art. 18 da Lei n. 8.666/1993.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.617.745-DF, Rel. Min. Assusete


Magalhães, por maioria, julgado em 22/10/2019 (Info 669).

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2) Edital de licitação ou pregão podem conter cláusula


prevendo percentual mínimo referente à taxa de administração?

O edital de licitação não pode fixar um preço mínimo a ser


oferecido pelos licitantes (art. 40, X, da Lei nº 8.666/93). Só um preço máximo.
Essa vedação se justifica porque o objetivo da licitação é o de selecionar a
proposta mais vantajosa. Ocorre que algumas propostas apresentadas são
claramente inexequíveis, ou seja, o licitante não conseguirá custear o bem ou
prestar o serviço e ainda ter lucro. Isso significa que, mais a frente, haverá
transtornos para a Administração Pública com a inexecução do contrato. Diante
disso, alguns entes públicos passaram a exigir algo que denominaram de “taxa
de administração”. Essa taxa é o percentual de remuneração que a empresa irá
obter com aquela venda ou serviço. Se a taxa for equivalente a zero ou mesmo
negativa, a proposta é claramente inexequível considerando que não haverá
lucro para a empresa. Assim, alguns editais passaram a exigir um percentual
mínimo de taxa de administração (ex: a empresa deverá demonstrar que, na
planilha de custos que gerou o preço, está prevista a sua remuneração em, no
mínimo, 1%). Essa prática é válida? O ente público pode estipular cláusula
editalícia em licitação/pregão prevendo percentual mínimo de taxa de
administração como forma de se resguardar de eventuais propostas
inexequíveis?

Não. A fixação de percentual mínimo de taxa de administração em


edital de licitação/pregão fere expressamente a norma contida no inciso X do
art. 40 da Lei nº 8.666/93. A taxa de administração é uma forma de
remuneração do contratado pela Administração Pública, integrando, portanto, o
conceito de preço. Logo, ao exigir um percentual mínimo de taxa de
administração, o edital está fixando um preço mínimo. Sendo o objetivo da
licitação selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração (art. 3º da
Lei nº 8.666/93), a fixação de um preço mínimo atenta contra essa finalidade. A
Lei de Licitações prevê outros mecanismos de combate às propostas
inexequíveis em certames licitatórios, permitindo que o licitante preste garantia
adicional, tal como caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública, seguro-
garantia e fiança bancária.

STJ. 1ª Seção. REsp 1.840.113-CE, Rel. Min. Og Fernandes,


julgado em 23/09/2020 (RR – Tema 1.038) (Info 683).

DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO

Prefeito pode ser condenado ao ressarcimento de gastos


públicos com a realização de estudos na elaboração de projetos de lei?

Não é possível a condenação de prefeito ao ressarcimento de


valores despendidos na realização dos trabalhos desenvolvidos com vista à
elaboração de Projeto de Lei, na hipótese em que o ato administrativo
encaminhado à Câmara Municipal desconsidera a legislação vigente, e é
praticado com desvio de finalidade.

STJ. 1ª Turma. AREsp 1.408.660-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria,


por unanimidade, julgado em 16/08/2022 (Info 745).
AÇÕES CONSTITUCIONAIS

1) Cabe condenação a honorários em execução de sentença


de mandado de segurança individual?

No processo de Mandado de Segurança individual, não cabem


honorários advocatícios, na esteira do disposto no art. 25 da Lei n. 12.016/2009
e na Súmula 105/STJ, não havendo ressalva à fase de cumprimento de
sentença.

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.968.010-DF, Rel. Min. Manoel


Erhardt, por unanimidade, julgado em 09/05/2022 (Info 753).

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2) Cabe condenação a honorários em execução de sentença


individual de mandado de segurança coletivo?

O STJ firmou a orientação de que são devidos honorários


advocatícios pela Fazenda Pública nas execuções individuais de sentença
proferida em ações coletivas, ainda que não embargadas (Súmula 345/STJ),
inclusive nos Mandados de Segurança coletivos (AgInt no AREsp
1.236.023/SP, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma, DJe 09/08/2018), a
ratio decidendi desse posicionamento se deve à natureza genérica das
sentenças proferidas em tais demandas, a exigir do patrono do exequente,
além da individualização e liquidação do valor devido, a demonstração da
titularidade do exequente em relação ao direito material, o que revela o alto
conteúdo cognitivo existente nessas execuções, situação diversa da enfrentada
da questão em exame, que trata do cumprimento de título judicial oriundo de
ação mandamental individual.

STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.968.010-DF, Rel. Min. Manoel


Erhardt, por unanimidade, julgado em 09/05/2022 (Info 753).

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