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REVISÃO PARA O CONCURSO DE

JUIZ FEDERAL (TRF 1ª REGIÃO)


Prof. Márcio André Lopes Cavalcante
Prof. Felipe Duque
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DIREITO CONSTITUCIONAL
É constitucional a LC 152/2015, de autoria parlamentar, que aumentou para 75 anos a idade da
aposentadoria compulsória dos magistrados; não há reserva de iniciativa do STF para regulamentação da
idade de aposentadoria compulsória dos magistrados
Tese fixada pelo STF:
Não se submete a reserva de iniciativa a lei complementar nacional que, regulamentando a EC nº 88/2015,
fixa em 75 (setenta e cinco) anos a idade de aposentadoria compulsória para todos os agentes públicos
titulares de cargos efetivos ou vitalícios.
STF. Plenário. ADI 5.430/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 22/05/2023 (Info 1095).

São constitucionais os dispositivos incluídos pela EC 20/98 e pela EC 41/2003, que submeteram os
magistrados ao Regime de Previdência Social comum aos servidores públicos
São constitucionais — formal e materialmente — os dispositivos incluídos pela EC 20/1998 e pela EC 41/2003,
que instituíram uma ampla reformulação do regime previdenciário no setor público, na parte em que
submetem os magistrados ao Regime de Previdência Social comum aos servidores públicos.
STF. Plenário. ADI 3308/DF, ADI 3363/DF, ADI 3998/DF, ADI 4802/DF e ADI 4803/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgados em 15/5/2023 (Info 1094).

O amicus curiae não possui legitimidade para interpor recursos em sede de controle abstrato de
constitucionalidade
O amicus curiae não possui legitimidade para interpor recursos em sede de controle abstrato de
constitucionalidade. Assim, não cabe embargos de declaração em sede de controle concentrado de
constitucionalidade interposto por amicus curiae, sendo inaplicável o art. 138, § 1º, do CPC.
STF. Plenário. ADI-ED 6.811/PE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 05/12/2022; DJE 16/02/2023.

Em ação pedindo medicamento do poder público, o juiz pode exigir a presença da União caso ela não figure
no polo passivo?
A) Nas hipóteses de ações relativas à saúde intentadas com o objetivo de compelir o Poder Público ao
cumprimento de obrigação de fazer consistente na dispensação de medicamentos não inseridos na lista do
SUS, mas registrado na ANVISA, deverá prevalecer a competência do juízo de acordo com os entes contra os
quais a parte autora elegeu demandar.
B) As regras de repartição de competência administrativas do SUS não devem ser invocadas pelos magistrados
para fins de alteração ou ampliação do polo passivo delineado pela parte no momento da propositura da ação,
mas tão somente para fins de redirecionar o cumprimento da sentença ou determinar o ressarcimento da
entidade federada que suportou o ônus financeiro no lugar do ente público competente, não sendo o conflito
de competência a via adequada para discutir a legitimidade ad causam, à luz da Lei nº 8.080/90, ou a nulidade
das decisões proferidas pelo Juízo estadual ou federal, questões que devem ser analisadas no bojo da ação
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principal.
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C) A competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, I, da CF/88, é determinada por critério objetivo,
em regra, em razão das pessoas que figuram no polo passivo da demanda (competência ratione personae),

Revisão de véspera de prova


competindo ao Juízo federal decidir sobre o interesse da União no processo (Súmula 150/STJ), não cabendo
ao Juízo estadual, ao receber os autos que lhe foram restituídos em vista da exclusão do ente federal do feito,
suscitar conflito de competência (Súmula 254/STJ).
STJ. 1ª Seção. CC 188.002-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 12/4/2023 (IAC 14) (Info 770).

Depois do julgamento acima, o STF, concedeu tutela provisória para estabelecer que, até o julgamento
definitivo do Tema 1.234 da Repercussão Geral, sejam observados os seguintes parâmetros:
1. nas demandas judiciais envolvendo medicamentos ou tratamentos padronizados: a composição do polo
passivo deve observar a repartição de responsabilidades estruturada no Sistema Único de Saúde, ainda que
isso implique deslocamento de competência, cabendo ao magistrado verificar a correta formação da relação
processual;
2. nas demandas judiciais relativas a medicamentos não incorporados: devem ser processadas e julgadas pelo
Juízo, estadual ou federal, ao qual foram direcionadas pelo cidadão, sendo vedada, até o julgamento definitivo
do Tema 1.234 da Repercussão Geral, a declinação da competência ou determinação de inclusão da União no
polo passivo;
3. diante da necessidade de evitar cenário de insegurança jurídica, esses parâmetros devem ser observados
pelos processos sem sentença prolatada; diferentemente, os processos com sentença prolatada até a data
desta decisão (17 de abril de 2023) devem permanecer no ramo da Justiça do magistrado sentenciante até o
trânsito em julgado e respectiva execução;
4. ficam mantidas as demais determinações contidas na decisão de suspensão nacional de processos na fase
de recursos especial e extraordinário.
STF. Plenário. RE 1366243 TPI-Ref, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/04/2023.

Lista suja do trabalho escravo é constitucional


Encerrando portaria, fundamentada na legislação de regência, divulgação de cadastro de empregadores que
tenham submetido trabalhadores a condição análoga à de escravo, sem extravasamento das atribuições
previstas na Lei Maior, tem-se a higidez constitucional.
Identificada, por auditor-fiscal, exploração de trabalho em condição análoga à de escravo e lavrado auto de
infração, a inclusão do empregador em cadastro ocorre após decisão administrativa irrecorrível, assegurados
o contraditório e a ampla defesa.
Descabe enquadrar, como sancionador, cadastro de empregadores, cuja finalidade é o acesso à informação,
mediante publicização de política de combate ao trabalho escravo, considerado resultado de procedimento
administrativo de interesse público.
STF. Plenário. ADPF 509/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020.

STF determinou, como tutela provisória incidental na ADPF, que a União adote providências para assegurar
a vida, a saúde e a segurança de povos indígenas
Cabível o deferimento de tutela provisória incidental em arguição de descumprimento de preceito
fundamental para adoção de todas as providências indispensáveis para assegurar a vida, a saúde e a segurança
de povos indígenas vítimas de ilícitos e problemas de saúde decorrentes da presença de invasores de suas
terras, em situação agravada pelo curso da pandemia ocasionada pelo novo coronavírus (Covid-19).
STF. Plenário. ADPF 709 TPI-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/6/2021 (Info 1022).

É ilegítima a recusa dos pais à vacinação compulsória de filho menor por motivo de convicção filosófica
É constitucional a obrigatoriedade de imunização por meio de vacina que, registrada em órgão de vigilância
sanitária, (i) tenha sido incluída no Programa Nacional de Imunizações ou (ii) tenha sua aplicação obrigatória
determinada em lei ou (iii) seja objeto de determinação da União, estado, Distrito Federal ou município, com
base em consenso médico-científico.
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Em tais casos, não se caracteriza violação à liberdade de consciência e de convicção filosófica dos pais ou
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responsáveis, nem tampouco ao poder familiar.

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STF. Plenário. ARE 1267879/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16 e 17/12/2020 (Repercussão Geral –
Tema 1103) (Info 1003).

Lei estadual pode reservar assentos especiais para pessoas com obesidade nos espaços culturais e nos meios
de transporte coletivo
É constitucional lei estadual que prevê a reserva de assentos especiais a serem utilizados por pessoas obesas,
correspondente a 3% dos lugares em salas de projeções, teatros e espaços culturais localizados em seu
território e a, no mínimo, 2 lugares em cada veículo do transporte coletivo municipal e intermunicipal.
STF. Plenário. ADI 2477/PR e ADI 2572/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 21/10/2022 (Info 1073).

É possível a reserva de vagas a candidato com deficiência oriundo de escola não pública?
NÃO. Isso porque a Lei de Cotas (Lei 12.711/2012) exige que o estudante tenha cursado integralmente o ensino
médio em escolas públicas. O STJ não admite interpretação extensiva.

Hipótese em que o candidato pretende a incidência direta do Estatuto da Pessoa com Deficiência para a
criação de caso não previsto na Lei de Cotas, qual seja, de reserva de vagas a candidato com deficiência oriundo
de escola não pública.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência previa norma expressa nesse sentido, em seu art. 29, que foi vetado. O
veto foi mantido pelo Congresso Nacional. Subsequentemente, editou-se lei para incluir a previsão específica
alusiva aos candidatos com deficiência na lei regradora das cotas sociais. Descabe ao Judiciário substituir as
opções políticas e administrativas dos representantes diretos do povo, que definiram de forma deliberada
outros meios de atendimento à necessidade de inclusão dos segmentos da sociedade tutelados pela lei.
STJ. 2ª Turma. REsp n. 1.997.509/PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/8/2022.

É inconstitucional concessão de descontos lineares nas mensalidades das faculdades privadas na pandemia
da Covid-19
São inconstitucionais as interpretações judiciais que, unicamente fundamentadas na eclosão da pandemia de
Covid-19 e no respectivo efeito de transposição de aulas presenciais para ambientes virtuais, determinam às
instituições privadas de ensino superior a concessão de descontos lineares nas contraprestações dos contratos
educacionais, sem considerar as peculiaridades dos efeitos da crise pandêmica em ambas as partes contratuais
envolvidas na lide.
Tese fixada pelo STF: É inconstitucional decisão judicial que, sem considerar as circunstâncias fáticas
efetivamente demonstradas, deixa de sopesar os reais efeitos da pandemia em ambas as partes contratuais,
e determina a concessão de descontos lineares em mensalidades de cursos prestados por instituições de
ensino superior.
STF. Plenário. ADPF 706/DF e ADPF 713/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 17 e 18/11/2021 (Info 1038).

É inconstitucional lei distrital que preveja percentual de vagas nas universidades públicas reservadas para
alunos que estudaram nas escolas públicas do Distrito Federal, excluindo, portanto, alunos de escolas
públicas de outros Estados da Federação
É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas do
Distrito Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal.
Essa lei, ao restringir a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o art. 19,
III, da CF/88, tendo em vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros.
Vale ressaltar que a inconstitucionalidade não está no fato de ter sido estipulada a cota em favor de alunos de
escolas públicas, mas sim em razão de a lei ter restringido as vagas para alunos do Distrito Federal, em
detrimento dos estudantes de outros Estados da Federação.
STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.
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A Constituição Estadual não pode disciplinar sobre intervenção estadual de forma diferente das regras
previstas na Constituição Federal
É inconstitucional — por violação aos princípios da simetria e da autonomia dos entes federados — norma de
Constituição estadual que prevê hipótese de intervenção do estado no município fora das que são
taxativamente elencadas no art. 35 da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 6619/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/10/2022 (Info 1073).

É formalmente inconstitucional lei estadual que proíba linguagem neutra nas escolas
É inconstitucional — por violar a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da
educação nacional (art. 22, XXIV, CF/88) — lei estadual que veda a adoção da “linguagem neutra” na grade
curricular e no material didático de instituições de ensino públicas e privadas, assim como em editais de
concursos públicos locais.
Tese fixada pelo STF:
Norma estadual que, a pretexto de proteger os estudantes, proíbe modalidade de uso da língua portuguesa
viola a competência legislativa da União.
STF. Plenário. ADI 7019/RO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/02/2023 (Info 1082).

É inconstitucional lei estadual que obriga prévia notificação do consumidor para que a concessionária possa
fazer a vistoria técnica no medidor de energia
É inconstitucional — por violação à competência da União para explorar os serviços e instalações de energia
elétrica e para legislar sobre energia (arts. 21, XVII, “b”; 22, IV; e 175, parágrafo único, CF/88) — lei estadual
que obriga as empresas concessionárias de energia elétrica a expedirem notificação com aviso de recebimento
para a realização de vistoria técnica no medidor de usuário residencial.
STF. Plenário. ADI 3703/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
6/3/2023 (Info 1085).

É inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos ambientais e a polícia militar de destruírem e
inutilizarem bens particulares apreendidos em operações de fiscalização ambiental
É inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos ambientais e a polícia militar de destruírem e inutilizarem
bens particulares apreendidos em operações de fiscalização ambiental.
Essa lei viola a competência da União para legislar sobre normas gerais de proteção ao meio ambiente (art.
24, VI e VII, da CF/99) e a afronta a competência privativa da União para legislar sobre direito penal e
processual penal (e 22, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 7203/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/03/2023 (Info 1084).

Lei estadual não pode proibir a transferência do controle técnico, administrativo ou de gestão
compartilhada das empresas estatais
É inconstitucional lei estadual que veda ao Poder Executivo e às empresas públicas e de economia mista, cujo
controle acionário pertença ao estado, de assinarem contratos ou outros instrumentos legais congêneres que
viabilizem a transferência do controle técnico, administrativo ou de gestão compartilhada.
STF. Plenário. ADI 1846/SC, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 21/10/2022 (Info 1073).

Os estados-membros detêm competência administrativa para explorar loterias


A competência da União para legislar privativamente sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive
loterias, não obsta a competência material (administrativa) para a exploração dessas atividades pelos entes
estaduais ou municipais, nem a competência regulamentar dessa exploração.
Os arts. 1º e 32, caput e § 1º, do Decreto-Lei 204/1967 não foram recepcionados pela Constituição Federal de
1988.
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STF. Plenário. ADPF 492/RJ, ADPF 493/DF e ADI 4986/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 30/9/2020
(Info 993).

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SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições financeiras?
Polícia NÃO. É necessária autorização judicial.
NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje 19/09/2011).
Exceção: É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de contas
MP de titularidade de órgãos e entidades públicas, com o fim de proteger o patrimônio
público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo bancário (STJ. 5ª Turma. HC
308.493-CE, j. em 20/10/2015).
NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe de 9/5/2012).
Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito originárias de
TCU
recursos públicos não é coberto pelo sigilo bancário (STF. MS 33340/DF, j. em
26/5/2015).
SIM, com base no art. 6º da LC 105/2001. O repasse das informações dos bancos para o
Receita Federal
Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo bancário".
Fisco estadual, SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de competência, o art. 6º da
distrital, municipal LC 105/2001, de forma análoga ao Decreto Federal 3.724/2001.
SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC 105/2001).
CPI
Prevalece que CPI municipal não pode.

CUIDADO! NÃO CONFUNDIR


É ilegal a requisição, sem autorização judicial, de dados fiscais pelo Ministério Público
Ao julgar o Tema 990, o STF afirmou que é legítimo que a Receita Federal compartilhe o procedimento
fiscalizatório que ela realizou para apuração do débito tributário com os órgãos de persecução penal para fins
criminais (Polícia Federal, Ministério Público etc.), não sendo necessário, para isso, prévia autorização judicial
(STF. Plenário. RE 1.055.941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019).
Por outro lado, neste julgado, o STF não autorizou que o Ministério Público faça a requisição direta (sem
autorização judicial) de dados fiscais, para fins criminais. Ex: requisição da declaração de imposto de renda.
A requisição ou o requerimento, de forma direta, pelo órgão da acusação à Receita Federal, com o fim de
coletar indícios para subsidiar investigação ou instrução criminal, além de não ter sido satisfatoriamente
enfrentada no julgamento do RE 1.055.941/SP, não se encontra abarcada pela tese firmada no âmbito da
repercussão geral em questão.
Em um estado de direito não é possível se admitir que órgãos de investigação, em procedimentos informais e
não urgentes, solicitem informações detalhadas sobre indivíduos ou empresas, informações essas
constitucionalmente protegidas, salvo autorização judicial.
Uma coisa é órgão de fiscalização financeira, dentro de suas atribuições, identificar indícios de crime e
comunicar suas suspeitas aos órgãos de investigação para que, dentro da legalidade e de suas atribuições,
investiguem a procedência de tais suspeitas. Outra, é o órgão de investigação, a polícia ou o Ministério Público,
sem qualquer tipo de controle, alegando a possibilidade de ocorrência de algum crime, solicitar ao COAF ou à
Receita Federal informações financeiras sigilosas detalhadas sobre determinada pessoa, física ou jurídica, sem
a prévia autorização judicial.
STJ. 3ª Seção. RHC 83233-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 09/02/2022 (Info 724).

Governador não pode ser obrigado a depor em CPI instaurada no Congresso Nacional
Em juízo de delibação, não é possível a convocação de governadores de estados-membros da Federação por
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada pelo Senado Federal.
A convocação viola o princípio da separação dos Poderes e a autonomia federativa dos estados-membros.
STF. Plenário. ADPF 848 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 25/6/2021 (Info 1023).
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Proibição de tratamento diferenciado entre a licença-maternidade e a licença-adotante

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O art. 210 da Lei nº 8.112/90, assim como outras leis estaduais e municipais, prevê que o prazo para a servidora
que adotar uma criança é inferior à licença que ela teria caso tivesse tido um filho biológico. De igual forma,
este dispositivo estabelece que, se a criança adotada for maior que 1 ano de idade, o prazo será menor do que
seria se ela tivesse até 1 ano. Segundo o STF, tal previsão é inconstitucional. Foi fixada, portanto, a seguinte
tese:
Os prazos da licença-adotante não podem ser inferiores ao prazo da licença-gestante, o mesmo valendo para
as respectivas prorrogações. Em relação à licença-adotante, não é possível fixar prazos diversos em função da
idade da criança adotada.
STF. Plenário. RE 778889/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, j. em 10/3/2016 (repercussão geral) (Info 817).

Norma estadual pode proibir a caça em seu território


Não afronta a competência legislativa da União o dispositivo de constituição estadual que proíbe a caça em
seu respectivo território.
STF. Plenário. ADI 350/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/6/2021 (Info 1022).

É possível que o Fisco requisite das instituições financeiras informações bancárias sobre os contribuintes sem
intervenção do Poder Judiciário
As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
podem requisitar diretamente das instituições financeiras informações sobre as movimentações bancárias dos
contribuintes. Esta possibilidade encontra-se prevista no art. 6º da LC 105/2001, que foi considerada
constitucional pelo STF. Isso porque esta previsão não se caracteriza como "quebra" de sigilo bancário,
ocorrendo apenas a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco.
Vale ressaltar que os Estados-Membros e os Municípios somente podem obter as informações previstas no
art. 6º da LC 105/2001, uma vez regulamentada a matéria de forma análoga ao Decreto Federal nº 3.724/2001,
observados os seguintes parâmetros:
a) pertinência temática entre a obtenção das informações bancárias e o tributo objeto de cobrança no
procedimento administrativo instaurado;
b) prévia notificação do contribuinte quanto à instauração do processo e a todos os demais atos, garantido o
mais amplo acesso do contribuinte aos autos, permitindo-lhe tirar cópias, não apenas de documentos, mas
também de decisões;
c) sujeição do pedido de acesso a um superior hierárquico;
d) existência de sistemas eletrônicos de segurança que fossem certificados e com o registro de acesso; e,
finalmente,
e) estabelecimento de mecanismos efetivos de apuração e correção de desvios.
A Receita Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias porque possui esse regulamento.
Trata-se justamente do Decreto 3.724/2001 acima mencionada, que regulamenta o art. 6º da LC 105/2001.
O art. 5º da LC 105/2001, que permite obriga as instituições financeiras a informarem periodicamente à
Receita Federal as operações financeiras realizadas acima de determinado valor, também é considerado
constitucional.
STF. Plenário. ADI 2390/DF, ADI 2386/DF, ADI 2397/DF e ADI 2859/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em
24/2/2016 (Info 815).
STF. Plenário. RE 601314/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/2/2016 (repercussão geral) (Info 815).

Se o indivíduo possui contra si uma condenação criminal transitada em julgado, ele não poderá ser vigilante,
mesmo que já tenha cumprido a pena há mais de 5 anos
Viola o princípio da presunção de inocência o impedimento de participação ou registro de curso de formação
ou reciclagem de vigilante, por ter sido verificada a existência de inquérito ou ação penal não transitada em
julgado.
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Assim, não havendo sentença condenatória transitada em julgado, o simples fato de existir um processo penal
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em andamento não pode ser considerada antecedente criminal para o fim de impedir que o vigilante se
matricule no curso de reciclagem.

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STJ. 2ª Turma. REsp 1597088/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/08/2017.

A existência de condenação criminal transitada em julgado impede o exercício da atividade profissional de


vigilante por ausência de idoneidade moral.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.666.294-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/09/2019 (Info 658).

Polícia Federal pode recusar pedido de inscrição no curso de vigilante pelo fato de o indivíduo ter praticado
delito que envolve o emprego de violência contra a pessoa ou por ter demonstrado comportamento
agressivo incompatível com as funções do cargo
Quando o delito imputado envolve o emprego de violência contra a pessoa ou demonstre comportamento
agressivo incompatível com as funções de vigilante, é válida a recusa de pedido de inscrição em curso de
reciclagem para vigilantes profissionais, porquanto configurada, em regra, a ausência de idoneidade do
indivíduo.
Caso concreto em que o indivíduo restou condenado pela prática de lesão corporal no âmbito doméstico, com
sentença penal transitada em julgado e pena já cumprida, não se evidenciando, desse modo, ilegalidade na
recusa à matrícula no curso de reciclagem pela Polícia Federal, porquanto se trata de delito que atrai valoração
negativa sobre a conduta exigida do profissional, revelando sua inidoneidade para o exercício da profissão.
STJ. 1ª Turma. REsp 1952439-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

Súmula 403-STJ: Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de
pessoa com fins econômicos ou comerciais.

Condenação do ex-Deputado Federal Daniel Silveira


A liberdade de expressão existe para a manifestação de opiniões contrárias, jocosas, satíricas e até mesmo
errôneas, mas não para opiniões criminosas, discurso de ódio ou atentados contra o Estado Democrático de
Direito e a democracia.
A Constituição garante a liberdade de expressão, com responsabilidade. A liberdade de expressão não pode
ser usada para a prática de atividades ilícitas ou para a prática de discursos de ódio, contra a democracia ou
contra as instituições.
Nesse sentido, são inadmissíveis manifestações proferidas em redes sociais que objetivem a abolição do
Estado de Direito e o impedimento, com graves ameaças, do livre exercício de seus poderes constituídos e de
suas instituições.
Ademais, conforme jurisprudência do STF, a garantia constitucional da imunidade parlamentar incide apenas
sobre manifestações proferidas no desempenho da função legislativa ou em razão desta, não sendo possível
utilizá-la como escudo protetivo para a prática de atividades ilícitas.
Não configurada abolitio criminis com relação aos delitos previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei nº
7.170/83).
Quando determinada conduta típica (e suas elementares) permanece descrita na nova lei penal, com a
manutenção do caráter proibido da conduta, há a configuração do fenômeno processual penal da
continuidade normativo-típica.
Na hipótese, o legislador não pretendeu abolir as condutas atentatórias à democracia, ao Estado de Direito e
ao livre exercício dos poderes. Na realidade, aprimorou, sob o manto democrático, a defesa do Estado, de
suas instituições e de seus poderes.
Observa-se, assim, a ocorrência de continuidade normativo-típica entre as condutas previstas nos arts. 18 e
23, IV, da Lei nº 7.170/83 e a conduta prevista no art. 359-L do CP (com redação dada pela Lei nº 14.197/2021),
bem como entre a conduta prevista no art. 23, II, da Lei nº 7.170/83 e o conduta típica prevista no art. 286,
parágrafo único, do CP, com redação dada pela Lei nº 14.197/2021.
STF. Plenário. AP 1044/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).
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É inconstitucional norma que proíbe proselitismo em rádios comunitárias

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É inconstitucional o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98. Esse dispositivo proíbe, no âmbito da programação das
emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, ou seja, a transmissão de conteúdo tendente
a converter pessoas a uma doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia.
O STF entendeu que essa proibição afronta os arts. 5º, IV, VI e IX, e 220, da Constituição Federal.
A liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo, o uso de argumentos críticos, o consenso e o debate
público informado e pressupõe a livre troca de ideias e não apenas a divulgação de informações.
STF. Plenário. ADI 2566/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
16/5/2018 (Info 902).

A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode configurar o crime de racismo
A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores não está protegida
pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
Assim, é possível, a depender do caso concreto, que um líder religioso seja condenado pelo crime de racismo
(art. 20, §2º, da Lei nº 7.716/89) por ter proferido discursos de ódio público contra outras denominações
religiosas e seus seguidores.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/3/2018
(Info 893).

É inconstitucional lei estadual que fixe a obrigatoriedade de divulgação diária de fotos de crianças
desaparecidas em noticiários de TV e em jornais de estado-membro
Lei estadual 16.576/2015, de Santa Catarina, previa “a obrigatoriedade diária de divulgação de fotos de
crianças desaparecidas nos noticiários de TV e jornais sediados” no Estado.
Essa lei é inconstitucional sob os pontos de vista formal e material.
A lei estadual invadiu a competência privativa da União para legislar sobre radiodifusão de sons e imagens
(art. 22, IV, da CF/88).
No que tange ao aspecto material, a lei estadual viola o princípio da livre iniciativa e a liberdade de informação
jornalística dos veículos de comunicação social (art. 220 da CF/88).
Além disso, disciplina o tema de forma diferente daquilo que prevê a Lei federal nº 12.127/2009, que criou o
Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos.
STF. Plenário. ADI 5292/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 25/3/2022 (Info 1048).

Judiciário pode determinar a realização de obras emergenciais em estabelecimento prisional


É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente na promoção de
medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos prisionais para dar efetividade ao
postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral,
nos termos do que preceitua o art. 5º, XLIX, da CF, não sendo oponível à decisão o argumento da reserva do
possível nem o princípio da separação dos poderes.
STF. Plenário. RE 592581/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 13/8/2015 (repercussão geral) (Info 794).

Judiciário pode obrigar administração a manter quantidade mínima de medicamento em estoque


A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a manter estoque mínimo de
determinado medicamento utilizado no combate a certa doença grave, de modo a evitar novas interrupções
no tratamento.
Não há violação ao princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque, com essa decisão, o Poder
Judiciário não está determinando metas nem prioridades do Estado, nem tampouco interferindo na gestão de
suas verbas. O que se está fazendo é controlar os atos e serviços da Administração Pública que, neste caso, se
mostraram ilegais ou abusivos já que, mesmo o Poder Público se comprometendo a adquirir os medicamentos,
há falta em seu estoque, ocasionando graves prejuízos aos pacientes.
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Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil a dar continuidade ao
tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à saúde daqueles pacientes, o que
autoriza a ingerência do Poder Judiciário.
STJ. 1ª Turma. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 25/6/2014 (Info 752).

Judiciário pode obrigar a administração pública a garantir o direito a acessibilidade em prédios públicos
A CF/88 e a Convenção Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência asseguram o direito dos
portadores de necessidades especiais ao acesso a prédios públicos, devendo a Administração adotar
providências que o viabilizem.
O Poder Judiciário, em situações excepcionais, pode determinar que a Administração Pública adote medidas
assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem que isso configure violação
do princípio da separação de poderes.
STF. 1ª Turma. RE 440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/10/2013 (Info 726).

A omissão injustificada da Administração em providenciar a disponibilização de banho quente nos


estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua custódia
A omissão injustificada da Administração em providenciar a disponibilização de banho quente nos
estabelecimentos prisionais fere a dignidade de presos sob sua custódia.
A determinação de que o Estado forneça banho quente aos presos está relacionada com a dignidade da pessoa
humana, naquilo que concerne à integridade física e mental a todos garantida.
O Estado tem a obrigação inafastável e imprescritível de tratar prisioneiros como pessoas, e não como animais.
O encarceramento configura pena de restrição do direito de liberdade, e não salvo-conduto para a aplicação
de sanções extralegais e extrajudiciais, diretas ou indiretas.
Em presídios e lugares similares de confinamento, ampliam-se os deveres estatais de proteção da saúde
pública e de exercício de medidas de assepsia pessoal e do ambiente, em razão do risco agravado de
enfermidades, consequência da natureza fechada dos estabelecimentos, propícia à disseminação de
patologias.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.537.530-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/04/2017 (Info 666).

“ADPF das favelas”


O STF determinou que:
1) o Estado do Rio de Janeiro elabore e encaminhe ao STF, no prazo máximo de 90 dias, um plano para redução
da letalidade policial e controle das violações aos direitos humanos pelas forças de segurança, que apresente
medidas objetivas, cronogramas específicos e previsão dos recursos necessários para a sua implementação.
2) o emprego e a fiscalização da legalidade do uso da força sejam feitos à luz dos Princípios Básicos sobre a
Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei.
3) seja criado um grupo de trabalho sobre Polícia Cidadã no Observatório de Direitos Humanos localizado no
Conselho Nacional de Justiça;
4) nos termos dos Princípios Básicos sobre a Utilização da Força e de Armas de Fogo pelos Funcionários
Responsáveis pela Aplicação da Lei, só se justifica o uso da força letal por agentes de Estado quando,
ressalvada a ineficácia da elevação gradativa do nível da força empregada para neutralizar a situação de risco
ou de violência, exauridos os demais meios, inclusive os de armas não-letais, e necessário para proteger a vida
ou prevenir um dano sério, decorrente de uma ameaça concreta e iminente.
5) as investigações de incidentes que tenham como vítimas crianças ou adolescentes terão a prioridade
absoluta;
6) No caso de buscas domiciliares por parte das forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro, devem ser
observadas as seguintes diretrizes constitucionais, sob pena de responsabilidade:
(i) a diligência, no caso específico de cumprimento de mandado judicial, deve ser realizada somente durante
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o dia, vedando-se, assim, o ingresso forçado a domicílios à noite;


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(ii) a diligência, quando feita sem mandado judicial, pode ter por base denúncia anônima;

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(iii) a diligência deve ser justificada e detalhada por meio da elaboração de auto circunstanciado, que deverá
instruir eventual auto de prisão em flagrante ou de apreensão de adolescente por ato infracional e ser
remetido ao juízo da audiência de custódia para viabilizar o controle judicial posterior; e
(iv) a diligência deve ser realizada nos estritos limites dos fins excepcionais a que se destina.

7) seja obrigatória a disponibilização de ambulâncias em operações policiais previamente planejadas em que


haja a possibilidade de confrontos armados, sem prejuízo da atuação dos agentes públicos e das operações;

8) o Estado do Rio de Janeiro, no prazo máximo de 180 dias, instale equipamentos de GPS e sistemas de
gravação de áudio e vídeo nas viaturas policiais e nas fardas dos agentes de segurança, com o posterior
armazenamento digital dos respectivos arquivos.
STF. Plenário. ADPF 635 MC-ED/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 2 e 3/02/2022 (Info 1042).

É constitucional lei estadual que determina a reserva de vagas, na mesma escola, para irmãos que
frequentem a mesma etapa ou o mesmo ciclo escolar
É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determina a reserva de vagas, no mesmo
estabelecimento de ensino, para irmãos que frequentem a mesma etapa ou ciclo escolar, pois disciplina
medida que visa consolidar políticas públicas de acesso ao sistema educacional e do maior convívio familiar
possível.
STF. Plenário. ADI 7149/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/9/2022 (Info 1069).

O Estado tem o dever constitucional de assegurar às crianças entre zero e cinco anos de idade o atendimento
em creche e pré-escola
1. A educação básica em todas as suas fases — educação infantil, ensino fundamental e ensino médio —
constitui direito fundamental de todas as crianças e jovens, assegurado por normas constitucionais de eficácia
plena e aplicabilidade direta e imediata.
2. A educação infantil compreende creche (de zero a 3 anos) e a pré-escola (de 4 a 5 anos). Sua oferta pelo
Poder Público pode ser exigida individualmente, como no caso examinado neste processo.
3. O Poder Público tem o dever jurídico de dar efetividade integral às normas constitucionais sobre acesso à
educação básica.
STF. Plenário. RE 1008166/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 22/9/2022 (Repercussão Geral – Tema 548) (Info
1069).

O servidor público que seja pai solo – de família em que não há a presença materna – faz jus à licença
maternidade e ao salário maternidade pelo prazo de 180 dias, da mesma forma em que garantidos à mulher
pela legislação de regência
À luz do art. 227 da Constituição Federal, que confere proteção integral da criança com absoluta prioridade e
do princípio da paternidade responsável, a licença maternidade, prevista no art. 7º, XVIII, da CF/88 e
regulamentada pelo art. 207 da Lei nº 8.112/1990, estende-se ao pai genitor monoparental.
STF. Plenário. RE 1348854/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 12/5/2022 (Repercussão Geral –
Tema 1182) (Info 1054).

Nos casos de internações pós-parto que durem mais de duas semanas, o termo inicial da licença-
maternidade e do salário-maternidade é a alta hospitalar da mãe ou do recém-nascido
Nos casos de internações pós-parto que durem mais de duas semanas, o termo inicial da licença-maternidade
e do salário-maternidade é a alta hospitalar da mãe ou do recém-nascido — o que ocorrer por último —,
prorrogando-se ambos os benefícios por igual período ao da internação, visto que não podem ser reduzidos
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de modo irrazoável e conflitante com o direito social de proteção à maternidade e à infância.


STF. Plenário. ADI 6327/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21/10/2022 (Info 1073).
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É constitucional lei estadual, mesmo que de origem parlamentar, que cria Bolsa Aluguel para famílias em
situação de risco ou atingida por catástrofes, não havendo problema que o salário-mínimo seja o parâmetro
para a concessão do benefício
É constitucional lei estadual que autoriza o Poder Executivo a instituir, no âmbito do ente federado, programa
destinado ao pagamento de aluguel de imóvel a famílias que residam em local de situação de risco iminente
ou que tenham seu imóvel atingido por catástrofes, utilizando o valor do salário-mínimo como parâmetro para
a concessão do benefício de programa social.
Vale ressaltar, contudo, que:
É inconstitucional norma que estabelece prazos ao chefe do Poder Executivo para a apresentação de projetos
de lei ou para a regulamentação de disposições legais. Obs: no caso concreto, a lei estadual estabelecia que
“o Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 90 (noventa) dias, estabelecendo normas necessárias
para operacionalização do Programa.”
O STF declarou a inconstitucionalidade da expressão “no prazo de 90 (noventa) dias” porque ela afrontava o
princípio da separação dos Poderes.
STF. Plenário. ADI 4727/DF, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Ministro Gilmar Mendes, julgado em
23/2/2023 (Info 1084).

Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que inexistam
reajustes automáticos
A fixação do piso salarial em múltiplos do salário mínimo mostra-se compatível com o texto constitucional,
desde que não ocorra vinculação a reajustes futuros.
STF. Plenário. ADPF 53 Ref-MC/PI, ADPF 149 Ref-MC/DF e ADPF 171 Ref-MC/MA, Rel. Min. Rosa Weber,
julgados em 18/2/2022 (Info 1044).

É imune ao pagamento de taxas para registro da regularização migratória o estrangeiro que demonstre sua
condição de hipossuficiente, nos termos da legislação de regência
O estrangeiro que desejar regularizar sua situação no Brasil, pode fazê-lo por meio de um procedimento
chamado de “regularização migratória”. Exige-se o pagamento de uma taxa. Ocorre que muitos estrangeiros
são hipossuficientes e não conseguem pagar o valor exigido. Diante disso, indaga-se: é possível a dispensa do
pagamento dessa taxa caso o estrangeiro seja hipossuficiente?
SIM. O STF decidiu que o estrangeiro com residência permanente no Brasil, na condição de hipossuficiência,
está dispensado do pagamento de taxas cobradas para o processo de regularização migratória.
Não se mostra condizente com a CF a exigência de taxas em face de sujeito passivo evidentemente
hipossuficiente.
Fundamento: art. 5º, LXXVI e LXXVII, da CF/88.
Tese fixada pelo STF: É imune ao pagamento de taxas para registro da regularização migratória o estrangeiro
que demonstre sua condição de hipossuficiente, nos termos da legislação de regência.
STF. Plenário. RE 1018911/RR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 10/11/2021 (Repercussão Geral – Tema 988)
(Info 1037).

O rol de procedimentos e eventos da ANS é meramente explicativo ou taxativo? O plano de saúde pode se
recusar a cobrir tratamento médico voltado à cura de doença coberta pelo contrato sob o argumento de
que o referido tratamento não está previsto na lista de procedimentos da ANS?
1 - O rol de Procedimentos e Eventos em Saúde Suplementar é, em regra, taxativo;
2 - A operadora de plano ou seguro de saúde não é obrigada a arcar com tratamento não constante do rol da
ANS se existe, para a cura do paciente, outro procedimento eficaz, efetivo e seguro já incorporado ao rol;
3 - É possível a contratação de cobertura ampliada ou a negociação de aditivo contratual para a cobertura de
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procedimento extra rol;


4 - Não havendo substituto terapêutico ou esgotados os procedimentos do rol da ANS, pode haver, a título
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excepcional, a cobertura do tratamento indicado pelo médico ou odontólogo assistente, desde que

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(i) não tenha sido indeferido expressamente, pela ANS, a incorporação do procedimento ao rol da Saúde
Suplementar;
(ii) haja comprovação da eficácia do tratamento à luz da medicina baseada em evidências;
(iii) haja recomendações de órgãos técnicos de renome nacionais (como CONITEC e NATJUS) e estrangeiros; e
(iv) seja realizado, quando possível, o diálogo interinstitucional do magistrado com entes ou pessoas com
expertise técnica na área da saúde, incluída a Comissão de Atualização do rol de Procedimentos e Eventos em
Saúde Suplementar, sem deslocamento da competência do julgamento do feito para a Justiça Federal, ante a
ilegitimidade passiva ad causam da ANS.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.886.929-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/06/2022 (Info 740).

ATUALIZAÇÃO LEGISLATIVA QUE IMPLICARÁ MUDANÇA DE ENTENDIMENTO


Ocorre que, depois de uma grande mobilização popular, o Congresso Nacional editou a Lei nº 14.454/2022,
que buscou superar o entendimento firmado pelo STJ.
A Lei nº 14.454/2022 alterou o art. 10 da Lei dos Planos de Saúde (Lei nº 9.656/98), incluindo o § 12, que prevê
o caráter exemplificativo do rol da ANS:
Art. 10 (...)
§ 12. O rol de procedimentos e eventos em saúde suplementar, atualizado pela ANS a cada nova incorporação,
constitui a referência básica para os planos privados de assistência à saúde contratados a partir de 1º de
janeiro de 1999 e para os contratos adaptados a esta Lei e fixa as diretrizes de atenção à saúde.
Vale ressaltar, contudo, que, para o plano de saúde ser compelido a custear, é necessário que esteja
comprovada a eficácia do tratamento ou procedimento, nos termos do § 13, também inserido:
§ 13. Em caso de tratamento ou procedimento prescrito por médico ou odontólogo assistente que não estejam
previstos no rol referido no § 12 deste artigo, a cobertura deverá ser autorizada pela operadora de planos de
assistência à saúde, desde que:
I - exista comprovação da eficácia, à luz das ciências da saúde, baseada em evidências científicas e plano
terapêutico; ou
II - existam recomendações pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de
Saúde (Conitec), ou exista recomendação de, no mínimo, 1 (um) órgão de avaliação de tecnologias em saúde
que tenha renome internacional, desde que sejam aprovadas também para seus nacionais.
A Lei nº 14.454/2022 entrou em vigor no dia 22/09/2022.

É possível obrigar o Estado a fornecer medicamento off label?


• Em regra, não é possível que o paciente exija do poder público o fornecimento de medicamento para uso
off label.
• Excepcionalmente, será possível que o paciente exija o medicamento caso esse determinado uso fora da
bula (off label) tenha sido autorizado pela ANVISA.
O Estado não é obrigado a fornecer medicamento para utilização off label, salvo autorização da ANVISA.
STJ. 1ª Seção. PUIL 2101-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/11/2021 (Info 717).

Fornecimento pelo Poder Judiciário de medicamentos não registrados pela ANVISA


Fornecimento pelo Poder Judiciário de medicamentos não registrados pela ANVISA
1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
2. A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede, como regra geral, o
fornecimento de medicamento por decisão judicial.
3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro sanitário, em caso de mora
irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/2016), quando
preenchidos três requisitos:
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a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para
doenças raras e ultrarraras);
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b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no exterior; e


c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.

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4. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa deverão necessariamente
ser propostas em face da União.
STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).

Responsabilidade pelo fornecimento do medicamento ou pela realização do tratamento de saúde


Tese: Os entes da federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente responsáveis nas
demandas prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios constitucionais de descentralização e
hierarquização, compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição de
competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.
STF. Plenário. RE 855178 ED/SE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2019
(Info 941).

Estados e Municípios podem restringir temporariamente atividades religiosas coletivas presenciais a fim de
evitar a proliferação da Covid-19
É compatível com a Constituição Federal a imposição de restrições à realização de cultos, missas e demais
atividades religiosas presenciais de caráter coletivo como medida de contenção do avanço da pandemia da
Covid-19.
STF. Plenário. ADPF 811/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 8/4/2021 (Info 1012).

Não é possível, atualmente, o homeschooling no Brasil


Não é possível, atualmente, o ensino domiciliar (homeschooling) como meio lícito de cumprimento, pela
família, do dever de prover educação.
Não há, na CF/88, uma vedação absoluta ao ensino domiciliar. A CF/88, apesar de não o prever expressamente,
não proíbe o ensino domiciliar.
No entanto, o ensino domiciliar não pode ser atualmente exercido porque não há legislação que regulamente
os preceitos e as regras aplicáveis a essa modalidade de ensino.
Assim, o ensino domiciliar somente pode ser implementado no Brasil após uma regulamentação por meio de
lei na qual sejam previstos mecanismos de avaliação e fiscalização, devendo essa lei respeitar os mandamentos
constitucionais que tratam sobre educação.
STF. Plenário. RE 888815/RS, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Alexandre de Moraes,
julgado em 12/9/2018 (repercussão geral) (Info 915).

Poder Público pode determinar a vacinação compulsória contra a Covid-19 (o que é diferente de vacinação
forçada)
O STF julgou parcialmente procedente ADI, para conferir interpretação conforme à Constituição ao art. 3º, III,
“d”, da Lei nº 13.979/2020. A tese fixada foi a seguinte:
(A) A vacinação compulsória não significa vacinação forçada, por exigir sempre o consentimento do usuário,
podendo, contudo, ser implementada por meio de medidas indiretas, as quais compreendem, dentre outras,
a restrição ao exercício de certas atividades ou à frequência de determinados lugares, desde que previstas em
lei, ou dela decorrentes, e
(i) tenham como base evidências científicas e análises estratégicas pertinentes,
(ii) venham acompanhadas de ampla informação sobre a eficácia, segurança e contraindicações dos
imunizantes,
(iii) respeitem a dignidade humana e os direitos fundamentais das pessoas;
(iv) atendam aos critérios de razoabilidade e proporcionalidade, e
(v) sejam as vacinas distribuídas universal e gratuitamente; e
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(B) tais medidas, com as limitações acima expostas, podem ser implementadas tanto pela União como pelos
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Estados, Distrito Federal e Municípios, respeitadas as respectivas esferas de competência.


STF. Plenário. ADI 6586, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/12/2020. (Info 1003)

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União não pode requisitar seringas e agulhas que já foram contratadas pelo Estado-membro para o plano
estadual de imunização e que ainda estão na indústria, apesar de já terem sido empenhados
É incabível a requisição administrativa, pela União, de bens insumos contratados por unidade federativa e
destinados à execução do plano local de imunização, cujos pagamentos já foram empenhados.
A requisição administrativa não pode se voltar contra bem ou serviço de outro ente federativo. Isso para que
não haja indevida interferência na autonomia de um sobre outro.
STF. Plenário. ACO 3463 MC-Ref/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 8/3/2021 (Info 1008).

É inconstitucional lei que preveja requisitos diferentes entre homens e mulheres para que recebam pensão
por morte
É inconstitucional, por transgressão ao princípio da isonomia entre homens e mulheres (art. 5º, I, da CF/88), a
exigência de requisitos legais diferenciados para efeito de outorga de pensão por morte de ex-servidores
públicos em relação a seus respectivos cônjuges ou companheiros/companheiras (art. 201, V, da CF/88).
STF. Plenário. RE 659424/RS, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 457)
(Info 994).

É constitucional lei estadual que permite o sacrifício de animais em cultos de religiões de matriz africana
É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício
ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana.
STF. Plenário. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
28/3/2019 (Info 935).

Não se pode impor, como condição para que a pessoa se desfilie, que ela previamente quite todos os débitos
ou, então, pague uma multa
“É inconstitucional o condicionamento da desfiliação de associado à quitação de débito referente a benefício
obtido por intermédio da associação ou ao pagamento de multa.”.
STF. Plenário. RE 820823/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/9/2022 (Repercussão Geral – Tema 922)
(Info 1070).

Impossibilidade de aplicação de multa administrativa vinculada ao salário-mínimo


Tal entendimento é baseado na cláusula final do inciso IV do artigo 7º da Constituição Federal em que a
tomada do salário-mínimo como parâmetro de cálculo de multa ofende a CF.
STF. 1ª Turma. Ag-RE-AgR 1.377.546; SP; Rel. Min. Dias Toffoli, DJE 19/09/2022.
STF. 2ª Turma. ARE 1361517 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/08/2022, DJE 29-08-2022.

Não confunda:
Multa administrativa vinculada ao salário-mínimo = INCONSTITUCIONAL
Multa processual vinculada ao salário-mínimo = CONSTITUCIONAL (ADI 4398)

Universidades públicas podem cobrar mensalidade em cursos de especialização


A garantia constitucional da gratuidade de ensino não obsta a cobrança por universidades públicas de
mensalidade em cursos de especialização.
STF. Plenário. RE 597854/GO, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 26/4/2017 (repercussão geral) (Info 862).

Não é possível a cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas


Súmula vinculante 12: A cobrança de taxa de matrícula nas universidades públicas viola o disposto no art. 206,
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inciso IV, da Constituição Federal.


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Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade dos seus alunos

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Não viola a Constituição Federal a cobrança de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios
Militares do Exército Brasileiro.
Os Colégios Militares apresentam peculiaridades que fazem com que eles sejam instituições diferentes dos
estabelecimentos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.
Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.
A quota mensal escolar exigida nos Colégios Militares não representa ofensa à regra constitucional de
gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito
fundamental à educação.
Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio
Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos
infralegais.
Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa
cobrança.
STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

Constituição Federal
Art. 21. Compete à União:
I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais;
II - declarar a guerra e celebrar a paz;
III - assegurar a defesa nacional;
IV - permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território
nacional ou nele permaneçam temporariamente;
V - decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal;
VI - autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico;
VII - emitir moeda;
VIII - administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente
as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada;
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento
econômico e social;
X - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional;
XI - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de
telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão
regulador e outros aspectos institucionais;
XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
a) os serviços de radiodifusão sonora, e de sons e imagens;
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em
articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos;
c) a navegação aérea, aeroespacial e a infra-estrutura aeroportuária;
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que
transponham os limites de Estado ou Território;
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
XIII - organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a
Defensoria Pública dos Territórios;
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia penal, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do
Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços
públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
XV - organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
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XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão;
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XVII - conceder anistia;

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XVIII - planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as
inundações;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos
de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos;
XXI - estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação;
XXII - executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a
pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares
e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante
aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para pesquisa
e uso agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de 2022)
c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, a comercialização e a utilização de radioisótopos
para pesquisa e uso médicos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 118, de 2022)
d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa;
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.
XXVI - organizar e fiscalizar a proteção e o tratamento de dados pessoais, nos termos da lei. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 115, de 2022)

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
II - desapropriação;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
V - serviço postal;
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores;
VIII - comércio exterior e interestadual;
IX - diretrizes da política nacional de transportes;
X - regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial;
XI - trânsito e transporte;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XIII - nacionalidade, cidadania e naturalização;
XIV - populações indígenas;
XV - emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros;
XVI - organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões;
XVII - organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública
dos Territórios, bem como organização administrativa destes;
XVIII - sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais;
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
XXI - normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação, mobilização, inatividades
e pensões das polícias militares e dos corpos de bombeiros militares; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)
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XXII - competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais;


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XXIII - seguridade social;


XXIV - diretrizes e bases da educação nacional;

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XXV - registros públicos;
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas
diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no
art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art. 173, § 1°, III;
XXVIII - defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional;
XXIX - propaganda comercial.
XXX - proteção e tratamento de dados pessoais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 115, de 2022)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das
matérias relacionadas neste artigo.

Não se pode utilizar verbas do Fundeb para combater à pandemia da Covid-19


É vedada a utilização, ainda que em caráter excepcional, de recursos vinculados ao Fundeb para ações de
combate à pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Ainda que se reconheça a gravidade da pandemia da Covid-19 e os seus impactos na economia e nas finanças
públicas, nada justifica o emprego de verba constitucionalmente vinculada à manutenção e desenvolvimento
do ensino básico para fins diversos da que ela se destina.
STF. Plenário. ADI 6490/PI, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 18/2/2022 (Info 1044).

Não cabe ADI contra decreto regulamentar de lei


A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) é meio processual inadequado para o controle de decreto
regulamentar de lei estadual.
Seria possível a propositura de ADI se fosse um decreto autônomo. Mas sendo um decreto que apenas
regulamenta a lei, não é hipótese de cabimento de ADI.
STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info 905).

Revogação do ato normativo que estava sendo impugnado e repetição de seu conteúdo
O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado antes do julgamento
da ação? Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI 1203).
Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique demonstrado que
houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma proposital a fim de evitar que o STF a
declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos (STF ADI 3306). Exceção 2: não haverá
perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido, em sua essência, em
outro diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto,
não há obstáculo para o conhecimento da ação (ADI 2418/DF). Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito
da ação sem ter sido comunicado previamente que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não
será possível reconhecer, após o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada.
STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 4/5/2016 (Info 824).
STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/10/2016 (Info 845).

Alteração do parâmetro constitucional não prejudica o conhecimento da ADI


A alteração do parâmetro constitucional, quando o processo ainda está em curso, não prejudica o
conhecimento da ADI. Isso para evitar situações em que uma lei que nasceu claramente inconstitucional volte
a produzir, em tese, seus efeitos.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).

Petição inicial da ADI/ADC


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Se a petição inicial da ADI ou da ADC for assinada por advogado, deverá ser acompanhada de procuração.
Exige-se que essa procuração tenha poderes especiais e indique, de forma específica, os atos normativos que
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serão objeto da ação.

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STF. Plenário. ADI 4430/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 27, 28 e 29/6/2012; ADI 4795 MC/DF, rel. Min. Dias Toffoli,
27, 28 e 29/6/2012 (Info 672).

Cumulação de ADI com ADC


O legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a
inconstitucionalidade do art. XX da Lei ZZZ e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja declarado constitucional?
É possível, em uma mesma ação, cumular pedido típico de ADI com pedido típico de ADC?
SIM. O STF entendeu que é possível a cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC em uma única demanda de
controle concentrado.
A cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção dos fins a que
destinado o processo objetivo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, destinado à defesa, em tese, da
harmonia do sistema constitucional.
A cumulação objetiva permite o enfrentamento judicial coerente, célere e eficiente de questões minimamente
relacionadas entre si.
Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer de fundamento expresso na Lei 9.868/1999,
traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor novamente a demanda, com pedido e
fundamentação idênticos, ação que seria distribuída por prevenção.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

Na ADI a causa de pedir é aberta


O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, não está vinculado aos fundamentos
jurídicos invocados pelo autor.
Assim, pode-se dizer que na ADI, ADC e ADPF, a causa de pedir (causa petendi) é aberta.
Isso significa que todo e qualquer dispositivo da Constituição Federal ou do restante do bloco de
constitucionalidade poderá ser utilizado pelo STF como fundamento jurídico para declarar uma lei ou ato
normativo inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3796/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 8/3/2017 (Info 856).

Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que concede prazo
em dobro à Fazenda Pública
Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo, mesmo que seja para
interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização normativa abstrata.
Não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos prazos em dobro.
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma que concede prazo
em dobro à Fazenda Pública.
Assim, por exemplo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em dobro no processo de controle
concentrado de constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de recurso extraordinário.
STF. Plenário. ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727 AgR/SC, Rel. para acórdão
Min. Cármen Lúcia, julgados em 06/02/2019 (Info 929).

Possibilidade de o STF modificar entendimento firmado em controle concentrado


As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF em ADI e ADC produzem eficácia contra todos e efeito
vinculante.
Tais efeitos não vinculam, contudo, o próprio STF. Assim, se o STF decidiu, em uma ADI ou ADC, que
determinada lei é CONSTITUCIONAL, a Corte poderá, mais tarde, mudar seu entendimento e decidir que esta
mesma lei é INCONSTITUCIONAL por conta de mudanças no cenário jurídico, político, econômico ou social do
país.
18

Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma norma pode ser decidida durante
o julgamento de uma reclamação constitucional. Segundo o Min. Gilmar Mendes, é no juízo hermenêutico
Página

típico da reclamação (no “balançar de olhos” entre objeto e parâmetro da reclamação) que surgirá com maior
nitidez a oportunidade para evolução interpretativa no controle de constitucionalidade.

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STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013 (Info 702).

Modulação de efeitos em recurso extraordinário


É possível a modulação dos efeitos da decisão proferida em sede de controle incidental de constitucionalidade.
STF. Plenário. RE 522897/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/3/2017 (Info 857).

É possível que uma emenda constitucional seja julgada formalmente inconstitucional se ficar demonstrado
que ela foi aprovada com votos “comprados” dos parlamentares e que esse número foi suficiente para
comprometer o resultado da votação
Em tese, é possível o reconhecimento de inconstitucionalidade formal no processo constituinte reformador
quando eivada de vício a manifestação de vontade do parlamentar no curso do devido processo constituinte
derivado, pela prática de ilícitos que infirmam a moralidade, a probidade administrativa e fragilizam a
democracia representativa.
STF. Plenário. ADI 4887/DF, ADI 4888/DF e ADI 4889/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/11/2020 (Info
998).

Possibilidade de decretação, de ofício, da modulação dos efeitos da decisão proferida em ADI


Caso o STF, ao julgar uma ADI, ADC ou ADPF, declare a lei ou ato normativo inconstitucional, ele poderá, de
ofício, fazer a modulação dos efeitos dessa decisão.
Ex: no julgamento de uma ADI, o STF decidiu que determinado artigo de lei é inconstitucional. Um dos
legitimados do art. 103 da CF/88 opôs embargos de declaração pedindo a modulação dos efeitos. Ocorre que
o STF considerou que esses embargos eram intempestivos. O STF, mesmo não conhecendo dos embargos,
poderá decretar a modulação dos efeitos da decisão.
STF. Plenário. ADI 5617 ED/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 2/10/2018 (Info 918).

Efeito vinculante de declaração incidental de inconstitucionalidade


Se uma lei ou ato normativo é declarado inconstitucional pelo STF, incidentalmente, essa decisão, assim como
acontece no controle abstrato, também produz eficácia erga omnes e efeitos vinculantes.
Houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88. A nova interpretação deve ser a seguinte: quando o STF
declara uma lei inconstitucional, a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF apenas comunica ao
Senado com o objetivo de que a referida Casa Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido.
STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 29/11/2017 (Info 886).

A decisão do Relator que admite ou inadmite o ingresso do amicus curiae é irrecorrível


É irrecorrível a decisão que defere ou indefere o pedido de ingresso na condição de amicus curiae. A diretriz
vigora também relativamente a processos de índole subjetiva.
STF. Plenário. Inq 4888 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 22/08/2022.

Os efeitos temporais da coisa julgada nas relações jurídicas tributárias de trato sucessivo são
imediatamente cessados quando o STF decidir em sentido oposto em controle concentrado de
constitucionalidade ou recurso extraordinário com repercussão geral
Tese fixada:
1. As decisões do STF em controle incidental de constitucionalidade, anteriores à instituição do regime de
repercussão geral, não impactam automaticamente a coisa julgada que se tenha formado, mesmo nas
relações jurídicas tributárias de trato sucessivo.
2. Já as decisões proferidas em ação direta ou em sede de repercussão geral interrompem automaticamente
os efeitos temporais das decisões transitadas em julgado nas referidas relações, respeitadas a irretroatividade,
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a anterioridade anual e a noventena ou a anterioridade nonagesimal, conforme a natureza do tributo.


Página

STF. Plenário. RE 955227/BA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/02/2023(Repercussão Geral – Tema
885) (Info 1082).

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STF. Plenário. RE 949297/CE, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
8/02/2023(Repercussão Geral – Tema 881) (Info 1082).

A declaração de inconstitucionalidade em recurso extraordinário com repercussão geralpossui efeitos


vinculantes e eficácia erga omnes
A declaração de inconstitucionalidade, em sede de recurso extraordinário com repercussão geral, também
possui efeitos vinculantes e eficácia erga omnes, da mesma forma que o julgamento de uma ação de controle
abstrato de constitucionalidade.
Se o STF, em recurso extraordinário sob a sistemática da repercussão geral, decidir que determinada lei é
inconstitucional, a resolução do Senado prevista no art. 52, X, da CF/88 possuirá a finalidade apenas de dar
publicidade para a decisão. Isso significa que, mesmo antes dessa resolução ser eventualmente editada, a
decisão do STF já possui efeitos vinculantes erga omnes.
Houve uma mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88, para as decisões proferidas em recurso
extraordinário com repercussão geral.
STF. Plenário. RE 955227/BA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/02/2023 (Repercussão Geral – Tema
885) (Info 1082).
STF. Plenário. RE 949297/CE, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
8/02/2023(Repercussão Geral – Tema 881) (Info 1082).

É possível celebrar acordo em ADPF


É possível que seja celebrado um acordo no bojo de uma arguição de descumprimento de preceito
fundamental (ADPF)?
SIM. É possível a celebração de acordo num processo de índole objetiva, como a ADPF, desde que fique
demonstrado que há no feito um conflito intersubjetivo subjacente (implícito), que comporta solução por
meio de autocomposição.
Vale ressaltar que, na homologação deste acordo, o STF não irá chancelar ou legitimar nenhuma das teses
jurídicas defendidas pelas partes no processo.
O STF irá apenas homologar as disposições patrimoniais que forem combinadas e que estiverem dentro do
âmbito da disponibilidade das partes.
A homologação estará apenas resolvendo um incidente processual, com vistas a conferir maior efetividade à
prestação jurisdicional.
STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/3/2018 (Info 892).

Crimes de responsabilidade
Súmula vinculante 46-STF: A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas
normas de processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União.

Punições para quem exige teste de gravidez nas contratações


É inconstitucional lei estadual que preveja punições a empresas privadas e a agentes públicos que exijam a
realização de teste de gravidez e a apresentação de atestado de laqueadura para admissão de mulheres ao
trabalho.
STF. Plenário. ADI 3165/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/11/2015 (Info 807).

Lei estadual que obriga concessionárias a instalarem bloqueadores de celular é inconstitucional


Lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de celular em presídio invade a competência da União
para legislar sobre telecomunicações.
STF. Plenário. ADI 3835/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, ADI 5356/MS, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, ADI
20

5253/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, ADI 5327/PR, Rel. Min Dias Toffoli, ADI 4861/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes,
julgados em 3/8/2016 (Info 833).
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COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
É inconstitucional lei estadual que dispõe sobre formação específica exigida para a docência de disciplina
na educação básica
O magistério na educação básica, que compreende a educação infantil e o ensino fundamental e médio,
submete-se à competência legislativa privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação
nacional.
É inconstitucional lei estadual que dispõe sobre formação específica exigida para a docência de disciplina na
educação básica, pois exorbita o âmbito normativo da Lei nº 9.394/1996, que dispõe sobre diretrizes e bases
da educação nacional, usurpando competência privativa da União.
STF. Plenário. ADI 5484/AL, Rel. Min Luiz Fux, julgado em 15/04/2020.

No exercício de sua competência constitucional para suplementar as normas gerais fixadas pela União sobre
matéria atinente à segurança pública, os estados podem editar normas específicas quanto ao porte de arma
de fogo, desde que mais restritivas
É constitucional ato normativo estadual que, respeitando as condições mínimas definidas em diploma federal
de normas gerais, estabelece exigência adicional para a manutenção do porte de arma de fogo por servidores
estaduais aposentados das forças de segurança pública.
STF. Plenário. ADI 7024/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 16/12/2022 (Info 1081).

Lei municipal pode obrigar a substituição das sacolas plásticas comuns por sacolas biodegradáveis
É constitucional – formal e materialmente – lei municipal que obriga à substituição de sacos e sacolas plásticos
por sacos e sacolas biodegradáveis.
Os municípios — no limite de seu interesse local e desde que em harmonia com a disciplina estabelecida pelos
demais entes federados — possuem competência para legislar sobre meio ambiente, e, caso sua
regulamentação seja mais protetiva, pode ter prevalência sobre a legislação federal ou estadual.
STF. Plenário. RE 732686/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/10/2022 (Repercussão Geral – Tema 970) (Info
1073).

É inconstitucional lei estadual que concede isenção das tarifas de água, esgoto e energia elétrica para os
consumidores atingidos por enchentes
É inconstitucional, por invadir a competência municipal para legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30,
I e V, da CF/88), lei estadual que concede, por período determinado, isenção das tarifas de água e esgoto e de
energia elétrica aos consumidores residenciais, industriais e comerciais.
Não cabe às leis estaduais a interferência em contratos de concessão de serviços federal e municipal,
alterando condições que impactam na equação econômico-financeira.
STF. Plenário. ADI 6912/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 15/8/2022 (Info 1063).

É inconstitucional norma de Constituição estadual que dispõe sobre serviços de atividades nucleares de
qualquer natureza
São formalmente inconstitucionais os atos normativos editados pelos Estados-membros que disponham sobre
atividades que se relacionem de alguma forma com o setor nuclear em seus respectivos territórios. Isso
porque, ao tratarem do assunto, incorrem em indevida invasão da competência privativa da União para
explorar tais serviços e legislar a seu respeito (art. 22, XXVI; art. 177, § 3º; art. 225, § 6º, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 6858/AM, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 1º/7/2022 (Info 1061).

É inconstitucional lei estadual que dispõe sobre a aceitação de diplomas expedidos por universidades
estrangeiras
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Invade a competência privativa da União para legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional lei
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estadual que dispõe sobre reconhecimento de diploma obtido por instituições de ensino superior de países
estrangeiros.

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STF. Plenário. ADI 6592/AM, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2021 (Info 1028).

É inconstitucional lei estadual que estabelece critério diferente das regras federais para o ingresso de
crianças no primeiro ano do ensino fundamental
É inconstitucional lei estadual que fixa critério etário para o ingresso no Ensino Fundamental diferente do
estabelecido pelo legislador federal e regulamentado pelo Ministério da Educação.
STF. Plenário. ADI 6312, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/12/2020 (Info 1003).

Estados e DF podem legislar sobre postagem de boletos de empresas públicas e privadas


Os Estados-membros e o Distrito Federal têm competência legislativa para estabelecer regras de postagem de
boletos referentes a pagamento de serviços prestados por empresas públicas e privadas.
STF. Plenário. ARE 649379/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
13/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 491) (Info 999).

Lei estadual pode exigir que, no rótulo dos produtos alimentícios, seja mencionada a presença de organismo
geneticamente modificado quando o percentual existente no produto seja igual ou superior a 1%
É constitucional norma estadual que dispõe sobre a obrigatoriedade de rotulagem em produtos de gêneros
alimentícios destinados ao consumo humano e animal, que sejam constituídos ou produzidos a partir de
organismos geneticamente modificados, no percentual igual ou superior a 1%, no âmbito do Estado federado.
É o caso, por exemplo, da Lei nº 14.274/2010, do Estado de São Paulo.
STF. Plenário. ADI 4619/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 9/10/2020 (Info 994).

Lei estadual pode obrigar a exibição, antes das sessões do cinema, de filme publicitário esclarecendo as
consequências do uso de drogas
É constitucional lei estadual estabelece a obrigatoriedade da exibição, antes das sessões, em todos os cinemas
do Estado, de filme publicitário esclarecendo as consequências do uso de drogas.
É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que atribui ao Poder Executivo a supervisão de filmes
publicitários, a fiscalização de salas de cinema e a lavratura de multas pelo descumprimento da obrigação de
exibição dos filmes especificados.
STF. Plenário. ADI 5140/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 11/10/2018.

PODER LEGISLATIVO
Com o término dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito, restam prejudicadas as ações de
mandado de segurança impetradas contra atos da CP
Com o término dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito, restam prejudicadas as ações de
mandado de segurança impetradas contra atos da CPI.
STF. 1ª Turma. MS-AgR 38.130, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/08/2022.

Parlamentar, mesmo sem a aprovação da Mesa Diretora, pode, na condição de cidadão, ter acesso a
informações de interesse pessoal ou coletivo dos órgãos públicos
O parlamentar, na condição de cidadão, pode exercer plenamente seu direito fundamental de acesso a
informações de interesse pessoal ou coletivo, nos termos do art. 5º, inciso XXXIII, da Constituição Federal e
das normas de regência desse direito.
STF. Plenário. RE 865401/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/4/2018 (repercussão geral) (Info 899).

Parlamentares não têm imunidade formal quanto à prisão em caso de condenação definitiva
22

O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe
a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como no caso de Deputado Federal condenado
Página

definitivamente pelo STF.


STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/6/2013 (Info 712).

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Imunidade material dos Vereadores
Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o Prefeito, um
Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O Vereador ofendido ajuizou ação de
indenização por danos morais contra o ofensor. A questão chegou até o STF que, julgando o tema sob a
sistemática da repercussão geral, declarou que o Vereador não deveria ser condenado porque agiu sob o
manto da imunidade material. Na oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser aplicada aos
casos semelhantes:
Nos limites da circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do mandato, garante-se a
imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores.
STF. Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 25/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).

A instalação de uma CPI não se submete a um juízo discricionário seja do Presidente da casa legislativa, seja
do plenário da própria casa legislativa
A instauração de Comissão Parlamentar de Inquérito depende unicamente do preenchimento dos requisitos
previstos no art. 58, § 3º, da Constituição Federal, ou seja:
a) o requerimento de um terço dos membros das casas legislativas;
b) a indicação de fato determinado a ser apurado; e
c) a definição de prazo certo para sua duração.
STF. Plenário. MS 37760 MC-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/4/2021 (Info 1013).

Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades formais previstas para os parlamentares federais no
art. 53 da CF/88
Por força do § 1º do art. 27 da Constituição Federal, as imunidades materiais e formais conferidas aos
membros do Congresso Nacional (deputados federais e senadores) estendem-se aos deputados estaduais.
Assim, são constitucionais dispositivos da Constituição do Estado que estendem aos Deputados Estaduais as
imunidades formais previstas no art. 53 da Constituição Federal para Deputados Federais e Senadores.
STF. Plenário. ADI 5824/RJ e ADI 5.825/MT, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 16/12/2022 (Info 1081).

Constituições estaduais podem prever a reeleição de membros das mesas diretoras das assembleias
legislativas para mandatos consecutivos, mas essa recondução é limitada a uma única vez
1. O art. 57, § 4º, da CF, não é norma de reprodução obrigatória por parte dos Estados-membros.
2. É inconstitucional a reeleição em número ilimitado, para mandatos consecutivos, dos membros das Mesas
Diretoras das Assembleias Legislativas Estaduais para os mesmos cargos que ocupam, sendo-lhes permitida
uma única recondução.
STF. Plenário. ADI 6720/AL, ADI 6721/RJ e ADI 6722/RO, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 24/9/2021
(Info 1031).

É possível a prorrogação da competência criminal originária do Supremo Tribunal Federal, quando o


parlamentar federal, sem solução de continuidade, encontrar-se investido, em novo mandato federal, mas
em casa legislativa federal diversa
É dizer, admite-se a excepcional e exclusiva prorrogação da competência criminal originária do Supremo
Tribunal Federal, quando o parlamentar, sem solução de continuidade, encontrar-se investido, em novo
mandato federal, mas em casa legislativa diversa daquela que originalmente deu causa à fixação da
competência originária, nos termos do art. 102, I, “b”, da Constituição Federal.
STF. Plenário. Pet 9189, Rel. Min. Rosa Weber, Relator(a) p/ Acórdão: Edson Fachin, julgado em 12/05/2021.
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PROCESSO LEGISLATIVO
Lei de iniciativa parlamentar não pode criar Conselho de Fiscalização Profissional porque se trata de uma
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autarquia federal, que precisa de lei de iniciativa do Presidente da República

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É formalmente inconstitucional — por vício resultante da usurpação do poder de iniciativa (art. 61, § 1º, II,
“a”, CF/88) — lei federal de origem parlamentar que cria conselhos de fiscalização profissional e dispõe sobre
a eleição dos respectivos membros efetivos e suplentes.
STF. Plenário. ADI 3428/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 01/03/2023 (Info 1084).

O trancamento da pauta por conta de MPs não votadas no prazo de 45 dias só alcança projetos de lei que
versem sobre temas passíveis de serem tratados por MP
O art. 62, § 6º da CF/88 afirma que “se a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias
contados de sua publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do
Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais deliberações
legislativas da Casa em que estiver tramitando”. Apesar de o dispositivo falar em “todas as demais
deliberações”, o STF, ao interpretar esse § 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão
sobrestadas (paralisadas) apenas as votações de projetos de leis ordinárias que versem sobre temas que
possam ser tratados por medida provisória. Assim, por exemplo, mesmo havendo medida provisória
trancando a pauta pelo fato de não ter sido apreciada no prazo de 45 dias (art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara
ou o Senado poderão votar normalmente propostas de emenda constitucional, projetos de lei complementar,
projetos de resolução, projetos de decreto legislativo e até mesmo projetos de lei ordinária que tratem sobre
um dos assuntos do art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a MP somente pode tratar sobre assuntos próprios de
lei ordinária e desde que não incida em nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.
STF. Plenário. MS 27931/DF, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 29/6/2017 (Info 870).

Análise dos requisitos constitucionais de relevância e urgência


O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas provisórias em caso
de relevância e urgência.
A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias consiste, em regra, em
um juízo político (escolha política/discricionária) de competência do Presidente da República, controlado pelo
Congresso Nacional.
Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na análise dos requisitos
da MP.

Proibição de reedição de medidas provisórias na mesma sessão legislativa


É inconstitucional medida provisória ou lei decorrente de conversão de medida provisória cujo conteúdo
normativo caracterize a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória anterior rejeitada, de
eficácia exaurida por decurso do prazo ou que ainda não tenha sido apreciada pelo Congresso Nacional dentro
do prazo estabelecido pela Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em
27/3/2019 (Info 935).

Emenda parlamentar em medida provisória e contrabando legislativo


Durante a tramitação de uma medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares poderão apresentar
emendas?
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida provisória que está
sendo apreciada. Assim, a emenda apresentada deverá ter relação com o assunto tratado na medida
provisória.
Desse modo, é incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de pertinência
temática com medida provisória submetida à sua apreciação.
STF. Plenário. ADI 5127/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
24

15/10/2015 (Info 803).


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É constitucional a previsão regimental de rito de urgência para proposições que tramitam na Câmara dos
Deputados e no Senado Federal, descabendo ao Poder Judiciário examinar concretamente as razões que
justificam sua adoção
A previsão regimental de um regime de urgência que reduza as formalidades processuais em casos específicos,
reconhecidos pela maioria legislativa, não ofende o devido processo legislativo.
A adoção do rito de urgência em proposições legislativas é matéria genuinamente interna corporis, não
cabendo ao STF adentrar tal seara. Precedente.
Quando não caracterizado o desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo legislativo, é
defeso ao Poder Judiciário exercer o controle jurisdicional em relação à interpretação do sentido e do alcance
de normas meramente regimentais das Casas Legislativas.
STF. Plenário. ADI 6968/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).

É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente?


É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre veiculando normas
favoráveis ao meio ambiente.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida provisória, ainda que não
conste expressamente do elenco das limitações previstas no art. 62, § 1º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/4/2018 (Info 896).

Proibição de reedição de medidas provisórias na mesma sessão legislativa


É inconstitucional medida provisória ou lei decorrente de conversão de medida provisória cujo conteúdo
normativo caracterize a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória anterior rejeitada, de
eficácia exaurida por decurso do prazo ou que ainda não tenha sido apreciada pelo Congresso Nacional dentro
do prazo estabelecido pela Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em
27/3/2019 (Info 935).

Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos
São inconstitucionais leis estaduais, de iniciativa parlamentar, que disponham sobre o regime jurídico dos
servidores públicos (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a iniciativa de lei que trate
sobre os direitos e deveres dos servidores públicos. Essa regra também é aplicada no âmbito estadual por
força do princípio da simetria.
O fato de o Governador do Estado sancionar esse projeto de lei não faz com que o vício de iniciativa seja
sanado (corrigido). A Súmula 5 do STF há muitos anos foi cancelada.
STF. Plenário. ADI 3627/AP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 6/11/2014. (Info 766).

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com
força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais e suplementares, ressalvado
o previsto no art. 167, § 3º;
II – que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer outro ativo financeiro;
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III – reservada a lei complementar;


IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e pendente de sanção ou veto do
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Presidente da República.

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Não se pode declarar a inconstitucionalidade formal da lei sob o argumento de que houve mero
descumprimento das regras do regimento interno, sendo indispensável o desrespeito às normas
constitucionais que tratam sobre o processo legislativo
O controle judicial de atos “interna corporis” das Casas Legislativas só é cabível nos casos em que haja
desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo legislativo (arts. 59 a 69 da CF/88).
Tese fixada pelo STF: “Em respeito ao princípio da separação dos poderes, previsto no art. 2º da Constituição
Federal, quando não caracterizado o desrespeito às normas constitucionais pertinentes ao processo
legislativo, é defeso ao Poder Judiciário exercer o controle jurisdicional em relação à interpretação do sentido
e do alcance de normas meramente regimentais das Casas Legislativas, por se tratar de matéria ‘interna
corporis’.”
STF. Plenário. RE 1297884/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1120)
(Info 1021).

O Tribunal de Contas tem o prazo de 5 anos para julgar a legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, prazo esse contado da chegada do processo à Corte de Contas
Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos
ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma
ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas.
STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445)
(Info 967).

Não é possível republicar uma lei já sancionada, promulgada e publicada para incluir novos vetos, ainda
que sob o argumento de que se trata de mera retificação da versão original
Não se admite “novo veto” em lei já promulgada e publicada.
Manifestada a aquiescência do Poder Executivo com projeto de lei, pela aposição de sanção, evidencia-se a
ocorrência de preclusão entre as etapas do processo legislativo, sendo incabível eventual retratação.
STF. Plenário. ADPF 714/DF, ADPF 715/DF e ADPF 718/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/2/2021
(Info 1005).

MPF não tem acesso irrestrito a todos os relatórios de inteligência produzidos pela Diretoria de Inteligência
da Polícia Federal
O controle externo da atividade policial exercido pelo Ministério Público Federal não lhe garante o acesso
irrestrito a todos os relatórios de inteligência produzidos pela Diretoria de Inteligência do Departamento de
Polícia Federal, mas somente aos de natureza persecutório-penal.
O controle externo da atividade policial exercido pelo Parquet deve circunscrever-se à atividade de polícia
judiciária, conforme a dicção do art. 9º da LC n. 75/93, cabendo-lhe, por essa razão, o acesso aos relatórios de
inteligência policial de natureza persecutório-penal, ou seja, relacionados com a atividade de investigação
criminal.
O poder fiscalizador atribuído ao Ministério Público não lhe confere o acesso irrestrito a "todos os relatórios
de inteligência" produzidos pelo Departamento de Polícia Federal, incluindo aqueles não destinados a
aparelhar procedimentos investigatórios criminais formalizados.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.439.193-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/6/2016 (Info 587).

Inconstitucionalidade de cargo em comissão de assessor jurídico no Poder Executivo


É inconstitucional lei estadual que crie cargos em comissão de “consultor jurídico”, “coordenador jurídico”,
“assistente jurídico” etc. e que tenham por função prestar assessoria jurídica para os órgãos da Administração
Pública.
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Essa norma viola o art. 132 da CF/88, que confere aos Procuradores de Estado a representação exclusiva do
Estado-membro em matéria de atuação judicial e de assessoramento jurídico, sempre mediante investidura
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fundada em prévia aprovação em concurso público.

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STF. Plenário. ADI 4843 MC-Referendo/PB, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 11/12/2014 (Info 771).

É constitucional lei que preveja o pagamento de honorários de sucumbência aos advogados públicos; no
entanto, a somatória do subsídio com os honorários não pode ultrapassar mensalmente o teto
remuneratório, ou seja, o subsídio dos Ministros do STF
É constitucional o pagamento de honorários sucumbenciais aos advogados públicos, observando-se, porém,
o limite remuneratório previsto no art. 37, XI, da Constituição.
STF. Plenário. ADI 6159 e ADI 6162, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 25/08/2020.

É inconstitucional norma estadual que confere à Defensoria Pública o poder de requisição para instaurar
inquérito policial
O STF já decidiu que é constitucional lei complementar estadual que confere à Defensoria Pública a
prerrogativa de requisitar, de quaisquer autoridades públicas e de seus agentes, certidões, exames, perícias,
vistorias, diligências, processos, documentos, informações, esclarecimentos e demais providências
necessárias ao exercício de suas atribuições.
Esse mesmo raciocínio, contudo, não vale para a requisição de inquérito policial.
É inconstitucional norma estadual que confere à Defensoria Pública o poder de requisição para instaurar
inquérito policial. Isso porque o poder de requisitar a instauração de inquérito policial está intrinsecamente
ligado à persecução penal, o que exige uma disciplina uniforme em todo o território nacional. Nesse contexto,
o art. 5º do CPP — norma editada no exercício da competência privativa da União para legislar sobre direito
processual (art. 22, I, CF/88) — já delimitou essa atribuição, conferindo-a somente à autoridade judiciária ou
ao Ministério Público.
Logo, viola o art. 22, I, da CF/88, a norma estadual que, indo de encontro à disciplina processual editada pela
União, amplia o poder de requisição para instauração de inquérito policial para conferir tal atribuição à
Defensoria Pública.
STF. Plenário. ADI 4346/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 13/03/2023 (Info 1086).

Poder Judiciário não pode determinar a lotação de Defensor Público em desacordo com os critérios
previamente definidos pela própria instituição, desde que cumpridos os parâmetros do art. 98, caput e § 2º,
do ADCT
É inconstitucional — por violar a autonomia administrativa da Defensoria Pública — a imposição, por via
judicial, de lotação de defensor público em divergência com os critérios prefixados pela própria instituição,
quando estes já considerem a proporcionalidade da efetiva demanda de seus serviços e a respectiva
população na unidade jurisdicional, com prioridade de atendimento às regiões com maiores índices de
exclusão social e adensamento populacional.
Tese fixada pelo STF:
Ofende a autonomia administrativa das Defensorias Públicas decisão judicial que determine a lotação de
defensor público em localidade desamparada, em desacordo com os critérios previamente definidos pela
própria instituição, desde que observados os critérios do art. 98, caput e § 2º, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias – ADCT.
STF. Plenário. RE 887671/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 08/03/2023 (Repercussão Geral – Tema 847) (Info 1086).

TEMAS DIVERSOS
Populações indígenas
É INCONSTITUCIONAL norma da Constituição Estadual que disponha as atribuições para a defesa dos direitos
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e interesses das populações indígenas. Isso porque somente a União pode legislar sobre a matéria, conforme
determina o art. 22, XIV, da CF/88.
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STF. 1ª Turma. ADI 1499/PA, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/9/2014 (Info 759).

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O Poder Judiciário pode determinar, ante injustificável inércia estatal, que o Poder Executivo adote medidas
necessárias à concretização de direitos constitucionais dos indígenas
Caso concreto: MPF ajuizou ACP contra a União e a FUNAI para que concluíssem o Processo Administrativo
instaurado pelo Grupo Indígena Fulkaxó, no prazo de 4 meses, a contar da intimação da sentença, bem como
para destinar área à posse e ocupação dessa tribo, no prazo de 1 ano, ante a impossibilidade de convivência
pacífica com os índios da etnia Kariri-Xocó (de quem os primeiros se originam), nas terras originariamente
demarcadas pela administração pública.
STJ. 1ª Turma. REsp 1623873-SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

É necessário que a União e a FUNAI executem e implementem atividade de proteção territorial nas terras
indígenas, independentemente de sua homologação
Nos termos do art. 231 da Constituição Federal, a União tem o dever (e não a escolha) de demarcar as terras
indígenas. Tais demarcações deveriam estar concluídas no prazo de 5 anos, contados da promulgação da
Constituição, conforme art. 67 do ADCT.
A não homologação das demarcações dessas terras deriva de inércia deliberada do Poder Público, em afronta
ao direito originário dos índios.
Ao afastar a proteção territorial em terras não homologadas, a FUNAI sinaliza a invasores que a União se
absterá de combater atuações irregulares em tais áreas, o que pode constituir um convite à invasão de terras
que são sabidamente cobiçadas por grileiros e madeireiros, bem como à prática de ilícitos de toda ordem.
Além disso, a suspensão da proteção territorial abre caminho para que terceiros passem a ali transitar, o que
põe em risco a saúde dessas comunidades, expondo-as a eventual contágio por COVID-19 e outras
enfermidades.
STF. Plenário. ADPF 709-MC-segunda-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/2/2022 (Info 1045).

A comunidade indígena cuja posse é questionada em ação de nulidade de demarcação deve ser
considerada como litisconsorte passiva necessária
A comunidade indígena cuja posse fundiária é questionada em ação de nulidade de demarcação tem o direito
subjetivo de ser ouvida no processo, na qualidade de litisconsorte passivo necessário.
STJ. 2ª Turma. AgInt na Pet no REsp 1.586.943-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17.05.2022 (Info
737).

Judiciário pode impor aos parlamentares as medidas cautelares do art. 319 do CPP, no entanto, a respectiva
Casa legislativa pode rejeitá-las (caso Aécio Neves)
O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade própria, as medidas
cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão em flagrante delito por crime
inafiançável, por constituírem medidas individuais e específicas menos gravosas; seja autonomamente, em
circunstâncias de excepcional gravidade.
Obs: no caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas cautelares é do STF
(art. 102, I, “b”, da CF/88).
Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF impossibilitar, direta ou
indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu mandato, então, neste caso, o Supremo
deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24 horas, à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal para
que a respectiva Casa delibere se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida.
Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas cautelares previstas no art.
319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta ou indiretamente, que esse Deputado ou
Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a Câmara ou o Senado poderá rejeitar (“derrubar”) a medida
cautelar que havia sido determinada pelo Judiciário.
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Aplica-se, por analogia, a regra do §2º do art. 53 da CF/88 também para as medidas cautelares diversas da
prisão.
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STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
11/10/2017 (Info 881).

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A revogação ou modificação do ato normativo em que se fundou a edição de enunciado de súmula
vinculante acarreta, em regra, a necessidade de sua revisão ou cancelamento pelo STF, conforme o caso
Imaginemos que o STF edite uma súmula vinculante baseado na interpretação do art. XX da Lei. Se o Congresso
Nacional revogar o art. XX ou alterá-lo, diante desse fato, será necessária a revisão ou o mesmo o
cancelamento da súmula vinculante que havia sido editada?
Em regra, sim.
Em regra, deve-se revisar ou cancelar enunciado de súmula vinculante quando ocorrer a revogação ou a
alteração da legislação que lhe serviu de fundamento.
Contudo, o STF pode concluir, com base nas circunstâncias do caso concreto, pela desnecessidade de tais
medidas.
STF. Plenário. RE 1116485/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 01/03/2023 (Repercussão Geral – Tema 477) (Info
1084).

Competência para atuação do CNJ não é subsidiária


A CF conferiu competência originária e concorrente ao CNJ para aplicação de medidas disciplinares.
A competência constitucional do CNJ é autônoma (e não subsidiária).
Assim, o CNJ pode atuar mesmo que não tenha sido dada oportunidade para que a corregedoria local pudesse
investigar o caso.
STF. 1ª Turma. MS 30361 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/8/2017 (Info 875).
STF. 2ª Turma. MS 28513/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

STF não é competente para julgar MS impetrado contra decisões negativas do CNJ
Não cabe mandado de segurança contra ato de deliberação negativa do Conselho Nacional de Justiça, por não
se tratar de ato que importe a substituição ou a revisão do ato praticado por outro órgão do Judiciário.
Assim, o STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões negativas do CNMP
e do CNJ. Como o conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, o Conselho não decidiu nada. Se não
decidiu nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser
atacado no STF. Em razão do exposto, não compete ao STF julgar MS impetrado contra decisão do CNJ que
julgou improcedente pedido de cassação de um ato normativo editado por vara judicial.
STF. 2ª Turma. MS 33085/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/09/2016 (Info 840).

STF não é competente para julgar MS impetrado contra decisões negativas do CNJ/CNMP
A competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP é do STF (art. 102, I,
“r”, da CF/88). Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP, mas tais órgãos recusam-se a tomar alguma
providência no caso concreto porque alegam que não têm competência para aquela situação ou que não é hipótese
de intervenção. Nessas hipóteses, dizemos que a decisão do CNJ ou CNMP foi “NEGATIVA” porque ela nada
determina, nada aplica, nada ordena, nada invalida.
Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar MS contra o CNJ/CNMP no STF? NÃO. O STF não tem
competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e do CNJ. Segundo
entende o STF, como o conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, ele não decidiu nada. Se não decidiu
nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser atacado no
STF.
STF. 2ª Turma. MS 37301 AgR, Rel. Ricardo Lewandowski, julgado em 08/04/2021.

O Tribunal de Justiça não pode ser considerado autoridade coatora quando mero executor de decisão do
Conselho Nacional de Justiça
Caso adaptado: o CNJ emitiu o Provimento nº 77/2018, que dispõe sobre a indicação de um responsável
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interino para cartórios extrajudiciais que se encontrem vagos. Segundo o § 2º do art. 2º, é proibida a
nomeação de substituto que seja cônjuge, companheiro ou parente até o terceiro grau do antigo titular do
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cartório ou de um magistrado do tribunal local.

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Francisco, que era titular do cartório de registro de imóveis, veio a óbito e seu filho João assumiu,
indevidamente, o cargo de interino. A Corregedoria do Tribunal de Justiça, por meio do Aviso nº 4/CGJ/2019,
solicitou a todos os responsáveis interinos, incluindo João, que preenchessem uma declaração informando se
as restrições indicadas no § 2º do art. 2º do Provimento se aplicavam a eles.
Dessa forma, João teria que declarar que era filho de Francisco e, portanto, não poderia manter a interinidade.
Diante dessa situação, João impetrou um mandado de segurança preventivo contra o ato do Corregedor-Geral
do TJ, solicitando a permanência no cargo interino até a realização de um concurso público.
João errou na escolha da autoridade coatora. O Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, ao editar o
Aviso n. 4/CGJ/2019, assim o fez como mero executor da determinação emanada pelo Conselho Nacional de
Justiça.
Logo, eventual questionamento judicial deveria ser proposto contra o CNJ.
STJ. 2ª Turma. AgInt no RMS 64.215-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 17/4/2023 (Info 775).

É inconstitucional lei estadual que cria benefício pecuniário aos magistrados sem que esteja previsto na
LOMAN
É inconstitucional — por violar a competência da União para dispor sobre a magistratura brasileira — norma
estadual que cria nova vantagem remuneratória (benefício de permanência em atividade) para os magistrados
do Poder Judiciário local.
A LOMAN, em seu art. 65, enumera, de forma taxativa, as vantagens que podem ser conferidas aos
magistrados e veda a concessão de outras parcelas. Isso significa que esse art. 65 da LOMAN proíbe o legislador
ordinário (federal ou estadual) e os tribunais de suprimir os existentes ou instituir novos benefícios.
STF. Plenário. ADI 2952/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 03/04/2023 (Info 1089).

Decisões administrativas do CNJ devem ser cumpridas mesmo que exista decisão judicial em sentido
contrário proferida por outro órgão judiciário que não seja o STF
O art. 106 do Regimento Interno do CNJ prevê o seguinte:
Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações do disposto no artigo anterior, o
imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro juízo que não o Supremo
Tribunal Federal.
O STF afirmou que essa previsão é constitucional e decorre do exercício legítimo de poder normativo atribuído
constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política judiciária nacional.
Assim, o CNJ pode determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas decisões, ainda que
impugnadas perante a Justiça Federal de primeira instância, quando se tratar de hipótese de competência
originária do STF.
STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

A sobreposição da propriedade rural com área indígena, ainda que o processo de demarcação não tenha
sido concluído, inviabiliza a certificação de georreferenciamento
Caso hipotético: João, proprietário de uma fazenda, realizou o georreferenciamento de seu imóvel rural e, em
seguida, solicitou ao INCRA a atualização cadastral e a certificação das peças técnicas (planta e memorial
descritivo), decorrentes para atender as exigências da Lei 10.267/2001. O INCRA, contudo, recusou-se a fazer
a certificação sob o argumento de que a fazenda estaria sobreposta a uma reserva indígena.
A recusa do INCRA foi correta mesmo se a área indígena ainda não tiver sido demarcada.
As terras ocupadas pelos indígenas são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis (§
4º do art. 231 da CF/88). Não pode a Administração ser compelida a certificar situação imobiliária em
descumprimento da lei e Constituição, pois são nulos os títulos particulares sobre terras indígenas, a teor do
§ 6º do art. 231 da CF/88.
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STJ. 2ª Turma. AREsp 1640785-MS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 25/10/2022 (Info 755).
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É constitucional lei municipal que instituía feriado local para comemorar o Dia da Consciência Negra

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É constitucional a instituição, por lei municipal, de feriado local para a comemoração do Dia da Consciência
Negra, a ser celebrado em 20 de novembro, em especial porque a data representa um símbolo de resistência
cultural e configura ação afirmativa contra o preconceito racial.
STF. Plenário. ADPF 634/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/11/2022 (Info 1078).

Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a decisão de órgão fracionário
de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.
• Importante.

Súmula vinculante 3-STF: Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório
e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie
o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e
pensão.
• Aprovada em 30/05/2007, DJe 06/06/2007.
• Importante.

DIREITO ADMINISTRATIVO
O valor recebido por Ministros de Estado pela participação em conselhos de empresas públicas e sociedades
de economia mista submete-se ao teto remuneratório constitucional?
Em regra: NÃO.Em regra, o valor recebido por Ministros de Estado pela participação em conselhos de
empresas públicas e sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, não se submete ao teto remuneratório
constitucional.
Exceção: deve ser respeitado o teto se a empresa pública ou sociedade de econômica mista receber recursos
da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de
custeio em geral.
A parcela recebida pela participação nos conselhos não pode ser enquadrada como remuneração ou subsídio
dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos, na dicção do inciso XI do art. 37 da CF/88.
Ministros de Estado recebem, como contraprestação do exercício de seus cargos, subsídio limitado ao teto.
Se, ademais, também estiverem ocupando a função, em sentido amplo (portanto não a função em sentido
estrito constante do inciso IX do art. 37 da CF/88), de Conselheiro, receberão outro valor, que não tem origem
nos cofres públicos, como contrapartida pelas atividades realizadas perante o Conselho.
O valor recebido pela participação nesses Conselhos não se submete ao teto remuneratório constitucional,
salvo no caso de empresas públicas e sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem
recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal
ou de custeio em geral, na dicção do § 9º do art. 37 da CF/88.
STJ. 2ª Turma. AC 46-RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 23/5/2023 (Info 776).

O raciocínio do art. 5º, XL, da CF, que prevê a possibilidade de retroatividade da lei penal benéfica, também
se aplica para o Direito Sancionatório
O art. 5º, XL, da Constituição da República prevê a possibilidade de retroatividade da lei penal, sendo cabível
extrair-se do dispositivo constitucional princípio implícito do Direito Sancionatório, segundo o qual a lei mais
benéfica retroage no caso de sanções menos graves, como a administrativa.
Em 2016, um veículo da transportadora X foi autuado por ter praticado a infração administrativa prevista no
art. 36, I, da Res. 4.799/2015, da ANTT.
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A transportadora ingressou com ação anulatória.


Durante o curso do processo, entrou em vigor nova Resolução que reduziu o valor da multa prevista no art.
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36, I, da Res. 4.799/2015.

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Diante disso, a penalidade imposta deve ser reduzida, aplicando-se, retroativamente, o novo valor fixado pela
nova Resolução.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 2024133-ES, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 13/3/2023 (Info 769).

A OAB não se sujeita à prestação de contas perante o Tribunal de Contas nem a qualquer outra entidade
externa
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não se sujeita à prestação de contas perante o Tribunal de Contas da
União (TCU) e a ausência dessa obrigatoriedade não representa ofensa ao art. 70, parágrafo único, da
Constituição Federal, já que inexiste previsão expressa em sentido diverso.
Tese fixada pelo STF:
O Conselho Federal e os Conselhos Seccionais da Ordem dos Advogados do Brasil não estão obrigados a
prestar contas ao Tribunal de Contas da União nem a qualquer outra entidade externa.
STF. Plenário. RE 1.182.189/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
25/4/2023 (Repercussão Geral – Tema 1054) (Info 1091).

É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que permite transposição, absorção ou


aproveitamento de empregado público no quadro estatutário da Administração Pública estadual sem prévia
aprovação em concurso público
São vedadas pela ordem constitucional vigente — por força do princípio do concurso público (art. 37, II, CF/88)
— a transposição, a absorção ou o aproveitamento de servidor em outros órgãos ou entidades da
Administração Pública direta, autárquica e fundacional do mesmo estado sem a prévia aprovação em concurso
público.
Tese fixada pelo STF:
É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que permite transposição, absorção ou aproveitamento
de empregado público no quadro estatutário da Administração Pública estadual sem prévia aprovação em
concurso público, nos termos do art. 37, II, da Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 1232885/AP, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 13/4/2023 (Repercussão Geral – Tema
1.128) (Info 1090).

O professor estrangeiro aprovado em concurso para instituição de ensino federal tem direito de ser
nomeado, salvo se houver restrição expressa no edital, devidamente justificada e passível de controle
judicial
É inconstitucional — por violar o princípio da isonomia (art. 5º, “caput”, CF/88) e a norma que estabelece às
universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica a possibilidade de prover seus cargos com
professores, técnicos e cientistas estrangeiros (art. 207, § 1º, CF/88) — a negativa de nomeação de aprovado
em concurso público para cargo de professor em instituto federal, fundada apenas em motivo de
nacionalidade.
Tese fixada pelo STF:
O candidato estrangeiro tem direito líquido e certo à nomeação em concurso público para provimento de
cargos de professor, técnico e cientista em universidades e instituições de pesquisa científica e tecnológica
federais, nos termos do art. 207, § 1º, da Constituição Federal, salvo se a restrição da nacionalidade estiver
expressa no edital do certame com o exclusivo objetivo de preservar o interesse público e desde que, sem
prejuízo de controle judicial, devidamente justificada.
STF. Plenário. RE 1177699/SC, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 27/3/2023 (Repercussão Geral – Tema 1032)
(Info 1088).

Possibilidade de divulgação de vencimentos dos servidores públicos com relação nominal


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É legítima a publicação, inclusive em sítio eletrônico mantido pela Administração Pública, dos nomes de seus
servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecuniárias.
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STF. Plenário. ARE 652777/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 23/4/2015 (repercussão geral) (Info 782)

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Necessidade de garantir contraditório e ampla defesa
A Administração Pública pode anular seus próprios atos quando estes forem ilegais. No entanto, se a
invalidação do ato administrativo repercute no campo de interesses individuais, faz-se necessária a
instauração de procedimento administrativo que assegure o devido processo legal e a ampla defesa.
Assim, a prerrogativa de a Administração Pública controlar seus próprios atos não dispensa a observância do
contraditório e ampla defesa prévios em âmbito administrativo.
STF. 2ª Turma. RMS 31661/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/12/2013 (Info 732).
STF. Plenário. MS 25399/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/10/2014 (Info 763).

O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta
diretamente a Constituição Federal
Não existe direito adquirido à efetivação na titularidade de cartório quando a vacância do cargo ocorre na
vigência da CF/88, que exige a submissão a concurso público (art. 236, § 3º).
O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado afronta diretamente
a Constituição Federal.
O art. 236, § 3º, da CF é uma norma constitucional autoaplicável. Logo, mesmo antes da edição da Lei
8.935/1994 ela já tinha plena eficácia e o concurso público era obrigatório como condição para o ingresso na
atividade notarial e de registro.
STF. Plenário. MS 26860/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/4/2014 (Info 741).

Prazo decadencial do art. 54 da Lei 9.784/99 e ato praticado antes da vigência da Lei
Prazo de que dispõe a Administração Pública federal para anular um ato administrativo ilegal: 5 anos, contados
da data em que o ato foi praticado (art. 54 da Lei nº 9.784/99)
A Lei 9.784/99 entrou em vigor em 01/02/1999. Se o ato administrativo tiver sido praticado antes da vigência
dessa Lei, qual será o prazo e a partir de quando ele é contado?
O STJ possui o entendimento de que o prazo decadencial previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99, quanto aos
atos administrativos anteriores à sua promulgação, iniciou-se a partir da data de sua entrada em vigor, ou
seja, na data de sua publicação, em 01/02/1999.
Assim, caso o ato ilegal tenha sido praticado antes da Lei nº 9.784/99, a Administração teve o prazo de 5 anos
a contar da vigência da aludida norma para anulá-lo.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.270.474-RN, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/10/2012 (Info 508).

O percentual mínimo de cargos em comissão que deverão ser ocupados por servidores de carreira deverá
ser fixado mediante leis editadas por cada ente, não havendo, portanto, omissão do Presidente ou do
Congresso Nacional em regulamentar o art. 37, V, da CF
Não há omissão legislativa nem inércia do legislador ordinário quanto à edição de lei nacional que discipline a
matéria do inciso V do art. 37 da Constituição Federal, cabendo a cada ente federado definir as condições e
percentuais mínimos para o preenchimento dos cargos em comissão para servidores de carreira, a depender
de suas necessidades burocráticas.
Art. 37. (...) V - as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo,
e os cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais
mínimos previstos em lei, destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;
Eventual lei nacional que disponha sobre os casos, condições e percentuais mínimos de cargos em comissão
pode vir a afrontar a autonomia e a competência de cada um dos entes da Federação para tratar do tema e
adequar a matéria às suas específicas necessidades.
STF. Plenário. ADO 44/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/4/2023 (Info 1091).
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É inconstitucional lei municipal que autoriza a celebração de PPP para a execução de obra pública
desvinculada de qualquer serviço público ou social
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É inconstitucional norma municipal que autoriza a celebração de contrato de parcerias público-privadas (PPP)
para a execução de obra pública desvinculada de qualquer serviço público ou social.
Trata-se de previsão inconstitucional porque invade a competência privativa da União para legislar sobre
normas gerais de licitação e contrato (art. 22, XXVII, CF/88).
Caso concreto: o art. 5º, IV, da Lei nº 1.327/2007, do Município de Ariquemes (RO), autorizou a celebração de
contrato de parceria público-privada para a execução de obra pública sem que essa obra estivesse vinculada
à prestação de serviço público.
Ocorre que as parcerias público-privadas são disciplinadas pela Lei Federal nº 11.079/2004, que veda
expressamente a celebração de contratos de PPP unicamente para a execução de obra pública sem vinculação
à prestação de serviço público ou social. O art. 2º, § 4º, III, dessa Lei afirma que é vedada a celebração de PPP
que tenha como objeto único a execução de obra pública.
STF. Plenário. ADPF 282/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/5/2023 (Info 1094).

É possível a anulação do ato de anistia pela Administração Pública, evidenciada a violação direta do art. 8º
do ADCT, mesmo quando decorrido o prazo decadencial contido na Lei 9.784/99
O decurso do lapso temporal de 5 (cinco) anos não é causa impeditiva bastante para inibir a Administração
Pública de revisar os atos de concessão de anistia a cabos da Aeronáutica relativos à Portaria 1.104, editada
pelo Ministro de Estado da Aeronáutica, em 12 de outubro de 1964.
STJ. 1ª Seção. MS 17526-DF, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região),
julgado em 9/11/2022 (Info Especial 8).
STF. Plenário. RE 817338/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/10/2019 (Repercussão Geral – Tema 839)
(Info 956); STJ. 1ª Seção. MS 20.187-DF, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado Do TRF5),
julgado em 10/08/2022 (Info 744).

A inscrição de Estado-membro nos cadastros federais de inadimplência antes da instauração e do


julgamento de tomada de contas especial viola o devido processo legal
A tomada de contas especial é a medida adequada para se alcançar o reconhecimento definitivo das
irregularidades detectadas. Só a partir daí é que se permite a inscrição do ente nos cadastros de restrição ao
crédito organizados e mantidos pela União.
O processo de contas é essencial para a apuração de responsabilidades. Não se pode impor sanção sem
anterior identificação de responsáveis.
STF. Plenário. ACO 2910 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 29/06/2020 (Info 988 – clipping).

A inscrição de entes federados em cadastro de inadimplentes (ou outro que dê causa à negativa de realização
de convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos congêneres que impliquem transferência voluntária de
recursos), pressupõe o respeito aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal,
somente reconhecido:
a) após o julgamento de tomada de contas especial ou procedimento análogo perante o Tribunal de Contas,
nos casos de descumprimento parcial ou total de convênio, prestação de contas rejeitada, ou existência de
débito decorrente de ressarcimento de recursos de natureza contratual (salvo os de conta não prestada) e;
b) após a devida notificação do ente faltoso e o decurso do prazo nela previsto (conforme constante em lei,
regras infralegais ou em contrato), independentemente de tomada de contas especial, nos casos de não
prestação de contas, não fornecimento de informações, débito decorrente de conta não prestada, ou
quaisquer outras hipóteses em que incabível a tomada de contas especial.
STF. Plenário. RE 1067086, Rel. Rosa Weber, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 327)

Personalidade judiciária das Câmaras Municipais e das Assembleias Legislativas


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Súmula 525-STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária,
somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.
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É possível aplicar o regime de precatórios às empresas públicas?
Não se submetem ao regime de precatório as empresas públicas dotadas de personalidade jurídica de direito
privado com patrimônio próprio e autonomia administrativa que exerçam atividade econômica sem
monopólio e com finalidade de lucro.
STF. 1ª Turma. RE 892727/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Morais, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em
7/8/2018 (Info 910).

É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista?


É inconstitucional determinação judicial que decreta a constrição de bens de sociedade de economia mista
prestadora de serviços públicos em regime não concorrencial, para fins de pagamento de débitos trabalhistas.
Sociedade de economia mista prestadora de serviço público não concorrencial está sujeita ao regime de
precatórios (art. 100 da CF/88) e, por isso, impossibilitada de sofrer constrição judicial de seus bens, rendas e
serviços, em respeito ao princípio da legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88) e da separação funcional
dos poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III).
STF. Plenário. ADPF 275/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

A fundação instituída pelo Estado pode estar sujeita ao regime público ou privado, a depender do estatuto
da fundação e das atividades por ela prestadas
A qualificação de uma fundação instituída pelo Estado como sujeita ao regime público ou privado depende:
i) do estatuto de sua criação ou autorização e
ii) das atividades por ela prestadas.
As atividades de conteúdo econômico e as passíveis de delegação, quando definidas como objetos de dada
fundação, ainda que essa seja instituída ou mantida pelo poder público, podem se submeter ao regime jurídico
de direito privado.
STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946).

Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado pode adotar o regime celetista para
contratação de seus empregados
É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide sobre as relações
de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade jurídica de direito privado,
destinadas à prestação de serviços de saúde.
STF. Plenário. ADI 4247/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/11/2020 (Info 997).

As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais
As fundações públicas de direito privado não fazem jus à isenção das custas processuais.
A isenção das custas processuais somente se aplica para as entidades com personalidade de direito público.
Dessa forma, para as Fundações Públicas receberem tratamento semelhante ao conferido aos entes da
Administração Direta é necessário que tenham natureza jurídica de direito público, que se adquire no
momento de sua criação, decorrente da própria lei.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.409.199-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 10/03/2020 (Info 676).

Lei estadual pode autorizar a criação de fundação pública de direito privado para atuar na prestação de
serviço público de saúde
É constitucional a constituição de fundação pública de direito privado para a prestação de serviço público de
saúde.
STF. Plenário. ADI 4197/SE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/3/2023 (Info 1085).
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Os serviços sociais autônomos precisam realizar concurso público para contratar seu pessoal?
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NÃO. Os serviços sociais autônomos, por possuírem natureza jurídica de direito privado e não integrarem a
Administração Pública, mesmo que desempenhem atividade de interesse público em cooperação com o ente

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estatal, NÃO estão sujeitos à observância da regra de concurso público (art. 37, II, da CF/88) para contratação
de seu pessoal.
Obs.: vale ressaltar, no entanto, que o fato de as entidades do Sistema “S” não estarem submetidas aos
ditames constitucionais do art. 37, não as exime de manterem um padrão de objetividade e eficiência na
contratação e nos gastos com seu pessoal.
STF. Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/9/2014 (repercussão geral) (Info 759).

Os recursos geridos pelos serviços sociais autônomos são considerados recursos públicos?
NÃO. Segundo entende o STF, os serviços sociais autônomos do denominado sistema “S”, embora
compreendidos na expressão de entidade paraestatal, são pessoas jurídicas de direito privado, definidos como
entes de colaboração, mas não integrantes da Administração Pública.
Assim, quando o produto das contribuições ingressa nos cofres dos Serviços Sociais Autônomos, perde o
caráter de recurso público.
STF. Plenário. ACO 1953 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/12/2013.

Imunidade
Os serviços sociais autônomos gozam de imunidade tributária?
SIM. O art. 150, VI, “c” da CF/88 prevê que as instituições de educação e de assistência social, sem fins
lucrativos, gozam de imunidade tributária quanto aos impostos, desde que atendidos os requisitos previstos
na lei.
As entidades do chamado “Sistema S”, tais como SESI, SENAI, SENAC e SEBRAE, também gozam de imunidade
porque promovem cursos para a inserção de profissionais no mercado de trabalho, sendo consideradas
instituições de educação e assistência social.
Se o SENAC adquire um terreno para a construção de sua sede, já havendo inclusive um projeto nesse sentido,
deverá incidir a imunidade nesse caso considerando que o imóvel será destinado às suas finalidades essenciais.
STF. 1ª Turma. RE 470520/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/9/2013 (Info 720).

Sem prerrogativas processuais


Os serviços sociais autônomos gozam das prerrogativas processuais inerentes à Fazenda Pública (ex.: prazo
em dobro para recorrer)?
NÃO. As entidades paraestatais não gozam dos privilégios processuais concedidos à Fazenda Pública.
STF. AI 841548 RG, julgado em 09/06/2011.

A vítima somente poderá ajuizar a ação de indenização contra o Estado; se este for condenado, poderá
acionar o servidor que causou o dano em caso de dolo ou culpa; o ofendido não poderá propor a demanda
diretamente contra o agente público
A teor do disposto no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente público
deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo
parte ilegítima para a ação o autor do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de
dolo ou culpa.
STF. Plenário. RE 1027633/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 14/8/2019 (repercussão geral) (Info 947).

Responsabilidade civil do Estado em caso de morte de detento


Em caso de inobservância de seu dever específico de proteção previsto no art. 5º, inciso XLIX, da CF/88, o
Estado é responsável pela morte de detento.
STF. Plenário. RE 841526/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 30/3/2016 (repercussão geral) (Info 819).
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Em regra, o Estado não tem responsabilidade civil por atos praticados por presos foragidos; exceção: quando
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demonstrado nexo causal direto

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Nos termos do artigo 37, § 6º, da Constituição Federal, não se caracteriza a responsabilidade civil objetiva do
Estado por danos decorrentes de crime praticado por pessoa foragida do sistema prisional, quando não
demonstrado o nexo causal direto entre o momento da fuga e a conduta praticada.
STF. Plenário. RE 608880, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Alexandre de Moraes, julgado em
08/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 362) (Info 993).

Em regra, o Estado responde de forma objetiva pelos danos causados a profissional de imprensa ferido, por
policiais, durante cobertura jornalística de manifestação pública
O Estado responde de forma objetiva pelos danos causados a profissional de imprensa ferido, por policiais,
durante cobertura jornalística de manifestação pública em que ocorra tumulto ou conflito, desde que o
jornalista não haja descumprido ostensiva e clara advertência quanto ao acesso a áreas definidas como de
grave risco à sua integridade física, caso em que poderá ser aplicada a excludente da responsabilidade por
culpa exclusiva da vítima.
Tese fixada pelo STF: “É objetiva a Responsabilidade Civil do Estado em relação a profissional da imprensa
ferido por agentes policiais durante cobertura jornalística, em manifestações em que haja tumulto ou conflitos
entre policiais e manifestantes. Cabe a excludente da responsabilidade da culpa exclusiva da vítima, nas
hipóteses em que o profissional de imprensa descumprir ostensiva e clara advertência sobre acesso a áreas
delimitadas, em que haja grave risco à sua integridade física”.
STF. Plenário. RE 1209429/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 10/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1055) (Info 1021).

O Estado responde, objetivamente, pelos danos causados por notários e registradores


O Estado responde, objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no exercício de suas
funções, causem dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou
culpa, sob pena de improbidade administrativa.
O Estado possui responsabilidade civil direta, primária e objetiva pelos danos que notários e oficiais de
registro, no exercício de serviço público por delegação, causem a terceiros.
STF. Plenário. RE 842846/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 27/2/2019 (repercussão geral) (Info 932).

Para o reconhecimento da responsabilidade do Estado em decorrência da fixação de preços no setor


sucroalcooleiro é indispensável a comprovação de efetivo prejuízo, mediante perícia
É imprescindível para o reconhecimento da responsabilidade civil do Estado em decorrência da fixação de
preços no setor sucroalcooleiro a comprovação de efetivo prejuízo econômico, mediante perícia técnica em
cada caso concreto.
STF. Plenário. ARE 884325, Rel. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 826).

O prazo prescricional para pedir reparação por danos causados por fundação privada de apoio à
universidade pública é de 5 anos
A fundação privada de apoio à universidade pública presta serviço público, razão pela qual responde
objetivamente pelos prejuízos causados a terceiros, submetendo-se a pretensão indenizatória ao prazo
prescricional quinquenal previsto no art. 1º-C da Lei nº 9.494/97.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.893.472-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/06/2022 (Info 744).

O hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança, contribuindo de forma determinante e
específica para homicídio praticado em suas dependências, responde objetivamente pela conduta omissiva
Caso concreto: o hospital não possuía nenhum serviço de vigilância e o evento morte decorreu de um disparo
com arma de fogo contra a vítima dentro do hospital.
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A conduta do hospital que deixa de fornecer o mínimo serviço de segurança e, por conseguinte, despreza o
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dever de zelar pela incolumidade física dos seus pacientes contribuiu de forma determinante e específica para

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o homicídio praticado em suas dependências, afastando-se a alegação da excludente de ilicitude, qual seja,
fato de terceiro.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.708.325-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 24/05/2022 (Info 740).

As ações de indenização por danos morais e materiais decorrentes de perseguição, tortura e prisão, por
motivos políticos, ocorridas durante o regime militar, são imprescritíveis
Súmula 647-STJ: São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de atos
de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 10/03/2021, DJe 15/03/2021.

União não tem o dever de indenizar indústrias nacionais prejudicadas com a redução das alíquotas do
imposto de importação
O Ministério da Fazenda editou a Portaria nº 492/1994, reduzindo de 30% para 20% a alíquota do imposto de
importação dos brinquedos em geral. Com a redução da alíquota, houve a entrada de um enorme volume de
brinquedos importados no Brasil, oriundos especialmente da China, sendo estes bem mais baratos que os
nacionais. Como resultado, várias indústrias de brinquedos no Brasil foram à falência e, mesmo as que
permaneceram, sofreram grandes prejuízos. Uma famosa indústria de brinquedos ingressou com ação contra
a União afirmando que a Portaria, apesar de ser um ato lícito, gerou prejuízos e que, portanto, o Poder Público
deveria ser condenado a indenizá-la. O STJ não concordou com o pedido.
Não se verifica o dever do Estado de indenizar eventuais prejuízos financeiros do setor privado decorrentes
da alteração de política econômico-tributária no caso de o ente público não ter se comprometido, formal e
previamente, por meio de determinado planejamento específico.
A referida Portaria tinha finalidade extrafiscal e a possibilidade de alteração das alíquotas do imposto de
importação decorre do próprio ordenamento jurídico, não havendo que se falar em quebra do princípio da
confiança.
O impacto econômico-financeiro sobre a produção e a comercialização de mercadorias pelas sociedades
empresárias causado pela alteração da alíquota de tributos decorre do risco da atividade próprio da álea
econômica de cada ramo produtivo.
Não havia direito subjetivo da indústria quanto à manutenção da alíquota do imposto de importação.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.492.832-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 04/09/2018 (Info 634).

Pretensão dos acionistas de serem indenizados pela União e pela Petrobrás pelos prejuízos causados em
decorrência da desvalorização dos ativos da Companhia, por conta da Lava Jato, deverá ser ajuizada na
Justiça Federal de 1ª instância (e não por arbitragem)
A União, na condição de acionista controladora da Petrobras, não pode ser submetida à cláusula
compromissória arbitral prevista no Estatuto Social da Companhia, seja em razão da ausência de lei
autorizativa, seja em razão do próprio conteúdo da norma estatutária.
Caso concreto: um grupo de acionistas da Petrobrás formulou requerimento para instauração de
procedimento arbitral perante a Câmara de Arbitragem do Mercado (CAM-BOVESPA) contra a União e a
Petrobrás, no qual pedem o ressarcimento pelos prejuízos decorrentes da desvalorização dos ativos da
Petrobras, em razão dos desgastes oriundos da Operação Lava Jato. O procedimento foi instaurado com base
no art. 58 do Estatuto Social da Petrobrás, onde consta uma cláusula compromissória dizendo que as disputas
que envolvam a Companhia, seus acionistas, administradores e conselheiros fiscais deverão ser resolvidas por
meio de arbitragem. A União afirmou que não estava obrigada a participar dessa arbitragem, argumento que
foi acolhido pelo STJ.
STJ. 2ª Seção. CC 151.130-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
27/11/2019 (Info 664).
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União não tem legitimidade passiva em demanda que envolve erro médico e SUS
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A União não tem legitimidade passiva em ação de indenização por danos decorrentes de erro médico ocorrido
em hospital da rede privada durante atendimento custeado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo

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com a Lei nº 8.080/90, a responsabilidade pela fiscalização dos hospitais credenciados ao SUS é do Município,
a quem compete responder em tais casos.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.388.822-RN, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 13/5/2015 (Info 563).

Demora injustificada da Administração em analisar o requerimento de aposentadoria do servidor


A demora injustificada da Administração em analisar o pedido de aposentadoria do servidor público gera o dever
de indenizá-lo, considerando que, por causa disso, ele foi obrigado a continuar exercendo suas funções por mais
tempo do que o necessário.
Exemplo de demora excessiva: mais de 1 ano.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.469.301/SC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 21/10/2014.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 483.398/PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/10/2016.

Se o servidor público estadual está respondendo a PAD e pede a concessão de aposentadoria, a tramitação
do requerimento ficará suspensa até a conclusão do PAD, mesmo que isso não esteja previsto na lei
estadual; aplica-se, por analogia, o art. 172 da Lei 8.112/90
A lacuna na Lei Complementar Estadual nº 131/2010 do Estado do Paraná acerca da possibilidade de
suspender o processo de aposentadoria enquanto tramita o processo administrativo disciplinar deve ser
suprida com a aplicação subsidiária da Lei n. 8.112/1990.
Trata-se de legítima integração da legislação estadual por meio da aplicação subsidiária da norma federal,
consoante pacífica jurisprudência.
STJ. 2ª Turma. AgInt no RMS 58.568/PR, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 19/10/2020.

A lacuna em Lei Complementar Estadual acerca da possibilidade de suspender processo de concessão de


aposentadoria enquanto tramita processo administrativo disciplinar deve ser suprida com a aplicação
subsidiária da Lei nº 8.112/90.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AgInt no RMS 61.130-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/09/2022
(Info 751).

Regra geral da prescrição em ações contra a Fazenda Pública


O prazo prescricional aplicável às ações de indenização contra a Fazenda Pública é de 5 (CINCO) anos,
conforme previsto no Decreto 20.910/32, e não de três anos (regra do Código Civil), por se tratar de norma
especial, que prevalece sobre a geral.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.251.993-PR, Rel. Min. Mauro Campbell, julgado em 12/12/2012 (recurso repetitivo) (Info
512).

Início do prazo prescricional


O termo inicial do prazo prescricional para o ajuizamento de ação de indenização contra ato do Estado ocorre
no momento em que constatada a lesão e os seus efeitos, conforme o princípio da actio nata.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.333.609-PB, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/10/2012 (Info 507).

Estado deve indenizar preso que se encontre em situação degradante


Considerando que é dever do Estado, imposto pelo sistema normativo, manter em seus presídios os padrões
mínimos de humanidade previstos no ordenamento jurídico, é de sua responsabilidade, nos termos do art.
37, § 6º, da Constituição, a obrigação de ressarcir os danos, inclusive morais, comprovadamente causados aos
detentos em decorrência da falta ou insuficiência das condições legais de encarceramento.
STF. Plenário. RE 580252/MS, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em
16/2/2017 (repercussão geral) (Info 854).
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Termo inicial da prescrição de pretensão indenizatória decorrente de tortura e morte de preso


Determinada pessoa foi presa e torturada por policiais. Foi instaurado inquérito policial para apurar o ocorrido.

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Qual será o termo de início da prescrição da ação de indenização por danos morais?
• Se tiver sido ajuizada ação penal contra os autores do crime: o termo inicial da prescrição será o trânsito em
julgado da sentença penal.
• Se o inquérito policial tiver sido arquivado (não foi ajuizada ação penal): o termo inicial da prescrição da ação
de indenização é a data do arquivamento do IP.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.443.038-MS, Rel. Ministro Humberto Martins, julgado em 12/2/2015 (Info 556).

Reconhecimento administrativo pela Fazenda e renúncia ao prazo prescricional


Caso o Poder Público tenha reconhecido administrativamente o débito, o termo inicial do prazo prescricional
de 5 anos para que servidor público exija seu direito será a data desse ato de reconhecimento.
Para o STJ, o reconhecimento do débito implica renúncia, pela Administração, ao prazo prescricional já
transcorrido.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AgRg no AREsp 51.586-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 13/11/2012 (Info
509).

Empresa em recuperação judicial pode participar de licitação, desde que demonstre a sua viabilidade
econômica
Sociedade empresária em recuperação judicial pode participar de licitação, desde que demonstre, na fase de
habilitação, a sua viabilidade econômica.
STJ. 1ª Turma. AREsp 309.867-ES, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/06/2018 (Info 631).

Em regra, é imprescindível prévia licitação para a concessão ou permissão da exploração de serviços de


transporte coletivo de passageiros
Salvo situações excepcionais, devidamente comprovadas, o implemento de transporte público coletivo
pressupõe prévia licitação.
STF. Plenário. RE 1001104, Rel. Marco Aurélio, julgado em 15/05/2020 (Repercussão Geral – Tema 854) (Info
982).

Estado-membro não pode ser incluído nos cadastros de inadimplentes da União por irregularidades
praticadas pelos outros Poderes que não o Executivo
O Estado só pode sofrer restrições nos cadastros de devedores da União por atos praticados pelo Poder
Executivo. Dessa forma, atos do Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Tribunal de Contas e dos entes da
Administração Pública indireta (como as autarquias e as empresas públicas) não podem gerar sanções da
União contra o Estado, diante da ausência de ingerência direta do Executivo sobre eles.
STF. Plenário. ACO 2099 AgR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/12/2015.

Intranscendência subjetiva das sanções


Súmula 615-STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em cadastros restritivos fundada
em irregularidades na gestão anterior quando, na gestão sucessora, são tomadas as providências cabíveis à
reparação dos danos eventualmente cometidos.

Princípio da intranscendência e entidade integrante de consórcio público com pendência no CAUC


Se um consórcio público celebrou convênio com a União por meio do qual estão previstos repasses federais,
o fato de um dos entes integrantes do consórcio possuir pendência inscrita no CAUC não pode impedir que o
consórcio receba os valores prometidos. Isso porque o consórcio público é uma pessoa jurídica distinta dos
entes federativos que o integram e, segundo o princípio da intranscendência das sanções, as punições
impostas não podem superar a dimensão estritamente pessoal do infrator, ou seja, não podem prejudicar
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outras pessoas jurídicas que não sejam aquelas que praticaram o ato.
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Assim, o fato de ente integrante de consórcio público possuir pendência no Serviço Auxiliar de Informações
para Transferências Voluntárias (CAUC) não impede que o consórcio faça jus, após a celebração de convênio,
à transferência voluntária a que se refere o art. 25 da LC 101/2000.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.463.921-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/11/2015 (Info 577).

Município pode obter certidão positiva com efeitos de negativa quando os débitos são da Câmara Municipal
(e não do Poder Executivo)
É possível ao Município obter certidão positiva de débitos com efeito de negativa quando a Câmara Municipal
do mesmo ente possui débitos com a Fazenda Nacional, tendo em conta o princípio da intranscendência
subjetiva das sanções financeiras.
STF. Plenário. RE 770149, Rel. Min. Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
05/08/2020 (Repercussão Geral – tema 743) (Info 993).

Ente desapropriante não responde por tributos anteriores à desapropriação


O ente desapropriante não responde por tributos incidentes sobre o imóvel desapropriado nas hipóteses em
que o período de ocorrência dos fatos geradores é anterior ao ato de aquisição originária da propriedade.
STJ. 2ª Turma. REsp 1668058-ES, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/6/2017 (Info 606).

Possibilidade de o proprietário afastar a sanção do art. 243 da CF/88 se provar que não teve culpa
A expropriação prevista no art. 243 da Constituição Federal pode ser afastada, desde que o proprietário
comprove que não incorreu em culpa, ainda que in vigilando ou in eligendo.
STF. Plenário. RE 635336/PE, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2016 (repercussão geral) (Info 851).

Súmula 652-STF: Não contraria a Constituição o art. 15, § 1º, do Dl. 3.365/41 (Lei da Desapropriação por
utilidade pública).
Súmula 56-STJ: Na desapropriação para instituir servidão administrativa são devidos os juros compensatórios
pela limitação de uso da propriedade.

Súmula 164-STF: No processo de desapropriação, são devidos juros compensatórios desde a antecipada
imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de urgência.

Súmula 69-STJ: Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão
na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.

Súmula 113-STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir da imissão na posse,
calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.

Súmula 114-STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da ocupação,


calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.

Súmula 378-STF: Na indenização por desapropriação incluem-se honorários do advogado do expropriado.

Súmula 354-STJ: A invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para fins de reforma
agrária.

O prazo prescricional no caso de ação de desapropriação indireta é, em regra, de 10 anos; excepcionalmente,


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será de 15 anos caso de comprove que não foram feitas obras ou serviços públicos no local
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Qual é o prazo da ação de desapropriação indireta?


Regra: 10 anos (art. 1.238, parágrafo único, do CC/2002).

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Exceção: o prazo será de 15 anos se ficar comprovada a inexistência de obras ou serviços públicos no local.
Em regra, portanto, o prazo prescricional das ações indenizatórias por desapropriação indireta é de 10 anos
porque existe uma presunção relativa de que o Poder Público realizou obras ou serviços públicos no local.
Admite-se, excepcionalmente, o prazo prescricional de 15 anos, caso a parte interessada comprove, concreta
e devidamente, que não foram feitas obras ou serviços no local, afastando a presunção legal.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.575.846-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/06/2019 (Info 658).
Obs: a súmula 119 do STJ está superada (Súmula 119-STJ: A ação de desapropriação indireta prescreve em
vinte anos).

Renitente esbulho
Como regra, se os índios não estavam na posse da área em 05/10/1988, ela não será considerada terra
indígena (art. 231 da CF/88).
Existe, contudo, uma exceção a essa regra. Trata-se do chamado renitente esbulho.
Assim, se, na época da promulgação da CF/88, os índios não ocupavam a terra porque dela haviam sido
expulsos em virtude de conflito possessório, considera-se que eles foram vítimas de esbulho e, assim, essa
área será considerada terra indígena para os fins do art. 231.
O renitente esbulho se caracteriza pelo efetivo conflito possessório, iniciado no passado e persistente até o
marco demarcatório temporal da data da promulgação da Constituição de 1988, materializado por
circunstâncias de fato ou por controvérsia possessória judicializada.
Vale ressaltar que, para que se caracterize o renitente esbulho, é necessário que, no momento da
promulgação da CF/88, os índios ainda estivessem disputando a posse da terra ou tivessem sido delas expulsos
há pouco tempo. Se eles foram dela expulsos muitos anos antes de entrar em vigor a CF/88, não se configura
o chamado “renitente esbulho”.
Exemplo: no caso concreto apreciado pelo STF, a última ocupação indígena na área ocorreu no ano de 1953,
data em que os índios foram expulsos da região. Nessa situação, a Corte entendeu que não estava
caracterizado o renitente esbulho, mas sim “a desocupação forçada ocorrida no passado” já que, no momento
da promulgação da CF/88, já havia se passado muitos anos da saída dos índios do local e eles não mais estavam
em conflito possessório por aquelas terras.
STF. 2ª Turma. ARE 803462 AgR/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 9/12/2014 (Info 771).

A proteção das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios representa um aspecto fundamental dos
direitos e das prerrogativas constitucionais assegurados ao índio.
Sem ter a garantia de que irá permanecer nas terras por eles já tradicionalmente ocupadas, os índios ficam
expostos ao risco da desintegração cultural, da perda de sua identidade étnica, da dissolução de seus vínculos
históricos, sociais e antropológicos e da erosão de sua própria consciência.
Entretanto, somente são reconhecidos aos índios os direitos sobre as terras que tradicionalmente ocupem se
a área estiver habitada por eles na data da promulgação da CF/88 (marco temporal) e, complementarmente,
se houver a efetiva relação dos índios com a terra (marco da tradicionalidade da ocupação).
No caso concreto, por exemplo, o relatório elaborado pela FUNAI indicou que há mais de 70 anos não existia
comunidade indígena ou posse indígena no local em disputa. Logo, o marco temporal não estava preenchido,
sendo, portanto, impossível reconhecer a posse indígena daquelas terras. Em outras palavras, não estavam
atendidos os requisitos necessários para se reconhecer aquela área como sendo uma terra tradicionalmente
ocupada por índios, nos termos do art. 231 da CF/88.
No entanto, mesmo a terra não se enquadrando no conceito do art. 231, caput e § 1º da CF/88, a União pode
decidir acolher as populações indígenas naquela área. Para isso, porém, terá que desapropriar as terras, pagando
justa e prévia indenização em dinheiro aos proprietários, considerando que, não sendo terras tradicionalmente
ocupadas por índios, essa área não se constitui em bem da União (art. 20, XI).
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STF. 2ª Turma. RMS 29087/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão, Min. Gilmar Mendes, julgado
em 16/9/2014 (Info 759.
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Levantamento da área a ser demarcada em procedimento de demarcação de terras indígenas

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O procedimento de demarcação das terras indígenas é regulado pelo Decreto 1.775/96, que estabelece, em
seu art. 2º, a necessidade de ser elaborado um estudo técnico antropológico e levantamento da área
demarcada.
A realização da etapa de levantamento da área a ser demarcada é imprescindível, ainda que já tenham sido
realizados trabalhos de identificação e delimitação da terra indígena de maneira avançada.
O descumprimento dessa etapa configura violação do devido processo legal administrativo e enseja vício de
nulidade da demarcação.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.551.033-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/10/2015 (Info 571).

Impossibilidade de remarcação ampliativa de terra indígena


Em 2000, João comprou uma fazenda que fica ao lado da reserva indígena Wassú-Cocal. Essa reserva indígena
foi demarcada em 1987, ou seja, antes da CF/88. Em 2012, o Ministro da Justiça, a partir de estudo da FUNAI,
editou portaria ampliando os limites da reserva indígena Wassú-Cocal. Pela nova demarcação proposta, João
perderia a sua fazenda, que passaria a fazer parte da reserva indígena. Segundo argumentaram a FUNAI e o
Ministério da Justiça, a remarcação agora realizada é um procedimento destinado a "corrigir falhas" cometidas
na demarcação originária já que esta não teria observado os parâmetros impostos pela CF/88. Desse modo,
seria uma correção para adequar a demarcação às regras da CF/88.
A jurisprudência concorda com essa prática? Se uma terra indígena foi demarcada antes da CF/88, é possível
que agora ela seja “remarcada”, ampliando-se a área anteriormente já reconhecida?
NÃO. Tanto o STF como o STJ condenam essa prática.
A alegação de que a demarcação da terra indígena não observou os parâmetros estabelecidos pela CF/1988
não justifica a remarcação ampliativa de áreas originariamente demarcadas em período anterior à sua
promulgação.
Desde o julgamento da Pet 3.388-RR (Caso Raposa Serra do Sol), a jurisprudência passou a entender que é
vedada a ampliação de terra indígena já demarcada, salvo em caso de vício de ilegalidade do ato de
demarcação e, ainda assim, desde que respeitado o prazo decadencial.
É inegável que a CF/88 mudou o enfoque atribuído à questão indígena e trouxe novas regras mais favoráveis
a tais povos, permitindo a demarcação das terras com critérios mais elásticos, a partir da evolução de uma
perspectiva integracionista para a de preservação cultural do grupamento étnico. Isso, contudo, não é motivo
suficiente para se promover a revisão administrativa das demarcações de terras indígenas já realizadas,
especialmente nos casos em que se passou o prazo decadencial.
STJ. 1ª Seção. MS 21.572-AL, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/6/2015 (Info 564).
STF. 2ª Turma. RMS 29542/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 30/9/2014 (Info 761).

Em ação possessória ajuizada pelo fazendeiro que teve o imóvel invadido por indígenas, não cabe a
realização de laudo antropológico para examinar se são terras indígenas
É inadequada a discussão acerca da tradicionalidade da ocupação indígena em ação possessória ajuizada por
proprietário de fazenda antes de completado o procedimento demarcatório.
Assim, não cabe produção de laudo antropológico em ação possessória ajuizada por proprietário de fazenda
ocupada por grupo indígena.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.650.730-MS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/08/2019 (Info 655).

Constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para titulação das terras
ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos
O art. 68 do ADCT estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando
suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.”
Em 2003, foi editado o Decreto nº 4.887, com o objetivo de regulamentar o procedimento para identificação,
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reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das
comunidades dos quilombos.
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O STF entendeu que este Decreto não invadiu esfera reservada à lei. O objetivo do Decreto foi tão somente o
de regular o comportamento do Estado na implementação do comando constitucional previsto no art. 68 do

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ADCT. Houve o mero exercício do poder regulamentar da Administração, nos limites estabelecidos pelo art.
84, VI, da Constituição.
O art. 2º, caput e § 1º do Decreto nº 4.887/2003 prevê como deve ser o critério utilizado pelo Poder Público
para a identificação dos quilombolas. O critério escolhido foi o da autoatribuição (autodefinição). O STF
entendeu que a escolha do critério desse critério não foi arbitrária, não sendo contrária à Constituição.
O art. 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto preconiza que, na identificação, medição e demarcação das terras dos
quilombolas devem ser levados em consideração critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes
das comunidades dos quilombos. O STF afirmou que essa previsão é constitucional. Isso porque o que o
Decreto está garantindo é apenas que as comunidades envolvidas sejam ouvidas, não significando que a
demarcação será feita exclusivamente com base nos critérios indicados pelos quilombolas.
O art. 13 do Decreto, por sua vez, estabelece que o INCRA poderá realizar a desapropriação de determinadas
áreas caso os territórios ocupados por remanescentes das comunidades dos quilombos estejam situados em
locais pertencentes a particulares. O STF reputou válida essa previsão tendo em vista que, em nenhum
momento a Constituição afirma que são nulos ou extintos os títulos eventualmente incidentes sobre as terras
ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. Assim, o art. 68 do ADCT, apesar de
reconhecer um direito aos quilombolas, não invalida os títulos de propriedade eventualmente existentes, de
modo que, para que haja a regularização do registro em favor das comunidades quilombolas, exige-se a
realização do procedimento de desapropriação.
Por fim, o STF não acolheu a tese de que somente poderiam ser consideradas terras de quilombolas aqueles
que estivessem sendo ocupadas por essas comunidades na data da promulgação da CF/88 (05/10/1988). Em
outras palavras, mesmo que, na data da promulgação da CF/88, a terra não mais estivesse sendo ocupada
pelas comunidades quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o direito previsto no art. 68 do ADCT.
STF. Plenário. ADI 3239/DF, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber, julgado em 8/2/2018
(Info 890).

Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os
direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger
e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as
utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais
necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes
e tradições.
§ 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse permanente, cabendo-lhes o
usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes.
§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das
riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional,
ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos resultados da lavra, na forma da
lei.
§ 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre elas, imprescritíveis.
§ 5º É vedada a remoção dos grupos indígenas de suas terras, salvo, "ad referendum" do Congresso Nacional,
em caso de catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do País,
após deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno imediato logo que cesse
o risco.
§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham por objeto a ocupação, o
domínio e a posse das terras a que se refere este artigo, ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos
rios e dos lagos nelas existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que dispuser lei
complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a indenização ou a ações contra a União, salvo, na
forma da lei, quanto às benfeitorias derivadas da ocupação de boa-fé.
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§ 7º Não se aplica às terras indígenas o disposto no art. 174, § 3º e § 4º.


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Art. 232. Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa
de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos do processo.

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Não configura desapropriação indireta quando o Estado se limita a realizar serviços públicos de
infraestrutura em gleba cuja invasão por particulares apresenta situação consolidada e irreversível
Não se imputa ao Poder Público a responsabilidade integral por alegada desapropriação indireta quando, em
gleba cuja ocupação por terceiros apresenta situação consolidada e irreversível, limita-se a realizar serviços
públicos de infraestrutura, sem que tenha concorrido para o esbulho ocasionado exclusivamente por
particulares. Assim, na medida em que o Poder Público não pratica o ato ilícito denominado “apossamento
administrativo” nem, portanto, toma a propriedade do bem para si, não deve responder pela perda da
propriedade em desfavor do particular, ainda que realize obras e serviços públicos essenciais para a
comunidade instalada no local.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.770.001-AM, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 05/11/2019 (Info 660).

Em ação de desapropriação indireta é cabível reparação decorrente de limitações administrativas


Imóvel do particular foi incluído em unidade de conservação. Houve, no caso, uma limitação administrativa.
Ele ajuizou ação de desapropriação indireta pedindo indenização. Mesmo não tendo havido desapropriação
indireta, mas sim mera limitação administrativa, o juiz deverá conhecer da ação e julgar seu mérito.
Devem ser observados os princípios da instrumentalidade das formas e da primazia da solução integral do
mérito.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.653.169-RJ, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 19/11/2019 (Info 662).

Denúncia anônima
Súmula 611-STJ: Desde que devidamente motivada e com amparo em investigação ou sindicância, é permitida
a instauração de processo administrativo disciplinar com base em denúncia anônima, em face do poder-dever
de autotutela imposto à Administração.

Súmula 641-STJ: A portaria de instauração do processo administrativo disciplinar prescinde da exposição


detalhada dos fatos a serem apurados.

Validade da prova emprestada


Súmula 591-STJ: É permitida a “prova emprestada” no processo administrativo disciplinar, desde que
devidamente autorizada pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa.

Empréstimo das interceptações telefônicas do processo criminal para o PAD


A prova colhida mediante autorização judicial e para fins de investigação ou processo criminal pode ser
utilizada para instruir procedimento administrativo punitivo. Assim, é possível que as provas provenientes de
interceptações telefônicas autorizadas judicialmente em processo criminal sejam emprestadas para o
processo administrativo disciplinar.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 9/8/2016 (Info 834).
STJ. 1ª Seção. MS 16.146-DF, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 22/5/2013.

Ausência de transcrição integral de dados obtidos por meio de interceptação telefônica não gera nulidade
Mesmo em matéria penal, a jurisprudência do STF e do STJ é no sentido de que não é necessária a degravação
integral das escutas, sendo bastante que dos autos constem excertos suficientes a embasar o oferecimento
da denúncia.
O servidor processado, que também é réu no processo criminal, tem acesso à integralidade das interceptações
e, se entender necessário, pode juntar no processo administrativo os eventuais trechos que considera
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pertinentes ao deslinde da controvérsia.


O acusado em processo administrativo disciplinar não possui direito subjetivo ao deferimento de todas as
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provas requeridas nos autos, ainda mais quando consideradas impertinentes ou meramente protelatórias pela
comissão processante (art. 156, §1º, Lei nº 8.112/90).

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STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 9/8/2016 (Info 834).

Inexistência de impedimento de que os membros da comissão do primeiro PAD, que foi anulado, participem
da segunda comissão
Respeitados todos os aspectos processuais relativos à suspeição e impedimento dos membros da Comissão
Processante previstos pelas Leis 8.112/90 e 9.784/99, não há qualquer impedimento ou prejuízo material na
convocação dos mesmos servidores que anteriormente tenham integrado Comissão Processante, cujo
relatório conclusivo foi posteriormente anulado (por cerceamento de defesa), para comporem a segunda
Comissão de Inquérito.
Assim, não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de inquérito em processo administrativo disciplinar
seja formada pelos mesmos membros de comissão anterior que havia sido anulada.
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 9/8/2016 (Info 834).

A mesma autoridade que ofereceu denúncia criminal contra o suspeito pode atuar como julgadora no
processo administrativo que apura o mesmo fato
O oferecimento de denúncia criminal por autoridade que, em razão de suas atribuições legais, seja obrigada a
fazê-lo não a inabilita, só por isso, a desempenhar suas funções como autoridade julgadora no processo
administrativo.
Caso concreto: membro do MP praticou fato que, em tese, configura, ao mesmo tempo, infração disciplinar e
crime. Foi instaurado processo administrativo. Além disso, o PGJ ofereceu denúncia criminal. Depois da
denúncia, chegou ao fim o processo administrativo e o mesmo PGJ aplicou sanção disciplinar. Ele poderia ter
feito isso. Não há, nesse caso, comprometimento da imparcialidade.
STJ. 1ª Turma. RMS 54.717-SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/08/2022 (Info 744).

Servidor já punido não pode ser novamente julgado para agravar sua pena
Depois do servidor já ter sido punido, é possível que a Administração, com base na autotutela, anule a sanção
anteriormente cominada e aplique uma nova penalidade mais gravosa?
NÃO. A decisão administrativa que põe fim ao processo administrativo, à semelhança do que ocorre no âmbito
jurisdicional, possui a característica de ser definitiva.
Logo, o servidor público já punido administrativamente não pode ser julgado novamente para que sua pena
seja agravada mesmo que fique constatado que houve vícios no processo e que ele deveria receber uma
punição mais severa.
Assim, a anulação parcial do processo administrativo disciplinar para adequar a penalidade aplicada ao
servidor, consoante pareceres do órgão correspondente, ensejando aplicação de sanção mais grave ofende o
devido processo legal e a proibição da reformatio in pejus.
STJ. 3ª Seção. MS 10.950-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 23/5/2012.
STJ. 1ª Seção. MS 11.749/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 11/06/2014.

A prorrogação do processo administrativo disciplinar, por si, não pode ser reconhecida como causa apta a
ensejar nulidade
A prorrogação do processo administrativo disciplinar, por si, não pode ser reconhecida como causa apta a
ensejar nulidade, porque não demonstrado o prejuízo consequente dessa prorrogação.
STJ. 2ª Turma. AgInt no RMS 69.803-CE, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, julgado em 9/5/2023 (Info
775).
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Excesso de prazo para conclusão do PAD


Súmula 592-STJ: O excesso de prazo para a conclusão do processo administrativo disciplinar só causa nulidade
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se houver demonstração de prejuízo à defesa.

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Inaplicabilidade do princípio da insignificância no caso de infração disciplinar que gere demissão
Deve ser aplicada a penalidade de demissão ao servidor público federal que obtiver proveito econômico
indevido em razão do cargo, independentemente do valor auferido (no caso, eram apenas R$ 40,00). Isso
porque não incide, na esfera administrativa, o princípio da insignificância quando constatada falta disciplinar
prevista no art. 132 da Lei 8.112/1990.
STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013 (Info 523).

PAD e destituição de cargo em comissão


Deve ser aplicada a penalidade de destituição de cargo em comissão na hipótese em que se constate que
servidor não ocupante de cargo efetivo, valendo-se do cargo, tenha indicado irmão, nora, genro e sobrinhos
para contratação por empresas recebedoras de verbas públicas, ainda que não haja dano ao erário ou proveito
pecuniário e independentemente da análise de antecedentes funcionais.
STJ. 1ª Seção. MS 17.811-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/6/2013 (Info 526).

Termo inicial do prazo prescricional do PAD


O art. 142, § 2º da Lei nº 8.112/90 prevê que o prazo prescricional da ação disciplinar “começa a correr da
data em que o fato se tornou conhecido”. Para que o prazo prescricional tenha início, é necessário que a
irregularidade praticada pelo servidor chegue ao conhecimento da autoridade competente para instaurar o
PAD ou o prazo já se inicia caso outras autoridades do serviço público saibam do fato?
O termo inicial da prescrição é a data do conhecimento do fato pela autoridade competente para instaurar o
Processo Administrativo Disciplinar (PAD) e não a ciência de qualquer autoridade da Administração Pública.
STJ. 1ª Seção. MS 20.615/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 08/03/2017.

Termo inicial e causa de interrupção do prazo prescricional das infrações administrativas


Súmula 635-STJ: Os prazos prescricionais previstos no art. 142 da Lei nº 8.112/1990 iniciam-se na data em que
a autoridade competente para a abertura do procedimento administrativo toma conhecimento do fato,
interrompem-se com o primeiro ato de instauração válido - sindicância de caráter punitivo ou processo
disciplinar - e voltam a fluir por inteiro, após decorridos 140 dias desde a interrupção.

Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, o prazo prescricional do processo
administrativo será aquele que for previsto no art. 109 do CP, esteja ou não esse fato sendo apurado na
esfera penal
O prazo prescricional previsto na lei penal se aplica às infrações disciplinares também capituladas como crime
independentemente da apuração criminal da conduta do servidor.
Para se aplicar a regra do § 2º do art. 142 da Lei nº 8.112/90 não se exige que o fato esteja sendo apurado na
esfera penal (não se exige que tenha havido oferecimento de denúncia ou instauração de inquérito policial).
Se a infração disciplinar praticada for, em tese, também crime, deve ser aplicado o prazo prescricional previsto
na legislação penal independentemente de qualquer outra exigência.
STJ. 1ª Seção. MS 20.857-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em
22/05/2019 (Info 651).

A administração pública, quando se vê diante de situações em que a conduta do investigado se amolda às


hipóteses de demissão e de cassação de aposentadoria de servidor, não dispõe de discricionariedade para
aplicar pena menos gravosa (Súmula 650-STJ)
Súmula 650-STJ: A autoridade administrativa não dispõe de discricionariedade para aplicar ao servidor pena
diversa de demissão quando caracterizadas as hipóteses previstas no art. 132 da Lei nº 8.112/90.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 22/09/2021.
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Em regra é dispensável a formação de litisconsório passivo necessário entre os candidatos aprovados em


concursos públicos, há exceções.

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Em regra, não é necessário a formação de litisconsórcio passivo necessário entre candidatos de concurso
público, na medida em que eles têm apenas expectativa de direito à nomeação.
Exceções:
1) em concurso público que se destinou à outorga de delegações de serventias extrajudiciais de Notas e de
Registro;
2) em concursos de promoção.
STJ. 1 ª Seção. MS 22.822/DF, Rel. p/ Acórdão Ministra Aussete Magalhães, julgado em 09/09/2020.

É válida a comprovação da escolaridade por outros meios além do diploma


Candidato foi aprovado em concurso público que exige nível superior.
Candidato não conseguiu juntar o diploma, mas comprovou a conclusão do curso superior por outros meios.
Isso é válido.
Ainda que exigido pelo edital, não pode a falta da apresentação do diploma ser óbice a assunção de cargo
público ou mesmo a contabilização de título em concurso, se por outros documentos idôneos se comprove a
conclusão do curso superior, mesmo que pendente alguma formalidade para a expedição do diploma.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1713037/DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2019.

Ainda que exigido pelo edital, não pode a falta da apresentação do diploma ser óbice a assunção de cargo
público ou mesmo a contabilização de título em concurso, se por outros documentos idôneos se comprovem
a conclusão do curso superior, mesmo que pendente alguma formalidade para expedição do diploma.
STJ. 2ª Turma. REsp 1784621/BA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 21/03/2019.

É inconstitucional ato normativo que exclui o direito dos candidatos com deficiência à adaptação razoável
em provas físicas de concursos públicos
A exclusão da previsão de adaptação das provas físicas para candidatos com deficiência viola o bloco de
constitucionalidade composto pela Constituição Federal e pela Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência – CDPD (Decreto Legislativo 186/2008), incorporada à ordem jurídica brasileira com
o “status” de Emenda Constitucional, na forma do art. 5º, § 3º, da CF/88.
Duas teses fixadas pelo STF para o tema:
1) É inconstitucional a interpretação que exclui o direito de candidatos com deficiência à adaptação razoável
em provas físicas de concursos públicos.
2) É inconstitucional a submissão genérica de candidatos com e sem deficiência aos mesmos critérios em
provas físicas, sem a demonstração da sua necessidade para o exercício da função pública.
STF. Plenário. ADI 6476/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3/9/2021 (Info 1028).

É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos no edital
por motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos
Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível a realização de etapas de concurso público em
datas e horários distintos dos previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência por motivo
de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos
os candidatos e que não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de
maneira fundamentada.
STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11,
25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).

A candidata que esteja gestante no dia do teste físico possui o direito de fazer a prova em uma nova data
no futuro
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Os candidatos possuem direito à segunda chamada nos testes físicos em concursos públicos?
REGRA: NÃO.
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Os candidatos em concurso público NÃO têm direito à prova de segunda chamada nos testes de aptidão física
em razão de circunstâncias pessoais, ainda que de caráter fisiológico ou de força maior, salvo se houver
previsão no edital permitindo essa possibilidade.
STF. Plenário. RE 630733/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/5/2013 (repercussão geral) (Info 706).
STJ. 1ªTurma. REsp 1.597.570/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/10/2018
STJ. 2ªTurma REsp 1.721.068/MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/05/2018.

EXCEÇÃO: as candidatas gestantes possuem.


É constitucional a remarcação do teste de aptidão física de candidata que esteja grávida à época de sua
realização, independentemente da previsão expressa em edital do concurso público.
STF. Plenário. RE 1058333/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/11/2018 (repercussão geral) (Info 924).

É constitucional a remarcação de curso de formação para o cargo de agente penitenciário feminino de


candidata que esteja lactante à época de sua realização, independentemente da previsão expressa em edital
do concurso público.
STJ. 1ª Turma. RMS 52622-MG, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/03/2019 (Info 645).

É inconstitucional o parágrafo único do art. 137 da Lei 8.112/90, que proíbe o retorno ao serviço público
federal de servidor condenado pela prática de determinados fatos graves
O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público federal de
servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a Administração Pública, improbidade
administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio
nacional e corrupção.
Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88, que afirma que não haverá penas de caráter perpétuo.
STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020.

É possível a cassação de aposentadoria de servidor público pela prática, na atividade, de falta disciplinar
punível com demissão
A pena de cassação de aposentadoria é compatível com a Constituição Federal, a despeito do caráter
contributivo conferido àquela, especialmente porque nada impede que, na seara própria, haja o acertamento
de contas entre a administração e o servidor aposentado punido. Assim, constatada a existência de infração
disciplinar praticada enquanto o servidor estiver na ativa, o ato de aposentadoria não se transforma num salvo
conduto para impedir o sancionamento do ilícito pela administração pública. Faz-se necessário observar o
regramento contido na Lei n. 8.112/1990, aplicando-se a penalidade compatível com as infrações apuradas.
STJ. 1ª Seção. MS 23.608-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em
27/11/2019 (Info 666).
STF. 2ª Turma. AgR no ARE 1.092.355, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 17/5/2019.

Possibilidade de execução imediata de penalidade imposta em PAD


Determinado servidor público federal recebeu pena de demissão em processo administrativo disciplinar
contra si instaurado. O servidor interpôs recurso administrativo contra a decisão proferida. Ocorre que, antes
mesmo de ser julgado o recurso, a Administração Pública já cessou o pagamento da remuneração do servidor
e o afastou das funções.
É possível que a sanção aplicada seja desde logo executada mesmo que ainda esteja pendente recurso
interposto no âmbito administrativo? SIM. É possível o cumprimento imediato da penalidade imposta ao
servidor logo após o julgamento do PAD e antes do julgamento do recurso administrativo cabível.
Não há qualquer ilegalidade na imediata execução de penalidade administrativa imposta em PAD a servidor
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público, ainda que a decisão não tenha transitado em julgado administrativamente.


STJ. 1ª Seção. MS 19.488-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/3/2015 (Info 559).
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Competência para instaurar e julgar PAD relacionado com servidor cedido

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A instauração de processo disciplinar contra servidor efetivo cedido deve ocorrer, preferencialmente, no
órgão em que tenha sido praticada a suposta irregularidade. Por outro lado, o julgamento e a eventual
aplicação de sanção só podem ocorrer no órgão ao qual o servidor efetivo estiver vinculado.
STJ. Corte Especial. MS 21.991-DF, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 16/11/2016 (Info 598).

Estado responde subsidiariamente caso a prova do concurso público seja suspensa ou cancelada por indícios
de fraude; a responsabilidade direta é da instituição organizadora
O Estado responde subsidiariamente por danos materiais causados a candidatos em concurso público
organizado por pessoa jurídica de direito privado (art. 37, § 6º, da CRFB/88), quando os exames são cancelados
por indícios de fraude.
STF. Plenário. RE 662405, Rel. Luiz Fux, julgado em 29/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 512) (Info 986 –
clipping).

Candidato só pode ser excluído de concurso público por não se enquadrar na cota para negros se houver
contraditório e ampla defesa
A exclusão do candidato, que concorre à vaga reservada em concurso público, pelo critério da
heteroidentificação, seja pela constatação de fraude, seja pela aferição do fenótipo ou por qualquer outro
fundamento, exige o franqueamento do contraditório e da ampla defesa.
STJ. 2ª Turma. RMS 62.040-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/12/2019 (Info 666).

Restrição a candidatos com tatuagem


Editais de concurso público não podem estabelecer restrição a pessoas com tatuagem, salvo situações
excepcionais em razão de conteúdo que viole valores constitucionais.
STF. Plenário. RE 898450/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 17/8/2016 (repercussão geral) (Info 835).

Mandado de segurança não serve para questionar o parecer da comissão examinadora de


heteroidentificação, que não aceitou a autodeclaração de cotista em concurso
É inadequado o manejo de mandado de segurança com vistas à defesa do direito de candidato em concurso
público a continuar concorrendo às vagas reservadas às pessoas pretas ou pardas, quando a comissão
examinadora de heteroidentificação não confirma a sua autodeclaração.
STJ. 1ª Turma. RMS 58.785-MS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/08/2022 (Info 746).

Não é legítima a cláusula de edital de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo
simples fato de responder a inquérito ou a ação penal, salvo se essa restrição for instituída por lei e se
mostrar constitucionalmente adequada
Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital de
concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito ou a
ação penal.
STF. Plenário. RE 560900/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 5 e 6/2/2020 (repercussão geral – Tema
22) (Info 965).

A prerrogativa da escolha do momento para a nomeação de candidato, aprovado dentro das vagas
ofertadas em concurso público, é da Administração Pública, durante o prazo de validade do certame
Embora o candidato aprovado dentro das vagas ofertadas em concurso público tenha direito público subjetivo
à nomeação, a prerrogativa da escolha do momento para a prática do ato é da Administração Pública, durante
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o prazo de validade do certame.


STJ. 2ª Turma. RMS 68657-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 27/9/2022 (Info Especial 8).
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A exigência de teste de aptidão física é legítima quando prevista em lei, guardar relação de pertinência com
as atividades a serem desenvolvidas, estiver pautada em critérios objetivos e for passível de recurso
Em concurso público, o teste de capacidade física somente pode ser exigido se:
a) houver previsão na lei que criou o cargo (não pode ser previsto apenas no edital do certame);
b) tiver relação (razoabilidade) com as funções do cargo;
c) estiver pautado em critérios objetivos;
d) for passível de recurso.
STJ. 1ª Turma. AgInt nos EDcl no RMS 56.200/PE, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 07/08/2018.
STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 39.181/BA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 11/11/2014.
STJ. 6ª Turma. RMS 26.927/RO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 04/08/2011.

Momento para comprovação do limite de idade


O limite de idade, quando regularmente fixado em lei e no edital de determinado concurso público, há de ser
comprovado no momento da inscrição no certame.
STF. 1ª Turma. ARE 840.592/CE, Min. Roberto Barroso, julgado em 23/6/2015 (Info 791).

Surdez unilateral NÃO é considerada deficiência para fins de concurso público.


Cegueira unilateral É considerada deficiência para fins de concurso público.

Pandemia, crise econômica e limite prudencial atingido para despesas com pessoal não são motivos
suficientes para se deixar de nomear o candidato aprovado dentro do número de vagas do concurso público
Para a recusa à nomeação de aprovados dentro do número de vagas em concurso público devem ficar
comprovadas as situações excepcionais elencadas pelo Supremo Tribunal Federal no RE 598.099/MS, não
sendo suficiente a alegação de estado das coisas - pandemia, crise econômica, limite prudencial atingido para
despesas com pessoal -, tampouco o alerta da Corte de Contas acerca do chamado limite prudencial.
A recusa à nomeação dos candidatos aprovados dentro do número de vagas deve ser a última das alternativas,
somente sendo adotada quando realmente já não houver outra saída para a Administração Pública.
STJ. 1ª Turma. RMS 66.316-SP, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região),
julgado em 19/10/2021 (Info 715).

O prazo para se questionar a preterição de nomeação de candidato em concurso público é de 5 anos,


contado da data em que o outro servidor foi nomeado no lugar do aprovado
Nos casos de preterição de candidato na nomeação em concurso público, o termo inicial do prazo prescricional
quinquenal recai na data em que foi nomeado outro servidor no lugar do aprovado no certame.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1.643.048-GO, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 05/03/2020 (Info 668).

Posse em cargo público por determinação judicial e dever de indenizar


O candidato que teve postergada a assunção em cargo por conta de ato ilegal da Administração tem direito a
receber a remuneração retroativa?
Regra: NÃO. Não cabe indenização a servidor empossado por decisão judicial sob o argumento de que houve
demora na nomeação. Dito de outro modo, a nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão
judicial não gera direito à indenização.
Exceção: será devida indenização se ficar demonstrado, no caso concreto, que o servidor não foi nomeado
logo por conta de uma situação de arbitrariedade flagrante.
Nas exatas palavras do STF: “Na hipótese de posse em cargo público determinada por decisão judicial, o
servidor não faz jus à indenização, sob fundamento de que deveria ter sido investido em momento anterior,
salvo situação de arbitrariedade flagrante.”
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STF. Plenário. RE 724347/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 26/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
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A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público não gera direito à indenização, ainda que a
demora tenha origem em erro reconhecido pela própria Administração Pública.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.238.344-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 30/11/2017 (Info 617).

A nomeação tardia a cargo público em decorrência de decisão judicial não gera direito à promoção
retroativa
A nomeação tardia de candidatos aprovados em concurso público, por meio de ato judicial, à qual atribuída
eficácia retroativa, não gera direito às promoções ou progressões funcionais que alcançariam se houvesse
ocorrido, a tempo e modo, a nomeação.
STF. Plenário. RE 629392 RG/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/6/2017 (repercussão geral) (Info 868).

Teoria do fato consumado: inaplicabilidade em concurso público


O candidato que toma posse em concurso público por força de decisão judicial precária assume o risco de
posterior reforma desse julgado que, em razão do efeito “ex tunc”, inviabiliza a aplicação da teoria do fato
consumado em tais hipóteses.
A posse ou o exercício em cargo público por força de decisão judicial de caráter provisório não implica a
manutenção, em definitivo, do candidato que não atende a exigência de prévia aprovação em concurso
público (CF, art. 37, II), valor constitucional que prepondera sobre o interesse individual do candidato, que não
pode invocar, na hipótese, o princípio da proteção da confiança legítima, pois conhece a precariedade da
medida judicial.
Em suma, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público por força
de decisão judicial provisória posteriormente revista.
STF. Plenário. RE 608482/RN, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/8/2014 (repercussão geral) (Info 753).
STF. 1ª Turma. RMS 31538/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado em
17/11/2015 (Info 808).

Não se pode cassar a aposentadoria do servidor que ingressou no serviço público por força de provimento
judicial precário e se aposentou durante o processo, antes da decisão ser reformada
Em regra, não produzem fato consumado a posse e o exercício em cargo público decorrentes de decisão
judicial tomada à base de cognição não-exauriente.
Em outras palavras, não se aplica a teoria do fato consumado para candidatos que assumiram o cargo público
por força de decisão judicial provisória posteriormente revista. Trata-se do entendimento firmado no RE
608482/RN (Tema 476).
A situação é diferente, contudo, se a pessoa, após permanecer vários anos no cargo, conseguiu a concessão
de aposentadoria. Neste caso, em razão do elevado grau de estabilidade da situação jurídica, o princípio da
proteção da confiança legítima incide com maior intensidade. Trata-se de uma excepcionalidade que autoriza
a distinção (distinguish) quanto ao leading case do RE 608482/RN (Tema 476).
STF. 1ª Turma. RE 740029 AgR/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 14/8/2018 (Info 911).

Em casos excepcionais, em que a restauração da estrita legalidade ocasionaria mais danos sociais que a
manutenção da situação consolidada pelo decurso do tempo, a jurisprudência do STJ é firme no sentido de
admitir a aplicação da teoria do fato consumado
Em regra, o STJ acompanha o entendimento do STF e decide que é inaplicável a teoria do fato consumado aos
concursos públicos, não sendo possível o aproveitamento do tempo de serviço prestado pelo servidor que
tomou posse por força de decisão judicial precária, para efeito de estabilidade.
Contudo, em alguns casos, o STJ afirma que existem situações excepcionais nas quais a solução padronizada
ocasionaria mais danos sociais do que a manutenção da situação consolidada, impondo-se o distinguishing, e
52

possibilitando a contagem do tempo de serviço prestado por força de decisão liminar, em necessária
flexibilização da regra.
Página

STJ. 1ª Turma. AREsp 883.574-MS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

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Inexistência de direito à remoção para acompanhamento de cônjuge que foi removido a pedido (art. 36 da
Lei 8.112/90)
O servidor público federal somente tem direito à remoção prevista no art. 36, parágrafo único, III, "a", da Lei
nº 8.112/90, na hipótese em que o cônjuge/companheiro, também servidor, tenha sido deslocado de ofício,
para atender ao interesse da Administração (nos moldes do inciso I do mesmo dispositivo legal).
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.247.360-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/11/2017 (Info 617).

Não se aplica a teoria do fato consumado para remoção realizada fora das hipóteses legais
A “teoria do fato consumado" não pode ser aplicada para consolidar remoção de servidor público destinada a
acompanhamento de cônjuge, em hipótese que não se adequa à legalidade estrita, ainda que tal situação haja
perdurado por vários anos em virtude de decisão liminar não confirmada por ocasião do julgamento de mérito.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.157.628-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/12/2016 (Info 598).

Governador é parte ilegítima em MS contra ato de concurso estadual no qual o candidato quer pontuação
O Governador do Estado é parte ilegítima para figurar como autoridade coatora em mandado de segurança
no qual o impetrante busque a atribuição da pontuação referente a questão de concurso público realizado
para o provimento de cargos do quadro de pessoal da respectiva unidade federativa.
STJ.2ª Turma. AgRg no RMS 37.924-GO, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 9/4/2013 (Info 519).

Termo inicial do mandado de segurança envolvendo concurso público


O termo inicial do prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança no qual se discuta regra
editalícia que tenha fundamentado eliminação em concurso público é a data em que o candidato toma ciência
do ato administrativo que determina sua exclusão do certame, e não a da publicação do edital do certame.
STJ. Corte Especial. REsp 1.124.254-PI, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 1º/7/2014 (Info 545).

Impossibilidade de ampliação de jornada de trabalho sem alteração da remuneração do servidor


O STF possui entendimento consolidado no sentido de que o servidor público não tem direito adquirido de
manter o regime jurídico existente no momento em que ingressou no serviço público. No entanto, as
mudanças no regime jurídico do servidor não podem reduzir a sua remuneração, considerando que o art. 37,
XV, da CF/88 assegura o princípio da irredutibilidade dos vencimentos.
No caso concreto, os servidores de determinado órgão público tinham jornada de trabalho de 20 horas
semanais. Foi editada, então, uma Lei aumentando a jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem,
contudo, majorar a remuneração paga.
O STF entendeu que a lei que alterou a jornada de trabalho não poderia ser aplicada aos servidores que, antes
de sua edição, já estivessem legitimamente subordinados à carga horária inferior. Isso porque, se fossem
obrigados a trabalhar mais sem aumento da remuneração, haveria uma redução proporcional dos
vencimentos recebidos.
Assim, nas hipóteses em que houver aumento de carga horária dos servidores, essa só será válida se houver
formal elevação proporcional da remuneração; caso contrário, a regra será inconstitucional, por violação da
norma constitucional da irredutibilidade vencimental.
STF. Plenário. ARE 660010/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 30/10/2014 (repercussão geral) (Info 762).
STF. Plenário. MS 25875/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 9/10/2014 (Info 762).

É possível que o servidor público cumpra seus deveres funcionais em dias alternativos por motivos religiosos,
desde que cumpridos alguns requisitos
Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível à Administração Pública, inclusive durante o
estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício dos deveres funcionais inerentes
53

aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de consciência por motivos de crença religiosa,
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desde que presentes a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento do exercício de suas

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funções e não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira
fundamentada.
STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11,
25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000).

É inconstitucional remunerar servidor público, mesmo que exerça jornada de trabalho reduzida, em patamar
inferior a um salário mínimo
É defeso (proibido) o pagamento de remuneração em valor inferior ao salário mínimo ao servidor público,
ainda que labore em jornada reduzida de trabalho.
STF. Plenário. RE 964659/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 5/8/2022 (Repercussão Geral – Tema 900) (Info
1062).

Se o servidor público federal trabalha exposto à radiação, sua jornada semanal máxima será de 24 horas;
todas as horas que ultrapassarem esse limite deverão ser pagas como horas extras
Os servidores públicos federais expostos à radiação fazem jus à jornada de vinte e quatro horas semanais,
sendo-lhes assegurado o pagamento de horas extras em relação a todo o período trabalhado além desse
limite, sob pena de enriquecimento indevido da Administração.
STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 1565474-RJ, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da
5ª Região), julgado em 29/11/2022 (Info Especial 8).

É inconstitucional a previsão de pensão mensal vitalícia para dependentes de prefeitos e vice-prefeitos em


razão do mero exercício do mandato eletivo
Contraria a ordem constitucional vigente — por se tratar de benefício incompatível com a sua sistemática
previdenciária e com os princípios republicano e da igualdade — o pagamento de pensão especial a ex-
detentor de cargo público e a seus dependentes.
Tese fixada pelo STF:
São incompatíveis com a Constituição Federal de 1988 a concessão e, ainda, a continuidade do pagamento de
pensões mensais vitalícias não decorrentes do RGPS a dependentes de prefeitos e vice-prefeitos, em razão do
mero exercício do mandato eletivo.
STF. Plenário. ADPF 783/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/3/2023 (Info 1085).

Não há qualquer obstáculo ao recebimento acumulado de dois benefícios de pensão por morte se eles
decorrerem de cargos acumuláveis, expressamente previstos no art. 37, XVI, da CF/88
Em se tratando de cargos constitucionalmente acumuláveis, descabe aplicar a vedação de acumulação de
aposentadorias e pensões contida na parte final do art. 11 da Emenda Constitucional 20/1998, porquanto
destinada apenas aos casos de que trata, ou seja, aos reingressos no serviço público por meio de concurso
público antes da publicação da referida emenda e que envolvam cargos inacumuláveis.
STF. Plenário. RE 658999/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 627)
(Info 1080).

Não é compatível com a CF a norma que permita a convocação temporária de profissionais, sem vínculo
com a administração pública, para funções de magistério na educação básica e superior do estado nos casos
de vacância de cargo efetivo
É inconstitucional norma estadual que, de maneira genérica e abrangente, permite a convocação temporária
de profissionais da área da educação sem prévio vínculo com a Administração Pública para suprir vacância de
cargo público efetivo.
STF. Plenário. ADPF 915/MG, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/5/2022 (Info 1055).
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Não há prescrição de fundo de direito nas ações em que se busca a concessão do benefício de pensão por
morte
Não é possível inviabilizar o pedido de concessão do benefício previdenciário ou de seu restabelecimento em
razão do transcurso de quaisquer lapsos temporais - seja decadencial ou prescricional.
Diante da decisão do STF na ADI 6.096/DF, não é possível inviabilizar o próprio pedido de concessão do
benefício (ou de restabelecimento), em razão do transcurso de quaisquer lapsos temporais - seja decadencial
ou prescricional -, de modo que a prescrição se limita apenas às parcelas pretéritas vencidas no quinquênio
que precedeu à propositura da ação, nos termos da Súmula 85/STJ.
Assim, fica superado o entendimento firmado pelo STJ nos EDcl nos EREsp 1.269.726/MG, tendo em vista que
o art. 102, § 2º, da CF/1988 confere efeito vinculante às decisões definitivas em sede de ADI em relação aos
demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta nos âmbitos federal, estadual e
municipal.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1805428-PB, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF5),
julgado em 17/05/2022 (Info 737).

A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui ascensão funcional, vedada pelo
art. 37, II, da CF/88
A equiparação de carreira de nível médio a outra de nível superior constitui ascensão funcional, vedada pelo
art. 37, II, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3199, Rel. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020 (Info 977).

Os Correios têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) tem o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão
de seus empregados.
STF. Plenário. RE 589998 ED/PI, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 10/10/2018 (repercussão geral) (Info
919).

A progressão funcional não está elencada no rol de proibições do art. 22, parágrafo único, da LRF (limite
prudencial)
É ilegal o ato de não concessão de progressão funcional de servidor público, quando atendidos todos os
requisitos legais, a despeito de superados os limites orçamentários previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal,
referentes a gastos com pessoal de ente público, tendo em vista que a progressão é direito subjetivo do
servidor público, decorrente de determinação legal, estando compreendida na exceção prevista no inciso I do
parágrafo único do art. 22 da Lei Complementar n. 101/2000.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.878.849-TO, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador Convocado do TRF da 5ª região),
julgado em 24/02/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1075) (Info 726).

Vedação de vinculação de vencimentos e SV 42


Súmula vinculante 42-STF: É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores estaduais
ou municipais a índices federais de correção monetária.
Aprovada pelo Plenário do STF em 12/03/2015.

Inconstitucionalidade de subsídio vitalício a ex-governador


Algumas Constituições estaduais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Governador do Estado
fará jus, após deixar o mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns chamam isso de representação, outros
de pensão vitalícia e outros de pensão civil. A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88?
NÃO. Essa regra fere o princípio da isonomia. Não há uma justificativa razoável para que seja prevista
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genericamente a concessão da “pensão” para ex-governadores, configurando um tratamento privilegiado sem


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haver fundamento legítimo.


STF. Plenário. ADI 4552 MC/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 9/4/2015 (Info 780).

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É inconstitucional o pagamento de subsídio mensal e vitalício a ex-Vereadores, assim, como o pagamento
de pensão por morte aos dependentes dos ex-ocupantes deste cargo
Algumas leis municipais preveem que a pessoa que tiver exercido o cargo de Vereador fará jus, após deixar o
mandato, a um subsídio mensal e vitalício. Alguns chamam isso de representação, outros de pensão vitalícia
e outros de pensão civil. A previsão desse pagamento é compatível com a CF/88? NÃO. O STF fixou a seguinte
tese a respeito do tema: Lei municipal a versar a percepção, mensal e vitalícia, de “subsídio” por ex-vereador
e a consequente pensão em caso de morte não é harmônica com a Constituição Federal de 1988.
STF. Plenário. RE 638307/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/12/2019 (Tema 672 – repercussão geral)
(Info 964).

Administração Pública deve descontar os dias não trabalhados por servidor público em greve
A administração pública deve proceder ao desconto dos dias de paralisação decorrentes do exercício do direito
de greve pelos servidores públicos, em virtude da suspensão do vínculo funcional que dela decorre. É
permitida a compensação em caso de acordo. O desconto será, contudo, incabível se ficar demonstrado que
a greve foi provocada por conduta ilícita do Poder Público.
STF. Plenário. RE 693456/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 27/10/2016 (repercussão geral) (Info 845).

O desconto dos dias parados pode ser feito de forma parcelada


Não se mostra razoável a possibilidade de desconto em parcela única sobre a remuneração do servidor público
dos dias parados e não compensados provenientes do exercício do direito de greve.
STJ. 2ª Turma. RMS 49.339-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 6/10/2016 (Info 592).

Policiais são proibidos de fazer greve


O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os
servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública. É obrigatória a participação do
Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de segurança pública, nos termos
do art. 165 do CPC, para vocalização dos interesses da categoria.
STF. Plenário. ARE 654432/GO, Rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 5/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

Compete à Justiça Comum (estadual ou federal) decidir se a greve realizada por servidor público é ou não
abusiva
A justiça comum, federal ou estadual, é competente para julgar a abusividade de greve de servidores públicos
celetistas da Administração pública direta, autarquias e fundações públicas.
STF. Plenário. RE 846854/SP, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
1º/8/2017 (repercussão geral) (Info 871).

Cabe à Justiça Comum (estadual ou federal) julgar ações contra concurso público realizado por órgãos e
entidades da Administração Pública para contratação de empregados celetistas
Compete à Justiça Comum processar e julgar controvérsias relacionadas à fase pré-contratual de seleção e de
admissão de pessoal e eventual nulidade do certame em face da Administração Pública, direta e indireta, nas
hipóteses em que adotado o regime celetista de contratação de pessoas, salvo quando a sentença de mérito
tiver sido proferida antes de 6 de junho de 2018, situação em que, até o trânsito em julgado e a sua execução,
a competência continuará a ser da Justiça do Trabalho.
STF. Plenário. RE 960429 ED-segundos, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2020 (Repercussão Geral
– Tema 992).
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Revisão anual de vencimentos não é obrigatória, mas chefe do Executivo deve justificar
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O não encaminhamento de projeto de lei de revisão anual dos vencimentos dos servidores públicos, previsto
no inciso X do art. 37 da CF/88, não gera direito subjetivo a indenização. Deve o Poder Executivo, no entanto,
se pronunciar, de forma fundamentada, acerca das razões pelas quais não propôs a revisão.
STF. Plenário. RE 565089 /SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
25/9/2019 (repercussão geral – Tema 19) (Info 953).

Judiciário não pode obrigar que o chefe do Poder Executivo encaminhe o projeto de lei para revisão geral
anual dos servidores
O Poder Judiciário não possui competência para determinar ao Poder Executivo a apresentação de projeto de
lei que vise a promover a revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos, tampouco para fixar o
respectivo índice de correção.
STF. Plenário. RE 843112, Rel. Luiz Fux, julgado em 22/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 624) (Info 998).

Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da
honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre
os demais jurisdicionados em geral for evidente
Suponha, contudo, que uma autarquia foi vítima de grande esquema criminoso que desviou vultosa quantia e
gerou grande repercussão na imprensa, acarretando descrédito em sua credibilidade institucional. Neste caso,
os particulares envolvidos poderiam ser condenados a pagar indenização por danos morais à autarquia?
SIM. Pessoa jurídica de direito público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da
honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida e o dano reflexo sobre os
demais jurisdicionados em geral for evidente.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.722.423-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/11/2020 (Info 684).

A concessão de aposentadoria ao empregado público, com utilização do tempo de contribuição, acarreta


obrigatoriamente o rompimento do vínculo trabalhista?
A justiça comum é competente para processar e julgar ação em que se discute a reintegração de empregados
públicos dispensados em face da concessão de aposentadoria espontânea.
A concessão de aposentadoria, com utilização do tempo de contribuição, leva ao rompimento do vínculo
trabalhista nos termos do art. 37, § 14, da CF. Entretanto, é possível a manutenção do vínculo trabalhista, com
a acumulação dos proventos com o salário, se a aposentadoria se deu pelo RGPS antes da promulgação da EC
103/2019.
Tese fixada pelo STF:
A natureza do ato de demissão de empregado público é constitucional-administrativa e não trabalhista, o que
atrai a competência da Justiça comum para julgar a questão.
A concessão de aposentadoria aos empregados públicos inviabiliza a permanência no emprego, nos termos
do art. 37, § 14, da Constituição Federal, salvo para as aposentadorias concedidas pelo Regime Geral de
Previdência Social até a data de entrada em vigor da Emenda Constitucional 103/19, nos termos do que dispõe
seu art. 6º.
STF. Plenário. RE 655283/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
16/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 606) (Info 1022).

A instituição do teto teve eficácia imediata e todas as remunerações tiveram que se submeter a ele
O teto de retribuição fixado pela EC nº 41/2003 é de eficácia imediata e todas as verbas de natureza
remuneratória recebidas pelos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
devem se submeter a ele, ainda que adquiridas de acordo com regime legal anterior.
A aplicação imediata da EC nº 41/2003 e a redução das remunerações acima do teto não afrontou o princípio
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da irredutibilidade nem violou a garantia do direito adquirido.


Em outras palavras, com a EC nº 41/2003, quem recebia acima do teto fixado, teve a sua remuneração
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reduzida para respeitar o teto. Essa redução foi legítima.

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STF. Plenário. RE 609381/GO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 2/10/2014 (Info 761).

Vantagens pessoais também devem estar dentro do teto, mesmo que anteriores à EC 41/2003
Alguns servidores continuavam tentando excluir do teto as vantagens pessoais que haviam adquirido antes da
EC 41/2003 (que implementou, na prática, o teto no funcionalismo). Argumentavam que a garantia da
irredutibilidade de vencimentos, modalidade qualificada de direito adquirido, impediria que as vantagens
percebidas antes da vigência da EC 41/2003 fossem por ela alcançadas. O STF acolheu esse argumento? As
vantagens pessoais anteriores à EC 41/2003 estão fora do teto?
NÃO. Computam-se para efeito de observância do teto remuneratório do artigo 37, XI, da Constituição da
República, também os valores percebidos anteriormente à vigência da EC 41/2003 a título de vantagens
pessoais pelo servidor público, dispensada a restituição de valores eventualmente recebidos em excesso e de
boa-fé até o dia 18/11/2015.
STF. Plenário. RE 606358/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/11/2015 (repercussão geral) (Info 808).

Se o servidor público recebe remuneração (ou aposentadoria) mais pensão, a soma dos dois valores não
pode ultrapassar o teto
Ocorrida a morte do instituidor da pensão em momento posterior ao da Emenda Constitucional 19/1998, o
teto constitucional previsto no inciso XI do art. 37 da Constituição Federal incide sobre o somatório de
remuneração ou provento e pensão percebida por servidor.
STF. Plenário. RE 602584/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 6/8/2020 (Repercussão Geral – Tema 359)
(Info 985).

Teto remuneratório de Procuradores Municipais é o subsídio de Desembargador de TJ


A expressão "Procuradores", contida na parte final do inciso XI do art. 37 da Constituição da República,
compreende os procuradores municipais, uma vez que estes se inserem nas funções essenciais à Justiça,
estando, portanto, submetidos ao teto de 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) do
subsídio mensal, em espécie, dos ministros do STF.
STF. Plenário. RE 663696/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 28/2/2019 (Info 932).

Contratação sem concurso público e ausência de efeitos trabalhistas


É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia aprovação em
concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação ao empregado
eventualmente contratado, ressalvados:
• o direito de ele receber os salários referentes ao período trabalhado; e
• o direito de ele levantar os depósitos do FGTS (art. 19-A da Lei 8.036/90).
STF. Plenário. RE 705140/RS, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 28/8/2014 (repercussão geral) (Info 756).

Constitucionalidade do art. 19-A da Lei 8.036/90


É nula a contratação de pessoal pela Administração Pública sem a observância de prévia aprovação em
concurso público, razão pela qual não gera quaisquer efeitos jurídicos válidos em relação aos empregados
eventualmente contratados, ressalvados os direitos à percepção dos salários referentes ao período trabalhado
e, nos termos do art. 19-A da Lei 8.036/90, ao levantamento dos depósitos efetuados no Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço — FGTS.
Neste julgado, o STF declarou que o art. 19-A da Lei 8.036/90 é CONSTITUCIONAL.
STF. Plenário. ADI 3127/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/3/2015 (Info 779).

Se a pessoa acumular licitamente dois cargos públicos ela poderá receber acima do teto
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Nos casos autorizados constitucionalmente de acumulação de cargos, empregos e funções, a incidência do


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art. 37, XI, da Constituição Federal pressupõe consideração de cada um dos vínculos formalizados, afastada a
observância do teto remuneratório quanto ao somatório dos ganhos do agente público.

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Ex: se determinado Ministro do STF for também professor da UnB, ele irá receber seu subsídio integral como
Ministro e mais a remuneração decorrente do magistério. Nesse caso, o teto seria considerado
especificamente para cada cargo, sendo permitido que ele receba acima do limite previsto no art. 37, XI da CF
se considerarmos seus ganhos globais.
STF. Plenário. RE 612975/MT e RE 602043/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 26 e 27/4/2017
(repercussão geral) (Info 862).

Inaplicabilidade da recondução do art. 29, I, da Lei 8.112/90 por analogia


Se a legislação estadual não prevê a recondução, é possível aplicar a Lei 8.112/90 por analogia?
NÃO. Não é possível a aplicação, por analogia, do instituto da recondução previsto no art. 29, I, da Lei
8.112/1990 a servidor público estadual na hipótese em que o ordenamento jurídico do estado for omisso
acerca desse direito.
Segundo a jurisprudência do STJ, somente é possível aplicar, por analogia, a Lei 8.112/90, aos servidores públicos
estaduais e municipais se houver omissão, na legislação estadual ou municipal, sobre direito de cunho
constitucional e que seja autoaplicável e desde que tal situação não gere o aumento de gastos. Ex: aplicação, por
analogia, das regras da Lei 8.112/90 sobre licença para acompanhamento de cônjuge a determinado servidor
estadual cuja legislação não prevê esse afastamento (RMS 34.630⁄AC, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, julgado em 18/10/2011). Nesse exemplo, o STJ reconheceu que a analogia se justificava para proteção da
unidade família, valor protegido constitucionalmente (art. 226 da CF/88).
No caso da recondução, contudo, não é possível a analogia porque esse direito não tem cunho constitucional.
STJ. 2ª Turma. RMS 46.438-MG, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/12/2014 (Info 553).

O Tribunal de Contas tem o prazo de 5 anos para julgar a legalidade do ato de concessão inicial de
aposentadoria, reforma ou pensão, prazo esse contado da chegada do processo à Corte de Contas
Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos
ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma
ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas.
STF. Plenário. RE 636553/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2020 (repercussão geral – Tema 445)
(Info 967).

Na falta de lei específica que regulamente a aposentadoria especial dos servidores públicos portadores de
deficiência (art. 40, § 4º, I, da CF/88), deve ser aplicada a LC 142/2013, que trata sobre a aposentadoria
especial de pessoas com deficiência no RGPS
O art. 40, § 4º, I, da CF/88 prevê que o servidor público com deficiência possui direito à aposentadoria com
requisitos e critérios diferenciados (aposentadoria especial). Ocorre que o dispositivo constitucional exige que
uma lei complementar regulamente essa aposentadoria, sendo, portanto, uma norma constitucional de
eficácia limitada.
Até o presente momento, não foi editada essa lei complementar, havendo, portanto, uma omissão
inconstitucional.
Diante disso, a LC nº 142/2013, que regulamentou a aposentadoria especial de pessoas com deficiência no
Regime Geral de Previdência Social, deve ser aplicada aos pedidos de aposentadoria de servidores públicos
com deficiência, por se tratar de diploma mais adequado para suprir a omissão na regulamentação do art. 40,
§ 4º, I, da CF/1988.
Assim, o servidor público com deficiência possui o direito de ver analisado o requerimento de aposentadoria
especial apresentado com base no art. 40, § 4º, I, da CF/88 utilizando-se das normas da LC 142/2013.
STF. 1ª Turma. MI 6818/DF e MI 6988/RR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados em 13/8/2019 (Info 947).
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Aposentadoria compulsória não se aplica a cargos comissionados


Os servidores ocupantes de cargo exclusivamente em comissão não se submetem à regra da aposentadoria
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compulsória prevista no art. 40, § 1º, II, da CF, a qual atinge apenas os ocupantes de cargo de provimento
efetivo, inexistindo, também, qualquer idade limite para fins de nomeação a cargo em comissão.

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Ressalvados impedimentos de ordem infraconstitucional, não há óbice constitucional a que o servidor efetivo,
aposentado compulsoriamente, permaneça no cargo comissionado que já desempenhava ou a que seja
nomeado para cargo de livre nomeação e exoneração, uma vez que não se trata de continuidade ou criação
de vínculo efetivo com a Administração.
STF. Plenário. RE 786540/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/12/2016 (repercussão geral) (Info 851).

Regime próprio de previdência social e contribuição previdenciária de inativos


O Estado-membro pode tratar sobre o regime próprio de previdência social de seus servidores por meio de
lei, não sendo necessário que tal regulamentação seja feita na Constituição estadual.
As normas estaduais, contudo, deverão observar as regras da CF/88, em especial aquelas previstas no art. 40.
Determinada lei estadual previu que os servidores públicos aposentados e pensionistas que fossem portadores
de doenças incapacitantes não iriam pagar contribuição previdenciária (seriam isentos). O STF afirmou que
essa regra estadual está em confronto com o § 21 do art. 40 da CF/88, considerando que a Carta Federal previu
que os servidores públicos aposentados e pensionistas que sejam portadores de doenças incapacitantes
devem pagar contribuição previdenciária se o valor dos proventos por eles recebidos superar o dobro do teto
do RGPS (dobro do maior valor de aposentadoria do INSS).
Assim, a norma da lei estadual deve receber interpretação conforme para que respeite essa previsão do art.
40, § 21 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3477/RN, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 4/3/2015 (Info 776).

Lei que institua hipóteses abrangentes e genéricas é inconstitucional


O STF decidiu que a lei do ente federativo regulamentando o art. 37, IX, da CF/88 não poderá prever hipóteses
abrangentes e genéricas de contratações temporárias sem concurso público.
Além disso, essa lei deverá especificar a contingência fática que caracteriza a situação de emergência.
A Lei questionada no STF era do Município de Bertópolis/MG e dizia que seria possível a contratação
temporária para “suprir necessidades de pessoal na área do magistério”.
Os Ministros entenderam que a lei municipal permitia, de forma genérica e abrangente, a contratação
temporária de profissionais para a realização de atividade essencial e permanente (magistério), sem descrever
as situações excepcionais e transitórias que fundamentam esse ato, como calamidades e exonerações em
massa, por exemplo.
STF. Plenário. RE 658026/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 9/4/2014 (Info 742).

Competência para julgar demandas propostas por servidores temporários contra a Administração
A justiça comum é competente para processar e julgar causas em que se discuta a validade de vínculo jurídico-
administrativo entre o poder público e servidores temporários.
Dito de outra forma: a Justiça competente para julgar litígios envolvendo servidores temporários (art. 37, IX,
da CF/88) e a Administração Pública é a JUSTIÇA COMUM (estadual ou federal).
A competência NÃO é da Justiça do Trabalho, ainda que o autor da ação alegue que houve desvirtuamento do
vínculo e mesmo que ele formule os seus pedidos baseados na CLT ou na lei do FGTS.
STF. Plenário. Rcl 4351 MC-AgR/PE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado
em 11/11/2015 (Info 807).

O servidor público reintegrado não faz jus ao recebimento das parcelas remuneratórias referentes ao
auxílio-transporte e ao adicional de insalubridade pelo período em que esteve indevidamente afastado do
cargo público
Servidor público que havia sido demitido e que foi reintegrado, terá direito ao recebimento retroativo dos
vencimentos, férias indenizadas e auxílio-alimentação. Por outro lado, não terá direito ao retroativo de auxílio-
60

transporte e adicional de insalubridade.


STJ. 1ª Turma. REsp 1.941.987-PR, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 07/12/2021 (Info 722).
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RESTITUIÇÃO DE VALORES RECEBIDOS
SITUAÇÃO TERÁ QUE DEVOLVER?
1) Servidor recebe por decisão ADMINISTRATIVA depois revogada por se NÃO
constatar que houve errônea ou inadequada interpretação da lei por parte STJ REsp 1244182-PB, Tema
da Administração Pública. 531
2) Servidor que recebe indevidamente valores em decorrência de erro SIM,
administrativo da Administração (erro operacional ou de cálculo), que não salvo se comprovar a sua
se enquadre como interpretação errônea ou equivocada da lei pela boa-fé objetiva
Administração. STJ REsp 1.769.306/AL, Tema
1009
3) Servidor recebe por decisão JUDICIAL não definitiva depois reformada. SIM
(posição do STJ)
STJ EAREsp 58820-AL
4) Servidor recebe por decisão JUDICIAL não definitiva depois reformada NÃO
(obs: a reforma da liminar foi decorrência de mudança na jurisprudência). (posição do STF)
4) Servidor recebe por sentença TRANSITADA EM JULGADO e que NÃO
posteriormente é rescindida. STJ AgRg no AREsp
463.279/RJ
5) Herdeiro que recebe indevidamente proventos do servidor aposentado SIM
depois que ele morreu. STJ AgRg no REsp 1387971-
DF

Valores recebidos por servidores públicos por força de decisão judicial precária, posteriormente reformada,
devem ser restituídos ao erário
Se o servidor recebeu os valores amparado por uma decisão judicial precária, não há como se admitir a
existência de boa-fé, pois a Administração em momento algum gerou-lhe uma falsa expectativa de
definitividade quanto ao direito pleiteado.
Se não fosse permitida a restituição, isso iria gerar o desvirtuamento do próprio instituto da antecipação dos
efeitos da tutela, haja vista que um dos requisitos legais para sua concessão reside justamente na inexistência
de perigo de irreversibilidade.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1711065-RJ, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

O pagamento indevido feito ao servidor público e que decorreu de erro administrativo está sujeito à
devolução, salvo se o servidor, no caso concreto, comprovar a sua boa-fé objetiva
Os pagamentos indevidos aos servidores públicos decorrentes de erro administrativo (operacional ou de
cálculo), não embasado em interpretação errônea ou equivocada da lei pela Administração, estão sujeitos à
devolução, ressalvadas as hipóteses em que o servidor, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé
objetiva, sobretudo com demonstração de que não lhe era possível constatar o pagamento indevido.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.769.306/AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/03/2021 (Recurso Repetitivo
– Tema 1009) (Info 688).

Não cabe ao Poder Judiciário, sob o fundamento de isonomia, conceder retribuição por substituição a
advogados públicos federais em hipóteses não previstas em lei
Por inexistir norma constitucional que imponha o deferimento de retribuição financeira por substituição a
advogados públicos federais que não exercem funções expressamente especificadas em lei, a concessão, ou
não, de benefício dessa natureza configura juízo de discricionariedade do legislador ordinário, o que impede
o Poder Judiciário de fazê-lo.
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Tese fixada pelo STF: Não cabe ao Poder Judiciário, sob o fundamento de isonomia, conceder retribuição por
substituição a advogados públicos federais em hipóteses não previstas em lei.
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STF. Plenário. ADI 5519/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Info 1083).

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Se o servidor possui 45 dias de férias por ano, o pagamento do terço constitucional de férias deverá incidir
sobre 45, e não apenas sobre 30 dias
O art. 7º, XVII, da CF/88 assegura ao trabalhador o gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um
terço a mais do que o salário normal, sem limitar o tempo da sua duração, razão pela qual esse adicional deve
incidir sobre todo o tempo de descanso previsto em lei.
Tese fixada pelo STF:
“O adicional de 1/3 (um terço) previsto no art. 7º, XVII, da Constituição Federal incide sobre a remuneração
relativa a todo período de férias.”.
STF. Plenário. RE 1400787/CE, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 15/12/2022 (Repercussão Geral – Tema
1.241) (Info 1080).

Lei estadual não pode instituir regime previdenciário específico para os agentes públicos não titulares de
cargos efetivos
Viola o art. 40, caput e § 13, da Constituição Federal, a instituição, por meio de lei estadual, de um regime
previdenciário específico para os agentes públicos não titulares de cargos efetivos.
O regime próprio de previdência social aplica-se aos servidores titulares de cargos efetivos (art. 40, caput,
CF/88).
Aos agentes públicos não titulares de cargos efetivos, por sua vez, aplica-se o regime geral de previdência
social (art. 40, §13, CF/88).
STF. Plenário. ADI 7198/PA, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/10/2022 (Info 1074).

É inconstitucional a previsão de pensão vitalícia para viúvas de ex-prefeitos


É inconstitucional, por violação aos princípios republicano, democrático, da moralidade, da impessoalidade e
da igualdade, lei municipal que concede pensão especial mensal e vitalícia a viúvas de ex-prefeitos.
STF. Plenário. ADPF 975/CE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 7/10/2022 (Info 1071).

Servidor público federal pode tirar mais de um período de férias no mesmo ano
É possível ao servidor que já usufruiu o primeiro período de férias, após cumprida a exigência de 12 (doze)
meses de exercício, usufruir as férias seguintes no mesmo ano civil, dentro do período aquisitivo ainda em
curso, nos termos do § 1° do art. 77 da Lei nº 8.112/90.
STJ. 1ª Seção. REsp 1907153-CE, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região),
julgado em 26/10/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1135) (Info 755).

Servidor admitido sem concurso antes da promulgação da CF, ainda que beneficiado pela estabilidade
excepcional do art. 19 do ADCT, não pode ser reenquadrado em novo Plano de Cargos, Carreiras e
Remuneração previsto para servidores efetivos
É vedado o reenquadramento, em novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração, de servidor admitido sem
concurso público antes da promulgação da Constituição Federal de 1988, mesmo que beneficiado pela
estabilidade excepcional do artigo 19 do ADCT, haja vista que esta regra transitória não prevê o direito à
efetividade, nos termos do artigo 37, II, da Constituição Federal e decisão proferida na ADI 3609.
STF. Plenário. ARE 1306505/AC, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 28/3/2022 (Repercussão Geral –
Tema 1157) (Info 1048).

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Mesmo que o juiz reconheça a prescrição das penas pela prática do ato de improbidade, a ação poderá
continuar para analisar o pedido de ressarcimento ao erário, não sendo necessária uma ação autônoma
apenas para discutir isso
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Na ação civil pública por ato de improbidade administrativa é possível o prosseguimento da demanda para
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pleitear o ressarcimento do dano ao erário, ainda que sejam declaradas prescritas as demais sanções previstas
no art. 12 da Lei nº 8.429/92.

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STJ. 1ª Seção. REsp 1899455-AC, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 22/09/2021 (Recurso Repetitivo –
Tema 1089) (Info 710).

Qual é o elemento subjetivo exigido para os atos de improbidade administrativa?


O dolo.
A Lei nº 14.230/2021 inseriu o § 1º ao art. 1º da Lei nº 8.429/92 – LIA trazendo uma definição de ato de
improbidade administrativa.
Um ponto de destaque é o fato de que o legislador deixa expressamente consignado que só existe ato de
improbidade em caso de conduta dolosa:
Art. 1º (...) § 1º Consideram-se atos de improbidade administrativa as condutas dolosas tipificadas nos arts.
9º, 10 e 11 desta Lei, ressalvados tipos previstos em leis especiais.
Essa foi uma grande novidade imposta pela Lei nº 14.230/2021:
• Antes da Lei nº 14.230/2021: os atos de improbidade administrativa previstos nos arts. 9º, 10-A e 11 exigiam
dolo. Havia, contudo, uma hipótese de improbidade que poderia ser praticada com culpa: o art. 10.
• Depois da Lei nº 14.230/2021: todos os atos de improbidade administrativa exigem dolo. Não existe mais a
possibilidade de ser praticado ato administrativo com culpa.

Art. 1º (...) § 2º Considera-se dolo a vontade livre e consciente de alcançar o resultado ilícito tipificado nos
arts. 9º, 10 e 11 desta Lei, não bastando a voluntariedade do agente. (Incluído pela Lei nº 14.230/2021)

Competência para julgar ação de improbidade proposta por Município contra ex-prefeito que não prestou
contas de convênio federal
Nas ações de ressarcimento ao erário e improbidade administrativa ajuizadas em face de eventuais
irregularidades praticadas na utilização ou prestação de contas de valores decorrentes de convênio federal, o
simples fato de as verbas estarem sujeitas à prestação de contas perante o Tribunal de Contas da União, por
si só, não justifica a competência da Justiça Federal.
Igualmente, a mera transferência e incorporação ao patrimônio municipal de verba desviada, no âmbito civil,
não pode impor de maneira absoluta a competência da Justiça Estadual. Se houver manifestação de interesse
jurídico por ente federal que justifique a presença no processo, (v.g. União ou Ministério Público Federal)
regularmente reconhecido pelo Juízo Federal nos termos da Súmula 150/STJ, a competência para processar e
julgar a ação de improbidade administrativa será da Justiça Federal.
As Súmulas 208 e 209 do STJ provêm da 3ª Seção do STJ e versam hipóteses de fixação da competência em
matéria penal, em que basta o interesse da União ou de suas autarquias para deslocar a competência para a
Justiça Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da CF. Logo, não podem ser utilizadas como critério para
as demandas cíveis.
Diante disso, é possível afirmar que a competência cível da Justiça Federal deve ser definida em razão da
presença das pessoas jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação processual, seja
como autora, ré, assistente ou oponente e não em razão da natureza da verba federal sujeita à fiscalização do
TCU.
Assim, em regra, compete à Justiça Estadual processar e julgar agente público acusado de desvio de verba
recebida em razão de convênio firmado com o ente federal, salvo se houver a presença das pessoas jurídicas
de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação processual.
STJ. 1ª Seção. CC 174.764-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 09/02/2022 (Info 724).

Aplica-se às ações de improbidade administrativa o reexame necessário previsto no art. 19 da lei da ação
popular?
• Antes da Lei nº 14.230/2021: SIM
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O STJ entendia que devia se realizar o reexame necessário nas ações de improbidade administrativa julgadas
improcedentes ou extintas em razão da carência da ação:
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A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência de ação de improbidade administrativa está
sujeita ao reexame necessário, com base na aplicação subsidiária do CPC e por aplicação analógica da primeira
parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.220.667-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/5/2017 (Info 607).

• Depois da Lei nº 14.230/2021: NÃO


O art. 17, § 19, IV; e o art. 17-C, § 3º, da LIA, inseridos pela Lei nº 14.230/2021, vedam o reexame obrigatório
da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito das ações de improbidade
administrativa:
Art. 17 (...) § 19. Não se aplicam na ação de improbidade administrativa:
(...) IV - o reexame obrigatório da sentença de improcedência ou de extinção sem resolução de mérito.
Art. 17 (...) § 3º Não haverá remessa necessária nas sentenças de que trata esta Lei.

Logo, está superado o entendimento jurisprudencial acima mencionado.


Quais são os pressupostos para se decretar a indisponibilidade de bens do réu?
Antes da Lei nº 14.230/2021 Depois da Lei nº 14.230/2021
Somente o fumus boni iuris (indícios de que o réu Passou a ser indispensável a demonstração, no
praticou o ato de improbidade). caso concreto, do:
a) fumus boni iuris (juiz deve estar convencido da
Para o STJ, bastava que o MP demonstrasse o fumus probabilidade da ocorrência dos atos descritos na
boni iuris. petição inicial com fundamento nos respectivos
elementos de instrução);
O periculum in mora era considerado presumido b) periculum in mora (deve estar demonstrado, no
(implícito). caso concreto, o perigo de dano irreparável ou de
Assim, a decretação de indisponibilidade de bens risco ao resultado útil do processo.
dispensava a demonstração do periculum in mora,
bastando a demonstração do fumus boni juris, que Veja o novo § 3º que foi incluído:
consiste em indícios de atos ímprobos. Art. 16 (...) § 3º O pedido de indisponibilidade de
STJ. 2ª Turma. AREsp 1812026/RJ, Rel. Min. Herman bens a que se refere o caput deste artigo apenas
Benjamin, julgado em 08/06/2021. será deferido mediante a demonstração no caso
concreto de perigo de dano irreparável ou de risco
ao resultado útil do processo, desde que o juiz se
convença da probabilidade da ocorrência dos atos
descritos na petição inicial com fundamento nos
respectivos elementos de instrução, após a oitiva
do réu em 5 (cinco) dias.
Jurisprudência em Teses (Ed. 38) Essa tese está superada.
12) É possível a decretação da indisponibilidade de A Lei agora exige expressamente a “demonstração
bens do promovido em ação civil pública por ato de no caso concreto de perigo de dano irreparável ou
improbidade administrativa, quando ausente (ou não de risco ao resultado útil do processo”.
demonstrada) a prática de atos (ou a sua tentativa) Assim, o MP deve demonstrar que o réu está se
que induzam a conclusão de risco de alienação, desfazendo do seu patrimônio e, por essa razão,
oneração ou dilapidação patrimonial de bens do seria necessária a decretação da indisponibilidade.
acionado, dificultando ou impossibilitando o eventual
ressarcimento futuro.
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A indisponibilidade deve garantir apenas o integral ressarcimento do prejuízo ao erário ou também eventual
multa civil? Ex: o prejuízo ao erário foi de R$ 300 mil; ocorre que o MP afirma que o réu pode ser condenado
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a pagar mais R$ 300 mil de multa civil; logo, o MP pede que sejam tornados indisponíveis bens do réu
equivalentes a R$ 600 mil. Isso é possível?

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• Antes da Lei nº 14.230/2021: SIM
A indisponibilidade era decretada para assegurar o ressarcimento dos valores ao Erário e também para
custear o pagamento da multa civil:
É possível a inclusão do valor de eventual multa civil na medida de indisponibilidade de bens decretada em
ação de improbidade administrativa, inclusive nas demandas ajuizadas com esteio na prática de conduta
prevista no art. 11 da Lei nº 8.429/92, tipificador da ofensa aos princípios nucleares administrativos.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.862.792-PR, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª Região),
julgado em 25/08/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1055) (Info 706).

• Depois da Lei nº 14.230/2021: NÃO


Foi incluído o § 10 para afastar expressamente essa possibilidade:
Art. 16 (...) § 10. A indisponibilidade recairá sobre bens que assegurem exclusivamente o integral
ressarcimento do dano ao erário, sem incidir sobre os valores a serem eventualmente aplicados a título de
multa civil ou sobre acréscimo patrimonial decorrente de atividade lícita.

A indisponibilidade pode ser determinada sobre bens com valor superior ao mencionado na petição inicial
da ação de improbidade (ex.: a petição inicial narra um prejuízo ao erário de R$ 100 mil, mas o MP pede a
indisponibilidade de R$ 500 mil do requerido)?
• Antes da Lei nº 14.230/2021: SIM
Era possível que se determinasse a indisponibilidade de bens em valor superior ao indicado na inicial da ação,
visando a garantir o integral ressarcimento de eventual prejuízo ao erário, levando-se em consideração, até
mesmo, o valor de possível multa civil como sanção autônoma. Isso porque a indisponibilidade acautelatória
prevista na Lei de Improbidade Administrativa tem como finalidade a reparação integral dos danos que
porventura tenham sido causados ao erário.
REsp 1176440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/9/2013.

• Depois da Lei nº 14.230/2021: NÃO


Somente poderá ser decretada a indisponibilidade de bens em valor que seja suficiente para custear a quantia
apontada na petição inicial do MP como sendo o dano ao erário ou o enriquecimento ilícito. Isso fica claro nos
dois parágrafos inseridos no art. 16:
Art. 16 (...) § 5º Se houver mais de um réu na ação, a somatória dos valores declarados indisponíveis não
poderá superar o montante indicado na petição inicial como dano ao erário ou como enriquecimento ilícito.

§ 6º O valor da indisponibilidade considerará a estimativa de dano indicada na petição inicial, permitida a sua
substituição por caução idônea, por fiança bancária ou por seguro-garantia judicial, a requerimento do réu,
bem como a sua readequação durante a instrução do processo.

Bens que deverão ser prioritariamente tornados indisponíveis


A Lei nº 14.230/2021 incluiu um novo parágrafo prevendo uma ordem de prioridade na decretação da
indisponibilidade. O bloqueio de contas bancárias passa a ser a última opção:
Art. 16 (...) § 11. A ordem de indisponibilidade de bens deverá priorizar veículos de via terrestre, bens imóveis,
bens móveis em geral, semoventes, navios e aeronaves, ações e quotas de sociedades simples e empresárias,
pedras e metais preciosos e, apenas na inexistência desses, o bloqueio de contas bancárias, de forma a garantir
a subsistência do acusado e a manutenção da atividade empresária ao longo do processo.

Quantias inferiores a 40 salários-mínimos não podem ser objeto de indisponibilidade


Art. 16 (...) § 13. É vedada a decretação de indisponibilidade da quantia de até 40 (quarenta) salários mínimos
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depositados em caderneta de poupança, em outras aplicações financeiras ou em conta-corrente.


A indisponibilidade pode recair sobre bem de família?
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• Antes da Lei nº 14.230/2021: SIM

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A indisponibilidade prevista no art. 7º, parágrafo único, da LIA podeia recair sobre bens de família (STJ. 2ª
Turma. EDcl no AgRg no REsp 1351825/BA, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/09/2015).

• Depois da Lei nº 14.230/2021: em regra, NÃO


Veja o novo § 14:

Art. 16 (...) § 14. É vedada a decretação de indisponibilidade do bem de família do réu, salvo se comprovado
que o imóvel seja fruto de vantagem patrimonial indevida, conforme descrito no art. 9º desta Lei.

Indisponibilidade não pode acarretar prejuízo à prestação de serviços públicos


Art. 16 (...) § 12. O juiz, ao apreciar o pedido de indisponibilidade de bens do réu a que se refere o caput deste
artigo, observará os efeitos práticos da decisão, vedada a adoção de medida capaz de acarretar prejuízo à
prestação de serviços públicos.

É possível a decretação da indisponibilidade de bens de terceiro?


SIM. Mas desde que demonstrada a sua efetiva concorrência para os atos ilícitos apurados ou se tiver havido
desconsideração da personalidade jurídica:
Art. 16 (...) § 7º A indisponibilidade de bens de terceiro dependerá da demonstração da sua efetiva
concorrência para os atos ilícitos apurados ou, quando se tratar de pessoa jurídica, da instauração de incidente
de desconsideração da personalidade jurídica, a ser processado na forma da lei processual.

Recurso
Da decisão que deferir ou indeferir a medida relativa à indisponibilidade de bens caberá agravo de instrumento
(§ 9º do art. 16).

Qual é o prazo prescricional para a propositura de ações de improbidade administrativa?


• Antes da Lei nº 14.230/2021:
I - 5 anos após o término do mandato, cargo em comissão ou função de confiança;
II - prazo prescricional previsto na lei para faltas disciplinares puníveis com demissão, nos casos de exercício
de cargo efetivo ou emprego.
III - 5 anos da data da apresentação à administração pública da prestação de contas final.

• Depois da Lei nº 14.230/2021: 8 anos, contados a partir da ocorrência do fato ou, no caso de infrações
permanentes, do dia em que cessou a permanência.
Existe prescrição intercorrente na ação de improbidade administrativa? Se houver uma demora excessiva
para que a sentença seja proferida é possível que se reconheça a prescrição?
• Antes da Lei nº 14.230/2021: NÃO
Era a posição consolidada do STJ:
O STJ firmou entendimento de inaplicabilidade da prescrição intercorrente às ações de improbidade
administrativa.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1872310/PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/10/2021.

• Depois da Lei nº 14.230/2021: SIM


É o que prevê o § 8º do art. 23, da LIA, inserido pela Lei nº 14.230/2021:
Art. 23 (...) § 8º O juiz ou o tribunal, depois de ouvido o Ministério Público, deverá, de ofício ou a requerimento
da parte interessada, reconhecer a prescrição intercorrente da pretensão sancionadora e decretá-la de
66

imediato, caso, entre os marcos interruptivos referidos no § 4º, transcorra o prazo previsto no § 5º deste artigo
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Suspensão do prazo prescricional

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A instauração de inquérito civil ou de processo administrativo para apuração de atos de improbidade
administrativa suspende o curso do prazo prescricional. Essa suspensão dura até o inquérito ou processo ser
concluído. Ocorre que se o inquérito ou processo demorar mais que 180 dias para ser concluído, o prazo
prescricional volta a correr. Assim, a suspensão do prazo prescricional não poderá ser superior a 180 dias.
Trata-se de novidade da Lei nº 14.230/2021 prevista no novo § 1º do art. 23 da LIA.

Interrupção do prazo prescricional


O novo § 4º do art. 23 da LIA, incluído pela Lei nº 14.230/2021, traz hipóteses de interrupção da prescrição:
Art. 23 (...) § 4º O prazo da prescrição referido no caput deste artigo interrompe-se:
I - pelo ajuizamento da ação de improbidade administrativa;
II - pela publicação da sentença condenatória;
III - pela publicação de decisão ou acórdão de Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal que confirma
sentença condenatória ou que reforma sentença de improcedência;
IV - pela publicação de decisão ou acórdão do Superior Tribunal de Justiça que confirma acórdão condenatório
ou que reforma acórdão de improcedência;
V - pela publicação de decisão ou acórdão do Supremo Tribunal Federal que confirma acórdão condenatório
ou que reforma acórdão de improcedência.

Com a interrupção, o prazo não se reinicia por inteiro, mas sim pela metade
A Lei nº 14.230/2021 determinou que, após a interrupção, o prazo prescricional recomeça do zero, mas agora
não será mais de 8 e sim de 4 anos:
Art. 23 (...) § 5º Interrompida a prescrição, o prazo recomeça a correr do dia da interrupção, pela metade do
prazo previsto no caput deste artigo.

Comunicabilidade das causas interruptivas da prescrição


Art. 23 (...) § 6º A suspensão e a interrupção da prescrição produzem efeitos relativamente a todos os que
concorreram para a prática do ato de improbidade.
§ 7º Nos atos de improbidade conexos que sejam objeto do mesmo processo, a suspensão e a interrupção
relativas a qualquer deles estendem-se aos demais.

SANÇÕES
Vejamos como ficou o novo panorama das sanções aplicáveis aos atos de improbidade administrativa após a
Lei nº 14.230/2021:
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO DANO AO ERÁRIO VIOLAÇÃO AOS
SANÇÕES
(art. 9º) (art. 10) PRINCÍPIOS (art. 11)
Perda dos bens ou
Pode ser aplicada, se
valores acrescidos
Pode ser aplicada concorrer esta NÃO se aplica
ilicitamente ao
circunstância
patrimônio
Perda da função
Pode ser aplicada Pode ser aplicada NÃO se aplica
pública
Suspensão dos
Até 14 anos Até 12 anos NÃO se aplica
direitos políticos
Equivalente ao valor do Equivalente ao Multa civil de até
Multa civil
acréscimo patrimonial valor do dano 24 vezes a remuneração
67

Proibição de Pelo prazo não superior a 14 Pelo prazo não Pelo prazo não superior a
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contratar com o anos superior a 12 anos 4 anos

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poder público ou de
receber benefícios

Obs: a multa civil pode ser aumentada até o dobro, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica
do réu, o valor calculado é ineficaz para reprovação e prevenção do ato de improbidade.

Obs2: a requerimento do réu, na fase de cumprimento da sentença, o juiz unificará eventuais sanções
aplicadas com outras já impostas em outros processos, tendo em vista a eventual continuidade de ilícito ou a
prática de diversas ilicitudes, observado o seguinte:
I - no caso de continuidade de ilícito, o juiz promoverá a maior sanção aplicada, aumentada de 1/3 (um terço),
ou a soma das penas, o que for mais benéfico ao réu;
II - no caso de prática de novos atos ilícitos pelo mesmo sujeito, o juiz somará as sanções.
As sanções de suspensão de direitos políticos e de proibição de contratar ou de receber incentivos fiscais ou
creditícios do poder público observarão o limite máximo de 20 anos.

Obs3: a concessão ou aplicação indevida de benefício financeiro ou tributário, prevista no antigo art. 10-A, foi
reenquadrada no inciso XXII do art. 10 da LIA, ou seja, passou a receber o mesmo tratamento dos atos que
causam dano ao erário.

As mudanças promovidas pela Lei 14.230/2021 no elemento subjetivo e na prescrição da improbidade


administrativa retroagem?
A partir do advento da Lei 14.230/2021 (nova Lei de Improbidade Administrativa – LIA) — cuja publicação e
entrada em vigor ocorreu em 26/10/2021 —, deixou de existir, no ordenamento jurídico, a tipificação para
atos culposos de improbidade administrativa.
Por força do art. 5º, XXXVI, da CF/88, a revogação da modalidade culposa do ato de improbidade
administrativa, promovida pela Lei 14.230/2021, é irretroativa, de modo que os seus efeitos não têm
incidência em relação à eficácia da coisa julgada, nem durante o processo de execução das penas e seus
incidentes.
Incide a Lei 14.230/2021 em relação aos atos de improbidade administrativa culposos praticados na vigência
da Lei 8.429/92, desde que não exista condenação transitada em julgado, cabendo ao juízo competente o
exame da ocorrência de eventual dolo por parte do agente.
Os prazos prescricionais previstos na Lei 14.230/2021 não retroagem, sendo aplicáveis a partir da publicação
do novo texto legal (26.10.2021).
Tese fixada pelo STF:
1) É necessária a comprovação de responsabilidade subjetiva para a tipificação dos atos de improbidade
administrativa, exigindo-se — nos artigos 9º, 10 e 11 da LIA — a presença do elemento subjetivo — DOLO;
2) A norma benéfica da Lei 14.230/2021 — revogação da modalidade culposa do ato de improbidade
administrativa —, é IRRETROATIVA, em virtude do artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal, não tendo
incidência em relação à eficácia da coisa julgada; nem tampouco durante o processo de execução das penas e
seus incidentes;
3) A nova Lei 14.230/2021 aplica-se aos atos de improbidade administrativa culposos praticados na vigência
do texto anterior da lei, porém sem condenação transitada em julgado, em virtude da revogação expressa do
texto anterior; devendo o juízo competente analisar eventual dolo por parte do agente;
4) O novo regime prescricional previsto na Lei 14.230/2021 é IRRETROATIVO, aplicando-se os novos marcos
temporais a partir da publicação da lei.
STF. Plenário. ARE 843989/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/8/2022 (Repercussão Geral –
Tema 1.199) (Info 1065).
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Em atenção ao Tema 1199/STF, deve-se conferir interpretação restritiva às hipóteses de aplicação retroativa
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da Lei nº 14.230/2021, adstringindo-se aos atos ímprobos culposos não transitados em julgado

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Caso hipotético: João é réu em uma ação de improbidade administrativa.O juiz, antes da Lei nº 14.230/2021,
decretou a indisponibilidade de todos os seus bens. O réu interpôs agravo de instrumento, mas a decisão foi
mantida. Ainda inconformado, João ingressou com recurso especial.
Daí entrou em vigor a Lei nº 14.230/2021 que promoveu diversas alterações na Lei de Improbidade
Administrativa. Essa lei alterou inclusive os pressupostos para se decretar a indisponibilidade de bens do réu,
tornando, em tese, mais restritiva a possibilidade de sua decretação.
Diante disso, João pediu, ainda no STJ, que se fizesse a aplicação retroativa da Lei nº 14.230/2021 ao caso
concreto e que se revogasse a indisponibilidade de bens, sob o argumento de ser matéria de ordem pública,
devendo-se, portanto, reconhecer que não estão presentes os novos pressupostos.
O pedido de João foi deferido? Não. O STF, no Tema 1199, decidiu apenas pela aplicação imediata da Lei nº
14.230/2021 no que tange aos atos de improbidade administrativa culposos não transitados em julgado. O
STF não tratou sobre as alterações relacionadas com a indisponibilidade de bens.
Deve-se conferir interpretação restritiva às hipóteses de aplicação retroativa da Lei nº 14.230/2021,
restringindo-se aos atos ímprobos culposos não transitados em julgado.
Diante disso, no caso concreto, o STJ indeferiu o pedido de João para aplicação retroativa da Lei nº
14.230/2021.
STJ. 1ª Turma. PET no AgInt nos EDcl no AREsp 1.877.917/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
23/5/2023 (Info 776).

Competência para julgar ação de improbidade proposta por Município contra ex-prefeito que não prestou
contas de convênio federal
Nas ações de ressarcimento ao erário e improbidade administrativa ajuizadas em face de eventuais
irregularidades praticadas na utilização ou prestação de contas de valores decorrentes de convênio federal, o
simples fato de as verbas estarem sujeitas à prestação de contas perante o Tribunal de Contas da União, por
si só, não justifica a competência da Justiça Federal.
Igualmente, a mera transferência e incorporação ao patrimônio municipal de verba desviada, no âmbito civil,
não pode impor de maneira absoluta a competência da Justiça Estadual. Se houver manifestação de interesse
jurídico por ente federal que justifique a presença no processo, (v.g. União ou Ministério Público Federal)
regularmente reconhecido pelo Juízo Federal nos termos da Súmula 150/STJ, a competência para processar e
julgar a ação civil de improbidade administrativa será da Justiça Federal.
As Súmulas 208 e 209 do STJ provêm da 3ª Seção do STJ e versam hipóteses de fixação da competência em
matéria penal, em que basta o interesse da União ou de suas autarquias para deslocar a competência para a
Justiça Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da CF. Logo, não podem ser utilizadas como critério para
as demandas cíveis.
Diante disso, é possível afirmar que a competência cível da Justiça Federal deve ser definida em razão da
presença das pessoas jurídicas de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação processual, seja
como autora, ré, assistente ou oponente e não em razão da natureza da verba federal sujeita à fiscalização do
TCU.
Assim, em regra, compete à Justiça Estadual processar e julgar agente público acusado de desvio de verba
recebida em razão de convênio firmado com o ente federal, salvo se houver a presença das pessoas jurídicas
de direito público previstas no art. 109, I, da CF/88 na relação processual.
STJ. 1ª Seção. CC 174764-MA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 09/02/2022 (Info 724).

O art. 200 do CC/2002 assegura que o prazo prescricional não comece a fluir antes do trânsito em julgado
da sentença penal, independentemente do resultado da ação na esfera criminal
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição
antes da respectiva sentença definitiva.
69

Exemplo hipotético: em 2010, “P” praticou estupro, sem violência real, contra “T”. Em 2012, o Ministério
Público ofereceu denúncia contra “P”. Em 2014, o processo penal foi extinto sob o argumento de que o MP
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seria parte ilegítima porque não houve representação, conforme se exigia antes da Lei nº 13.718/2018. Logo
em seguida, “T” (a vítima) ajuizou ação de indenização por danos morais contra “P”.

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Mesmo já tendo passado três anos do fato (art. 206, § 3º V, do CC), não houve prescrição. Isso porque o prazo
prescricional somente se iniciou com o trânsito em julgado da sentença do processo penal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1987108-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 29/03/2022 (Info 732).

São cabíveis medidas executivas atípicas, de cunho não patrimonial, no cumprimento de sentença proferida
em ação de improbidade administrativa
É cabível a apreensão de passaporte e a suspensão da CNH no bojo do cumprimento de sentença proferida
em ação de improbidade administrativa.
Em regra, a jurisprudência do STJ entende ser possível a aplicação de medidas executivas atípicas na execução
e no cumprimento de sentença comum, desde que, verificando-se a existência de indícios de que o devedor
possua patrimônio expropriável, tais medidas sejam adotadas de modo subsidiário, por meio de decisão que
contenha fundamentação adequada às especificidades da hipótese concreta, com observância do
contraditório substancial e do postulado da proporcionalidade.
Na ação de improbidade administrativa, com ainda mais razão, há a possibilidade de aplicação das medidas
executivas atípicas, pois se tutela a moralidade e o patrimônio público. No que diz respeito à
proporcionalidade, o fato de se tratar de uma ação de improbidade administrativa deve ser levado em
consideração na análise do cabimento da medida aflitiva não pessoal no caso concreto, já que envolve maior
interesse público.
STJ. 2ª Turma, REsp 1.929.230-MT, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

Pessoa jurídica interessada continua com legitimidade para propor ação de improbidade e para celebrar
acordo; não existe obrigatoriedade de a assessoria jurídica fazer a defesa do agente público acusado de
improbidade
Inconstitucionalidade da restrição da legitimidade para ajuizamento da ação e para a realização de acordo
Segundo a Lei nº 14.230/2021, somente o Ministério Público teria legitimidade para propor ação de
improbidade e para celebrar acordo de não persecução cível. A Lei buscou excluir essa possibilidade da pessoa
jurídica interessada.
O STF, contudo, decidiu que essa alteração foi inconstitucional.
Os entes públicos que sofreram prejuízos em razão de atos de improbidade também estão autorizados, de
forma concorrente com o Ministério Público, a propor ação e a celebrar acordos de não persecução civil em
relação a esses atos.
Desse modo, fica restabelecida a existência de legitimidade ativa concorrente e disjuntiva entre o Ministério
Público e as pessoas jurídicas interessadas para a propositura da ação por ato de improbidade administrativa
e para a celebração de acordos de não persecução civil.

Inexistência de obrigatoriedade de a assessoria jurídica fazer a defesa do agente público


A Lei 14.230/2021 inseriu o § 20 no art. 17 da Lei nº 8.429/92 prevendo que “A assessoria jurídica que emitiu
o parecer atestando a legalidade prévia dos atos administrativos praticados pelo administrador público ficará
obrigada a defendê-lo judicialmente, caso este venha a responder ação por improbidade administrativa, até
que a decisão transite em julgado.”
O STF declarou a inconstitucionalidade parcial, com redução de texto, desse dispositivo para dizer que não
existe “obrigatoriedade de defesa judicial”.
Não deve existir obrigatoriedade de defesa judicial do agente público que cometeu ato de improbidade por
parte da Advocacia Pública, pois a sua predestinação constitucional, enquanto função essencial à Justiça,
identifica-se com a representação judicial e extrajudicial dos entes públicos. Contudo, permite-se essa atuação
em caráter extraordinário e desde que norma local assim disponha.
STF. Plenário. ADI 7042/DF e ADI 7043/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 31/8/2022 (Info 1066).
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É cabível a avaliação pericial provisória como condição à imissão na posse nas ações regidas pelo DL
Página

3.365/41, quando não observados os requisitos previstos no art. 15, § 1º, do referido diploma

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Em regra, nos termos do caput do art. 15 do DL 3.365/1941, para haver a imissão provisória na posse o ente
público interventor deve cumulativamente:
a) alegar urgência; e
b) depositar a quantia apurada, mediante contraditório, em avaliação prévia, da qual pode resultar inclusive
a complementação da oferta inicial.
A imissão provisória na posse pode ser feita, sem a oitiva do proprietário, e sem a avaliação prévia, desde que:
a) seja depositado o preço oferecido, sendo este superior a vinte vezes o valor locativo do imóvel sujeito a
IPTU;
b) seja depositada a quantia correspondente a vinte vezes o valor locativo do imóvel sujeito a IPTU, se o preço
for menor;
c) seja depositado o valor cadastral do imóvel, para fins de lançamento do IPTU, caso tenha havido atualização
no ano fiscal imediatamente anterior; ou
d) se não tiver havido essa atualização, o juiz fixará o valor a ser depositado tendo em conta a época em que
houver sido fixado originalmente o valor cadastral e a valorização ou desvalorização posterior do imóvel.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1674697-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/11/2022 (Info 756).

Um dos requisitos específicos da petição inicial da ação de desapropriação de imóveis urbanos é a


demonstração do impacto orçamentário-financeiro da medida e da compatibilidade da indenização a ser
paga com as leis orçamentárias
Para cumprimento dos requisitos arrolados no art. 16, caput, I e II, e § 4º, II, da LRF é necessário instruir a
petição inicial da ação expropriatória de imóveis com a estimativa do impacto orçamentário-financeiro e
apresentar declaração a respeito da compatibilidade das despesas necessárias ao pagamento das indenizações
ao disposto no plano plurianual, na lei de diretrizes orçamentárias e na lei orçamentária anual.
STJ. 1ª Turma. REsp 1930735-TO, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 28/2/2023 (Info 767).

Se o autor da ação de desapropriação não faz o depósito da quantia arbitrada, o juiz deverá negar a imissão
provisória na posse, mas não pode, por essa razão, extinguir o processo
A ausência do depósito previsto no art. 15 do Decreto-Lei nº 3.365/41 para o deferimento de pedido de
imissão provisória na posse veiculado em ação de desapropriação por utilidade pública não implica a extinção
do processo sem resolução do mérito, mas, tão somente, o indeferimento da tutela provisória.
STJ. 1ª Turma. REsp 1930735-TO, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 28/2/2023 (Info 767).

É possível que o expropriante desista da ação de desapropriação?


SIM, é possível a desistência da desapropriação a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em julgado, desde
que:
a) ainda não tenha havido o pagamento integral do preço (pois nessa hipótese já terá se consolidado a
transferência da propriedade do expropriado para o expropriante); e
b) o imóvel possa ser devolvido sem que ele tenha sido alterado de forma substancial (que impeça sua
utilização como antes era possível).
É ônus do expropriado provar a existência de fato impeditivo do direito de desistência da desapropriação.
STJ. 2ª Turma. REsp 1368773-MS, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min. Herman Benjamin, julgado
em 6/12/2016 (Info 596).

Os serviços de transporte coletivo terrestre de passageiros, desvinculados da exploração da infraestrutura,


podem ser outorgados sem licitação prévia, mediante simples autorização
É constitucional dispositivo de lei federal que altera o regime de outorga da prestação regular de serviços de
transporte terrestre coletivo de passageiros desvinculados da exploração de obras de infraestrutura,
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permitindo sua realização mediante mera autorização estatal, sem a necessidade de licitação prévia, desde
que cumpridos requisitos específicos.
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A regra geral é a realização de licitação. No entanto, especificamente em relação ao transporte rodoviário
interestadual e internacional, uma interpretação sistêmica da Constituição admite a autorização do serviço
sem o processo licitatório, mediante o respeito aos princípios da administração pública (legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência).
STF. Plenário. ADI 5549/DF e ADI 6270/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 29/3/2023 (Info 1089).

Se uma pessoa é atingida por bala perdida durante confronto entre policiais e criminosos, o Estado deverá
ser condenado a indenizar, mesmo que a parte autora não consiga provar que a bala partiu dos policiais;
Estado poderá provar causa excludente do nexo causal
No caso de vítima atingida por projétil de arma de fogo durante uma operação policial, é dever do Estado, em
decorrência de sua responsabilidade civil objetiva, provar a exclusão do nexo causal entre o ato e o dano, pois
ele é presumido.
STF. 2ª Turma. ARE 1382159 AgR/RJ, Rel. Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes,
julgado em 28/03/2023 (Info 1089).

SÚMULAS SOBRE DESAPROPRIAÇÃO


Súmula 652-STF: Não contraria a Constituição o art. 15, § 1º, do Dl. 3.365/41 (Lei da Desapropriação por
utilidade pública).

Súmula 56-STJ: Na desapropriação para instituir servidão administrativa são devidos os juros compensatórios
pela limitação de uso da propriedade.

Súmula 164-STF: No processo de desapropriação, são devidos juros compensatórios desde a antecipada
imissão de posse, ordenada pelo juiz, por motivo de urgência.

Súmula 69-STJ: Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão
na posse e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.

Súmula 113-STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação direta, incidem a partir da imissão na posse,
calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.

Súmula 114-STJ: Os juros compensatórios, na desapropriação indireta, incidem a partir da ocupação,


calculados sobre o valor da indenização, corrigido monetariamente.

Súmula 378-STF: Na indenização por desapropriação incluem-se honorários do advogado do expropriado.

Súmula 354-STJ: A invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para fins de reforma
agrária.

TEMAS DIVERSOS
O fato gerador do laudêmio é o registro do imóvel em Cartório de Registro de Imóveis, que é o momento em
que ocorre a transferência do domínio útil do aludido direito real
O contrato de transferência do domínio útil foi firmado em 2014, mas o registro do imóvel só ocorreu em
2016. Qual foi o problema? Em 30/12/2015, foi publicada a Lei nº 13.240/2015, que trouxe uma mudança na
cobrança do laudêmio. O laudêmio devido em razão dessa venda será calculado com base na Lei nº
13.240/2015? Sim.
72

Deve-se aplicar a lei vigente no momento do registro do título translativo no Registro de Imóveis, ainda que
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outra fosse a lei vigente na época da realização do negócio jurídico. Isso porque o fato gerador do laudêmio
não ocorre na celebração do contrato de compra e venda, nem no dia de sua quitação, mas sim na data do

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registro do imóvel no cartório de Registro de Imóveis (art. 1.227 do CC/2002), que é o momento em que ocorre
a transferência do domínio útil do aludido direito real.
STJ. 1ª Turma. REsp 1833609-PE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 08/11/2022 (Info 757).

No exercício de direito sancionador, a negativa da prova técnica requerida pelo acusado pode afrontar o
devido processo administrativo
Caso concreto: determinada empresa estava respondendo processo administrativo no CADE por suposta
infração da ordem econômica. A empresa requereu a produção de perícia de natureza econômica, que foi
indeferida.
O STJ entendeu que essa negativa afrontou o devido processo administrativo, por violação aos arts. 2º, X, e
50, caput e inciso I, da Lei nº 9.784/99. Consequentemente, o Tribunal determinou a anulação do julgamento
do processo administrativo pelo CADE, o qual deverá ser reiniciado a partir da produção da prova pericial de
natureza econômica requerida.
STJ. 1ª Turma. REsp 1979138-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 8/11/2022 (Info Especial 8).

É possível o compartilhamento das provas obtidas no acordo de leniência, desde que sejam respeitados os
limites estabelecidos no acordo em relação aos aderentes
É possível o compartilhamento, para outros órgãos e autoridades públicas, das provas obtidas no acordo de
leniência, desde que sejam respeitados os limites estabelecidos no acordo em relação aos aderentes.
Assim, por exemplo, se uma empresa celebra acordo de leniência com o MPF aceitando fornecer provas contra
si, estas provas somente poderão ser utilizadas para as sanções que foram ajustadas no acordo.
No entanto, nada impede que tais provas sejam fornecidas (compartilhadas) para os órgãos de apuração para
que sejam propostas medidas contra as outras pessoas envolvidas nos ilícitos e que não fizeram parte do
acordo.
STF. 2ª Turma. Inq 4420/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/8/2018 (Info 913)

A prestação pecuniária decorrente do contrato de concessão de direito real uso é receita patrimonial e, por
se tratar de cobrança de dívida de natureza real, aplica-se o prazo prescricional de 10 anos (art. 205 do CC)
Aplica-se o prazo prescricional de 10 anos, nos termos do art. 205 do Código Civil/2002, na cobrança de taxa
de ocupação do particular no contrato administrativo de concessão de direito real de uso para a utilização
privativa de bem público.
STJ. 1ª Turma. REsp 1675985-DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 15/12/2022 (Info 763).

São inadmissíveis, em processos administrativos de qualquer espécie, provas consideradas ilícitas pelo
Poder Judiciário
As provas declaradas ilícitas pelo Poder Judiciário não podem ser utilizadas, valoradas ou aproveitadas em
processos administrativos de qualquer espécie.
Caso concreto: o CADE, em processo administrativo, condenou uma empresa pela prática de cartel. Essa
condenação se baseou em provas obtidas a partir de interceptação telefônica decretada em investigação
criminal. Ocorre que essa interceptação foi declarada ilegal porque autorizada unicamente com base em
denúncia anônima. Logo, o processo administrativo também deve ser declarado nulo porque fundamentado
em prova ilícita.
STF. Plenário. ARE 1316369/DF, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
9/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 1238) (Info 1079).

Ainda que celebrado no exterior, ato de cooperação para o desenvolvimento de novas sementes de milho
geneticamente modificadas impacta mercado relevante de abrangência mundial, impondo-se sua
73

submissão ao CADE
É obrigatória a submissão de acordo de cooperação para o desenvolvimento de novas tecnologias de sementes
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de milho às autoridades antitruste brasileiras, ainda que firmado e executado em território estrangeiro,

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quando as implicações concorrenciais possam impactar mercados relevantes situados, no todo ou em parte,
no território nacional.
STJ. 1ª Turma. REsp 1975739-DF, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 15/12/2022 (Info 762).

SITUAÇÃO PRESCRIÇÃO

Ação de reparação por danos causados à Fazenda Pública


em razão da prática de ILÍCITO CIVIL é PRESCRITÍVEL
Ex: particular, dirigindo seu veículo, por imprudência, colide com o carro de um (STF RE 669069/MG)
órgão público estadual em serviço. Estado terá o prazo de 5 anos para buscar o Tema 666
ressarcimento.

é PRESCRITÍVEL
Pretensão de ressarcimento ao erário
(STF RE 636886/AL)
fundada em decisão do Tribunal de Contas
Tema 899

é PRESCRITÍVEL
Ação de ressarcimento decorrente de
(devem ser propostas no
ato de improbidade administrativa praticado com CULPA
prazo do art. 23 da LIA)

é IMPRESCRITÍVEL
(§ 5º do art. 37 da
Ação de ressarcimento decorrente de
CF/88)
ato de improbidade administrativa praticado com DOLO
STF RE 852475/SP
Tema 897

Ação pedindo a reparação civil decorrente de


DANOS AMBIENTAIS
É imprescritível a pretensão de reparação civil de dano ambiental.
Ex: não há prazo para ACP ajuizada pelo MP objetivando a reparação de danos é IMPRESCRITÍVEL
decorrentes de degradação ao meio ambiente. (STF RE 654833)
Embora a Constituição e as leis ordinárias não tratem sobre prazo prescricional Tema 999
para a reparação de danos civis ambientais, a reparação do meio ambiente é
direito fundamental indisponível, devendo, portanto, ser reconhecida a
imprescritibilidade dessa pretensão.

Petrobrás pode criar subsidiárias e, em seguida, alienar o controle acionário delas sem licitação e sem
autorização legislativa específica
Caso concreto: a Petrobrás elaborou um plano de desinvestimento por meio do qual ela decidiu vender 8
refinarias. Para isso, a Petrobrás criou subsidiárias que passaram a ser as proprietárias dessas refinarias e, em
seguida, o controle acionário dessas subsidiárias será alienado, sem licitação e sem prévia autorização
legislativa. Desse modo, na prática, é como se a Petrobrás estivesse alienando as refinarias.
O STF afirmou que essa prática é legítima.
A específica autorização legislativa somente é obrigatória na hipótese de alienação do controle acionário de
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sociedade de economia mista (empresa-mãe). Não há necessidade dessa prévia e específica anuência para a
criação e posterior alienação de ativos da empresa subsidiária, dentro de um elaborado plano de gestão de
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desinvestimento, voltado para garantir maiores investimentos e, consequentemente, maior eficiência e


eficácia da empresa-mãe.

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Isso porque a inexistência de expressa proibição ou limitação de alienação societária em relação à autorização
legislativa genérica para a criação de subsidiárias corresponde à concessão, pelo Congresso Nacional ao Poder
Executivo, de um importante instrumento de gestão empresarial, para garantir a eficiência e a eficácia da
sociedade de economia mista no cumprimento de suas finalidades societárias. Portanto, na criação ou
extinção de subsidiárias, o preceito maior de gestão empresarial que deve ser seguido é garantir a melhor
atuação, eficiência e eficácia da empresa-mãe.
STF. Plenário. Rcl 42576 MC/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 30/9 e 1º/10/2020 (Info 993).

É constitucional a transferência da concessão e do controle societário das concessionárias de serviços


públicos, mediante anuência do poder concedente prevista no art. 27 da Lei 8.987/95
O art. 27 da Lei nº 8.987/95 permite que se transfira a concessão ou o controle societário da concessionária
para uma outra pessoa, desde que o poder público concorde e sejam respeitados os requisitos legais.
Art. 27. A transferência de concessão ou do controle societário da concessionária sem prévia anuência do
poder concedente implicará a caducidade da concessão.
Parágrafo único. Para fins de obtenção da anuência de que trata o caput deste artigo o pretendente deverá:
I - atender às exigências de capacidade técnica, idoneidade financeira e regularidade jurídica e fiscal
necessárias à assunção do serviço; e
II - comprometer-se a cumprir todas as cláusulas do contrato em vigor.
O STF decidiu que esse dispositivo é constitucional.
O parágrafo único do art. 27 prevê que, mesmo com essa transferência, a base objetiva do contrato continuará
intacta. Permanecem o mesmo objeto contratual, as mesmas obrigações contratuais e a mesma equação
econômico-financeira. O que ocorre é apenas a sua modificação subjetiva, seja pela substituição do
contratado, seja em razão da sua reorganização empresarial.
Em nosso sistema jurídico, o que interessa à Administração é, sobretudo, a seleção da proposta mais
vantajosa, independentemente da identidade do particular contratado, ou dos atributos psicológicos ou
subjetivos de que disponha.
STF. Plenário. ADI 2946/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/3/2022 (Info 1046).

A demora da Administração para apreciar o pedido de autorização para funcionamento de rádio


comunitária não legitima o Poder Judiciário a conceder, ainda que em caráter precário, o direito de
continuidade das atividades
A competência para outorgar e renovar concessão, permissão e autorização de rádios e TVs é do Poder
Executivo, com posterior referendo do Poder Legislativo, nos termos do caput e § 1º do art. 223 da CF/88.
Não há espaço, portanto, para o Poder Judiciário interferir em tal questão, sob pena de ofensa ao princípio da
separação dos Poderes.
STJ. 1ª Seção. EDv nos EREsp 1797663-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/08/2022 (Info 748).

Em regra, a imposição de sigilo a processos administrativos sancionadores, instaurados por agências


reguladoras contra concessionárias de serviço público, é incompatível com a Constituição
Os processos administrativos sancionadores instaurados por agências reguladoras contra concessionárias de
serviço público devem obedecer ao princípio da publicidade durante toda a sua tramitação, ressalvados
eventuais atos que se enquadrem nas hipóteses de sigilo previstas em lei e na Constituição.
STF. Plenário. ADI 5371/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 25/2/2022 (Info 1045).

Não se exige contraditório prévio à decretação de intervenção em contrato de concessão com concessionária
de serviço público
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O art. 33 da Lei nº 8.987/95 afirma que, depois de ter sido declarada a intervenção, o poder concedente
deverá, no prazo de 30 dias, instaurar procedimento administrativo para comprovar as causas determinantes
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da medida e apurar responsabilidades, assegurado o direito de ampla defesa.

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Desse modo, verifica-se claramente que, em se tratando de intervenção, o direito de defesa do concessionário
só é propiciado após a decretação da intervenção, a partir do momento em que for instaurado o procedimento
administrativo para apuração das irregularidades. Isso porque a intervenção possui finalidades investigatória
e fiscalizatória, e não punitiva.
STJ. 2ª Turma. RMS 66794-AM, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 22/02/2022 (Info 727).

Em regra, não cabe ao Poder Judiciário anular cláusula de contrato de concessão de serviço público que
autoriza o reajuste de tarifa telefônica em percentual superior ao índice inflacionário
Afronta o princípio da separação dos Poderes a anulação judicial de cláusula de contrato de concessão firmado
por Agência Reguladora e prestadora de serviço de telefonia que, em observância aos marcos regulatórios
estabelecidos pelo Legislador, autoriza a incidência de reajuste de alguns itens tarifários em percentual
superior ao do índice inflacionário fixado, quando este não é superado pela média ponderada de todos os
itens.
STF. Plenário. RE 1059819/PE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 18/2/2022 (Repercussão Geral – Tema 991) (Info 1044).

Conselhos profissionais não estão sujeitos ao regime de precatórios


Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de Fiscalização (exs: CREA,
CRM, COREN, CRO) não se submetem ao regime de precatórios.
STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em
19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).

Poder de polícia de trânsito e guardas municipais


As guardas municipais podem realizar a fiscalização de trânsito?
SIM. As guardas municipais, desde que autorizadas por lei municipal, têm competência para fiscalizar o
trânsito, lavrar auto de infração de trânsito e impor multas.
O STF definiu a tese de que é constitucional a atribuição às guardas municipais do exercício do poder de polícia
de trânsito, inclusive para a imposição de sanções administrativas legalmente previstas (ex: multas de
trânsito).
STF. Plenário. RE 658570/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 6/8/2015 (repercussão geral) (Info 793).

É possível a delegação do poder de polícia – inclusive da possibilidade de aplicação de multas – para pessoas
jurídicas de direito privado?
É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.
STF. Plenário. RE 633782/MG, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 23/10/2020 (Repercussão Geral – Tema 532) (Info
996).

Não é possível a manutenção de quiosques e trailers instalados sobre calçadas sem a regular aprovação
estatal
Se o apossamento do espaço urbano público ocorre ilegalmente, incumbe ao administrador, sob risco de
cometimento de improbidade e infração disciplinar, fazer a imediata demolição de eventuais construções
irregulares e a desocupação de bem turbado ou esbulhado.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.846.075-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 03/03/2020 (Info 671).
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É válida a interrupção do serviço público por razões de ordem técnica se houve prévio aviso por meio de
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rádio

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A divulgação da suspensão no fornecimento de serviço de energia elétrica por meio de emissoras de rádio,
dias antes da interrupção, satisfaz a exigência de aviso prévio, prevista no art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987/95.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.270.339-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 15/12/2016 (Info 598).

É possível cobrar um valor da concessionária de serviço público pelo fato de ela estar utilizando faixas de
domínio de uma rodovia?
É indevida a cobrança promovida por concessionária de rodovia, em face de autarquia prestadora de serviços
de saneamento básico, pelo uso da faixa de domínio da via pública concedida.
STJ. 1ª Seção.REsp 1.817.302-SP, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 08/06/2022 (Tema IAC 8) (Info
740).

Não confundir:
1) Ente público cobrar da concessionária de serviço público pelo fato de ela estar utilizando as faixas de
domínio: NÃO pode.
STF. Plenário. RE 581947, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 27/05/2010 (Repercussão Geral – Tema 261).
2) Concessionária de serviço público cobrando de concessionária de serviço público pelo fato de ela estar
utilizando faixas de domínio de uma rodovia: PODE.
STJ. 1ª Seção. EREsp 985695-RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 26/11/2014 (Info 554).
3) Concessionária de serviço público cobrando de autarquia prestadora de serviço de saneamento básico pelo
uso da faixa de domínio: NÃO pode.
STJ. 1ª Seção.REsp 1817302-SP, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 08/06/2022 (Tema IAC 8) (Info 740).

A estabilidade especial do art. 19 do ADCT não se aplica para empregados das fundações públicas de direito
privado (abrange apenas os servidores das pessoas jurídicas de direito público)
A estabilidade especial do art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) não se estende
aos empregados das fundações públicas de direito privado, aplicando-se tão somente aos servidores das
pessoas jurídicas de direito público.
O termo “fundações públicas”, utilizado pelo art. 19 do ADCT, deve ser compreendido como fundações
autárquicas, sujeitas ao regime jurídico de direito público.
Ex: empregados da Fundação Padre Anchieta não gozam dessa estabilidade do art. 19 do ADCT em razão de
se tratar de uma fundação pública de direito privado.
STF. Plenário. RE 716378/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º e 7/8/2019 (repercussão geral) (Info 946).

Não é ilegal a terceirização de serviços jurídicos pela Caixa Econômica Federal


A Caixa Econômica Federal, embora vinculada como empresa pública ao Estado, executa uma atividade
econômica em ambiente de concorrência.
A terceirização pela Caixa Econômica Federal dos serviços jurídicos não se revela ilegal, considerando que
esses serviços não estão relacionados com a atividade-fim da empresa.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.318.740-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, Rel. Acd. Min. Og Fernandes, julgado em
16/10/2018 (Info 659).

Não cabe ao Banco Central fiscalizar a Serasa


O Banco Central tem o dever de exercer o controle do crédito e fiscalizar a atividade das instituições
financeiras.
A Serasa não é uma instituição financeira considerando que não exerce coleta, intermediação nem aplicação
de recursos financeiros, nem a custódia de valor de propriedade de terceiros, seja como atividade principal
ou acessória.
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Logo, não é da atribuição do Banco Central a fiscalização das atividades da Serasa.


STJ. 4ª Turma. REsp 1178768/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 01/12/2016.
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Agência de turismo que faça câmbio é equiparada a instituição financeira e está sujeita à fiscalização do
BACEN
A agência de turismo devidamente credenciada para efetuar operações de câmbio é equiparada a instituição
financeira e subordina-se à regular intervenção fiscalizatória do Banco Central.
Consideram-se instituições financeiras as pessoas jurídicas públicas ou privadas que tenham como atividade
principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros,
em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros (art. 17 da Lei nº
4.595/64).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.434.625-CE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/04/2019 (Info 647).
Obs: esse mesmo entendimento pode ser aplicado para a seara dos crimes contra o Sistema Financeiro
Nacional (art. 1º, I, da Lei nº 7.492/86): STJ. 5ª Turma. RHC 9.281/PR, Rel. Min. Gilson Dipp, DJe 30/10/2000.

Competência do DNIT para fiscalizar trânsito nas rodovias e estradas federais


O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes - DNIT detém competência para a fiscalização do
trânsito nas rodovias e estradas federais, podendo aplicar, em caráter não exclusivo, penalidade por infração
ao Código de Trânsito Brasileiro, consoante se extrai da conjugada exegese dos arts. 82, § 3º, da Lei n.
10.233/2001 e 21 da Lei n. 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.588.969-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo)
(Info 623).

Súmula 650-STF: Os incisos I e XI do art. 20 da Constituição Federal não alcançam terras de aldeamentos
extintos, ainda que ocupadas por indígenas em passado remoto.

Súmula 479-STF: As margens dos rios navegáveis são domínio público, insuscetíveis de expropriação e, por
isso mesmo, excluídas de indenização.

Súmula 496-STJ: Os registros de propriedade particular de imóveis situados em terrenos de marinha não são
oponíveis à União.

Continuam pertencendo à União os terrenos de marinha situados em ilha costeira que seja sede de
Município
A EC 46/2005 não interferiu na propriedade da União, nos moldes do art. 20, VII, da Constituição Federal,
sobre os terrenos de marinha e seus acrescidos situados em ilhas costeiras sede de Municípios.
STF. Plenário. RE 636199/ES, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 27/4/2017 (repercussão geral) (Info 862).

Independentemente da regularidade contratual, há que se considerar que a efetiva utilização da terra


pública por particular gera o dever de ressarcimento ao Estado
A interpretação de que a taxa de ocupação de imóvel público só é devida caso haja prévia formalização de ato
ou negócio jurídico administrativo contraria o princípio da boa-fé objetiva. Isto porque, o ocupante irregular
de bem público não pode se beneficiar da sua própria ilegalidade para deixar de cumprir obrigação a todos
imposta: o pagamento da taxa de ocupação.
Assim, dispensar o detentor irregular de imóvel público de pagar taxa de ocupação, modalidade de
ressarcimento mínimo (e não de lucro), é ferir duplamente o interesse coletivo, pois, não obstante a situação
de apropriação ilícita, alça o já infrator à injusta posição de privilégio anti-isonômico em relação aos outros
cidadãos, cumpridores dos requisitos e formalidades exigidos para a fruição do patrimônio coletivo.
STJ. 2ªTurma. REsp 1.986.143; Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 06/12/2022; DJE 19/12/2022.
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PODERES ADMINISTRATIVOS
Ao Poder Judiciário não cabe se imiscuir na decisão administrativa da ANAC acerca da realocação de slots e
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hotrans, mesmo que a empresa aérea que perdeu esse direito esteja em recuperação judicial

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Ao Poder Judiciário não cabe se imiscuir na decisão administrativa da ANAC acerca da realocação de slots e
hotrans (horários de transporte), serviço prestado por empresa aérea em recuperação judicial, a ponto de
impor a observação absoluta do princípio da preservação da empresa, quando inexistirem vícios objetivos na
decisão, mesmo em prejuízos à concorrência do setor e aos usuários do serviço público concedido.
Caso adaptado: a Pantanal Linhas Aéreas S/A encontrava-se em processo de recuperação judicial. Ela possuía
slots e hotrans relacionadas com o Aeroporto de Congonhas. Segundo a ANAC, a companhia não estaria
utilizando os slots e hotrans com regularidade. Diante disso, a ANAC decidiu disponibilizá-los para nova
alocação (para nova companhia aérea).
Não havendo vícios objetivos na decisão administrativa, deve-se preservar o ato da Agência.
Compete à ANAC a gestão dos slots, não sendo passíveis de incorporação, ainda que tangencial, aos direitos
da empresa aérea em recuperação, sob pena de grave violação da legislação federal do setor produtivo
concedido e altamente regulado, em função de sua natureza estratégica na economia nacional.
STJ. 2ª Turma. REsp 1287461-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/06/2022 (Info 745).

ATOS ADMINISTRATIVOS
Quando o interessado poderá ser notificado por edital no processo administrativo?
Em processo administrativo, a notificação por edital reserva-se exclusivamente para as hipóteses de:
a) interessado indeterminado;
b) interessado desconhecido; ou
c) interessado com domicílio indefinido.
STJ. 1ª Seção. MS 27227-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 27/01/2021 (Info 716).

AÇÃO POPULAR
STF não possui competência originária para julgar ação popular
Determinado cidadão propôs “ação popular” contra a Presidente da República pedindo que ela fosse
condenada à perda da função pública e à privação dos direitos políticos. A competência para julgar essa ação
é do STF?
NÃO. Em regra, o STF não possui competência originária para processar e julgar ação popular, ainda que
ajuizada contra atos e/ou omissões do Presidente da República.
A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da
República, é, via de regra, do juízo de 1º grau.
STF. Plenário. Pet 5856 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 25/11/2015 (Info 811).
STF. Plenário. AO 2489 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 29/06/2020.

Não é da competência originária do STF conhecer de ações populares, ainda que o réu seja autoridade que
tenha na Corte o seu foro por prerrogativa de função para os processos previstos na Constituição.
STF. Plenário. Pet 8504 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/12/2019.

EXCEÇÕES:
É possível apontar quatro exceções a essa regra.
Assim, compete ao STF julgar:
1) ação popular que envolva conflito federativo entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou
entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta (art. 102, I, “f”, da CF/88);
2) ação popular em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e
aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou
indiretamente interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88);
3) ação popular proposta contra o Conselho Nacional de Justiça ou contra o Conselho Nacional do Ministério
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Público (art. 102, I, “r”, da CF/88).


4) ação popular cujo pedido seja próprio de mandado de segurança coletivo contra ato de Presidente da
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República, por força do art. 102, I, “d”, da CF/88 (STF. Plenário. Pet 8104 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
06/12/2019).

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DIREITO PENAL

A majorante prevista no art. 334, § 3º, do CP deve ser aplicada mesmo que o transporte seja feito em um
voo regular
Incide a causa especial de aumento de pena prevista no § 3º do art. 334 do Código Penal quando se tratar de
descaminho praticado em transporte aéreo, não sendo relevante o fato de o voo ser regular ou clandestino.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2197959-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/2/2023 (Info
765).

Servidor público que se apropria dos salários que lhe foram pagos e não presta os serviços, não comete
peculato
Caso hipotético: João, vereador, contratou seu primo Paulo para exercer o cargo público de assessor na
Câmara Municipal.Ocorre que ele não trabalhava efetivamente. Apenas comparecia ao trabalho para assinar
o ponto, sem que exercesse suas atribuições do cargo.Apesar disso, Paulo recebia remuneração todos os
meses.
João e Paulo não praticaram nenhum crime.
Não é típico o ato do servidor que se apropria de valores que já lhe pertenceriam, em razão do cargo por ele
ocupado.
Assim, a conduta do servidor poderia ter repercussões disciplinares ou mesmo no âmbito da improbidade
administrativa, mas não se ajusta ao delito de peculato, porque seus vencimentos efetivamente lhe
pertenciam.
Se o servidor merecia perceber a remuneração, à luz da ausência da contraprestação respectiva, é questão a
ser discutida na esfera administrativo-sancionadora, mas não na instância penal, por falta de tipicidade.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2073825-RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

São atípicas as condutas de submeter-se à vacinação contra Covid-19 em local diverso do agendado e/ou
com aplicação de imunizante diverso do reservado e/ou de submeter-se à vacinação sem a realização de
agendamento (Caso Wesley Safadão)
São atípicas, por falta de previsão legal:
• a conduta de submeter-se à vacinação contra Covid-19 em local diverso do agendado;
• a conduta de ser vacinado com imunizante diverso daquele que estava reservado (ex: tomou Janssen e era
para ter sido a AstraZeneca); e
• a conduta de submeter-se à vacinação contra Covid-19 sem a realização de agendamento.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 160947-CE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 27/09/2022 (Info 752).

É possível aplicar o princípio da insignificância para furto de bem avaliado em R$ 20,00 mesmo que o agente
tenha antecedentes criminais por crimes patrimoniais
É possível a aplicação do princípio da insignificância para o agente que praticou o furto de um carrinho de mão
avaliado em R$ 20,00 (3% do salário-mínimo), mesmo ele possuindo antecedentes criminais por crimes
patrimoniais.
STF. 1ª Turma. RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 11/2/2020 (Info 966).

Em outro precedente mais recente:


É possível a aplicação do princípio da insignificância em face de réu reincidente e realizado no período noturno.
Na espécie, trata-se de furto de R$ 4,15 em moedas, uma garrafa pequena de refrigerante, duas garrafas de
600 ml de cerveja e uma de 1 litro de pinga, tudo avaliado em R$ 29,15.
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STF. 2ª Turma. HC 181389/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/04/2020 (Info 973)
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Nos crimes contra honra não basta criticar o indivíduo ou a sua gestão da coisa pública, é necessário o dolo
específico de ofender a honra alheia
Nos crimes contra honra não basta criticar o indivíduo ou a sua gestão da coisa pública, é necessário o dolo
específico de ofender a honra alheia.
STJ. 3ª Seção. HC 653.641-TO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 23/06/2021.

O termo inicial da contagem do prazo da prescrição da pretensão executória é o trânsito em julgado para
ambas as partes
Se o Ministério Público não recorreu contra a sentença condenatória, tendo havido apenas recurso da defesa,
qual deverá ser o termo inicial da prescrição da pretensão executiva? O início do prazo da prescrição
executória deve ser o momento em que ocorre o trânsito em julgado para o MP? Ou o início do prazo deverá
ser o instante em que se dá o trânsito em julgado para ambas as partes, ou seja, tanto para a acusação como
para a defesa?
O início da contagem do prazo de prescrição somente se dá quando a pretensão executória pode ser exercida.
Se o Estado não pode executar a pena, não se pode dizer que o prazo prescricional já está correndo.
Assim, mesmo que tenha havido trânsito em julgado para a acusação, se o Estado ainda não pode executar a
pena (ex: está pendente uma apelação da defesa), não teve ainda início a contagem do prazo para a prescrição
executória.
É preciso fazer uma interpretação sistemática do art. 112, I, do CP.
STF. Plenário. AI 794971 AgR, Relator(a) p/ Acórdão: Marco Aurélio, julgado em 19/04/2021.
STJ. 3ª Seção. AgRg no REsp 1.983.259-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado 26/10/2022 (Info 755).

É cabível a redução do art. 115 do CP se, entre a sentença condenatória e o julgamento dos embargos, o réu
atinge idade superior a 70 anos
É cabível a redução do prazo prescricional pela metade (art. 115 do CP) se, entre a sentença condenatória e o
julgamento dos embargos de declaração, o réu atinge a idade superior a 70 anos, tendo em vista que a decisão
que julga os embargos integra a própria sentença condenatória.
STJ. 6ª Turma. EDcl no AgRg no REsp 1.877.388-CE, Rel. Min.. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 2/5/2023
(Info 773).

Antes da Lei 13.531/2017, o crime de dano praticado contra autarquias, fundações públicas e empresas
públicas ou contra o patrimônio do Distrito Federal, era dano simples (e não qualificado)
Não se enquadra como dano qualificado a lesão a bens das entidades não previstas expressamente no rol do
art. 163, parágrafo único, inciso III, do Código Penal, em sua redação originária - anterior à alteração legislativa
promovida pela Lei n. 13.531/2017 -, em razão da vedação da analogia in malam partem no sistema penal
brasileiro.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1896620-ES, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 2/3/2023 (Info 768).

O art. 268 do CP veicula norma penal em branco que pode ser complementada por atos normativos
infralegais editados não apenas pela União, mas também pelos Estados, Distrito Federal e Municípios
A complementação de norma penal em branco por ato normativo estadual, distrital ou municipal, para
aplicação do tipo de infração de medida sanitária preventiva (Código Penal, art. 268), não viola a competência
privativa da União para legislar sobre direito penal (art. 22, I, CF/88).
Tese fixada pelo STF:
O art. 268 do Código Penal veicula norma penal em branco que pode ser complementada por atos normativos
infralegais editados pelos entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), respeitadas as
respectivas esferas de atuação, sem que isso implique ofensa à competência privativa da União para legislar
81

sobre direito penal (art. 22, I, CF/88).


STF. Plenário. ARE 1418846/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 25/3/2023 (Repercussão Geral – Tema 1246)
Página

(Info 1088).

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A mera solicitação do preso, sem a efetiva entrega do entorpecente ao destinatário no estabelecimento
prisional, configura ato preparatório, o que impede a sua condenação por tráfico de drogas
Caso hipotético: Tiago cumpre pena em um presídio. Ele pediu que Natália, sua namorada, levasse maconha
para ele na próxima visita. Natália adquiriu a droga e levou até o presídio. Ocorre que, durante o procedimento
de revista de visitantes, os agentes encontraram o entorpecente. Natália praticou tráfico de drogas e Tiago
fato atípico.
A interceptação da droga pelos agentes penitenciários antes de ser entregue ao destinatário, recolhido em
estabelecimento prisional, impede a ocorrência da conduta típica do art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006 na
modalidade “adquirir”, que viria, em tese, a ser por esse praticada.
A conduta de apenas solicitar que a droga seja levada para o interior do estabelecimento prisional pode
configurar, no máximo, ato preparatório e, portanto, impunível. Não se trata de ato executório do delito, seja
na conduta de “adquirir”, seja nas demais modalidades previstas no tipo. Evidencia-se, portanto, a atipicidade
da conduta.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1.999.604-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/3/2023 (Info 770).

A contratação de serviços espirituais para provocar a morte de autoridades não configura crime de ameaça
Caso adaptado: Larissa contratou Nair (pessoa que realiza rituais de magia com intenções maléficas) para que
ela realizasse serviços espirituais destinados a provocar a morte do Delegado de Polícia, do Promotor de
Justiça, do Presidente da Câmara de Vereadores e de um jornalista. Acontece que Nair, logo depois de receber
a quantia, procurou o jornalista e relatou todo ocorrido, argumentando que tinha muita consideração por ele
e, em razão disso, não poderia fazer nenhum ritual em seu desfavor.
Larissa foi denunciada pelo crime de ameaça (art. 147 do CP).
Para o STJ, contudo, o fato é atípico.
O delito de ameaça somente pode ser cometido dolosamente, ou seja, deve estar configurada a intenção do
agente de provocar medo na vítima.No caso concreto, não houve nenhuma conduta de Larissa direcionada a
causar temor nas vítimas.
Não ficou demonstrado que a ré teve a vontade livre e consciente de intimidar os ofendidos. A conduta dela
consistiu apenas em contratar uma “profissional especializada” que trabalha com esse tipo serviço - que se
pode denominar de metafísico -, a fim de que fosse causado mal grave e injusto aos ofendidos.
Além disso, o tipo penal do art. 147 do CP, ao definir o delito de ameaça, descreve que o mal prometido deve
ser injusto e grave, ou seja, deve ser sério e verossímil. A ameaça, portanto, deve ter potencialidade de
concretização, sob a perspectiva da ciência e do homem médio, situação também não demonstrada no caso.
STJ. 6ª Turma. HC 697.581-GO, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 7/3/2023 (Info 771).

O delito de registro não autorizado da intimidade sexual (art. 216-B do CP) possui a natureza de ação penal
pública incondicionada
O art. 225 do CP estabelece que os “crimes definidos nos Capítulos I e II”do Título VI são delitos de ação penal
pública incondicionada.O delito de registro não autorizado da intimidade sexual (art. 216-B do CP) está
previsto no Capítulo I-A do Título VI.
A Lei nº 13.718/2018 converteu a ação penal de todos os crimes contra a dignidade sexual em delitos de ação
pública incondicionada (art. 225 do Código Penal).
Posteriormente, a Lei nº 13.772/2018 criou um novo capítulo no Código Penal, o Capítulo I-A, e dentro dele o
delito do art. 216-B (Registro não autorizado da intimidade sexual). Ao criar esse novo capítulo, no entanto,
deixou-se de acrescentar sua menção no art. 225 do Código Penal, o qual se referia aos capítulos existentes à
época da sua redação (Capítulos I e II).
Para o STJ, contudo, mesmo com essa omissão legislativa, conclui-se que o crime do art. 216-B do CP se trata
de ação penal pública incondicionada. Isso porque, inexistindo menção expressa de que se trata de ação
82

privada ou pública condicionada, aplica-se a regra geral do art. 100 do Código Penal: no silêncio da lei, deve-
se considerar a ação penal como pública incondicionada.
Página

STJ. 6ª Turma. RHC 175.947/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 25/4/2023 (Info 772).

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Folha de antecedentes criminais é um documento válido para comprovar maus antecedentes ou reincidência
Súmula 636-STJ: A folha de antecedentes criminais é documento suficiente a comprovar os maus antecedentes
e a reincidência.

Admite-se o uso de informações processuais extraídas dos sítios eletrônicos dos tribunais, quando
completas, a fim de demonstrar a reincidência do réu
Para fins de comprovação da reincidência, é necessária documentação hábil que traduza o cometimento de
novo crime depois de transitar em julgado a sentença condenatória por crime anterior, mas não se exige,
contudo, forma específica para a comprovação.
Desse modo, é possível que a reincidência do réu seja demonstrada com informações processuais extraídas
dos sítios eletrônicos dos tribunais.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 448.972/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 16/08/2018.
STF. 1ª Turma. HC 162548 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 16/6/2020 (Info 982).

Condenações anteriores transitadas em julgado não podem ser utilizadas como personalidade ou conduta
social desfavorável
Eventuais condenações criminais do réu transitadas em julgado e não utilizadas para caracterizar a
reincidência somente podem ser valoradas, na primeira fase da dosimetria, a título de antecedentes criminais,
não se admitindo sua utilização também para desvalorar a personalidade ou a conduta social do agente.
A conduta social e a personalidade do agente não se confundem com os antecedentes criminais, porquanto
gozam de contornos próprios - referem-se ao modo de ser e agir do autor do delito -, os quais não podem ser
deduzidos, de forma automática, da folha de antecedentes criminais do réu. Trata-se da atuação do réu na
comunidade, no contexto familiar, no trabalho, na vizinhança (conduta social), do seu temperamento e das
características do seu caráter, aos quais se agregam fatores hereditários e socioambientais, moldados pelas
experiências vividas pelo agente (personalidade social).
Já a circunstância judicial dos antecedentes se presta eminentemente à análise da folha criminal do réu,
momento em que eventual histórico de múltiplas condenações definitivas pode, a critério do julgador, ser
valorado de forma mais enfática, o que, por si só, já demonstra a desnecessidade de se valorar negativamente
outras condenações definitivas nos vetores personalidade e conduta social.
STJ. 3ª Seção. EAREsp 1.311.636-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/04/2019 (Info 647).

Confissão
Súmula 545-STJ: Quando a confissão for utilizada para a formação do convencimento do julgador, o réu fará
jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d, do Código Penal.

E se o indivíduo confessa, mas o juiz não menciona expressamente essa confissão na sentença, mesmo assim
ele terá direito à atenuante?
SIM. O réu fará jus à atenuante do art. 65, III, 'd', do CP quando houver admitido a autoria do crime perante a
autoridade, independentemente de a confissão ser utilizada pelo juiz como um dos fundamentos da sentença
condenatória, e mesmo que seja ela parcial, qualificada, extrajudicial ou retratada.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.972.098-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 14/06/2022 (Info 741).

Cuidado com a Súmula 630 do STJ:


Para ter direito à atenuante no caso do crime de tráfico de drogas, é necessário que o réu admita que
traficava, não podendo dizer que era mero usuário
Súmula 630-STJ: A incidência da atenuante da confissão espontânea no crime de tráfico ilícito de
entorpecentes exige o reconhecimento da traficância pelo acusado, não bastando a mera admissão da posse
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ou propriedade para uso próprio.


Página

A atenuante da confissão espontânea deve preponderar sobre a agravante da dissimulação

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No concurso entre agravantes e atenuantes, a atenuante da confissão espontânea deve preponderar sobre a
agravante da dissimulação, nos termos do art. 67 do Código Penal.
Art. 67. No concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas
circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do
crime, da personalidade do agente e da reincidência.
STJ. 6ª Turma. HC 557.224-PR, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 16/08/2022 (Info 745).

Havendo pluralidade de causas de aumento de pena e sendo apenas uma delas empregada na terceira fase,
as demais podem ser utilizadas nas demais etapas da dosimetria da pena
O deslocamento da majorante sobejante para outra fase da dosimetria, além de não contrariar o sistema
trifásico, é a que melhor se coaduna com o princípio da individualização da pena.
Exemplo: Camila foi condenada pela prática do crime de roubo circunstanciado com o reconhecimento de três
causas de aumento de pena (art. 157, § 2º, II, V e VII).
O juiz pode empregar a majorante do inciso II (concurso de agentes) na terceira fase da dosimetria e utilizar
as outras na primeira fase como circunstâncias judiciais negativas.
STJ. 3ª Seção. HC 463.434-MT, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/11/2020 (Info 684).

A pena de perdimento deve ser restrita ao cargo ocupado no momento do delito, salvo se o novo cargo tiver
relação com as atribuições anteriores
A pena de perdimento deve ser restrita ao cargo ocupado ou função pública exercida no momento do delito,
à exceção da hipótese em que o magistrado, motivadamente, entender que o novo cargo ou função guarda
correlação com as atribuições anteriores.
STJ. 5ª Turma. REsp 1452935/PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 14/03/2017 (Info 599).

Súmula 719-STF: A imposição do regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige
motivação idônea.

Súmula 718-STF: A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea
para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.

Súmula 440-STJ: Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais
gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.

Súmula 269-STJ: É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena
igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.

A negativação de circunstâncias judiciais, ao contrário do que ocorre quando reconhecida a agravante da


reincidência, confere ao julgador a faculdade (e não a obrigatoriedade) de recrudescer o regime prisional
Dadas as peculiaridades do caso concreto, admite-se que ao réu primário, condenado à pena igual ou inferior
a 4 (quatro) anos de reclusão, seja fixado o regime inicial aberto, ainda que negativada circunstância judicial.
STJ. 6ª Turma. REsp 1970578-SC, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF1ª Região),
julgado em 03/05/2022 (Info 735).

Súmula 711-STF: A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua
vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
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A reincidência específica tratada no art. 44, § 3º, do Código Penal somente se aplica quando forem idênticos,
e não apenas de mesma espécie, os crimes praticados
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REGRA: o condenado que for reincidente em crime doloso, não fará jus à pena restritiva de direitos (art. 44,
II, do CP).

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EXCEÇÃO: o juiz poderá conceder a pena restritiva de direitos ao condenado, mesmo ele sendo reincidente,
desde que cumpridos dois requisitos previstos no § 3º do art. 44:
a) a medida (substituição) deve se mostrar socialmente recomendável;
b) a reincidência não pode ocorrer em virtude da prática do mesmo crime (não pode ser reincidente
específico).
Art. 44 (...) § 3º Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de
condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em
virtude da prática do mesmo crime.
O que se entende por reincidente específico para os fins do § 3º do art. 44?
É o indivíduo que cometeu um novo crime doloso idêntico.
• se o condenado tiver praticado um novo crime doloso idêntico: não terá direito à substituição. Ex: João foi
condenado por furto simples. Depois, foi novamente condenado por furto simples. Não terá direito à
substituição porque a reincidência se operou em virtude da prática do mesmo crime.
• se o condenado tiver praticado um novo crime doloso da mesma espécie (mas que não seja idêntico): pode
ter direito à substituição. Ex: Pedro foi condenado por furto simples (art. 155, caput). Depois, foi novamente
condenado, mas agora por furto qualificado (art. 155, § 4º). Em tese, o juiz poderia conceder a substituição
porque o furto simples e o furto qualificado são crimes da “mesma espécie”, mas não são o “mesmo crime”.
STJ. 3ª Seção. AREsp 1.716.664-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/08/2021 (Info 706).

A causa de aumento de pena do § 1º do art. 155 do CP, além de se aplicar para os casos de furto simples
(caput), pode também incidir nas hipóteses de furto qualificado (§ 4º)?
Para o STJ: NÃO.
A causa de aumento prevista no § 1º do art. 155 do Código Penal (prática do crime de furto no período
noturno) não incide no crime de furto na sua forma qualificada (§ 4º).
STJ. 3ª Seção. REsp 1.890.981-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 25/05/2022 (Recurso
Repetitivo – Tema 1087) (Info 738).

Para o STF: SIM


A causa de aumento do repouso noturno se coaduna com o furto qualificado quando compatível com a
situação fática.
STF. 1ª Turma. HC 180966 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 04/05/2020.

Acórdão que confirma ou reduz a pena interrompe a prescrição


Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a
prescrição, inclusive quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando
a pena anteriormente imposta.
A prescrição é, como se sabe, o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela inércia
do próprio Estado.
No art. 117 do Código Penal, que deve ser interpretado de forma sistemática, todas as causas interruptivas da
prescrição demonstram, em cada inciso, que o Estado não está inerte.
Não obstante a posição de parte da doutrina, o Código Penal não faz distinção entre acórdão condenatório
inicial e acórdão condenatório confirmatório da decisão. Não há, sistematicamente, justificativa para
tratamentos díspares.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.668.298-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 12/05/2020 (Info 672).
STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.

É possível o furto híbrido se a qualificadora for objetiva


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Súmula 511-STJ: É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de
crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a
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qualificadora for de ordem objetiva.


STJ. 3ª Seção. Aprovada em 11/06/2014.

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Momento consumativo do roubo
Súmula 582-STJ: Consuma-se o crime de roubo com a inversão da posse do bem mediante emprego de
violência ou grave ameaça, ainda que por breve tempo e em seguida à perseguição imediata ao agente e
recuperação da coisa roubada, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou desvigiada.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 14/09/2016, DJe 19/09/2016 (Info 590).

Súmula 443-STJ: O aumento na terceira fase de aplicação da pena no crime de roubo circunstanciado exige
fundamentação concreta, não sendo suficiente para a sua exasperação a mera indicação do número de
majorantes.

É constitucional o art. 83 da Lei nº 9.430/96


A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes de apropriação indébita previdenciária e de
sonegação de contribuição previdenciária será encaminhada ao ministério público depois de proferida a
decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.
STF. Plenário. ADI 4980/DF, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 10/3/2022 (Info 1047).

O fiel depositário de penhora judicial sobre o faturamento está sujeito às penas previstas no art. 168, § 1º,
II, do CP (apropriação indébita)
O fiel depositário de penhora judicial sobre o faturamento está sujeito às penas previstas no art. 168, § 1º, II,
do Código Penal.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.871.947/PR, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 26/04/2022.

O crime tipificado no art. 2º da Lei 8.176/91 é permanente ou instantâneo?


É hipótese de crime permanente, a conduta tipificada no art. 2º da Lei nº 8.176/91, na modalidade de
usurpação por exploração de matérias-primas pertencentes à União, enquanto verificada a prática de
múltiplas condutas visando a extração do bem mineral, sem evidência de que o agente ativo intencionalmente
cessou a atividade extrativa.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.998.631-BA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 07/06/2022 (Info 740).

Estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP)


O estelionato previdenciário é crime “permanente” ou “instantâneo de efeitos permanentes”?
• Quando praticado pelo próprio beneficiário: é PERMANENTE.
• Quando praticado por terceiro diferente do beneficiário: é INSTANTÂNEO de efeitos permanentes.
STF. 1ª Turma. HC 102049, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 22/11/2011.
STJ. 6ª Turma. HC 190.071/RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 02/05/2013.

Pessoa que, após a morte do beneficiário, passa a receber mensalmente o benefício em seu lugar:
estelionato em continuidade delitiva
Se a pessoa, após a morte do beneficiário, passa a receber mensalmente o benefício em seu lugar, mediante
a utilização do cartão magnético do falecido, pratica o crime de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º, do
CP) em continuidade delitiva.
Segundo o STJ, nessa situação, não se verifica a ocorrência de crime único, pois a fraude é praticada
reiteradamente, todos os meses, a cada utilização do cartão magnético do beneficiário já falecido. Assim,
configurada a reiteração criminosa nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução, tem
incidência a regra da continuidade delitiva prevista no art. 71 do CP.
A hipótese, ressalte-se, difere dos casos em que o estelionato é praticado pelo próprio beneficiário e daqueles
em que o não beneficiário insere dados falsos no sistema do INSS visando beneficiar outrem; pois, segundo a
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jurisprudência do STJ e do STF, nessas situações, o crime deve ser considerado único, de modo a impedir o
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reconhecimento da continuidade delitiva.


STJ. 6ª Turma. REsp 1.282.118-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/2/2013 (Info 516).

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Estelionato previdenciário e devolução da vantagem antes do recebimento da denúncia
O art. 9º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado pelo réu é causa de
extinção de sua punibilidade.
Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato contra o INSS, conhecido como estelionato
previdenciário (art. 171, § 3º do CP). Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente o
prejuízo sofrido pela autarquia. Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º da Lei 10.684/2003?
NÃO. Não extingue a punibilidade do crime de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º, do CP) a devolução à
Previdência Social, antes do recebimento da denúncia, da vantagem percebida ilicitamente.
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras: a) arts. 1º e 2º da Lei nº
8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária); c) Art. 337-A do CP (sonegação de
contribuição previdenciária). Repare, portanto, que o estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP) não está
listado nessa lei.
Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas regras por analogia em
favor do réu?
NÃO. O art. 9º da Lei 10.684/2003 somente abrange crimes tributários materiais, delitos que são
ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que protegem bens jurídicos diferentes. Dessa
forma, não há lacuna involuntária na lei penal a demandar analogia.
O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal?
SIM. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento posterior, tendo sua pena reduzida
de 1/3 a 2/3 (art. 16 do CP).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. em 24/3/2015 (Info 559).

Estelionato comum e devolução da vantagem indevida antes do recebimento da denúncia


A causa especial de extinção de punibilidade prevista no § 2º do art. 9º da Lei nº 10.684/2003, relativamente
ao pagamento integral do crédito tributário, não se aplica ao delito de estelionato (CP, art. 171).
O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras: a) arts. 1º e 2º da Lei nº
8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária); c) Art. 337-A do CP (sonegação de
contribuição previdenciária). Repare, portanto, que o estelionato (art. 171 do CP) não está listado nessa lei.
STF. 2ª Turma. RHC 126917/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 25/8/2015 (Info 796).

O período de recolhimento obrigatório noturno e nos dias de folga deve ser reconhecido como período de
detração da pena privativa de liberdade e da medida de segurança
1. O período de recolhimento obrigatório noturno e nos dias de folga, por comprometer o status libertatis do
acusado deve ser reconhecido como período a ser detraído da pena privativa de liberdade e da medida de
segurança, em homenagem aos princípios da proporcionalidade e do non bis in idem.
2. O monitoramento eletrônico associado, atribuição do Estado, não é condição indeclinável para a detração
dos períodos de submissão a essas medidas cautelares, não se justificando distinção de tratamento ao
investigado ao qual não é determinado e disponibilizado o aparelhamento.
3. A soma das horas de recolhimento domiciliar a que o réu foi submetido devem ser convertidas em dias para
contagem da detração da pena. Se no cômputo total remanescer período menor que vinte e quatro horas,
essa fração de dia deverá ser desprezada.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.977.135-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 23/11/2022 (Recurso Repetitivo –
tema 1155) (Info 758).
Cuidado porque existem julgados do STF em sentido contrário: a orientação jurisprudencial desta Suprema
Corte é no sentido de que a detração da pena privativa de liberdade não abrange o cumprimento de medidas
cautelares diversas da prisão por falta de previsão legal (STF. 1ª Turma. HC 205.740/SC AgR, Rel. Min. Rosa
Weber, julgado em 22/04/2022).
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LEI DE MIGRAÇÃO (LEI 13.445/2017)


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Acrescentou novo crime no Código Penal:

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Promoção de migração ilegal
Art. 232-A. Promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica, a entrada ilegal de
estrangeiro em território nacional ou de brasileiro em país estrangeiro:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem promover, por qualquer meio, com o fim de obter vantagem econômica,
a saída de estrangeiro do território nacional para ingressar ilegalmente em país estrangeiro.
§ 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço) se:
I - o crime é cometido com violência; ou
II - a vítima é submetida a condição desumana ou degradante.
§ 3º A pena prevista para o crime será aplicada sem prejuízo das correspondentes às infrações conexas.

Súmula 73-STJ: A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese, o crime de
estelionato, da competência da Justiça Estadual.

A conduta prevista no revogado art. 125, XIII, da Lei nº 6.815/80, subsume-se agora ao art. 299 do Código
Penal (falsidade ideológica)
O art. 125, XIII, da Lei nº 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro) previa o seguinte crime:
Art. 125 (...) XIII - fazer declaração falsa em processo de transformação de visto, de registro, de alteração de
assentamentos, de naturalização, ou para a obtenção de passaporte para estrangeiro, laissez-passer, ou,
quando exigido, visto de saída: Pena: reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos e, se o infrator for estrangeiro,
expulsão.
A Lei nº 13.445/2017 (Lei de Migração), revogou integralmente o Estatuto do Estrangeiro (Lei nº 6.815/80),
inclusive o art. 125, XIII. A Lei nº 13.445/2017 não repetiu, em seu texto, um crime semelhante ao que era
previsto no art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro.
Apesar disso, não houve abolitio criminis neste caso, considerando que esta conduta continua sendo crime.
A conduta de fazer declaração falsa em processo de transformação de visto, de registro, de alteração de
assentamentos, de naturalização, ou para a obtenção de passaporte para estrangeiro, laissez-passer ou,
quando exigido, visto de saída, configura agora o crime do art. 299 do Código Penal (falsidade ideológica).
Desse modo, não houve abolitio criminis, mas sim continuidade normativo-típica.
O princípio da continuidade normativa ocorre quando uma norma penal é revogada, mas a mesma conduta
continua sendo crime no tipo penal revogador, ou seja, a infração penal continua tipificada em outro
dispositivo, ainda que topologicamente ou normativamente diverso do originário.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1.422.129-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 05/11/2019
(Info 660).

Art. 293 do CP e desnecessidade de constituição definitiva do crédito tributário


É dispensável a constituição definitiva do crédito tributário para que esteja consumado o crime previsto no
art. 293, § 1º, III, "b", do CP. Isso porque o referido delito possui natureza FORMAL, de modo que já estará
consumado quando o agente importar, exportar, adquirir, vender, expuser à venda, mantiver em depósito,
guardar, trocar, ceder, emprestar, fornecer, portar ou, de qualquer forma, utilizar em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, produto ou mercadoria sem selo oficial.
Por ser um crime formal, não incide na hipótese, a Súmula Vinculante 24 do STF, que tem a seguinte redação:
“Não se tipifica crime MATERIAL contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90,
antes do lançamento definitivo do tributo.”
STJ. 6ª Turma. REsp 1.332.401-ES, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 19/8/2014 (Info 546).

Art. 297, § 4º do CP e necessidade de ser demonstrado o dolo de falso


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A simples omissão de anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) não configura, por si só, o
crime de falsificação de documento público (art. 297, § 4º, do CP). Isso porque é imprescindível que a conduta
Página

do agente preencha não apenas a tipicidade formal, mas antes e principalmente a tipicidade material, ou seja,
deve ser demonstrado o dolo de falso e a efetiva possibilidade de vulneração da fé pública.

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STJ. 5ª Turma. REsp 1.252.635-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/4/2014 (Info 539).

Falsa declaração de hipossuficiência não configura falsidade ideológica (art. 299)


É atípica a mera declaração falsa de estado de pobreza realizada com o intuito de obter os benefícios da justiça
gratuita.
A conduta de firmar ou usar declaração de pobreza falsa em juízo, com a finalidade de obter os benefícios da
gratuidade de justiça, não é crime, pois aludida manifestação não pode ser considerada documento para fins
penais, já que é passível de comprovação posterior, seja por provocação da parte contrária seja por aferição,
de ofício, pelo magistrado da causa.
STJ. 6ª Turma. HC 261.074-MS, Rel. Min. Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ-SE), julgado em
5/8/2014 (Info 546).

Inserir informação falsa em currículo Lattes não configura crime de falsidade ideológica
Não é típica a conduta de inserir, em currículo Lattes, dado que não condiz com a realidade.
Isso não configura falsidade ideológica (art. 299 do CP).
STJ. 6ª Turma. RHC 81.451-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 22/8/2017 (Info 610).

Configura o crime de peculato-desvio o fomento econômico de candidatura à reeleição por Governador de


Estado com o patrimônio de empresas estatais
Governador do Estado que desvia grande soma de recursos públicos de empresas estatais, utilizando esse
dinheiro para custear sua campanha de reeleição, pratica o crime de peculato-desvio.
As empresas estatais gozam de autonomia administrativa e financeira. Mesmo assim, pode-se dizer que o
Governador tem a posse do dinheiro neste caso?
É possível. Isso porque a posse necessária para configuração do crime de peculato deve ser compreendida não
só como a disponibilidade direta, mas também como disponibilidade jurídica, exercida por meio de ordens.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.776.680-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 11/02/2020 (Info 666).

Servidor público que se apropria dos salários que lhe foram pagos e não presta os serviços, não comete
peculato
Caso hipotético: João, vereador, contratou seu primo Paulo para exercer o cargo público de assessor na
Câmara Municipal. Ocorre que ele não trabalhava efetivamente. Apenas comparecia ao trabalho para assinar
o ponto, sem que exercesse suas atribuições do cargo. Apesar disso, Paulo recebia remuneração todos os
meses.
João e Paulo não praticaram nenhum crime.
Não é típico o ato do servidor que se apropria de valores que já lhe pertenceriam, em razão do cargo por ele
ocupado.
Assim, a conduta do servidor poderia ter repercussões disciplinares ou mesmo no âmbito da improbidade
administrativa, mas não se ajusta ao delito de peculato, porque seus vencimentos efetivamente lhe
pertenciam.
Se o servidor merecia perceber a remuneração, à luz da ausência da contraprestação respectiva, é questão a
ser discutida na esfera administrativo-sancionadora, mas não na instância penal, por falta de tipicidade.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.073.825-RS, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

São atípicas as condutas de submeter-se à vacinação contra Covid-19 em local diverso do agendado e/ou
com aplicação de imunizante diverso do reservado e/ou de submeter-se à vacinação sem a realização de
agendamento (Caso Wesley Safadão)
São atípicas, por falta de previsão legal:
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• a conduta de submeter-se à vacinação contra Covid-19 em local diverso do agendado;


• a conduta de ser vacinado com imunizante diverso daquele que estava reservado (ex: tomou Janssen e era
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para ter sido a AstraZeneca); e

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• a conduta de submeter-se à vacinação contra Covid-19 sem a realização de agendamento.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 160.947-CE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 27/09/2022 (Info 752).

É inconstitucional o preceito secundário do art. 273, § 1º-B, I, do CP, devendo ser aplicada a pena prevista
antes da Lei 9.677/98, qual seja, de 1 a 3 anos
É inconstitucional a aplicação do preceito secundário do art. 273 do Código Penal, com redação dada pela Lei
nº 9.677/98 (reclusão, de 10 a 15 anos, e multa), à hipótese prevista no seu § 1º-B, I, que versa sobre a
importação de medicamento sem registro no órgão de vigilância sanitária.
Para esta situação específica, fica repristinado o preceito secundário do art. 273, na redação originária
(reclusão, de 1 a 3 anos, e multa).
STF. Plenário. RE 979962/RS, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 24/3/2021 (Repercussão Geral – Tema
1003) (Info 1011).

Competência para julgar uso de documento falso


Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão
da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão
expedidor.

Falsa identidade (art. 307) é crime mesmo em situação de autodefesa


Súmula 522-STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em
situação de alegada autodefesa.

Desacato continua sendo crime


Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela continua a ser crime.
O crime de desacato é compatível com a Constituição Federal e com o Pacto de São José da Costa Rica.
A figura penal do desacato não tolhe o direito à liberdade de expressão, não retirando da cidadania o direito
à livre manifestação, desde que exercida nos limites de marcos civilizatórios bem definidos, punindo-se os
excessos.
STF. 2ª Turma. HC 141949/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 13/3/2018 (Info 894).
STJ. 3ª Seção. HC 379.269/MS, Rel. para acórdão Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 24/05/2017.

Descaminho é crime formal


O descaminho é crime tributário material? Para o ajuizamento da ação penal é necessária a constituição
definitiva do crédito tributário? Aplica-se a Súmula Vinculante 24 ao descaminho?
NÃO. Tanto o STJ como o STF entendem que o descaminho é crime tributário FORMAL. Logo, para que seja
proposta ação penal por descaminho não é necessária a prévia constituição definitiva do crédito tributário.
Não se aplica a Súmula Vinculante 24 do STF.
O crime se consuma com a simples conduta de iludir o Estado quanto ao pagamento dos tributos devidos
quando da importação ou exportação de mercadorias.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.343.463-BA, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, j. em 20/3/2014 (Info 548).
STF. 2ª Turma. HC 122325, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27⁄05⁄2014.

É dispensada a existência de procedimento administrativo fiscal com a posterior constituição do crédito


tributário para a configuração do crime de descaminho (art. 334 do CP), tendo em conta sua natureza formal.
STF. 1ª Turma. HC 121798/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/5/2018 (Info 904).
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Princípio da insignificância, crimes contra a ordem tributária e descaminho


Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário
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verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n.
10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda.

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STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo).

Justiça Federal é competente para julgar venda de cigarro importado, permitido pela ANVISA,
desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento do imposto de importação
Compete à Justiça Federal a condução do inquérito que investiga o cometimento do delito previsto no art.
334, § 1º, IV, do Código Penal, na hipótese de venda de mercadoria estrangeira, permitida pela ANVISA,
desacompanhada de nota fiscal e sem comprovação de pagamento de imposto de importação.
STJ. Plenário. CC 159.680-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 08/08/2018 (Info 631).

Justiça Federal é competente para julgar contrabando e descaminho, mesmo que não haja prova da
transnacionalidade da conduta
Compete à Justiça Federal o julgamento dos crimes de contrabando e de descaminho, ainda que inexistentes
indícios de transnacionalidade na conduta.
STJ. 3ª Seção. CC 160.748-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/09/2018 (Info 635).

O pagamento integral do imposto sonegado extingue apenas a punibilidade da sonegação fiscal, mas não
influencia no delito de corrupção ativa que foi praticado em conjunto pelo agente
O pagamento da diferença do imposto devido, antes do recebimento da denúncia, não extingue a punibilidade
pelo crime de corrupção ativa atrelado ao de sonegação fiscal.
Ex: João, sócio de uma empresa, ofereceu e pagou propina ao fiscal para que pudesse recolher um valor menor
de imposto. Assim, em vez de pagar R$ 400 mil de imposto, João pagou apenas R$ 100 mil. Os fatos foram
descobertos. João praticou, em tese, corrupção ativa (art. 333 do CP) e sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº
8.137/90). Antes que a denúncia fosse oferecida, João pagou a diferença do imposto devido acrescido de
multa, juros e correção monetária. Esse pagamento irá gerar a extinção do crime de sonegação fiscal, mas não
da corrução ativa que deverá ser julgada normalmente.
STJ. 6ª Turma. RHC 95.557-GO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/06/2018 (Info 631).

O falso pode ser absorvido pelo descaminho


Quando o falso se exaure no descaminho, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido, como crime-
fim, condição que não se altera por ser menor a pena a este cominada.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.378.053-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, j. em 10/8/2016 (recurso repetitivo) (Info 587).

Importação de arma de ar comprimido configura contrabando


A importação de arma de ar comprimido configura CONTRABANDO (e não descaminho) a conduta de importar,
à margem da disciplina legal, arma de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola, ainda que se
trate de artefato de calibre inferior a 6 mm.
A importação de arma de pressão está sujeita à autorização prévia da Diretoria de Fiscalização de Produtos
Controlados do Exército Brasileiro, e só pode ser feita por colecionadores, atiradores e caçadores registrados
no Exército. Além disso, deve se submeter às normas de desembaraço alfandegário previstas no Regulamento
para a Fiscalização de Produtos Controlados.
Logo, trata-se de mercadoria de proibição relativa, sendo a sua importação fiscalizada não apenas por
questões de ordem tributária, mas outros interesses ligados à segurança pública.
Não é possível aplicar o princípio da insignificância, já que este postulado é incabível para contrabando.
STJ. 5ª Turma. REsp 1428628/RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 28/04/2015.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.427.796-RS, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 14/10/2014 (Info 551).

Importação de colete à prova de balas configura contrabando


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Configura crime de contrabando a importação de colete à prova de balas sem prévia autorização do Comando
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do Exército.

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A importação de colete à prova de balas não se enquadra em nenhum tipo penal previsto no Estatuto do
Desarmamento. Aquele que poderia gerar algum tipo de dúvida seria justamente o art. 18. Ocorre que colete
à prova de balas não pode ser considerado acessório. Isso porque a palavra "acessório" mencionada no art.
18 é acessório de arma de fogo, ou seja, algo que complementa, que se agrega à arma de fogo para melhorar
o seu funcionamento ou desempenho. Exs: silenciador, mira telescópica etc.
O colete à prova de balas é uma proteção contra armas de fogo e não um acessório desta.
STJ. 6ª Turma. RHC 62.851-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 16/2/2016 (Info 577).

Advogado que atua como advogado dativo, por força de convênio com o Poder Público, é funcionário público
para fins penais
O advogado que, por força de convênio celebrado com o Poder Público, atua de forma remunerada em defesa
dos hipossuficientes agraciados com o benefício da assistência judiciária gratuita, enquadra-se no conceito de
funcionário público para fins penais. Sendo equiparado a funcionário público, é possível que responda por
corrupção passiva (art. 317 do CP).
STJ. 5ª Turma. HC 264.459-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 10/3/2016 (Info 579).

Diretor de organização social é considerado funcionário público por equiparação para fins penais
O diretor de organização social pode ser considerado funcionário público por equiparação para fins penais
(art. 327, § 1º do CP). Isso porque as organizações sociais que celebram contratos de gestão com o Poder
Público devem ser consideradas “entidades paraestatais”, nos termos do art. 327, § 1º do CP.
STF. 1ª Turma. HC 138484/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2018 (Info 915).

O simples fato de o réu exercer mandato eletivo não é suficiente para a causa de aumento do art. 327, § 2º,
do CP
O simples fato de o réu exercer um mandato popular não é suficiente para fazer incidir a causa de aumento
do art. 327, § 2º, do CP. É necessário que ele ocupe uma posição de superior hierárquico (o STF chamou de
"imposição hierárquica").
STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e 03/03/2016 (Info 816).

Pratica corrupção passiva o Deputado que concede apoio político à permanência de Diretor da Petrobrás
em troca do recebimento de propina
Determinado Deputado Federal integrava a cúpula de um partido de sustentação do governo federal.
Como importante figura partidária, ele exercia pressão política junto à Presidência da República a fim de que
Paulo Roberto Costa fosse mantido como Diretor de Abastecimento da Petrobrás.
Como “contraprestação” por esse apoio, o Deputado recebia dinheiro do referido Diretor, quantia essa
oriunda de contratos ilegais celebrados pela Petrobrás.
O STF entendeu que esta conduta se enquadra no crime de corrupção passiva (art. 317 do CP).
Obs: foi a primeira condenação do STF envolvendo a chamada “operação Lava Jato”.
STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

Comete o delito de desobediência o condutor do veículo que não cumpre a ordem de parada dada pela
autoridade em contexto de policiamento ostensivo para prevenção e repressão de crimes
A desobediência à ordem legal de parada, emanada por agentes públicos em contexto de policiamento
ostensivo, para a prevenção e repressão de crimes, constitui conduta penalmente típica, prevista no art. 330
do Código Penal Brasileiro.
STJ. 3ª Seção. REsp 1859933-SC, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 09/03/2022 (Recurso
Repetitivo – Tema 1060) (Info 732).
92

Cuidado para não confundir:


Página

Jurisprudência em Teses (ed. 114):

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12) A desobediência a ordem de parada dada pela autoridade de trânsito ou por seus agentes, ou por policiais
ou outros agentes públicos no exercício de atividades relacionadas ao trânsito, não constitui crime de
desobediência, pois há previsão de sanção administrativa específica no art. 195 do CTB, o qual não estabelece
a possibilidade de cumulação de punição penal.

Importante fazer aqui a seguinte distinção:


• o condutor do veículo desobedece a ordem de parada dada em atividades relacionadas ao TRÂNSITO: não
há crime de desobediência.
• o condutor do veículo desobedece a ordem de parada dada em contexto de policiamento ostensivo para
prevenção e repressão de crimes, atuando os agentes públicos diretamente na segurança pública: configura
o crime de desobediência (REsp 1.859.933-SC).

Crimes de responsabilidade dos Prefeitos


Súmula 164-STJ: O prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua sujeito a processo por crime
previsto no art. 1º do Dec. Lei nº 201, de 27/02/67.
Súmula 703-STF: A extinção do mandato do Prefeito não impede a instauração de processo pela prática dos
crimes previstos no art. 1º do DL 201/67.

O crime previsto no art. 1°, VII, do Decreto-Lei nº 201/1967 se perfectibiliza quando há uma clara intenção
de descumprir os prazos para a prestação de contas
Se tiver havido a entrega da prestação de contas em momento posterior ao estipulado, mas se não tiver ficado
suficientemente demonstrada a intenção de atrasar e de descumprir os prazos previstos para se prestar
contas, não haverá crime por falta de elemento subjetivo (dolo).
Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário,
independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: (...) VII - Deixar de prestar contas, no
devido tempo, ao órgão competente, da aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos
ou externos, recebidos a qualquer título;
STJ. 6ª Turma. REsp 1695266/PB, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. em 23/06/2020 (Info 676).

Análise das circunstâncias judiciais no crime de gestão temerária


Conclusões do STJ sobre o que pode ou não ser utilizado para majorar a pena do crime de gestão temerária
na 1ª fase da dosimetria:
1) Somente pode ser sujeito ativo do crime de gestão temerária de instituição financeira alguma das pessoas
mencionadas no art. 25 da Lei nº 7.492/86. Por essa razão, não se pode aumentar a pena-base do delito
argumentando que a culpabilidade do réu é elevada em virtude de ele ocupar umas das funções ali
mencionadas. Essa condição é ínsita (própria) ao tipo penal praticado.
2) Na condenação pela gestão temerária, é vedado agravar a pena do réu alegando que ele agiu com ganância,
que violou as regras regentes da atividade financeira ou que sua conduta abalou a credibilidade do sistema
financeiro, pois essas circunstâncias são, todas elas, intrínsecas a esse tipo penal.
3) Para a consumação do delito de gestão temerária não se exige que tenha havido prejuízo à instituição
financeira. No entanto, esta circunstância pode ser utilizada na 1ª fase da dosimetria para aumentar a pena-
base, considerando que se trata de consequência negativa do crime.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.613.260-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 9/8/2016 (Info 588).

Compete à Justiça Federal julgar a conduta de réu que faz oferta pública de contrato de investimento
coletivo em criptomoedas sem prévia autorização da CVM
Se a denúncia imputa a oferta pública de contrato de investimento coletivo (sem prévio registro), não há
93

dúvida de que incide as disposições contidas na Lei nº 7.492/86 (Lei de Crimes contra o Sistema Financeiro),
especialmente porque essa espécie de contrato caracteriza valor mobiliário, nos termos do art. 2º, IX, da Lei
Página

nº 6.385/76.
Logo, compete à Justiça Federal apurar os crimes relacionados com essa conduta.

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Compete à Justiça Federal julgar crimes relacionados à oferta pública de contrato de investimento coletivo em
criptomoedas.
STJ. 6ª Turma. HC 530.563-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/03/2020 (Info 667).

Os crimes relacionados com pirâmide financeira envolvendo criptomoedas são, em princípio, de


competência da Justiça Estadual
Ausentes os elementos que revelem ter havido evasão de divisas ou lavagem de dinheiro em detrimento de
interesses da União, compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes relacionados a pirâmide financeira
em investimento de grupo em criptomoeda.
A captação de recursos decorrente de “pirâmide financeira” não se enquadra no conceito de atividade
financeira, razão pela qual o deslocamento do feito para a Justiça Federal se justifica apenas se demonstrada
a prática de evasão de divisas ou de lavagem de dinheiro em detrimento de bens e serviços ou interesse da
União.
STJ. 3ª Seção. CC 170.392-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).

Venda premiada configura o crime do art. 16 da Lei 7.492/86, de competência da Justiça Federal
A simulação de consórcio por meio de venda premiada, operada sem autorização do Banco Central do Brasil,
configura crime contra o sistema financeiro, tipificado pelo art. 16 da Lei nº 7.492/86, o que atrai a
competência da Justiça Federal.
STJ. 3ª Seção. CC 160.077-PA, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/10/2018 (Info 637).

Utilização de “laranjas” para comprar moeda estrangeira configura o crime do art. 21 da Lei 7.492/86
A utilização de terceiros (“laranjas”) para aquisição de moeda estrangeira para outrem, ainda que tenham
anuído com as operações, se subsome à conduta tipificada no art. 21 da Lei nº 7.492/86.
O bem jurídico resta violado com a dissimulação de esconder a real identidade do adquirente da moeda
estrangeira valendo-se da identidade, ainda que verdadeira, de terceiros.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.595.546-PR, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 2/5/2017 (Info 604).

O crime do art. 19 da Lei 7.492/86 se consuma no momento em que assinado o contrato de obtenção de
financiamento mediante fraude, ainda que o dinheiro não seja liberado
O crime de “obter, mediante fraude, financiamento em instituição financeira”(art. 19 da Lei nº 7.492/86) se
consuma no momento em que assinado o contrato de obtenção de financiamento mediante fraude.
Caso concreto: foram apresentados documentos falsos para a obtenção de financiamento imobiliário junto à
CEF. O contrato de financiamento chegou a ser assinado e, posteriormente, a fraude foi descoberta, antes da
liberação do crédito. Mesmo assim, o crime do art. 19 da Lei nº 7.492/86 deve ser considerado como
consumado, não havendo mera tentativa.
STJ. 5ª Turma.AgRg no REsp 2.002.450-SE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 17/4/2023 (Info 771).

Não se aplica o princípio da insignificância para remessa de divisas por meio de dólar-cabo, ainda que em
valores inferiores a 10 mil reais
Nos casos de evasão de divisas praticada mediante operação do tipo "dólar-cabo", não é possível utilizar o
valor de R$ 10 mil como parâmetro para fins de aplicação do princípio da insignificância.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.535.956-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, j. 1º/3/2016 (Info 578).

Dinheiro mantido no exterior integrando trust revogável cujo instituidor e beneficiário é a mesma pessoa
deverá ser declarado ao Banco Central ("Caso Eduardo Cunha")
Foi encontrada conta bancária em nome de um Deputado Federal no exterior na qual estavam depositados
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milhões de dólares. Vale ressaltar que o Parlamentar não comunicou a existência dessa conta ao Banco Central
Página

e que, na declaração que os candidatos a cargos eletivos devem prestar à Justiça Eleitoral sobre seus bens, ele
também não mencionou a existência desse dinheiro no exterior.

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Diante disso, ele foi denunciado pela prática de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98), evasão de
divisas (art. 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86) e falsidade ideológica para fins eleitorais (art. 350 do
Código Eleitoral).
Em sua defesa, o denunciado alegou que a conta bancária encontrada não está em nome dele. A sua
titularidade pertence a um trust e, portanto, ele não teria obrigação de declará-la ao BACEN nem à Justiça
Eleitoral.
Esta tese não foi aceita pelo STF no momento do recebimento da denúncia.
O Deputado Federal foi o instituidor do trust e figura como beneficiário. Além disso, o trust era revogável, de
forma que a relação contratual poderia ser a qualquer momento desfeita e o patrimônio voltaria à sua
titularidade. Logo, para o STF, ele detém a plena disponibilidade jurídica e econômica dos valores que integram
o trust.
Assim, se ele não declarou a existência de tais valores ao Banco Central e à Justiça Eleitoral, praticou, em tese,
os crimes de lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98), evasão de divisas (art. 22, parágrafo único, da
Lei nº 7.492/86) e falsidade ideológica para fins eleitorais (art. 350 do Código Eleitoral).
O fato de as quantias não estarem formalmente em seu nome é absolutamente irrelevante para a tipicidade
da conduta.
A manutenção de valores em contas no exterior, mediante utilização de interposta pessoa ou forma de
investimento (trust), além de não desobrigar o beneficiário de apresentar a correspondente declaração ao
BACEN, revela veementes indícios do ilícito de lavagem de dinheiro.
STF. Plenário. Inq 4146/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 22/6/2016 (Info 831).

A aplicação financeira realizada por meio da aquisição de cotas de fundo de investimento no exterior sem
que isso seja declarado ao BACEN configura o crime do art. 22, parágrafo único, parte final, da Lei nº
7.492/86
A aplicação financeira não declarada à repartição federal competente no exterior se subsume ao tipo penal
previsto na parte final do parágrafo único do art. 22 da Lei nº 7.492/86.
Art. 22. (...) Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, a qualquer título, promove, sem autorização legal,
a saída de moeda ou divisa para o exterior, ou nele mantiver depósitos não declarados à repartição federal
competente.
Ex: indivíduo residente no Brasil subscreveu cotas de fundo de investimento sediado nas Ilhas Cayman e não
informou a existência de tais valores na declaração de capitais brasileiros no exterior, que deveria ter sido
entregue ao Bacen.
STJ. 5ª Turma. AREsp 774.523-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 07/05/2019 (Info 648).

A Lei nº 7.716/89 pode ser aplicada para punir as condutas homofóbicas e transfóbicas
1. Até que sobrevenha lei emanada do Congresso Nacional destinada a implementar os mandados de
criminalização definidos nos incisos XLI e XLII do art. 5º da Constituição da República, as condutas homofóbicas
e transfóbicas, reais ou supostas, que envolvem aversão odiosa à orientação sexual ou à identidade de gênero
de alguém, por traduzirem expressões de racismo, compreendido este em sua dimensão social, ajustam-se,
por identidade de razão e mediante adequação típica, aos preceitos primários de incriminação definidos na
Lei nº 7.716, de 08.01.1989, constituindo, também, na hipótese de homicídio doloso, circunstância que o
qualifica, por configurar motivo torpe (Código Penal, art. 121, § 2º, I, “in fine”);
2. A repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou limita o exercício da liberdade
religiosa, qualquer que seja a denominação confessional professada, a cujos fiéis e ministros (sacerdotes,
pastores, rabinos, mulás ou clérigos muçulmanos e líderes ou celebrantes das religiões afro-brasileiras, entre
outros) é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela imagem ou por qualquer
outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções de acordo com o que se contiver em seus livros
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e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua orientação doutrinária e/ou teológica, podendo
buscar e conquistar prosélitos e praticar os atos de culto e respectiva liturgia, independentemente do espaço,
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público ou privado, de sua atuação individual ou coletiva, desde que tais manifestações não configurem

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discurso de ódio, assim entendidas aquelas exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a
violência contra pessoas em razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero;
3. O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de aspectos
estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de poder, de uma construção de
índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a desigualdade e destinada ao controle
ideológico, à dominação política, à subjugação social e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade
daqueles que, por integrarem grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém
posição de hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e diferentes, degradados à
condição de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em consequência de odiosa inferiorização e de
perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de exclusão do sistema geral de proteção do direito.
STF. Plenário. ADO 26/DF, Rel. Min. Celso de Mello; MI 4733/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em
13/6/2019 (Info 944).

Simples fato de ter recebido a propina em espécie não configura lavagem de dinheiro
O mero recebimento de valores em dinheiro não tipifica o delito de lavagem, seja quando recebido pelo
próprio agente público, seja quando recebido por interposta pessoa.
STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

Recebimento de propina em depósitos bancários fracionados pode configurar lavagem


Pratica lavagem de dinheiro o sujeito que recebe propina por meio de depósitos bancários fracionados, em
valores que não atingem os limites estabelecidos pelas autoridades monetárias à comunicação compulsória
dessas operações.
Ex: suponhamos que, na época, a autoridade bancária dizia que todo depósito acima de R$ 20 mil deveria ser
comunicado ao COAF; diante disso, um Deputado recebia depósitos periódicos de R$ 19 mil para burlar essa
regra. Para o STF, isso configura o crime de lavagem. Trata-se de uma forma de ocultação da origem e da
localização da vantagem pecuniária recebida pela prática do crime antecedente.
STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).

Complexidade do esquema criminoso como circunstância negativa na dosimetria da pena


Na fixação da pena do crime de evasão de divisas (art. 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86), o fato de o
delito ter sido cometido por organização criminosa complexa e bem estruturada pode ser valorado de forma
negativa a título de circunstâncias do crime.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.535.956-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 1º/3/2016 (Info 578).

Em regra, não há automática consunção quando ocorrem armazenamento e compartilhamento de material


pornográfico infanto-juvenil
Se o sujeito armazena (art. 241-B) arquivos digitais contendo cena de sexo explícito e pornográfica envolvendo
crianças e adolescentes e depois disponibiliza (art. 241-A), pela internet, esses arquivos para outra pessoa,
esse indivíduo terá praticado dois crimes ou haverá consunção e ele responderá por apenas um dos delitos?
Em regra, não há automática consunção quando ocorrem armazenamento e compartilhamento de material
pornográfico infanto-juvenil. Isso porque o cometimento de um dos crimes não perpassa, necessariamente,
pela prática do outro.
No entanto, é possível a absorção a depender das peculiaridades de cada caso, quando as duas condutas
guardem, entre si, uma relação de meio e fim estreitamente vinculadas.
O princípio da consunção exige um nexo de dependência entre a sucessão de fatos.
Se evidenciado pelo caderno probatório que um dos crimes é absolutamente autônomo, sem relação de
subordinação com o outro, o réu deverá responder por ambos, em concurso material.
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A distinção se dá em cada caso, de acordo com suas especificidades.


STJ. 6ª Turma. REsp 1.579.578-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. em 04/02/2020 (Info 666).
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Tipicidade da omissão na apresentação de declaração ao Fisco
Se o contribuinte deixa de apresentar declaração ao Fisco com o fim de obter a redução ou supressão de
tributo e consegue atingir o resultado almejado, tal conduta consubstancia crime de sonegação fiscal, na
modalidade do inciso I do art. 1º da Lei nº 8.137/90.
A constituição do crédito tributário, por vezes, depende de uma obrigação acessória do contribuinte, como a
declaração do fato gerador da obrigação tributária (lançamento por declaração). Se o contribuinte não realiza
tal ato com vistas a não pagar o tributo devido ou a reduzir o seu valor, comete o mesmo crime daquele que
presta informação incompleta.
A circunstância de o Fisco dispor de outros meios para constituir o crédito tributário, ante a omissão do
contribuinte em declarar o fato gerador, não afasta a tipicidade da conduta; o arbitramento efetivado é uma
medida adotada pelo Fisco para reparar a evasão decorrente da omissão e uma evidência de que a conduta
omissiva foi apta a gerar a supressão ou, ao menos, a redução do tributo na apuração.
Assim, segundo entendeu o STJ, a omissão na entrega da antiga Declaração de Informações Econômico-Fiscais
da Pessoa Jurídica (DIPJ) consubstanciava conduta apta a firmar a tipicidade do crime de sonegação fiscal
previsto no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90, ainda que o Fisco dispusesse de outros meios para a constituição do
crédito tributário. Obs: a DIPJ foi substituída pela Escrituração Contábil Fiscal (ECF).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.561.442-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/2/2016 (Info 579).

Incompatibilidade entre os rendimentos declarados e os valores movimentados caracteriza omissão de


receita
Se há uma incompatibilidade entre os rendimentos informados pelo contribuinte na declaração de ajuste
anual e os valores movimentados no ano calendário em sua conta bancária isso caracteriza a presunção
relativa de omissão de receita, configurando o crime previsto no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90.
Por se tratar de uma presunção relativa, o réu pode fazer prova em sentido contrário.
O dolo desse tipo penal manifesta-se na conduta dirigida à omissão de receita e à redução do IRPF,
concretizada na apresentação de declaração de imposto de renda sem informar a realização da respectiva
movimentação financeira.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.326.034-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 2/10/2012.

Não ofende a presunção de inocência a exigência do Fisco de comprovação da origem de valores (art. 42 da
Lei 9.430/96)
A Lei nº 9.430/96 trata sobre procedimentos de fiscalização tributária realizados pela Receita Federal. Em
alguns dispositivos, a Lei define omissão de receita, ou seja, situações em que a fiscalização considera que o
contribuinte não declarou corretamente as receitas ou rendimentos obtidos. Veja o que diz o art. 42:
Art. 42. Caracterizam-se também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de
depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física
ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos
recursos utilizados nessas operações.
Em outras palavras, se é depositada uma determinada quantia na conta bancária do indivíduo e este não
consegue provar a origem desses recursos, a Receita Federal irá presumir que são rendimentos e,
consequentemente, irá lavrar auto de infração e cobrar o valor do imposto de renda sobre tais quantias.
Se o contribuinte não se defender administrativamente ou se a sua defesa não for acatada, haverá a
constituição definitiva desse crédito tributário.
A partir daí, a RFB comunica o fato ao MPF que, então, irá formular denúncia (ação penal) contra o contribuinte
alegando que ele praticou o delito do art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90.

Caso o contribuinte/réu seja condenado por esse fato, haverá violação ao princípio da presunção de inocência?
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NÃO. Não ofende o princípio constitucional da presunção de inocência a exigência de comprovação da origem
de valores estabelecida no art. 42 da Lei nº 9.430/96.
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Para o STF, o contribuinte, ao não comprovar a origem dos recursos depositados em sua conta bancária, cria,
contra si, uma presunção relativa de que houve omissão de rendimentos, ensejando a condenação criminal.

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Não há ofensa ao princípio da presunção de inocência porque se trata de um procedimento legalmente
estabelecido e disciplinado, sendo certo que ao contribuinte é garantido o contraditório e a ampla defesa.
STF. 2ª Turma. HC 121125/PR, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/6/2014 (Info 750).

Uso de documento falso em sonegação fiscal


O uso de documento falso é absorvido pelo crime de sonegação fiscal quando constitui meio/caminho
necessário para a sua consumação.
Constitui mero exaurimento do delito de sonegação fiscal a apresentação de recibo ideologicamente falso à
autoridade fazendária, no bojo de ação fiscal, como forma de comprovar a dedução de despesas para a
redução da base de cálculo do imposto de renda de pessoa física.
STJ. 5ª Turma. HC 131.787-PE, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 14/8/2012.

Simples fato de ser sócio não conduz à responsabilidade criminal


O simples fato de o acusado ser sócio e administrador da empresa constante da denúncia não pode levar a
crer, necessariamente, que ele tivesse participação nos fatos delituosos, a ponto de se ter dispensado ao
menos uma sinalização de sua conduta, ainda que breve, sob pena de restar configurada a repudiada
responsabilidade criminal objetiva.
STJ. 6ª Turma. HC 224.728/PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/06/2014 (Info 543).

Investigação preliminar antes da constituição definitiva do crédito tributário


Imagine que determinada empresa deixou de pagar tributos, fraudando a fiscalização tributária (inciso II do
art. 1º da Lei nº 8.137/90). Ocorre que o Fisco ainda não terminou o processo administrativo-fiscal instaurado
para apurar o fato. É possível que seja instaurado inquérito policial para apurar o crime mesmo não tendo
havido ainda a constituição definitiva do crédito tributário?
SIM. Nos crimes de sonegação tributária, apesar de a jurisprudência do STF condicionar a persecução penal à
existência do lançamento tributário definitivo, o mesmo não ocorre quanto à investigação preliminar. Em
outras palavras, mesmo não tendo havido ainda a constituição definitiva do crédito tributário, já é possível o
início da investigação criminal para apurar o fato.
STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info 819).

Impossibilidade de medidas cautelares penais antes da constituição definitiva


Antes da constituição definitiva do crédito tributário não existe crime de sonegação. Logo, não é lícito que a
autoridade policial inicie investigação para apurar esse fato e não é possível que o juiz decrete medidas
cautelares penais (exs.: quebra de sigilo, busca e apreensão etc.).
Assim, não existindo o lançamento definitivo do crédito tributário, revela-se ilegal a concessão de medida de
busca e apreensão e de quebra de sigilo fiscal, em procedimento investigatório, visando apurar os crimes em
apreço.
STJ. 5ª Turma. HC 211.393/RS, julgado em 13/08/2013.

Súmula vinculante 24-STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no artigo 1º,
incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.

Para fazer a prova da constituição definitiva do crédito tributário não se exige a juntada integral do PAF
Para o início da ação penal, basta a prova da constituição definitiva do crédito tributário (Súmula Vinculante
24), sendo desnecessária a juntada integral do Procedimento Administrativo Fiscal correspondente.
STJ. 5ª Turma. RHC 94.288-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/05/2018 (Info 627).
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Ajuizamento da ação penal antes da constituição definitiva


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Imagine que, mesmo após a edição da SV 24-STF, o Ministério Público tenha oferecido denúncia contra o réu
pelo art. 1º, I sem que tivesse havido constituição definitiva do crédito tributário. O juiz recebeu a denúncia. O

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réu impetrou habeas corpus invocando o enunciado. Antes que fosse julgado o HC, houve lançamento
definitivo. O que deverá acontecer nesse caso? A superveniente constituição definitiva convalida o vício inicial?
NÃO. A constituição do crédito tributário após o recebimento da denúncia não tem o condão de convalidar a
ação penal que foi iniciada em descompasso com as normas jurídicas vigentes e com a SV24 do STF. Desde o
nascedouro, essa ação penal é nula porque referente a atos desprovidos de tipicidade (STJ. 5ª Turma. HC
238.417/SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/03/2014).
Trata-se de vício processual que não é passível de convalidação (STF. 1ª Turma. HC 97854, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgado em 11/03/2014).
O MP poderá, no entanto, oferecer nova denúncia após a constituição definitiva.
Obs: se essa denúncia tivesse sido proposta antes da SV 24-STF, então, nesse caso, a solução poderia diferente
e a superveniência da constituição definitiva do crédito tributário poderia convalidar a ação proposta sem esse
pressuposto. Isso porque antes da súmula havia muita polêmica sobre a matéria, sendo razoável, em nome
da segurança jurídica, convalidar esses atos STJ. 6ª Turma. REsp 1211481/SP, Rel. p/ Acórdão Ministro Rogerio
Schietti Cruz, julgado em 15/10/2013.

A extinção do crédito tributário pela prescrição não influencia na ação penal por crime contra a ordem
tributária
O reconhecimento de prescrição tributária em execução fiscal não é capaz de justificar o trancamento de ação
penal referente aos crimes contra a ordem tributária previstos nos incisos I a IV do art. 1º da Lei nº 8.137/90.
A constituição regular e definitiva do crédito tributário é suficiente para tipificar as condutas previstas no art.
1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90, não influenciando em nada, para fins penais, o fato de ter sido reconhecida a
prescrição tributária.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 202.617/DF, Rel. Min. Campos Marques (Des. Conv. do TJ/PR), julgado em
11/04/2013.
STJ. 6ª Turma. RHC 67.771-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/3/2016 (Info 579).

Extinção da punibilidade pelo pagamento integral de débito mesmo após o trânsito em julgado
O pagamento integral do débito tributário, a qualquer tempo, até mesmo após o trânsito em julgado da
condenação, é causa de extinção da punibilidade do agente, nos termos do art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/2003.
STJ. 5ª Turma. HC 362.478-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/9/2017 (Info 611).
STF. 2ª Turma. RHC 128245, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/08/2016.

O prazo da prescrição da pretensão punitiva fica suspenso durante o parcelamento do débito tributário
O que acontece se o réu de um crime contra a ordem tributária aderir ao parcelamento da dívida?
Haverá a suspensão do processo penal. Nos crimes contra a ordem tributária, quando o agente ingressa no
regime de parcelamento dos débitos tributários, fica suspensa a pretensão punitiva penal do Estado (o
processo criminal fica suspenso).
Durante o parcelamento o que ocorre com o prazo prescricional?
Também fica suspenso. O prazo prescricional não corre enquanto estiverem sendo cumpridas as condições do
parcelamento do débito fiscal. É o que prevê o art. 9º, § 1º da Lei nº 10.684/2003.
Se, ao final, o réu pagar integralmente os débitos, haverá a extinção da punibilidade.
STF. 2ª Turma. ARE 1037087 AgR/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/8/2018 (Info 911).

Pagamento da multa tributária não extingue a punibilidade do crime previsto no art. 1º, V, da Lei 8.137/90
O pagamento da penalidade pecuniária imposta ao contribuinte que deixa de atender às exigências da
autoridade tributária estadual quanto à exibição de livros e documentos fiscais não se adequa a nenhuma das
hipóteses de extinção de punibilidade previstas no § 2º do art. 9º da Lei nº 10.864/2003.
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STJ. 6ª Turma. REsp 1.630.109-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/2/2017 (Info 598).
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Para a incidência do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 em caso de sonegação fiscal de tributos federais, é
necessário que o valor da dívida seja igual ou superior a R$ 1 milhão; se a sonegação fiscal for de tributos
estaduais ou municipais, deve-se analisar o que define a Fazenda local
O art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 prevê que a pena do crime de sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90)
deverá ser aumentada no caso de o delito “ocasionar grave dano à coletividade”.
A jurisprudência entende que se configura a referida causa de aumento quando o agente deixa de recolher
aos cofres públicos uma vultosa quantia. Em outras palavras, se o valor sonegado foi alto, incide a causa de
aumento do art. 12, I.
Nesse cálculo deve-se incluir também os juros e multa:
Para os fins da majorante do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 (grave dano à coletividade), o dano tributário deve
ser valorado considerando seu valor atual e integral, incluindo os acréscimos legais de juros e multa.
A Portaria nº 320, editada pela Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, prevê que os contribuintes que estão
devendo acima de R$ 1 milhão são considerados “grandes devedores” e devem receber tratamento prioritário
na atuação dos Procuradores.
O STJ utiliza, então, essa Portaria como parâmetro para analisar a incidência ou não da causa de aumento do
art. 12, I:
A majorante do grave dano à coletividade, trazida pelo art. 12, I, da Lei nº 8.137/90, deve se restringir a
situações especiais de relevante dano. Desse modo, é possível, para os tributos federais, utilizar,
analogamente, o critério previsto no art. 14 da Portaria 320/PGFN, por meio do qual se definiu
administrativamente os créditos prioritários como sendo aqueles de valor igual ou superior a R$ 1.000.000,00
(um milhão de reais).
E se a sonegação fiscal envolver tributos estaduais ou municipais, como deverá ser o parâmetro nesses casos?
Em se tratando de tributos estaduais ou municipais, o critério deve ser, por equivalência, aquele definido como
prioritário ou de destacados créditos (grandes devedores) para a fazenda local.
Dito de outro modo, em caso de tributos estaduais ou municipais, não se de deve utilizar a Portaria 320/PGFN,
mas sim os eventuais atos normativos estaduais e municipais que definam o que sejam “grandes devedores”
para o Fisco local.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.849.120-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/03/2020 (Info 668).

Aplicação da SV 24-STF a fatos anteriores à sua edição


A SV 24-STF diz que o crime tributário material só se consuma com o lançamento definitivo do tributo. Em
outras palavras, não existe crime antes da constituição definitiva do crédito tributário. Logo, indiretamente, a
SV afirma que o prazo prescricional só começa a ser contado no dia da constituição definitiva do crédito
tributário já que é nessa data que o delito se consuma (art. 111, I, do CP).
Perceba, portanto, que sob o ponto de vista da prescrição, a SV 24-STF é prejudicial para o réu porque mesmo
ele tendo praticado a conduta anos antes, o prazo prescricional nem começou a correr se ainda não houve
constituição definitiva do crédito tributário. Fica assim mais difícil de o agente escapar da prescrição. O Estado-
acusação acaba “ganhando” mais tempo para oferecer a denúncia antes que o crime prescreva.
Desse modo, surgiu a tese defensiva de que a SV 24-STF, por ser mais gravosa ao réu, não poderia retroagir para
ser aplicada a fatos anteriores à sua edição, sob pena de isso ser considerado aplicação retroativa “in malam
partem”. Esse argumento foi aceito? É proibido aplicar a SV 24-STF para fatos anteriores à sua edição?
NÃO. A tese não foi aceita. A SV 24-STF pode sim ser aplicada a fatos anteriores à sua edição.
Não se pode concordar com o argumento de que a aplicação da SV 24-STF a fatos anteriores à sua edição
configura retroatividade “in malam partem”. Isso porque o aludido enunciado apenas consolidou
interpretação reiterada do STF sobre a matéria.
A súmula vinculante não é lei nem ato normativo, de forma que a SV 24-STF não inovou no ordenamento
jurídico. O enunciado apenas espelhou (demonstrou) o que a jurisprudência já vinha decidindo.
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STF. 1ª Turma. RHC 122774/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/5/2015 (Info 786).
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.318.662-PR, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 28/11/2018 (Info 639).
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Crime do art. 54 e desnecessidade de perícia

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O delito previsto na primeira parte do artigo 54 da Lei nº 9.605/1998 possui natureza formal, sendo suficiente
a potencialidade de dano à saúde humana para configuração da conduta delitiva, não se exigindo, portanto, a
realização de perícia.
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à
saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora. Pena —
reclusão, de um a quatro anos, e multa.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1417279/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 11/04/2018 (Info 624).

Construir uma casa em uma unidade de conservação: crime do art. 64 da Lei 9.605/98 (os delitos dos arts.
40 e 48 ficam absorvidos)
Absorção do delito do art. 40 pelo crime do art. 64 da Lei nº 9.605/98
O delito de causar dano em unidade de conservação (art. 40 da Lei nº 9.605/98) pode ser absorvido pelo delito
de construir em solo que, por seu valor ecológico, não é edificável (art. 64 da Lei nº 9.605/98).
Para analisar a possibilidade de absorção do crime do art. 40 da Lei nº 9.605/98 pelo do art. 64, não é relevante
a diversidade de bens jurídicos protegidos por cada tipo incriminador; tampouco impede a consunção o fato
de que o crime absorvido tenha pena maior do que a do crime continente, como se vê na própria Súmula
17/STJ.

Absorção do delito do art. 48 pelo crime do art. 64 da Lei nº 9.605/98


A conduta do art. 48 da Lei nº 9.605/98 é mero pós-fato impunível do ato de construir em local não edificável.
Afinal, com a própria existência da construção desejada e executada pelo agente - e à qual, portanto, se dirigia
seu dolo -, é inevitável que fique impedida a regeneração da flora antes existente no mesmo lugar.
Por isso, o princípio da consunção obsta a punição autônoma dos dois delitos.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.925.717-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 25/05/2021 (Info 698).

O princípio da intranscendência da pena também se aplica para pessoas jurídicas; assim, se uma empresa
que está respondendo processo por crime ambiental for incorporada, sem nenhum indício de fraude, haverá
extinção da punibilidade
O princípio da intranscendência da pena, previsto no art. 5º, XLV, da CF/88, tem aplicação às pessoas jurídicas.
Afinal, se o direito penal brasileiro optou por permitir a responsabilização criminal dos entes coletivos, mesmo
com suas peculiaridades decorrentes da ausência de um corpo biológico, não pode negar-lhes a aplicação de
garantias fundamentais utilizando-se dessas mesmas peculiaridades como argumento.
Se a pessoa jurídica que estava respondendo processo penal por crime ambiental for incorporadora, ela se
considera legalmente extinta (art. 219, II, da Lei nº 6.404/76). Logo, neste caso, se não houver nenhum indício
de fraude, deve-se aplicar analogicamente o art. 107, I, do CP (morte do agente), com a consequente extinção
de sua punibilidade.
Obs: este julgamento tratou de situação em que a ação penal foi extinta pouco após o recebimento da
denúncia, muito antes da prolação da sentença. Ocorrendo fraude na incorporação (ou, mesmo sem fraude,
a realização da incorporação como forma de escapar ao cumprimento de uma pena aplicada em sentença
definitiva), haverá evidente distinção em face do precedente ora firmado, com a aplicação de consequência
jurídica diversa. É possível pensar, em tais casos, na desconsideração ou ineficácia da incorporação em face
do Poder Público, a fim de garantir o cumprimento da pena.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.977.172-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/08/2022 (Info 746).

Atipicidade da conduta de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido com registro vencido
Não configura o crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003) a conduta do agente
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que mantém sob guarda, no interior de sua residência, arma de fogo de uso permitido com registro vencido.
Se o agente já procedeu ao registro da arma, a expiração do prazo é mera irregularidade administrativa que
autoriza a apreensão do artefato e aplicação de multa. A conduta, no entanto, não caracteriza ilícito penal.
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Ex: a Polícia, ao realizar busca e apreensão na casa de João, lá encontrou um revólver, de uso permitido. João
apresentou o registro da arma de fogo localizada, porém ele estava vencido há mais de um ano. João não
praticou crime de posse ilegal de arma de fogo (art. 12 da Lei nº 10.826/2003).
STJ. Corte Especial. APn 686-AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. em 21/10/2015 (Info 572).
STJ. 5ª Turma. HC 294.078/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/08/2014.

Caracteriza ilícito penal o porte ilegal de arma de fogo (art. 14 da Lei 10.826/2003) ou de arma de fogo de
uso restrito (art. 16 da Lei 10.826/2003) com registro de cautela vencido
A Corte Especial do STJ decidiu que, uma vez realizado o registro da arma, o vencimento da autorização não
caracteriza ilícito penal, mas mera irregularidade administrativa que autoriza a apreensão do artefato e
aplicação de multa (APn n. 686/AP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, DJe de 29/10/2015).
Tal entendimento, todavia, é restrito ao delito de posse ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 12 da Lei
nº 10.826/2003), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14), muito menos ao delito
de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas elementares são diversas e a reprovabilidade
mais intensa.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 885281-ES, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 28/04/2020 (Info
671).

A prerrogativa de porte de arma de fogo deferida aos magistrados pela LOMAN não os exonera da
obrigação de efetivar o registro da arma na Polícia Federal, bem como a renovação periódica da certificação
A prerrogativa de porte de arma de fogo deferida aos magistrados pela LOMAN não os exonera da obrigação
de efetivar o registro da arma na Polícia Federal, bem como a renovação periódica da certificação.
STJ. Corte Especial. APn 955/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 07/10/2020.
STF. Plenário. AO 2280 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/03/2019.

Arma de fogo encontrada em caminhão configura porte de arma de fogo (e não posse)
Se a arma de fogo é encontrada no interior do caminhão dirigido por motorista profissional, trata-se de crime
de porte de arma de fogo (art. 14 do Estatuto do Desarmamento).
O veículo utilizado profissionalmente NÃO pode ser considerado “local de trabalho” para tipificar a conduta
como posse de arma de fogo de uso permitido (art. 12).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.219.901-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/4/2012.

LEI 13.964/2019
Alterou a redação do parágrafo único do art. 1º da Lei nº 8.072/90:
Art. 1º. (...)
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956;
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826, de
22 de dezembro de 2003;
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003;
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº
10.826, de 22 de dezembro de 2003;
V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou equiparado.

Condenação pelo art. 28 da LD NÃO gera reincidência


102

A condenação anterior pelo art. 28 da Lei nº 11.343/2006 (porte de droga para uso próprio) NÃO configura
reincidência.
Argumento principal: se a contravenção penal, que é punível com pena de prisão simples, não configura
Página

reincidência, mostra-se desproporcional utilizar o art. 28 da LD para fins de reincidência considerando que

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este delito é punida apenas com “advertência”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa”,
ou, seja, sanções menos graves e nas quais não há qualquer possibilidade de conversão em pena privativa de
liberdade pelo descumprimento.
Há de se considerar, ainda, que a própria constitucionalidade do art. 28 da LD está sendo fortemente
questionada.
STJ. 5ª Turma. HC 453.437/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2018.
STJ. 6ª Turma. REsp 1672654/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 21/08/2018.

Viola o princípio da proporcionalidade a consideração de condenação anterior pelo delito do art. 28 da Lei nº
11.343/2006, “porte de droga para consumo pessoal”, para fins de reincidência.
STF. 2ª Turma. RHC 178512 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/3/2022 (Info 1048).

A reincidência de que trata o § 4º do art. 28 da Lei nº 11.343/2006 é a específica


O art. 28 da Lei nº 11.343/2006 prevê o crime de porte de drogas para consumo pessoal.
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal,
drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
Em regra, as penas dos incisos II e III só podem ser aplicadas pelo prazo máximo de 5 meses.
O § 4º prevê que: “em caso de reincidência, as penas previstas nos incisos II e III do caput deste artigo serão
aplicadas pelo prazo máximo de 10 (dez) meses.”
A reincidência de que trata o § 4º é a reincidência específica.
Assim, se um indivíduo já condenado definitivamente por roubo, pratica o crime do art. 28, ele não se
enquadra no § 4º. Isso porque se trata de reincidente genérico.
O § 4º ao falar de reincidente, está se referindo ao crime do caput do art. 28.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.771.304-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

Atipicidade da importação de pequena quantidade de sementes de maconha


É atípica a conduta de importar pequena quantidade de sementes de maconha.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1.624.564-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 14/10/2020 (Info 683).
STF. 2ª Turma. HC 144161/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/9/2018 (Info 915).

A concessão de autorização para o cultivo de maconha depende de critérios técnicos cujo estudo refoge à
competência do juízo criminal, que não pode se imiscuir em temas cuja análise incumbe à ANVISA
É incabível salvo-conduto para o cultivo da cannabis visando a extração do óleo medicinal, ainda que na
quantidade necessária para o controle da epilepsia, posto que a autorização fica a cargo da análise do caso
concreto pela ANVISA.
STJ. 5ª Turma. RHC 123.402-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 23/03/2021 (Info 690).

É possível que o Poder Judiciário conceda autorização para que a pessoa faça o cultivo de maconha com
objetivos medicinais
É cabível a concessão de salvo-conduto para o plantio e o transporte de Cannabis Sativa para fins
exclusivamente terapêuticos, com base em receituário e laudo subscrito por profissional médico
especializado, e chancelado pela Anvisa.
103

STJ. 6ª Turma. RHC 147.169, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 14/06/2022.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.972.092, Rel. Min. Rogerio Schietti, julgado em 14/06/2022 (Info 742).
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As condutas de plantar maconha para fins medicinais e importar sementes para o plantio não preenchem a
tipicidade material, motivo pelo qual se faz possível a expedição de salvo-conduto, desde que comprovada a
necessidade médica do tratamento.
STJ. 5ª Turma. HC 779.289/DF, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/11/2022 (Info 758).

Falta de laudo pericial definitivo pode ser suprida na comprovação de tráfico


Nos casos em que ocorre a apreensão da droga, o laudo toxicológico definitivo é imprescindível à
demonstração da materialidade delitiva do delito. Isso, no entanto, não retira a possibilidade de que, em
situações excepcionais, a comprovação da materialidade do crime possa ser feita pelo próprio laudo de
constatação provisório, quando ele permita grau de certeza idêntico ao do laudo definitivo, pois elaborado
por perito oficial, em procedimento e com conclusões equivalentes.
STJ. 3ª Seção. EREsp 1544057/RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/10/2016.

Consumação do crime de tráfico de drogas na modalidade adquirir pelo simples fato de a droga ter sido
negociada por telefone
A conduta consistente em negociar por telefone a aquisição de droga e também disponibilizar o veículo que
seria utilizado para o transporte do entorpecente configura o crime de tráfico de drogas em sua forma
consumada (e não tentada), ainda que a polícia, com base em indícios obtidos por interceptações telefônicas,
tenha efetivado a apreensão do material entorpecente antes que o investigado efetivamente o recebesse.
Para que configure a conduta de "adquirir", prevista no art. 33 da Lei nº 11.343/2006, não é necessária a
tradição do entorpecente e o pagamento do preço, bastando que tenha havido o ajuste. Assim, não é
indispensável que a droga tenha sido entregue ao comprador e o dinheiro pago ao vendedor, bastando que
tenha havido a combinação da venda.
STJ. 6ª Turma. HC 212.528-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 1º/9/2015 (Info 569).

Presença de canabinoides na substância é suficiente para ser classificada como maconha, ainda que não
haja THC
Classifica-se como "droga", para fins da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), a substância apreendida que
possua "canabinoides" (característica da espécie vegetal Cannabis sativa), ainda que naquela não haja
tetrahidrocanabinol (THC).
STJ. 6ª Turma. REsp 1.444.537-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 12/4/2016 (Info 582).

Em regra, compete à Justiça Estadual julgar habeas corpus preventivo destinado a permitir o cultivo e o
porte de maconha para fins medicinais
Compete à Justiça Estadual o pedido de habeas corpus preventivo para viabilizar, para fins medicinais, o
cultivo, uso, porte e produção artesanal da Cannabis (maconha), bem como porte em outra unidade da
federação, quando não demonstrada a internacionalidade da conduta.
STJ. 3ª Seção. CC 171.206-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 10/06/2020 (Info 673).

Não se pode aplicar o § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 com as penas da Lei 6.368/76
Súmula 501-STJ: É cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/06, desde que o resultado da incidência das
suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei 6.368/76, sendo
vedada a combinação de leis.

Causa de aumento do inciso V do art. 40 não exige a efetiva transposição da fronteira


Súmula 587-STJ: Para a incidência da majorante prevista no artigo 40, V, da Lei 11.343/06, é desnecessária a
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efetiva transposição de fronteiras entre estados da federação, sendo suficiente a demonstração inequívoca
da intenção de realizar o tráfico interestadual.
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Tráfico transnacional de drogas
Súmula 607-STJ: A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei nº 11.343/2006) configura-
se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição de fronteiras.

Só poderá incidir a interestadualidade se ficar demonstrado que a intenção do agente era pulverizar a droga
em mais de um Estado-membro
Se o agente importa a droga com objetivo de vendê-la em determinado Estado da Federação, mas, para chegar
até o seu destino, ele tem que passar por outros Estados, incidirá, neste caso, apenas a causa de aumento da
transnacionalidade (art. 40, I), não devendo ser aplicada a majorante da interestadualidade (art. 40, V) se a
intenção do agente não era a de comercializar o entorpecente em mais de um Estado da Federação.
As causas especiais de aumento da pena relativas à transnacionalidade e à interestadualidade do delito,
previstas, respectivamente, nos incisos I e V do art. 40 da Lei de Drogas, até podem ser aplicadas
simultaneamente, desde que demonstrada que a intenção do acusado que importou a substância era a de
pulverizar a droga em mais de um Estado do território nacional. Se isso não ficar provado, incide apenas a
transnacionalidade.
Assim, é inadmissível a aplicação simultânea das causas de aumento da transnacionalidade (art. 40, I) e da
interestadualidade (art. 40, V) quando não ficar comprovada a intenção do importador da droga de difundi-la
em mais de um Estado-membro. O fato de o agente, por motivos de ordem geográfica, ter que passar por
mais de um Estado para chegar ao seu destino final não é suficiente para caracterizar a interestadualidade.
STJ. 6ª Turma. HC 214.942-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 16/6/2016 (Info 586).

Utilização da natureza e quantidade da droga na dosimetria na pena


As circunstâncias da natureza e da quantidade da droga apreendida devem ser levadas em consideração
apenas em uma das fases do cálculo da pena, sob pena de bis in idem.
STF. Plenário. ARE 666334 RG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 03/04/2014 (repercussão geral).

É possível utilizar a quantidade e natureza da droga apreendida para a modulação da causa de diminuição
prevista no art. 33, § 4º, da LD?
É possível a valoração da quantidade e natureza da droga apreendida, tanto para a fixação da pena-base
quanto para a modulação da causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006, neste último
caso ainda que sejam os únicos elementos aferidos, desde que não tenham sidos considerados na primeira
fase do cálculo da pena.
STJ. 3ª Seção. HC 725534-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 27/04/2022 (Info 734).

Pureza da droga é irrelevante na dosimetria da pena


O grau de pureza da droga é irrelevante para fins de dosimetria da pena.
De acordo com a Lei nº 11.343/2006, preponderam apenas a natureza e a quantidade da droga apreendida
para o cálculo da dosimetria da pena.
STF. 2ª Turma. HC 132909/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2016 (Info 818).

Tráfico privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006) não é crime equiparado a hediondo
O chamado "tráfico privilegiado", previsto no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/2006 (Lei de Drogas), não deve
ser considerado crime equiparado a hediondo.
STF. Plenário. HC 118533, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/06/2016 (Info 831).

Pacote anticrime
105

Em 2019, foi editada a Lei nº 13.964/2019, que acrescentou o § 5º ao art. 112 da LEP positivando o
entendimento acima exposto:
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Art. 112 (...)

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§ 5º Não se considera hediondo ou equiparado, para os fins deste artigo, o crime de tráfico de drogas previsto
no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006.

A apreensão de petrechos para a traficância, a depender das circunstâncias do caso concreto, pode afastar
a causa de diminuição de pena do tráfico privilegiado (art. 33, § 4º, da LD)
Caso adaptado: o agente foi preso em flagrante delito e com ele foram encontrados, além de entorpecentes,
balança de precisão, colher, peneira, todos com resquícios de cocaína e 66 frasconetes. O juiz condenou o réu
e negou o benefício do art. 33, § 4º sob o argumento de que havia a apreensão desses petrechos, utilizados
comumente para o tráfico de drogas, indicam que o réu se dedicava às atividades criminosas. Assim, não
preencheu um dos requisitos para a obtenção do benefício.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 773.113-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 04/10/2022 (Info
752).

A semi-imputabilidade (art. 46 da LD), por si só, não afasta o tráfico de drogas e o seu caráter hediondo, tal
como a forma privilegiada do § 4º do art. 33
O art. 46 da Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) estabelece o seguinte:
Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstâncias previstas no
art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Esse dispositivo prevê uma causa especial de diminuição de pena aplicada quando o juiz entender que o réu
não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. Trata-se de hipótese da semi-imputabilidade.
No caso, a defesa requereu que fosse excluída a natureza hedionda do delito de tráfico de drogas, sob o
argumento de que, por se tratar o paciente de semi-imputável, seria similar ao crime de tráfico privilegiado
(art. 33, § 4º, da Lei nº 11.343/2006).
O STJ não concordou. Não há previsão legal de que a semi-imputabilidade, por si só, afaste o caráter hediondo
do tráfico de drogas, tal como ocorre com a forma privilegiada do § 4º do art. 33.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 716.210-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 10/05/2022 (Info 737).

Inquéritos e ações penais em curso não servem para impedir o reconhecimento do tráfico privilegiado
É vedada a utilização de inquéritos e/ou ações penais em curso para impedir a aplicação do art. 33, § 4º, da
Lei nº 11.343/2006.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.977.027-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 10/08/2022 (Recurso Repetitivo – Tema
1139) (Info 745).
Esse é também o entendimento do STF que, no entanto, menciona, em quase todas as suas ementas, a
expressão “por si só”, indicando que tais elementos podem ser avaliados em conjunto com o restante das
provas:
A jurisprudência deste Supremo Tribunal Federal é no sentido de que a existência de inquéritos ou ações
penais em andamento não é, por si só, fundamento idôneo para afastamento da minorante do art. 33, § 4º,
da Lei 11.343/2006.
STF. 1ª Turma. RHC 205080 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 04/10/2021.
STF. 2ª Turma. HC 206143 AgR, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/12/2021.

O confisco de bens apreendidos em decorrência do tráfico pode ocorrer ainda que o bem não fosse utilizado
de forma habitual e mesmo que ele não tenha sido alterado
É possível o confisco de todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico de
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drogas, sem a necessidade de se perquirir a habitualidade, reiteração do uso do bem para tal finalidade, a sua
modificação para dificultar a descoberta do local do acondicionamento da droga ou qualquer outro requisito
além daqueles previstos expressamente no art. 243, parágrafo único, da Constituição Federal.
Página

STF. Plenário. RE 638491/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 17/5/2017 (repercussão geral) (Info 865).

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Diretor de empresa que sabia que haveria uma oferta de compra da rival e que, por isso, comprou inúmeras
ações antes do anúncio
Subsume-se à figura típica prevista no art. 27-D da Lei nº 6.385/76 a conduta de quem, em função do cargo de
alta relevância que exercia em sociedade empresária, obteve informação sigilosa acerca da futura aquisição do
controle acionário de uma companhia por outra (operação cujo estudo de viabilidade já se encontrava em
estágio avançado) — dado capaz de influir de modo ponderável nas decisões dos investidores do mercado,
gerando apetência pela compra dos ativos da sociedade que seria adquirida — e, em razão dessa notícia,
adquiriu, no mesmo dia, antes da divulgação do referido dado no mercado de capitais, ações desta sociedade,
ainda que antes da conclusão da operação de aquisição do controle acionário.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.569.171-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 16/2/2016 (Info 577).

Aumento da pena pelo fato de o réu exercer cargo de alta importância


Representa circunstância judicial idônea a exasperar a pena-base do condenado pelo crime de uso indevido
de informação privilegiada (art. 27-D da Lei nº 6.385/76) o exercício de cargo de alta importância que
possibilitou o acesso à "informação relevante".
O crime em questão não exige que o sujeito ativo seja ocupante de determinado cargo. O referido tipo penal
estabelece apenas que a pessoa, relativamente à informação, "tenha conhecimento e da qual deva manter
sigilo". Desse modo, o exercício de cargo de alta relevância que possibilitou o acesso à "informação
privilegiada" demonstra maior culpabilidade na ação perpetrada, situação que não se traduz em dupla punição
pelo mesmo fato (bis in idem).
STJ. 5ª Turma. REsp 1.569.171-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 16/2/2016 (Info 577).

Se as informações requisitadas pelo MP forem dispensáveis à propositura da ACP, não haverá o delito
A Lei de Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) prevê como crime a seguinte conduta:
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000
(mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional — ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados
técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.
O crime consiste na conduta da pessoa que recebeu uma requisição do MP que exigia determinado documento
e/ou informação e o destinatário, em vez de cumpri-la, recusa, retarda ou se omite.
O STJ entende que se as informações requisitadas pelo MP não forem INDISPENSÁVEIS à propositura da ACP, não
haverá crime. Ex: o MP instaurou IC e requisitou determinadas informações do Secretário de Saúde. Este prestou
as informações fora do prazo assinalado, de forma que houve retardamento. Em tese, o agente público teria
praticado o crime do art. 10. Ocorre que, após receber as informações, o MP decidiu arquivar o IC por entender
que não houve qualquer violação a direitos transindividuais. Por via de consequência, não existiu o crime do art.
10, já que as informações retardadas não eram indispensáveis à propositura de ACP.
STJ. 5ª Turma. HC 303.856-RJ, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 7/4/2015 (Info 560).

Crime de embaraçar investigação previsto na Lei do Crime Organizado não é restrito à fase do inquérito
A Lei das organizações criminosas (Lei nº 12.850/2013) prevê o seguinte crime:
Art. 2º (...) § 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de
infração penal que envolva organização criminosa.
Quando o art. 2º, § 1º fala em “investigação” ele está se limitando à fase pré-processual ou abrange também
a ação penal? Se o agente embaraça o processo penal, ele também comete este delito?
SIM. A tese de que a investigação criminal descrita no art. 2º, § 1º, da Lei nº 12.850/2013 limita-se à fase do
inquérito não foi aceita pelo STJ. Isso porque as investigações se prolongam durante toda a persecução
criminal, que abarca tanto o inquérito policial quanto a ação penal deflagrada pelo recebimento da denúncia.
107

Assim, como o legislador não inseriu uma expressão estrita como “inquérito policial”, compreende-se ter
conferido à investigação de infração penal o sentido de “persecução penal”, até porque carece de
razoabilidade punir mais severamente a obstrução das investigações do inquérito do que a obstrução da ação
Página

penal.

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Ademais, sabe-se que muitas diligências realizadas no âmbito policial possuem o contraditório diferido, de tal
sorte que não é possível tratar inquérito e ação penal como dois momentos absolutamente independentes da
persecução penal.
O tipo penal previsto pelo art. 2º, §1º, da Lei nº 12.850/2013 define conduta delituosa que abrange o inquérito
policial e a ação penal.
STJ. 5ª Turma. HC 487.962-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 28/05/2019 (Info 650).

O delito do art. 2º, § 1º, da Lei 12.850/2013 é crime material, inclusive na modalidade embaraçar
A Lei nº 12.850/2013 (Lei de Organização Criminosa), prevê o seguinte delito no § 1º do art. 2º:
Art. 2º (...) Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às
demais infrações penais praticadas.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração
penal que envolva organização criminosa.
O crime do art. 2º, § 1º é formal ou material?
Material. O tipo penal possui dois núcleos (verbos): impedir e embaraçar.
No que tange ao núcleo “impedir”, nunca houve dúvida de que se trata de crime material.
A dúvida estava no verbo “embaraçar”. Alguns doutrinadores afirmavam que, neste ponto, o delito seria
formal. Não foi esta, contudo, a conclusão do STJ.
Tanto no núcleo impedir como embaraçar, o crime do art. 2º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 é material.
A adoção da corrente que classifica o delito como crime material se explica porque o verbo embaraçar atrai
um resultado, ou seja, uma alteração do seu objeto. Na hipótese normativa, o objeto é a investigação, que
pode se dar na fase de inquérito ou na instrução da ação penal. Em outras palavras, haverá embaraço à
investigação se o agente conseguir produzir algum resultado, ainda que seja momentâneo e reversível.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.817.416-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 03/08/2021 (Info 703).

É necessária a edição de lei em sentido formal para a tipificação do crime contra a humanidade trazida pelo
Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado
A definição dos crimes de lesa-humanidade, também chamados de crimes contra a humanidade, pode ser
encontrada no Estatuto de Roma, promulgado no Brasil por força do Decreto nº 4.388/2002.
No Brasil, no entanto, ainda não há lei que tipifique os crimes contra a humanidade. Diante da ausência de lei
interna tipificando os crimes contra a humanidade, não é possível utilizar tipo penal descrito em tratado
internacional para tipificar condutas internamente, sob pena de se violar o princípio da legalidade (art. 5º,
XXXIX, da CF/88).
Dessa maneira, não se mostra possível internalizar a tipificação do crime contra a humanidade trazida pelo
Estatuto de Roma, mesmo se cuidando de Tratado internalizado por meio do Decreto n. 4.388, porquanto não
há lei em sentido formal tipificando referida conduta.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.798.903-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/09/2019 (Info 659).

Para que se configure o crime do art. 5º da Lei nº 13.260/2016 (atos preparatórios de terrorismo) exige-se
que o sujeito tenha agido por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião
A tipificação da conduta descrita no art. 5º da Lei Antiterrorismo (atos preparatórios de terrorismo) exige a
motivação por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, expostas no
art. 2º do mesmo diploma legal.
STJ. 6ª Turma. HC 537.118-RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 05/12/2019 (Info 663).

LEI 14.155/2021: ALTERAÇÕES NOS CRIMES DE VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO INFORMÁTICO, FURTO E


108

ESTELIONATO
Se o agente invade o computador da vítima, lá instala um malware (programa malicioso), descobre sua
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senha e subtrai valores de sua conta bancária, comete qual delito?

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• Antes da Lei nº 14.155/2021: essa conduta se amoldava ao crime de furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II,
do CP). Confira a redação:
Art. 155 (...)
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
(...)
II - com abuso de confiança, ou mediante fraude, escalada ou destreza;

• Depois da Lei nº 14.155/2021: passou a existir um tipo penal específico para tratar sobre essa hipótese. Trata-
se do art. 155, § 4º-B, do CP:
Furto mediante fraude cometido por meio de dispositivo eletrônico ou informático
Art. 155. (...)
§ 4º-B. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se o furto mediante fraude é cometido por
meio de dispositivo eletrônico ou informático, conectado ou não à rede de computadores, com ou sem a
violação de mecanismo de segurança ou a utilização de programa malicioso, ou por qualquer outro meio
fraudulento análogo.

Causa de aumento de pena


Art. 155 (...)
§ 4º-C. A pena prevista no § 4º-B deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso:
I – aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor
mantido fora do território nacional;
II – aumenta-se de 1/3 (um terço) ao dobro, se o crime é praticado contra idoso ou vulnerável.

Alterações no estelionato
A Lei nº 14.155/2021 realizou três alterações no art. 171, que trata sobre estelionato:
• inseriu o § 2º-A, prevendo a qualificadora do estelionato mediante fraude eletrônica;
• acrescentou o § 2º-B, com uma causa de aumento de pena relacionada com o § 2º-A;
• modificou a redação da causa de aumento de pena do § 4º.

Fraude eletrônica
Art. 171 (...)
§ 2º-A. A pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa, se a fraude é cometida com a utilização de
informações fornecidas pela vítima ou por terceiro induzido a erro por meio de redes sociais, contatos
telefônicos ou envio de correio eletrônico fraudulento, ou por qualquer outro meio fraudulento análogo.

Causa de aumento de pena


Art. 171 (...) § 2º-B. A pena prevista no § 2º-A deste artigo, considerada a relevância do resultado gravoso,
aumenta-se de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado mediante a utilização de servidor
mantido fora do território nacional.

Mudança na causa de aumento de pena do § 4º do art. 171


CÓDIGO PENAL
ANTES da Lei 14.155/2021 DEPOIS da Lei 14.155/2021
Estelionato contra idoso Estelionato contra idoso ou vulnerável
109

§ 4º Aplica-se a pena em dobro se o crime for § 4º A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) ao
cometido contra idoso. dobro, se o crime é cometido contra idoso ou
vulnerável, considerada a relevância do resultado
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gravoso.

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Competência para julgar estelionato no caso em que o prejuízo ocorreu em local diferente da obtenção da
vantagem
Veja o § 4º do art. 70 que foi inserido no CPP pela Lei nº 14.155/2021:
Art. 70. (...) § 4º Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente provisão de
fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante transferência de valores, a
competência será definida pelo local do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a
competência firmar-se-á pela prevenção.

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Desde que respeitadas as exigências legais, o reconhecimento de pessoas é uma prova válida e pode ser
utilizada para condenação; isso não significa, contudo, que, em todo e qualquer caso, o reconhecimento da
vítima seja prova cabal e irrefutável
O reconhecimento positivo, que respeite as exigências legais, portanto, é válido, mas não tem força probante
absoluta, de sorte que não pode induzir, por si só, à certeza da autoria delitiva, em razão de sua fragilidade
epistêmica.
O reconhecimento de pessoas que obedece às disposições legais não prepondera sobre quaisquer outros
meios de prova (confissão, testemunha, perícia, acareação); ao contrário, deve ser valorado como os demais.
A confirmação, em juízo, do reconhecimento fotográfico extrajudicial, por si só, não torna o ato seguro e isento
de erros involuntários. É importante lembrar que, uma vez que a testemunha ou a vítima reconhece alguém
como o autor do delito, há tendência, por um viés de confirmação, a repetir a mesma resposta em
reconhecimentos futuros, pois sua memória estará mais ativa e predisposta a tanto.
STJ. 3ª Seção. HC 769.783-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 10/5/2023 (Info 775).

A superveniência de sentença condenatória torna prejudicado o pedido feito no habeas corpus se buscava
o trancamento da ação penal sob a alegação de falta de justa causa
Súmula 648-STJ: A superveniência da sentença condenatória prejudica o pedido de trancamento da ação penal
por falta de justa causa feito em habeas corpus.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 14/04/2021, DJe 19/04/2021.

O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares


O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal diversas da
prisão. Isso porque, se descumprida a “medida alternativa”, é possível o estabelecimento da custódia,
alcançando-se o direito de ir e vir.
STF. 1ª Turma. HC 170735/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
30/6/2020 (Info 984).

É possível a antecipação de provas para a oitiva de testemunhas policiais


É possível a antecipação de provas para a oitiva de testemunhas policiais, dado que, pela natureza dessa
atividade profissional, diariamente em contato com fatos delituosos semelhantes, o decurso do tempo traz
efetivo risco de perecimento da prova testemunhal por esquecimento.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1995527-SE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 19/12/2022 (Info
764).
110

O simples fato de os policiais terem considerado a atitude do morador suspeita não justifica o ingresso
forçado no domicílio
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O fato de policiais, em diligência para intimar testemunha, considerarem suspeita a atitude do irmão desta,
por si só, não justifica a dispensa de investigações prévias ou do mandado judicial para ingresso forçado no
domicílio.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 708400-RS, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 12/12/2022 (Info
Especial 10).

O simples fato de o cão farejador ter sinalizado que haveria drogas na residência não é suficiente para se
autorizar o ingresso na casa do suspeito
A mera sinalização do cão de faro, seguida de abordagem a suposto usuário saindo do local, desacompanhada
de qualquer outra diligência investigativa ou outro elemento concreto indicando a necessidade de imediata
ação policial, não justifica a dispensa do mandado judicial para o ingresso em domicílio.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 729.836-MS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/4/2023 (Info 774).

Compete à Justiça Federal julgar falas de cunho homofóbico divulgadas em perfis abertos do Facebook e do
Youtube
Compete à Justiça Federal processar e julgar o conteúdo de falas de suposto cunho homofóbico divulgadas na
internet, em perfis abertos da rede social Facebook e na plataforma de compartilhamento de vídeos Youtube,
ambos de abrangência internacional.
STJ. 3ª Seção. CC 191970-RS, Rel. Ministra Laurita Vaz, julgado em 14/12/2022 (Info 761).

Supostos crimes funcionais foram praticados durante o exercício da função Vice-Governador, tendo o
investigado, posteriormente, assumido o cargo de Governador: competência do STJ
Compete ao Superior Tribunal de Justiça, para os fins preconizados pela regra do foro por prerrogativa de
função, processar e julgar governador em exercício que deixou o cargo de vice-governador durante o mesmo
mandato, quando os fatos imputados digam respeito ao exercício das funções no âmbito do Poder Executivo
estadual.
STJ. Corte Especial. QO no AgRg na APn 973-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Rel. para acórdão Min. Luis
Felipe Salomão, julgado em 3/5/2023 (Info 775).

O art. 127 da LEP é constitucional; a súmula vinculante 9 continua válida


É constitucional a previsão legislativa de perda dos dias remidos pelo condenado que comete falta grave no
curso da execução penal.
Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o
disposto no art. 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar.
Súmula vinculante 9-STF: O disposto no artigo 127 da Lei 7.210/84 foi recebido pela ordem constitucional
vigente e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput do artigo 58.
STF. Plenário. RE 1116485/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 01/03/2023 (Repercussão Geral – Tema 477) (Info
1084).

É possível que o julgador condene criminalmente o réu mesmo quando o Ministério Público pede
expressamente a sua absolvição em alegações finais
O art. 385 do Código de Processo Penal é compatível com o sistema acusatório e não foi tacitamente
derrogado pelo advento da Lei nº 13.964/2019, responsável por introduzir o art. 3º-A no Código de Processo
Penal.
Art. 385. Nos crimes de ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério
Público tenha opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido
111

alegada.
STJ. 6ª Turma. REsp 2022413-PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz,
Página

julgado em 14/2/2023 (Info 765).

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O Ministério Público não é obrigado a notificar o investigado acerca da proposta do ANPP
O Ministério Público não é obrigado a notificar o investigado para que ele compareça à instituição para iniciar
as tratativas de ANPP. Se o investigado tiver interesse, deverá procurar o Parquet.
O Ministério Público não é obrigado a notificar o investigado para que ele compareça à instituição para iniciar
as tratativas de ANPP. Se o investigado tiver interesse, deverá procurar o Parquet.
Se o membro do Parquet constatar que, em sua visão, não cabe ANPP, ele não é obrigado a notificar
extrajudicialmente o investigado informando que não irá propor o acordo. Neste caso, basta que o membro
do MP faça uma cota na denúncia informando os motivos pelos quais não ofereceu proposta de acordo.
Assim, o Ministério Público pode, no próprio ato do oferecimento da denúncia, expor os motivos pelos quais
optou pela não propositura do acordo. O juiz, recebendo a denúncia, irá determinar a citação do denunciado
e, neste momento, o réu terá ciência da recusa quanto à propositura do ANPP e poderá, se assim desejar,
requerer a remessa ao órgão superior do MP, nos termos do § 14 do art. 28-A do CPP.
Em resumo, por ausência deprevisão legal, o Ministério Público não é obrigado a notificar o investigadoacerca
da proposta do acordo de não persecução penal, sendo que, ao seinterpretar conjuntamente os arts. 28-A, §
14, e 28, caput, do CPP, aciência da recusa ministerial deve ocorrer por ocasião da citação, podendo oacusado,
na primeira oportunidade dada para manifestação nos autos, requerera remessa dos autos ao órgão de
revisão ministerial.
STJ. 6ª Turma. REsp 2024381-TO, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador convocado do TJDFT), julgado em
7/3/2023 (Info 766).

A conduta do advogado ou Defensor Público de abandonar o plenário do Júri (como estratégia de defesa)
pode configurar abandono do processo, ensejando a multa do art. 265 do CPP
O STJ tem rechaçado a postura de abandonar o plenário do Júri como tática da defesa, considerando se tratar
de conduta que configura, sim, abandono processual, apto, portanto, a atrair a aplicação da multa do art. 265
do CPP.
STJ. 5ª Turma. RMS 54183-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Rel. Acd. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado
em 13/08/2019 (Info 658).

A postura de abandonar o plenário do Júri, como tática de defesa, configura flagrante desrespeito ao múnus
público conferido ao advogado, o que justifica a aplicação da multa prevista no art. 265 do CPP.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RMS 63152-SC, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em 6/3/2023 (Info 769).

O argumento do advogado no sentido de que não abandonou o processo, tanto que continuou praticando
outros atos após o julgamento adiado, é suficiente para afastar a multa do art. 265 do CPP?
NÃO.A desídia injustificada na prática de ato processual se enquadra no conceito de abandono e autoriza a
aplicação da multa do art. 265 do Código de Processo Penal, não sendo necessário o definitivo afastamento
do patrocínio da causa. Também é assente o entendimento de não haver ofensa ao contraditório ou à ampla
defesa na sua cominação, prevista expressamente na Lei processual, motivo pelo qual é descabido falar em
ausência de previsão legal.
Na espécie, foi configurado o abandono do processo, pois o Causídico, inconformado com o indeferimento de
pedido de adiamento da sessão de julgamento do Júri, absteve-se de prosseguir na defesa do réu naquela
sessão, ao invés de buscar os recursos cabíveis para a impugnação da decisão da qual não concordava.
STJ. 6ª Turma. AgRg no RMS 64491/PE, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 15/2/2022.

É incompatível com a Constituição Federal a previsão da prisão especial para pessoas com diploma de nível
superior (art. 295, VII, do CPP)
112

É incompatível com a Constituição Federal — por ofensa ao princípio da isonomia (arts. 3º, IV; e 5º, caput,
CF/88) — a previsão contida no inciso VII do art. 295 do CPP que concede o direito a prisão especial, até
decisão penal definitiva, a pessoas com diploma de ensino superior.
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O art. 295, VII do CPP não foi recepcionado pela CF/88:

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Art. 295. Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à disposição da autoridade competente, quando
sujeitos a prisão antes de condenação definitiva: VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores
da República;
STF. Plenário. ADPF 334/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 03/04/2023 (Info 1089).

O venire contra factum proprium também se aplica para o réu no processo penal
A regra que veda o comportamento contraditório (venire contra factum proprium) aplica-se a todos os sujeitos
processuais, inclusive para o réu.
Assim, não é aceitável que o réu, após manifestar desinteresse em acompanhar o processo, já que mudou de
endereço sem informar o Juízo, depois que é decretada a sua revelia, venha aos autos alegar a nulidade da
condenação.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.265.981-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 28/2/2023
(Info 773).

Denúncia anônima
As notícias anônimas ("denúncias anônimas") não autorizam, por si sós, a propositura de ação penal ou
mesmo, na fase de investigação preliminar, o emprego de métodos invasivos de investigação, como
interceptação telefônica ou busca e apreensão. Entretanto, elas podem constituir fonte de informação e de
provas que não podem ser simplesmente descartadas pelos órgãos do Poder Judiciário.
Procedimento a ser adotado pela autoridade policial em caso de “denúncia anônima”:
1) Realizar investigações preliminares para confirmar a credibilidade da “denúncia”;
2) Sendo confirmado que a “denúncia anônima” possui aparência mínima de procedência, instaura-se
inquérito policial;
3) Instaurado o inquérito, a autoridade policial deverá buscar outros meios de prova que não a interceptação
telefônica (esta é a ultima ratio). Se houver indícios concretos contra os investigados, mas a interceptação se
revelar imprescindível para provar o crime, poderá ser requerida a quebra do sigilo telefônico ao magistrado.
STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info 819).

Não é possível decretar medida de busca e apreensão com base unicamente em “denúncia anônima
STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info 819).

É ilícita a prova obtida por meio de revista íntima realizada com base unicamente em denúncia anônima
Caso concreto: a diretora da unidade prisional recebeu uma ligação anônima dizendo que Rafaela, que iria visitar
seu marido João, tentaria entrar no presídio com droga. Diante disso, a diretora ordenou que a agente
penitenciária fizesse uma revista minuciosa em Rafaela. Na revista íntima efetuada, a agente penitenciária
encontrou droga escondida na vagina da visitante. Rafaela confessou que estava levando a droga para seu
marido. A prova colhida é ilícita.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.695.349-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. em 08/10/2019 (Info 659).

A violação de domicílio com base no comportamento suspeito do acusado, que empreendeu fuga ao ver a
viatura policial, não autoriza a dispensa de investigações prévias ou do mandado judicial para a entrada
dos agentes públicos na residência
Para que os policiais façam o ingresso forçado em domicílio, resultando na apreensão de material apto a
configurar o crime de tráfico de drogas, isso deve estar justificado com base em elementos prévios que
indiquem que havia um estado de flagrância ocorrendo no local.
No caso em tela, a violação de domicílio teve como justificativa o comportamento suspeito do acusado – que
113

empreendeu fuga ao ver a viatura policial –, circunstância fática que não autoriza a dispensa de investigações
prévias ou do mandado judicial para a entrada dos agentes públicos na residência, acarretando a nulidade da
diligência policial.
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Além disso, a alegação de que a entrada dos policiais teria sido autorizada pelo agente não merece
acolhimento. Isso, porque não há outro elemento probatório no mesmo sentido, salvo o depoimento dos
policiais que realizaram o flagrante, tendo tal autorização sido negada em juízo pelo réu.
Segundo entende o STJ, é do estado acusador o ônus de comprovar que houve consentimento válido do
morador para que os policiais entrem na casa. Assim, o estado acusador é quem deve provar que o morador
autorizou a entrada, não sendo suficiente a mera palavra dos policiais.
STJ. 6ª Turma. HC 695980-GO, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, j. em 22/03/2022 (Info 730).

A análise do bom comportamento carcerário, necessário para o livramento condicional (art. 83, III, a, do
CP), deve levar em consideração todo o período da execução penal, e não apenas os últimos 12 meses
A valoração do requisito subjetivo para concessão do livramento condicional - bom comportamento durante
a execução da pena (art. 83, III, “a”, do Código Penal) - deve considerar todo o histórico prisional, não se
limitando ao período de 12 meses referido na alínea “b” do mesmo inciso III do art. 83 do Código Penal.
STJ. 3ª Seção.REsp 1.970.217-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/5/2023(Recurso Repetitivo – Tema
1161) (Info 776).

A mera alegação genérica de “atitude suspeita” é insuficiente para a licitude da busca pessoal
Para a busca pessoal ou veicular sem mandado judicial exige-se, em termos de standard probatório, a
existência de fundada suspeita (justa causa) baseada em um juízo de probabilidade, descrita com a maior
precisão possível, aferida de modo objetivo e devidamente justificada pelos indícios e circunstâncias do caso
concreto – de que o indivíduo esteja na posse de drogas, armas ou de outros objetos ou papéis que constituam
corpo de delito, evidenciando-se a urgência de se executar a diligência.
Entretanto, o art. 244 do CPP não se limita a exigir que a suspeita seja fundada. É preciso, também, que esteja
relacionada à “posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito”.
O art. 244 do CPP não autoriza buscas pessoais praticadas como “rotina” ou “praxe” do policiamento
ostensivo, com finalidade preventiva e motivação exploratória, mas apenas buscas pessoais com finalidade
probatória e motivação correlata.
Desse modo, a busca pessoal não pode ser realizada com base unicamente em:
a) informações de fonte não identificada (e.g. denúncias anônimas); ou
b) intuições e impressões subjetivas, intangíveis, apoiadas, por exemplo, exclusivamente, no tirocínio
(experiência) policial.
Assim, não é possível a busca pessoal unicamente pelo fato de o policial, a partir de uma classificação subjetiva,
ter considerado que a pessoa:
• apresentou uma atitude ou aparência suspeita; ou
• teve uma reação ou expressão corporal tida como “nervosa”.
Essas circunstâncias não preenchem o standard probatório de “fundada suspeita” exigido pelo art. 244 do
CPP.
O fato de haverem sido encontrados objetos ilícitos após a revista não convalida a ilegalidade prévia, pois é
necessário que o elemento “fundada suspeita de posse de corpo de delito” seja aferido com base no que se
tinha antes da diligência. Se não havia fundada suspeita de que a pessoa estava na posse de arma proibida,
droga ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, não há como se admitir que a mera descoberta
casual de situação de flagrância, posterior à revista do indivíduo, justifique a medida.
A violação dessas regras e condições legais para busca pessoal resulta na ilicitude das provas obtidas em
decorrência da medida, bem como das demais provas que dela decorrerem em relação de causalidade, sem
prejuízo de eventual responsabilização penal do(s) agente(s) público(s) que tenha(m) realizado a diligência.
Há três razões principais para que se exijam elementos sólidos, objetivos e concretos para a realização de
busca pessoal – vulgarmente conhecida como “dura”, “geral”, “revista”, “enquadro” ou “baculejo” –, além da
114

intuição baseada no tirocínio policial:


a) evitar o uso excessivo desse expediente e, por consequência, a restrição desnecessária e abusiva dos
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direitos fundamentais à intimidade, à privacidade e à liberdade (art. 5º, caput, e X, da Constituição),


porquanto, além de se tratar de conduta invasiva e constrangedora – mesmo se realizada com urbanidade, o

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que infelizmente nem sempre ocorre –, também implica a detenção do indivíduo, ainda que por breves
instantes;
b) garantir a sindicabilidade da abordagem, isto é, permitir que tanto possa ser contrastada e questionada
pelas partes, quanto ter sua validade controlada a posteriori por um terceiro imparcial (Poder Judiciário), o
que se inviabiliza quando a medida tem por base apenas aspectos subjetivos, intangíveis e não demonstráveis;
c) evitar a repetição – ainda que nem sempre consciente – de práticas que reproduzem preconceitos
estruturais arraigados na sociedade, como é o caso do perfilamento racial, reflexo direto do racismo
estrutural.
STJ. 6ª Turma. RHC 158580-BA, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, j. em 19/04/2022 (Info 735).

Policiais não podem fazer a revista pessoal unicamente pelo fato de acharem que o suspeito demonstrou
nervosismo ao avistá-los
De acordo com o art. 244 do CPP, a execução da busca pessoal sem mandado, como medida autônoma,
depende da presença de fundada suspeita da posse de objetos que constituam corpo de delito.
Como a lei exige fundada suspeita, não é suficiente a mera conjectura ou desconfiança.
Assim, não é possível realizar busca pessoal apenas com base no fato de que o acusado, que estava em local
conhecido como ponto de venda drogas, ao avistar a viatura policial, demonstrou nervosismo.
A percepção de nervosismo por parte de agentes públicos é dotada de excesso de subjetivismo e, por isso,
não é suficiente para caracterizar a fundada suspeita para fins de busca pessoal.
STJ. 6ª Turma. REsp 1961459-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 05/04/2022 (Info 732).

A denúncia anônima acerca da ocorrência de tráfico de drogas acompanhada das diligências para a
constatação da veracidade das informações prévias pode caracterizar as fundadas razões para o ingresso
dos policiais na residência do investigado
O ingresso de agentes públicos em residências sem ordem judicial ou autorização de morador deve estar
amparado em fundadas razões, devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto, que indiquem
estar ocorrendo, no interior da casa, situação de flagrante delito.
No caso concreto, os policiais, após receberem “denúncia anônima” acerca da existência de tráfico de drogas,
realizaram diligências para a constatação da veracidade da denúncia e, com base em fundadas razões sobre a
existência da prática do delito, inclusive sobre a existência de um “disque-drogas”, ingressaram na residência
do investigado, encontraram o entorpecente e realizaram o flagrante.
Na situação em tela, verifica-se a existência de justa causa para a atuação dos agentes, cujos atos são
revestidos de fé pública, sobretudo quando seus depoimentos se mostram coerentes e compatíveis com as
demais provas dos autos.
STJ. 5ª Turma. AgRg nos EDcl no RHC 143066-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 19/04/2022 (Info
734).

É lícita a gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem o conhecimento do outro
As inovações do Pacote Anticrime na Lei n. 9.296/1996 não alteraram o entendimento de que é lícita a prova
consistente em gravação ambiental realizada por um dos interlocutores sem conhecimento do outro.
STJ. 6ª Turma. HC 512.290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

Não comete o crime do art. 10 da Lei 9.296/96 o advogado que grava escondido o depoimento do seu cliente
prestado em procedimento de investigação criminal
Situação adaptada: o Ministério Público instaurou procedimento de investigação criminal e notificou o
investigado para ser interrogado no órgão. O investigado compareceu acompanhado de sua advogada. A
115

profissional gravou o depoimento com um gravador próprio que estava dentro de sua bolsa. Posteriormente,
o MP soube que houve essa gravação e iniciou investigação contra a advogada pela suposta prática do crime
previsto no art. 10 da Lei nº 9.296/96:
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Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática,
promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização judicial ou com objetivos não
autorizados em lei: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
O STJ não concordou e determinou o trancamento do PIC.
A gravação ambiental em que advogados participam do ato, na presença do inquirido e dos representantes
do Ministério Público, inclusive se manifestando oralmente durante a sua realização, ainda que clandestina
ou inadvertida, realizada por um dos interlocutores, não configura crime, escuta ambiental, muito menos
interceptação telefônica.
STJ. 5ª Turma. HC 662.690-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 17/05/2022 (Info 737).

Não é lícita a prova obtida por meio de abertura de carta, telegrama ou qualquer encomenda postada nos
Correios, ante a inviolabilidade do sigilo das correspondências
Sem autorização judicial ou fora das hipóteses legais, é ilícita a prova obtida mediante abertura de carta,
telegrama, pacote ou meio análogo.
STF. Plenário. RE 1116949, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 18/08/2020
(Repercussão Geral – Tema 1041) (Info 993).

Se a polícia entra na residência especificamente para efetuar uma prisão, ela não pode vasculhar
indistintamente o interior da casa porque isso seria “pescaria probatória”, com desvio de finalidade
Admitir a entrada na residência especificamente para efetuar uma prisão não significa conceder um salvo-
conduto para que todo o seu interior seja vasculhado indistintamente, em verdadeira pescaria probatória
(fishing expedition), sob pena de nulidade das provas colhidas por desvio de finalidade.
STJ. 6ª Turma. HC 663055-MT, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/03/2022 (Info 731).

A indução do morador a erro na autorização do ingresso em domicílio macula a validade da manifestação


de vontade e, por consequência, contamina toda a busca e apreensão
Caso adaptado: os policiais se deslocaram para o bairro Bom Jesus para verificar “denúncias anônimas”,
recebidas pelo “disque denúncia”, de que estaria sendo praticado tráfico de drogas em determinada casa. Ao
chegarem no local, encontraram João na frente da casa. Os policiais fizeram busca pessoal em João, mas não
encontraram substância entorpecente. Em seguida, os policiais alegaram que explicaram a João que estavam
procurando drogas, tendo ele confessado que possuía a substância e autorizado que os agentes ingressassem
em sua residência. Ao entrarem na casa, os policiais encontraram grande quantidade de droga e outras
pessoas preparando a substância para comercialização. João e os demais foram presos em flagrante e
denunciados por tráfico de drogas. Quando interrogado em juízo, João trouxe uma narrativa diferente e
afirmou que foi surpreendido pelos policiais militares na porta de sua casa e que eles alegaram que estavam
procurando uma pessoa que havia cometido um roubo, razão pela qual solicitaram que ele abrisse o portão
para verificar se o ladrão havia se escondido ali. Para o STJ, essa apreensão foi lícita?
Não. O STJ entendeu que a busca foi ilícita, assim como todas as provas dela derivadas. Isso porque não houve
comprovação de consentimento válido para o ingresso no domicílio do réu.
Diante dessa dúvida sobre o que de fato ocorreu, pode-se afirmar que é inverossímil a versão policial, segundo
a qual o suspeito, abordado na rua, espontaneamente haveria confessado possuir entorpecentes dentro de
casa e permitido que os agentes de segurança ingressassem no imóvel para apreendê-las.
Ainda que o réu haja admitido a abertura do portão do imóvel para os policiais, ressalvou que o fez apenas
porque informado sobre a necessidade de perseguirem um potencial criminoso em fuga, e não para que
fossem procuradas e apreendidas drogas em seu desfavor.
Partindo dessa premissa, isto é, de que a autorização foi obtida mediante indução do acusado a erro pelos
116

policiais militares, não pode ser considerada válida a apreensão das drogas, porquanto viciada a manifestação
volitiva do réu.
STJ. 6ª Turma. HC 674139-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 15/02/2022 (Info 725).
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A expedição de mandado de busca e apreensão de menor não autoriza o ingresso no domicílio e a realização
de varredura no local
Caso adaptado: Pedro, 17 anos, foi sentenciado a medida socioeducativa de prestação de serviços à
comunidade. Ele, contudo, deixou de cumprir a medida.O magistrado pediu mandado de busca e apreensão
com o objetivo de fazer com que o adolescente fosse conduzido ao juízo para uma audiência de apresentação
e justificativa.
Os policiais militares, em cumprimento ao mandado, se deslocaram para o endereço informado. Chegando ao
imóvel, a equipe foi recebida por Pedro, que foi informado do motivo da presença policial. Logo em seguida,
quando os agentes começaram a entrar na residência, a equipe policial escutou o som de um dispositivo de
comunicação que estava em cima de uma televisão, sendo facilmente visualizado.
Indagado a respeito, Pedro confessou que possuía envolvimento com o tráfico de drogas exercendo a função
de “olheiro” das “bocas de fumo” do bairro, anunciando para os traficantes, via rádio, quando policiais
chegavam no local.
Realizadas buscas na residência, os militares localizaram na gaveta do quarto um cigarro de maconha, uma
base para carregador de rádio comunicador e uma bateria reserva para o mesmo tipo de rádio.
Pedro foi condenado por porte de drogas para consumo próprio (art. 28 da Lei nº 11.343/2006) e pelo delito
do art. 37 da Lei nº 11.343/2006 (informante do tráfico).
O STJ, contudo, entendeu que a condenação foi nula por ofensa à inviolabilidade de domicílio. Isso porque
não havia “fundadas razões” que levassem à conclusão de que no interior da residência estava sendo praticado
algum crime. Antes de os policiais entrarem na casa, eles não sabiam nem tinham “fundadas razões” para
achar que ali estava sendo cometido algum crime. Logo, não poderiam ter ingressado no domicílio do réu.
Vale ressaltar, ainda, que a expedição de mandado de busca e apreensão de menor não autoriza o ingresso
no domicílio. O art. 283, § 2º, do CPP determina, expressamente, que em cumprimento de mandado de prisão
– ou busca e apreensão de menor, como no caso em tela –, “[a] prisão poderá ser efetuada em qualquer dia
e a qualquer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do domicílio”, o que demonstra a
ilegalidade da presente diligência porquanto os próprios agentes policiais informaram que perceberam a
presença do rádio comunicador quando já estavam dentro da residência.
STJ. 6ª Turma.AgRg no REsp 2.009.839-MG, Rel. Min.Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 9/5/2023 (Info
776).

O estabelecimento comercial - em funcionamento e aberto ao público – não pode receber a proteção que a
Constituição Federal confere à casa
A abordagem policial em estabelecimento comercial, ainda que a diligência tenha ocorrido quando não havia
mais clientes, é hipótese de local aberto ao público, que não recebe a proteção constitucional da
inviolabilidade do domicílio.
STJ. 6ª Turma. HC 754.789-RS, Rel. Ministro Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região),
julgado em 6/12/2022 (Info 760).

Ação controlada do art. 8º, § 1º da Lei nº 12.850/2013 exige apenas comunicação prévia (e não autorização
judicial)
A ação controlada prevista no § 1º do art. 8º da Lei nº 12.850/2013 independe de autorização, bastando sua
comunicação prévia à autoridade judicial.
STJ. 6ª Turma. HC 512.290-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/08/2020 (Info 677).

LEI 13.642/2018
Acrescentou mais um inciso ao art. 1º da Lei nº 10.446/2002 prevendo novas hipóteses de crimes que poderão
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ser investigados pela Polícia Federal:


Art. 1º Na forma do inciso I do § 1º do art. 144 da Constituição, quando houver repercussão interestadual ou
internacional que exija repressão uniforme, poderá o Departamento de Polícia Federal do Ministério da
Página

Justiça, sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública arrolados no art. 144 da

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Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos Estados, proceder à investigação, dentre
outras, das seguintes infrações penais:
(...)
VII – quaisquer crimes praticados por meio da rede mundial de computadores que difundam conteúdo
misógino, definidos como aqueles que propagam o ódio ou a aversão às mulheres.

Legalidade da Res. 063/2009-CJF que determinou a tramitação direta do IP entre a PF e o MPF


Não é ilegal a portaria editada por Juiz Federal que, fundada na Res. CJF n. 63/2009, estabelece a tramitação
direta de inquérito policial entre a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
STJ. 5ª Turma. RMS 46.165-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 19/11/2015 (Info 574).

O Poder Judiciário não pode impor ao MP a obrigação de ofertar ANPP


O Poder Judiciário não pode impor ao Ministério Público a obrigação de ofertar acordo de não persecução
penal (ANPP).
Não cabe ao Poder Judiciário, que não detém atribuição para participar de negociações na seara investigatória,
impor ao MP a celebração de acordos.
Não se tratando de hipótese de manifesta inadmissibilidade do ANPP, a defesa pode requerer o reexame de
sua negativa, nos termos do art. 28-A, § 14, do CPP, não sendo legítimo, em regra, que o Judiciário controle o
ato de recusa, quanto ao mérito, a fim de impedir a remessa ao órgão superior no MP. Isso porque a redação
do art. 28-A, § 14, do CPP determina a iniciativa da defesa para requerer a sua aplicação.
STF. 2ª Turma. HC 194677/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2021 (Info 1017).

Usar passaporte estrangeiro falso perante companhia aérea: Justiça Estadual


O uso de passaporte boliviano falso perante empresa privada de aviação é crime de competência da Justiça
Estadual.
STF. 1ª Turma. RE 686241 AgR/SP e RE 632534 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em 26/11/2013 (Info
730).

Usar passaporte falso junto à Polícia Federal: Justiça Federal


Compete à União executar os serviços de polícia de fronteiras, nos termos do art. 21, XXII, da Constituição
Federal. Uma vez verificado que o suposto delito de uso de documento falso (passaporte) foi praticado em
detrimento de serviço prestado pela Polícia Federal, relativo ao controle de fronteiras, resta inequívoco o
interesse da União em sua apuração.
STJ. 6ª Turma. RHC 31.039/RJ, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 21/02/2013.

Utilização de formulários falsos da Receita Federal para iludir particular


O fato de os agentes, utilizando-se de formulários falsos da Receita Federal, terem se passado por Auditores
desse órgão com intuito de obter vantagem financeira ilícita de particulares não atrai, por si só, a competência
da Justiça Federal. Isso porque, em que pese tratar-se de uso de documento público, observa-se que a
falsidade foi empregada, tão somente, em detrimento de particular.
Assim sendo, se se pudesse cogitar de eventual prejuízo sofrido pela União, ele seria apenas reflexo, na medida
em que o prejuízo direto está nitidamente limitado à esfera individual da vítima, uma vez que as condutas em
análise não trazem prejuízo direto e efetivo a bens, serviços ou interesses da União, de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas (art. 109, IV, da CF).
STJ. 3ª Seção. CC 141.593-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. em 26/8/2015 (Info 568).
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Compete à Justiça Estadual julgar homicídio praticado por Policial Rodoviário Federal após desavença no
trânsito ocorrida no seu deslocamento de casa para o trabalho
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Policial Rodoviário Federal, durante o trajeto de sua casa para o trabalho, envolveu-se em uma desavença no
trânsito com o condutor de um veículo que dirigia sem respeitar a sinalização e em alta velocidade. O Policial
efetuou disparos que resultaram na morte do condutor.
A competência para julgar essa acusação de homicídio é da Justiça Estadual.
A competência da Justiça Federal pressupõe a demonstração concreta das situações veiculadas no art. 109 da
CF/88.
A mera condição de servidor público não basta para atraí-la, na medida em que o interesse da União há de
sobressair das funções institucionais, não da pessoa do agente.
A infração penal cometida pelo réu no deslocamento até o local de trabalho não guarda qualquer vinculação
com o exercício das funções de Policial Rodoviário Federal.
STF. 1ª Turma. HC 157012/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/12/2019 (Info 963).

Crime de redução à condição análoga à de escravo: Justiça Federal


STF. Plenário. RE 459510/MT, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
26/11/2015 (Info 809).
STJ. 6ª Turma. RHC 25.583/MT, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 09/08/2012.

Compete à Justiça Estadual julgar crime cometido a bordo de balão


Compete à Justiça Estadual o julgamento de crimes ocorridos a bordo de balões de ar quente tripulados.
Os balões de ar quente tripulados não se enquadram no conceito de “aeronave” (art. 106 da Lei nº 7.565/86),
razão pela qual não se aplica a competência da Justiça Federal prevista no art. 109, IX, da CF/88).
STJ. 3ª Seção. CC 143.400-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/04/2019 (Info 648).

Crime praticado por indígena


A competência da Justiça Federal para processar e julgar ações penais de delitos praticados contra indígena
somente ocorre quando o processo versa sobre questões ligadas à cultura e aos direitos sobre suas terras, ou,
ainda, na hipótese de genocídio.
STJ. 3ª Seção. CC 38.517-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 24/10/2012.

Calúnia e difamação praticadas em disputa pela posição de cacique: Justiça Federal


Compete à Justiça Federal (e não à Justiça Estadual) processar e julgar ação penal referente aos crimes de
calúnia e difamação praticados no contexto de disputa pela posição de cacique em comunidade indígena (art.
109, XI, da CF/88).
STJ. 3ª Seção. CC 123.016-TO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/6/2013 (Info 527).
Declarações de particular que ofendem a honra de outro particular deverão ser julgadas na Justiça Estadual,
mesmo que feitas perante órgão federal
Não compete à Justiça Federal julgar queixa-crime proposta por particular contra outro particular pelo simples
fato de as declarações do querelado terem sido prestadas na Procuradoria do Trabalho. A competência será
da Justiça Estadual.
Caso concreto: o querelante entendeu que as declarações prestadas pelo querelado no MPT ofenderam a sua
honra e que o depoente praticou calúnia e difamação.
Importante: se o MP entendesse que havia indícios de que o depoente praticou falso testemunho, a
competência para apurar este delito (art. 342 do CP) seria da Justiça Federal, nos termos da Súmula 165-STJ
("Compete a justiça federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo trabalhista").
STJ. 3ª Seção. CC 148.350-PI, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 9/11/2016 (Info 593).
119

O delito do art. 240 do ECA é classificado como crime formal, comum, de subjetividade passiva própria,
consistente em tipo misto alternativo
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Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito
ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: (...)

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• Crime formal (consumação antecipada): o delito se consuma independentemente da ocorrência de um
resultado naturalístico. Assim, a ocorrência de efetivo abalo psíquico e moral sofrido pela criança ou
adolescente é mero exaurimento do crime, sendo irrelevante para a sua consumação. De igual forma, se forem
filmadas mais de uma criança ou adolescente, no mesmo contexto fático, haverá crime único.
• Crime comum: o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
• Crime de subjetividade passiva própria: exige-se uma condição especial da vítima (no caso, exige-se que a
vítima seja criança ou adolescente).
• Tipo misto alternativo: o legislador descreveu duas ou mais condutas (verbos). No entanto, se o sujeito
praticar mais de um verbo, no mesmo contexto fático e contra o mesmo objeto material, responderá por um
único crime, não havendo concurso de crimes nesse caso. Logo, se o agente fotografou e filmou o ato sexual,
no mesmo contexto fático, haverá crime único.
STJ. 5ª Turma. PExt no HC 438.080-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 27/08/2019 (Info 655).

Disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente


Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir material
pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B do ECA), quando praticados por
meio da rede mundial de computadores (internet).
STF. Plenário. RE 628624/MG, Rel. Orig. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
28 e 29/10/2015 (repercussão geral) (Info 805).

• Se ficar constatada a internacionalidade da conduta: Justiça FEDERAL. Ex: publicação do material feita em
sites que possam ser acessados por qualquer sujeito, em qualquer parte do planeta, desde que esteja
conectado à internet.
• Nos casos em que o crime é praticado por meio de troca de informações privadas, como nas conversas via
Whatsapp ou por meio de chat na rede social Facebook: Justiça ESTADUAL.
Isso porque tanto no aplicativo WhatsApp quanto nos diálogos (chat) estabelecido na rede social Facebook, a
comunicação se dá entre destinatários escolhidos pelo emissor da mensagem. Trata-se de troca de informação
privada que não está acessível a qualquer pessoa.
Desse modo, como em tais situações o conteúdo pornográfico não foi disponibilizado em um ambiente de
livre acesso, não se faz presente a competência da Justiça Federal.
STJ. 3ª Seção. CC 150.564-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 26/4/2017 (Info 603).

Crimes ambientais envolvendo animais silvestres, em extinção, exóticos ou protegidos por compromissos
internacionais
Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais
silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por compromissos internacionais
assumidos pelo Brasil.
STF. Plenário. RE 835558/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/2/2017 (repercussão geral) (Info 853)

Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime de esbulho possessório de imóvel vinculado ao
Programa Minha Casa Minha Vida
O art. 161, § 1º, inciso II, do Código Penal, incrimina a conduta de invadir terreno ou edifício alheio, para o fim
de esbulho possessório, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas
pessoas.
A vítima do crime de esbulho possessório, tipificado no art. 161, § 1º, II, do Código Penal é o possuidor direto,
pois é quem exercia o direito de uso e fruição do bem. Na hipótese de imóvel alienado fiduciariamente, é o
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devedor fiduciário que ostenta essa condição, pois o credor fiduciário possui tão-somente a posse indireta.
A Caixa Econômica Federal, enquanto credora fiduciária e, portanto, possuidora indireta, não é a vítima do
referido delito. Contudo, no âmbito cível, a empresa pública federal possui legitimidade concorrente para
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propor eventual ação de reintegração de posse, diante do esbulho ocorrido. A sua legitimação ativa para a

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ação possessória demonstra a existência de interesse jurídico na apuração do crime, o que é suficiente para
fixar a competência penal federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/88.
Os imóveis que integram o Programa Minha Casa Minha Vida são adquiridos, em parte, com recursos
orçamentários federais. Tal fato evidencia o interesse jurídico da União na apuração do crime de esbulho
possessório em relação a esse bem, ao menos enquanto for ele vinculado ao mencionado Programa, ou seja,
quando ainda em vigência o contrato por meio do qual houve a compra do bem e no qual houve o subsídio
federal, o que é a situação dos autos.
STJ. 3ª Seção. CC 179.467-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 09/06/2021 (Info 700).

Fraudes praticadas na administração de operadora de plano de saúde que não seja seguradora
Compete à justiça estadual o processamento e julgamento de ação penal que apura supostas fraudes praticadas
por administrador na gestão de operadora de plano de saúde não caracterizada como seguradora.
A Lei nº 9.656/98 autoriza que os planos de saúde possam ser constituídos por diferentes formas jurídicas.
Existem planos de saúde que são cooperativas, outros que são sociedades empresárias, entidades de
autogestão etc. A Lei nº 10.185/2001 permite que sociedades seguradoras possam atuar como "plano de
saúde". Dessa forma, existem alguns planos de saúde que são "entidades seguradoras". Outros planos, no
entanto, são cooperativas, entidades de autogestão etc. Se a operadora de plano de saúde for uma
"seguradora", aí sim ela será considerada como instituição financeira. Caso contrário, ela não se enquadrará
no art. 1º, caput ou parágrafo único, da Lei nº 7.492/86.
STJ. 3ª Seção. CC 148.110-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Rel. para acórdão Min. Maria Thereza
de Assis Moura, julgado em 23/11/2016 (Info 595).

Em caso de conexão entre crime de competência da Justiça comum (federal ou estadual) e crime eleitoral,
os delitos serão julgados conjuntamente pela Justiça Eleitoral
Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos.
Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos comuns aos delitos eleitorais
e, em não havendo, remeter os casos à Justiça competente.
STF. Plenário. Inq 4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019 (Info 933).

A Justiça Eleitoral é competente para processar e julgar crime comum conexo com crime eleitoral, ainda que
haja o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva do delito eleitoral
Caso concreto: o ex-Governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo, com colaboração de outros agentes
políticos, teria desviado recursos públicos e utilizado esse dinheiro para financiar sua campanha de reeleição
no ano de 1998. Vale ressaltar que esse dinheiro utilizado na campanha não teria sido contabilizado na
prestação de contas, caracterizando aquilo que se chama, na linguagem popular, de “caixa dois”.
Em tese, o agente teria praticado os seguintes crimes: a) corrupção passiva (art. 317 do CP); b) falsidade
ideológica (art. 350 do Código Eleitoral); c) lavagem de dinheiro (art. 1º da Lei nº 9.613/98).
Dois crimes são de competência da Justiça estadual comum e um deles da Justiça Eleitoral. Como ficará a
competência para julgar estes delitos? Serão julgados separadamente ou juntos? Qual será a Justiça
competente? Justiça ELEITORAL. Competirá à Justiça Eleitoral julgar todos os delitos. Segundo entende o STF:
Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos (Inq 4435 AgR-
quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019).
Ocorre que, no caso concreto, há uma peculiaridade: ainda durante o inquérito, ficou reconhecida a prescrição
da pretensão punitiva em relação ao crime eleitoral. Logo, houve arquivamento do inquérito no que tange ao
crime eleitoral. Diante disso, indaga-se: mesmo assim, a Justiça Eleitoral continuará sendo competente para
julgar os demais delitos? SIM. Mesmo operada a prescrição quanto ao crime eleitoral, subsiste a competência
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da Justiça Eleitoral. Trata-se de aplicação lógica do disposto no art. 81 do CPP.


STF. 2ª Turma. RHC 177243/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 29/6/2021 (Info 1024).
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Decisão sobre desmembramento das investigações e sobre levantamento do sigilo compete ao Tribunal
competente para julgar a autoridade

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Durante a investigação, conduzida em 1ª instância, de crimes praticados por pessoas sem foro privativo, caso
surja indício de delito cometido por uma autoridade com foro no STF, o juiz deverá paralisar os atos de
investigação e remeter todo o procedimento para o Supremo. O juiz não pode decidir separar os
procedimentos e remeter ao Tribunal apenas os elementos colhidos contra a autoridade, permanecendo com
o restante.
Chegando ao STF, compete a este decidir se deverá haver o desmembramento ou se o Tribunal irá julgar todos
os suspeitos, incluindo as pessoas que não têm foro privativo.
Em suma, cabe apenas ao STF decidir sobre a necessidade de desmembramento de investigações que
envolvam autoridades com prerrogativa de foro.
De igual forma, se surgem diálogos envolvendo autoridade com foro no STF, o juiz que havia autorizado a
interceptação não poderá levantar o sigilo do processo e permitir o acesso às conversas porque a decisão
quanto a isso é também do STF.
STF. Plenário. Rcl 23457 Referendo-MC/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. em 31/3/2016 (Info 819).

Inexistência de nulidade na atuação de juízes instrutores nas ações penais no STF/STJ


É possível que os Ministros do STJ e STF, em ações penais originárias destes Tribunais, deleguem a realização
de atos de instrução aos chamados juízes instrutores, não havendo nulidade nesta prática.
Os juízes instrutores atuam como longa manus do magistrado relator e, nessa condição, procedem sob sua
supervisão. Trata-se, portanto, de delegação limitada a atos de instrução, com poder decisório restrito ao
alcance desses objetivos.
A atuação dos juízes instrutores encontra respaldo no art. 3º da Lei 8.038/90.
STF. 1ª Turma. HC 131164/TO, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/5/2016 (Info 827).

É possível que os crimes antecedentes sejam julgados em um processo e a acusação por lavagem seja
apreciada em outro processo desmembrado, mesmo que o MP esteja imputando a causa de aumento
descrita na parte final do § 4º do art. 1º da Lei 9.613/98
Caso concreto: a denúncia envolvia dezenas de réus, acusados pelos crimes de organização criminosa,
corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O juiz decidiu desmembrar os processos e as
imputações relacionadas com a lavagem de dinheiro estão sendo apuradas em outro processo penal, distinto
do processo que apura as infrações penais antecedentes.
A defesa de um dos réus alegou que não deveria ter ocorrido o desmembramento considerando que: 1) as
condutas apuradas nos processos sobre os crimes antecedentes podem ser úteis para a comprovação da
lavagem de dinheiro; 2) o MP imputou aos réus a causa de aumento do § 4º do art. 1º, da Lei de Lavagem (A
pena será aumentada de um a dois terços se a lavagem de dinheiro tiver sido cometida por intermédio de
organização criminosa), razão pela qual no processo de lavagem deve-se discutir a organização criminosa.
O STJ não concordou com os argumentos da defesa.
A reunião de processos em razão da conexão é uma faculdade do Juiz, conforme interpretação a contrario
sensu do art. 80 do CPP que possibilita a separação de determinados processos.
A eventual incidência da causa de aumento descrita na parte final do § 4º do art. 1º da Lei de Lavagem de
Dinheiro não constituiu empecilho para o juiz manter a separação dos feitos, nos termos do art. 80 do CPP.
STJ. 5ª Turma. RHC 157077-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito policial quando
autorizadas por juízo aparentemente competente
A jurisprudência do STJ tem entendido, de maneira ampla, que o desvio de verbas do SUS atrai a competência
da Justiça Federal, tendo em vista o dever de fiscalização e supervisão do governo federal.
122

No caso concreto, as decisões foram proferidas pelo Juízo estadual.


Assim, deve-se reconhecer a incompetência do Juízo estadual. No entanto, os atos processuais devem ser
avaliados pelo Juízo competente, para que decida se valida ou não os atos até então praticados.
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É pacífica a aplicabilidade da teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito
policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente.

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As provas colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à época da autorização ou produção
podem ser ratificadas a posteriori, mesmo que venha aquele a ser considerado incompetente, ante a aplicação
no processo investigativo da teoria do juízo aparente.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 156413-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/04/2022 (Info 733).

SÚMULAS SOBRE COMPETÊNCIA


Súmula 42-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.

Súmula 104-STJ: Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de falsificação e uso de
documento falso relativo a estabelecimento particular de ensino.

Súmula 107-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime de estelionato praticado
mediante falsificação das guias de recolhimento das contribuições previdenciárias, quando não ocorrente
lesão à autarquia federal.

Súmula 208-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a
prestação de contas perante órgão federal.
Súmula 209-STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
incorporada ao patrimônio municipal.

Súmula 498-STF: Compete a justiça dos estados, em ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos crimes
contra a economia popular.

Súmula 140-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como
autor ou vítima.

Súmula 38-STJ: Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição de 1988, o processo por
contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas
entidades.

Súmula 546-STJ: A competência para processar e julgar o crime de uso de documento falso é firmada em razão
da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o documento público, não importando a qualificação do órgão
expedidor.

Súmula 147-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra funcionário público
federal, quando relacionados com o exercício da função.

Súmula 200-STJ: O juízo federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte
falso é o do lugar onde o delito se consumou.

Súmula 165-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no
processo trabalhista.
123

Súmula vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes
de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e
Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.
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Súmula 208-STJ: Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a
prestação de contas perante órgão federal.

Súmula 209-STJ: Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e
incorporada ao patrimônio municipal.

As Súmulas 208 e 209 do STJ provêm da 3ª Seção do STJ e versam hipóteses de fixação da competência em
matéria penal, em que basta o interesse da União ou de suas autarquias para deslocar a competência para a
Justiça Federal, nos termos do inciso IV do art. 109 da CF. Logo, não podem ser utilizadas como critério para
as demandas cíveis. STJ. 1ª Seção. CC 142354/BA, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/09/2015.

Jurisprudência em teses (ed. 187):


1) Nas ações de improbidade administrativa, a competência cível da Justiça Federal é definida em razão da
presença das pessoas jurídicas de direito público na relação processual e não em razão da natureza da verba
em discussão, afasta-se, assim, a incidência das Súmulas n. 208 e 209 do Superior Tribunal de Justiça, por
versarem sobre a fixação de competência em matéria penal.
STJ. 1ª Seção. AgRg no CC 133.619/PA, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 09/05/2018.

Súmula 122-STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, "a", do Código de Processo Penal.

Súmula vinculante 36-STF: Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes
de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e
Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Arrais-Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do
Brasil.

Súmula 451-STF: A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após
a cessação definitiva do exercício funcional.

Súmula 704-STF: Não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração
por continência ou conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.

Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual.

Compete aos tribunais de justiça estaduais processar e julgar os delitos comuns, não relacionados com o
cargo, em tese praticados por Promotores de Justiça
Situação hipotética: João estava de passagem por Aracaju (SE) e ali praticou um crime. Vale ressaltar que João
é Promotor de Justiça no Estado do Ceará. Importante também registrar que o delito por ele praticado não
tem nenhuma relação com o cargo ocupado. O feito foi inicialmente distribuído ao Juízo de Direito da Vara
Criminal de Aracaju (1ª instância da Justiça estadual de Sergipe). O juiz, contudo, reconheceu sua
incompetência sob o fundamento de que, nos termos do art. 96, III, da CF/88, compete ao Tribunal de Justiça
julgar os crimes praticados por Promotores de Justiça.
O TJ/CE, entretanto, disse o seguinte: no julgamento da AP 937 QO/RJ, o STF conferiu nova interpretação
(restritiva) ao art. 102, I, alíneas “b” e “c”, da CF/88, fixando a competência daquela Corte para julgar os
membros do Congresso Nacional exclusivamente quanto aos crimes praticados no exercício e em razão da
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função pública exercida. Pelo princípio da simetria, esta interpretação restritiva do foro por prerrogativa de
função deveria ser aplicada também pelo Tribunal de Justiça. Logo, como o crime praticado pelo Promotor de
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Justiça não foi cometido em razão da função pública por ele exercida, a competência seria do juiz de 1ª
instância.

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O STJ afirmou que a competência é, de fato, do Tribunal de Justiça.
A Corte Especial do STJ, no julgamento da QO na APN 878/DF reconheceu sua competência para julgar
Desembargadores acusados da prática de crimes com ou sem relação ao cargo, não identificando simetria com
o precedente do STF. Naquela oportunidade, firmou-se a compreensão de que se Desembargadores fossem
julgados por Juízo de Primeiro Grau vinculado ao Tribunal ao qual ambos pertencem, criar-se-ia, em alguma
medida, um embaraço ao Juiz de carreira responsável pelo julgamento do feito. Em resumo, o STJ apontou
discrímen relativamente aos magistrados para manter interpretação ampla quanto ao foro por prerrogativa
de função, aplicável para crimes com ou sem relação com o cargo, com fundamento na necessidade de o
julgador desempenhar suas atividades judicantes de forma imparcial.
Nesse contexto, considerando que a previsão da prerrogativa de foro da Magistratura e do Ministério Público
encontra-se descrita no mesmo dispositivo constitucional (art. 96, III, da CF/88), seria desarrazoado conferir-
lhes tratamento diferenciado.
STJ. 3ª Seção. CC 177.100-CE, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 08/09/2021 (Info 708).

STJ não é competente para julgar crime praticado por Governador no exercício do mandato se o agente
deixou o cargo e atualmente voltou a ser Governador por força de uma nova eleição
O STJ é incompetente para julgar crime praticado durante mandato anterior de Governador, ainda que
atualmente ocupe referido cargo por força de nova eleição.
Ex: José praticou o crime em 2010, quando era Governador; em 2011 foi eleito Senador; em 2019 assumiu
novamente como Governador; esse crime praticado em 2010 será julgado em 1ª instância (e não pelo STJ).
Como o foro por prerrogativa de função exige contemporaneidade e pertinência temática entre os fatos em
apuração e o exercício da função pública, o término de um determinado mandato acarreta, por si só, a
cessação do foro por prerrogativa de função em relação ao ato praticado nesse intervalo.
STJ. Corte Especial. QO na APn 874-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/05/2019 (Info 649).

Se um Senador, que responde ação penal no STF, foi eleito Deputado Federal, sem solução de continuidade,
o STF permanece sendo competente para a causa (mantem-se a competência do STF nos casos de mandatos
cruzados de parlamentar federal)
A competência penal originária do STF para processar e julgar parlamentares alcança os congressistas federais
no exercício de mandato em casa parlamentar diversa daquela em que consumada a hipotética conduta
delitiva, desde que não haja solução de continuidade. Desse modo, mantem-se a competência criminal
originária do STF nos casos de “mandatos cruzados” exclusivamente de parlamentar federal.
STF. Plenário. Inq. 4342 QO/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 1º/4/2022 (Info 1049).
A audiência de custódia constitui direito público subjetivo, de caráter fundamental
A audiência de custódia (ou de apresentação) constitui direito público subjetivo, de caráter fundamental,
assegurado por convenções internacionais de direitos humanos a que o Estado brasileiro aderiu, já
incorporadas ao direito positivo interno (Convenção Americana de Direitos Humanos e Pacto Internacional
sobre Direitos Civis e Políticos). Traduz prerrogativa não suprimível assegurada a qualquer pessoa. Sua
imprescindibilidade tem o beneplácito do magistério jurisprudencial (ADPF 347 MC) e do ordenamento
positivo doméstico (Lei nº 13.964/2019 e Resolução 213/2015 do CNJ).
STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994).

A superveniência da realização da audiência de instrução e julgamento não torna superada a alegação de


ausência de audiência de custódia
Imagine que o indivíduo foi preso em flagrante e não foi realizada a audiência de custódia. A defesa impetrou
sucessivos habeas corpus, mas os Tribunais não concederam a liberdade ao custodiado. Quando a questão
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chegou até o STF, esse indivíduo já tinha sido denunciado e foi realizado, inclusive, a audiência de instrução.
Isso significa que o pedido de realização da audiência de custódia fica prejudicado?
Ao julgar um caso como esse, houve empate na 2ª Turma do STF.
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Dois Ministros votaram no sentido de que a alegação de ausência da audiência de custódia estaria superada
(Nunes Marques e Edson Fachin).

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Outros dois Ministros votaram no sentido de que a alegação não estaria superada mesmo já tendo sido
realizada a audiência de instrução (Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski).
Diante do empate, a 2ª Turma concedeu parcialmente a ordem de habeas corpus e determinou ao juiz que
realizasse a audiência de custódia, no prazo de 24 horas, a contar da comunicação do julgamento.
Assim constou no Informativo:
A superveniência da realização da audiência de instrução e julgamento não torna superada a alegação de
ausência de audiência de custódia.
STF. 2ª Turma. HC 202579 AgR/ESe HC 202700 AgR/SP, Rel. Min. Nunes Marques, redator do acórdão Min.
Gilmar Mendes, julgados em 26/10/2021 (Info 1036).

Não se mostra razoável, para a realização da audiência de custódia, determinar o retorno de investigado à
localidade em que ocorreu a prisão quando este já tenha sido transferido para a comarca em que se
determinou a realização da busca e apreensão
Caso concreto: na comarca de São Lourenço do Oeste (SC) tramita um inquérito policial que investiga João e
outras pessoas. João mora em outro Município, qual seja, Pato Branco (PR). O juiz da comarca de São Lourenço
do Oeste decretou a busca e apreensão na casa de João. Durante o cumprimento do mandado na residência
de João, em Pato Branco (PR), a Polícia Civil encontrou grande quantidade de drogas. Os policiais prenderam
João e o transportaram até São Lourenço do Oeste, onde foi lavrado o auto de prisão em flagrante. João está
preso na cadeia pública de São Lourenço do Oeste.
Em regra, a audiência de custódia deve ser realizada na localidade em que ocorreu a prisão. No caso, porém,
o Investigado já foi conduzido à Comarca do Juízo que determinou a busca e apreensão, há aparente conexão
probatória com outros casos e prevenção daquele Juízo, de forma que não se mostra razoável determinar o
retorno do Investigado para análise do auto de prisão em flagrante, notadamente em razão da celeridade que
deve ser empregada em casos de análise da legalidade da custódia.
STJ. 3ª Seção. CC 182728-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 13/10/2021 (Info 714).

(Não) É cabível a realização de audiência de custódia por meio de videoconferência


A audiência de custódia, no caso de mandado de prisão preventiva cumprido fora do âmbito territorial da
jurisdição do Juízo que a determinou, deve ser efetivada por meio da condução do preso à autoridade judicial
competente na localidade em que ocorreu a prisão. Não se admite, por ausência de previsão legal, a sua
realização por meio de videoconferência, ainda que pelo Juízo que decretou a custódia cautelar.
STJ. 3ª Seção. CC 168522-PR, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/12/2019 (Info 663).

Obs1: após esse julgado, o CNJ aprovou resolução proibindo a realização de audiência de custódia por
videoconferência. Segundo o Min. Dias Toffoli, “audiência de custódia por videoconferência não é audiência
de custódia e não se equiparará ao padrão de apresentação imediata de um preso a um juiz, em momento
consecutivo a sua prisão, estandarte, por sinal, bem definido por esse próprio Conselho Nacional de Justiça
quando fez aplicar em todo o país as disposições do Pacto de São José da Costa Rica.”

Obs2: considerando a pandemia mundial (Covid-19), o CNJ aprovou a Resolução 357/2020, permitindo a
audiência de custódia por videoconferência quando não for possível a realização, em 24 horas, de forma
presencial. Além disso, também prevê a possibilidade de o Ministério Público propor acordo de não
persecução penal (ANPP) nas hipóteses previstas no artigo 28-A do Código de Processo Penal.

Obs3: no dia 28-6-2021, o Min. Nunes Marques concedeu parcialmente liminar na ADI 6841 (liminar essa que
foi referendada por maioria do STF, no dia 1-7-2021), suspendendo os efeitos da expressão "vedado o
emprego de videoconferência", prevista no art. 3-B, § 1º, do CPP, inserido pelo Pacote Anticrime (Lei
126

13.964/2019), de modo a permitir a realização das audiências de custódia por videoconferência, enquanto
perdurar a pandemia de Covid-19, conforme art. 19, da Resolução n. 329/2020, CNJ, na redação que lhe foi
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dada pela Resolução n. 357/2020, CNJ, na forma do art. 10, § 3°, Lei n. 9.868/99, bem como no art. 21, V, do
RISTF.

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No mesmo sentido, confiram esses julgados do STF:
A pandemia causada pelo novo coronavírus não afasta a imprescindibilidade da audiência de custódia, que
deve ser realizada, caso necessário, por meio de videoconferência, diante da ausência de lei em sentido formal
que proíba o uso dessa tecnologia.
A audiência por videoconferência, sob a presidência do Juiz, com a participação do autuado, de seu defensor
constituído ou de Defensor Público, e de membro do Ministério Público, permite equacionar as medidas
sanitárias de restrição decorrentes do contexto pandêmico com o direito subjetivo do preso de participar de
ato processual vocacionado a controlar a legalidade da prisão.
STF. 2ª Turma. HC 186421, Rel. Celso de Mello, Rel. p/ Acórdão Edson Fachin, julgado em 20/10/2020.

A Recomendação 62/2020 do CNJ não aconselha a realização de audiência de custódia na forma presencial.
Realização por videoconferência. Medida destinada a minimizar os riscos de contaminação dos suspeitos,
membros do Ministério Público, magistrados, defensores e servidores. O atual estado de guerra viral sugere
cautela e prudência a fim de evitar seu agravamento. (...) Agravo improvido, com determinação para que o
Juízo realize a audiência de custódia em ambiente virtual, com nova avaliação da necessidade da prisão
preventiva, de forma fundamentada.
STF. 2ª Turma. HC 198399, Rel. Min. Gilmar Mendes de Mello, julgado em 22/04/2021.

Decisão proferida em audiência de custódia reconhecendo a atipicidade do fato não faz coisa julgada
A decisão que, na audiência de custódia, determina o relaxamento da prisão em flagrante sob o argumento
de que a conduta praticada é atípica não faz coisa julgada.
Assim, esta decisão não vincula o titular da ação penal, que poderá oferecer acusação contra o indivíduo
narrando os mesmos fatos e o juiz poderá receber essa denúncia.
STF. 1ª Turma. HC 157306/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/9/2018 (Info 917).

Depois da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), não é mais possível que o juiz, de ofício, converta a prisão
em flagrante em prisão preventiva (é indispensável requerimento)
Não é possível a decretação “ex officio” de prisão preventiva em qualquer situação (em juízo ou no curso de
investigação penal), inclusive no contexto de audiência de custódia, sem que haja, mesmo na hipótese da
conversão a que se refere o art. 310, II, do CPP, prévia, necessária e indispensável provocação do Ministério
Público ou da autoridade policial.
A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, § 2º, e do art. 311, ambos
do CPP, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem o prévio requerimento das partes
ou representação da autoridade policial.
Logo, não é mais possível, com base no ordenamento jurídico vigente, a atuação ‘ex officio’ do Juízo
processante em tema de privação cautelar da liberdade.
A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz do art. 282, § 2º e do art. 311, significando que
se tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em flagrante
de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal
provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante ou do assistente
do MP.
STJ. 5ª Turma. HC 590039/GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 20/10/2020.
STF. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994).

Não é possível que o juiz, de ofício, decrete a prisão preventiva; vale ressaltar, no entanto, que, se logo
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depois de decretar, a autoridade policial ou o MP requererem a prisão, o vício de ilegalidade que maculava
a custódia é suprido
O que acontece se o juiz decretar a prisão preventiva de ofício (sem requerimento)?
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• Regra: a prisão deverá ser relaxada por se tratar de prisão ilegal.

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• Exceção: se, após a decretação, a autoridade policial ou o Ministério Público requererem a prisão, o vício de
ilegalidade que maculava a custódia é suprido (convalidado) e a prisão não será relaxada.
O posterior requerimento da autoridade policial pela segregação cautelar ou manifestação do Ministério
Público favorável à prisão preventiva suprem o vício da inobservância da formalidade de prévio requerimento.
STJ. 5ª Turma. AgRg RHC 136.708/MS, Rel. Min. Felix Fisher, julgado em 11/03/2021 (Info 691).

Súmula 455-STJ: A decisão que determina a produção antecipada de provas com base no artigo 366 do CPP
deve ser concretamente fundamentada, não a justificando unicamente o mero decurso do tempo.

Prisão domiciliar para gestantes, puérperas, mães de crianças e mães de pessoas com deficiência
Veja os artigos incluídos pela Lei nº 13.769/2018 no CPP:
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou
pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.

Art. 318-B. A substituição de que tratam os arts. 318 e 318-A poderá ser efetuada sem prejuízo da aplicação
concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 deste Código.

Pais e outros responsáveis por menor de 12 anos ou por pessoa com deficiência possuem direito à prisão
domiciliar, desde que observados os requisitos do art. 318 do CPP e não tenham praticado crime com
violência ou grave ameaça ou contra os próprios filhos ou dependentes
Tem direito à substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar — desde que observados os requisitos
do art. 318 do Código de Processo Penal e não praticados crimes mediante violência ou grave ameaça ou
contra os próprios filhos ou dependentes — os pais, caso sejam os únicos responsáveis pelos cuidados de
menor de 12 anos ou de pessoa com deficiência, bem como outras pessoas presas, que não sejam a mãe ou o
pai, se forem imprescindíveis aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 anos ou com deficiência.
STF. 2ª Turma. HC 165704/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/10/2020 (Info 996).

A apreensão de grande quantidade e variedade de drogas não impede a concessão da prisão domiciliar à
mãe de filho menor de 12 anos se não demonstrada situação excepcional de prática de delito com violência
ou grave ameaça ou contra seus filhos (art. 318-A do CPP)
O afastamento da prisão domiciliar para mulher gestante ou mãe de criança menor de 12 anos exige
fundamentação idônea e casuística, independentemente de comprovação de indispensabilidade da sua
presença para prestar cuidados ao filho, sob pena de infringência ao art. 318, V, do CPP.
O art. 318-A, do CPP, com a redação dada pela Lei nº 13.769/2018, dispõe que a prisão preventiva imposta à
mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por
prisão domiciliar, desde que: I) não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa e que II)
não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.
No caso, sendo a ré mãe de criança de 6 anos de idade, deve ser aplicada a regra geral de proteção da primeira
infância, considerando que o juízo não apresentou fundamentação idônea para a mitigação da referida
garantia constitucional.
O fato de se ter apreendido grande quantidade e variedade de entorpecentes não impede a concessão da
prisão domiciliar se não demonstrados outros motivos que evidenciam que a conduta praticada representa
risco à ordem pública, como indícios de comércio ilícito no local em que a agente cria os menores.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 712258-SP, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª
128

Região), julgado em 29/03/2022 (Info 733).


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A mera circunstância de o agente ter sido denunciado em razão dos delitos descritos na Lei 12.850/2013 não
justifica a imposição automática da prisão preventiva, devendo-se avaliar a presença de elementos
concretos, previstos no art. 312 do CPP
Conquanto os tribunais superiores admitam a prisão preventiva para interrupção da atuação de integrantes
de organização criminosa, a mera circunstância de o agente ter sido denunciado pelos delitos descritos na Lei
n. 12.850/2013 não justifica a imposição automática da custódia prisional.
Com efeito, deve-se avaliar a presença de elementos concretos, previstos no art. 312 do CPP, como o risco de
reiteração delituosa ou indícios de que o grupo criminoso continua em atividade, colocando em risco à ordem
pública.
STJ. 5ª Turma. HC 708148-SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, Rel. Acd. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
05/04/2022 (Info 732).

Requisitos estipulados pelo STF para a validade da decretação da prisão temporária


A decretação de prisão temporária somente é cabível quando:
(i) for imprescindível para as investigações do inquérito policial;
(ii) houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado;
(iii) for justificada em fatos novos ou contemporâneos;
(iv) for adequada à gravidade concreta do crime, às circunstâncias do fato e às condições pessoais do indiciado;
e
(v) não for suficiente a imposição de medidas cautelares diversas.
STF. Plenário. ADI 3360/DF e ADI 4109/DF, Rel. Min. Carmen Lúcia, redator para o acórdão Min. Edson Fachin,
julgados em 11/2/2022 (Info 1043).

O descumprimento do prazo do parágrafo único do art. 316 do CPP não acarreta automaticamente a
liberdade do preso. Esse dispositivo se aplica também aos Tribunais?
O transcurso do prazo previsto no parágrafo único do art. 316 do Código de Processo Penal não acarreta,
automaticamente, a revogação da prisão preventiva e, consequentemente, a concessão de liberdade
provisória.
A exigência da revisão nonagesimal quanto à necessidade e adequação da prisão preventiva aplica-se até o
final dos processos de conhecimento.
O parágrafo único do art. 316 do CPP se aplica para:
• o juízo em 1ª instância: SIM
• o TJ ou TRF: SIM (tanto nos processos de competência originária do TJ/TRF – foro por prerrogativa de função
– como também durante o tempo em que se aguarda o julgamento de eventual recurso interposto contra
decisão de 1ª instância).
• o STJ/STF: em regra, não. Encerrado o julgamento de segunda instância, não se aplica o art. 316, parágrafo
único, do CPP. Exceção: caso se trate de uma ação penal de competência originária do STJ/STF.
Em conclusão, o art. 316, parágrafo único, do CPP aplica-se:
a) até o final dos processos de conhecimento, onde há o encerramento da cognição plena pelo Tribunal de
segundo grau;
b) nos processos onde houver previsão de prerrogativa de foro.
Por outro lado, o art. 316, parágrafo único, do CPP não se aplica para as prisões cautelares decorrentes de
sentença condenatória de segunda instância ainda não transitada em julgado.
STF. Plenário. ADI 6581/DF e ADI 6582/DF, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgados em 8/3/2022 (Info 1046).
129

Não existe o dever de revisão previsto art. 316, parágrafo único, do CPP, caso o acusado esteja foragido
Quando o acusado se encontrar foragido, não há o dever de revisão ex officio da prisão preventiva, a cada 90
dias, exigida pelo art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal.
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A finalidade do dispositivo é a de evitar o gravíssimo constrangimento experimentado por quem está com
efetiva restrição à sua liberdade. Somente o gravíssimo constrangimento causado pela efetiva prisão justifica

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o elevado custo despendido pela máquina pública com a promoção desses numerosos reexames impostos
pela lei.
Não seria razoável ou proporcional obrigar todos os Juízos criminais do país a revisar, de ofício, a cada 90 dias,
todas as prisões preventivas decretadas e não cumpridas, tendo em vista que, na prática, há réus que
permanecem foragidos por anos.
Soma-se a isso o fato de que, se o acusado – que tem ciência da investigação ou processo e contra quem foi
decretada a prisão preventiva – encontra-se foragido, já se vislumbram, antes mesmo de qualquer reexame
da prisão, fundamentos para mantê-la – quais sejam, a necessidade de assegurar a aplicação da lei penal e a
garantia da instrução criminal –, os quais, aliás, conservar-se-ão enquanto perdurar a condição de foragido do
acusado.
Assim, pragmaticamente, parece pouco efetivo para a proteção do acusado, obrigar o Juízo processante a
reexaminar a prisão, de ofício, a cada 90 dias, nada impedindo, contudo, que a defesa protocole pedidos de
revogação ou relaxamento da custódia, quando entender necessário.
STJ. 5ª Turma. RHC 153528-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 29/03/2022 (Info 731).

Antecipação da prova testemunhal pela gravidade do crime e possibilidade concreta de perecimento


A antecipação da prova testemunhal prevista no art. 366 do CPP pode ser justificada como medida necessária
pela gravidade do crime praticado e possibilidade concreta de perecimento, haja vista que as testemunhas
poderiam se esquecer de detalhes importantes dos fatos em decorrência do decurso do tempo.
Além disso, a antecipação da oitiva das testemunhas não traz nenhum prejuízo às garantias inerentes à defesa.
Isso porque quando o processo retomar seu curso, caso haja algum ponto novo a ser esclarecido em favor do
réu, basta que seja feita nova inquirição.
STF. 2ª Turma. HC 135386/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 13/12/2016 (Info 851).

Não há nulidade pelo fato de o juiz não aceitar o rol de testemunhas apresentado pela defesa fora da fase
estabelecida no art. 396-A do CPP
O art. 396-A afirma que, na resposta à acusação, o réu poderá arrolar testemunhas. No caso concreto, a defesa
não arrolou testemunhas nessa fase e somente as apresentou depois. O magistrado indeferiu a oitiva sob o
argumento de que elas foram apresentadas extemporaneamente.
O STJ afirmou que não houve nulidade na recusa do juiz.
Em respeito à ordem dos atos processuais não configura cerceamento de defesa o indeferimento da
apresentação extemporânea do rol de testemunhas.
Inexiste nulidade na desconsideração do rol de testemunhas quando apresentado fora da fase estabelecida
no art. 396-A do CPP.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 161.330-RS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 05/04/2022 (Info
738).

É possível a citação, no processo penal, via WhatsApp?


É possível a utilização de WhatsApp para a citação de acusado, desde que sejam adotadas medidas suficientes
para atestar a autenticidade do número telefônico, bem como a identidade do indivíduo destinatário do ato
processual.
STJ. 5ª Turma. HC 641.877/DF, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/03/2021 (Info 688).

No caso do art. 366 do CPP, o prazo prescricional ficará suspenso pelo tempo de prescrição da pena máxima
em abstrato cominada ao crime
130

Em caso de inatividade processual decorrente de citação por edital, ressalvados os crimes previstos na
Constituição Federal como imprescritíveis, é constitucional limitar o período de suspensão do prazo
prescricional ao tempo de prescrição da pena máxima em abstrato cominada ao crime, a despeito de o
Página

processo permanecer suspenso.

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Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o
processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas
consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
STF. Plenário. STF. Plenário. RE 600851, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral –
Tema 438) (Info 1001).

No mesmo sentido: Súmula 415-STJ: O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo máximo
da pena cominada.

Citado o réu por edital, nos termos do art. 366 do CPP, o processo deve permanecer suspenso enquanto o
réu não for localizado ou até que seja extinta a punibilidade pela prescrição
O art. 366 do CPP estabelece que se o acusado for citado por edital e não comparecer ao processo nem
constituir advogado o processo e o curso da prescrição ficarão suspensos.
Enquanto o réu não for localizado, o curso processual não pode ser retomado.
STJ. 6ª Turma. RHC 135.970/RS, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em 20/04/2021 (Info 693).

Súmula 273-STJ: Intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da
data da audiência no juízo deprecado.

Súmula 155-STF: É relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória
para inquirição de testemunha.

Súmula 710-STF: No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos autos
do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

Súmula 448-STF: O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr imediatamente após o
transcurso do prazo do Ministério Público.

Se for expedida carta rogatória para citar um acusado no exterior, o prazo prescricional ficará suspenso até
que ela seja cumprida, ou seja, o prazo prescricional voltará a correr antes mesmo que a carta seja juntada
aos autos
O CPP afirma que, se for expedida uma carta rogatória para citar um acusado no exterior, o prazo prescricional
ficará suspenso até que ela seja cumprida:
Art. 368. Estando o acusado no estrangeiro, em lugar sabido, será citado mediante carta rogatória,
suspendendo-se o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento.
Até quando o prazo prescricional fica suspenso? Até o cumprimento da carta ou até a sua juntada aos autos?
O termo final da suspensão do prazo prescricional pela expedição de carta rogatória para citação do acusado
no exterior é a data da efetivação da comunicação processual no estrangeiro, ainda que haja demora para a
juntada da carta rogatória cumprida aos autos.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.882.330/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 06/04/2021 (Info 691).

Aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal
É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC 1973 (art. 229 do CPC 2015) ao processo penal.
Se no processo civil, em que se discutem direitos disponíveis, concede-se prazo em dobro, com mais razão no
processo penal, em que está em jogo a liberdade do cidadão.
131

STF. Plenário. Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 3/9/2015
(Info 797).
STF. Plenário. Inq 4112/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em
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1º/9/2015 (Info 797).

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Não se aplica o prazo em dobro do caput do art. 229 do CPC/2015 aos processos em autos eletrônicos
Em regra, é cabível a aplicação analógica do prazo em dobro previsto no art. 229 do CPC/2015 ao prazo
previsto no art. 4º da Lei nº 8.038/90 (“Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a notificação
do acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias”).
"Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, terão
prazos contados em dobro para todas as suas manifestações, em qualquer juízo ou tribunal,
independentemente de requerimento."
No entanto, não cabe a aplicação subsidiária do art. 229, caput, do CPC/2015 em inquéritos e ações penais
originárias em que os atos processuais das partes são praticados por via eletrônica e todos os interessados —
advogados e membros do Ministério Público — têm acesso amplo e simultâneo ao inteiro teor dos autos.
Incide aqui a regra de exceção do § 2º do art. 229: "§ 2º Não se aplica o disposto no caput aos processos em
autos eletrônicos."
STF. 2ª Turma. Inq 3980 QO/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 7/6/2016 (Info 829).

Acusado não pode assistir interrogatório do corréu mesmo que seja advogado
Se houver mais de um acusado, cada um dos réus não terá direito de acompanhar o interrogatório dos corréus.
Segundo o CPP, havendo mais de um acusado, eles deverão ser interrogados separadamente (art. 191).
Ex.: João e Pedro são réus em uma ação penal. No momento em que forem ser interrogados, um não poderá
ouvir o depoimento do outro. Logo, quando João for ser interrogado, Pedro terá que sair da sala, ficando,
contudo, seu advogado presente. No instante em que Pedro for prestar seus esclarecimentos, será a vez de
João deixar o recinto, ficando representado por seu advogado.
Se o réu for advogado e estiver atuando em causa própria, mesmo assim deverá ser aplicada a regra do art.
191 do CPP. Em outras palavras, quando o corréu for ser interrogado, o acusado (que atua como advogado)
terá que sair da sala de audiência.
STF. 2ª Turma. HC 101021/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/5/2014 (Info 747).

Inconstitucionalidade da condução coercitiva para interrogatório


O CPP, ao tratar sobre a condução coercitiva, prevê o seguinte:
Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato
que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença.
O STF declarou que a expressão “para o interrogatório” prevista no art. 260 do CPP não foi recepcionada pela
Constituição Federal.
Assim, caso seja determinada a condução coercitiva de investigados ou de réus para interrogatório, tal
conduta poderá ensejar:
• a responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade
• a ilicitude das provas obtidas
• a responsabilidade civil do Estado.
Modulação dos efeitos: o STF afirmou que o entendimento acima não desconstitui (não invalida) os
interrogatórios que foram realizados até a data do julgamento, ainda que os interrogados tenham sido
coercitivamente conduzidos para o referido ato processual.
STF. Plenário. ADPF 395/DF e ADPF 444/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 13 e 14/6/2018 (Info 906).

O interrogatório é o último ato da instrução também nas ações penais regidas pela Lei nº 8.038/90
Nos processos criminais que tramitam perante o STF e o STJ, cujo procedimento é regido pela Lei nº 8.038/90,
o interrogatório também é o último ato de instrução.
Apesar de não ter havido uma alteração específica do art. 7º da Lei 8.038/90, com base no CPP, entende-se
132

que o interrogatório é um ato de defesa, mais bem exercido depois de toda a instrução, porque há
possibilidade do contraditório mais amplo.
Assim, primeiro devem ser ouvidas todas as testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa para, só então,
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ser realizado o interrogatório.

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STF. 1ª Turma. AP 1027/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto Barroso, julgado em
2/10/2018 (Info 918).

É ilegal o encerramento do interrogatório do paciente que se nega a responder aos questionamentos do juiz
instrutor antes de oportunizar as indagações pela defesa
Caso concreto: Vitor era réu em um processo criminal. Durante o interrogatório, ele se negou a responder as
perguntas do magistrado e da acusação a respeito dos fatos imputados. O acusado afirmou que só responderia
as perguntas formuladas por seu advogado. O juiz, contudo, disse que isso não seria possível e impediu Vitor
de responder aos questionamentos da defesa. Para o juízo, o fato de o acusado ter se negado a responder
perguntas feitas pelo magistrado excluiria a possibilidade de outros esclarecimentos de qualquer das partes,
inclusive da defesa. Essa conduta foi ilícita.
O art. 186 do CPP estipula que, depois de devidamente qualificado e cientificado do inteiro teor da acusação,
o acusado será informado pelo juiz, antes de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e
de não responder perguntas que lhe forem formuladas.
O interrogatório, como meio de defesa, implica ao imputado a possibilidade de responder a todas, nenhuma
ou a apenas algumas perguntas direcionadas ao acusado, que tem direito de poder escolher a estratégia que
melhor lhe aprouver à sua defesa.
Verifica-se a ilegalidade diante do precoce encerramento do interrogatório do réu, após manifestação do
desejo de não responder às perguntas do juízo condutor do processo, senão do seu advogado, sendo excluída
a possibilidade de ser questionado pelo seu defensor técnico.
STJ. 6ª Turma. HC 703978-SC, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região),
julgado em 05/04/2022 (Info 732).

A condenação deve ser mantida se ela foi lastreada não apenas no ato de reconhecimento realizado pela
vítima (considerado inválido), mas também nas demais provas coligidas aos autos, sob o crivo do
contraditório e da ampla defesa
Ainda que o reconhecimento fotográfico esteja em desacordo com o procedimento previsto no art. 226 do
CPP, deve ser mantida a condenação quando houver outras provas produzidas sob o crivo do contraditório e
da ampla defesa, independentes e suficientes o bastante, para lastrear o decreto condenatório.
STJ. 6ª Turma. AgRg nos EDcl no HC 656.845-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 04/10/2022 (Info
758).

É ilícita a prova obtida em revista pessoal feita por agentes de segurança particular
Caso concreto: o homem passava pela catraca de uma das estações da Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM), com uma mochila nas costas, quando foi abordado por dois agentes de segurança
privados da empresa. Os seguranças acreditavam que se tratava de vendedor ambulante e fizeram uma
revista, tendo encontrado dois tabletes de maconha na mochila do passageiro. O homem foi condenado pelo
TJ/SP por tráfico de drogas (art. 33 da Lei nº 11.343/2006).
O STJ, contudo, entendeu que a prova usada na condenação foi ilícita considerando que obtida mediante
revista pessoal ilegal feita pelos agentes da CPTM.
Segundo a CF/88 e o CPP, somente as autoridades judiciais, policiais ou seus agentes, estão autorizados a
realizarem a busca domiciliar ou pessoal.
Diante disso, a 5ª Turma do STJ concedeu habeas corpus para absolver e mandar soltar um homem acusado
de tráfico de drogas e condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo com base em prova recolhida em
revista pessoal feita por agentes de segurança privada da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
(CPTM).
133

STJ. 5ª Turma. HC 470.937/SP, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 04/06/2019 (Info 651).

O simples fato de o acusado ter antecedente por tráfico de drogas não autoriza a realização de busca
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domiciliar

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Caso concreto: a polícia recebeu denúncia anônima de que havia um homem armado em via pública. Os
policiais se dirigiram até o local e fizeram revista pessoal, oportunidade na qual encontraram uma pistola. Os
policiais checaram o sistema da polícia e descobriram que ele tinha antecedente criminal por tráfico de drogas.
Diante dessa informação, decidiram ir até a residência do suspeito para ali procurarem drogas. No local,
encontraram entorpecente.
O STJ entendeu que não havia razões fundadas para a violação do domicílio, razão pela qual reconheceu a
ilicitude das provas por esse meio obtidas, bem como de todas as que delas decorreram, e, por conseguinte,
absolveu o indivíduo em relação à prática do delito de tráfico de drogas.
O simples fato de o acusado ter antecedente por tráfico de drogas não autoriza a realização de busca
domiciliar, porquanto desacompanhado de outros indícios concretos e robustos de que, nesse momento
específico, ele guarda drogas em sua residência.
Os policiais alegaram que o indivíduo autorizou o ingresso na residência, mas o STJ entendeu que esse
consentimento não foi válido:
Mesmo se ausente coação direta e explícita sobre o acusado, as circunstâncias de ele já haver sido preso em
flagrante pelo porte da arma de fogo em via pública e estar detido, sozinho - sem a oportunidade de ser
assistido por defesa técnica e sem mínimo esclarecimento sobre seus direitos -, diante de dois policiais
armados, poderiam macular a validade de eventual consentimento para a realização de busca domiciliar, em
virtude da existência de um constrangimento ambiental/circunstancial.
STJ. 6ª Turma. HC 762.932-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/11/2022 (Info 760).

É nulo o interrogatório travestido de entrevista realizado pela autoridade policial com o investigado,
durante a busca e apreensão em sua residência, sem assistência de advogado e sem a comunicação de seus
direitos
É nula a “entrevista” realizada pela autoridade policial com o investigado, durante a busca e apreensão em
sua residência, sem que tenha sido assegurado ao investigado o direito à prévia consulta a seu advogado e
sem que ele tenha sido comunicado sobre seu direito ao silêncio e de não produzir provas contra si mesmo.
Trata-se de um “interrogatório travestido de entrevista”, havendo violação do direito ao silêncio e à não
autoincriminação.
STF. 2ª Turma. Rcl 33711/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/6/2019 (Info 944).

A determinação judicial para identificação dos usuários que operaram em determinada área geográfica,
suficientemente fundamentada, não ofende a proteção à privacidade e à intimidade
A quebra do sigilo de dados armazenados não obriga a autoridade judiciária a indicar previamente as pessoas
que estão sendo investigadas, até porque o objetivo precípuo dessa medida é justamente de proporcionar a
identificação do usuário do serviço ou do terminal utilizado.
Logo, a ordem judicial para quebra do sigilo dos registros, delimitada por parâmetros de pesquisa em
determinada região e por período de tempo, não se mostra medida desproporcional, porquanto, tendo como
norte a apuração de gravíssimos crimes, não impõe risco desmedido à privacidade e à intimidade dos usuários
possivelmente atingidos por tal diligência.
STJ. 3ª Seção. RMS 61.302-RJ, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/08/2020 (Info 678).

Pessoa residente no Brasil foi ameaçada por e-mail enviado de conta hospedada no exterior; Justiça brasileira
é competente para determinar que a empresa responsável pela conta identifique o titular do e-mail
STJ. 3ª Turma. REsp 1.745.657-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/11/2020 (Info 683).

Para o acesso a dados telemáticos não é necessário a delimitação temporal para fins de investigações
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criminais
Não é necessário especificar a limitação temporal para os acessos requeridos pelo Ministério Público, por se
tratar de dados estáticos, constantes nas plataformas de dados.
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Apesar de o art. 22, III, da Lei nº 12.965/2014 (Marco Civil da Internet) determinar que a requisição judicial de
registro deve conter o período ao qual se referem, tal quesito só é necessário para o fluxo de comunicações,
sendo inaplicável nos casos de dados já armazenados que devem ser obtidos para fins de investigações
criminais.
STJ. 6ª Turma. HC 587.732-RJ, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 20/10/2020 (Info 682).

Não é possível aplicar multa contra o WhatsApp pelo fato de a empresa não conseguir interceptar as
mensagens trocadas pelo aplicativo e que são protegidas por criptografia de ponta a ponta
Caso concreto: o juiz expediu ordem para que o WhatsApp interceptasse as mensagens trocadas por
determinados investigados, suspeitos de integrarem uma organização criminosa que estariam ainda
praticando crimes. O WhatsApp respondeu que não consegue cumprir a determinação judicial por
impedimentos de ordem técnica. Isso porque as mensagens trocadas via aplicativo são criptografadas de
ponta a ponta. O magistrado não concordou com o argumento e aplicou multa contra a empresa.
Segundo a opinião dos especialistas, realmente não é possível a interceptação de mensagens criptografadas
do WhatsApp devido à adoção de criptografia forte pelo aplicativo.
Ao utilizar a criptografia de ponta a ponta, a empresa está criando um mecanismo de proteção à liberdade de
expressão e de comunicação privada, garantia reconhecida expressamente na Constituição Federal (art. 5º,
IX).
A criptografia é, portanto, um meio de se assegurar a proteção de direitos que, em uma sociedade
democrática, são essenciais para a vida pública.
A criptografia protege os direitos dos usuários da internet, garantindo a privacidade de suas comunicações.
Logo, é do interesse do Estado brasileiro encorajar as empresas e as pessoas a utilizarem a criptografia e
manter o ambiente digital com a maior segurança possível para os usuários.
Existe, contudo, uma ponderação a ser feita: em alguns casos a criptografia é utilizada para acobertar a prática
de crimes, como, por exemplo, os casos de pornografia infantil e de condutas antidemocráticas, como
manifestações xenófobas, racistas e intolerantes, que ameaçam o Estado de Direito. A partir daí, indaga-se: o
risco à segurança pública representado pelo uso da criptografia justifica restringir ou proibir a sua adoção
pelas empresas?
O tema está sendo apreciado pelo STF na ADPF 403 e na ADI 5527, que foi iniciado com os votos dos Ministros
Edson Fachin e Rosa Weber, tendo sido suspenso em razão de pedido de vista.
Apesar de o julgamento dessas ações constitucionais ainda não ter sido concluído, a 3ª Seção do STJ, em
harmonia com os votos já proferidos pelos Ministros do STF, chegou à conclusão de que:
O ordenamento jurídico brasileiro não autoriza, em detrimento da proteção gerada pela criptografia de ponta
a ponta, em benefício da liberdade de expressão e do direito à intimidade, sejam os desenvolvedores da
tecnologia multados por descumprirem ordem judicial incompatível com encriptação.
Os benefícios advindos da criptografia de ponta a ponta se sobrepõem às eventuais perdas pela
impossibilidade de se coletar os dados das conversas dos usuários da tecnologia.
Diante disso, o recurso foi provido para afastar a multa aplicada pelo magistrado ante a impossibilidade fática,
no caso concreto, de cumprimento da ordem judicial, haja vista o emprego da criptografia de ponta-a-ponta.
STJ. 3ª Seção. RMS 60.531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/12/2020
(Info 684).

Extração sem prévia autorização judicial de dados e de conversas registradas no WhatsApp


Sem prévia autorização judicial, são nulas as provas obtidas pela polícia por meio da extração de dados e de
conversas registradas no WhatsApp presentes no celular do suposto autor de fato delituoso, ainda que o
aparelho tenha sido apreendido no momento da prisão em flagrante.
STJ. 6ª Turma. RHC 51.531-RO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/4/2016 (Info 583).
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Mesmo sem autorização judicial, polícia pode acessar conversas do WhatsApp da vítima morta, cujo celular
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foi entregue pela sua esposa

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Não há ilegalidade na perícia de aparelho de telefonia celular pela polícia, sem prévia autorização judicial, na
hipótese em que seu proprietário - a vítima - foi morto, tendo o referido telefone sido entregue à autoridade
policial por sua esposa.
STJ. 6ª Turma. RHC 86.076-MT, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 19/10/2017 (Info 617).

É nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp para que a Polícia acompanhe as
conversas do suspeito pelo WhatsApp Web
É nula decisão judicial que autoriza o espelhamento do WhatsApp via Código QR para acesso no WhatsApp
Web.
Também são nulas todas as provas e atos que dela diretamente dependam ou sejam consequência,
ressalvadas eventuais fontes independentes.
Não é possível aplicar a analogia entre o instituto da interceptação telefônica e o espelhamento, por meio do
WhatsApp Web, das conversas realizadas pelo aplicativo WhatsApp.
STJ. 6ª Turma. RHC 99.735-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 27/11/2018 (Info 640).

Obrigar o suspeito a colocar seu celular em “viva voz” no momento de uma ligação é considerado prova
ilícita, assim como as que derivarem dela
Sem consentimento do réu ou prévia autorização judicial, é ilícita a prova, colhida de forma coercitiva pela
polícia, de conversa travada pelo investigado com terceira pessoa em telefone celular, por meio do recurso
"viva-voz", que conduziu ao flagrante do crime de tráfico ilícito de entorpecentes.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.630.097-RJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 18/4/2017 (Info 603).

É ilícita a prova obtida mediante conduta da autoridade policial que atende, sem autorização, o telefone
móvel do acusado e se passa pela pessoa sob investigação
Não tendo a autoridade policial permissão do titular da linha telefônica, ou mesmo da Justiça, para ler
mensagens nem para atender ao telefone móvel da pessoa sob investigação e travar conversa por meio do
aparelho com qualquer interlocutor que seja se passando por seu dono, a prova obtida dessa maneira
arbitrária é ilícita. No caso concreto, o policial atendeu ao telefone do condutor, sem autorização para tanto,
e passou-se por ele para fazer a negociação de drogas e provocar o flagrante. Esse policial também obteve
acesso, sem autorização pessoal nem judicial, aos dados do aparelho de telefonia móvel em questão, lendo as
mensagens.
STJ. 6ª Turma. HC 511.484-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 15/08/2019 (Info 655).

É ilegal a quebra do sigilo telefônico mediante a habilitação de chip da autoridade policial em substituição
ao do investigado titular da linha
A Lei nº 9.296/96 não autoriza a suspensão do serviço telefônico ou do fluxo da comunicação telemática
mantida pelo usuário, tampouco a substituição do investigado e titular da linha por agente indicado pela
autoridade policial.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.806.792-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/05/2021 (Info 696).

O acesso ao chip telefônico descartado pelo acusado em via pública não se qualifica como quebra de sigilo
telefônico
Caso adaptado: João praticou um roubo contra uma pessoa em via pública. O crime foi presenciado por
policiais militares que estavam em uma viatura e iniciaram perseguição para prender o sujeito. Durante a fuga,
João jogou fora um simulacro de arma de fogo, um aparelho celular e um chip de operadora de telefonia,
136

objetos recolhidos pelos policiais em via pública.


Apreendido o chip descartado pelo acusado, houve a inserção em outro aparelho telefônico pela polícia para
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fins de possível identificação da vítima lesada, o que de fato ocorreu. Ocorre que a vítima não era proprietária
do celular descartado, mas somente do chip.

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A defesa sustentou que o aparelho pertencia ao próprio acusado. Contudo, verificou-se que o aparelho
telefônico não foi examinado. Assim, ainda que o celular fosse de propriedade do acusado, não houve extração
de nenhum dado do aparelho, pois o alvo de análise foi apenas o chip telefônico descartado, que de fato era
de uma das vítimas. Logo, não houve quebra de sigilo telefônico.
Hipótese distinta seria se o celular fosse acessado pelos policiais e alguma informação retirada e utilizada em
desfavor do acusado, o que não ocorreu.
Dessa forma, o STJ não admitiu a tese defensiva no sentido de suposta violação de sigilo telefônico, uma vez
que não encontrou amparo no contexto fático narrado nos autos.
STJ. 5ª Turma. HC 720.605-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/08/2022 (Info 744).

É lícito o compartilhamento de dados bancários feito por órgão de investigação do país estrangeiro para a
polícia brasileira, mesmo que, no Estado de origem, essas informações não tenham sido obtidas com
autorização judicial, já que isso não é exigido naquele país
Caso concreto: a Procuradoria de Nova Iorque (EUA) compartilhou com a Polícia Federal do Brasil uma relação
de brasileiros que mantinham contas bancárias nos EUA. A partir dessa informação, a Polícia Federal instaurou
inquérito para apurar os fatos e representou pela quebra do sigilo bancário dos investigados. O juiz federal
deferiu o pedido e expediu um MLAT aos EUA solicitando todos os detalhes das contas bancárias mantidas
naquele país. Esses dados foram enviados.
O compartilhamento de dados feito pela Procuradoria de Nova Iorque com a Polícia Federal foi realizado sem
autorização judicial. Mesmo assim, não há nulidade e tais elementos informativos podem ser utilizados no
Brasil, já que, no Estado de origem, não era necessária autorização judicial.
Assim, não viola a ordem pública brasileira o compartilhamento direto de dados bancários pelos órgãos
investigativos, mesmo que, no Estado de origem, sejam obtidos sem prévia autorização judicial, se a reserva
de jurisdição não é exigida pela legislação daquele local.
Ainda neste mesmo caso concreto, o STJ decidiu que a cooperação internacional feita pelo MLAT não será
nula, ainda que não tenha sido concretizada com a intermediação das autoridades centrais do Brasil e dos
EUA.
Respeitadas as garantias processuais do investigado, não há prejuízo na cooperação direta entre as agências
investigativas, sem a participação das autoridades centrais. A ilicitude da prova ou do meio de sua obtenção
somente poderia ser pronunciada se o réu demonstrasse alguma violação de suas garantias ou das específicas
regras de produção probatória.
STJ. 5ª Turma. AREsp 701.833/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

Em regra, a busca em veículo é equiparada à busca pessoal e não precisa de mandado judicial para a sua
realização
A apreensão de documentos no interior de veículo automotor constitui uma espécie de "busca pessoal" e,
portanto, não necessita de autorização judicial quando houver fundada suspeita de que em seu interior estão
escondidos elementos necessários à elucidação dos fatos investigados.
Exceção: será necessária autorização judicial quando o veículo é destinado à habitação do indivíduo, como no
caso de trailers, cabines de caminhão, barcos, entre outros, quando, então, se inserem no conceito jurídico de
domicílio.
STF. 2ª Turma. RHC 117767/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 11/10/2016 (Info 843).
STJ. 6ª Turma. HC 216.437-DF, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/9/2012.

É válida a autorização expressa para busca e apreensão em sede de empresa investigada dada por pessoa
que age como sua representante
137

É válida, com base na teoria da aparência, a autorização expressa para que os policiais fizessem a busca e
apreensão na sede de empresa investigada, autorização essa dada por pessoa que, embora tenha deixado de
ser sócia formal, continuou assinando documentos como representante da empresa.
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Caso concreto: policiais chegaram até a sede da empresa e, enquanto aguardavam decisão judicial para entrar
no local, foram autorizados a fazer a busca e apreensão no imóvel. Essa autorização foi concedida por uma
mulher que se apresentou como representante da empresa.
A mulher que concedeu a autorização, embora tenha deixado de ser formalmente sócia, continuou assinando
documentos como representante da empresa.
A evidência de que ela ainda agia como representante da empresa é reforçada pelo fato de que tinha a chave
do escritório sede da empresa e livre acesso a ele, não tendo sido barrada por nenhum dos empregados que
estavam no local, nem mesmo pelo advogado da empresa que acompanhou toda a diligência.
Diante disso, o STJ afirmou que deveria ser aplicada, no caso concreto, a teoria da aparência.
Embora tal teoria tenha encontrado maior amplitude de aplicação jurisprudencial na seara civil, processual
civil e no CDC, nada há que impeça sua aplicação também na seara penal.
STJ. 5ª Turma. RMS 57.740-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 23/03/2021 (Info 690).

É lícita a entrada de policiais, sem autorização judicial e sem o consentimento do hóspede, em quarto de
hotel, desde que presentes fundadas razões da ocorrência de flagrante delito
É lícita a entrada de policiais, sem autorização judicial e sem o consentimento do hóspede, em quarto de hotel
não utilizado como morada permanente, desde que presentes as fundadas razões que sinalizem a ocorrência
de crime e hipótese de flagrante delito.
O quarto de hotel constitui espaço privado que, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, é
qualificado juridicamente como “casa” (desde que ocupado) para fins de tutela constitucional da
inviolabilidade domiciliar. No entanto, o STJ fez uma interessante ressalva. O STJ afirmou que, embora o quarto
de hotel regularmente ocupado seja, juridicamente, qualificado como “casa” para fins de tutela constitucional
da inviolabilidade domiciliar (art. 5º, XI), a exigência, em termos de standard probatório, para que policiais
ingressem em um quarto de hotel sem mandado judicial não pode ser igual às fundadas razões exigidas para
o ingresso em uma residência propriamente dita, a não ser que se trate (o quarto de hotel) de um local de
moradia permanente do suspeito. Isso porque é diferente invadir uma casa habitada permanentemente pelo
suspeito e até por várias pessoas (crianças e idosos, inclusive) e um quarto de hotel que, como no caso, é
aparentemente utilizado não como uma morada permanente, mas para outros fins, inclusive, ao que tudo
indica, o comércio de drogas.
No caso concreto, o STJ afirmou que, antes do ingresso no quarto, os policiais realizaram diligências
investigativas para apurar a veracidade da informação recebida no sentido de que havia entorpecentes no
local.
STJ. 6ª Turma. HC 659.527-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 19/10/2021 (Info 715).

Prova do consentimento do morador


A prova da legalidade e da voluntariedade do consentimento para o ingresso na residência do suspeito
incumbe, em caso de dúvida, ao Estado, e deve ser feita com declaração assinada pela pessoa que autorizou
o ingresso domiciliar, indicando-se, sempre que possível, testemunhas do ato. Em todo caso, a operação deve
ser registrada em áudio-vídeo e preservada a prova enquanto durar o processo.
STJ. 6ª Turma. HC 598.051/SP, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, julgado em 02/03/2021 (Info 687).
Falta de mandado não invalida busca e apreensão em apartamento desabitado
Não há nulidade na busca e apreensão efetuada por policiais, sem prévio mandado judicial, em apartamento
que não revela sinais de habitação, nem mesmo de forma transitória ou eventual, se a aparente ausência de
residentes no local se alia à fundada suspeita de que o imóvel é utilizado para a prática de crime permanente.
STJ. 5ª Turma. HC 588.445-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/08/2020 (Info 678).
138

Não existe exigência legal de que o mandado de busca e apreensão detalhe o tipo de documento a ser
apreendido, ainda que de natureza sigilosa
Situação hipotética: João, médico, estava sendo investigado por, supostamente, ter adulterado prontuários
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de pacientes internados em clínica psiquiátrica, com o objetivo de camuflar ilicitudes que ocorriam no local. A
autoridade policial formulou representação ao juiz pedindo a busca e apreensão na clínica psiquiátrica e na

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residência do investigado. O magistrado deferiu a medida e a polícia apreendeu diversos prontuários médicos
que haviam sido assinados pelo investigado. João impetrou habeas corpus alegando que a apreensão foi ilícita,
considerando que na decisão que autorizou a medida não existia autorização específica para a apreensão de
prontuários médicos. Segundo a defesa, os prontuários são documentos sigilosos e, portanto, só poderiam ter
sido recolhidos com autorização judicial específica.
Embora os prontuários possam conter dados sigilosos, foram apreendidos a partir da imprescindível
autorização judicial prévia.
O fato de o mandado de busca não ter feito uma discriminação específica é irrelevante, até porque os
prontuários médicos encontram-se inseridos na categoria de documentos em geral.
Ademais, vale frisar que o sigilo do qual se revestem os prontuários médicos pertence única e exclusivamente
aos pacientes, não ao médico. Assim, caso houvesse a violação do direito à intimidade, essa ofensa teria que
ser arguida pelos seus titulares (pacientes) e não pelo investigado.
STJ. 6ª Turma. RHC 141.737/PR, Rel. Min. Sebastião Reis Junior, julgado em 27/04/2021 (Info 694).

Ausência de intimação pessoal da Defensoria Pública deverá ser alegada na primeira oportunidade, sob
pena de preclusão
A não observância da intimação pessoal da Defensoria Pública deve ser impugnada imediatamente, na
primeira oportunidade processual, sob pena de preclusão.
No caso concreto, a Defensoria Pública não foi intimada pessoalmente do dia de julgamento da apelação. No
entanto, apesar de a Defensoria Pública ter oposto embargos de declaração contra o acórdão, nada falou
sobre esse vício, só suscitando tal alegação no momento em que interpôs recuso especial. O STF entendeu
que houve preclusão.
STF. 2ª Turma. HC 133476, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 14/6/2016 (Info 830).

É possível a fixação de astreintes em desfavor de terceiros, não participantes do processo, pela demora ou
não cumprimento de ordem emanada do Juízo Criminal
As normas do processo civil aplicam-se de forma subsidiária ao processo penal (art. 3º do CPP).
O poder geral de cautela do processo civil também pode ser aplicado, em regra, ao processo penal. O emprego
de cautelares inominadas só é proibido no processo penal se atingir a liberdade de ir e vir do indivíduo.
Diante da finalidade da multa cominatória, que é conferir efetividade à decisão judicial, é possível sua
aplicação em demandas penais.
Assim, o terceiro pode perfeitamente figurar como destinatário da multa.
Vale ressaltar que essa multa não se confunde com a multa por litigância de má-fé. A multa por litigância de
má-fé não é admitida no processo penal.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.568.445-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
24/06/2020 (Info 677).

É possível ao juízo criminal efetivar o bloqueio via Bacen-Jud ou a inscrição em dívida ativa dos valores
arbitrados a título de astreintes
Por derivar do poder geral de cautela, cabe ao magistrado, diante do caso concreto, avaliar qual a melhor
medida coativa ao cumprimento da determinação judicial, não havendo impedimento ao emprego do sistema
Bacen-Jud.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.568.445-PR, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Rel. Acd. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
24/06/2020 (Info 677).

É lícito ao advogado firmar acordo de colaboração premiada contra seu cliente?


139

Não é lícito que o advogado, sem justa causa, ofereça delatio criminis contra seu cliente com base em fatos
de que teve conhecimento no exercício do mandato.
No caso concreto, o advogado espontaneamente apresentou noticia criminis ao Ministério Público,
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informando ter provas, mas condicionando sua apresentação a exclusão de eventual denúncia e isenção das
demais consequências não criminais.

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O advogado não estava sendo investigado ou acusado de prática delitiva, nem estava se defendendo de
acusação por seu cliente da prática delitiva.
O dever de sigilo profissional imposto ao advogado e as prerrogativas profissionais a ele asseguradas não têm
em vista assegurar privilégios pessoais, mas sim os direitos dos cidadãos e o sistema democrático.
É ilícita a conduta do advogado que, sem justa causa, independentemente de provocação e na vigência de
mandato, grava clandestinamente suas comunicações com seus clientes com objetivo de delatá-los,
entregando às autoridades investigativas documentos de que dispõe em razão da profissão, em violação ao
dever de sigilo profissional imposto no art. 34, VII, da Lei nº 8.906/94.
O Poder Judiciário não deve reconhecer a validade de atos negociais firmados em desrespeito à lei e em ofensa
ao princípio da boa-fé objetiva.
Desse modo, são ilícitas as provas obtidas em acordo de delação premiada firmado com advogado que, sem
justa causa, entrega às autoridades investigativas documentos e gravações obtidas em virtude de mandato
que lhe fora outorgado, violando o dever de sigilo profissional.
STJ. 5ª Turma. RHC 164.616-GO, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 27/09/2022 (Info 751).

A colaboração premiada é um acordo realizado entre o acusador e a defesa, não podendo a vítima ser
colaboradora
O § 6º do art. 4º da Lei nº 12.850/2013 estipula que o acordo de colaboração premiada é celebrado pelo
investigado ou acusado.
Assim, a vítima não pode ser colaboradora, porque lhe faltaria interesse - haja vista que é a interessada na
tutela punitiva.
STJ. 6ª Turma. HC 750.946-RJ, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF da 1ª Região),
julgado em 11/10/2022 (Info 754).

Papel do Poder Judiciário no acordo de colaboração premiada


A colaboração é um meio de obtenção de prova cuja iniciativa não se submete à reserva de jurisdição (não
exige autorização judicial), diferentemente do que ocorre nas interceptações telefônicas ou na quebra de
sigilo bancário ou fiscal.
Nesse sentido, as tratativas e a celebração da avença são mantidas exclusivamente entre o Ministério Público
e o pretenso colaborador.
O Poder Judiciário é convocado ao final dos atos negociais apenas para aferir os requisitos legais de existência
e validade, com a indispensável homologação.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

A apelação criminal é o recurso adequado para impugnar a decisão que recusa a homologação do acordo de
colaboração premiada, mas ante a existência de dúvida objetiva é cabível a aplicação do princípio da
fungibilidade
STJ. 6ª Turma. REsp 1.834.215-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 27/10/2020 (Info 683).

Cabe habeas corpus contra a decisão que não homologa ou que homologa apenas parcialmente o acordo de
colaboração premiada
STF. 2ª Turma. HC 192063/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 2/2/2021 (Info 1004).

Poder Judiciário não pode obrigar o Ministério Público a celebrar o acordo de colaboração premiada
Não existe direito líquido e certo a compelir o Ministério Público à celebração do acordo de delação premiada,
diante das características desse tipo de acordo e considerando a necessidade de distanciamento que o Estado-
140

juiz deve manter durante o cenário investigado e a fase de negociação entre as partes do cenário investigativo.
O acordo de colaboração premiada, além de meio de obtenção de prova, constitui-se em um negócio jurídico
processual personalíssimo, cuja conveniência e oportunidade estão submetidos à discricionariedade regrada
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do Ministério Público e não se submetem ao escrutínio do Estado-juiz. Em outras palavras, trata-se de ato
voluntário, insuscetível de imposição judicial.
Vale ressaltar, no entanto, que o ato do membro do Ministério Público que se nega à realização do acordo
deve ser devidamente motivado. Essa recusa pode ser objeto de controle por órgão superior no âmbito do
Ministério Público (Procurador-Geral de Justiça ou Comissão de Coordenação e Revisão), por aplicação
analógica do art. 28 do CPP (art. 62, IV, da LC 75/93).
Mesmo sem ter assinado o acordo, o acusado pode colaborar fornecendo as informações e provas que possuir.
Ao final, na sentença, o juiz irá analisar esse comportamento processual e poderá conceder benefício ao
acusado mesmo sem que tenha havido a prévia celebração e homologação do acordo de colaboração
premiada. Dito de outro modo, o acusado pode receber a sanção premial mesmo sem a celebração do acordo
caso o magistrado entenda que sua colaboração foi eficaz.
STF. 2ª Turma. MS 35693 AgR/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/5/2019 (Info 942).

Competência para homologação do acordo de colaboração premiada se o delatado tiver foro por
prerrogativa de função
Se a delação do colaborador mencionar fatos criminosos que teriam sido praticados por autoridade (ex:
Governador) e que teriam que ser julgados por foro privativo (ex: STJ), este acordo de colaboração deverá,
obrigatoriamente, ser celebrado pelo Ministério Público respectivo (PGR), com homologação pelo Tribunal
competente (STJ).
Assim, se os fatos delatados tiverem que ser julgados originariamente por um Tribunal (foro por prerrogativa
de função), o próprio acordo de colaboração premiada deverá ser homologado por este respectivo Tribunal,
mesmo que o delator não tenha foro privilegiado.
A delação de autoridade com prerrogativa de foro atrai a competência do respectivo Tribunal para a respectiva
homologação e, em consequência, do órgão do Ministério Público que atua perante a Corte.
Se o delator ou se o delatado tiverem foro por prerrogativa de função, a homologação da colaboração
premiada será de competência do respectivo Tribunal.
STF. 2ª Turma. HC 151605/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/3/2018 (Info 895).

A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de determinação, de
modificação ou de concentração da competência
Os elementos de informação trazidos pelo colaborador a respeito de crimes que não sejam conexos ao objeto
da investigação primária devem receber o mesmo tratamento conferido à descoberta fortuita ou ao encontro
fortuito de provas em outros meios de obtenção de prova, como a busca e apreensão e a interceptação
telefônica. A colaboração premiada, como meio de obtenção de prova, não constitui critério de determinação,
de modificação ou de concentração da competência. Assim, ainda que o agente colaborador aponte a
existência de outros crimes e que o juízo, perante o qual foram prestados seus depoimentos ou apresentadas
as provas que corroborem suas declarações, ordene a realização de diligências (interceptação telefônica,
busca e apreensão etc.) para sua apuração, esses fatos, por si sós, não firmam sua prevenção.
STF. 2ª Turma. HC 181978 AgR/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/11/2020 (Info 999).

Natureza da decisão que homologa o acordo de colaboração premiada


A decisão do magistrado que homologa o acordo de colaboração premiada não julga o mérito da pretensão
acusatória, mas apenas resolve uma questão incidente. Por isso, esta decisão tem natureza meramente
homologatória, limitando-se ao pronunciamento sobre a regularidade, legalidade e voluntariedade do acordo
(art. 4º, § 7º, da Lei nº 12.850/2013).
O juiz, ao homologar o acordo de colaboração, não emite juízo de valor a respeito das declarações
141

eventualmente prestadas pelo colaborador à autoridade policial ou ao Ministério Público, nem confere o signo
da idoneidade a seus depoimentos posteriores.
A análise se as declarações do colaborador são verdadeiras ou se elas se confirmaram com as provas
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produzidas será feita apenas no momento do julgamento do processo, ou seja, na sentença (ou acórdão),
conforme previsto no § 11 do art. 4º da Lei.

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STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

Na decisão homologatória, magistrado examina se as cláusulas contratuais ofendem manifestamente o


ordenamento jurídico
No ato de homologação da colaboração premiada, não cabe ao magistrado, de forma antecipada e
extemporânea, tecer juízo de valor sobre o conteúdo das cláusulas avençadas, exceto nos casos de flagrante
ofensa ao ordenamento jurídico vigente.
Ex: o Relator poderá excluir ao acordo a cláusula que limite o acesso à justiça, por violar o art. 5º, XXXV, da
CF/88.
Neste momento, o Relator não realiza qualquer controle de mérito, limitando-se aos aspectos formais e legais
do acordo.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

Em caso colaboração premiada envolvendo investigados ou réus com foro no Tribunal, qual é o papel do
Relator?
É atribuição do Relator homologar, monocraticamente, o acordo de colaboração premiada, analisando apenas
a sua regularidade, legalidade e voluntariedade, nos termos do art. 4º, § 7º da Lei nº 12.850/2013:
§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º, o respectivo termo, acompanhado das declarações do colaborador
e de cópia da investigação, será remetido ao juiz para homologação, o qual deverá verificar sua regularidade,
legalidade e voluntariedade, podendo para este fim, sigilosamente, ouvir o colaborador, na presença de seu
defensor.
Não há qualquer óbice à homologação do respectivo acordo mediante decisão monocrática.
O art. 21, I e II, do RISTF confere ao Ministro Relator no STF poderes instrutórios para ordenar, de forma
singular, a realização de quaisquer meios de obtenção de provas.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

Em caso colaboração premiada envolvendo investigados ou réus com foro no Tribunal, qual é o papel do
órgão colegiado?
Compete ao órgão colegiado, em decisão final de mérito, avaliar o cumprimento dos termos do acordo
homologado e a sua eficácia, conforme previsto no art. 4º, § 11 da Lei nº 12.850/2013:
§ 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia.
Assim, é possível que o órgão julgador, no momento da sentença ou acórdão, ou seja, após a conclusão da
instrução probatória, avalie se os termos da colaboração foram cumpridos e se os resultados concretos foram
atingidos, o que definirá a sua eficácia.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

Acordo de colaboração homologado pelo Relator deve, em regra, produzir seus efeitos, salvo se presente
hipótese de anulabilidade
O acordo de colaboração devidamente homologado individualmente pelo relator deve, em regra, produzir
seus efeitos diante do cumprimento dos deveres assumidos pelo colaborador.
Vale ressaltar, no entanto, que o órgão colegiado detém a possibilidade de analisar fatos supervenientes ou
de conhecimento posterior que firam a legalidade do acordo, nos termos do § 4º do art. 966do CPC/2015:
§ 4º Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e
homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à
anulação, nos termos da lei.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).
142

Direitos do colaborador somente serão assegurados se ele cumprir seus deveres


O direito subjetivo do colaborador nasce e se perfectibiliza na exata medida em que ele cumpre seus deveres.
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Assim, o cumprimento dos deveres pelo colaborador é condição sine qua non para que ele possa gozar dos
direitos decorrentes do acordo.
Por isso diz-se que o acordo homologado como regular, voluntário e legal gera vinculação condicionada ao
cumprimento dos deveres assumidos pela colaboração, salvo ilegalidade superveniente apta a justificar
nulidade ou anulação do negócio jurídico.
STF. Plenário. Pet 7074/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 21, 22, 28 e 29/6/2017 (Info 870).

Análise da legitimidade do delatado para impugnar o acordo de colaboração premiada


Em regra, o delatado não tem legitimidade para impugnar o acordo de colaboração premiada. Assim, em regra,
a pessoa que foi delatada não poderá impetrar um habeas corpus alegando que esse acordo possui algum
vício. Isso porque se trata de negócio jurídico personalíssimo.
Esse entendimento, contudo, não se aplica em caso de homologação sem respeito à prerrogativa de foro.
Desse modo, é possível que o delatado questione o acordo se a impugnação estiver relacionada com as regras
constitucionais de prerrogativa de foro. Em outras palavras, se o delatado for uma autoridade com foro por
prerrogativa de função e, apesar disso, o acordo tiver sido homologado em 1ª instância, será permitido que
ele impugne essa homologação alegando usurpação de competência.
STF. 2ª Turma. HC 151605/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/3/2018 (Info 895).

O delatado tem o direito de acesso aos termos de colaboração premiada que mencionem seu nome, desde
que já tenham sido juntados aos autos e não prejudiquem diligências em andamento
O delatado possui o direito de ter acesso às declarações prestadas pelos colaboradores que o incriminem,
desde que já documentadas e que não se refiram à diligência em andamento que possa ser prejudicada.
STF. 2ª Turma. Rcl 30742 AgR/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 4/2/2020 (Info 965).

Indeferimento de todas as testemunhas da defesa sob o argumento de que seriam protelatórias:


constrangimento ilegal
Na fase de defesa prévia, o réu arrolou uma série de testemunhas, mas o juiz negou a oitiva afirmando que o
requerimento seria protelatório, haja vista que as testemunhas não teriam, em tese, vinculação com os fatos
criminosos imputados.
O STF entendeu que houve constrangimento ilegal.
O direito à prova é expressão de uma inderrogável prerrogativa jurídica, que não pode ser, arbitrariamente,
negada ao réu.
O princípio do livre convencimento motivado (art. 400, § 1º, do CPP) faculta ao juiz o indeferimento das provas
consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. No entanto, no caso concreto houve o
indeferimento de todas as testemunhas de defesa.
Dessa forma, houve ofensa ao devido processo legal, visto que frustrou a possibilidade de o acusado produzir
as provas que reputava necessárias à demonstração de suas alegações.
STF. 2ª Turma. HC 155363/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/5/2018 (Info 901).

A realização de perícia antropológica constitui-se em importante instrumento no caso de indígena acusado


de crime de homicídio a fim de assistir as partes nos debates em plenário
Embora não possua caráter vinculante, a realização de perícia antropológica constitui-se em importante
instrumento para assistir as partes nos debates em plenário e também o julgador na imposição de eventual
reprimenda, podendo, no caso, ser realizado após a pronúncia do réu, sem prejuízo ao andamento processual.
STJ. 6ª Turma. RHC 86.305-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 01/10/2019 (Info 659).
143

Rol impedimentos é taxativo


As hipóteses de impedimento previstas no art. 252 do CPP constituem rol taxativo.
STF. 2ª Turma. HC 94089/SP, Rel. Min. Ayres Britto, julgado em 14/2/2012.
Página

STJ. 5ª Turma. HC 162.491/SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 04/08/2016.

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Rol suspeições é exemplificativo
STJ. 5ª Turma. RHC 69.927/RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 28/06/2016.

A simples habilitação do advogado nos autos de processo conduzido por juiz que é seu inimigo não se
enquadra, por si só, na situação do art. 256 do CPP
A hipótese excepcional do art. 256 do CPP somente pode ser reconhecida se o magistrado ou o Tribunal,
atendendo a elevado ônus argumentativo, demonstrar de maneira inequívoca que o excipiente provocou
dolosamente a suspeição.
Não cabem, aqui, intuições, conjecturas ou palpites, sendo imprescindível a comprovação do artifício ilícito,
devidamente fundamentada na decisão ou acórdão.
Art. 256. A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de
propósito der motivo para criá-la.
STJ. 5ª Turma. AREsp 2.026.528-MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 07/06/2022 (Info 740).

O magistrado que atuou como corregedor em processo administrativo não está impedido de julgar o réu em
processo criminal
O magistrado que atuou como corregedor em processo administrativo instaurado contra o réu não está
impedido de participar como julgador no processo criminal que tramita contra o acusado.
A situação não se amolda em nenhuma das hipóteses do art. 252 do CPP.
O STF entende que não é possível criar, por meio de interpretação, novas causas de impedimento que não
estejam descritas expressamente nesse dispositivo.
STF. 2ª Turma. RHC 131735/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/5/2016 (Info 824).

Magistrado que julgou ACP contra o réu não está impedido de decidir o processo criminal
Determinado fato pode gerar dois processos distintos: uma ACP e uma ação penal. O juiz que sentencia a ACP
não está impedido de julgar também o processo criminal, não se enquadrando esta situação no art. 252, III,
do CPP.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.288.285-SP, Rel. Min. Campos Marques (Desembargador-convocado do TJ-PR), julgado
em 27/11/2012 (Info 510).

O simples fato de o juiz ser “duro” no interrogatório não implica quebra da imparcialidade
A condução do interrogatório do réu de forma firme durante o júri não importa, necessariamente, em quebra
da imparcialidade do magistrado e em influência negativa nos jurados.
STJ. 6ª Turma. HC 410.161-PR, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/04/2018 (Info 625).

Expressões ofensivas, desrespeitosas e pejorativas proferidas pelo magistrado na sessão de julgamento


contra a honra do réu podem configurar quebra de imparcialidade e causa de nulidade absoluta
Expressões ofensivas, desrespeitosas e pejorativas proferidas pelo magistrado na sessão de julgamento contra
a honra do jurisdicionado que está sendo julgado, podem configurar causa de nulidade absoluta, haja vista
que ofendem a garantia constitucional da imparcialidade, que deve, como componente do devido processo
legal, ser observada em todo e qualquer julgamento em um sistema acusatório.
Caso concreto: em julgamento de apelação da defesa contra condenação pelo crime do art. 217-A, caput, do
Código Penal, o Desembargador afirmou oralmente: “[...] Declarações da vítima, da criança, eu fiquei
horrorizado, eu não vi nada em que a vítima pudesse inventar! Uma criança, que foi num período entre seis
anos a onze anos, que ela sofreu esses abusos, que ela inventasse qualquer coisa para denegrir a imagem de
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um suposto pai, porque nem pai podia ser... Uma pessoa dessas é um animal! Um animal! [...] E eu fico
lembrando da minha neta. Fico lembrando da minha neta! Uma criança de tenra idade, na mão de um porco
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desse! Não me conformo! Não me conformo! Uma criança desse tipo [...] Absolver um animal desse! Esse cara
foi um animal! Pra mim, um animal!”.

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O STJ reconheceu a parcialidade do magistrado e, como consequência, a nulidade do julgamento do recurso
de apelação. Diante disso, determinou novo julgamento sem a participação do Desembargador.
STJ. 6ª Turma. HC 718525-PR, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF 1ª Região),
julgado em 26/04/2022 (Info 734).

Membro do MP que participou da investigação não é impedido/suspeito de oferecer denúncia


A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória não acarreta, por si só, seu
impedimento ou sua suspeição para o oferecimento da denúncia.
STF. 1ª Turma. HC 85011, Relator p/ Acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em 26/05/2015.

Súmula 234-STJ: A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não acarreta
o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.

É válida a sentença proferida de forma oral na audiência e registrada em meio audiovisual, ainda que não
haja a sua transcrição
É válida a sentença proferida de forma oral na audiência e registrada em meio audiovisual, ainda que não haja
a sua transcrição.
O § 2º do art. 405 do CPP, que autoriza o registro audiovisual dos depoimentos, sem necessidade de
transcrição, deve ser aplicado também para os demais atos da audiência, dentre eles os debates orais e a
sentença.
O registro audiovisual da sentença prolatada oralmente em audiência é uma medida que garante mais
segurança e celeridade.
Não há sentido lógico em se exigir a degravação da sentença registrada em meio audiovisual, sendo um
desserviço à celeridade.
A ausência de degravação completa da sentença não prejudica o contraditório nem a segurança do registro
nos autos, do mesmo modo que igualmente ocorre com a prova oral.
STJ. 3ª Seção. HC 462.253/SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 28/11/2018 (Info 641).

Termo inicial do prazo para recorrer supletivamente


Súmula 448-STF: O prazo para o assistente recorrer supletivamente começa a correr imediatamente após o
transcurso do prazo do MP.

É constitucional a multa imposta ao defensor por abandono do processo, prevista no art. 265 do CPP
É constitucional a multa imposta ao defensor por abandono do processo, prevista no art. 265 do CPP:
Art. 265. O defensor não poderá abandonar o processo senão por motivo imperioso, comunicado previamente
o juiz, sob pena de multa de 10 (dez) a 100 (cem) salários mínimos, sem prejuízo das demais sanções cabíveis.
A previsão da multa afigura-se compatível com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade.
A multa não se mostra inadequada nem desnecessária. Ao contrário, mostra-se razoável como meio prévio
para evitar o comportamento prejudicial à administração da justiça e ao direito de defesa do réu, tendo em
vista a imprescindibilidade da atuação do profissional da advocacia para o regular andamento do processo
penal.
A multa do art. 265 do CPP não ofende o contraditório, a ampla defesa, o devido processo legal ou a presunção
de não culpabilidade. Não há necessidade de instauração de processo autônomo e de manifestação prévia do
defensor, no entanto, é possível que ele, posteriormente, se justifique por meio de pedido de reconsideração.
Outra alternativa é a impetração de mandado de segurança.
STF. Plenário. ADI 4398, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 05/08/2020 (Info 993).
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Se o acusado se recusa a participar do incidente, não pode ser obrigado a fazer o exame
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O incidente de insanidade mental é prova pericial constituída em favor da defesa. Logo, não é possível
determiná-lo compulsoriamente na hipótese em que a defesa se oponha à sua realização.

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STF. 2ª Turma. HC 133.078/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 6/9/2016 (Info 838).

O reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu depende da prévia instauração de


incidente de insanidade mental e do respectivo exame médico-legal nele previsto
O art. 149 do CPP, ao exigir que o acusado seja submetido a exame médico-legal, não contempla hipótese de
prova legal ou tarifada.
A despeito disso, a partir de uma interpretação sistemática das normais processuais penais que regem a
matéria, deve-se concluir que o reconhecimento da inimputabilidade ou semi-imputabilidade do réu (art. 26,
caput e parágrafo único do CP) depende da prévia instauração de incidente de insanidade mental e do
respectivo exame médico-legal nele previsto.
Vale ressaltar, por fim, que o magistrado poderá discordar das conclusões do laudo, desde que o faça por meio
de decisão devidamente fundamentada.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.802.845-RS, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/06/2020 (Info 675).

É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do servidor público pelo simples fato de ele
ter sido indiciado pela prática de crime
É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado em inquérito
policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores.
Com base nesse entendimento, o STF declarou inconstitucional o art. 17-D da Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei
nº 9.613/98):
Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de remuneração e
demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno.
O afastamento do servidor somente se justifica quando ficar demonstrado nos autos que existe risco caso ele
continue no desempenho de suas funções e que o afastamento é medida eficaz e proporcional para se tutelar
a investigação e a própria Administração Pública. Tais circunstâncias precisam ser apreciadas pelo Poder
Judiciário.
STF. Plenário. ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
20/11/2020 (Info 1000).

Na autolavagem não ocorre a consunção entre a corrupção passiva e a lavagem de dinheiro


Embora a tipificação da lavagem de capitais dependa da existência de uma infração penal antecedente, é
possível a autolavagem, isto é, a imputação simultânea, ao mesmo réu, do delito antecedente e do crime de
lavagem, desde que sejam demonstrados atos diversos e autônomos daquele que compõe a realização do
primeiro crime, circunstância em que não ocorrerá o fenômeno da consunção.
A autolavagem (self laundering/autolavado) merece reprimenda estatal, na medida em que o autor da
infração penal antecedente, já com a posse do proveito do crime, poderia simplesmente utilizar-se dos bens
e valores à sua disposição, mas reinicia a prática de uma série de condutas típicas, a imprimir a aparência de
licitude do recurso obtido com a prática da infração penal anterior.
Dessa forma, se for confirmado, a partir do devido processo legal, que o indivíduo deu ares de legalidade ao
dinheiro indevidamente recebido, estará configurado o crime de lavagem de capitais.
STJ. Corte Especial. APn 989-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/02/2022 (Info 726).

Para ter direito à suspensão condicional do processo, o acusado deverá preencher requisitos objetivos e
subjetivos
De acordo com o artigo 89 da Lei dos Juizados Especiais, para a concessão da suspensão condicional do
processo é necessário, além do preenchimento dos requisitos objetivos, o atendimento às exigências de
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ordem subjetiva, dispostas no artigo 77 do Código Penal, referentes à adequação da medida em face da
culpabilidade, antecedentes, conduta social e personalidade do agente, bem como dos motivos e
circunstâncias do delito.
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STJ. 5ª Turma. RHC 63.767/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 17/11/2015.

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O acusado que responde a outro processo não tem direito ao benefício, sendo essa previsão constitucional
De acordo com o art. 89 da Lei nº 9.099/95, a suspensão condicional do processo é instituto de política
criminal, benéfico ao acusado, que visa a evitar a sua sujeição a um processo penal, cujos requisitos
encontram-se expressamente previstos na norma em questão.
A existência de ações penais em curso contra o denunciado impede a concessão do sursis processual por força
do art. 89 da Lei nº 9.099/95.
A inconstitucionalidade deste dispositivo jamais foi declarada pelo STF, que tem considerado legítimos os
requisitos nele estabelecidos para a proposta de suspensão condicional do processo em diversos julgados.
STJ. 5ª Turma. RHC 58.082/PA, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Des. Conv. do TJ/PE), julgado em
20/08/2015.

Pena mínima no caso de crime continuado


Súmula 723-STF: Não se admite a suspensão condicional do processo por crime continuado, se a soma da
pena mínima da infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.

Pena mínima e concursos material, formal e crime continuado


Súmula 243-STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais
cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada,
seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.

Recusa do MP em oferecer a proposta de suspensão e postura do magistrado


Súmula 696-STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se
recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral,
aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.
Súmula 337-STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência
parcial da pretensão punitiva.

Recusa do MP deve ser fundamentada


O Ministério Público, ao não ofertar a suspensão condicional do processo, deve fundamentar adequadamente
a sua recusa. Se a recusa do MP foi concretamente motivada não haverá ilegalidade sob o aspecto formal.
STJ. 5ª Turma. RHC 61.132/RS, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 10/11/2015.

Réu processado durante o período de prova perde direito ao benefício ainda que depois venha a ser
absolvido
A suspensão condicional do processo é automaticamente revogada se, no período de prova, o réu vem a ser
processado pela prática de novo crime, em obediência ao art. 89, § 3º, da Lei nº 9.099/95, ainda que
posteriormente venha a ser absolvido, de forma que deixa de ser merecedor do benefício, que é norma
excepcional, para ser normalmente processado com todas as garantias pertinentes.
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1470185/MG, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Des. Conv. do TJ/PE), julgado
em 18/08/2015.

O cometimento do crime do art. 28 da Lei de Drogas deve receber o mesmo tratamento que a contravenção
penal, para fins de revogação facultativa da suspensão condicional do processo
A suspensão será obrigatoriamente revogada se, no curso do prazo o beneficiário vier a ser processado por
outro crime (art. 89, § 3º da Lei nº 9.099/95). Trata-se de causa de revogação obrigatória.
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Por outro lado, a suspensão poderá ser revogada pelo juiz se o acusado vier a ser processado, no curso do
prazo, por contravenção (art. 89, § 4º). Trata-se de causa de revogação facultativa.
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O processamento do réu pela prática da conduta descrita no art. 28 da Lei de Drogas no curso do período de
prova deve ser considerado como causa de revogação FACULTATIVA da suspensão condicional do processo.

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A contravenção penal tem efeitos primários mais deletérios que o crime do art. 28 da Lei de Drogas. Assim,
mostra-se desproporcional que o mero processamento do réu pela prática do crime previsto no art. 28 da Lei
nº 11.343/2006 torne obrigatória a revogação da suspensão condicional do processo, enquanto o
processamento por contravenção penal ocasione a revogação facultativa.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.795.962-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

Imposição de obrigações equivalentes a sanções penais como "outras condições" de que trata o art. 89, §
2º da Lei nº 9.099/95
Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial disposta no art. 89, § 2º, da Lei nº
9.099/95, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a sanções penais (tais como a prestação de
serviços comunitários ou a prestação pecuniária), mas que, para os fins do sursis processual, se apresentam
tão somente como condições para sua incidência.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.498.034-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 25/11/2015 (recurso repetitivo)
(Info 574).

Transação penal
Súmula vinculante 35-STF: A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz
coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-se ao
Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de
inquérito policial.

Em ação penal envolvendo réus colaborares e não colaboradores, o réu delatado tem o direito de apresentar
suas alegações finais somente após o réu que firmou acordo de colaboração premiada
O réu delatado tem o direito de apresentar suas alegações finais somente após o réu delator.
Os réus colaboradores não podem se manifestar por último (ou no mesmo prazo dos réus delatados) porque
as informações trazidas por eles possuem uma carga acusatória.
O direito fundamental ao contraditório e à ampla defesa deve permear todo o processo legal, garantindo-se
sempre a possibilidade de a defesa se manifestar depois do agente acusador. Vale ressaltar que pouco importa
a qualificação jurídica do agente acusador: Ministério Público ou corréu colaborador. Se é um “agente
acusador”, a defesa deve falar depois dele.
Ao se permitir que os réus colaboradores falem por último (ou simultaneamente com os réus delatados), há
uma inversão processual que ocasiona sério prejuízo ao delatado, tendo em vista que ele não terá
oportunidade de repelir os argumentos eventualmente incriminatórios trazidos pelo réu delator ou para
reforçar os favoráveis à sua defesa.
Permitir o oferecimento de memoriais escritos de réus colaboradores, de forma simultânea ou depois da
defesa — sobretudo no caso de utilização desse meio de prova para prolação da condenação —, compromete
o pleno exercício do contraditório, que pressupõe o direito de a defesa falar por último, a fim de poder reagir
às manifestações acusatórias.
STF. 2ª Turma. HC 157627 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 27/8/2019 (Info 949).

O advogado do réu delatado deverá, obrigatoriamente, estar presente no interrogatório do corréu delator
O advogado de um réu deverá, obrigatoriamente, estar presente no interrogatório do corréu que com ele
responde o mesmo processo criminal?
REGRA: não. A presença da defesa técnica é imprescindível durante o interrogatório do réu por ela
representado, não quanto aos demais. Assim, é obrigatória a presença do advogado no interrogatório do seu
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cliente. No interrogatório dos demais réus, essa presença é, em regra, facultativa.


EXCEÇÃO: se o interrogatório é de um corréu delator, a presença do advogado dos réus delatados é
indispensável. Neste caso, deve-se exigir a presença dos advogados dos réus delatados, pois, na colaboração
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premiada, o delator adere à acusação em troca de um benefício acordado entre as partes e homologado pelo

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julgador natural. Normalmente, o delator presta contribuições à persecução penal incriminando eventuais
corréus, razão pela qual seus advogados devem acompanhar o ato.
Se o advogado do corréu não comparece ao interrogatório do réu delator, haverá nulidade?
Depende:
• Se o corréu foi delatado no interrogatório e seu advogado não compareceu: sim, haverá nulidade.
• Se o corréu não foi delatado no interrogatório: não. Isso porque não houve prejuízo.
STF. 2ª Turma. AO 2093/RN, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 3/9/2019 (Info 955).

Negativa de que o réu tenha acesso a termos de declaração prestados por colaborador premiado e que não
digam respeito aos fatos imputados ao acusado
Não viola o entendimento da SV 14-STF a decisão do juiz que nega a réu denunciado com base em um acordo
de colaboração premiada o acesso a outros termos de declarações que não digam respeito aos fatos pelos
quais ele está sendo acusado, especialmente se tais declarações ainda estão sendo investigadas, situação na
qual existe previsão de sigilo, nos termos do art. 7º da Lei nº 12.850/2013.
STF. 2ª Turma. Rcl 22009 AgR/PR, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 16/2/2016 (Info 814).

Princípio da correlação (congruência), causa de aumento e emendatio libelli


O princípio da congruência preconiza que o acusado defende-se dos fatos descritos na denúncia e não da
capitulação jurídica nela estabelecida.
Assim, para que esse princípio seja respeitado é necessário apenas que haja a correlação entre o fato descrito
na peça acusatória e o fato pelo qual o réu foi condenado, sendo irrelevante a menção expressa na denúncia
de eventuais causas de aumento ou diminuição de pena.
Ex: o MP ajuizou ação penal contra o réu por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90). Na denúncia, o
MP não pediu expressamente que fosse reconhecida a majorante do art. 12, I. Pediu-se apenas a condenação
do acusado pelo crime do art. 1º, I. No entanto, apesar disso, na exordial o membro do MP narrou que o réu
sonegou tributos em montante superior a R$ 4 milhões. O juiz, na sentença, ao condenar o réu, poderá
reconhecer a incidência da causa de aumento de pena prevista no art. 12, I, porque o fato que ela representa
(vultosa quantia sonegada que gera dano à coletividade) foi narrado, apesar de não haver menção expressa
ao dispositivo legal.
STF. 2ª Turma. HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 17/10/2017 (Info 882).

Para que seja fixado o valor da reparação, deverá haver pedido expresso e formal do MP ou do ofendido?
SIM. Para que seja fixado, na sentença, o valor mínimo para reparação dos danos causados à vítima (art. 387,
IV, do CPP), é necessário que haja pedido expresso e formal, feito pelo parquet ou pelo ofendido, a fim de que
seja oportunizado ao réu o contraditório e sob pena de violação ao princípio da ampla defesa (STJ. 5ª Turma.
HC 321.279/PE, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo (Des. Conv. do TJ/PE), julgado em 23/06/2015).

Além dos prejuízos materiais, o juiz poderá também condenar o réu a pagar a vítima por danos morais?
SIM. O juiz, ao proferir sentença penal condenatória, no momento de fixar o valor mínimo para a reparação
dos danos causados pela infração (art. 387, IV, do CPP), pode, sentindo-se apto diante de um caso concreto,
quantificar, ao menos o mínimo, o valor do dano moral sofrido pela vítima, desde que fundamente essa opção.
Isso porque o art. 387, IV, não limita a indenização apenas aos danos materiais e a legislação penal deve
sempre priorizar o ressarcimento da vítima em relação a todos os prejuízos sofridos.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.585.684-DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 9/8/2016 (Info 588).
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A previsão da indenização contida no inciso IV do art. 387 surgiu com a Lei nº 11.719/2008. Se o crime
ocorreu antes da Lei e foi sentenciado após a sua vigência, pode ser aplicado o dispositivo e fixado o valor
mínimo de reparação dos danos?
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NÃO. A regra do art. 387, inciso IV, do CPP, que dispõe sobre a fixação, na sentença condenatória, de valor
mínimo para reparação civil dos danos causados ao ofendido, é norma híbrida, de direito processual e
material, razão pela que não se aplica a delitos praticados antes da entrada em vigor da Lei nº 11.719/2008,
que deu nova redação ao dispositivo.
STJ. 5ª Turma. REsp 1.193.083-RS, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/8/2013.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.206.643/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 12/02/2015.
STF. Plenário. RvC 5437/RO, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 17/12/2014 (Info 772).

MP não tem direito a prazo em dobro no processo penal


O prazo para interposição de agravo regimental no STF, em processos criminais, é de 5 dias corridos (não são
dias úteis, como no CPC).
O MP e a Defensoria Pública possuem prazo em dobro para interpor esse agravo?
• MP: NÃO. Em matéria penal, o Ministério Público não goza da prerrogativa da contagem dos prazos recursais
em dobro. Logo, o prazo para interposição de agravo pelo Estado-acusador em processo criminal é de 5 dias.
• Defensoria Pública: SIM. Mesmo em matéria penal, são contados em dobro todos os prazos da Defensoria
Pública. Logo, o prazo para a Defensoria Pública interpor agravo regimental é de 10 dias.
STF. 1ª Turma. HC 120275/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 15/5/2018 (Info 902).

Não é possível a imposição de multa por litigância de má-fé no âmbito do processo penal
Não é cabível a imposição de multa por litigância de má-fé no âmbito do processo penal. Isso porque não
existe previsão expressa no CPP e aplicar as regras do CPC configuraria indevida analogia in malam partem.
STJ. 5ª Turma. HC 401.965/RJ, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 26/09/2017.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 618.694/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 19/09/2017.

Nomeação judicial de Núcleo de Prática Jurídica e dispensa de procuração


A nomeação judicial de Núcleo de Prática Jurídica para patrocinar a defesa de réu dispensa a juntada de
procuração.
STJ. 3ª Seção. EAREsp 798.496-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/04/2018 (Info 624).

Não cabimento de MS para atribuir efeito suspensivo a recurso criminal


Súmula 604-STJ: O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a recurso criminal
interposto pelo Ministério Público.

Não cabe recurso adesivo no processo penal


Em matéria criminal, não deve ser conhecido recurso especial adesivo interposto pelo Ministério Público
veiculando pedido em desfavor do réu.
STJ. 6ª Turma. REsp 1.595.636-RN, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 2/5/2017 (Info 605).

A suspensão dos processos em virtude de reconhecimento de repercussão geral (§ 5º do art. 1.035 do CPC)
pode ser aplicada para processos criminais
O § 5º do art. 1.035 do CPC/2015 preconiza:
§ 5º Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal determinará a suspensão do
processamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e
tramitem no território nacional.
O STF fixou as seguintes conclusões a respeito desse dispositivo:
a) a suspensão prevista nesse § 5º não é uma consequência automática e necessária do reconhecimento da
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repercussão geral. Em outras palavras, ela não acontece sempre. O Ministro Relator do recurso extraordinário
paradigma tem discricionariedade para determiná-la ou modulá-la;
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b) a possibilidade de sobrestamento se aplica aos processos de natureza penal. Isso significa que, reconhecida
a repercussão geral em um recurso extraordinário que trata sobre matéria penal, o Ministro Relator poderá
determinar o sobrestamento de todos os processos criminais pendentes que versem sobre a matéria;
c) se for determinado o sobrestamento de processos de natureza penal, haverá, automaticamente, a
suspensão da prescrição da pretensão punitiva relativa aos crimes que forem objeto das ações penais
sobrestadas. Isso com base em uma interpretação conforme a Constituição do art. 116, I, do Código Penal;
d) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com fundamento no art. 1.035,
§ 5º, do CPC abrangerá inquéritos policiais ou procedimentos investigatórios conduzidos pelo Ministério
Público;
e) em nenhuma hipótese, o sobrestamento de processos penais determinado com fundamento no art. 1.035,
§ 5º, do CPC abrangerá ações penais em que haja réu preso provisoriamente;
f) em qualquer caso de sobrestamento de ação penal determinado com fundamento no art. 1.035, § 5º, do
CPC, poderá o juízo de piso, no curso da suspensão, proceder, conforme a necessidade, à produção de provas
de natureza urgente.
STF. Plenário. RE 966.177 RG/RS, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2017 (Info 868).

O STF admitiu a possibilidade de habeas corpus coletivo


STF. 2ª Turma. HC 143641/SP. Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/2/2018 (Info 891).

É cabível habeas corpus para questionar a imposição de medidas cautelares diversas da prisão
O habeas corpus pode ser empregado para impugnar medidas cautelares de natureza criminal diversas da
prisão.
STF. 2ª Turma. HC 147426/AP e HC 147303/AP, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 18/12/2017 (Info 888).

HC não é meio processual adequado para se discutir direito de visita a preso


Não cabe habeas corpus contra decisão que negou direito de familiar de preso internado em unidade prisional
de com ele ter encontro direto, autorizando apenas a visita por meio do parlatório.
STF. 2ª Turma. HC 133305/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/5/2016 (Info 827).

Não cabimento de HC para trancar impeachment


Habeas corpus não é o instrumento adequado para pleitear trancamento de processo de impeachment.
A finalidade constitucional do habeas corpus é a da proteção do indivíduo contra qualquer ato limitativo ao
direito de locomoção (art. 5º, LXVIII, da CF/88).
O processo de impeachment pode resultar na aplicação de sanções de natureza político-administrativa.
Dessa forma, ao se impetrar um HC contra o processo de impeachment, o que se está fazendo é buscando
proteger o exercício de direitos políticos e não o direito de ir e vir.
STF. Plenário. HC 134315 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 16/6/2016 (Info 830).

Não cabe habeas corpus de decisão monocrática de Ministro do STF


Não é cabível HC em face de decisão monocrática de Ministro do STF.
STF. Plenário. HC 105959/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
17/2/2016 (Info 814).

Não cabimento de habeas corpus contra decisão monocrática de Ministro do STJ


Em regra, não cabe habeas corpus para o STF contra decisão monocrática do Ministro do STJ que não conhece
ou denega habeas corpus que havia sido interposto naquele Tribunal. É necessário que primeiro o impetrante
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exaure (esgote), no tribunal a quo (no caso, o STJ), as vias recursais ainda cabíveis (no caso, o agravo
regimental).
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Exceção: essa regra pode ser afastada em casos excepcionais, quando a decisão atacada se mostrar
teratológica, flagrantemente ilegal, abusiva ou manifestamente contrária à jurisprudência do STF, situações
nas quais o STF poderia conceder de ofício o habeas corpus.
STF. 1ª Turma. HC 139612/MG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/4/2017 (Info 862).

Não cabe habeas corpus para questionar passaporte vacinal/sanitário


O Habeas corpus não constitui via própria para impugnar Decreto de governador de Estado sobre adoção de
medidas acerca da apresentação do comprovante de vacinação contra a COVID-19 para que as pessoas
possam circular e permanecer em locais públicos e privados.
STJ. 2ª Turma. RDC no HC 700.487-RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 22/02/2022 (Info 726).

Nulidade cujo tema não foi trazido antes do trânsito em julgado


Não se admite habeas corpus para se questionar nulidade cujo tema não foi trazido antes do trânsito em
julgado da ação originária e tampouco antes do trânsito em julgado da revisão criminal.
A nulidade não suscitada no momento oportuno é impassível de ser arguida através de habeas corpus, no afã
de superar a preclusão, sob pena de transformar o writ em sucedâneo da revisão criminal.
STF. 1ª Turma. RHC 124041/GO, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 30/8/2016 (Info 837).

Indenização por erro judiciário decorrente de aplicação equivocada da reincidência


Os efeitos deletérios da reincidência perduram pelo prazo máximo de cinco anos, contados da data do
cumprimento ou da extinção da pena (art. 64, I, do CP).
No caso em que o reconhecimento da reincidência tenha origem em infração anterior cuja pena tenha sido
cumprida ou extinta há mais de 5 anos, deferido o pedido revisional para diminuir a pena equivocadamente
fixada, será devida a indenização ao condenado que tenha sofrido prejuízos em virtude do erro judiciário.
Ex: João praticou tráfico de drogas, foi condenado e terminou de cumprir sua pena em 02/02/2010. Em
03/03/2015, ou seja, mais de 5 anos depois de ter cumprido a pena, ele comete novo tráfico de drogas. João
foi condenado pelo novo tráfico e na 2ª fase da dosimetria, o juiz aumentou a pena do réu reconhecendo que
ele seria reincidente. Por conta desse reconhecimento, a pena de João foi aumentada em mais 1 ano. Além
disso, como reincidente específico a execução penal de João ficou submetida a critérios mais rígidos para
progressão de regime (art. 2º, § 2º, da Lei nº 8.072/90). A defesa ingressa com revisão criminal alegando que
a sentença violou o art. 64, I, do CP. O Tribunal, ao julgar procedente a revisão, deverá condenar o Poder
Público a indenizar o réu pelos prejuízos sofridos (art. 630 do CPP).
STJ. 5ª Turma. REsp 1.243.516-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/9/2016 (Info 590).

Revisão criminal na hipótese em que a questão atacada também tenha sido enfrentada pelo STF em HC
O julgamento pelo STF de HC impetrado contra decisão proferida em recurso especial não afasta, por si só, a
competência do STJ para processar e julgar posterior revisão criminal.
João foi condenado em 1ª instância, tendo apelado ao TJ, que manteve a sentença. Em seguida, ele interpôs
recurso especial ao STJ, que conheceu do Resp (examinou o mérito), mas negou provimento, mantendo a
condenação. Houve o trânsito em julgado. Contra o acórdão do STJ, o réu impetrou habeas corpus no STF. A
1ª Turma do STF conheceu do habeas corpus, mas não concedeu a ordem por entender que não houve
ilegalidade.
A competência para julgar eventual revisão criminal será do STJ.
STJ. 3ª Seção. RvCr 2.877-PE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 25/2/2016 (Info 578).
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Súmula 701-STF: No mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público contra decisão proferida em
processo penal, é obrigatória a citação do réu como litisconsorte passivo.
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Súmula 192-STJ: Compete ao juízo das execuções penais do Estado a execução das penas impostas a
sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à
administração estadual.

Recusa injustificada do apenado ao trabalho constitui falta grave


A Lei de Execuções Penais (Lei nº 7.210/84) prevê que o condenado à pena privativa de liberdade é obrigado
a trabalhar (art. 31 e art. 39, V).
Caso o preso se recuse, injustificadamente, a realizar o trabalho obrigatório, ele comete falta grave (art. 50,
VI), podendo ser punido.
Obs: o dever de trabalho imposto pela LEP ao apenado não é considerado como pena de trabalho forçado,
não sendo incompatível com o art. 5º, XLVII, "c", da CF/88.
STJ. 6ª Turma. HC 264.989-SP, Rel. Min. Ericson Maranho, julgado em 4/8/2015 (Info 567).

Remição de pena por leitura e resenha de livros


O fato de o estabelecimento penal onde se encontra o detento assegurar acesso a atividades laborais e à
educação formal, não impede que ele obtenha também a remição pela leitura, que é atividade complementar,
mas não subsidiária, podendo ocorrer concomitantemente, havendo compatibilidade de horários.
STJ. 5ª Turma. HC 353.689-SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 14/6/2016 (Info 587).

O tempo excedido, na frequência escolar, ao limite legal de 12 horas a cada 3 dias deve ser considerado
para fins de remição da pena
O art. 126 da Lei de Execuções Penais prevê duas hipóteses de remição da pena: por trabalho ou por estudo.
Para fins de remição da pena pelo trabalho, a jornada não pode ser superior a 8 horas. O STJ, contudo, entende
que eventuais horas extras devem ser computadas quando excederem a oitava hora diária, hipótese em que
se admite o cômputo do excedente para fins de remição de pena.
No caso da remição pelo estudo, o reeducando poderá remir 1 dia de pena a cada 12 horas de atividade,
divididas, no mínimo, em 3 dias.
O STJ entende que, se o reeducando estudar mais que 12 horas, isso deverá ser considerado para fins de
remição da pena.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1720688/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 06/10/2020.
STJ. 6ª Turma. HC 461.047-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 04/08/2020 (Info 677).

Remição da pena pelo estudo em dias não úteis


Remição é o direito que possui o condenado ou a pessoa presa cautelarmente de reduzir o tempo de
cumprimento da pena mediante o abatimento de 1 dia de pena a cada 12 horas de estudo ou de 1 dia de pena
a cada 3 dias de trabalho.
É possível computar a remição pelo estudo ainda que as aulas ocorram durante finais de semana e dias não-
úteis?
SIM. A remição da pena pelo estudo deve ocorrer independentemente de a atividade estudantil ser
desenvolvida em dia não útil. O art. 126 da Lei 7.210/84 dispõe que a contagem de tempo para remição da
pena pelo estudo deve ocorrer à razão de 1 dia de pena para cada 12 horas de frequência escolar, não havendo
qualquer ressalva sobre a consideração apenas dos dias úteis para realização da referida contagem, sendo,
inclusive, expressamente mencionada a possibilidade de ensino à distância.
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1.487.218-DF, Rel. Min. Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP),
julgado em 5/2/2015 (Info 556).
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Reeducando tem direito à progressão a partir da data em que preenche requisitos legais
A data-base para subsequente progressão de regime é aquela em que o reeducando preencheu os requisitos
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do art. 112 da LEP e não aquela em que o Juízo das Execuções deferiu o benefício.

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A decisão do Juízo das Execuções que defere a progressão de regime é declaratória (e não constitutiva).
Algumas vezes o reeducando preenche os requisitos em uma data, mas a decisão acaba demorando meses
para ser proferida. Não se pode desconsiderar, em prejuízo do reeducando, o período em que permaneceu
cumprindo pena enquanto o Judiciário analisava seu requerimento de progressão.
STJ. 6ª Turma. HC 369.774/RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 22/11/2016.

Inadimplemento injustificado das parcelas da pena de multa autoriza a regressão de regime


Como regra, o inadimplemento deliberado da pena de multa cumulativamente aplicada ao sentenciado
impede a progressão no regime prisional. Em outras palavras, a pessoa só poderá progredir se pagar a pena
de multa.
Exceção: mesmo sem ter pago, pode ser permitida a progressão de regime se ficar comprovada a absoluta
impossibilidade econômica do apenado em quitar a multa, ainda que parceladamente.
Se o juiz autorizar que o condenado pague a pena de multa parceladamente, o apenado poderá progredir de
regime, assumindo o compromisso de quitar todas as prestações da multa.
Caso deixe de pagar injustificadamente o parcelamento, haverá a regressão de regime.
O inadimplemento injustificado das parcelas da pena de multa autoriza a regressão no regime prisional.
STF. Plenário. EP 16 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/7/2016 (Info 832).

O estrangeiro que cumpre pena no Brasil e que já tem contra si um processo de expulsão instaurado pode
mesmo assim ser beneficiado com a progressão de regime
O STJ consolidou entendimento no sentido de que a situação irregular do estrangeiro no País não é
circunstância, por si só, capaz de afastar o princípio da igualdade entre nacionais e estrangeiros, razão pela
qual a existência de processo ou mesmo decreto de expulsão em desfavor do estrangeiro não impede a
concessão dos benefícios da progressão de regime ou do livramento condicional, tendo em vista que a
expulsão poderá ocorrer, conforme o interesse nacional, após o cumprimento da pena, ou mesmo antes disto.
STJ. 5ª Turma. HC 324.231/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 03/09/2015.

Condenado que pratica fato definido como crime doloso deverá sofrer regressão de regime mesmo antes do
trânsito em julgado
O inciso I do art. 118 da LEP afirma que o apenado deverá regredir de regime se "praticar fato definido como
crime doloso".
Não é necessário que o juiz das execuções penais aguarde que a pessoa seja condenada com trânsito em
julgado para determinar a sua regressão.
A regressão de regime pela prática de fato definido como crime doloso, durante a execução da pena, não
depende do trânsito em julgado da condenação.
STJ. 5ª Turma. HC 333.615/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/10/2015.
STF. Plenário. EP 8 ProgReg-AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/7/2016 (Info 832).
STF.1ª Turma. HC 110881/MT, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Rosa Weber, julgado em
7/5/2013 (Info 705).

Falta grave por crime doloso não exige trânsito em julgado da sentença condenatória
Súmula 526-STJ: O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de fato definido como crime
doloso no cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado de sentença penal condenatória no
processo penal instaurado para apuração do fato.

O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no curso da
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execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal, desde que ocorra a apuração do
ilícito com as garantias constitucionais
O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso no curso da
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execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal no juízo do conhecimento, desde que

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a apuração do ilícito disciplinar ocorra com observância do devido processo legal, do contraditório e da ampla
defesa, podendo a instrução em sede executiva ser suprida por sentença criminal condenatória que verse
sobre a materialidade, a autoria e as circunstâncias do crime correspondente à falta grave.
STF. Plenário. RE 776823, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 04/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 758)
(Info 1001).

Falta grave e interrupção do prazo para a progressão de regime


Súmula 534-STJ: A prática de falta grave interrompe a contagem do prazo para a progressão de regime de
cumprimento de pena, o qual se reinicia a partir do cometimento dessa infração.

Falta grave e comutação de pena ou indulto


Súmula 535-STJ: A prática de falta grave não interrompe o prazo para fim de comutação de pena ou indulto.

Falta de vagas nos regimes semiaberto e aberto e cumprimento da pena


Súmula vinculante 56: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado
em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nesta hipótese, os parâmetros fixados no Recurso
Extraordinário (RE) 641320.

Parâmetros fixados no Recurso Extraordinário (RE) 641320


a) A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional
mais gravoso;
b) Os juízes da execução penal poderão avaliar os estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e
aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se
qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou
estabelecimento adequado” (regime aberto) (art. 33, §1º, alíneas “b” e “c”, do CP);
c) Havendo déficit de vagas, deverá determinar-se:
(i) a saída antecipada de sentenciado no regime com falta de vagas;
(ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão
domiciliar por falta de vagas;
(iii) o cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime aberto;
d) Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a prisão domiciliar ao
sentenciado.
STF. Plenário. RE 641320/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/5/2016 (repercussão geral) (Info 825).

A Resolução da Corte Interamericana de Direitos Humanos de 22/11/2018, que determina o cômputo da


pena em dobro, deve ser aplicada a todo o período cumprido pelo condenado no Instituto Penal Plácido de
Sá Carvalho (IPPSC)
O Instituto Penal Plácido de Sá Carvalho (IPPSC) é um estabelecimento penal voltado ao cumprimento de pena
privativa de liberdade com o enfoque em pessoas do gênero masculino. Está localizado no Complexo
Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.
O IPPSC apresentou elevados índices de mortes de presos decorrentes da superlotação e das más condições
sanitárias do local. Por essa razão, a Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) expediu medidas
provisórias em face do Brasil, sob o fundamento de que houve violação à integridade pessoal dos presos, nos
termos da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH).
Em uma dessas Resoluções (de 22/11/2018), a Corte IDH determinou que deveria ser computado em dobro
cada dia de privação de liberdade na unidade prisional IPPSC, exceto para os acusados ou condenados por: a)
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crimes contra a vida; b) crimes contra a integridade física; ou c) crimes sexuais.


O cômputo da pena em dobro deve ser sobre todo o período de pena cumprido pelo condenado no IPPSC ou
deverá ficar limitado ao período posterior ao conhecimento formal do Brasil acerca da Resolução?
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O cômputo em dobro atinge a totalidade da pena cumprida. Logo, não é possível modular os efeitos do
cômputo da pena em dobro, tendo em vista a situação degradante do estabelecimento prisional, inspecionado
e alvo de inúmeras Resoluções da Corte IDH.
Não se mostra possível que a determinação de cômputo em dobro tenha seus efeitos modulados como se o
preso tivesse cumprido parte da pena em condições aceitáveis até a notificação e, a partir de então, tal estado
de fato tivesse se modificado. Em realidade, o substrato fático que deu origem ao reconhecimento da situação
degradante já perdurara anteriormente, até para que pudesse ser objeto de reconhecimento, devendo, por
tal razão, incidir sobre todo o período de cumprimento da pena.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 136.961-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 15/06/2021, DJe
21/06/2021 (Info 701).

LEI 14.245/2021: LEI MARIANA FERRER


Novas garantias na audiência
A Lei nº 14.245/2021 acrescentou o art. 400-A, que diz:
Art. 400-A. Na audiência de instrução e julgamento, e, em especial, nas que apurem crimes contra a dignidade
sexual, todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato deverão zelar pela integridade física e
psicológica da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz garantir o
cumprimento do disposto neste artigo, vedadas:
I - a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos autos;
II - a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a dignidade da vítima ou de
testemunhas.

A Lei nº 14.245/2021 também inseriu o art. 474-A conferindo semelhante garantia para a instrução no plenário
do Júri:
Art. 474-A. Durante a instrução em plenário, todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato
deverão respeitar a dignidade da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo
ao juiz presidente garantir o cumprimento do disposto neste artigo, vedadas:
I - a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos autos;
II - a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a dignidade da vítima ou de
testemunhas.

De igual modo, a mesma garantia deve ser assegurada para a audiência no rito dos Juizados Especiais. Confira
o § 1º-A inserido no art. 81 da Lei nº 9.099/95:
Art. 81. (...)
§ 1º-A. Durante a audiência, todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato deverão respeitar
a dignidade da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz garantir o
cumprimento do disposto neste artigo, vedadas:
I - a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos autos;
II - a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a dignidade da vítima ou de
testemunhas.

Nova causa de aumento de pena no crime de coação no curso do processo


A Lei nº 14.245/2021 acrescentou uma nova causa de aumento de pena no parágrafo único:
Art. 344. (...)
Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se o processo envolver crime contra a
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dignidade sexual.

PROGRESSÃO DE REGIME E CONDENADO QUE CUMPRE PENA EM PRESÍDIO FEDERAL


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Presídios federais

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A quase totalidade dos presídios existentes no Brasil é estadual. Com isso, mesmo as pessoas presas por conta
de processos que tramitam na Justiça Federal, em regra, ficam custodiadas em presídios estaduais.

Na atualidade, existem cinco presídios federais:

▪ Penitenciária Federal de Catanduvas (PR);


▪ Penitenciária Federal de Campo Grande (MS);
▪ Penitenciária Federal de Porto Velho (RO);
▪ Penitenciária Federal de Mossoró (RN);
▪ Penitenciária Federal de Brasília (DF).

Cada penitenciária dessas possui um juiz federal corregedor, responsável pela unidade e com competências
previstas em lei.
Vamos conhecer um pouco mais sobre os presídios federais.

Base legal
A transferência e inclusão de presos em estabelecimentos penais federais são reguladas pela Lei nº
11.671/2008.
Além disso, podem ser citados outros instrumentos infralegais importantes:
▪ Decreto nº 6.877/2009;
▪ Decreto nº 6.049/2007;
▪ Resolução nº 557-CJF.

Segurança máxima
Os estabelecimentos penais federais são considerados, pela lei, como de segurança máxima.

Quem pode ser recolhido em presídio federal?


Poderão ser recolhidos em presídio federal:
▪ presos provisórios ou condenados;
▪ presos estaduais ou federais.

Preso por “crime federal” ou “crime estadual”


O presídio federal pode receber tanto presos acusados e condenados por crimes de competência da Justiça
Federal como da Justiça Estadual. Desse modo, o critério para abrigar presos em estabelecimentos prisionais
federais não é a competência para julgamento dos fatos por eles praticados, mas sim a necessidade de uma
custódia de segurança máxima por razões ligadas à segurança pública ou do próprio preso.

Motivos que autorizam o recolhimento do preso em presídio federal


A lei é muito vaga quanto a isso (art. 3º), afirmando que serão recolhidos em presídios federais aqueles cuja
medida se justifique por conta do interesse:
▪ da segurança pública; ou
▪ do próprio preso.

Segundo o art. 3º do Decreto nº 6.877/2009, para a inclusão ou transferência, o preso deverá possuir, ao
menos, uma das seguintes características:
▪ ter desempenhado função de liderança ou participado de forma relevante em organização criminosa;
▪ ter praticado crime que coloque em risco a sua integridade física no ambiente prisional de origem;
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▪ estar submetido ao Regime Disciplinar Diferenciado — RDD;


▪ ser membro de quadrilha ou bando, envolvido na prática reiterada de crimes com violência ou grave
ameaça;
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▪ ser réu colaborador ou delator premiado, desde que essa condição represente risco à sua integridade
física no ambiente prisional de origem; ou
▪ estar envolvido em incidentes de fuga, de violência ou de grave indisciplina no sistema prisional de origem.

Transferência para presídio federal sem oitiva prévia da defesa


Súmula 639-STJ: Não fere o contraditório e o devido processo decisão que, sem ouvida prévia da defesa,
determine transferência ou permanência de custodiado em estabelecimento penitenciário federal.

O preso que está cumprindo pena em presídio federal por motivo de segurança pública poderá ser
beneficiado com a progressão de regime? NÃO.
O cumprimento de pena em penitenciária federal de segurança máxima por motivo de segurança pública
não é compatível com a progressão de regime prisional.
STF. 2ª Turma. HC 131.649/RJ, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, rel. p/ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/9/2016
(Info 838).

A concessão do benefício da progressão de regime ao apenado em presídio federal de segurança máxima fica
condicionada à ausência dos motivos que justificaram a transferência originária para esse sistema ou, ainda,
à superação de eventual conflito de competência suscitado. Tal entendimento jurisprudencial deriva da
interpretação sistemática dos dispositivos legais que norteiam o ingresso no Sistema Penitenciário Federal, os
quais demonstram a absoluta incompatibilidade entre os motivos que autorizam a inclusão do preso e os
benefícios liberatórios da execução.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 656.813/PR, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 20/04/2021.

O Juízo competente para processar e julgar os incidentes da execução é o que detém a custódia do apenado,
no caso, o Juízo responsável pelo presídio federal. Não lhe é permitido, contudo, conceder a progressão de
regime prisional ao condenado que esteja recolhido em presídio federal de segurança máxima, uma vez que
os motivos que justificaram sua transferência ou manutenção no sistema federal mostram-se totalmente
incompatíveis com a concessão do benefício, ficando condicionado o deferimento da progressão à ausência
dos motivos que justificaram a sua remoção para o estabelecimento federal.
STJ. 3ª Seção. CC 137.110/RJ, Rel. MIn. Ericson Maranho (Desembargador Convocado do TJ/SP), julgado em
22/4/2015.

A transferência do apenado para o sistema federal tem, em regra, como fundamento, razões que atestam que,
naquele momento, o condenado não tem mérito para progredir de regime.
No caso concreto, o condenado era líder de uma organização criminosa ("Comando Vermelho"). Mesmo sem
cometer infrações disciplinares, o preso que pertence à associação criminosa não satisfaz aos requisitos
subjetivos para a progressão de regime.
O simples fato de pertencer à sociedade criminosa é considerado crime e também circunstância que
demonstra a falta de condições de progredir a regime prisional mais brando.

STJ
O STJ possui a mesma posição e entende que o Juízo responsável pelo presídio federal é quem detém a
competência para processar e julgar os incidentes da execução relacionados com o condenado que está
cumprindo pena no presídio federal. No entanto, este magistrado não pode conceder a progressão de regime
prisional, uma vez que os motivos que justificaram a transferência ou a manutenção do condenado no sistema
federal mostram-se totalmente incompatíveis com a concessão do benefício.
Em outras palavras, o condenado que está cumprindo pena em presídio federal só poderá receber a progressão
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quando não houver mais motivos que justifiquem a sua permanência no estabelecimento federal.
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Sobre o tema, confira-se:

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O Juízo competente para processar e julgar os incidentes da execução é o que detém a custódia do apenado,
no caso, o Juízo responsável pelo presídio federal. Não lhe é permitido, contudo, conceder a progressão de
regime prisional ao condenado que esteja recolhido em presídio federal de segurança máxima, uma vez que
os motivos que justificaram sua transferência ou manutenção no sistema federal mostram-se totalmente
incompatíveis com a concessão do benefício, ficando condicionado o deferimento da progressão à ausência
dos motivos que justificaram a sua remoção para o estabelecimento federal.
STJ. 3ª Seção. CC 137.110/RJ, Rel. MIn. Ericson Maranho (Desembargador Convocado do TJ/SP), julgado em
22/4/2015.

Para ficar mais fácil de compreender, podemos assim resumir:


▪ Se já não há mais motivos para ele permanecer no presídio federal: significa que ele poderá receber a
progressão de regime.
▪ Se ainda há motivos para ele permanecer no presídio federal: ele não poderá progredir.

LEI 13.964/2019 (PACOTE ANTICRIME): ALTERAÇÃO NA LEI DOS PRESÍDIOS FEDERAIS (LEI 11.671/2008)
A Lei nº 13.964/2019 promoveu algumas alterações na Lei nº 11.671/2008.

Quem é o responsável pela execução penal no presídio federal?


O juiz federal da seção ou subseção judiciária em que estiver localizado o presídio federal. É o que prevê o art.
2º da Lei nº 11.671/2008:
Art. 2º A atividade jurisdicional de execução penal nos estabelecimentos penais federais será desenvolvida
pelo juízo federal da seção ou subseção judiciária em que estiver localizado o estabelecimento penal federal
de segurança máxima ao qual for recolhido o preso.

A Lei nº 13.964/2019 acrescenta um parágrafo único neste art. 2º com a seguinte redação:
Art. 2º (...)
Parágrafo único. O juízo federal de execução penal será competente para as ações de natureza penal que
tenham por objeto fatos ou incidentes relacionados à execução da pena ou infrações penais ocorridas no
estabelecimento penal federal.

Assim, imagine que um detento que está em um presídio federal cometa um crime lá dentro. Essa infração
penal será julgada pelo juízo federal responsável pelo presídio.

Inclusão no presídio federal


Art. 3º Serão incluídos em estabelecimentos penais federais de segurança máxima aqueles para quem a
medida se justifique no interesse da segurança pública ou do próprio preso, condenado ou provisório.
(Redação dada Lei nº 13.964/2019)

O que o juízo federal corregedor do presídio analisa para decidir se haverá ou não a inclusão do preso?
Se devidamente motivado pelo Juízo estadual o pedido de manutenção de preso, em presídio federal, não
cabe ao Magistrado federal exercer juízo de valor sobre a fundamentação apresentada, mas, apenas, aferir a
legalidade da medida.
No caso de transferência de preso para presídio federal, ao Juízo Federal não compete realizar juízo de valor
sobre as razões de fato emanadas pelo Juízo solicitante, sendo-lhe atribuído pelo art. 4º da Lei nº 11.671/2008,
tão somente, o exame da regularidade formal da solicitação.
STJ. 3ª Seção. PET no CC 183.852/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 27/4/2022.
159

STJ. 3ª Seção. CC 190.601-PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/09/2022 (Info 751).

Características do cumprimento de pena no estabelecimento penal federal


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Art. 3º (...)

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§ 1º A inclusão em estabelecimento penal federal de segurança máxima, no atendimento do interesse da
segurança pública, será em regime fechado de segurança máxima, com as seguintes características:
I - recolhimento em cela individual;
II - visita do cônjuge, do companheiro, de parentes e de amigos somente em dias determinados, por meio
virtual ou no parlatório, com o máximo de 2 (duas) pessoas por vez, além de eventuais crianças, separados
por vidro e comunicação por meio de interfone, com filmagem e gravações;
III - banho de sol de até 2 (duas) horas diárias; e
IV - monitoramento de todos os meios de comunicação, inclusive de correspondência escrita.
(Parágrafo incluído pela Lei nº 13.964/2019)

Monitoramento de áudio e vídeo no parlatório


Art. 3º (...)
§ 2º Os estabelecimentos penais federais de segurança máxima deverão dispor de monitoramento de áudio e
vídeo no parlatório e nas áreas comuns, para fins de preservação da ordem interna e da segurança pública,
vedado seu uso nas celas e no atendimento advocatício, salvo expressa autorização judicial em contrário.
(Incluído pela Lei 13.964/2019)

Configura o crime do art. 325 do Código Penal (violação de sigilo funcional), a violação ao disposto neste § 2º
acima transcrito.
Violação de sigilo funcional
Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-
lhe a revelação:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave.

Gravações só poderão ser utilizadas como meio de prova de infrações penais praticadas após o ingresso do
preso no estabelecimento prisional
Art. 3º (...)
§ 3º As gravações das visitas não poderão ser utilizadas como meio de prova de infrações penais pretéritas ao
ingresso do preso no estabelecimento. (Incluído pela Lei 13.964/2019)

Assim, por exemplo, mesmo que o preso confesse para sua visita que matou uma pessoa antes de entrar no
presídio e que essa confissão fique gravada, ela não poderá ser utilizada como meio de prova.

Suspensão ou restrição do direito de visitas


Art. 3º (...)
§ 4º Os diretores dos estabelecimentos penais federais de segurança máxima ou o Diretor do Sistema
Penitenciário Federal poderão suspender e restringir o direito de visitas previsto no inciso II do § 1º deste
artigo por meio de ato fundamentado. (Incluído pela Lei 13.964/2019)

Prazo máximo de permanência no presídio federal


• Antes: era de 360 dias.
• Agora: é de 3 anos.

LEI DE TRANSFERÊNCIA E INCLUSÃO DE PRESOS EM ESTABELECIMENTOS PENAIS FEDERAIS DE


SEGURANÇA MÁXIMA
160

Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE


Art. 10. (...) Art. 10. (...)
§ 1º O período de permanência não poderá ser § 1º O período de permanência será de até 3 (três)
Página

superior a 360 (trezentos e sessenta) dias, renovável, anos, renovável por iguais períodos, quando

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excepcionalmente, quando solicitado solicitado motivadamente pelo juízo de origem,
motivadamente pelo juízo de origem, observados os observados os requisitos da transferência, e se
requisitos da transferência. persistirem os motivos que a determinaram.

Decisões relacionadas com o presídio federal poderão ser colegiadas


Muitas vezes a decisão sobre a transferência ou prorrogação da permanência de um preso no presídio federal
é algo extremamente arriscado considerando que contraria os interesses de organizações criminosas
perigosas. Pensando nisso, o legislador incluiu o art. 11-A dizendo que essa decisão poderá ser tomada por
um colegiado:

Art. 11-A. As decisões relativas à transferência ou à prorrogação da permanência do preso em estabelecimento


penal federal de segurança máxima, à concessão ou à denegação de benefícios prisionais ou à imposição de
sanções ao preso federal poderão ser tomadas por órgão colegiado de juízes, na forma das normas de
organização interna dos tribunais.

Presídios e segurança máxima estaduais


Art. 11-B. Os Estados e o Distrito Federal poderão construir estabelecimentos penais de segurança máxima,
ou adaptar os já existentes, aos quais será aplicável, no que couber, o disposto nesta Lei.

Prorrogação da permanência no presídio federal


Permanecendo inalterados os fundamentos que justificaram a transferência de preso para presídio federal de
segurança máxima, não cabe ao Juízo federal questionar as razões do Juízo estadual, sendo a renovação da
permanência do apenado providência indeclinável, como medida excepcional e adequada para resguardar a
ordem pública.
STJ. 3ª Seção. CC 143.634/RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 24/02/2016.

DIREITO CIVIL
O vazamento de dados pessoais não gera dano moral presumido
Caso concreto: um hacker invadiu o sistema informatizado da concessionária de energia elétrica e de lá copiou
os dados pessoais de inúmeros consumidores. O hacker copiou os dados pessoais de Regina (nome completo,
endereço, número do RG, data de nascimento, número de telefone) e os vendeu para uma empresa de
marketing.
Regina ajuizou ação de indenização contra a concessionária sustentando a tese de que o vazamento de dados
pessoais gera dano moral presumido.
O STJ não concordou com o argumento.
O art. 5º, II, da Lei 13.709/2018 (LGPD), prevê que determinados dados pessoais devem ser qualificados como
“sensíveis”, exigindo exigir um tratamento diferenciado por parte de quem armazena essas informações. São
aqueles relacionados com origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou
a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético
ou biométrico.
Os dados que a concessionária armazenava eram aqueles que se fornece em qualquer cadastro, inclusive nos
sites consultados no dia a dia, não sendo, portanto, acobertados por sigilo. Não eram, portanto, dados
pessoais sensíveis. O conhecimento desses dados “comuns” por terceiro em nada violaria o direito de
personalidade da autora.
O vazamento de dados pessoais, a despeito de se tratar de falha indesejável no tratamento de dados de pessoa
161

natural por pessoa jurídica, não tem o condão, por si só, de gerar dano moral indenizável.
Desse modo, não se trata de dano moral presumido, sendo necessário, para que haja indenização, que o titular
dos dados comprove qual foi o dano decorrente da exposição dessas informações.
Página

STJ. 2ª Turma. AREsp 2130619-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 7/3/2023 (Info 766).

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Em razão do princípio da unicidade da interrupção prescricional, mesmo diante de uma hipótese interruptiva
extrajudicial e outra em decorrência de citação judicial, apenas admite-se a interrupção do prazo apenas
pelo primeiro dos eventos (no caso, o protesto)
Nos termos do art. 202, caput, do Código Civil, a prescrição pode ser interrompida somente uma única vez.
Logo, em razão do princípio da unicidade da interrupção prescricional, mesmo diante de uma hipótese
interruptiva extrajudicial (protesto de título) e outra em decorrência de ação judicial de cancelamento de
protesto e título executivo, apenas admite-se a interrupção do prazo pelo primeiro dos eventos.
STJ. 4ª Turma. REsp 1786266-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 11/10/2022 (Info 754).

Em ação demolitória, não há obrigatoriedade de litisconsórcio passivo necessário dos coproprietários do


imóvel
Nas ações demolitórias de obra ajuizadas em face de construções erguidas em desacordo com as regras
urbanísticas ou ambientais é prescindível a citação dos coproprietários do imóvel para integrarem a relação
processual, na qualidade de litisconsorte passivo necessário.
STJ. 1ª Turma. REsp 1830821-PE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/2/2023 (Info 764).

Não configura decisão extra petita a sentença que, reconhecendo a usucapião, determina a liquidação para
individualizar a área usucapida, ainda que não haja pedido expresso na inicial
É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem com condenar a parte em quantidade
superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado.
No entanto, não há julgamento extra petita quando o julgador reconhece os pedidos implícitos formulados na
petição inicial. Assim, o magistrado não se encontra restrito ao que está expresso no capítulo referente aos
pedidos, sendo-lhe permitido extrair, mediante interpretação lógico-sistemática da petição inicial, aquilo que
a parte pretende obter, aplicando o princípio da equidade.
Não é extra petita o julgado que decide questão que é reflexo de pedido deduzido na inicial, superando a ideia
da absoluta congruência entre o pedido e a sentença para outorgar ao demandante a tutela jurisdicional
adequada e efetiva.
A sentença judicial que, ao reconhecer a usucapião, individualiza, de forma clara e precisa, a área usucapida,
pode ser objeto de registro no cartório de registro de imóveis, sem a necessidade de pedido expresso na inicial
a respeito da medida extrajudicial.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1802192-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 12/12/2022 (Info
765).

A mudança total do nome registral não é possível por falta de previsão legal e respeito à segurança jurídica
Não é possível a completa supressão e substituição total do nome registral, por pessoa autoidentificada como
indígena, por ausência de previsão legal, bem como por respeito ao princípio da segurança jurídica e das
relações jurídicas a serem afetadas.
STJ. 4ª Turma. REsp 1927090-RJ, Rel. Min.Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Ministro Raul Araújo, julgado
em 21/3/2023 (Info 768).

Nos contratos de seguro de vida em grupo, a obrigação de prestar informações aos segurados recai sobre o
estipulante
(I) Na modalidade de contrato de seguro de vida coletivo, cabe exclusivamente ao estipulante, mandatário
legal e único sujeito que tem vínculo anterior com os membros do grupo segurável (estipulação própria), a
obrigação de prestar informações prévias aos potenciais segurados acerca das condições contratuais quando
162

da formalização da adesão, incluídas as cláusulas limitativas e restritivas de direito previstas na apólice mestre,
e
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(II) não se incluem, no âmbito da matéria afetada, as causas originadas de estipulação imprópria e de falsos
estipulantes, visto que as apólices coletivas nessas figuras devem ser consideradas apólices individuais, no que
tange ao relacionamento dos segurados com a sociedade seguradora.
STJ. 2ª Seção.REsp 1874788-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 2/3/2023 (Recurso Repetitivo
– Tema 1112) (Info 766).

Nos seguros de pessoas, é devida a indenização mesmo que o sinistro tenha ocorrido por conta de
insanidade mental, alcoolismo ou uso de substâncias tóxicas
Nos seguros de pessoas, é vedada a exclusão de cobertura na hipótese de sinistros ou acidentes decorrentes
de atos praticados pelo segurado em estado de insanidade mental, de alcoolismo ou sob efeito de substâncias
tóxicas.
STJ. 2ª Seção. REsp 1999624-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Raul Araújo, julgado em
28/09/2022 (Info 751).

Súmula 656 do STJ


Súmula 656-STJ: É válida a cláusula de prorrogação automática de fiança na renovação do contrato principal.
A exoneração do fiador depende da notificação prevista no art. 835 do Código Civil.
STJ. 2ª Seção. Aprovada em 09/11/2022.

A pensão por ato ilícito somente é devida quando o autor do fato causa a morte ou a debilidade física da
vítima
Caso adaptado: “M” foi acusado de ter praticado homicídio contra “L”. Ele foi absolvido na esfera criminal em
razão da dúvida existente a respeito da causa da morte e do dolo. Na esfera cível, ele foi condenado a pagar
indenização por danos materiais em favor da filha de “L” consistente em pensão mensal. A condenação na
ação indenizatória baseou-se na omissão em prestar socorro e no abandono do corpo em local indevido.
Essa condenação não encontra amparo no Código Civil.
Nos termos dos arts. 948, II, e 950 do CC/2002, a pensão por ato ilícito somente é devida quando o autor do
fato causa a morte ou a debilidade física da vítima. Não sendo nenhum destes o fundamento da
responsabilidade civil no caso, o afastamento da condenação ao pagamento de pensão é medida que se
impõe.
STJ. 4ª Turma. REsp 1837149-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 22/11/2022 (Info Especial 9).

A Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor não pode ser adotada nas relações jurídicas regidas
exclusivamente pelo Direito Civil
A Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor é predisposta a ser aplicada no âmbito do direito consumerista,
notadamente em razão da situação de desigualdade e de vulnerabilidade que são características das relações
de consumo, não se aplicando, portanto, a relações jurídicas não consumeristas regidas exclusivamente pelo
Direito Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 2017194-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/10/2022 (Info Especial 9).

Na teoria da perda de uma chance, a chance só é indenizável se houver a probabilidade que seria realizada
e a certeza de que a vantagem perdida resultou em prejuízo
Não se aplica a teoria da perda de uma chance para responsabilizar empresa que deixou de apresentar seus
livros societários em prazo hábil para subsidiar impugnação de alegada doação inoficiosa por um de seus
sócios, na hipótese de não restar comprovado o nexo de causalidade entre o extravio dos livros e as chances
de vitória na demanda judicial.
163

STJ. 3ª Turma. REsp 1929450-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/10/2022 (Info 754).
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Transgênero pode alterar seu prenome e gênero no registro civil mesmo sem fazer cirurgia de
transgenitalização e mesmo sem autorização judicial

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Os transgêneros, que assim o desejarem, independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da
realização de tratamentos hormonais ou patologizantes, possuem o direito à alteração do prenome e do
gênero (sexo) diretamente no registro civil.
STF. Plenário. ADI 4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
28/2 e 1º/3/2018 (Info 892).

O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero
no registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual
poderá exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa.
Essa alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo
“transgênero”.
Nas certidões do registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de
certidão de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial.
Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de ofício ou a requerimento
do interessado a expedição de mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos
ou privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos.
STF. Plenário. RE 670422/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/8/2018 (repercussão geral) (Info 911).

O ordenamento jurídico brasileiro não consagra o denominado direito ao esquecimento


É incompatível com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido como o poder de
obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados verídicos e licitamente obtidos e
publicados em meios de comunicação social analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no exercício
da liberdade de expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos parâmetros
constitucionais – especialmente os relativos à proteção da honra, da imagem, da privacidade e da
personalidade em geral – e as expressas e específicas previsões legais nos âmbitos penal e cível.
STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/2/2021 (Repercussão Geral – Tema 786)
(Info 1005).

Poder Judiciário pode determinar que o Google desvincule o nome de determinada pessoa, sem qualquer
outro termo empregado, com fato desabonador a seu respeito dos resultados de pesquisa; isso não se
confunde com direito ao esquecimento
Caso adaptado: a autora pediu para que, se o seu nome fosse digitado no Google, sem qualquer menção à
fraude, os resultados da busca não mostrassem justamente notícias de uma suposta fraude a respeito da qual
ela foi investigada muitos anos atrás.
A autora argumentou que a manutenção desses resultados acabava por retroalimentar o sistema, uma vez
que, ao realizar a busca pelo nome da requerente e se deparar com a notícia, o usuário do Google acessaria o
conteúdo - até movido por curiosidade despertada em razão da exibição do link - reforçando, no sistema
automatizado (algoritmo), a confirmação da relevância da página catalogada.
Desse modo, a autora disse que não havia razoabilidade em se mostrar as notícias desse evento pelo simples
fato de ter sido digitado seu nome no sistema de busca (desacompanhado de outros termos relacionados com
a suposta fraude).
Esse pedido foi deferido pelo STJ porque não afronta a decisão do STF no Tema 786, no qual ficou decidido
que não existe direito ao esquecimento.
A determinação para que os provedores de busca na internet procedam a desvinculação do nome de
determinada pessoa, sem qualquer outro termo empregado, com fato desabonador a seu respeito dos
resultados de pesquisa não se confunde com o direito ao esquecimento, objeto da tese de repercussão geral
164

786/STF.
STJ. 3ª Turma. REsp 1660168/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/06/2022 (Info 743).
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A oferta voluntária de seu único imóvel residencial em garantia a um contrato de mútuo, favorecedor de
pessoa jurídica em alienação fiduciária, não conta com a proteção irrestrita do bem de família

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Caso hipotético: João e Regina, casados entre si, eram sócios da empresa Alfa Ltda.A empresa Alfa tomou
empréstimo com o banco, no valor de R$ 1 milhão.O apartamento em que João e Regina moravam serviu
como garantia desse mútuo.Houve uma alienação fiduciária desse imóvel em garantia com o objetivo de
favorecer a pessoa jurídica, que precisava do empréstimo.Vale ressaltar que, antes da alienação fiduciária em
garantia, o imóvel estava no nome do casal.Em razão do inadimplemento, o banco deu início a um
procedimento para consolidar a propriedade do referido imóvel em seu nome a fim de, posteriormente, poder
aliená-lo e quitar a dívida.
João e Regina não terão êxito se alegarem a impenhorabilidade do imóvel por se tratar de bem de família.
STJ. 2ª Seção.EREsp 1.559.348-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 24/5/2023 (Info 776).

A nulidade de negócio jurídico simulado pode ser reconhecida no julgamento de embargos de terceiro
A simulação provoca a nulidade absoluta do negócio jurídico. É o que prevê o caput do art. 167 do CC.
Diante disso, como se trata de matéria de ordem pública, a simulação pode ser declarada até mesmo de ofício
pelo juiz da causa (art. 168, parágrafo único, do CC).
Como negócio jurídico simulado é nulo, o reconhecimento dessa nulidade pode ocorrer de ofício, até mesmo
incidentalmente em qualquer processo em que for ventilada a questão.
Logo, é desnecessário o ajuizamento de ação específica para se declarar a nulidade de negócio jurídico
simulado.
Dessa forma, não há como se restringir o seu reconhecimento em embargos de terceiro.
Para casos posteriores ao Código Civil de 2002, não é mais possível aplicar o entendimento da Súmula 195 do
STJ às hipóteses de simulação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.927.496/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 27/04/2021 (Info 694).

Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o rosto da vítima não estar evidenciado de maneira
flagrante é irrelevante para a configuração dos danos morais
A “exposição pornográfica não consentida”, da qual a “pornografia de vingança” é uma espécie, constituiu
uma grave lesão aos direitos de personalidade da pessoa exposta indevidamente, além de configurar uma
grave forma de violência de gênero que deve ser combatida de forma contundente pelos meios jurídicos
disponíveis.
O fato de o rosto da vítima não estar evidenciado nas fotos de maneira flagrante é irrelevante para a
configuração dos danos morais na hipótese, uma vez que a mulher vítima da pornografia de vingança sabe
que sua intimidade foi indevidamente desrespeitada e, igualmente, sua exposição não autorizada lhe é
humilhante e viola flagrantemente seus direitos de personalidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.735.712-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica no Código Civil


O encerramento das atividades ou dissolução da sociedade, ainda que irregulares, não é causa, por si só, para
a desconsideração da personalidade jurídica prevista no Código Civil.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.306.553-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 10/12/2014 (Info 554).

Não há condenação em honorários advocatícios em incidente de desconsideração da personalidade jurídica


Em regra, não é cabível a condenação em honorários advocatícios em qualquer incidente processual,
ressalvados os casos excepcionais.
Tratando-se de incidente de desconsideração da personalidade jurídica, não cabe a condenação nos ônus
sucumbenciais em razão da ausência de previsão legal. Logo, é irrelevante apurar quem deu causa ou foi
sucumbente no julgamento final do incidente.
165

STJ. 3ª Turma. REsp 1.845.536-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
26/05/2020 (Info 673).
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Responsabilidade civil dos pais por danos causados por filho menor

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A responsabilidade dos pais por filho menor (responsabilidade por ato ou fato de terceiro) é objetiva, nos
termos do art. 932, I, do CC, devendo-se comprovar apenas a culpa na prática do ato ilícito daquele pelo qual
são os pais responsáveis legalmente (ou seja, é necessário provar apenas a culpa do filho).
Contudo, há uma exceção: os pais só respondem pelo filho incapaz que esteja sob sua autoridade e em sua
companhia; assim, os pais, ou responsável, que não exercem autoridade de fato sobre o filho, embora ainda
detenham o poder familiar, não respondem por ele.
Desse modo, a mãe que, à época de acidente provocado por seu filho menor de idade, residia
permanentemente em local distinto daquele no qual morava o menor — sobre quem apenas o pai exercia
autoridade de fato — não pode ser responsabilizada pela reparação civil advinda do ato ilícito, mesmo
considerando que ela não deixou de deter o poder familiar sobre o filho.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.232.011-SC, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 17/12/2015 (Info 575).

Responsabilidade civil dos genitores pelos danos causados por filho maior esquizofrênico
Os pais de portador de esquizofrenia paranoide que seja solteiro, maior de idade e more sozinho, têm
responsabilidade civil pelos danos causados durante os recorrentes surtos agressivos de seu filho, no caso em
que eles, plenamente cientes dessa situação, tenham sido omissos na adoção de quaisquer medidas com o
propósito de evitar a repetição desses fatos, deixando de tomar qualquer atitude para interditá-lo ou mantê-
lo sob sua guarda e companhia.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.101.324-RJ, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. em 13/10/2015 (Info 573).

Terceiro ofensor também está sujeito à eficácia transubjetiva das obrigações, haja vista que seu
comportamento não pode interferir indevidamente na relação, perturbando o normal desempenho da
prestação pelas partes, sob pena de se responsabilizar pelos danos
Os contratos são protegidos por deveres de confiança, os quais se estendem a terceiros em razão da cláusula
de boa-fé objetiva.
Diante do reconhecimento e da ampliação de novas áreas de proteção à pessoa humana, resultantes da nova
realidade social e da ascensão de novos interesses, surgem também novas hipóteses de violações de direitos,
o que impõe sua salvaguarda pelo ordenamento jurídico.
Assim, viu-se a necessidade de analisar o comportamento daquele terceiro que interfere ou induz o
inadimplemento de um contrato sob o prisma de uma proteção extracontratual, do capitalismo ético, da
função social do contrato e da proteção das estruturas de interesse da sociedade, tais como a honestidade e
a tutela da confiança.
De acordo com a Teoria do Terceiro Cúmplice, terceiro ofensor também está sujeito à eficácia transubjetiva
das obrigações, haja vista que seu comportamento não pode interferir indevidamente na relação, perturbando
o normal desempenho da prestação pelas partes, sob pena de se responsabilizar pelos danos decorrentes de
sua conduta.
A responsabilização de um terceiro, alheio à relação contratual, decorre da sua não funcionalização sob a
perspectiva social da autonomia contratual, incorporando como razão prática a confiança e o
desenvolvimento social na conduta daqueles que exercem sua liberdade.
Uma das hipóteses em que a conduta condenável do terceiro pode gerar sua responsabilização é a indução
interferente ilícita, na qual o terceiro imiscui-se na relação contratual mediante informações ou conselhos
com o intuito de estimular uma das partes a não cumprir seus deveres contratuais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1895272/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/4/2022 (Info 734).

É imprescindível perícia técnica para quantificar dano moral, ante divulgação não autorizada de obra,
reconhecido em título executivo em que se determina que seja considerada a repercussão econômica do
166

ilícito
Caso concreto: ação de indenização por danos materiais e morais proposta por Benedito Ruy Barbosa, autor
do texto da telenovela “Pantanal”, contra o SBT, em razão de a emissora ter reexibido a novela sem sua prévia
Página

e expressa autorização e com cortes de cenas.

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Considerando que escapa das regras normais da experiência um conhecimento adequado acerca dos lucros
obtidos com a divulgação indevida de novela, tem-se como imprescindível a realização da perícia para que,
levando em conta a observação relativa aos lucros percebidos, seja fixado percentual sobre tal verba que sirva
de efetiva recomposição dos danos morais do autor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1983290-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

A prática de sham litigation (litigância simulada) configura ato ilícito de abuso do direito de ação, podendo
gerar indenização por danos morais e materiais
O ajuizamento de sucessivas ações judiciais, desprovidas de fundamentação idônea e intentadas com
propósito doloso, pode configurar ato ilícito de abuso do direito de ação ou de defesa, o denominado assédio
processual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.817.845-MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 10/10/2019 (Info 658).

Dano social não se confunde com dano material, moral ou estético


O dano social é uma nova espécie de dano reparável, que não se confunde com os danos materiais, morais e
estéticos, e que decorre de comportamentos socialmente reprováveis, que diminuem o nível social de
tranquilidade.
Em uma ação individual, o juiz condenou o réu ao pagamento de danos morais e, de ofício, determinou que
pagasse também danos sociais em favor de uma instituição de caridade.
O STJ entendeu que essa decisão é nula, por ser “extra petita”.
Para que haja condenação por dano social, é indispensável que haja pedido expresso.
Vale ressaltar, no entanto, que, no caso concreto, mesmo que houvesse pedido de condenação em danos
sociais na demanda em exame, o pleito não poderia ter sido julgado procedente, pois esbarraria na ausência
de legitimidade para postulá-lo. Isso porque, na visão do STJ, a condenação por danos sociais somente pode
ocorrer em demandas coletivas e, portanto, apenas os legitimados para a propositura de ações coletivas
poderiam pleitear danos sociais.
Em suma, não é possível discutir danos sociais em ação individual.
STJ. 2ª Seção. Rcl 12.062-GO, Rel. Ministro Raul Araújo, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info 552).

Súmula 43-STJ: Incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo.

Súmula 362-STJ: A correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do
arbitramento.

Súmula 54-STJ: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual.

Súmula 491-STF: É indenizável o acidente que cause a morte de filho menor, ainda que não exerça trabalho
remunerado.

Súmula 227-STJ: A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

Súmula 387-STJ: É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
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Os provedores de aplicações de internet não são obrigados a guardar e fornecer dados pessoais dos
usuários, sendo suficiente a apresentação dos registros de número IP
O provedor tem o dever de propiciar meios para que se possa identificar cada um dos usuários, coibindo o
Página

anonimato e atribuindo a cada manifestação uma autoria certa e determinada.

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Para cumprir essa obrigação, é suficiente que o provedor guarde e forneça o número IP correspondente à
publicação ofensiva indicada pela parte.
STJ. REsp 1.829.821-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/08/2020 (Info 680).

Provedor de aplicação deve remover conteúdo ofensivo a menor na internet, mesmo sem ordem judicial
Caso concreto: foi feito um post, no Facebook, trazendo a foto de uma criança com seu pai e uma acusação,
no texto, de que este último (o genitor), teria envolvimento com pedofilia e estupro.
O pai denunciou o fato à empresa, que, no entanto, se recusou a excluir a publicação, sob o argumento de ter
analisado a foto e não haver encontrado nela nada que violasse os “padrões de comunidade” da rede social.
Diante disso, foi ajuizada ação de indenização por danos morais, tendo o Facebook sido condenado.
Responde civilmente por danos morais o provedor de aplicação de internet que, após formalmente
comunicado de publicação ofensiva a imagem de menor, se omite na sua exclusão, independentemente de
ordem judicial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.783.269-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 14/12/2021 (Info 723).

Facebook não é obrigado a fornecer os dados de todos os usuários que compartilharam post contendo fake
news
É vedado ao provedor de aplicações de internet fornecer dados de forma indiscriminada dos usuários que
tenham compartilhado determinada postagem, em pedido genérico e coletivo, sem a especificação mínima
de uma conduta ilícita realizada.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.859.665/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 09/03/2021 (Info 688).

A divulgação pelos interlocutores ou por terceiros de mensagens trocadas via WhatsApp pode ensejar a
responsabilização por eventuais danos decorrentes da difusão do conteúdo
As conversas travadas por meio do WhatsApp são resguardadas pelo sigilo das comunicações.
Assim, terceiros somente podem ter acesso às conversas de WhatsApp se houver consentimento dos
participantes ou autorização judicial.
As mensagens eletrônicas estão protegidas pelo sigilo em razão de o seu conteúdo ser privado, isto é, restrito
aos interlocutores.
Dessa forma, ao enviar mensagem a determinado ou a determinados destinatários, via WhatsApp, o emissor
tem a expectativa de que ela não será lida por terceiros, quanto menos divulgada ao público, seja por meio de
rede social ou da mídia.
Essa expectativa advém não só do fato de ter o indivíduo escolhido a quem enviar a mensagem, como também
da própria encriptação a que estão sujeitas as conversas (criptografia ponta-a-ponta).
Além disso, se a sua intenção fosse levar ao conhecimento de diversas pessoas o conteúdo da mensagem, a
pessoa que enviou a mensagem teria optado por uma rede social menos restrita ou mesmo repassado a
informação à mídia para que fosse divulgada.
Assim, se o indivíduo divulga ao público uma conversa privada, além de estar quebrando o dever de
confidencialidade, está também violando legítima expectativa, a privacidade e a intimidade do emissor.
Justamente por isso, esse indivíduo pode ser responsabilizado por essa divulgação caso se configure o dano.
É importante consignar que a ilicitude poderá ser descaracterizada (afastada) quando a exposição das
mensagens tiver como objetivo resguardar um direito próprio do receptor. Nesse caso, será necessário avaliar
as peculiaridades concretas para fins de decidir qual dos direitos em conflito deverá prevalecer.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.903.273-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/08/2021 (Info 706).

A cláusula contratual que transfere ao comprador a responsabilidade pela desocupação do imóvel que lhe
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é alienado pela CEF não é abusiva


A cláusula contratual que impõe ao comprador a responsabilidade pela desocupação de imóvel que lhe é
alienado pela CEF não é abusiva.
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Não há abusividade porque a alienação se dá por preço consideravelmente inferior ao valor real do imóvel,
exatamente pela situação peculiar que o imóvel possa se encontrar.

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A obrigação do adquirente de ter que tomar medidas para que o terceiro desocupe o imóvel é um ônus que
já é informado pela CEF aos interessados antes da contratação. Tal informação consta expressamente no edital
de concorrência pública e no contrato que é celebrado.
A rápida alienação do imóvel, no estado em que se encontre, favorece o SFH porque libera recursos financeiros
que serão revertidos para novas operações de crédito em favor de famílias sem casa própria.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.509.933-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 4/10/2016 (Info 592).

É nula a cláusula que limite o valor da indenização na hipótese de eventual furto, roubo ou extravio do bem
empenhado
Súmula 638-STJ: É abusiva a cláusula contratual que restringe a responsabilidade de instituição financeira
pelos danos decorrentes de roubo, furto ou extravio de bem entregue em garantia no âmbito de contrato de
penhor civil.

Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado


fiduciariamente.

Súmula 92-STJ: A terceiro de boa-fé não é oponível a alienação fiduciária não anotada no certificado de
registro do veículo automotor.

Súmula 564-STJ: No caso de reintegração de posse em arrendamento mercantil financeiro, quando a soma da
importância antecipada a título de valor residual garantido (VRG) com o valor da venda do bem ultrapassar o
total do VRG previsto contratualmente, o arrendatário terá direito de receber a respectiva diferença, cabendo,
porém, se estipulado no contrato, o prévio desconto de outras despesas ou encargos pactuados.

Súmula 332-STJ: A fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da garantia.

Embriaguez ao volante e agravamento do risco


No seguro de automóvel celebrado por uma empresa com a seguradora, é devida a indenização securitária se
o condutor do veículo (funcionário da empresa segurada) estava embriagado?
• Em regra: NÃO.
• Exceção: será devido o pagamento da indenização se a empresa segurada conseguir provar que o acidente
ocorreria mesmo que o condutor não estivesse embriagado.
Não é devida a indenização securitária decorrente de contrato de seguro de automóvel quando o causador do
sinistro – preposto da empresa segurada – estiver em estado de embriaguez, salvo se o segurado demonstrar
que o infortúnio ocorreria independentemente dessa circunstância.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.485.717-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/11/2016 (Info 594).
Cláusula penal em contratos de serviços advocatícios
Não é possível a estipulação de multa no contrato de honorários para as hipóteses de renúncia ou revogação
unilateral do mandato do advogado, independentemente de motivação, respeitado o direito de recebimento
dos honorários proporcionais ao serviço prestado.
É direito do advogado renunciar ou da parte revogar o mandato a qualquer momento e sem necessidade
de declinar as razões. Isso porque a relação entre advogado e cliente é pautada pela confiança, fidúcia, sendo
um contrato personalíssimo (intuitu personae).
Apesar de o advogado não poder exigir multa pelo fato de o contratante ter revogado o mandato, ele poderá
cobrar o valor dos honorários advocatícios na proporção dos serviços que já foram prestados.
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Cláusula penal em contratos advocatícios:


• é lícita para situações de mora e/ou inadimplemento (ex: multa pelo atraso no pagamento dos honorários).
• não é permitida para as hipóteses de renúncia ou revogação do mandato (ex: multa pelo fato de o cliente
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ter decidido revogar o mandato e constituir outro advogado).


STJ. 4ª Turma. REsp 1.346.171-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/10/2016 (Info 593).

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Em regra, a competência para declarar a nulidade de cláusula de compromisso arbitral é do próprio árbitro
As questões relacionadas à existência de cláusula compromissória válida para fundamentar a instauração do
Juízo arbitral devem ser resolvidas, com primazia, por ele, e não pelo Poder Judiciário.
Nos termos do art. 8º, parágrafo único, da Lei de Arbitragem, a alegação de nulidade da cláusula arbitral, bem
como do contrato que a contém, deve ser submetida, em primeiro lugar, à decisão do próprio árbitro, sendo
prematura a apreciação pelo Poder Judiciário.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.696-PI, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 09/08/2016.

Competência para declarar nulidade de compromisso arbitral patológico


O Poder Judiciário pode decretar a nulidade de cláusula arbitral (compromissória) sem que essa questão tenha
sido apreciada anteriormente pelo próprio árbitro? Regra: Não. Segundo o art. 8º, parágrafo único da Lei de
Arbitragem (Lei nº 9.307/96), antes de judicializar a questão, a parte que deseja arguir a nulidade da cláusula
arbitral deve formular esse pedido ao próprio árbitro (REsp 1.302.900-MG).
Exceção: compromissos arbitrais patológicos. O Poder Judiciário pode, nos casos em que prima facie é
identificado um compromisso arbitral "patológico", isto é, claramente ilegal, declarar a nulidade dessa
cláusula, independentemente do estado em que se encontre o procedimento arbitral.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO


Utilização de Tabela Price nos contratos do SFH
A análise acerca da legalidade da utilização da Tabela Price — mesmo que em abstrato — passa,
necessariamente, pela constatação da eventual capitalização de juros (ou incidência de juros compostos, juros
sobre juros ou anatocismo), que é questão de fato e não de direito, motivo pelo qual não cabe ao STJ tal
apreciação (Súmulas 5 e 7 do STJ). É exatamente por isso que, em contratos cuja capitalização de juros seja
vedada, é necessária a interpretação de cláusulas contratuais e a produção de prova técnica para aferir a
existência da cobrança de juros não lineares, incompatíveis, portanto, com financiamentos celebrados no
âmbito do Sistema Financeiro da Habitação antes da vigência da Lei 11.977⁄2009, que acrescentou o art. 15-
A à Lei nº 4.380⁄1964. Em se verificando que matérias de fato ou eminentemente técnicas foram tratadas
como exclusivamente de direito, reconhece-se o cerceamento para que seja realizada a prova pericial.
STJ. Corte Especial. REsp 1.124.552-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 3/12/2014
(recurso repetitivo) (Info 554).

MP tem legitimidade para ajuizar ACP em defesa de mutuários do SFH


O Ministério Público tem legitimidade ad causam para propor ação civil pública com a finalidade de defender
interesses coletivos e individuais homogêneos dos mutuários do Sistema Financeiro da Habitação.
O STJ entende que os temas relacionados com SFH possuem uma expressão para a coletividade e o interesse
em discussão é socialmente relevante.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).

Sistema de amortização em série gradiente


A utilização do Sistema de Amortização em Série Gradiente em contratos do Sistema Financeiro da Habitação
(SFH) não é incompatível com o Plano de Equivalência Salarial (PES).
Obs: o Sistema de Amortização em Série Gradiente (“Tabela Gradiente”) é uma forma utilizada para calcular
as amortizações dos pagamentos efetuados pelos mutuários nos saldos devedores.
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STJ. 3ª Turma. REsp 1.114.035-PR, Rel. originário Min. Sidnei Beneti, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 552).
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A quitação do saldo residual é de responsabilidade do mutuário nos contratos sem FCVS

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Nos contratos de financiamento celebrados no âmbito do Sistema Financeiro de Habitação (SFH), sem cláusula
de garantia de cobertura do Fundo de Compensação das Variações Salariais (FCVS), o saldo devedor residual
deverá ser suportado pelo mutuário.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.447.108-CE e REsp 1.443.870-PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
22/10/2014 (recurso repetitivo) (Info 550).

Incidência da Lei 10.931/2004 nas ações judiciais que envolvam o SFH


Aplicam-se aos contratos de financiamento imobiliário do Sistema de Financiamento de Habitação (SFH) as
disposições da Lei nº 10.931/2004, mormente as referentes aos requisitos da petição inicial de ação de revisão
de cláusulas contratuais (art. 50).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.163.283-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 7/4/2015 (Info 561).

Inexistência de direito de retenção por benfeitorias realizadas antes de adjudicação de imóvel vinculado ao
SFH
O ex-mutuário de imóvel dado em garantia hipotecária em financiamento do Sistema Financeiro da Habitação
(SFH) não tem direito à retenção pelas benfeitorias realizadas no bem antes da adjudicação.
Quanto às benfeitorias realizadas após a adjudicação, deve-se analisar se há boa-fé ou má-fé na posse.
Havendo má-fé do ex-mutuário possuidor (o que é a regra), ele não tem direito de retenção pelas benfeitorias
realizadas no imóvel após a adjudicação, mas poderá ser indenizado pelas benfeitorias necessárias (art. 1.220
do CC).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.399.143-MS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/6/2016 (Info 585).

É possível a adjudicação direta do imóvel ao credor hipotecário que oferece o preço da avaliação judicial do
bem, independentemente da realização de hasta pública
Em ação de execução hipotecária, o credor hipotecário pode requerer a adjudicação do imóvel penhorado
pelo valor constante do laudo de avaliação, independentemente da realização de hasta pública.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.731-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/11/2018 (Info 640).

Os prejuízos resultantes de sinistros relacionados a vícios estruturais de construção estão acobertados pelo
seguro habitacional obrigatório, vinculado a crédito imobiliário concedido para aquisição de imóvel pelo
SFH
Os vícios estruturais de construção estão cobertos pelo seguro habitacional obrigatório vinculado ao crédito
imobiliário concedido pelo Sistema Financeiro da Habitação - SFH, ainda que só se revelem depois da extinção
do contrato.
No âmbito do SFH, o seguro habitacional ganha conformação diferenciada, uma vez que integra a política
nacional de habitação, destinada a facilitar a aquisição da casa própria, especialmente pelas classes de menor
renda da população. Trata-se, portanto, de contrato obrigatório que visa à proteção da família e à salvaguarda
do imóvel que garante o respectivo financiamento imobiliário, resguardando, assim, os recursos públicos
direcionados à manutenção do sistema.
A partir dessa perspectiva, infere-se que uma das justas expectativas do segurado, ao aderir ao seguro
habitacional obrigatório para aquisição da casa própria pelo SFH, é a de receber o bem imóvel próprio e
adequado ao uso a que se destina. E a essa expectativa legítima de garantia corresponde a de ser devidamente
indenizado pelos prejuízos suportados em decorrência de danos originados na vigência do contrato e
geradores dos riscos cobertos pela seguradora, segundo o previsto na apólice, como razoavelmente se
pressupõe ocorrer com os vícios estruturais de construção.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.804.965-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/05/2020 (Info 672).
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Ação de consignação em pagamento proposta por mutuário regido pelo Plano de Comprometimento da
Renda e que não quer a renegociação da dívida
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No contrato de financiamento habitacional regido pelo Plano de Comprometimento da Renda – PCR (Lei nº
8.692/93) as parcelas que irão ser pagas pelo mutuário deverão ser fixadas em um valor que não ultrapasse
30% da sua renda bruta mensal.
Em caso de redução da renda, a Lei determina que o mutuário deverá procurar a instituição financeira e
renegociar as condições de amortização. Assim, a parcela irá ser reduzida para ficar no máximo legal, mas
haverá dilação do prazo de liquidação do financiamento.
Determinado mutuário adquiriu uma casa por meio de financiamento bancário regido pelo SFH em
conformidade com o PCR. Houve uma redução de sua renda mensal e, em razão disso, ele ajuizou ação de
consignação em pagamento pedindo a quitação e extinção de suas obrigações tão somente por meio da
consignação dos valores que ele unilateralmente entende como devidos.
Esta ação deverá ser julgada improcedente. A solução prevista pela Lei para esta situação é a renegociação da
dívida, com a redução negociada das parcelas mediante prolongamento do prazo de pagamento.
STJ. 4ª Turma. REsp 886.846-DF, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 7/6/2016 (Info 586).

Exigência de acordo entre o credor e o devedor na escolha do agente fiduciário


Súmula 586-STJ: A exigência de acordo entre o credor e o devedor na escolha do agente fiduciário aplica-se,
exclusivamente, aos contratos não vinculados ao Sistema Financeiro da Habitação – SFH.

Imóveis vinculados ao SFH não são suscetíveis de usucapião


O imóvel da Caixa Econômica Federal vinculado ao Sistema Financeiro de Habitação, porque afetado à
prestação de serviço público, deve ser tratado como bem público, sendo, pois, imprescritível (insuscetível
de usucapião).
STJ. 3ª Turma. REsp 1448026/PE, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/11/2016.

É de 1 ano o prazo prescricional das ações do segurado/mutuário contra a seguradora pedindo a cobertura
de sinistro relacionado a contrato de mútuo firmado no SFH
Aplica-se a prescrição ânua do art. 206, § 1º, II, "b", do Código Civil para a ação proposta pelo
mutuário/segurado para recebimento da indenização do seguro adjeto a contrato de mútuo habitacional
(SFH).
O termo inicial da prescrição conta-se da data da ciência inequívoca da incapacidade do segurado (Súmula 278
do STJ).
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1420961/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/05/2017.

Súmula 308-STJ: A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à
celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel.

Súmula 199-STJ: Na execução hipotecária de crédito vinculado ao sistema financeiro da habitação, nos termos
da Lei nº 5.741/71, a petição inicial deve ser instruída com, pelo menos, dois avisos de cobrança.

Súmula 454-STJ: Pactuada a correção monetária nos contratos do SFH pelo mesmo índice aplicável à
caderneta de poupança, incide a taxa referencial (TR) a partir da vigência da Lei nº 8.177/1991.

Súmula 31-STJ: A aquisição, pelo segurado, de mais de um imóvel financiado pelo Sistema Financeiro da
Habitação, situados na mesma localidade, não exime a seguradora da obrigação de pagamento dos seguros.

Súmula 450-STJ: Nos contratos vinculados ao SFH, a atualização do saldo devedor antecede sua amortização
172

pelo pagamento da prestação.


Súmula 422-STJ: O art. 6º, e, da Lei n. 4.380/1964 não estabelece limitação aos juros remuneratórios nos
contratos vinculados ao SFH.
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Súmula 327-STJ: Nas ações referentes ao Sistema Financeiro da Habitação, a Caixa Econômica Federal tem
legitimidade como sucessora do Banco Nacional da Habitação.

Súmula 473-STJ: O mutuário do SFH não pode ser compelido a contratar o seguro habitacional obrigatório
com a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela indicada.

USUCAPIÃO
É possível o reconhecimento da usucapião de bem imóvel com a implementação do requisito temporal no
curso da demanda
É possível o reconhecimento da usucapião quando o prazo exigido por lei se complete no curso do processo
judicial, conforme a previsão do art. 493, do CPC/2015, ainda que o réu tenha apresentado contestação.
Em março de 2017, João ajuizou ação pedindo o reconhecimento de usucapião especial urbana, nos termos
do art. 1.240 do CC (que exige posse ininterrupta e sem oposição por 5 anos). Em abril de 2017, o proprietário
apresentou contestação pedindo a improcedência da demanda. As testemunhas e as provas documentais
atestaram que João reside no imóvel desde setembro de 2012, ou seja, quando o autor deu entrada na ação,
ainda não havia mais de 5 anos de posse. Em novembro de 2017, os autos foram conclusos ao juiz para
sentença. O magistrado deverá julgar o pedido procedente considerando que o prazo exigido por lei para a
usucapião se completou no curso do processo.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.361.226-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/06/2018 (Info 630).

Súmula 237-STF: O usucapião pode ser arguido em defesa.

Súmula 11-STJ: A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial, não afasta
a competência do foro da situação do imóvel.

Súmula 391-STF: O confinante certo deve ser citado pessoalmente para a ação de usucapião.

A Lei nº 12.853/2013, que modificou a Lei dos Direitos Autorais, é constitucional


A Lei nº 9.610/98 regulamenta os direitos autorais no Brasil.
A Lei nº 12.853/2013 modificou a Lei nº 9.610/98 com o objetivo de alterar diversas regras sobre a gestão
coletiva dos direitos autorais.
Foram ajuizadas duas ações diretas de inconstitucionalidade contra a novidade legislativa.
O STF, contudo, julgou as ações inteiramente improcedentes, afirmando que as alterações implementadas
pela Lei nº 12.853/2013 são válidas e não violam a Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5062/DF e ADI 5065/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgados em 27/10/2016 (Info 845).

Responsabilidade pelo pagamento de direitos autorais decorrentes de evento executado por sociedade
empresária contratada mediante licitação
Se o Município contratou, mediante licitação, uma empresa para a realização do evento, será dela a
responsabilidade pelo pagamento dos direitos autorais.
Exceções: esta responsabilidade poderá ser transferida para o Município em duas hipóteses:
1) se ficar demonstrado que o Poder Público colaborou direta ou indiretamente para a execução do
espetáculo; ou
2) se ficar comprovado que o Município teve culpa em seu dever de fiscalizar o cumprimento do contrato
público (culpa in eligendo ou in vigilando).
Em síntese: no caso em que sociedade empresária tenha sido contratada mediante licitação para a execução
173

integral de evento festivo promovido pelo Poder Público, a contratada - e não o ente que apenas a contratou,
sem colaborar direta ou indiretamente para a execução do espetáculo - será responsável pelo pagamento dos
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direitos autorais referentes às obras musicais executadas no evento, salvo se comprovada a ação culposa do

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contratante quanto ao dever de fiscalizar o cumprimento dos contratos públicos (culpa in eligendo ou in
vigilando).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.957-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016 (Info 588).

É indevida a cobrança de direitos autorais em caso de festa junina promovida pela escola com fins didáticos,
pedagógicos e de integração, sem intuito de lucro
É indevida a cobrança de direitos autorais pela execução, sem autorização prévia dos titulares dos direitos
autorais ou de seus substitutos, de músicas folclóricas e culturais em festa junina realizada no interior de
estabelecimento de ensino, na hipótese em que o evento tenha sido organizado como parte de projeto
pedagógico, reunindo pais, alunos e professores, com vistas à integração escola-família, sem venda de
ingressos e sem a utilização econômica das obras.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.575.225-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/6/2016 (Info 587).

Usucapião especial urbana e possibilidade de a área do imóvel ser inferior ao "módulo urbano"
Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião especial urbana, prevista no art.
183 da CF/88. Ocorre que o juiz negou o pedido alegando que o plano diretor da cidade proíbe a existência de
imóveis urbanos registrados com metragem inferior a 100m2. Em outras palavras, fixou que o módulo mínimo
dos lotes urbanos naquele Município seria de 100m2 e, como a área ocupada pela pessoa seria menor que
isso, ela não poderia registrar o imóvel em seu nome.
A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na lei municipal impede que a pessoa
tenha direito à usucapião especial urbana?
NÃO. Se forem preenchidos os requisitos do art. 183 da CF/88, a pessoa terá direito à usucapião especial
urbana e o fato de o imóvel em questão não atender ao mínimo dos módulos urbanos exigidos pela legislação
local para a respectiva área (dimensão do lote) não é motivo suficiente para se negar esse direito, que tem
índole constitucional.
Para que seja deferido o direito à usucapião especial urbana basta o preenchimento dos requisitos exigidos
pelo texto constitucional, de modo que não se pode impor obstáculos, de índole infraconstitucional, para
impedir que se aperfeiçoe, em favor de parte interessada, o modo originário de aquisição de propriedade.
STF. Plenário. RE 422349/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/4/2015 (repercussão geral) (Info 783).

Usucapião especial rural e área do imóvel inferior ao módulo rural


Determinada pessoa preencheu os requisitos para obter o direito à usucapião especial rural, prevista no art.
191 da CF/88. Ocorre que o juiz negou o pedido alegando que a área usucapienda era muito inferior ao mínimo
legal permitido para desmembramento ou divisão de gleba rural. Em outras palavras, o magistrado
argumentou, que apesar de o autor preencher os requisitos constitucionais, a legislação não permite que uma
área tão pequena seja desmembrada e se torne um imóvel com matrícula própria.
A decisão do magistrado está correta? O fato de haver essa limitação na legislação infraconstitucional impede
que a pessoa tenha direito à usucapião especial rural?
NÃO. Presentes os requisitos exigidos no art. 191 da CF/88, o imóvel rural cuja área seja inferior ao "módulo
rural" estabelecido para a região poderá ser adquirido por meio de usucapião especial rural.
A CF/88, ao instituir a usucapião rural, prescreveu um limite máximo de área a ser usucapida, sem impor um
tamanho mínimo. Assim, estando presentes todos os requisitos exigidos pelo texto constitucional, não se pode
negar a usucapião alegando que o imóvel é inferior ao módulo rural previsto para a região.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.040.296-ES, Rel. originário Min. Marco Buzzi, Rel. para acórdão Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 2/6/2015 (Info 566).
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Particular que ocupa bem público dominical poderá ajuizar ações possessórias para defender a sua
permanência no local?
1) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face do PODER PÚBLICO: não é possível.
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Não terá direito à proteção possessória. Não poderá exercer interditos possessórios porque, perante o Poder
Público, ele exerce mera detenção.

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2) particular invade imóvel público e deseja proteção possessória em face de outro PARTICULAR: terá direito,
em tese, à proteção possessória. É possível o manejo de interditos possessórios em litígio entre particulares
sobre bem público dominical, pois entre ambos a disputa será relativa à posse.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.296.964-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).

Ação possessória entre particulares e possibilidade de oposição do ente público


Súmula 637-STJ: O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação
possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o
domínio.
STJ. Corte Especial. Aprovada em 07/11/2019.

Não cabe oposição em ação de usucapião


Não cabe intervenção de terceiros na modalidade de oposição na ação de usucapião.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.726.292-CE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/02/2019 (Info 642).

Não é possível o reconhecimento de ofício do direito ao recebimento de indenização por benfeitorias úteis
ou necessárias em ação possessória
STJ. 3ª Turma. REsp 1.836.846-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 680).

O interesse jurídico no ajuizamento direto de ação de usucapião independe de prévio pedido na via
extrajudicial
A tentativa de usucapião extrajudicial não é condição indispensável para o ajuizamento da ação de
usucapião.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.824.133-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

Devedor que perdeu o veículo tem direito de retirar aparelhos instalados no carro para permitir a direção
por deficiente físico
Havendo adaptação de veículo, em momento posterior à celebração do pacto fiduciário, com aparelhos para
direção por deficiente físico, o devedor fiduciante tem direito a retirá-los quando houver o descumprimento
do pacto e a consequente busca e apreensão do bem.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.305.183-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/10/2016 (Info 594).

Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado


Segundo a redação literal da súmula 486-STJ, "é impenhorável o único imóvel RESIDENCIAL do devedor que
esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família."
A 2ª Turma do STJ, contudo, ampliou esta proteção e decidiu que também é impenhorável o único imóvel
COMERCIAL do devedor que esteja alugado quando o valor do aluguel é destinado unicamente ao pagamento
de locação residencial por sua entidade familiar.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.616.475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

O terreno cuja unidade habitacional está em fase de construção, para fins de residência, está protegido pela
impenhorabilidade por dívidas, por se considerar antecipadamente bem de família
A obra inacabada já se presume como residência e deve ser protegida. Para fins de proteção do bem de família,
deve-se adotar uma interpretação finalística e valorativa da Lei nº 8.009/90, uma interpretação que leve em
consideração o contexto sociocultural e econômico do País.
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Diante disso, o imóvel adquirido para o escopo de moradia futura, ainda que não esteja a unidade habitacional
pronta - por estar em etapa preliminar de obra, sem condições para qualquer cidadão nela residir -, fica
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excluído da constrição judicial, uma vez que a situação econômico-financeira vivenciada por boa parte da
população brasileira evidencia que a etapa de construção imobiliária, muitas vezes, leva anos de árduo esforço

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e constante trabalho para a sua concretização, para fins residenciais próprios ou para obtenção de frutos civis
voltados à subsistência e moradia em imóvel locado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1960026-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/10/2022 (Info 753).

A prescrição somente obsta a compensação se for anterior ao momento da coexistência das dívidas
Caso hipotético: João deve R$ 100 mil a Pedro. Essa dívida surgiu em 2018. Como não houve o pagamento,
em 2022, Pedro ajuizou ação de cobrança contra ele. Ao ser citado, João apresentou contestação admitindo
que existe a dívida. Alegou, contudo, que Pedro também lhe deve R$ 80 mil. Essa dívida surgiu em 2014. Diante
disso, João pediu a compensação das obrigações e que, ao final, só tenha que pagar R$ 20 mil. Pedro se
insurgiu contra isso argumentando que esses R$ 80 mil que João está cobrando estão prescritos desde 2019.
Logo, não é mais possível exigir a quantia ainda que para fins de compensação. O argumento de Pedro deve
ser acolhido?
Não. A prescrição somente obstará (impedirá) a compensação se ela for anterior ao momento da coexistência
das dívidas. Se o prazo prescricional se completou posteriormente a esse fato, tal circunstância não constitui
empecilho à compensação dos débitos. Foi justamente o exemplo dado acima. No momento em que surgiu a
dívida de João para com Pedro (2018), a dívida de Pedro para com João ainda existia. Logo, houve um período
de coexistência de dívidas exigíveis.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.969.468-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/02/2022 (Info 726).

Bem de família ocupado por familiar


Se o executado possui um único imóvel residencial, mas quem mora nele é um parente (ex.: filho), mesmo
assim esse imóvel será considerado como bem de família, sendo impenhorável.
Em outras palavras, constitui bem de família, insuscetível de penhora, o único imóvel residencial do devedor
em que resida seu familiar, ainda que o proprietário nele não habite.
STJ. 2ª Seção. EREsp 1.216.187-SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 14/5/2014 (Info 543).

Impenhorabilidade do imóvel em nome da sociedade empresária, mas no qual reside o sócio


A impenhorabilidade do bem de família no qual reside o sócio devedor não é afastada pelo fato de o imóvel
pertencer à sociedade empresária.
STJ. 4ª Turma. EDcl no AREsp 511.486-SC, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 3/3/2016 (Info 579).

É impenhorável o bem de família oferecido como caução em contrato de locação comercial. Isso porque a
exceção prevista no art. 3º, VII, da Lei nº 8.009/90 não se aplica à hipótese de caução, mas apenas para os
casos de fiança.
O instituto do bem de família é um corolário da dignidade da pessoa humana e tem o condão de proteger o
direito fundamental à moradia (arts. 1º, III, e 6º da Constituição Federal).
Assim, o imóvel no qual reside o sócio não pode, em regra, ser objeto de penhora pelo simples fato de
pertencer à pessoa jurídica, ainda mais quando se trata de sociedades empresárias de pequeno porte. Em tais
situações, mesmo que no plano legal o patrimônio de um e outro sejam distintos - sócio e sociedade -, é
comum que tais bens, no plano fático, sejam utilizados indistintamente pelos dois.
Se a lei tem por escopo a ampla proteção ao direito de moradia, o fato de o imóvel ter sido objeto de caução,
não retira a proteção somente porque pertence à pequena sociedade empresária. Caso contrário, haveria o
esvaziamento da salvaguarda legal e daria maior relevância do direito de crédito em detrimento da utilização
do bem como residência pelo sócio e por sua família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1935563-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 03/05/2022 (Info 735).
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Proprietário que aceita que seu bem de família sirva como garantia de um contrato de alienação fiduciária
em garantia não pode, posteriormente, alegar que esse ato de disposição foi ilegal
A proteção legal conferida ao bem de família pela Lei nº 8.009/90 não pode ser afastada por renúncia do
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devedor ao privilégio, pois é princípio de ordem pública, prevalente sobre a vontade manifestada.

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A despeito disso, o bem de família legal não gera inalienabilidade. Logo, é possível que o proprietário pratique
atos de disposição dele, podendo, por exemplo, oferecê-lo como objeto de alienação fiduciária em garantia.
A utilização abusiva do direito à proteção do bem de família viola o princípio da boa-fé objetiva e, portanto,
não deve ser tolerada. Assim, deve ser afastado o benefício conferido ao titular do bem de família que exerce
o direito em desconformidade com o ordenamento jurídico.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.595.832-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 29/10/2019 (Info 664).

Possibilidade de penhora do bem de família do fiador


Súmula 549-STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação.

A penhorabilidade de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação também se aplica no caso
de locação de imóvel comercial
É constitucional a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação, seja residencial,
seja comercial.
STF. Plenário. RE 1307334/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 8/3/2022 (Repercussão Geral –
Tema 1127) (Info 1046).

O crédito oriundo de contrato de empreitada para a construção, ainda que parcial, de imóvel residencial,
encontra-se nas exceções legais à impenhorabilidade do bem de família
O crédito oriundo de contrato de empreitada para a construção, ainda que parcial, de imóvel residencial,
encontra-se nas exceções legais à impenhorabilidade do bem de família.
Ex: João comprou uma casa antiga para reformar e passar a morar ali com a família. Ele contratou a empresa
FB Engenharia para fazer a reforma. A empresa terminou o serviço e João passou a residir no local. Ocorre que
ele não pagou as últimas parcelas do contrato com a empresa e ficou devendo R$ 40 mil, materializado em
notas promissórias. O imóvel onde João reside poderá ser penhorado para pagar a dívida, sendo essa uma
exceção à impenhorabilidade do bem de família. Fundamento: art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90.
Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária,
trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido: (...) II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento
destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função
do respectivo contrato;
STJ. 4ª Turma. REsp 1.221.372-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/10/2019 (Info 658).

Não se pode penhorar o bem de família com base no inciso IV do art. 3º da Lei 8.009/90 se o débito de
natureza tributária está relacionado com outro imóvel que pertencia ao devedor
Para a aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90
é preciso que o débito de natureza tributária seja proveniente do próprio imóvel que se pretende penhorar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.332.071-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/02/2020 (Info 665).

Bem de família dado em garantia hipotecária


É possível a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges forem os
únicos sócios da pessoa jurídica devedora.
STJ. 2ª Seção. EAREsp 848.498-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/04/2018 (Info 627).

Para a incidência da exceção à impenhorabilidade do bem de família, prevista no art. 3º, VI, da Lei nº
8.009/90, é imprescindível a sentença penal condenatória transitada em julgado
STJ. 3ª Turma. REsp 1.823.159-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/10/2020 (Info 681).
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Imóvel bem de família oferecido como caução imobiliária em contrato de locação não pode ser objeto de
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penhora
STJ. 3ª Turma. REsp 1.873.203-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/11/2020 (Info 683).

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Súmula 364-STJ: O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente
a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

Súmula 449-STJ: A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de
família para efeito de penhora.

Súmula 486-STJ: É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde
que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a moradia da sua família.

Súmula 205-STJ: A Lei 8.009/90 aplica-se à penhora realizada antes de sua vigência.
Aprovada em 01/04/1998, DJ 16/04/1998.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Em ação de cobrança de valores pretéritos ao ajuizamento de anterior mandado de segurança, os juros de
mora devem ser contados a partir da citação da ação de cobrança ou a partir da notificação da autoridade
coatora no writ?
O termo inicial dos juros de mora, em ação de cobrança de valores pretéritos ao ajuizamento de anterior
mandado de segurança que reconheceu o direito, é a data da notificação da autoridade coatora no mandado
de segurança, quando o devedor é constituído em mora (arts. 405 do Código Civil e 240 do CPC).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.925.235-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 10/5/2023 (Recurso Repetitivo –
Tema 1133) (Info 774).

O imóvel penhorado para pagamento da dívida deve ser avaliado necessariamente por perícia, não sendo
possível que seu valor seja fixado pelo próprio julgador com base nas regras de experiência comum previstas
no art. 375 do CPC
As regras (ou máximas) da experiência designam um conjunto de juízos que podem ser formulados pelo
homem médio a partir da observação do que normalmente acontece. Reúnem proposições muito variadas,
que vão desde conhecimentos científicos consolidados como o de que corpos metálicos dilatam no calor até
convenções mais ou menos generalizadas, como a de que as praias são mais frequentadas aos finais de
semana.
Muito embora constituam um conhecimento próprio do juiz, não se confundem com o conhecimento pessoal
que ele tem a respeito de algum fato concreto, em relação ao qual, exige-se, de qualquer forma, a produção
de prova específica, sob o crivo do contraditório.
Ainda que se possa admitir que o julgador, por conhecer o mercado imobiliário local e também o imóvel
penhorado, pudesse saber o seu real valor, não há como afirmar que essa seja uma informação de
conhecimento público. Logo, não se pode sustentar que o bem penhorado possa ser avaliado sem produção
de prova pericial, pelo próprio julgador, com base no art. 375 do CPC.
Em suma: o conhecimento técnico ou científico de juiz sobre determinado mercado imobiliário não pode ser
equiparado às regras de experiência comum previstas no art. 375 do CPC, sendo indispensável a realização de
perícia para avaliar bem imóvel objeto de penhora.
STJ. 3ª Turma.REsp 1.786.046-RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 9/5/2023 (Info 774).

A competência para julgamento de ação de indenização por danos morais, decorrente de ofensas proferidas
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em rede social, é do foro do domicílio da vítima, em razão da ampla divulgação do ato ilícito
Caso adaptado: João, morador de Artur Nogueira (SP), gravou e divulgou, no WhatsApp, um vídeo contendo
xingamentos e ameaças contra um determinado político.
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O político ofendido ingressou com ação de indenização por danos morais contra João.A ação foi proposta na
vara cível da comarca de São Bernardo do Campo (SP), domicílio do autor.
O requerido apresentou contestação suscitando a incompetência e afirmando que a ação deveria ser julgada
no foro do Município onde o vídeo foi produzido e divulgado, ou seja, em Artur Nogueira (SP), que também é
o foro do domicílio do réu. Logo, seja com base no art. 46 do CPC, seja com fundamento no art. 53, IV, “a”,
também do CPC, a competência para julgar o caso seria da comarca de Artur Nogueira (SP).
O STJ não concordou com os argumentos do réu e confirmou a competência do juízo de São Bernardo do
Campo (SP).
A competência para julgamento de ação de indenização por danos morais, decorrente de ofensas proferidas
em rede social, é do foro do domicílio da vítima, em razão da ampla divulgação do ato ilícito.
STJ. 4ª Turma. REsp 2.032.427-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 27/4/2023 (Info 774).

O crédito inscrito em precatório oriundo de ação previdenciária pode ser objeto de cessão a terceiros
Caso adaptado: João ingressou com ação contra o INSS pedindo a concessão de aposentadoria e o pagamento
das parcelas pretéritas dos últimos 5 anos. O pedido foi julgado procedente e transitou em julgado.
João precisa urgentemente do dinheiro e não pode esperar mais nada. Diante disso, ele cedeu (“vendeu”) o
precatório para uma empresa.O negócio jurídico foi comunicado ao juízo, conforme determina o § 14 do art.
100 da CF/88.
O juízo, de ofício, indeferiu a cessão, argumentando que isso seria proibido pelo art. 114 da Lei nº 8.213/91:
Art. 114. Salvo quanto a valor devido à Previdência Social e a desconto autorizado por esta Lei, ou derivado da
obrigação de prestar alimentos reconhecida em sentença judicial, o benefício não pode ser objeto de penhora,
arresto ou sequestro, sendo nula de pleno direito a sua venda ou cessão (...)
A empresa recorreu afirmando que: i) a cessão das prestações pretéritas é permitida; ii) o juiz não poderia, de
ofício, ou seja, sem provocação da parte contrária, analisar a legalidade da cessão do precatório.
A cessão do crédito é permitida? Sim.
A cessão de créditos inscritos em precatórios, autorizada pelo art. 100, §§ 13 e 14, da CF/88, permite ao credor,
mediante negociações entabuladas com eventuais interessados na aquisição do direito creditício com deságio,
a percepção imediata de valores que somente seriam obtidos quando da quitação da dívida pelo Poder
Público, cujo notório inadimplemento fomenta a instituição de mercado dos respectivos títulos, abrangendo,
inclusive, as parcelas de natureza alimentar.
O princípio da intangibilidade das prestações da Previdência Social, previsto no art. 114 da Lei nº 8.213/91,
veda a cessão dos benefícios previdenciários, obstando, por conseguinte, a alienação ou transmissão irrestrita
de direitos personalíssimos e indisponíveis. Esse art. 114, contudo, não impede que o titular de crédito inscrito
em precatório, inclusive oriundo de ação previdenciária, possa ceder o crédito das prestações atrasadas para
terceiros. Isso porque se trata de direito patrimonial disponível passível de livre negociação.
Em tese, o juízo poderia ter analisado e rejeitado a cessão de ofício?Sim.
A possibilidade de cessão de precatórios decorrentes de ações previdenciárias não impede o juiz de controlar
ex officio a validade de sua transmissão, negando a produção de efeitos a negócios jurídicos eivados de
nulidade, independentemente de ajuizamento de ação própria, como dispõe o art. 168, parágrafo único, do
Código Civil.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.896.515-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 11/4/2023 (Info 771).

Após a alteração do art. 921, § 5º, do CPC/2015, promovida pela Lei 14.195/2021, o reconhecimento da
prescrição intercorrente e a consequente extinção do processo obstam a condenação da parte que deu causa
à ação ao pagamento de honorários sucumbenciais
Antes da Lei 14.195/2021:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer
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a prescrição de que trata o § 4º e extinguir o processo.


Assim, o STJ dizia que, com base no princípio da causalidade, o executado deveria arcar com o pagamento dos
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honorários e das custas processuais.

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Depois da Lei 14.195/2021:
Art. 921 (...) § 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer
a prescrição no curso do processo e extingui-lo, sem ônus para as partes.
Nas hipóteses em que extinto o processo com resolução do mérito, em razão do reconhecimento da prescrição
intercorrente, é de ser reconhecida a ausência de ônus às partes, a importar condenação nenhuma em custas
e honorários sucumbenciais. Em outras palavras, sendo reconhecida a prescrição intercorrente, nem o
exequente nem o executado pagarão custas ou honorários advocatícios de sucumbência.
Essa alteração se aplica para os processos que se iniciaram antes da Lei 14.195/2021?
Sim, desde que a sentença seja prolatada a partir de 26/8/2021, data em que entrou em vigor a Lei
14.195/2021.
A legislação que versa sobre honorários advocatícios possui natureza híbrida (material-processual), de modo
que o marco temporal para a aplicação das novas regras sucumbenciais deve ser a data de prolação da
sentença (ou ato jurisdicional equivalente, quando diante de processo de competência originária de Tribunal).
STJ. 3ª Turma. REsp 2025303-DF, Rel. Ministra Nancy Andrighi, julgado em 8/11/2022 (Info 759).

É inviável a intervenção anômala da União na fase de execução ou no processo executivo, salvo na ação
cognitiva incidental de embargos
Caso hipotético: o Banco do Brasil (sociedade de economia mista federal) ajuizou execução contra a empresa
Gama. O juiz determinou a penhora de imóveis pertencentes à devedora. A União pediu seu ingresso no
processo com base na intervenção anômala prevista no art. 5º, parágrafo único, da Lei nº 9.469/97: “As
pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos,
de natureza econômica, intervir, independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer
questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria
e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas
partes.”
O pedido não deve ser aceito. Isso porque essa intervenção anômala não é cabível no processo de execução,
salvo na ação cognitiva incidental de embargos.
Para a admissão da intervenção de terceiros na modalidade assistência, é antecedente necessário a existência
de causa pendente, ou seja, causa (discussão de cognição) cuja decisão final não tenha transitado em julgado.
No processo executivo, salvo eventual discussão travada em embargos à execução, não existe causa pendente.
Logo, não cabe a intervenção anômala.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1838866-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/08/2022 (Info 754).

Ao editar norma própria, o ente federado, desde que em consonância com sua capacidade econômica e com
o princípio da proporcionalidade, pode estabelecer quantia inferior à prevista no art. 87 do ADCT como teto
para pagamento da RPV
(I) As unidades federadas podem fixar os limites das respectivas requisições de pequeno valor em patamares
inferiores aos previstos no artigo 87 do ADCT, desde que o façam em consonância com sua capacidade
econômica.
(II) A aferição da capacidade econômica, para este fim, deve refletir não somente a receita, mas igualmente
os graus de endividamento e de litigiosidade do ente federado.
(III) A ausência de demonstração concreta da desproporcionalidade na fixação do teto das requisições de
pequeno valor impõe a deferência do Poder Judiciário ao juízo político-administrativo externado pela
legislação local.
STF. Plenário. RE 1359139/CE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 1/9/2022 (Repercussão Geral – Tema 1231) (Info
1066).
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É constitucional o art. 139, IV, do CPC, que prevê medidas atípicas destinadas a assegurar a efetivação dos
julgados
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São constitucionais — desde que respeitados os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os
valores especificados no próprio ordenamento processual, em especial os princípios da proporcionalidade e

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da razoabilidade — as medidas atípicas previstas no CPC/2015 destinadas a assegurar a efetivação dos
julgados.
STF. Plenário. ADI 5941/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/02/2023 (Info 1082).

A suspensão do cumprimento de sentença, em virtude da ausência de bens passíveis de excussão, por longo
período de tempo, sem diligência por parte do credor, não configura supressio, de modo que não obsta a
fluência dos juros e da correção monetária
A supressio consubstancia-se na impossibilidade de se exercer um direito por parte de seu titular em razão de
seu não exercício por certo período variável de tempo e que, em razão desta omissão, gera da parte contrária
uma expectativa legítima de que não seria mais exigível. Não se confunde com a prescrição e com a
decadência, institutos pelos quais se opera a extinção da pretensão ou do direito potestativo pela simples
passagem do tempo.
A suspensão da execução ou do cumprimento de sentença, em virtude da ausência de bens passíveis de
excussão, por longo período de tempo, sem nenhuma diligência por parte do credor, não pode dar ensejo à
suspensão da fluência dos juros e da correção monetária pela configuração da supressio, porquanto a
pendência da ação que busca a concretização do título judicial impede que se gere no devedor a expectativa
de inexigibilidade do débito.
STJ. 4ª Turma. REsp 1717144-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 14/2/2023 (Info 765).

Cabe agravo de instrumento contra a decisão que declara a inexigibilidade parcial da execução
A decisão que declara a inexigibilidade parcial da execução é recorrível mediante agravo de instrumento,
configurando erro grosseiro a interposição de apelação, o que inviabiliza a aplicação do princípio da
fungibilidade recursal.
STJ. 2ª Turma. REsp 1947309-BA, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 7/2/2023 (Info 763).

Na hipótese de execução de dívida de natureza não alimentar, é possível a penhora de salário, ainda que
este não exceda 50 salários mínimos, quando garantido o mínimo necessário para a subsistência digna do
devedor e de sua família
Regra: os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria,
as pensões, os pecúlios, os montepios etc. são, como regra geral, impenhoráveis.
Exceções expressas (§ 2º do art. 833 do CPC):
1) é possível a penhora das verbas salariais para pagamento de prestação alimentícia (qualquer que seja a sua
origem, ou seja, pode ser pensão alimentícia decorrente de poder familiar, de parentesco ou mesmo derivada
de um ato ilícito).
2) é possível a penhora sobre o montante que exceder 50 salários-mínimos.
Exceção implícita: é permitida a penhora para satisfação de dívida de natureza não alimentar, desde que a
quantia bloqueada se revele razoável em relação à remuneração recebida pelo executado, não afrontando a
dignidade ou a subsistência do devedor e de sua família.
STJ. Corte Especial.EREsp 1.874.222-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 19/4/2023 (Info 771).

Em regra, não é possível o bloqueio de ativos financeiros via Bacen Jud antes da citação
Apenas quando o executado for validamente citado, e não pagar nem nomear bens à penhora, é que poderá
ter seus ativos financeiros bloqueados por meio do sistema Bacen-Jud, sob pena de violação ao princípio do
devido processo legal.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1933725/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 27/9/2021.
181

O CPC/2015 não alterou a natureza jurídica do bloqueio de dinheiro via Bacen Jud, permanecendo a natureza
acautelatória e a necessidade de comprovação dos requisitos para sua efetivação em momento anterior à
citação.
Página

STJ. 2ª Turma. REsp 1664465-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 02/08/2022 (Info 743).

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Em ação rescisória, o depósito prévio não pode ser realizado por outros meios senão em dinheiro
O art. 968, II, do CPC determina que o autor da ação rescisória deverá realizar um depósito no valor de 5% do
valor da causa. Essa quantia se converterá em multa e será revertida em favor da parte contrária caso a ação
rescisória, por unanimidade de votos, seja: a) declarada inadmissível; ou b) julgada improcedente.
O depósito prévio de que trata o art. 968, II, do CPC precisa ser obrigatoriamente em dinheiro.
O art. 968, II, do CPC/2015 utiliza o verbo “depositar” e o objeto direto “importância”, razão pela qual se pode
concluir que ele se refere à quantia em espécie (dinheiro). Logo, é inviável a sua ampliação para se permitir o
depósito por outros meios que não sejam em dinheiro.
Se a intenção do legislador fosse admitir outros meios, isso teria ficado mais claro, como foi feito, por exemplo,
na redação do § 1º do art. 919 do CPC/2015.
STJ. 4ª Turma. REsp 1871477-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 13/12/2022 (Info 761).

A apresentação de nova prova é um vício rescisório quando, apesar de preexistente ao julgado, não foi
juntada ao processo originário pelo interessado por desconhecimento ou por impossibilidade
O documento novo apto a aparelhar a ação rescisória, fundada no art. 966, VII, do CPC/2015, é aquele que, já
existente à época da decisão rescindenda, era ignorado pelo autor ou do qual não pôde fazer uso, capaz de
assegurar, por si só, a procedência do pedido.
STJ. 1ª Seção. AR 5196-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 14/12/2022 (Info 762).

Não cabe multa diária para forçar o cumprimento de uma obrigação de pagar quantia
A fixação da multa diária só tem espaço no plano das obrigações de fazer e não fazer, sendo vedada sua
utilização no campo das obrigações de pagar.
STJ. 1ª Turma. REsp 1747877-GO, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 20/9/2022 (Info Especial 8).

A realização do julgamento na modalidade virtual, ainda que haja expressa e tempestiva oposição de parte
no processo, não acarreta a sua nulidade
A realização do julgamento na modalidade virtual não acarreta a sua nulidade, porquanto se trata de
providência que está de acordo com os princípios da colegialidade, da adequada duração do processo e do
devido processo legal.
Não há, no ordenamento jurídico vigente, o direito de exigir que o julgamento ocorra por meio de sessão
presencial. Portanto, o fato de o julgamento ter sido realizado de forma virtual, mesmo com a oposição
expressa e tempestiva da parte, não é, por si só, causa de nulidade.
A realização do julgamento por meio virtual, mesmo com a oposição pela parte, não gera, em regra, prejuízo
nas hipóteses em que não há previsão legal ou regimental de sustentação oral, sendo imprescindível, para a
decretação de eventual nulidade, a comprovação de efetivo prejuízo na situação concreta.
Além disso, mesmo quando há o direito de sustentação oral, se o seu exercício for garantido e viabilizado na
modalidade de julgamento virtual, não haverá qualquer prejuízo ou nulidade, ainda que a parte se oponha a
essa forma de julgamento, porquanto o direito de sustentar oralmente as suas razões não significa o de,
necessariamente, o fazer de forma presencial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1995565-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2022 (Info 762).

Hipótese em que o vício indicado pela parte configura a denominada “nulidade de algibeira”, que não é
aceita pela jurisprudência do STJ
Em regra, é necessária a intimação do terceiro titular de direito real (v.g. usufrutuário) acerca da penhora e da
alienação judicial do bem gravado com tal direito, na forma dos arts. 799, II, e 889, III, do CPC/2015.
182

Na situação julgada, contudo, as peculiaridades do caso concreto revelam que a falta de intimação do
usufrutuário acerca da penhora e da arrematação do imóvel constitui vício que já poderia ter sido alegado,
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tendo o usufrutuário retardado indevidamente essa alegação.

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Hipótese em que o vício indicado configura a denominada “nulidade de algibeira”, que deve ser rechaçada em
virtude do dever imposto a todos aqueles que participam do processo, de proceder com lealdade e boa-fé.
STJ. 3ª Turma. REsp 2000959-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 4/10/2022 (Info Especial 9).

Não é cabível a instauração de incidente de assunção de competência (IAC) enquanto a questão de direito
não tiver sido objeto de debates, com a formação de um entendimento firme e sedimentado, nos termos do
§ 4º do art. 927 do CPC
A assunção de competência, em homenagem à segurança jurídica, deve ser admitida somente quando a
questão de direito tiver sido objeto de debates, com a formação de um entendimento firme e sedimentado
no âmbito das Turmas do STJ, evitando, com isso, a fixação de tese de observância obrigatória que não reflita
uma decisão amadurecida do Tribunal ao longo do tempo, a partir do sopesamento dos mais variados
argumentos em uma ou outra direção.
Art. 947. É admissível a assunção de competência quando o julgamento de recurso, de remessa necessária ou
de processo de competência originária envolver relevante questão de direito, com grande repercussão social,
sem repetição em múltiplos processos. (...) § 4º Aplica-se o disposto neste artigo quando ocorrer relevante
questão de direito a respeito da qual seja conveniente a prevenção ou a composição de divergência entre
câmaras ou turmas do tribunal.
STJ. 2ª Seção. QO no REsp 1882957-SP, Min. Nancy Andrighi, julgado em 8/2/2023 (Info 764).

Se a parte que opôs os embargos de declaração desistiu desse recurso, significa dizer que os embargos não
interromperam o prazo para a interposição de outros recursos
Extintos os embargos de declaração em virtude de desistência posteriormente manifestada, não é possível
sustentar a interrupção do prazo recursal para a mesma parte que desistiu, tampouco a reabertura desse
prazo a contar da intimação do ato homologatório.
STJ. 3ª Turma. REsp 1833120-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/10/2022 (Info 762).

O embargos de declaração opostos contra acórdão proferido pelo colegiado ampliado (art. 942 do CPC)
deverão ser julgados pelo mesmo órgão com colegiado ampliado
O julgamento dos embargos de declaração, quando opostos contra acórdão proferido pelo órgão em
composição ampliada, deve observar o mesmo quórum (ampliado), sob pena de o entendimento lançado,
antes minoritário, poder sagrar-se vencedor.
Ex: a Câmara Cível é composta originariamente por 3 Desembargadores. 2 votaram por negar provimento à
apelação e 1 votou por dar provimento. Houve convocação de 2 novos Desembargadores (art. 942 do CPC). O
placar final pelo colegiado ampliado foi em 3x2. Se forem opostos embargos de declaração contra este
acórdão, eles deverão ser julgados pelo órgão colegiado ampliado, ou seja, pelos 5 Desembargadores (e não
apenas pelo órgão colegiado originário, com 3 Desembargadores).
STJ. 3ª Turma. REsp 2024874/RS, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/3/2023 (Info 766).

Dia do servidor público, segunda-feira de carnaval, quarta-feira de cinzas, quarta e quinta da Paixão e
Corpus Christi são considerados feriados locais, para fins de interposição de recurso, devendo ser
comprovados por documento idôneo
O dia do servidor público (28 de outubro), a segunda-feira de carnaval, a quarta-feira de Cinzas, os dias que
precedem a sexta-feira da Paixão e, também, o dia de Corpus Christi não são feriados nacionais, em razão de
não haver previsão em lei federal, de modo que deve a parte comprovar a suspensão do expediente forense
quando da interposição do recurso, por documento idôneo.
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Os recursos interpostos na instância de origem, mesmo que endereçados a esta Corte Superior, observam o
calendário de funcionamento do tribunal local, não podendo se utilizar, para todos os casos, dos feriados e
das suspensões previstas em Portaria e no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, que muitas
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vezes não coincidem com os da Justiça estadual.

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STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 2006859-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/2/2023 (Info 765).

A cópia de calendário obtido na página eletrônica do tribunal de origem pode ser considerada documento
idôneo para fins de comprovação de interrupção ou suspensão de prazo processual
As informações processuais disponibilizadas por meio da internet, na página eletrônica de Tribunal de Justiça
ou de Tribunal Regional Federal, ostentam natureza oficial, gerando para as partes que as consultam a
presunção de correção e confiabilidade.
Desse modo, uma vez lançada a informação, no calendário judicial, disponibilizado pelo site do Tribunal de
origem, da existência de suspensão local de prazo, deve ser considerada idônea a juntada desse documento
pela parte, para fins de comprovação do feriado local.
STJ. Corte Especial.EAREsp 1.927.268-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 19/4/2023 (Info 771).

Se não for possível adotar a teoria da encampação, o juízo deverá determinar que o impetrante faça a
emenda da inicial, nos termos dos arts. 338 e 339 do CPC?
Em mandado de segurança, é vedada a oportunização ao impetrante de emenda à inicial para a indicação da
correta autoridade coatora, quando a referida modificação implique na alteração da competência
jurisdicional.
STJ. 2ª Turma. REsp 1954451-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 14/2/2023 (Info 764).

Quando devida a verba honorária recursal, e o relator deixar de aplicá-la em decisão monocrática, poderá
o colegiado arbitrá-la, inclusive de ofício
Caso hipotético: em um processo de Alfa contra Beta, o Ministro Relator, no STJ, proferiu decisão monocrática,
não conhecendo do recurso especial interposto pela Alfa. Ao decidir assim, ele deveria ter majorado os
honorários advocatícios recursais já fixados pelo Tribunal de origem. Ocorre que não fez isso. A parte
sucumbente (Alfa) interpôs agravo interno contra a decisão monocrática. A Turma manteve a decisão
monocrática. Em regra, não cabe a majoração de honorários recursais no julgamento de agravo interno. Isso
porque não se inaugura uma nova instância. No entanto, como neste caso, a decisão monocrática não havia
fixado os honorários recursais, a Turma poderia fazê-lo. Ocorre que a Turma não fez isso. Diante desse cenário,
a parte que seria beneficiada com os honorários recursais (Beta), opôs embargos de declaração pedindo os
honorários recursais.
O STJ deu provimento aos embargos e determinou a majoração dos honorários advocatícios fixados na origem
(TJ) em desfavor da parte embargada, no importe de 5% sobre o valor já arbitrado, nos termos do art. 85, §
11, do CPC.
STJ. 2ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1249853-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 6/3/2023 (Info
767).
Há condenação em honorários advocatícios de sucumbência no procedimento de jurisdição voluntária?
No procedimento de jurisdição voluntária, em regra, não há litígio. Como não há litígio, não há, em regra,
condenação ao pagamento de honorários advocatícios de sucumbência.
O vetor primordial que orienta a imposição ao pagamento de verba honorária sucumbencial é o fato da
derrota na demanda, cujo pressuposto é a existência de litigiosidade, a qual, em regra, não há em
procedimento de jurisdição voluntária.
Vale ressaltar, contudo, que, no procedimento de jurisdição voluntária, pode surgir litígio, mudando-se, neste
caso, a aplicação de princípios, que passam a ser os mesmos da jurisdição contenciosa, admitindo-se, inclusive,
a reconvenção. Nesta hipótese passa a ser possível, em tese, a condenação em honorários advocatícios.
Em procedimento de jurisdição voluntária, quando a parte ré concorda com o pedido formulado na inicial,
mas formula pedido autônomo:
184

I) se o Juiz não admitir o pedido autônomo como reconvenção e julgar apenas a pretensão autoral, não serão
devidos honorários de sucumbência;
II) se o Juiz admitir o pedido autônomo como reconvenção e julgar ambas as pretensões, serão devidos
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honorários de sucumbência apenas na reconvenção e desde que configurado litígio quanto à pretensão
reconvencional.

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STJ. 3ª Turma. REsp 2028685-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/11/2022 (Info 761).

Juros de precatórios do Fundef/Fundeb podem ser usados para pagar honorários contratuais
Nas demandas envolvendo valores relacionados ao FUNDEF/FUNDEB, é possível a utilização dos juros
moratórios dos precatórios para pagamento dos honorários contratuais, ante a natureza autônoma dos juros
em relação à verba principal.
STJ. 1ª Turma. AREsp 1369724-AL, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 02/08/2022 (Info 743).
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1880972-AL, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/04/2022 (Info 735).

O reconhecimento da inconstitucionalidade do pagamento de honorários advocatícios contratuais com


recursos alocados no FUNDEF/FUNDEB não exclui a possibilidade de adimplemento de tal verba com base no
montante correspondente aos juros de mora incidentes sobre o valor do precatório devido pela União.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1874550-RN, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 25/10/2022 (Info 755).

Não ofende o art. 10 do CPC/2015 o provimento jurisdicional que dá classificação jurídica à questão
controvertida apreciada em sede de embargos de divergência
Não há ofensa ao princípio da não surpresa (art. 10 do CPC) quando o magistrado, diante dos limites da causa
de pedir, do pedido e do substrato fático delineado nos autos, realiza a tipificação jurídica da pretensão no
ordenamento jurídico posto, aplicando a lei adequada à solução do conflito, ainda que as partes não a tenham
invocado (iura novit curia) e independentemente de oitiva delas, até porque a lei deve ser do conhecimento
de todos, não podendo ninguém se dizer surpreendido com a sua aplicação.
Esse princípio não é absoluto e sua aplicação não é automática e irrestrita.
Desse modo, não há ofensa ao art. 10 do CPC/2015 se o Tribunal dá classificação jurídica aos fatos
controvertidos contrários à pretensão da parte com aplicação da lei aos fatos narrados nos autos.
STJ. 1ª Seção. EDcl nos EREsp 1213143-RS, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 8/2/2023 (Info 763).

O que acontece se a decisão da Turma Recursal disser respeito à interpretação de lei federal e contrariar
entendimento consolidado ou mesmo sumulado do STJ?
Compete às Câmaras Reunidas ou à Seção Especializada dos Tribunais de Justiça a competência para processar
e julgar as Reclamações destinadas a dirimir divergência entre acórdão prolatado por Turma Recursal Estadual
e a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, consolidada em incidente de assunção de competência e
de resolução de demandas repetitivas, em julgamento de recurso especial repetitivo e em enunciados das
Súmulas do STJ.
STJ. 1ª Seção. AgInt na Rcl 41841-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/2/2023 (Info 763).

A tese firmada no Tema 1.119 da repercussão geral não se aplica para as associações genéricas
Não se aplica às associações genéricas — que não representam qualquer categoria econômica ou profissional
específica — a tese firmada no Tema 1.119 da sistemática da repercussão geral, sendo insuficiente a mera
regularidade registral da entidade para sua atuação em sede de mandado de segurança coletivo, pois passível
de causar prejuízo aos interesses dos beneficiários supostamente defendidos.
STF. 2ª Turma. ARE 1339496 AgR/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. André Mendonça,
julgado em 7/02/2023 (Info 1082).

Em ação civil pública, é possível a substituição da associação autora pelo Ministério Público associação caso
a primeira venha a ser dissolvida
Em caso de dissolução, por decisão judicial, da associação autora de ação civil pública, é possível a substituição
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processual pelo Ministério Público.


STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.582.243-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/2/2023 (Info 764).
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Vale ressaltar que, se a ação civil pública foi proposta na Justiça Estadual, pela associação posteriormente
dissolvida, a legitimidade para substituir essa associação será do Ministério Público estadual, mesmo que o
processo já esteja em fase de recurso no STJ.
Ainda que o processo esteja em curso no Superior Tribunal de Justiça, o Ministério Público Federal não possui
legitimidade para substituir associação extinta por decisão judicial em ação civil pública proposta perante a
Justiça estadual.
STJ. 4ª Turma. REsp 1678925-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 14/2/2023 (Info 764).

O processo de repactuação de dívidas do superendividado (art. 104-A do CDC) é de competência da Justiça


Estadual mesmo que também envolva a Caixa Econômica Federal
A Lei nº 14.181/2021 alterou o Código de Defesa do Consumidor, para aperfeiçoar a disciplina do crédito ao
consumidor e dispor sobre a prevenção e o tratamento do superendividamento.
Essa Lei inseriu o art. 104-A no CDC oferecendo à pessoa física, em situação de vulnerabilidade
(superendividamento), a possibilidade de, perante seus credores, rediscutir, repactuar e, finalmente, cumprir
suas obrigações contratuais/financeiras.
Cabe à Justiça comum estadual e/ou distrital processar e julgar as demandas oriundas de ações de repactuação
de dívidas decorrentes de superendividamento - ainda que exista interesse de ente federal (CEF). Isso porque
a interpretação do art. 109, I, da CF/88, deve ser teleológica de forma a alcançar, na exceção da competência
da Justiça Federal, as hipóteses em que existe o concurso de credores.
STJ. 2ª Seção. CC 193066-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/3/2023 (Info 768).

A competência para julgamento de ação de indenização por danos morais, decorrente de ofensas proferidas
em rede social, é do foro do domicílio da vítima, em razão da ampla divulgação do ato ilícito
Caso adaptado: João, morador de Artur Nogueira (SP), gravou e divulgou, no WhatsApp, um vídeo contendo
xingamentos e ameaças contra um determinado político.
O político ofendido ingressou com ação de indenização por danos morais contra João.A ação foi proposta na
vara cível da comarca de São Bernardo do Campo (SP), domicílio do autor.
O requerido apresentou contestação suscitando a incompetência e afirmando que a ação deveria ser julgada
no foro do Município onde o vídeo foi produzido e divulgado, ou seja, em Artur Nogueira (SP), que também é
o foro do domicílio do réu. Logo, seja com base no art. 46 do CPC, seja com fundamento no art. 53, IV, “a”,
também do CPC, a competência para julgar o caso seria da comarca de Artur Nogueira (SP).
O STJ não concordou com os argumentos do réu e confirmou a competência do juízo de São Bernardo do
Campo (SP).
A competência para julgamento de ação de indenização por danos morais, decorrente de ofensas proferidas
em rede social, é do foro do domicílio da vítima, em razão da ampla divulgação do ato ilícito.
STJ. 4ª Turma. REsp 2.032.427-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 27/4/2023 (Info 774).

A reconvenção promovida em litisconsórcio com terceiro não acarreta a inclusão deste no polo passivo da
ação principal
João ingressou com ação contra a empresa 1. A ré apresentou contestação na qual também formulou pedido
reconvencional. O aspecto interessante foi que essa reconvenção foi proposta não apenas pela empresa 1 (ré).
A reconvenção foi também deduzida pela empresa 2, integrante do mesmo grupo econômico.
Isso é permitido? O CPC autoriza que uma parte que não integrava originalmente a lide possa também
apresentar reconvenção? Sim. Além da ampliação objetiva (ampliação do que está sendo pedido ao Estado-
juiz), a reconvenção também pode ocasionar a ampliação subjetiva, por meio da inclusão de um sujeito que
até então não participava do processo.
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O art. 343, § 4º, do CPC/2015 autoriza que a reconvenção seja proposta pelo réu em litisconsórcio com
terceiro.
Isso significa que a reconvenção, neste caso, modificou o polo passivo da ação principal? Não. Como a
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reconvenção é autônoma e independente, a ampliação subjetiva do processo promovida pela reconvenção


não modifica os polos da ação principal. Assim, as questões debatidas na ação principal continuam restritas às

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partes que já integravam os polos ativo e passivo da demanda, não se estendendo ao terceiro, que apenas é
parte da demanda reconvencional. Em uma simples frase: o terceiro que apresentou reconvenção não se torna
parte da ação principal. Em relação à ação principal, ele continua sendo terceiro.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.046.666-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/5/2023 (Info 775).

Ação contra a Eletrobrás nos casos de empréstimo compulsório sobre energia elétrica
Súmula 553-STJ: Nos casos de empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica, é competente a
Justiça estadual para o julgamento de demanda proposta exclusivamente contra a Eletrobrás. Requerida a
intervenção da União no feito após a prolação de sentença pelo juízo estadual, os autos devem ser remetidos
ao Tribunal Regional Federal competente para o julgamento da apelação se deferida a intervenção.

ANATEL não é parte legítima em ação de usuário de telefonia contra a concessionária


Súmula 506-STJ: A Anatel não é parte legítima nas demandas entre a concessionária e o usuário de telefonia
decorrentes de relação contratual.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 26/03/2014.

Competência para julgar causas envolvendo a OAB


Compete à justiça federal processar e julgar ações em que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), quer
mediante o conselho federal, quer seccional, figure na relação processual.
STF. Plenário. RE 595332/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 31/8/2016 (repercussão geral) (Info 837)

Competência e discussão sobre área remanescente das comunidades dos quilombos


A União deverá figurar como litisconsorte necessária em ação na qual se discute com particulares se
determinada área é remanescente das comunidades dos quilombos (art. 68 do ADCT), mesmo que na ação já
exista a presença da Fundação Cultural Palmares (fundação federal).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.116.553-MT, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 17/5/2012 (Info 497).

Aplicação do § 2º do art. 109 da CF/88 também às autarquias federais


Apesar de o dispositivo somente falar em “União”, o STF entende que a regra de competência prevista no §
2º do art. 109 da CF/88 também se aplica às ações propostas contra autarquias federais. Isso porque o objetivo
do legislador constituinte foi o de facilitar o acesso à justiça.
STF. Plenário. RE 627709/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/8/2014 (Info 755).

O procedimento de dúvida suscitado por registrador imobiliário será julgado pela Justiça Federal caso
envolva bens de autarquia pública federal
Caso concreto: a Universidade Federal do Ceará (autarquia pública federal) protocolizou no cartório do
Registro de Imóveis pedido de unificação de dois imóveis com abertura de uma matrícula para o terreno
unificado. O Titular do Registro Imobiliário expediu nota devolutiva fazendo certas exigências. A UFC não
concordou e pediu que o Oficial suscitasse dúvida. Essa dúvida será julgada por um juiz federal.
O processamento e julgamento de procedimento administrativo de dúvida suscitado por oficial de registro
imobiliário relativamente a imóveis de autarquia pública federal compete ao Juízo federal.
STJ. 1ª Seção. CC 180.351-CE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 28/09/2022 (Info 751).

O autor pode optar pelo ajuizamento da ação contra a União na capital do Estado-membro, mesmo que
exista Vara Federal instalada no município do interior em que ele for domiciliado
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O art. 109, § 2º, da Constituição Federal encerra a possibilidade de a ação contra a União ser proposta no
domicílio do autor, no lugar em que ocorrido o ato ou fato ou em que situada a coisa, na capital do estado-
membro, ou ainda no Distrito Federal.
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Desse modo, o autor, se quiser ajuizar demanda contra a União, terá cinco opções, podendo propor a ação:
a) no foro do domicílio do autor;

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b) no lugar em que ocorreu o ato ou fato que deu origem à demanda;
c) no lugar em que estiver situada a coisa;
d) na capital do Estado-membro; ou
e) no Distrito Federal.
STF. 1ª Turma. RE 463101 AgR-AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 27/10/2015.
STF. 2ª Turma. ARE 1151612 AgR/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/11/2019 (Info 960).

A competência prevista no § 3º do art. 109 da Constituição Federal, da Justiça comum, pressupõe


inexistência de Vara Federal na Comarca do domicílio do segurado
O § 3º do art. 109 da CF/88 afirma que, se não existir vara federal na comarca do domicílio do segurado, a lei
poderá autorizar que esse segurado ajuíze a ação contra o INSS na justiça estadual:
Art. 109. (...) § 3º Lei poderá autorizar que as causas de competência da Justiça Federal em que forem parte
instituição de previdência social e segurado possam ser processadas e julgadas na justiça estadual quando a
comarca do domicílio do segurado não for sede de vara federal.
A delegação de competência de que trata esse dispositivo constitucional foi feita pelo art. 15, III, da Lei nº
5.010/66, com redação dada pela Lei nº 13.876/2019.
Vale ressaltar que o que importa é que não exista vara federal na comarca.
Algumas vezes uma mesma comarca abrange mais de um Município. Se no Município não existir vara federal,
mas houver na Comarca, então, neste caso, o segurado terá que se deslocar até lá para ajuizar a ação.
Ex: em Itatinga (SP) não existe vara federal; no entanto, Itatinga faz parte da comarca de Botucatu. Em
Botucatu existe vara federal. Logo, o segurado terá que se deslocar até lá para ajuizar a ação contra o INSS.
STF. Plenário. RE 860508/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 6/3/2021 (Repercussão Geral – Tema 820)
(Info 1008).

Compete à Justiça estadual julgar insolvência civil mesmo que envolva a participação da União, de entidade
autárquica ou empresa pública federal
A insolvência civil está entre as exceções da parte final do artigo 109, I, da Constituição da República, para fins
de definição da competência da Justiça Federal.
STF. Plenário. RE 678162/AL, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
26/3/2021 (Repercussão Geral – Tema 859) (Info 1011).

A Súmula 222 do STJ abarca apenas situações em que a contribuição sindical diz respeito a servidores
estatutários, mantendo-se a competência da Justiça do Trabalho para julgar as ações relativas à
contribuição sindical referentes a celetistas (servidores públicos ou não)
A Súmula 222 do STJ prevê o seguinte: Compete à Justiça Comum processar e julgar as ações relativas à
contribuição sindical prevista no art. 578 da CLT.
O STJ, depois do que o STF decidiu no RE 1089282/AM (Tema 994), teve que conferir nova interpretação a
esse enunciado. O que prevalece atualmente é o seguinte:
a) Compete à Justiça Comum julgar as ações em que se discute a contribuição sindical de servidor público
estatutário.
b) Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações em que se discute a contribuição sindical de empregado
celetista (seja ele servidor público ou trabalhador da iniciativa privada).
STJ. 1ª Seção. CC 147.784/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. em 24/03/2021 (Info 690).

Compete ao STF julgar MS proposto pelo TJ contra o Governador pedindo o repasse do duodécimo do
Judiciário
188

Compete ao STF julgar mandado de segurança impetrado pelo Tribunal de Justiça contra ato do Governador
do Estado que atrasa o repasse do duodécimo devido ao Poder Judiciário.
Nesta hipótese, todos os magistrados do TJ possuem interesse econômico no julgamento do feito, uma vez
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que o pagamento dos subsídios está condicionado ao cumprimento do dever constitucional de repasse das

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dotações consignadas ao Poder Judiciário estadual pelo chefe do Poder Executivo respectivo. Logo, a situação
em tela se amolda ao art. 102, I, "n", da CF/88.
STF. 1ª Turma. MS 34483-MC/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/11/2016 (Info 848).

Não compete ao STF julgar execução individual de sentença coletiva mesmo que tenha julgado a lide que
originou o cumprimento de sentença
Não compete originariamente ao STF processar e julgar execução individual de sentenças genéricas de perfil
coletivo, inclusive aquelas proferidas em sede mandamental. Tal atribuição cabe aos órgãos judiciários
competentes de primeira instância.
STF. 2ª Turma. PET 6076 QO /DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/4/2017 (Info 862).

Causa que interessa a todos os membros da magistratura


O STF tem competência para processar e julgar causas em que se discute prerrogativa dos juízes de portar
arma de defesa pessoal, por se tratar de ação em que todos os membros da magistratura são direta ou
indiretamente interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88).
STF. Plenário. Rcl 11323 AgR/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, julgado em
22/4/2015 (Info 782).

STF não é competente para julgar ação proposta por juiz federal pleiteando licença-prêmio
STF. 2ª Turma. AO 2126/PR, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
21/2/2017 (Info 855).

Demandas contra o CNJ e o CNMP


Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF processar e julgar,
originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ e do CNMP proferidas no exercício
de suas competências constitucionais, respectivamente, previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88.
STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).
STF. Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000).

Mandado de segurança contra decisões negativas do CNMP


A competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP é do STF (art. 102, I,
“r”, da CF/88). Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP, mas tais órgãos recusam-se a tomar
alguma providência no caso concreto porque alegam que não tem competência para aquela situação ou que
não é hipótese de intervenção. Nessas hipóteses, dizemos que a decisão do CNJ ou CNMP foi “NEGATIVA”
porque ela nada determina, nada aplica, nada ordena, nada invalida.
Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar MS contra o CNJ/CNMP no STF?
NÃO. O STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões negativas do CNMP
e do CNJ. Segundo entende o STF, como o conteúdo da decisão do CNJ/CNMP foi “negativo”, ele não decidiu
nada. Se não decidiu nada, não praticou nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do
CNJ/CNMP a ser atacado no STF.
STF. 1ª Turma. MS 33163/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado
em 5/5/2015 (Info 784).

Súmula 556-STF: É competente a justiça comum para julgar as causas em que é parte sociedade de economia
mista.
189

Súmula 42-STJ: Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é parte
sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu detrimento.
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Súmula 517-STF: As sociedades de economia mista só têm foro na justiça federal, quando a união intervém
como assistente ou opoente.

Súmula 508-STF: Compete a justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for
parte o Banco do Brasil, S.A.

Súmula 570-STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento de demanda em que se discute a ausência
de ou o obstáculo ao credenciamento de instituição particular de ensino superior no Ministério da Educação
como condição de expedição de diploma de ensino a distância aos estudantes.

Súmula 324-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar ações de que participa a Fundação Habitacional
do Exército, equiparada à entidade autárquica federal, supervisionada pelo Ministério do Exército.

Súmula 32-STJ: Compete à Justiça Federal processar justificações judiciais destinadas a instruir pedidos
perante entidades que nela tem exclusividade de foro, ressalvada a aplicação do art. 15, II, da Lei 5010/66.

Súmula 66-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal promovida por conselho de
fiscalização profissional.

Súmula 254-STJ: A decisão do Juízo Federal que exclui da relação processual ente federal não pode ser
reexaminada no Juízo Estadual.

Súmula 150-STJ: Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a
presença, no processo, da união, suas autarquias ou empresas públicas.

Súmula vinculante 27-STF: Compete à Justiça Estadual julgar causas entre consumidor e concessionária de
serviço público de telefonia, quando a Anatel não seja litisconsorte passiva necessária, assistente nem
opoente.

Súmula 506-STJ: A Anatel não é parte legítima nas demandas entre a concessionária e o usuário de telefonia
decorrentes de relação contratual.

Súmula 553-STJ: Nos casos de empréstimo compulsório sobre o consumo de energia elétrica, é competente a
Justiça estadual para o julgamento de demanda proposta exclusivamente contra a Eletrobrás. Requerida a
intervenção da União no feito após a prolação de sentença pelo juízo estadual, os autos devem ser remetidos
ao Tribunal Regional Federal competente para o julgamento da apelação se deferida a intervenção.

Súmula 82-STJ: Compete à Justiça Federal, excluídas as reclamações trabalhistas, processar e julgar os feitos
relativos à movimentação do FGTS.

Súmula 34-STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar causa relativa à mensalidade escolar, cobrada
por estabelecimento particular de ensino.
Súmula 224-STJ: Excluído do feito o ente federal, cuja presença levara o Juiz Estadual a declinar da
competência, deve o Juiz Federal restituir os autos e não suscitar conflito.
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Súmula 150-STJ: Compete à Justiça Federal decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a
presença, no processo, da união, suas autarquias ou empresas públicas.
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Súmula 505-STJ: A competência para processar e julgar as demandas que têm por objeto obrigações
decorrentes dos contratos de planos de previdência privada firmados com a Fundação Rede Ferroviária de
Seguridade Social – REFER é da Justiça estadual.

Súmula 235-STJ: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.

Súmula 59-STJ: Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado, proferida por
um dos juízos conflitantes.

Súmula 3-STJ: Compete ao Tribunal Regional Federal dirimir conflito de competência verificado, na respectiva
região, entre juiz federal e juiz estadual investido de jurisdição federal.

Súmula 428-STJ: Compete ao Tribunal Regional Federal decidir os conflitos de competência entre juizado
especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária.

Dever de remessa dos autos ao juízo competente mesmo em caso de processo eletrônico
Se o juízo reconhece a sua incompetência absoluta para conhecer da causa, ele deverá determinar a remessa
dos autos ao juízo competente e não extinguir o processo sem exame do mérito.
O argumento de impossibilidade técnica do Poder Judiciário em remeter os autos para o juízo competente,
ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico, não pode ser utilizado para prejudicar o
jurisdicionado, sob pena de configurar-se indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional.
Assim, implica indevido obstáculo ao acesso à tutela jurisdicional a decisão que, após o reconhecimento da
incompetência absoluta do juízo, em vez de determinar a remessa dos autos ao juízo competente, extingue o
feito sem exame do mérito, sob o argumento de impossibilidade técnica do Judiciário em remeter os autos
para o órgão julgador competente, ante as dificuldades inerentes ao processamento eletrônico.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.526.914-PE, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3ª Região),
julgado em 21/6/2016 (Info 586).

Prescindibilidade de preparo para a análise de assistência judiciária gratuita em sede recursal


É desnecessário o preparo do recurso cujo mérito discute o próprio direito ao benefício da assistência judiciária
gratuita. Não há lógica em se exigir que o recorrente primeiro recolha o que afirma não poder pagar para só
depois a Corte decidir se faz jus ou não ao benefício.
Assim, não se aplica a pena de deserção a recurso interposto contra o indeferimento do pedido de justiça
gratuita.
Se o recurso diz respeito justamente à alegação do recorrente de que ele não dispõe de condições econômico-
financeiras para arcar com os custos da demanda, não faz sentido considerá-lo deserto por falta de preparo,
uma vez que ainda está sob análise o pedido de assistência judiciária e, caso seja deferido, neste momento, o
efeito da decisão retroagirá até o período da interposição do recurso e suprirá a ausência do recolhimento e,
caso seja indeferido, deve ser dada oportunidade de regularização do preparo.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.222.355-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/11/2015 (Info 574).

Pedido de assistência judiciária gratuita em sede recursal pode ser feito na própria petição recursal
É possível a formulação de pedido de assistência judiciária gratuita na própria petição recursal, dispensando-se
a exigência de petição avulsa, quando não houver prejuízo ao trâmite normal do processo.
STJ. Corte Especial. AgRg nos EREsp 1.222.355-MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 4/11/2015 (Info 574).
191

Se houver duplicidade de intimações, ou seja, o advogado for intimado tanto pelo Diário de Justiça
Eletrônico como também pelo Portal Eletrônico de Intimação, qual deverá prevalecer?
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O termo inicial de contagem dos prazos processuais, em caso de duplicidade de intimações eletrônicas, dá-se
com a realizada pelo portal eletrônico, que prevalece sobre a publicação no Diário da Justiça (DJe).

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STJ. Corte Especial. EAREsp 1.663.952-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 19/05/2021 (Info 697).

Na contagem dos prazos em dias úteis, não se deve computar o dia em que, por força de ato administrativo
editado pela presidência do Tribunal local, os prazos processuais estavam suspensos
Segundo a previsão do art. 219 do CPC/2015, “na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo
juiz, computar-se-ão somente os dias úteis”. Desse modo, na contagem realizada conforme o disposto no art.
219 do CPC/2015, não se deve computar o dia em que, por força de ato administrativo editado pela
presidência do Tribunal local, os prazos processuais estavam suspensos.
Para que o Tribunal destinatário possa aferir a tempestividade do recurso, é dever do recorrente comprovar,
no ato da interposição, a ocorrência de feriado local ou da suspensão dos prazos processuais, conforme
determina o art. 1.003, § 6º, do CPC/2015.
A cópia de página do Diário de Justiça Eletrônico, editado na forma do disposto no art. 4º, da Lei nº
11.419/2006, é documento idôneo para comprovar a tempestividade recursal.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.788.341-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Antonio Carlos
Ferreira, julgado em 03/05/2022 (Info 738).

Quando há pluralidade de réus, a data da primeira citação válida é o termo inicial para contagem dos juros
de mora
STJ. 3ª Turma. REsp 1.868.855-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/09/2020 (Info 680).

Efeito material da revelia em caso de ação de indenização por danos materiais


Em uma ação de indenização, se ocorrer a revelia, deve-se presumir a veracidade quanto aos danos narrados
na petição inicial. No entanto, esta presunção de veracidade não alcança a definição do quantum indenizatório
indicado pelo autor.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.520.659-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 1º/10/2015 (Info 574).

Terceiro prejudicado não pode ajuizar a ação de indenização apenas contra a seguradora do causador do
dano
Súmula 529-STJ: No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro
prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador do dano.

Denunciação da lide da seguradora e condenação ao pagamento da indenização


Súmula 537-STJ: Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou
contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e solidariamente junto com o segurado, ao
pagamento da indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice.

É aplicável ao INSS a multa prevista no art. 334, § 8º, do CPC/2015, quando a parte autora manifestar
interesse na realização da audiência de conciliação e a autarquia não comparecer no feito, mesmo que
tenha manifestando seu desinteresse previamente
Não comparecendo o INSS à audiência de conciliação, inevitável a aplicação da multa prevista no art. 334, §
8º do CPC/2015, que estabelece que o não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de
conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da Justiça.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.769.949-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 08/09/2020 (Info 680).

Suspeição por motivo superveniente não anula atos processuais anteriores


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A declaração pelo magistrado ("autodeclaração") de suspeição por motivo superveniente não tem efeitos
retroativos, não importando em nulidade dos atos processuais praticados em momento anterior ao fato
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ensejador da suspeição.

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STJ. 1ª Seção. PET no REsp 1.339.313-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, Rel. para acórdão Min. Assusete Magalhães,
julgado em 13/4/2016 (Info 587).

Súmula 481-STJ: Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que
demonstrar sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais.

Súmula 240-STJ: A extinção do processo, por abandono da causa pelo autor, depende de requerimento do
réu.

Súmula vinculante 47-STF: Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou destacados do montante


principal devido ao credor consubstanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá com a
expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, observada ordem especial restrita aos créditos dessa
natureza.

TUTELA ANTECIPADA
O ressarcimento dos prejuízos advindos com o deferimento da tutela provisória posteriormente revogada
por sentença que extingue o processo sem resolução de mérito, sempre que possível, deverá ser liquidado
nos próprios autos
O CPC/2015, seguindo a mesma linha do CPC/1973, adotou a teoria do risco-proveito, ao estabelecer que o
beneficiado com o deferimento da tutela provisória deverá arcar com os prejuízos causados à parte adversa,
sempre que: i) a sentença lhe for desfavorável; ii) a parte requerente não fornecer meios para a citação do
requerido no prazo de 5 dias, caso a tutela seja deferida liminarmente; iii) ocorrer a cessação da eficácia da
medida em qualquer hipótese legal; ou iv) o juiz acolher a decadência ou prescrição da pretensão do autor
(art. 302).
Em relação à forma de se buscar o ressarcimento dos prejuízos advindos com o deferimento da tutela
provisória, o parágrafo único do art. 302 do CPC/2015 é claro ao estabelecer que “a indenização será liquidada
nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível”, dispensando-se, assim, o ajuizamento
de ação autônoma para esse fim.
A obrigação de indenizar a parte adversa dos prejuízos advindos com o deferimento da tutela provisória
posteriormente revogada é decorrência ex lege da sentença de improcedência ou de extinção do feito sem
resolução de mérito, como no caso, sendo dispensável, portanto, pronunciamento judicial a esse respeito,
devendo o respectivo valor ser liquidado nos próprios autos em que a medida tiver sido concedida, em
obediência, inclusive, aos princípios da celeridade e economia processual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.770.124-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/05/2019 (Info 649).
O pedido de antecipação dos efeitos da tutela pode ser feito em sede de sustentação oral
É possível o requerimento de antecipação dos efeitos da tutela em sede de sustentação oral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.332.766-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 1/6/2017 (Info 608).

PROVAS
Prova emprestada oriunda de processo no qual não figuravam as mesmas partes
A prova pode ser emprestada mesmo que a parte contra a qual será utilizada não tenha participado do
processo originário onde foi produzida? Ex.: no processo 1, foi produzida determinada prova. Em uma ação de
“A” contra “B” (processo 2), “A” deseja trazer essa prova emprestada. Ocorre que “B” não participou do
processo 1. Será possível trazer essa prova mesmo assim?
SIM. É admissível, assegurado o contraditório, a prova emprestada vinda de processo do qual não participaram
as partes do processo para o qual a prova será trasladada.
193

A prova emprestada não pode se restringir a processos em que figurem partes idênticas, sob pena de se reduzir
excessivamente sua aplicabilidade sem justificativa razoável para isso.
Quando se diz que deve assegurar o contraditório, significa que a parte deve ter o direito de se insurgir contra
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a prova trazida e de impugná-la.


STJ. Corte Especial. EREsp 617.428-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/6/2014 (Info 543).

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Utilização de provas do processo criminal para condenar o réu em ação cível
Desde que observado o devido processo legal, é possível a utilização de provas colhidas em processo criminal
como fundamento para reconhecer, no âmbito de ação de conhecimento no juízo cível, a obrigação de
reparação dos danos causados, ainda que a sentença penal condenatória não tenha transitado em julgado.
Não viola o art. 935 do CC a utilização de provas colhidas no processo criminal como fundamentação para
condenar o réu à reparação do dano no juízo cível.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 24.940-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 18/2/2014 (Info 536).

É possível que o juiz imponha, sob pena de multa, que a parte exiba um documento que supostamente está
em seu poder e que foi requerido pela parte contrária?
Desde que prováveis a existência da relação jurídica entre as partes e de documento ou coisa que se pretende
seja exibido, apurada em contraditório prévio, poderá o juiz, após tentativa de busca e apreensão ou outra
medida coercitiva, determinar sua exibição sob pena de multa com base no art. 400, parágrafo único, do
CPC/2015.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.777.553-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/05/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 1000) (Info 703).

Bloqueio e sequestro de verbas públicas


Em ação para fornecimento de medicamentos, o juiz pode determinar o bloqueio e sequestro de verbas
públicas em caso de descumprimento da decisão.
Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar medidas eficazes à efetivação de suas
decisões, podendo, se necessário, determinar, até mesmo, o sequestro de valores do devedor (bloqueio),
segundo o seu prudente arbítrio, e sempre com adequada fundamentação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.069.810-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 23/10/2013 (recurso
repetitivo) (Info 532).

Possibilidade de multa diária para obrigar plano de saúde a autorizar tratamento


É possível que o juiz estipule multa diária como forma de compelir que a operadora de plano de saúde autorize
que o hospital realize procedimento médico-hospitalar.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.186.851-MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/8/2013 (Info 527).

Decisão que fixa valor das astreintes não preclui nem faz coisa julgada
A decisão que comina astreintes não preclui, não fazendo tampouco coisa julgada.
A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de que a multa cominatória não integra a coisa julgada, sendo
apenas um meio de coerção indireta ao cumprimento do julgado, podendo ser cominada, alterada ou
suprimida posteriormente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.333.988-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 9/4/2014 (recurso
repetitivo) (Info 539).

É possível que o magistrado, a qualquer tempo, e mesmo de ofício, revise o valor desproporcional das
astreintes
O valor das astreintes é estabelecido sob a cláusula rebus sic stantibus, de maneira que, quando se tornar
irrisório ou exorbitante ou desnecessário, pode ser modificado ou até mesmo revogado pelo magistrado, a
qualquer tempo, até mesmo de ofício, ainda que o feito esteja em fase de execução ou cumprimento de
sentença, não havendo falar em preclusão ou ofensa à coisa julgada.
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STJ. Corte Especial. EAREsp 650.536/RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 07/04/2021 (Info 691).

A Súmula 410 do STJ continuou válida mesmo após a edição das Leis nº 11.232/2005 e 11.382/2006 e mesmo
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depois que entrou em vigor o CPC/2015

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É necessária a prévia intimação pessoal do devedor para a cobrança de multa pelo descumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer antes e após a edição das Leis nº 11.232/2005 e 11.382/2006, nos termos da
Súmula n. 410 do STJ.
Súmula 410-STJ: A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a cobrança de
multa pelo descumprimento da obrigação de fazer ou não fazer.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.360.577-MG, Rel. Min. Humberto Martins, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 19/12/2018 (Info 643).

É possível a imposição de astreintes contra a Fazenda Pública para fornecimento de medicamento


É permitida a imposição de multa diária (astreintes) a ente público para compeli-lo a fornecer medicamento a
pessoa desprovida de recursos financeiros.
STJ. 1ª Seção. REsp 1474665-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 26/4/2017 (recurso repetitivo) (Info
606).

Não é possível o fracionamento da execução dos honorários advocatícios decorrentes de uma única ação
proposta contra a Fazenda Pública por vários litisconsortes ativos facultativos
Não é possível fracionar o crédito de honorários advocatícios em litisconsórcio ativo facultativo simples em
execução contra a Fazenda Pública por frustrar o regime do precatório.
A quantia devida a título de honorários advocatícios é uma só, fixada de forma global, pois se trata de um
único processo, e, portanto, consiste em título a ser executado de forma una e indivisível.
STF. Plenário. RE 919269 ED-EDv/RS, ARE 930251 AgR-ED-EDv/RS, ARE 797499 AgR-EDv/RS, RE 919793 AgR-
ED-EDv/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/2/2019 (Info 929).

É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças do FUNDEF
É vedada a retenção de honorários advocatícios contratuais sobre crédito relativo a diferenças do FUNDEF.
Os valores relacionados ao FUNDEF, hoje FUNDEB, encontram-se constitucional e legalmente vinculados ao
custeio da educação básica e à valorização do seu magistério, sendo vedada a sua utilização em despesa
diversa, tais como honorários advocatícios contratuais.
Ex: determinado Município do interior do Estado ajuizou ação contra a União com o objetivo de conseguir o
repasse integral de verbas do FUNDEF. Como o Município não possuía procuradores municipais concursados,
foi contratado um escritório de advocacia privado para patrocinar a causa. No contrato assinado com os
advogados ficou combinado que, se o Município vencesse a demanda, pagaria 20% do valor da causa ao
escritório. O pedido foi julgado procedente e transitou em julgado. O Município requereu, então, que 20% do
valor da condenação (verbas do FUNDEF a serem pagas pela União) fosse separado para pagamento dos
honorários contratuais dos advogados que atuaram na causa, nos termos do art. 22, § 4º da Lei nº 8.906/94.
Esse pedido não deve ser acolhido. Não é possível a aplicação do art. 22, § 4º, da Lei nº 8.906/1994 nas
execuções contra a União em que se persigam quantias devidas ao FUNDEF/FUNDEB, devendo o advogado
credor buscar a satisfação de seu crédito por outros meios.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.703.697-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/10/2018 (Info 643).

É inconstitucional o pagamento de honorários advocatícios contratuais com recursos destinados ao FUNDEB,


o que representaria indevido desvio de verbas constitucionalmente vinculadas à educação.
STF. Plenário. ADPF 528/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/3/2022 (Info 1047).

É admissível o pagamento de honorários advocatícios contratuais com verbas provenientes dos juros
moratórios incidentes sobre o valor do precatório devido pela União
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Os juros de mora incidentes sobre o valor do precatório devido pela União em ações propostas em favor dos
Estados e dos Municípios relativos às verbas destinadas ao FUNDEF/FUNDEB podem ser utilizadas para
pagamento de honorários advocatícios contratuais.
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STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1880972-AL, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/04/2022 (Info 735).

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Mesmo que o valor da condenação, o valor da causa ou o valor do proveito econômico sejam elevados, os
honorários advocatícios devem ser fixados segundo os percentuais dos §§ 2º e 3º do art. 85 do CPC, não
sendo caso de fixação por equidade
I) A fixação dos honorários por apreciação equitativa não é permitida quando os valores da condenação, da
causa ou o proveito econômico da demanda forem elevados. É obrigatória nesses casos a observância dos
percentuais previstos nos §§ 2º ou 3º do art. 85 do CPC - a depender da presença da Fazenda Pública na lide -
, os quais serão subsequentemente calculados sobre o valor:
a) da condenação; ou
b) do proveito econômico obtido; ou
c) do valor atualizado da causa.
II) Apenas se admite arbitramento de honorários por equidade quando, havendo ou não condenação: a) o
proveito econômico obtido pelo vencedor for inestimável ou irrisório; ou
b) o valor da causa for muito baixo.
STJ. Corte Especial. REsp 1850512-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/03/2022 (Recurso Repetitivo –
Tema 1076) (Info 730).

Incide a Súmula 326 do STJ, no caso de discrepância entre o valor indicado no pedido e o quantum arbitrado
na condenação, não havendo falar em sucumbência dos autores da demanda, vencedores em seu pedido
indenizatório
Caso concreto: João ajuizou ação de indenização por danos morais contra o jornal pedindo R$ 1 milhão de
reparação. O juiz reconheceu que o jornal cometeu grave erro na reportagem veiculada, praticando, portanto,
ato ilícito, mas condenou o réu ao pagamento de apenas R$ 25 mil. O jornal recorreu alegando que, como o
autor pediu 1 milhão e somente obteve 25 mil, ele obteve provimento equivalente a 2,5% do valor pleiteado,
devendo, portanto, ser condenado ao pagamento de 97,5% dos honorários advocatícios e das verbas de
sucumbência.
O STJ acolheu a tese do réu? Não. No caso concreto, conforme demonstrado, existe uma substancial
discrepância entre o quantum pleiteado a título de indenização e o valor arbitrado pelo juiz. Por conta disso,
o réu alega que o autor sucumbiu na maior parte do pedido. O STJ, contudo, não concordou com essa
argumentação.
Aplica-se aqui a Súmula 326-STJ: Na ação de indenização por dano moral, a condenação em montante inferior
ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca.
O entendimento exposto na Súmula 326 do STJ permanece válido mesmo depois que o art. 292, V, do
CPC/2015 passou a exigir que o autor da demanda indique o valor pretendido a título de reparação pelos
danos morais que diz haver suportado.
O valor sugerido pela parte autora para a indenização por danos morais traduz mero indicativo referencial,
apenas servindo para que o julgador pondere a informação como mais um elemento para a árdua tarefa de
arbitrar o valor da condenação, a fim de que se afigure suficiente para reparar o prejuízo imaterial suportado
pela vítima do evento danoso.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.837.386-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 16/08/2022 (Info 746).

Se houve a exclusão de um dos litisconsortes passivos, sem por fim à demanda, os honorários sucumbenciais
deverão ser fixados, no mínimo, em 10% ou poderão ser arbitrados em percentual menor?
Poderão ser em percentual menor.
O art. 85, § 2º, do CPC, ao fixar honorários advocatícios mínimos de 10% sobre o valor da causa, teve em vista
as decisões judiciais que apreciassem a causa por completo. Decisões que, com ou sem julgamento de mérito,
196

abrangessem a totalidade das questões submetidas a juízo.


Assim, nas hipóteses de julgamento parcial, como ocorre na decisão que exclui um dos litisconsortes passivos
sem por fim a demanda, os honorários devem observar proporcionalmente a matéria efetivamente apreciada.
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Nesse sentido é o Enunciado nº 5 da I Jornada de Direito Processual Civil do CJF: Ao proferir decisão parcial de
mérito ou decisão parcial fundada no art. 485 do CPC, condenar-se-á proporcionalmente o vencido a pagar
honorários ao advogado do vencedor, nos termos do art. 85 do CPC.
Desse modo, os honorários advocatícios sucumbenciais, nos casos de decisões parciais de mérito, devem
observar a parcela da pretensão decidida antecipadamente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.760.538-RS, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 24/05/2022 (Info 738).

O art. 1.005 do CPC somente se aplica para o litisconsórcio unitário?


A regra do art. 1.005 do CPC/2015 não se aplica apenas às hipóteses de litisconsórcio unitário, mas, também,
a quaisquer outras hipóteses em que a ausência de tratamento igualitário entre as partes gere uma situação
injustificável, insustentável ou aberrante.
A expansão subjetiva dos efeitos do recurso pode ocorrer em três hipóteses:
1) quando há litisconsórcio unitário (art. 1.005, caput, c/c o art. 117 do CPC/2015);
2) quando há solidariedade passiva (art. 1.005, parágrafo único, do CPC/2015); e
3) quando a ausência de tratamento igualitário entre as partes gerar uma situação injustificável, insustentável
ou aberrante (art. 1.005, caput, do CPC/2015).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.993.772-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 07/06/2022 (Info 743).

Para a obtenção da preferência no pagamento de precatório, faz-se necessária a conjugação dos requisitos
constantes do art. 100, § 2º, da CF/88, ou seja, dívida de natureza alimentar e titular idoso ou portador de
doença grave
O § 2º do art. 100 prevê que os débitos de natureza alimentícia que tenham como beneficiários:
a) pessoas com idade igual ou superior a 60 anos;
b) pessoas portadoras de doenças graves;
c) pessoas com deficiência;
... terão uma preferência no recebimento dos precatórios.
O simples fato de o titular do precatório ser idoso é motivo suficiente para ele se enquadrar no § 2º do art.
100 da CF/88?
Não. É necessário que, além da idade, o crédito que ele tem para receber seja de natureza alimentar.
Requisitos cumulativos do § 2º do art. 100 da CF/88:
• requisito 1: o titular deve ser: a) idoso; b) pessoa portadora de doença grave; ou c) pessoa com deficiência.
• requisito 2: o débito deve ter natureza alimentícia.
Se a dívida não tem natureza alimentar, o seu titular receberá segundo a regra do caput do art. 100 (sem
qualquer preferência).
STJ. 2ª Turma. RMS 65.747/SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 16/03/2021 (Info 689).

Fazenda Pública executada apresenta impugnação alegando excesso de execução e pede a concessão de
prazo para apresentação da planilha com o valor devido; é razoável que o juiz conceda o referido prazo
A alegação da Fazenda Pública de excesso de execução sem a apresentação da memória de cálculos com a
indicação do valor devido não acarreta, necessariamente, o não conhecimento da arguição.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.887.589/GO, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 06/04/2021 (Info 691).

A chamada execução invertida é constitucional


Não ofende a ordem constitucional determinação judicial de que a União proceda aos cálculos e apresente os
documentos relativos à execução nos processos em tramitação nos juizados especiais cíveis federais,
ressalvada a possibilidade de o exequente postular a nomeação de perito.
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STF. Plenário. ADPF 219/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 20/5/2021 (Info 1018).

Súmula 423-STF: Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso "ex-oficio", que se considera
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interposto "ex-lege".

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Súmula 45-STJ: No reexame necessário, é defeso, ao tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda
Pública.

Súmula 325-STJ: A remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de todas as parcelas da condenação
suportadas pela Fazenda Pública, inclusive dos honorários de advogado.

É dispensável a remessa necessária nas sentenças ilíquidas proferidas em desfavor do INSS, cujo valor
mensurável da condenação ou do proveito econômico seja inferior a mil 1.000 salários mínimos
Após a entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015, é dispensável a remessa necessária nas
sentenças ilíquidas proferidas em desfavor do INSS, cujo valor mensurável da condenação ou do proveito
econômico seja inferior a mil salários mínimos.
A Súmula 490-STJ não se aplica às sentenças ilíquidas nos processos de natureza previdenciária a partir dos
novos parâmetros definidos no art. 496, § 3º, I, do CPC/2015.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.735.097-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 08/10/2019 (Info 658).

As ações previdenciárias, mesmo nas hipóteses em que reconhecido o direito do segurado à percepção de
benefício no valor do teto máximo previdenciário, não alcançarão valor superior a 1.000 salários mínimos.
Assim, não obstante a aparente iliquidez das condenações em causas de natureza previdenciária, a sentença
que defere benefício previdenciário é espécie absolutamente mensurável, visto que pode ser aferível por
simples cálculos aritméticos, os quais são expressamente previstos na lei de regência, e, invariavelmente, não
alcançará valor superior a 1.000 salários mínimos.
STJ. 1ª Turma. REsp 1844937/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 12/11/2019.

Não cabe a instauração de IRDR se, quando a parte requereu o incidente, o Tribunal já havia julgado o
mérito do recurso e estava pendente agora apenas os embargos de declaração contra a decisão
Não caberá a instauração de IRDR se já encerrado o julgamento de mérito do recurso ou da ação originária,
mesmo que pendente de julgamento embargos de declaração.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.470.017-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 15/10/2019 (Info 658).

Não cabe recurso contra o acórdão que admite ou inadmite o IRDR


É irrecorrível o acórdão que admite ou inadmite o Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas – IRDR.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.846-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 05/11/2019 (Info 661).

O procedimento de distinção (distinguishing) previsto no art. 1.037, §§ 9º a 13, do CPC/2015, aplica-se


também ao incidente de resolução de demandas repetitivas – IRDR
O procedimento de alegação de distinção (distinguishing) entre a questão debatida no processo e a questão
submetida ao julgamento sob o rito dos recursos repetitivos, previsto no art. 1.037, §§9º a 13, do CPC, aplica-
se também ao IRDR.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.846.109-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

Se for interposto RE ou REsp contra o acórdão que julgar o IRDR, os processos individuais e coletivos
continuam suspensos até o julgamento desses recursos
Interposto Recurso Especial ou Recurso Extraordinário contra o acórdão que julgou Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas - IRDR, a suspensão dos processos realizada pelo relator ao admitir o incidente só
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cessará com o julgamento dos referidos recursos, não sendo necessário, entretanto, aguardar o trânsito em
julgado.
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O art. 982, § 5º, do CPC afirma que a suspensão dos processos pendentes, no âmbito do IRDR, só irá cessar se
não for interposto recurso especial ou recurso extraordinário contra a decisão proferida no incidente. Assim,
se for interposto algum desses recursos, a suspensão persiste.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.869.867/SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 20/04/2021 (Info 693).

Cabe recurso especial contra acórdão proferido pelo Tribunal de origem em julgamento de IRDR?
Não cabe recurso especial contra acórdão proferido pelo Tribunal de origem que fixa tese jurídica em abstrato
em julgamento do IRDR, por ausência do requisito constitucional de cabimento de “causa decidida”, mas
apenas naquele que aplique a tese fixada, que resolve a lide, desde que observados os demais requisitos
constitucionais do art. 105, III, da Constituição Federal e dos dispositivos do Código de Processo Civil que
regem o tema.
STJ. Corte Especial. REsp 1.798.374-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/05/2022 (Info 737).

TÉCNICA DE AMPLIAÇÃO DO COLEGIADO


A técnica de ampliação de julgamento (art. 942 do CPC/2015) deve ser utilizada quando o resultado da
apelação for não unânime, independentemente de ser julgamento que reforma ou mantém a sentença
impugnada
Assim como ocorria com os embargos infringentes, para a aplicação da técnica de julgamento do art. 942 do
CPC exige-se que a sentença tenha sido reformada no julgamento da apelação?
NÃO. A técnica do julgamento ampliado vale também para sentença mantida pelo Tribunal no julgamento da
apelação por decisão não unânime.
A técnica de ampliação de julgamento prevista no art. 942 do CPC/2015 deve ser utilizada quando o resultado
da apelação for não unânime, independentemente de ser julgamento que reforma ou mantém a sentença
impugnada.
Assim, o que importa é que a decisão que julgou a apelação tenha sido por maioria (julgamento não unânime),
não importando que a sentença tenha sido mantida ou reformada.
Obs: cuidado com as hipóteses de cabimento do art. 942 do CPC nos casos de acórdão que julga agravo de
instrumento e ação rescisória.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.733.820-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/10/2018 (Info 639).

Técnica do julgamento ampliado também pode ser aplicada a embargos de declaração opostos contra
acórdão que julgou apelação, desde que cumpridos os demais requisitos do art. 942 do CPC
A técnica de julgamento ampliado do art. 942 do CPC aplica-se aos aclaratórios opostos ao acórdão de
apelação quando o voto vencido nascido apenas nos embargos for suficiente para alterar o resultado inicial
do julgamento, independentemente do desfecho não unânime dos declaratórios (se rejeitados ou se
acolhidos, com ou sem efeito modificativo).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.786.158-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. Acd. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
25/08/2020 (Info 678).

Os novos julgadores convocados na forma do art. 942 do CPC/2015 poderão analisar todo o conteúdo das
razões recursais, não se limitando à matéria sobre a qual houve divergência
O colegiado formado com a convocação dos novos julgadores (art. 942 do CPC/2015) poderá analisar de forma
ampla todo o conteúdo das razões recursais, não se limitando à matéria sobre a qual houve originalmente
divergência.
Constatada a ausência de unanimidade no resultado da apelação, é obrigatória a aplicação do art. 942 do
CPC/2015, sendo que o julgamento não se encerra até o pronunciamento pelo colegiado estendido, ou seja,
199

inexiste a lavratura de acórdão parcial de mérito.


Os novos julgadores convocados não ficam restritos aos capítulos ou pontos sobre os quais houve inicialmente
divergência, cabendo-lhes a apreciação da integralidade do recurso.
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O prosseguimento do julgamento com quórum ampliado em caso de divergência tem por objetivo a
qualificação do debate, assegurando-se a oportunidade para a análise aprofundada das teses jurídicas

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contrapostas e das questões fáticas controvertidas, com vistas a criar e manter uma jurisprudência uniforme,
estável, íntegra e coerente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.771.815-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 13/11/2018 (Info 638).

Aplica-se a técnica de ampliação do colegiado quando o Tribunal, por maioria, der provimento aos
embargos de declaração para reformar a decisão embargada e, por consequência, reformar a decisão
parcial de mérito prolatada pelo juiz em 1ª instância
Em se tratando de aclaratórios opostos a acórdão que julga agravo de instrumento, a aplicação da técnica de
julgamento ampliado somente ocorrerá se os embargos de declaração forem acolhidos para modificar o
julgamento originário do magistrado de primeiro grau que houver proferido decisão parcial de mérito.
Quando se tratar de embargos de declaração contra acórdão que decidiu agravo de instrumento, só será caso
de ampliação do colegiado se, ao julgar os embargos declaratórios, o colegiado - por maioria - deliberar por
reformar decisão de mérito (o que significa dizer que se terá, por deliberação não unânime, atribuído efeitos
infringentes aos embargos de declaração, reformando-se a decisão embargada e, por conseguinte,
reformando a decisão parcial de mérito prolatada pelo órgão de primeira instância) (CÂMARA, Alexandre
Freitas. A ampliação do colegiado em julgamentos não unânimes. Revista de Processo, ano 43, vol. 282,
ago/2018, p. 264).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.841.584-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/12/2019 (Info 662).

Aplica-se a técnica prevista no art. 942 do CPC no julgamento de recurso de apelação interposto em
mandado de segurança
A técnica de ampliação do colegiado, prevista no art. 942 do CPC/2015, aplica-se também ao julgamento de
apelação interposta contra sentença proferida em mandado de segurança.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.868.072-RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

Os tribunais podem, diante do recurso de apelação, aplicar a técnica do julgamento antecipado parcial do
mérito
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.
Situação hipotética: João foi vítima de um acidente de carro. Ele ajuizou ação de indenização por danos morais
e materiais contra a empresa causadora. O juiz condenou a ré a pagar R$ 50 mil de indenização por danos
morais. Por outro lado, negou o pedido para que a empresa pagasse pensão mensal vitalícia ao autor em razão
da perda da capacidade laborativa. O pedido foi indeferido mesmo sem ter sido realizada perícia médica.
Tanto João como a empresa interpuseram apelação. O Tribunal de Justiça, ao julgar o recurso: a) manteve a
condenação por danos morais; b) quanto ao pedido de fixação de pensão por redução da capacidade
laborativa, o TJ entendeu que as provas produzidas eram insuficientes e afirmou ser necessária a produção de
perícia. Em razão disso, com fundamento no art. 356 do CPC/2015, o TJ apenas anulou a sentença nesse tópico,
determinando o retorno dos autos à origem para a complementação da prova. O STJ afirmou que isso era
possível.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.845.542/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/05/2021 (Info 696).

É possível a rediscussão da repercussão geral no Plenário físico mesmo tendo sido reconhecida previamente
no Plenário Virtual
O reconhecimento da repercussão geral no Plenário Virtual não impede sua rediscussão no Plenário físico,
notadamente quando tal reconhecimento tenha ocorrido por falta de manifestações suficientes.
200

STF. Plenário. RE 584247/RR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/10/2016 (Info 845).

Desnecessidade de ratificação do REsp que foi interposto antes dos embargos se estes não modificaram a
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decisão recorrida

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Súmula 579-STJ: Não é necessário ratificar o recurso especial interposto na pendência do julgamento dos
embargos de declaração, quando inalterado o resultado anterior.

É necessária a comprovação de feriado local no ato de interposição do recurso (art. 1.003, § 6º do CPC/2015)
Nos termos do art. 1.003, § 6º, do CPC/2015, a comprovação da ocorrência de feriado local deve ser feita no
ato da interposição do recurso, sendo intempestivo quando interposto fora do prazo previsto na lei processual
civil.
STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 1539007/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/03/2020.
STF. 1ª Turma. RE-AgR 1.198.084, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 23/08/2019.

A simples referência à existência de feriado local previsto em Regimento Interno e em Código de


Organização Judiciária Estadual não é suficiente para a comprovação de tempestividade do recurso especial
nos moldes do art. 1.003, §6º, do CPC/2015
STJ. 3ª Turma. REsp 1.763.167-GO, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em
18/02/2020 (Info 665).

Art. 932, parágrafo único, do CPC não pode ser aplicado para o caso de recurso que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida
O prazo de 5 dias previsto no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 só se aplica aos casos em que seja
necessário sanar vícios formais, como ausência de procuração ou de assinatura, e não à complementação da
fundamentação. Assim, esse dispositivo não incide nos casos em que o recorrente não ataca todos os
fundamentos da decisão recorrida. Isso porque, nesta hipótese, seria necessária a complementação das razões
do recurso, o que não é permitido.
STF. 1ª Turma. ARE 953221 AgR/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 7/6/2016 (Info 829).

Possibilidade de a parte juntar novos documentos em sede de apelação


É possível que a parte junte novos documentos na apelação, desde que atendidos os seguintes requisitos:
a) não se trate de documento indispensável à propositura da ação;
b) não haja indício de má fé;
c) seja ouvida a parte contrária, garantindo-se o contraditório (art. 398 do CPC).
STJ. 1ª Turma. REsp 1.176.440-RO, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/9/2013 (Info 533).

O rol do art. 1.015 do CPC/2015 é de taxatividade mitigada


O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de instrumento
quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.
STJ. Corte Especial. REsp 1.704.520-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018 (recurso repetitivo)
(Info 639).

Não cabe mandado de segurança contra decisão interlocutória proferida após a publicação do acórdão do
STJ que fixou a tese da taxatividade mitigada (Tema 988 – Dje 19/12/2018)
Não é admissível, nem excepcionalmente, a impetração de mandado de segurança para impugnar decisões
interlocutórias após a publicação do acórdão em que se fixou a tese referente ao tema repetitivo 988, segundo
a qual “o rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição de agravo de
instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de
apelação”.
Caso concreto: juiz indeferiu pedido de designação da audiência de conciliação prevista no art. 334 do CPC, ao
201

fundamento de “dificuldade de pauta”. Essa decisão foi proferida em 07/02/2019, ou seja, após a publicação
do acórdão do STJ que definiu a tese da taxatividade mitigada (Tema 998 - REsp 1.704.520-MT - DJe
19/12/2018). Logo, neste caso, essa decisão interlocutória somente seria impugnável por agravo de
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instrumento, não cabendo, portanto, mandado de segurança.

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STJ. 3ª Turma. RMS 63202-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em
01/12/2020 (Info 684).

A decisão interlocutória que rejeita a ocorrência de prescrição ou decadência é uma decisão de mérito, que
enseja a agravo de instrumento com base no inciso II do art. 1.015 do CPC/2015
A decisão interlocutória que afasta (rejeita) a alegação de prescrição é recorrível, de imediato, por meio de
agravo de instrumento com fundamento no art. 1.015, II, do CPC/2015. Isso porque se trata de decisão de
mérito.
Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas somente na sentença, não
há óbice para que essas questões sejam examinadas por intermédio de decisões interlocutórias, hipótese em
que caberá agravo de instrumento com base no art. 1.015, II, do CPC/2015, sob pena de formação de coisa
julgada material sobre a questão.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.756-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/02/2019 (Info 643).

Não cabe agravo de instrumento contra a decisão que aplica multa por ato atentatório à dignidade da
justiça pelo não comparecimento à audiência de conciliação
A decisão que aplica a multa do art. 334, §8º, do CPC, à parte que deixa de comparecer à audiência de
conciliação, sem apresentar justificativa adequada, não pode ser impugnada por agravo de instrumento, não
se inserindo na hipótese prevista no art. 1.015, II, do CPC. Tal decisão poderá, no futuro, ser objeto de recurso
de apelação, na forma do art. 1.009, §1º, do CPC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.762.957-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 668).

Não cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que impõe ao beneficiário o dever de arcar
com as despesas da estadia do bem móvel objeto da busca e apreensão em pátio de terceiro.
Tal situação não pode ser enquadrada no art. 1.015, I, do CPC/2015 porque essa decisão não se relaciona, de
forma indissociável, com a tutela provisória.
Trata-se, na verdade, de decisão que diz respeito a aspectos externos relacionados com a executoriedade,
operacionalização ou implementação fática da busca e apreensão (e não com a tutela provisória em si).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.752.049-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/03/2019 (Info 644).

A decisão interlocutória que majora a multa fixada para a hipótese de descumprimento de decisão
antecipatória de tutela anteriormente proferida é recorrível por agravo de instrumento
A decisão interlocutória que majora a multa que havia sido fixada inicialmente consiste em uma tutela
provisória sendo, portanto, recorrível por agravo de instrumento com base no art. 1.015, I, do CPC/2015:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
Se é concedida uma tutela provisória e, posteriormente, é proferida uma segunda decisão interlocutória
modificando essa tutela provisória, pode-se considerar que esse segundo pronunciamento jurisdicional se
enquadra no conceito de decisão interlocutória que verse sobre tutela provisória.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.827.553-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/08/2019 (Info 655).

Cabe agravo de instrumento contra decisão interlocutória que exclui o litisconsorte; não cabe este recurso
contra a decisão que mantém o litisconsorte
Segundo o inciso VII do art. 1.015, do CPC/2015: “cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre exclusão de litisconsorte”.
Essa previsão abrange somente a decisão que exclui o litisconsorte.
202

Assim, cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que exclui o litisconsorte.
Por outro lado, não cabe agravo de instrumento contra a decisão que indefere o pedido de exclusão de
litisconsorte (decisão que mantém o litisconsorte).
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STJ. 3ª Turma. REsp 1.724.453-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/03/2019 (Info 644).

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Súmula 641-STF: Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos litisconsortes haja
sucumbido.

Súmula 99-STJ: O Ministério Público tem legitimidade para recorrer no processo em que oficiou como fiscal
da lei, ainda que não haja recurso da parte.

A prerrogativa de prazo em dobro para as manifestações processuais também se aplica aos escritórios de
prática jurídica de instituições privadas de ensino superior
A partir da entrada em vigor do art. 186, § 3º, do CPC/2015, a prerrogativa de prazo em dobro para as
manifestações processuais também se aplica aos escritórios de prática jurídica de instituições privadas de
ensino superior.
Art. 186. A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais. (...) §
3º O disposto no caput aplica-se aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito reconhecidas na
forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de convênios firmados com a
Defensoria Pública.
STJ. Corte Especial. REsp 1.986.064-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2022 (Info 740).

Recurso especial
Súmula 518-STJ: Para fins do art. 105, III, "a", da Constituição Federal, não é cabível recurso especial fundado
em alegada violação de enunciado de súmula.

É necessária a indicação da alínea do inciso III do art. 105, da Constituição, no momento da interposição do
recurso especial, para que este seja conhecido pelo STJ?
A falta de indicação expressa da norma constitucional que autoriza a interposição do recurso especial (alíneas
“a”, “b” e “c” do inciso III do art. 105 da CF/88) implica o seu não conhecimento pela incidência da Súmula 284
do STF, salvo, em caráter excepcional, se as razões recursais conseguem demonstrar, de forma inequívoca, a
hipótese de seu cabimento.
Súmula 284-STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência na sua fundamentação não
permitir a exata compreensão da controvérsia.
STJ. Corte Especial. EAREsp 1672966-MG, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 20/04/2022 (Info 734).

A parte interpôs recurso especial contra acórdão do TJ; no STJ, a União pede e é admitida como assistente
simples da recorrente; o STJ determina o retorno dos autos ao Tribunal de origem para novo julgamento; o
processo deverá ser remetido para o TRF (e não para o TJ)
Existindo interesse jurídico da União no feito, na condição de assistente simples, a competência afigura-se da
Justiça Federal, conforme prevê o art. 109, I, da Constituição da República, motivo pelo qual compete ao
Tribunal Regional Federal o julgamento de embargos de declaração opostos contra acórdão proferido pela
Justiça Estadual.
STJ. Corte Especial. EREsp 1265625-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 30/03/2022 (Info 731).

Súmula 568-STJ: O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal de Justiça, poderá dar ou negar
provimento ao recurso quando houver entendimento dominante acerca do tema.

OUTRAS SÚMULAS SOBRE RECURSOS


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Súmula 98-STJ: Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não tem
caráter protelatório.
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Súmula 579-STJ: Não é necessário ratificar o recurso especial interposto na pendência do julgamento dos
embargos de declaração quando inalterado o julgamento anterior.

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Súmula 279-STF: Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.

Súmula 735-STF: Não cabe recurso extraordinário contra acórdão que defere medida liminar.

Súmula 281-STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na justiça de origem, recurso
ordinário da decisão impugnada.

Súmula 640-STF: É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas
de alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.

Súmula 637-STF: Não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que defere pedido de
intervenção estadual em Município.

Súmula 733-STF: Não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no processamento de precatórios.

Súmula 634-STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conceder medida cautelar para dar efeito
suspensivo a recurso extraordinário que ainda não foi objeto de juízo de admissibilidade na origem.

Súmula 635-STF: Cabe ao Presidente do Tribunal de origem decidir o pedido de medida cautelar em recurso
extraordinário ainda pendente do seu juízo de admissibilidade.

Súmula 83-STJ: Não se conhece do recurso especial pela divergência, quando a orientação do tribunal se
firmou no mesmo sentido da decisão recorrida.

Súmula 13-STJ: A divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja recurso especial.

Súmula 5-STJ: A simples interpretação de cláusula contratual não enseja recurso especial.

Súmula 7-STJ: A pretensão de simples reexame de prova não enseja recurso especial.

Súmula 126-STJ: É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos
constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não
manifesta recurso extraordinário.

Súmula 211-STJ: Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposição de embargos
declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.

Súmula 86-STJ: Cabe recurso especial contra acórdão proferido no julgamento de agravo de instrumento.

Súmula 203-STJ: Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados
Especiais.

Súmula 344-STJ: A liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a coisa julgada.

O credor pode optar pela remessa dos autos ao foro de domicílio do executado, mesmo após o início do
cumprimento de sentença
204

O inciso II do art. 516 do CPC prevê que o cumprimento da sentença será feito perante o juízo que decidiu a
causa no primeiro grau de jurisdição. O parágrafo único, por sua vez, afirma que o exequente poderá optar
por ingressar com o cumprimento de sentença: a) no juízo do atual domicílio do executado; b) no juízo do local
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onde se encontrem os bens sujeitos à execução; c) no juízo do local onde deva ser executada a obrigação de
fazer ou de não fazer.
É possível que o exequente faça a opção de que trata o parágrafo único do art. 516 do CPC/2015 mesmo após
já ter sido iniciado o cumprimento de sentença?
SIM. O credor pode optar pela remessa dos autos ao foro de domicílio do executado, mesmo após o início do
cumprimento de sentença.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.776.382-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2019 (Info 663).

Não se pode alterar o índice de correção monetária fixado na sentença transitada em julgado mesmo que o
STF tenha declarado tal índice inconstitucional posteriormente à sentença
Na fase de cumprimento de sentença não se pode alterar os critérios de atualização dos cálculos estabelecidos
na decisão transitada em julgado, ainda que para adequá-los ao entendimento do STF firmado em repercussão
geral.
Sem que a decisão acobertada pela coisa julgada tenha sido desconstituída, não é cabível ao juízo da fase de
cumprimento de sentença alterar os parâmetros estabelecidos no título judicial, ainda que no intuito de
adequá-los à decisão vinculante do STF.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.861.550-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/06/2020 (Info 676).

Cabimento de honorários advocatícios se não houve pagamento voluntário


Súmula 517-STJ: São devidos honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação,
depois de escoado o prazo para pagamento voluntário, que se inicia após a intimação do advogado da parte
executada.

Qual é o recurso cabível contra o pronunciamento que julga a impugnação ao cumprimento de sentença?
• Se o pronunciamento judicial extinguir a execução: será uma sentença e caberá APELAÇÃO.
• Se o pronunciamento judicial não extinguir a execução: será uma decisão interlocutória e caberá AGRAVO
DE INSTRUMENTO.
Assim, o recurso cabível contra a decisão que acolhe impugnação ao cumprimento de sentença e extingue a
execução é a apelação.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.698.344-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/05/2018 (Info 630).

A protocolização dos embargos à execução nos autos da própria ação executiva constitui vício sanável
Se o embargante (executado) apresenta, de forma incorreta, os embargos à execução nos próprios autos da
execução, o juiz não deverá rejeitar liminarmente esses embargos.
O magistrado deverá conceder prazo para que a parte faça o desentranhamento dos embargos e promova a
sua distribuição em autos apartados, por dependência. Isso porque a propositura dos embargos à execução
nos próprios autos da execução configura vício sanável, que pode ser, portanto, corrigido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.807.228-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/09/2019 (Info 656).

Juiz não pode se recusar a determinar a inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes (art.
782, § 3º, do CPC/2015) sob o fundamento de que o exequente teria condições de fazer isso diretamente
O art. 782, § 3º, do CPC/2015 prevê que, a requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão do nome
do executado em cadastros de inadimplentes.
O dispositivo legal que autoriza a inclusão do nome do devedor nos cadastros de inadimplentes exige,
necessariamente, o requerimento da parte, não podendo o juízo promovê-lo de ofício.
Ademais, depreende-se da redação do referido dispositivo legal que, havendo o requerimento, não há a
205

obrigação legal de o Juiz determinar a negativação do nome do devedor, tratando-se de mera


discricionariedade. A medida, então, deverá ser analisada casuisticamente, de acordo com as particularidades
do caso concreto.
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Não cabe, contudo, ao julgador criar restrições que a própria lei não criou, limitando o seu alcance, por
exemplo, à comprovação da hipossuficiência da parte. Tal atitude vai de encontro ao próprio espírito da
efetividade da tutela jurisdicional, norteador de todo o sistema processual.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.887.712-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/10/2020 (Info 682).

Honorários advocatícios
Julgada procedente em parte a exceção de pré-executividade, são devidos honorários de advogado em favor
do excipiente/executado na medida do respectivo proveito econômico.
A procedência do incidente de exceção de pré-executividade, ainda que resulte apenas na extinção parcial da
execução ou redução de seu valor, acarreta a condenação na verba honorária.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.276.956-RS, Rel. Min. Ari Pargendler, julgado em 4/2/2014 (Info 534).

Em sede de exceção de pré-executividade, o juiz pode determinar a complementação das provas, desde que
elas sejam preexistentes
Para que a exceção de pré-executividade seja conhecida, é necessário o preenchimento de dois requisitos:
a) Material: o devedor só pode alegar matérias que possam ser conhecidas de ofício pelo magistrado (ex.:
condições da ação e os pressupostos processuais);
b) Formal: é indispensável que a decisão possa ser tomada sem necessidade de dilação probatória.
Com relação ao requisito formal, é imprescindível que a questão suscitada seja de direito ou diga respeito a
fato documentalmente provado. A exigência de que a prova seja pré-constituída tem por escopo evitar
embaraços ao regular processamento da execução. Assim, as provas capazes de influenciar no convencimento
do julgador devem acompanhar a petição de objeção de não-executividade. No entanto, a intimação do
executado para juntar aos autos prova pré-constituída mencionada nas razões ou complementar os
documentos já apresentados não configura dilação probatória, de modo que não excede os limites da exceção
de pré-executividade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.912.277-AC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/05/2021 (Info 697).

Cabe habeas corpus para impugnar decisão judicial que determinou a retenção de passaporte
Em regra, não se admite a utilização de habeas corpus como substituto de recurso próprio, ou seja, se cabia
um recurso para impugnar a decisão, não se pode aceitar que a parte prejudicada impetre um HC.
Exceção: se, no caso concreto, a decisão impugnada for flagrantemente ilegal, gerando prejuízo à liberdade
do paciente, o Tribunal deverá conceder o habeas corpus de ofício.
O acautelamento de passaporte é medida que limita a liberdade de locomoção, razão pela qual pode, no caso
concreto, significar constrangimento ilegal e arbitrário, sendo o habeas corpus via processual adequada para
essa análise. Isso vale não apenas para decisões criminais como também cíveis.
STJ. 4ª Turma. RHC 97.876-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 05/06/2018 (Info 631).

Não cabe habeas corpus para impugnar decisão judicial que determinou a suspensão de CNH
A suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) não configura ameaça ao direito de ir e vir do titular.
Isso porque mesmo com a decretação da medida, o sujeito continua com a liberdade de ir e vir, para todo e
qualquer lugar, desde que não o faça como condutor do veículo.
Logo, não cabe habeas corpus contra decisão que determina a apreensão de CNH.
STJ. 4ª Turma. RHC 97.876-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 05/06/2018 (Info 631).
STJ. 5ª Turma. HC 383.225/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 04/05/2017.

É ilegal medida coercitiva de retenção do passaporte em decisão não fundamentada e que não observou o
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contraditório, proferida no bojo de execução por título extrajudicial


Revela-se ilegal e arbitrária a medida coercitiva de suspensão do passaporte proferida no bojo de execução
por título extrajudicial (duplicata de prestação de serviço), por restringir direito fundamental de ir e vir de
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forma desproporcional e não razoável. Não tendo sido demonstrado o esgotamento dos meios tradicionais de
satisfação, a medida não se comprova necessária.
Para que o julgador se utilize de meios executivos atípicos, a decisão deve ser fundamentada e sujeita ao
contraditório, demonstrando-se a excepcionalidade da medida adotada em razão da ineficácia dos meios
executivos típicos, sob pena de configurar-se como sanção processual.
Vale ressaltar que o juiz até poderá, eventualmente, decretar a retenção do passaporte do executado desde
que:
• seja obedecido o contraditório e
• a decisão proferida seja fundamentada e adequada, demonstrando-se a proporcionalidade dessa medida
para o caso concreto.
STJ. 4ª Turma. RHC 97.876-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 05/06/2018 (Info 631).

Penhora sobre faturamento


É possível, em caráter excepcional, que a penhora recaia sobre o faturamento da empresa, desde que o
percentual fixado não torne inviável o exercício da atividade empresarial. Não há violação ao princípio da
menor onerosidade para o devedor.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 242.970-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 13/11/2012.

É possível a penhora de quotas sociais de sócio por dívida particular por ele contraída, ainda que de
sociedade empresária em recuperação judicial
Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já que
não enseja, necessariamente, a liquidação da quota.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.803.250-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Não se pode penhorar valores que estão na conta bancária pessoal do marido da devedora, sendo que ele
não constou do título executivo, pelo simples fato de serem casados em regime de comunhão parcial de
bens
Não é possível a penhora de ativos financeiros da conta bancária pessoal de terceiro, não integrante da relação
processual em que se formou o título executivo, pelo simples fato de ser cônjuge da parte executada com
quem é casado sob o regime da comunhão parcial de bens.
Situação hipotética: Luciana comprou itens de vidraçaria de uma loja, mas não pagou. A loja ajuizou ação de
cobrança contra Luciana, tendo a sentença condenado a ré a pagar o valor devido. Após o trânsito em julgado,
o banco ingressou com cumprimento de sentença contra Luciana. Não se localizou qualquer bem em nome da
devedora. Diante disso, a exequente pediu a penhora de ativos financeiros (dinheiro) que estavam na conta
bancária de Pedro, marido de Luciana. Essa penhora é indevida.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.869.720/DF, Relator p/ acórdão Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/04/2021
(Info 694).

São penhoráveis os valores oriundos de empréstimo consignado, salvo se o mutuário comprovar que os
recursos são necessários à sua manutenção e de sua família
Os valores oriundos de empréstimo consignado em folha de pagamento, depositados em conta bancária do
devedor, não gozam de proteção da impenhorabilidade atribuída aos salários, proventos e pensões. Não se
aplica, neste caso, o art. 833, IV, do CPC/2015:
Art. 833. São impenhoráveis: IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os
proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por
207

liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador


autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2º;
Assim, a quantia decorrente de empréstimo consignado, embora seja descontada diretamente da folha de
Página

pagamento do mutuário, não tem caráter salarial, sendo, em regra, passível de penhora.

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A proteção da impenhorabilidade ocorre somente se o mutuário (devedor) comprovar que os recursos
oriundos do empréstimo consignado são necessários à sua manutenção e à da sua família.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.820.477-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

Impenhorabilidade da pequena propriedade rural


A pequena propriedade rural, trabalhada pela família, é impenhorável, ainda que dada pelos proprietários em
garantia hipotecária para financiamento da atividade produtiva.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.368.404-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 13/10/2015 (Info 574).

Os bens da Fundação Habitacional do Exército - FHE são impenhoráveis


A Fundação Habitacional do Exército (FHE) é uma entidade vinculada ao Exército Brasileiro, criada pela Lei nº
6.855/80.
A FHE tem por objetivo facilitar a aquisição da “casa própria” para os militares e demais associados, além de
prestar outras formas de “apoio social” aos militares (exs: consórcios, seguros, planos odontológicos etc.).
Os bens da FHE são considerados impenhoráveis em razão de dois motivos:
1) a FHE possui características de autarquia federal (e os bens das autarquias são impenhoráveis);
2) o art. 31 da Lei nº 6.855/80 prevê que o patrimônio da FHE goza dos privilégios próprios da Fazenda Pública,
inclusive quanto à impenhorabilidade.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.802.320-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 12/11/2019 (Info 662).

Não é possível a penhora de percentual do auxílio emergencial para pagamento de crédito constituído em
favor de instituição financeira
O Auxílio Emergencial é um benefício financeiro, instituído pela Lei nº 13.982/2020, pago pela União a
trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados, e que foi
criado com o objetivo de fornecer proteção emergencial, pelo prazo de poucos meses, às pessoas que
perderam sua renda em virtude da crise causada pela Covid-19.
O valor do auxílio emergencial pode ser penhorado? Em regra, não. Isso porque se trata de verba de natureza
alimentar, sendo impenhorável, nos termos do art. 833, IV, do CPC.
Há duas exceções previstas no § 2º do art. 833:
1) para pagamento de prestação alimentícia (qualquer que seja a sua origem).
2) sobre o montante que exceder 50 salários-mínimos.
É possível a penhora do auxílio emergencial para pagamento de dívidas com bancos?
Não. As dívidas comuns não podem gozar do mesmo status diferenciado da dívida alimentar a permitir a
penhora indiscriminada das verbas remuneratórias, sob pena de se afastarem os ditames e a própria ratio
legis do Código de Processo Civil (art. 833, IV, c/c o § 2º).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.935.102-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 29/06/2021 (Info 703).
Desnecessidade de exaurimento das vias extrajudiciais para a utilização do sistema RENAJUD
Para que o exequente requeira do Poder Judiciário a consulta ao RENAJUD sobre a existência de veículos em
nome do executado, é necessário que comprove que tentou previamente obter essa informação do DETRAN,
mas não conseguiu?
NÃO. A utilização do sistema RENAJUD com o propósito de identificar a existência de veículos penhoráveis em
nome do executado não pressupõe a comprovação do insucesso do exequente na obtenção dessas
informações mediante consulta ao DETRAN.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.347.222-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/8/2015 (Info 568).

É possível a manutenção de penhora de valores via sistema BACENJUD no caso de parcelamento do crédito
208

fiscal?
O bloqueio de ativos financeiros do executado via sistema BACENJUD, em caso de concessão de parcelamento
fiscal, seguirá a seguinte orientação:
Página

(i) será levantado o bloqueio se a concessão é anterior à constrição; e

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(ii) fica mantido o bloqueio se a concessão ocorre em momento posterior à constrição, ressalvada, nessa
hipótese, a possibilidade excepcional de substituição da penhora online por fiança bancária ou seguro
garantia, diante das peculiaridades do caso concreto, mediante comprovação irrefutável, a cargo do
executado, da necessidade de aplicação do princípio da menor onerosidade.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.696.270-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/06/2022 (Recurso
Repetitivo – Tema 1012) (Info 740).

Em regra, não é possível o bloqueio de ativos financeiros via Bacen Jud antes da citação
Apenas quando o executado for validamente citado, e não pagar nem nomear bens à penhora, é que poderá
ter seus ativos financeiros bloqueados por meio do sistema Bacen-Jud, sob pena de violação ao princípio do
devido processo legal.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1.933.725/SP, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 27/9/2021.

O CPC/2015 não alterou a natureza jurídica do bloqueio de dinheiro via Bacen Jud, permanecendo a natureza
acautelatória e a necessidade de comprovação dos requisitos para sua efetivação em momento anterior à
citação.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.664.465-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 02/08/2022 (Info 743).

Decisão que determina pagamento de valores atrasados a anistiado político não se submete aos precatórios
A decisão judicial que, em julgamento de mandado de segurança, determina que a União faça o pagamento
dos valores atrasados decorrentes de reparação econômica devida a anistiado político não se submete ao
regime dos precatórios, devendo o pagamento ser feito de forma imediata.
STF. Plenário. RE 553710/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2016 (Info 847).

Súmula 624-STJ: É possível cumular a indenização do dano moral com a reparação econômica da Lei nº
10.559/2002 (Lei da Anistia Política).

Súmula 279-STJ: É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública.

É válida a penhora realizada sobre bens de sociedade de economia mista que posteriormente foi sucedida
pela União
É válida a penhora em bens de pessoa jurídica de direito privado, realizada anteriormente à sucessão desta
pela União, não devendo a execução prosseguir mediante precatório (art. 100, caput e § 1º, da Constituição
Federal).
STF. Plenário. STF. Plenário. RE 693112-MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 09/02/2017 (repercussão
geral) (Info 853).
Índices de juros e correção monetária aplicados para condenações contra a Fazenda Pública
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, na parte em que disciplina os
juros moratórios aplicáveis a condenações da Fazenda Pública, é inconstitucional ao incidir sobre débitos
oriundos de relação jurídico-tributária, aos quais devem ser aplicados os mesmos juros de mora pelos quais a
Fazenda Pública remunera seu crédito tributário, em respeito ao princípio constitucional da isonomia (art. 5º,
da CF/88).
Quanto às condenações oriundas de relação jurídica não-tributária, a fixação dos juros moratórios segundo o
índice de remuneração da caderneta de poupança é constitucional, permanecendo hígido, nesta extensão, o
disposto no art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009.
O art. 1º-F da Lei nº 9.494/97, com a redação dada pela Lei nº 11.960/2009, na parte em que disciplina a
209

atualização monetária das condenações impostas à Fazenda Pública segundo a remuneração oficial da
caderneta de poupança, revela-se inconstitucional ao impor restrição desproporcional ao direito de
propriedade (art. 5º, XXII, da CF/88), uma vez que não se qualifica como medida adequada a capturar a
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variação de preços da economia, sendo inidônea a promover os fins a que se destina.

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STF. Plenário. RE 870947/SE, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2017 (repercussão geral) (Info 878).

EMBARGOS DE TERCEIRO
Não se admite cumulação de pedidos estranhos à natureza constitutivo-negativa dos embargos de terceiro
Além do pedido de proteção da posse ou propriedade, é possível formular pedido de indenização por danos
morais em embargos de terceiro?
NÃO. Os embargos de terceiro têm como única finalidade a de evitar ou afastar a constrição judicial sobre
bens de titularidade daquele que não faz parte do processo. Diz-se, portanto, que os embargos de terceiro
possuem uma cognição limitada/restrita porque se limitam a uma providência constitutivo-negativa.
Dessa forma, considerando a cognição limitada dos embargos de terceiro, revela-se inadmissível a cumulação
de pedidos estranhos à sua natureza constitutivo-negativa, como, por exemplo, o pleito de condenação a
indenização por danos morais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.703.707-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. em 25/05/2021 (Info 698).

Súmula 134-STJ: Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado pode opor
embargos de terceiro para defesa de sua meação.

Súmula 195-STJ: Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores.

Súmula 84-STJ: É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de posse advinda do
compromisso de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido do registro.

Súmula 376-STJ: Compete à turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato de juizado
especial.

Não existe vedação legal para que o autor que quiser propor a ação no JEF renuncie o valor que exceder 60
salários mínimos a fim de poder se adequar ao teto do Juizado
Compete ao Juizado Especial Federal Cível processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça
Federal até o valor de 60 salários mínimos (art. 3º da Lei nº 10.259/2001).
Suponhamos que o indivíduo quer pleitear da União uma vantagem econômica equivalente a 65 salários
mínimos. Ele poderá ajuizar essa ação no Juizado Especial (em regra, é mais célere), desde que aceite
renunciar, já na petição inicial, os 5 salários mínimos que excedem o teto do JEF.
Ao autor que deseje litigar no âmbito de Juizado Especial Federal Cível, é lícito renunciar, de modo expresso e
para fins de atribuição de valor à causa, ao montante que exceda os 60 (sessenta) salários mínimos previstos
no art. 3º, caput, da Lei nº 10.259/2001, aí incluídas, sendo o caso, as prestações vincendas.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.807.665-SC, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 28/10/2020 (Recurso Repetitivo – Tema
1030) (Info 683)

Duas informações adicionais sobre o tema:


• Na hipótese de o pedido englobar prestações vencidas e vincendas, o teto do JEF é calculado pela soma das
prestações vencidas mais doze parcelas vincendas. Essa soma não pode ser superior a 60 salários mínimos
(STJ. 3ª Seção. CC 91.470/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 13/8/2008).
• A competência atribuída aos Juizados Especiais Federais possui natureza absoluta, a teor do art. 3º, § 3º, da
Lei nº 10.259/2001, observando-se, para isso, o valor da causa (STJ. 2ª Turma. REsp 1.707.486/PB, Rel. Min.
Og Fernandes, julgado em 3/4/2018).
210

Requisitos para admissibilidade de reclamação e de pedido de uniformização de jurisprudência


Não é cabível reclamação, tampouco pedido de uniformização de jurisprudência ao STJ contra acórdão de
Página

Turma Recursal do Juizado Especial da Fazenda Pública sob a alegação de que a decisão impugnada diverge
de orientação fixada em precedentes do STJ.

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STJ. 1ª Seção. Rcl 22.033-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/4/2015 (Info 559).

Mesmo quando o INSS for réu na Justiça Estadual, a ação não pode tramitar no Juizado Especial da Fazenda
Pública
Os Juizados Especiais da Fazenda Pública não têm competência para o julgamento de ações decorrentes de
acidente de trabalho em que o INSS figure como parte.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.866.015/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/03/2021 (Recurso Repetitivo –
Tema 1053) (Info 688).

MS contra ato do Ministro que não efetuou pagamento dos valores atrasados a anistiado político
Cabe mandado de segurança contra ato do Ministro da Defesa que não efetua o pagamento dos valores
atrasados decorrentes da reparação econômica devida a anistiado político (art. 8º do ADCT).
Diferentemente de uma ação de cobrança, que é proposta para o pagamento de valores atrasados, no caso
em tela temos um mandado de segurança impetrado para que seja cumpra norma editada pela própria
Administração (Portaria do Ministro da Justiça).
STF. Plenário. RE 553710/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/11/2016 (Info 847).

É possível desistir do MS mesmo após a sentença de mérito


O impetrante pode desistir de mandado de segurança sem a anuência do impetrado mesmo após a prolação
da sentença de mérito.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.405.532-SP, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 10/12/2013 (Info 533).

O mandado de segurança deverá ter seu mérito apreciado independentemente de superveniente trânsito
em julgado da decisão questionada pelo mandamus
É incabível mandado de segurança contra decisão judicial transitada em julgado (art. 5º, III, da Lei nº
12.016/2009 e Súmula nº 268-STF).
No entanto, se a impetração do mandado de segurança for anterior ao trânsito em julgado da decisão
questionada, mesmo que venha a acontecer, posteriormente, o mérito do MS deverá ser julgado, não
podendo ser invocado o seu não cabimento ou a perda de objeto.
STJ. Corte Especial. EDcl no MS 22.157-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/03/2019 (Info 650).

Não há sucessão processual em MS


No mandado de segurança, se o impetrante morre, os seus herdeiros não podem se habilitar para continuar
o processo. Assim, falecendo o impetrante, o mandado de segurança será extinto sem resolução do mérito,
ainda que já esteja em fase de recurso. Isso ocorre em razão do caráter mandamental e da natureza
personalíssima do MS.
STJ. 3ª Seção. EDcl no MS 11.581-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 26/6/2013 (Info 528).

Prazo decadencial para impetrar MS contra redução de vantagem de servidor público


O prazo decadencial para impetrar mandado de segurança contra redução do valor de vantagem integrante
de proventos ou de remuneração de servidor público renova-se mês a mês.
A redução, ao contrário da supressão de vantagem, configura relação de trato sucessivo, pois não equivale à
negação do próprio fundo de direito. Assim, o prazo decadencial para se impetrar a ação mandamental
renova-se mês a mês.
• Ato que SUPRIME vantagem: é ato ÚNICO (o prazo para o MS é contado da data em que o prejudicado tomou
ciência do ato).
211

• Ato que REDUZ vantagem: consiste em prestação de TRATO SUCESSIVO (o prazo para o MS renova-se mês a
mês).
STJ. Corte Especial. EREsp 1.164.514-AM, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. em 16/12/2015 (Info 578).
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Efeitos financeiros da concessão de ordem mandamental contra ato de redução de vantagem de servidor
público
Os efeitos financeiros, por ocasião da concessão da segurança, devem retroagir à data de sua impetração,
devendo os valores pretéritos ser cobrados em ação própria.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1481406/GO, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 17/04/2018.

Trata-se da aplicação das súmulas 269 e 217 do STF:


Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período
pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.
Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

Parcelas devidas entre a data de impetração e a de implementação da concessão da segurança devem ser
pagas por meio de precatórios
No mandado de segurança impetrado por servidor público contra a Fazenda Pública, as parcelas devidas entre
a data de impetração e a de implementação da concessão da segurança devem ser pagas por meio de
precatórios, e não via folha suplementar.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.522.973-MG, Rel. Min. Diva Malerbi (Desembargadora convocada do TRF da 3ª Região),
julgado em 4/2/2016 (Info 576).

Requisitos para aplicação da teoria da encampação


Súmula 628-STJ: A teoria da encampação é aplicada no mandado de segurança quando presentes,
cumulativamente, os seguintes requisitos:
a) existência de vínculo hierárquico entre a autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do
ato impugnado;
b) manifestação a respeito do mérito nas informações prestadas; e
c) ausência de modificação de competência estabelecida na Constituição Federal.

O Ministério Público possui legitimidade ativa para impetrar Mandado de Segurança a fim de promover a
defesa dos interesses transindividuais e do patrimônio público material ou imaterial
Caso concreto: o Desembargador Corregedor determinou que a serventia extrajudicial fizesse o registro de
alienação de um imóvel público para um particular. O Ministério Público impetrou mandado de segurança
alegando que esse ato seria ilegal.
O TJ entendeu que o Ministério Público não teria legitimidade para impetrar mandado de segurança neste
caso e que deveria ter proposto ação civil pública.
O STJ não concordou.
O fato de o art. 129, III, da CF/88 indicar que o Ministério Público deve promover a ação civil pública na defesa
do patrimônio público, obviamente, não o impossibilita de se utilizar de outros meios para a proteção de
interesses e direitos constitucionalmente assegurados, difusos, coletivos, individuais e sociais indisponíveis,
especialmente diante do princípio da máxima efetividade dos direitos fundamentais.
STJ. 2ª Turma. RMS 67108-MA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/04/2022 (Info 732).

É incabível a interposição de recurso ordinário contra apelação em mandado de segurança


Situação adaptada: João impetrou MS na 1ª instância. O juiz julgou procedente o pedido. O ente público
interpôs apelação. O TRF deu provimento à apelação. João não se conformou e quer recorrer. Qual é o recurso
cabível neste caso? Recurso especial (art. 105, III, da CF/88). Não cabe recurso ordinário (art. 105, II, da CF/88).
Não cabe recurso ordinário porque, no caso concreto, o TRF não decidiu o mandado de segurança em única
212

instância. O TRF decidiu uma apelação (ainda que envolvendo mandado de segurança).
Não se deve, portanto, confundir:
• se o mandado de segurança foi impetrado diretamente no TJ ou TRF e o Tribunal julgou contra o impetrante:
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cabe recurso ordinário para o STJ.

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• se o mandado de segurança foi impetrado em 1ª instância e o TJ ou TRF julgou contra o impetrante em grau
de recurso: cabe recurso especial para o STJ.
Vale ressaltar que a jurisprudência do STJ é no sentido de que constitui erro grosseiro interpor recurso
ordinário, em vez de recurso especial, contra acórdão de apelação e remessa necessária em mandado de
segurança.
STJ. 2ª Turma. RMS 66905-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 22/03/2022 (Info 731).

PRINCIPAIS SÚMULAS SOBRE MANDADO DE SEGURANÇA


Súmula 625-STF: Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança.

Súmula 429-STF: A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do mandado
de segurança contra omissão da autoridade.

Súmula 266-STF: Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.

Súmula 267-STF: Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição.

Súmula 202-STJ: A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona à interposição
de recurso.

Súmula 268-STF: Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.

Súmula 510-STF: Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o
mandado de segurança ou a medida judicial.

Súmula 333-STJ: Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de
economia mista ou empresa pública.

Súmula 631-STF: Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não promove, no prazo
assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.

Súmula 632-STF: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de
segurança.

Súmula 430-STF: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o mandado de
segurança.
Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período
pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.

Súmula 269-STF: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança.

Súmula 624-STF: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer originariamente de mandado de
segurança contra atos de outros tribunais.

Súmula 626-STF: A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em contrário da


decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de concessão da segurança ou,
havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo Tribunal Federal, desde que o objeto da liminar
213

deferida coincida, total ou parcialmente, com o da impetração.


Súmula 405-STF: Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no julgamento do agravo, dela
interposto, fica sem efeito a liminar concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária.
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Súmula 512-STF: Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de segurança.

Súmula 105-STJ: Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorários advocatícios.

Súmula 213-STJ: O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à
compensação tributária.

Súmula 460-STJ: É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária realizada pelo
contribuinte.

Comprovação necessária para o MS impetrado objetivando a declaração do direito à compensação


tributária
Tratando-se de Mandado de Segurança impetrado com vistas a declarar o direito à compensação tributária,
em virtude do reconhecimento da ilegalidade ou inconstitucionalidade da exigência da exação,
independentemente da apuração dos respectivos valores, é suficiente, para esse efeito, a comprovação de
que o impetrante ocupa a posição de credor tributário, visto que os comprovantes de recolhimento indevido
serão exigidos posteriormente, na esfera administrativa, quando o procedimento de compensação for
submetido à verificação pelo Fisco.
De outro lado, tratando-se de Mandado de Segurança com vistas a obter juízo específico sobre as parcelas a
serem compensadas, com efetiva investigação da liquidez e certeza dos créditos, ou, ainda, na hipótese em
que os efeitos da sentença supõem a efetiva homologação da compensação a ser realizada, o crédito do
contribuinte depende de quantificação, de modo que a inexistência de comprovação cabal dos valores
indevidamente recolhidos representa a ausência de prova pré-constituída indispensável à propositura da
ação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.715.256-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 13/02/2019 (recurso
repetitivo) (Info 643).

Súmula 629-STF: A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos
associados independe da autorização destes.

Súmula 630-STF: A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a
pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.

Análise da (in) constitucionalidade da Lei do Mandado de Segurança


Não cabe mandado de segurança contra atos de gestão comercial praticados por administradores de empresas
públicas, sociedades de economia mista e concessionárias de serviço público. É constitucional o art. 1º, § 2º
da Lei nº 12.016/2009.
O juiz tem a faculdade de exigir caução, fiança ou depósito para o deferimento de medida liminar em mandado
de segurança, quando verificada a real necessidade da garantia em juízo, de acordo com as circunstâncias do
caso concreto. É constitucional o art. 7º, III, da Lei nº 12.016/2009.
É inconstitucional ato normativo que vede ou condicione a concessão de medida liminar na via mandamental.
É inconstitucional o art. 7º, § 2º da Lei nº 12.016/2009.
É inconstitucional o § 2º do art. 22, que exigia a oitiva prévia do representante da pessoa jurídica de direito
público como condição para a concessão de liminar em mandado de segurança coletivo. Essa previsão
restringia o poder geral de cautela do magistrado.
É constitucional o art. 23 da Lei nº 12.016/2009, que fixa o prazo decadencial de 120 dias para a impetração
de mandado de segurança.
214

É constitucional o art. 25 da Lei nº 12.016/2009, que prevê que não cabe, no processo de mandado de
segurança, a condenação em honorários advocatícios.
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STF. Plenário. ADI 4296/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes julgado
em 9/6/2021 (Info 1021).

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Inexigibilidade de recolhimento de custas em embargos à monitória
Ação monitória é um procedimento especial, previsto no CPC, por meio do qual o credor exige do devedor o
pagamento de soma em dinheiro, a entrega de coisa fungível ou a entrega de determinado bem móvel com
base em prova escrita que não tem eficácia de título executivo.
Obs: com o CPC de 2015, a ação monitória poderá ser utilizada para exigir a entrega de coisas infungíveis e
também para exigir a entrega de bens imóveis, situações que não eram abarcadas pelo antigo Código. Além
disso, o CPC 2015 prevê que a ação monitória serve também para exigir que o réu cumpra obrigação de fazer
ou não fazer sobre a qual ele está inadimplente.
O réu citado poderá defender-se das alegações do autor. A defesa na ação monitória é denominada de
“embargos à ação monitória”. Os embargos à ação monitória são classificados como uma forma de defesa,
sendo semelhante à contestação.
Para que o réu apresente embargos monitórios, ele precisa pagar previamente as custas?
NÃO. Não se exige o recolhimento de custas iniciais para oferecer embargos à ação monitória. Isso porque os
embargos à monitória têm natureza jurídica de defesa. Vimos acima que é como se fosse uma contestação e
o réu não precisa recolher custas para apresentar contestação. Isso vale tanto para o CPC 1973 como para o
novo CPC.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.265.509-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. em 19/3/2015 (Info 558).

Demonstrativo de débito atualizado como requisito da petição inicial


O CPC 1973 não traz os requisitos da petição inicial da ação monitória.
Apesar disso, a jurisprudência exige que a petição inicial da ação monitória na qual o autor cobra do réu soma
em dinheiro deve ser instruída com demonstrativo de débito atualizado até a data do ajuizamento.
O STJ entende que esse documento é indispensável para que o devedor possa ter o conhecimento detalhado
da quantia que lhe está sendo cobrada, inclusive com a indicação dos critérios, índices e taxas utilizados, a fim
de que o devedor possa validamente impugná-los nos embargos.
O CPC 2015 já traz em seu texto os requisitos para a petição inicial da ação monitória. Um deles é justamente
a memória de cálculo da dívida que esteja sendo cobrada. Desse modo, o entendimento do STJ acima
explicado foi incorporado pelo novo CPC (art. 700, § 2º, I).
O que acontece se o autor ajuizar a ação e não juntar esse demonstrativo (ou se o demonstrativo estiver
incompleto)?
O juiz deverá intimá-lo para que corrija esse vício e traga aos autos o demonstrativo atualizado.
Qual é o prazo que o autor possui para emendar a petição inicial?
• 10 dias no CPC 1973 (art. 284);
• 15 dias no CPC 2015 (art. 321).
Outra novidade do CPC 2015 é que o juiz, ao determinar que o autor emende ou complete a petição inicial,
deverá indicar, com precisão, o que deve ser corrigido ou completado.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.154.730-PE, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. em 8/4/2015 (Info 559).

Compartilhamento no inquérito civil das provas colhidas em investigação criminal mesmo que acobertadas
pelo sigilo
É possível compartilhar as provas colhidas em sede de investigação criminal para serem utilizadas, como prova
emprestada, em inquérito civil público e em outras ações decorrentes do fato investigado. Esse empréstimo
é permitido mesmo que as provas tenham sido obtidas por meio do afastamento ("quebra") judicial dos sigilos
financeiro, fiscal e telefônico.
STF. 1ª Turma. Inq 3305 AgR/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
215

23/2/2016 (Info 815).


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Continência entre ACP ajuizada na justiça estadual e outra na justiça federal

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Súmula 489-STJ: Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas
propostas nesta e na Justiça estadual.

Continência no caso de ações coletivas propostas por entidades distintas


No caso em que duas ações coletivas tenham sido propostas perante juízos de competência territorial distinta
contra o mesmo réu e com a mesma causa de pedir e, além disso, o objeto de uma, por ser mais amplo, abranja
o da outra, competirá ao juízo da ação de objeto mais amplo o processamento e julgamento das duas
demandas, ainda que ambas tenham sido propostas por entidades associativas distintas.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.318.917-BA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. em 12/3/2013 (Info 520).

Suspensão dos processos individuais enquanto se aguarda o julgamento da ação coletiva


É possível determinar a suspensão do andamento de processos individuais até o julgamento, no âmbito de
ação coletiva, da questão jurídica de fundo neles discutida.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.353.801-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 14/8/2013 (Info 527).

ACP com litisconsórcio passivo facultativo comum e apenas um dos réus com foro na justiça federal
Em ação civil pública ajuizada na Justiça Federal, não é cabível a cumulação subjetiva de demandas com o objetivo
de formar um litisconsórcio passivo facultativo comum, quando apenas um dos demandados estiver submetido,
em razão de regra de competência ratione personae, à jurisdição da Justiça Federal, ao passo que a Justiça Estadual
seja a competente para apreciar os pedidos relacionados aos demais demandados.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.120.169-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/8/2013 (Info 530).

Execução provisória em ação coletiva


No âmbito de execução provisória em processo coletivo, para a aplicação da regra constante do art. 475-O, §
2º, do CPC 1973 (art. 521 do CPC 2015), deve o magistrado considerar a situação individual de cada um dos
beneficiários.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.318.917-BA, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, j. em 12/3/2013 (Info 520).

A liquidação da sentença coletiva, promovida pelo Ministério Público, não tem o condão de interromper o
prazo prescricional para o exercício da pretensão individual de liquidação e execução pelas vítimas e seus
sucessores
Não cabe ao Ministério Público promover a liquidação da sentença coletiva para satisfazer, um a um, os
interesses individuais disponíveis das vítimas ou seus sucessores, por se tratar de pretensão não amparada no
CDC e que foge às atribuições institucionais do Parquet. Logo, o requerimento de liquidação da sentença
coletiva, acaso seja feito pelo MP, não é apto a interromper a prescrição para o exercício da respectiva
pretensão pelos verdadeiros titulares do direito tutelado.
Em homenagem à segurança jurídica e ao interesse social que envolve a questão, e diante da existência de
julgados anteriores desta Corte, nos quais se reconheceu a interrupção da prescrição em hipóteses análogas
à destes autos, gerando nos jurisdicionados uma expectativa legítima nesse sentido, faz-se a modulação dos
efeitos desta decisão, com base no § 3º do art. 927 do CPC/2015, para decretar a eficácia prospectiva do novo
entendimento, atingindo apenas as situações futuras, ou seja, as ações civil públicas cuja sentença seja
posterior à publicação deste acórdão.
Convém alertar que a liquidação das futuras sentenças coletivas, exaradas nas ações civis públicas propostas
pelo Ministério Público e relativas a direitos individuais homogêneos, deverão ser promovidas pelas
respectivas vítimas e seus sucessores, independentemente da eventual atuação do Parquet, sob pena de se
sujeitarem os beneficiados à decretação da prescrição.
216

STJ. Corte Especial. REsp 1758708-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/04/2022 (Info 734).
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Afastamento da presunção de legitimidade de associação para propositura de ação coletiva

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É possível ao juízo, de ofício, reconhecer a inidoneidade de associação regularmente constituída para
propositura de ação coletiva?
SIM. Quando houver sintomas de que a legitimação coletiva vem sendo utilizada de forma indevida ou abusiva,
o magistrado poderá, de ofício, afastar a presunção legal de legitimação de associação regularmente
constituída para propositura de ação coletiva.
A legitimidade de uma associação para a propositura de ACP pode ser afastada pelo fato de o estatuto da
associação ser exageradamente genérico?
SIM. O argumento de que o estatuto da associação é desmesuradamente genérico tem respaldo na
jurisprudência do STJ. Embora a finalidade da associação, prevista no estatuto, possa ser razoavelmente
genérica, não pode ser, entretanto, desarrazoada, sob pena de admitirmos a criação de uma associação civil
para a defesa de qualquer interesse, o que desnaturaria a exigência de representatividade adequada do grupo
lesado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.213.614-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 1º/10/2015 (Info 572).

O juiz, ao analisar se uma associação tem pertinência temática para propor ACP, deve adotar interpretação
flexível e ampla
O juízo de verificação da pertinência temática para a proposição de ações civis públicas há de ser
responsavelmente flexível e amplo, em contemplação ao princípio constitucional do acesso à justiça,
mormente a considerar-se a máxima efetividade dos direitos fundamentais.
STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1.788.290-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/05/2022
(Info 738).

A legitimidade ativa na ação civil pública das pessoas jurídicas da administração pública indireta depende
da pertinência temática entre suas finalidades institucionais e o interesse tutelado
Se formos analisar apenas o texto literal, o art. 5º da Lei nº 7.347/85 apenas exige expressamente da
associação a comprovação de pertinência temática para propositura de ação civil pública.
Assim, em uma interpretação literal, as autarquias, empresas públicas, fundações públicas e sociedades de
economia mista não precisariam comprovar a pertinência temática para ajuizarem ações coletivas.
Ocorre que o STJ não adota essa interpretação literal. Isso porque não se pode esquecer que as autarquias,
empresas públicas, fundações públicas e sociedades de economia mista possuem competências legais e
estatutárias, as quais delimitam o seu campo de atuação.
Justamente por isso, a doutrina defende e o STJ encampou a tese de que as entidades da administração pública
indireta somente poderão ingressar com ACP se demonstrarem a pertinência temática.
STJ. 4ª Turma. REsp 1978138-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 22/03/2022 (Info 731).

É inconstitucional a delimitação dos efeitos da sentença proferida em sede de ação civil pública aos limites
da competência territorial de seu órgão prolator
I - É inconstitucional o art. 16 da Lei nº 7.347/85, alterada pela Lei nº 9.494/97.
II - Em se tratando de ação civil pública de efeitos nacionais ou regionais, a competência deve observar o art.
93, II, da Lei nº 8.078/90 (CDC).
III - Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou regional, firma-se a prevenção do juízo que
primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento de todas as demandas conexas.
STF. Plenário. RE 1101937/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/4/2021 (Repercussão Geral –
Tema 1075) (Info 1012).

Legitimidade ativa de associação para defender os interesses de seus filiados


217

A associação não tem legitimidade ativa para defender os interesses dos associados que vierem a se agregar
somente após o ajuizamento da ação de conhecimento.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.468.734-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 1º/3/2016 (Info 579).
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Se uma associação ajuizou ACP, na condição de substituta processual, e obteve sentença coletiva
favorecendo os substituídos, todos os beneficiados possuem legitimidade para a execução individual,
mesmo que não sejam filiados à associação autora
Em ação civil pública proposta por associação, na condição de substituta processual, possuem legitimidade
para a liquidação e execução da sentença todos os beneficiados pela procedência do pedido,
independentemente de serem filiados à associação promovente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.438.263/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 24/03/2021 (Recurso Repetitivo
– Tema 948) (Info 694).

Mesmo sem 1 ano de constituição, associação poderá ajuizar ACP para que fornecedor preste informações
ao consumidor sobre produtos com glúten
Como regra, para que uma associação possa propor ACP, ela deverá estar constituída há pelo menos 1 ano.
Exceção. Este requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz quando haja manifesto interesse
social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido
(§ 4º do art. 5º da Lei nº 7.347/85). Neste caso, a ACP, mesmo tendo sido proposta por uma associação com
menos de 1 ano, poderá ser conhecida e julgada.
Como exemplo da situação descrita no § 4º do art. 5º, o STJ decidiu que:
É dispensável o requisito temporal (pré-constituição há mais de um ano) para associação ajuizar ação civil
pública quando o bem jurídico tutelado for a prestação de informações ao consumidor sobre a existência de
glúten em alimentos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.600.172-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. em 15/9/2016 (Info 591).

Impossibilidade de execução individual de sentença coletiva por pessoa não filiada à associação
A associação dos servidores públicos federais do órgão "XX" ajuizou ação coletiva pedindo que fosse
reconhecida e paga determinada gratificação devida à classe. A ação foi julgada procedente, tendo transitado
em julgado. João é servidor público federal do órgão "XX", mas não é nem nunca foi filiado à referida
associação. Mesmo sem ser associado, João poderá pegar a sentença proferida na ação coletiva e ajuizar
execução individual cobrando o pagamento das verbas relacionadas com a aludida gratificação?
NÃO. As associações, quando propõem ações coletivas, agem como REPRESENTANTES de seus associados (e
não como substitutas processuais). Diante dessa mudança de perspectiva, tem-se o seguinte cenário:
• Regra: a pessoa não filiada não detém legitimidade para executar individualmente a sentença de
procedência oriunda de ação coletiva proposta pela associação.
• Exceção: será possível executar individualmente, mesmo se não for associado, se a sentença coletiva que
estiver sendo executada for mandado de segurança coletivo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.374.678-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 23/6/2015 (Info 565).
Para ser beneficiada pela sentença favorável é necessário que a pessoa esteja filiada no momento da
propositura e seja residente no âmbito da jurisdição do órgão julgador
A eficácia subjetiva da coisa julgada formada a partir de ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por
associação civil na defesa de interesses dos associados, somente alcança os filiados, residentes no âmbito da
jurisdição do órgão julgador, que o fossem em momento anterior ou até a data da propositura da demanda,
constantes da relação jurídica juntada à inicial do processo de conhecimento.
STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2017 (repercussão geral) (Info 864).

O disposto no artigo 5º, inciso XXI, da Carta da República encerra representação específica, não alcançando
previsão genérica do estatuto da associação a revelar a defesa dos interesses dos associados.
As balizas subjetivas do título judicial, formalizado em ação proposta por associação, é definida pela
218

representação no processo de conhecimento, presente a autorização expressa dos associados e a lista destes
juntada à inicial.
STF. Plenário. RE 573232/SC, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio,
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julgado em 14/5/2014 (repercussão geral) (Info 746).

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Retenção de honorários contratuais em execução de demanda coletiva
Na execução de título judicial oriundo de ação coletiva promovida por sindicato na condição de substituto
processual, não é possível destacar os honorários contratuais do montante da condenação sem que haja
autorização expressa dos substituídos ou procuração outorgada por eles aos advogados.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.464.567-PB, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/2/2015 (Info 555).

Aplicabilidade do art. 18 da LACP para ação civil pública movida por sindicato
O art. 18 da Lei 7.347/85 prevê que o autor da ACP, antes de ajuizar a ação, não terá que adiantar custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem será condenado em honorários
advocatícios, custas e despesas processuais, salvo comprovada má-fé.
O STJ decidiu que esse art. 18 da Lei 7.347/85 é aplicável também para a ação civil pública movida por
SINDICATO na defesa de direitos individuais homogêneos da categoria que representa.
STJ. Corte Especial. EREsp 1.322.166-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. em 4/3/2015 (Info 558).

Alcance da regra de isenção de custas processuais da LACP e do CDC


O art. 18 da LACP e o art. 87 do CDC preveem que, nas ações de que tratam estas leis, não haverá adiantamento
de custas, emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação
autora, salvo comprovada má-fé, em honorários de advogado, custas e despesas processuais.
O STJ decidiu que essas regras de isenção só se aplicam para as custas judiciais em:
• ações civis públicas (qualquer que seja a matéria);
• ações coletivas que tenham por objeto relação de consumo; e
• na ação cautelar prevista no art. 4º da LACP (qualquer que seja a matéria).
Não é possível estender, por analogia ou interpretação extensiva, essa isenção para outros tipos de ação
(como a rescisória) ou para incidentes processuais (como a impugnação ao valor da causa), mesmo que tratem
sobre direito do consumidor.
STJ. 2ª Seção. PET 9.892-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 11/2/2015 (Info 556).

Não se aplica às ações civil públicas propostas por associações e fundações privadas o princípio da simetria
na condenação do réu nas custas e nos honorários advocatícios
A parte que foi vencida em ação civil pública não tem o dever de pagar honorários advocatícios em favor do
autor da ação. A justificativa para isso está no princípio da simetria. Isso porque se o autor da ACP perder a
demanda, ele não irá pagar honorários advocatícios, salvo se estiver de má-fé (art. 18 da Lei nº 7.347/85).
Logo, pelo princípio da simetria, se o autor vencer a ação, também não deve ter direito de receber a verba.
Desse modo, em razão da simetria, descabe a condenação em honorários advocatícios da parte requerida em
ação civil pública, quando inexistente má-fé, de igual sorte como ocorre com a parte autora.
Foi o que restou decidido pela Corte Especial do STJ no EAREsp 962250/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado
em 15/08/2018.
EXCEÇÃO: se a ação tiver sido proposta por associações e fundações privadas e a demanda tiver sido julgada
procedente, neste caso, o demandado terá sim que pagar honorários advocatícios.
O entendimento do STJ manifestado no EAREsp 962.250/SP não se deve aplicar a demandas propostas por
associações e fundações privadas, pois, do contrário, barrado de fato estaria um dos objetivos mais nobres da
Lei 7.347/85, qual seja, o viabilizar e ampliar o acesso à justiça para a sociedade civil organizada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1974436-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2022 (Info 730).

Legitimidade ativa do Ministério Público


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O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública sobre direitos individuais homogêneos
quando presente o interesse social.
STF. 2ª Turma. RE 216443/MG, rel. orig. Min. Menezes Direito, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, julgado
Página

em 28/8/2012 (Info 677).

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Legitimidade do MP para ACP em benefício de uma só pessoa em questões de saúde
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP contra a concessionária de energia elétrica com a
finalidade de evitar a interrupção do fornecimento do serviço à pessoa carente de recursos financeiros
diagnosticada com enfermidade grave e que dependa, para sobreviver, da utilização doméstica de
equipamento médico com alto consumo de energia.
Conforme entendimento do STJ, o MP detém legitimidade para propor ACP que objetive a proteção do direito
à saúde de pessoa hipossuficiente, porquanto se trata de direito fundamental e indisponível, cuja relevância
interessa à sociedade.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.162.946-MG, Rel. Ministro Sérgio Kukina, julgado em 4/6/2013 (Info 523).

MP pode assumir a titularidade da ACP em caso de vício na representação da associação autora


Na ação civil pública, reconhecido o vício na representação processual da associação autora, deve-se, antes
de proceder à extinção do processo, conferir oportunidade ao Ministério Público para que assuma a
titularidade ativa da demanda.
STJ. 2ª Turma. REsp 1372593-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/5/2013 (Info 524).

Legitimidade do MP para propor ACP objetivando a liberação de saldo de contas PIS/PASEP


O Ministério Público tem legitimidade para propor ação civil pública objetivando a liberação do saldo de contas
PIS/PASEP, na hipótese em que o titular da conta — independentemente da obtenção de aposentadoria por
invalidez ou de benefício assistencial — seja incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício de
atividade que lhe garanta a subsistência, bem como na hipótese em que o próprio titular da conta ou
quaisquer de seus dependentes for acometido das doenças ou afecções listadas na Portaria Interministerial
MPAS/MS 2.998/2001.
Esse pedido veiculado diz respeito a direitos individuais homogêneos que gozam de relevante interesse social.
Logo, o interesse tutelado referente à liberação do saldo do PIS/PASEP, mesmo se configurando como
individual homogêneo, mostra-se de relevante interesse à coletividade, tornando legítima a propositura de
ação civil pública pelo Ministério Público, visto que se subsume aos seus fins institucionais.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.480.250-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/8/2015 (Info 568).

Súmula 601-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos, coletivos
e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de serviço público.

Legitimidade do MP para pleitear tratamento médico ou entrega de medicamentos


O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de medicamentos nas
demandas de saúde propostas contra os entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos contendo
beneficiários individualizados, porque se refere a direitos individuais indisponíveis, na forma do art. 1º da Lei
n. 8.625/1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.682.836-SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/04/2018 (recurso repetitivo) (Info
624).

O Ministério Público Federal é parte legítima para pleitear indenização por danos morais coletivos e
individuais em decorrência do óbito de menor indígena
Caso concreto: uma criança indígena faleceu no interior do Mato Grosso do Sul em razão da má prestação do
serviço público de saúde. O MPF ingressou com ação civil pública contra a União e uma fundação estadual de
saúde pedindo o pagamento de indenização por danos morais individuais (em favor dos pais da criança) e por
danos morais coletivos. O STJ reconheceu a legitimidade do MPF.
220

A relevância social do bem jurídico tutelado e a vulnerabilidade dos povos indígenas autoriza, em face da
peculiar situação do caso, a defesa dos interesses individuais dos índios pelo Ministério Público, em
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decorrência de sua atribuição institucional.

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A Constituição reconhece, em seu art. 232, a peculiar vulnerabilidade dos índios e das populações indígenas,
motivo pelo qual o art. 37, II, da LC 75/93 confere legitimidade ao MPF “para defesa de direitos e interesses
dos índios e das populações indígenas”, o que se mostra consentâneo com o art. 129, V e IX, da CF/88.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1.688.809-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 26/04/2021 (Info 696).

Necessidade de demonstração de motivos para a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o MPE e
o MPF
Em ação civil pública, a formação de litisconsórcio ativo facultativo entre o Ministério Público Estadual e o
Federal depende da demonstração de alguma razão específica que justifique a presença de ambos na lide.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.254.428-MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. em 2/6/2016 (Info 585).

Não é possível a repropositura de ação coletiva de direitos individuais homogêneos julgada improcedente,
ainda que por falta de provas
Após o trânsito em julgado de decisão que julga improcedente ação coletiva proposta em defesa de direitos
individuais homogêneos, independentemente do motivo que tenha fundamentado a rejeição do pedido, não
é possível a propositura de nova demanda com o mesmo objeto por outro legitimado coletivo, ainda que em
outro Estado da federação.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.302.596-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. para acórdão Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 9/12/2015 (Info 575).

Extensão dos efeitos de coisa julgada coletiva a autores de ações individuais não suspensas
Os autores de ações individuais em cujos autos não foi dada ciência do ajuizamento de ação coletiva e que
não requereram a suspensão das demandas individuais podem se beneficiar dos efeitos da coisa julgada
formada na ação coletiva.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.593.142-DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 7/6/2016 (Info 585).

JURISPRUDÊNCIA EM TESES
É faculdade do autor a escolha do local de impetração de mandado de segurança contra autarquias federais
objetivando o recebimento de auxílio emergencial implantado em razão da pandemia da covid-19.

Por se tratar de verba destinada a garantir a subsistência do beneficiário no período da pandemia da covid-
19, é impenhorável o auxílio emergencial concedido pelo Governo Federal, salvo para o pagamento de
prestação alimentícia (art. 833, IV e § 2º, do CPC).

A declaração de inconstitucionalidade, pelo Supremo Tribunal Federal, das leis estaduais que determinaram
descontos obrigatórios nos valores de mensalidades da rede de ensino privada em decorrência da pandemia
da covid-19, por si só, não implica perda do objeto de ações civis públicas.

Habeas corpus coletivo não é a via adequada para a concessão de prisão domiciliar a todos os indivíduos
privados de liberdade que se enquadram no grupo de risco da covid-19, pois se faz necessário o exame
individual da situação de cada paciente.

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
O termo inicial da aposentadoria especial será a data do requerimento administrativo mesmo que o
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segurado tenha continuado trabalhando após o pedido, não incidindo, até a concessão do benefício, a regra
do art. 57, § 8º da Lei 8.213/91
O art. 57, § 8º, da Lei nº 8.213/91 não impede o reconhecimento judicial do direito do segurado ao benefício
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aposentadoria especial com efeitos financeiros desde a data do requerimento administrativo, se preenchidos

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nessa data todos os requisitos legais, mesmo que ainda não tenha havido o afastamento das atividades
especiais.
Não é possível condicionar o reconhecimento do direito à implementação da aposentadoria especial ao prévio
desligamento do vínculo laboral em que exercida atividade em condições especiais, uma vez que, dessa forma,
estar-se-ia impondo ao segurado que deixasse de exercer a atividade que lhe garante a subsistência antes da
concessão definitiva do benefício substitutivo de sua renda.
STJ. 2ª Turma. REsp 1764559/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/03/2021 (Info 690).

Ficha de cadastro de trabalhadores emitida em nome de trabalhador rural em data anterior ao ajuizamento
de demanda com pedido de aposentadoria rural configura documento novo apto a demonstrar o início de
prova material
Caso concreto: segurado pediu aposentadoria rural. Houve sentença de improcedência transitada em julgado.
Segurado ajuizou ação rescisória, com fundamento no art. 966, VII do CPC/2015, alegando “prova nova”. Essa
prova nova foi uma ficha de cadastro de trabalhadores emitida em nome de trabalhador rural em data anterior
ao ajuizamento de demanda com pedido de aposentadoria rural.
O STJ aceitou e julgou procedente a ação rescisória.
O documento novo apto a aparelhar a ação rescisória, fundada no art. 966, VII, do CPC/2015, é aquele que, já
existente à época da decisão rescindenda, era ignorado pelo autor ou do qual não pôde fazer uso, capaz de
assegurar, por si só, a procedência do pedido.
Em se tratando de trabalhadores rurais, deve ser mitigado o rigor conceitual impingido ao “documento novo”,
pois não se pode desconsiderar as precárias condições de vida que envolvem o universo social desses
trabalhadores.
Diante da dificuldade probatória atinente ao exercício de atividade rural pelos chamados trabalhadores
“boias-frias”, a apresentação de prova material relativa apenas à parte do lapso temporal pretendido, não
implica violação ao enunciado da Súmula 149/STJ (Tema 554/STJ).
STJ. 1ª Seção. AR 6081-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 25/05/2021 (Info 738).

É possível receber o benefício por incapacidade, concedido judicialmente, mesmo que o período coincida
com àquele em que o segurado estava trabalhando e aguardava o deferimento do benefício
Caso concreto: o segurado teve indeferido pelo INSS benefício por incapacidade (auxílio-doença ou
aposentadoria por invalidez) na via administrativa. Para conseguir se sustentar, teve que trabalhar após o
indeferimento e entrou com ação judicial para a concessão do benefício. O pedido foi julgado procedente para
conceder o benefício desde o requerimento administrativo, o que acabou por abranger o período em que o
segurado trabalhou. O INSS alegava que o benefício por incapacidade concedido judicialmente não poderia
ser pago no período em que o segurado estava trabalhando. Isso porque o benefício por incapacidade não
pode ser cumulado com salário. O STJ não concordou com a tese da autarquia.
O segurado foi obrigado a trabalhar, mesmo estando incapacitado, por culpa do INSS, que indeferiu o benefício
indevidamente. Esse trabalho realizado para o sustento, mesmo diante de uma situação de incapacidade é
chamado de “sobre-esforço”.
Tese fixada pelo STJ:
No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de
aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RPGS tem direito ao recebimento
conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do
respectivo benefício previdenciário pago retroativamente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1788700-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/06/2020 (Recurso Repetitivo –
Tema 1013) (Info 675).
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Para fins de aposentadoria híbrida, o tempo rural pode ser remoto, descontínuo, não predominante, sem
contribuições, não concomitante ao implemento das condições ou à data do requerimento administrativo
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O tempo de serviço rural, ainda que remoto e descontínuo, anterior ao advento da Lei nº 8.213/91, pode ser
computado para fins da carência necessária à obtenção da aposentadoria híbrida por idade, ainda que não

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tenha sido efetivado o recolhimento das contribuições, nos termos do art. 48, § 3º, da Lei nº 8.213/91, seja
qual for a predominância do labor misto exercido no período de carência ou o tipo de trabalho exercido no
momento do implemento do requisito etário ou do requerimento administrativo.
STJ. 1ª Seção. REsp 1788404-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/08/2019 (recurso
repetitivo - Tema 1007) (Info 655).

É constitucional a contribuição previdenciária devida por aposentado pelo RGPS que permaneça em
atividade ou a essa retorne
É constitucional a contribuição previdenciária devida por aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social
(RGPS) que permaneça em atividade ou a essa retorne.
STF. Plenário virtual. ARE 1224327/ES, Min. Presidente Dias Toffoli, julgado em 27/09/2019 (repercussão geral
– Tema 1065)
Benefício de prestação continuada
Não se exige incapacidade absoluta para conceder o benefício de prestação continuada
A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) não exige incapacidade absoluta de pessoa com deficiência para
concessão do Benefício de Prestação Continuada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1404019-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/6/2017 (Info 608).

OUTROS TEMAS
Nos pedidos de revisão do benefício formulados com base em sentença trabalhista, o termo inicial do prazo
decadencial é a data do trânsito em julgado da sentença trabalhista
O marco inicial da fluência do prazo decadencial, previsto no caput do art. 103 da Lei nº 8.213/91, quando
houver pedido de revisão da renda mensal inicial (RMI) para incluir verbas remuneratórias recebidas em ação
trabalhista nos salários de contribuição que integraram o período básico de cálculo (PBC) do benefício, deve
ser o trânsito em julgado da sentença na respectiva reclamatória.
STJ. 1ª Seção. REsp 1947419-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 24/08/2022 (Recurso Repetitivo – Tema
1117) (Info 746).

Revisão da vida toda é constitucional


É possível a aplicação da regra mais vantajosa à revisão da aposentadoria de segurados que tenham ingressado
no Regime Geral de Previdência Social (RGPS) até o dia anterior à publicação da Lei nº 9.876/99, que criou o
fator previdenciário e alterou a forma de apuração dos salários de contribuição para efeitos do cálculo de
benefício, dele excluindo as contribuições anteriores a julho de 1994.
Tese fixada pelo STF:
“O segurado que implementou as condições para o benefício previdenciário após a vigência da Lei nº 9.876,
de 26.11.1999, e antes da vigência das novas regras constitucionais, introduzidas pela EC 103/2019, tem o
direito de optar pela regra definitiva, caso esta lhe seja mais favorável”.
STF. Plenário. RE 1276977/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 1/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 1102) (Info 1078).

Nas ações de acidente do trabalho, se o INSS for vencedor da demanda, os honorários periciais que foram
adiantados pela autarquia previdenciária serão pagos pelo Estado-membro onde tramitou o processo
Nas ações de acidente do trabalho, os honorários periciais, adiantados pelo INSS, constituirão despesa a cargo
do Estado, nos casos em que sucumbente a parte autora, beneficiária da isenção de ônus sucumbenciais,
prevista no parágrafo único do art. 129 da Lei nº 8.213/91.
Nas ações propostas contra o INSS pedindo benefício previdenciário decorrente de acidente de trabalho, o
223

INSS deverá adiantar os honorários periciais por força do art. 8º, § 2º da Lei nº 8.620/93.
Se o INSS, ao final, for sucumbente (perder a demanda): neste caso, ele perderá o valor que foi adiantado a
título de honorários periciais. Aquilo que era só um “adiantamento”, torna-se definitivo.
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Se o INSS, ao final, for vencedor (se o autor perder a demanda): os honorários periciais, adiantados pela
autarquia, constituirão despesa a cargo do Estado-membro em que tramitou a ação.

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STJ. 1ª Seção. REsp 1824823-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
21/10/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1044) (Info 715).

A sentença trabalhista meramente homologatória de acordo serve como início de prova material, na forma
do art. 55, § 3º, da Lei 8.213/91?
A sentença trabalhista homologatória de acordo somente será considerada início válido de prova material,
para os fins do art. 55, § 3º, da Lei nº 8.213/91, quando fundada em elementos probatórios contemporâneos
dos fatos alegados, aptos a evidenciar o exercício da atividade laboral, o trabalho desempenhado e o
respectivo período que se pretende ter reconhecido, em ação previdenciária.
STJ. 1ª Seção. PUIL 293-PR, Rel. Min. Og Fernandes, Rel. para acórdão Min. Assusete Magalhães, julgado em
14/12/2022 (Info 762).

Até a edição da EC 103/2019, é admissível, aos servidores públicos, a conversão do tempo de serviço especial
em comum objetivando a contagem recíproca de tempo de serviço
O STF, ao julgar o Tema 942, assim decidiu:
Até a edição da Emenda Constitucional nº 103/2019, o direito à conversão, em tempo comum, do prestado
sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física de servidor público decorre da
previsão de adoção de requisitos e critérios diferenciados para a jubilação daquele enquadrado na hipótese
prevista no então vigente inciso III do § 4º do art. 40 da Constituição da República, devendo ser aplicadas as
normas do regime geral de previdência social relativas à aposentadoria especial contidas na Lei nº 8.213/91
para viabilizar sua concretização enquanto não sobrevier lei complementar disciplinadora da matéria (STF.
Plenário. RE 1014286, Rel. Luiz Fux, Relator p/ Acórdão Edson Fachin, julgado em 31/08/2020. Repercussão
Geral – Tema 942).
Antes do julgado do STF acima mencionado, o STJ possuía entendimento em sentido diverso (EREsp
524.267/PB, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe 24/3/2014).
Com a tese fixada no Tema 942, o STJ teve que se alinhar à posição do STF e, em juízo de retratação, decidiu
que:
Até a edição da EC 103/2019, é admissível, aos servidores públicos, a conversão do tempo de serviço especial
em comum objetivando a contagem recíproca de tempo de serviço.
STJ. 2ª Turma. REsp 1592380-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 08/02/2022 (Info 724).

Direito à revisão de benefício previdenciário cujo mérito não foi apreciado na concessão também decai em
dez anos
Aplica-se o prazo decadencial de dez anos estabelecido no art. 103, caput, da Lei nº 8.213/1991 às hipóteses
em que a questão controvertida não foi apreciada no ato administrativo de análise de concessão de benefício
previdenciário.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.644.191-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 11/12/2019 (Recurso Repetitivo –
Tema 975) (Info 676).

Obs: com esse julgamento, fica superada a parte final da Súmula 81 da TNU: “Não incide o prazo decadencial
previsto no art. 103, caput, da Lei n. 8.213/91, nos casos de indeferimento e cessação de benefícios, bem como
em relação às questões não apreciadas pela Administração no ato da concessão.”

Se a parte recebeu benefício previdenciário ou assistencial por força de decisão judicial precária que,
posteriormente, foi revogada, ela terá que devolver as quantias
A reforma da decisão que antecipa os efeitos da tutela final obriga o autor da ação a devolver os valores dos
224

benefícios previdenciários ou assistenciais recebidos, o que pode ser feito por meio de desconto em valor que
não exceda 30% (trinta por cento) da importância de eventual benefício que ainda lhe estiver sendo pago.
STJ. 1ª Seção. Pet 12.482-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 11/05/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 692)
Página

(Info 737).

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Reconhecido o direito de opção pelo benefício mais vantajoso concedido administrativamente, no curso de
ação judicial em que se reconheceu benefício menos vantajoso, é possível a execução das parcelas do
benefício postulado na via judicial
O segurado tem direito de opção pelo benefício mais vantajoso concedido administrativamente, no curso de
ação judicial em que se reconheceu benefício menos vantajoso.
Em cumprimento de sentença, o segurado possui o direito à manutenção do benefício previdenciário
concedido administrativamente no curso da ação judicial e, concomitantemente, à execução das parcelas do
benefício reconhecido na via judicial, limitadas à data de implantação daquele conferido na via administrativa.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.767.789-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/06/2022 (Recurso Repetitivo –
Tema 1018) (Info 740).

O fato de o INSS, depois de ajuizada a ação, ter efetuado pagamento administrativo do benefício
previdenciário, não altera a base de cálculo dos honorários advocatícios sucumbenciais
O eventual pagamento de benefício previdenciário na via administrativa, seja ele total ou parcial, após a
citação válida, não tem o condão de alterar a base de cálculo para os honorários advocatícios fixados na ação
de conhecimento, que será composta pela totalidade dos valores devidos.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.847.731/RS, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF 5ª Região),
julgado em 29/04/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1050) (Info 694).

Nas ações de acidente do trabalho, se o INSS for vencedor da demanda, os honorários periciais que foram
adiantados pela autarquia previdenciária serão pagos pelo Estado-membro onde tramitou o processo
Nas ações de acidente do trabalho, os honorários periciais, adiantados pelo INSS, constituirão despesa a cargo
do Estado, nos casos em que sucumbente a parte autora, beneficiária da isenção de ônus sucumbenciais,
prevista no parágrafo único do art. 129 da Lei nº 8.213/91.
Nas ações propostas contra o INSS pedindo benefício previdenciário decorrente de acidente de trabalho, o
INSS deverá adiantar os honorários periciais por força do art. 8º, § 2º da Lei nº 8.620/93.
Se o INSS, ao final, for sucumbente (perder a demanda): neste caso, ele perderá o valor que foi adiantado a
título de honorários periciais. Aquilo que era só um “adiantamento”, torna-se definitivo.
Se o INSS, ao final, for vencedor (se o autor ganhar a demanda): os honorários periciais, adiantados pela
autarquia constituirão despesa a cargo do Estado-membro em que tramitou a ação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.824.823-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado
em 21/10/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1044) (Info 715).
Para fins de aposentadoria híbrida, o tempo rural pode ser remoto, descontínuo, não predominante, sem
contribuições, não concomitante ao implemento das condições ou à data do requerimento administrativo
O tempo de serviço rural, ainda que remoto e descontínuo, anterior ao advento da Lei nº 8.213/91, pode ser
computado para fins da carência necessária à obtenção da aposentadoria híbrida por idade, ainda que não
tenha sido efetivado o recolhimento das contribuições, nos termos do art. 48, § 3º, da Lei nº 8.213/91, seja
qual for a predominância do labor misto exercido no período de carência ou o tipo de trabalho exercido no
momento do implemento do requisito etário ou do requerimento administrativo.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.788.404-PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/08/2019 (recurso
repetitivo - Tema 1007) (Info 655).

O trabalho rural prestado por menor de 12 anos, apesar de ser proibido, caso seja desempenhado, deve ser
computado para fins previdenciários
Apesar da proibição do trabalho infantil, o tempo de labor rural prestado por menor de 12 anos deve ser
225

computado para fins previdenciários.


STJ. 1ª Turma. AgInt no AREsp 956.558-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 02/06/2020 (Info
674).
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O Decreto nº 4.882/2003 reduziu de 90dB para 85dB o nível máximo de ruídos a que o trabalhador pode estar
submetido no seu trabalho. Se ele trabalhar durante 25 anos acima desse nível de ruído, terá direito à
aposentadoria especial.
Mesmo o Decreto 4.882/2003 sendo favorável ao trabalhador por ter reduzido o limite de ruído, ele não pode
retroagir para alcançar situações ocorridas antes de sua vigência.
Assim, o limite de tolerância para configuração da especialidade do tempo de serviço para o agente ruído deve
ser de 90 dB no período de 6/3/1997 a 18/11/2003, sendo impossível aplicação retroativa do Decreto nº
4.882/2003, que reduziu o patamar para 85 dB, sob pena de ofensa ao art. 6º da LINDB.
A partir de quantos decibéis o ruído é considerado atividade especial?
• Antes do Decreto nº 2.171/97 (até 05/03/1997): acima de 80 decibéis.
• Depois do Decreto nº 2.171/97 e antes do Decreto nº 4.882/2003 (de 06/03/1997 até 18/11/2003): acima
de 90 decibéis.
• A partir do Decreto nº 4.882/2003 (de 19/11/2003 até hoje): acima de 85 decibéis.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.398.260-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo) (Info
541).

Não se pode analisar simplesmente a extensão do imóvel rural, devendo-se avaliar a condição do segurado
especial como um todo, considerando o contexto do caso concreto
O tamanho da propriedade não descaracteriza, por si só, o regime de economia familiar, caso estejam
comprovados os demais requisitos legais para a concessão da aposentadoria por idade rural.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.947.404-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/11/2022 (Recurso Repetitivo
– Tema 1115) (Info 758).

Segurado não precisa estar incapacitado para todo e qualquer trabalho para ter direito ao auxílio-doença
Não encontra previsão legal a exigência de comprovação de que o segurado esteja completamente incapaz
para o exercício de qualquer trabalho para concessão do benefício de auxílio-doença.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.474.476-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 05/04/2018 (Info 623).

É possível reconhecer como tempo especial a atividade de vigilante mesmo após normas de 1995 e 1997,
mas isso depende de prova da nocividade
No dia 09/12/2020, o STJ, ao apreciar o REsp 1.830.508-RS, decidiu que é possível reconhecer como tempo
especial a atividade de vigilante mesmo após normas de 1995 e 1997, mas isso depende de prova da
nocividade.
Ao julgar embargos de declaração, o STJ deixou expressamente previsto que esse entendimento vale mesmo
após a EC 103/2019:
É possível o reconhecimento da especialidade da atividade de vigilante, mesmo após EC 103/2019, com ou
sem o uso de arma de fogo, em data posterior à Lei nº 9.032/95 e ao Decreto nº 2.172/97, desde que haja a
comprovação da efetiva nocividade da atividade, por qualquer meio de prova até 05/03/1997, momento em
que se passa a exigir apresentação de laudo técnico ou elemento material equivalente, para comprovar a
permanente, não ocasional nem intermitente, exposição à atividade nociva, que coloque em risco a
integridade física do Segurado.
STJ. 1ª Seção. EDcl no REsp 1.830.508-RS, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª
Região), julgado em 22/09/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1031) (Info 711).

O tempo que o segurado fica afastado do trabalho gozando de auxílio-doença pode ser considerado “tempo
especial” para fins de aposentadoria especial
226

O segurado que exerce atividades em condições especiais, quando em gozo de auxílio-doença, seja acidentário
ou previdenciário, faz jus ao cômputo desse mesmo período como tempo de serviço especial.
Ex: João trabalhou, de 2000 a 2015, em atividades permanentes no subsolo de minerações subterrâneas.
Página

Segundo o Anexo IV do Decreto nº 3.048/99, se o segurado trabalhar durante 15 anos nessa atividade, ele

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terá direito a aposentadoria especial. João requereu, então, a sua aposentadoria especial. Ocorre que o INSS
negou o pedido sob o argumento de que em 2012, João ficou 6 meses sem trabalhar porque estava gozando
de auxílio-doença previdenciário em razão de uma diverticulite. Essa argumentação da autarquia não é aceita
pela STJ que considera ser possível o cômputo desse período como serviço especial.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.759.098-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 26/06/2019 (recurso
repetitivo) (Info 652).

É constitucional a regra do art. 57, § 8º da Lei 8.213/91, que proíbe o titular da aposentadoria especial de
continuar ou voltar a trabalhar com atividades que o exponham a agentes nocivos
I – É constitucional a vedação de continuidade da percepção de aposentadoria especial se o beneficiário
permanece laborando em atividade especial ou a ela retorna, seja essa atividade especial aquela que ensejou
a aposentação precoce ou não.
II – Nas hipóteses em que o segurado solicitar a aposentadoria e continuar a exercer o labor especial, a data
de início do benefício será a data de entrada do requerimento, remontando a esse marco, inclusive, os efeitos
financeiros; efetivada, contudo, seja na via administrativa, seja na judicial, a implantação do benefício, uma
vez verificada a continuidade ou o retorno ao labor nocivo, cessará o pagamento do benefício previdenciário
em questão.
STF. Plenário. RE 791961 ED, Rel. Dias Toffoli, julgado em 24/02/2021.

Menor sob guarda é dependente para fins previdenciários


A criança ou adolescente que está sob guarda é considerada dependente do guardião? A guarda confere
direitos previdenciários à criança ou adolescente? Se o guardião falecer, a criança ou adolescente que estava
sob sua guarda poderá ter direito à pensão por morte?
SIM. Ao menor sob guarda deve ser assegurado o direito ao benefício da pensão por morte mesmo se o
falecimento se deu após a modificação legislativa promovida pela Lei nº 9.528/97 na Lei nº 8.213/91.
O art. 33, § 3º do ECA deve prevalecer sobre a modificação legislativa promovida na lei geral da Previdência
Social, em homenagem ao princípio da proteção integral e preferência da criança e do adolescente (art. 227
da CF/88).
STJ. Corte Especial. EREsp 1141788/RS, Min. Rel. João Otávio de Noronha, julgado em 07/12/2016.

A interpretação constitucionalmente adequada é a que assegura ao “menor sob guarda” o direito à


proteção previdenciária
Menor sob guarda é dependente para fins previdenciários.
A interpretação conforme a ser conferida ao art. 16, § 2º, da Lei nº 8213/1991 deve contemplar os “menores
sob guarda” na categoria de dependentes do Regime Geral de Previdência Social, em consonância com o
princípio da proteção integral e da prioridade absoluta, desde que comprovada a dependência econômica,
nos termos da legislação previdenciária.
STF. Plenário. ADI 4878/DF e ADI 5083/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgados em 7/6/2021 (Info 1020).

Em caso de revisão de pensão por morte mediante revisão da RMI da aposentadoria que a originou, o termo
inicial do prazo decadencial para a ação é a data da concessão da aposentadoria (benefício originário)
O termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte, mediante revisão da renda mensal
inicial da aposentadoria que a originou, corresponde à data da concessão do benefício originário.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.605.554-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 27/02/2019 (Info 652).
227

É inconstitucional o reconhecimento de direitos previdenciários nas relações que se amoldam ao instituto


do concubinato, mesmo que a união tenha sido mantida durante longo período e com aparência familiar
É incompatível com a Constituição Federal o reconhecimento de direitos previdenciários (pensão por morte)
Página

à pessoa que manteve, durante longo período e com aparência familiar, união com outra casada, porquanto

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o concubinato não se equipara, para fins de proteção estatal, às uniões afetivas resultantes do casamento e
da união estável.
STF. Plenário. RE 883168/SC, Rel. Dias Toffoli, julgado em 2/8/2021 (Repercussão Geral – Tema 526) (Info
1024).

Não há, por ora, previsão legal do direito à 'desaposentação' ou à ‘reaposentação’, sendo constitucional a
regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/91
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, somente lei pode criar benefícios e vantagens
previdenciárias, não havendo, por ora, previsão legal do direito à 'desaposentação' ou à ‘reaposentação’,
sendo constitucional a regra do art. 18, § 2º, da Lei nº 8.213/1991.
STF. Plenário. RE 381367 ED/RS e RE 827833 ED/SC, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 6/2/2020 (repercussão geral) (Info 965).

O valor não recebido em vida pelo segurado deverá ser pago aos seus dependentes previdenciários e, na
falta deles, aos seus sucessores na forma do Código Civil
Os valores previdenciários não recebidos pelo segurado em vida, mesmo que reconhecidos apenas
judicialmente, devem ser pagos, prioritariamente, aos dependentes habilitados à pensão por morte, para só
então, na falta destes, serem pagos aos demais sucessores na forma da lei civil.
Ex: João era aposentado do INSS. Ele ajuizou ação alegando que sua aposentadoria foi concedida em valor
menor do que seria devido e, portanto, pediu a revisão de seu benefício e o recebimento dos valores
retroativos que deixaram de ser pagos a ele ao longo dos anos. O pedido foi julgado procedente em 1ª
instância, condenando o INSS a revisar a aposentadoria do autor desde a data de sua concessão e a pagar-lhe
R$ 40 mil de parcelas atrasadas. O INSS recorreu contra a sentença. Antes que o recurso fosse julgado, João
faleceu. Os dependentes previdenciários de João terão direito de receber os valores. Somente se não houver
dependentes é que esse valor será pago aos herdeiros do falecido.
Isso se deve à regra do art. 112 da Lei nº 8.213/91, que deve ser aplicada tanto no âmbito administrativo como
no judicial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.596.774-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 21/3/2017 (Info 600).

Não é cabível a percepção simultânea de benefício previdenciário e da pensão vitalícia dos seringueiros
(soldados da borracha)
A Lei nº 7.986/89 disciplinou a pensão vitalícia definindo como beneficiários o próprio seringueiro e seus
dependentes exigindo como requisitos a comprovação do exercício laboral na atividade e a situação de
carência, fixando o valor do benefício em dois salários mínimos mensais.
A pensão vitalícia para assistência dos seringueiros foi inserida no ordenamento jurídico brasileiro como um
auxílio financeiro àqueles trabalhadores que se encontravam em situação de carência e necessitavam de
amparo estatal.
A Lei estabelece como requisito para a concessão do benefício a demonstração de que o beneficiário não
possui meios para a sua subsistência e da sua família. Isso demonstra que a manutenção do pagamento do
benefício é incompatível com a existência de outra renda mensal ou periódica que garanta o sustento familiar.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.755.140-AM, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 07/02/2019 (Info 649).

Necessidade de prévio requerimento administrativo


O STF decidiu que, em regra, o segurado/dependente somente pode propor a ação pleiteando a concessão do
benefício previdenciário se anteriormente formulou requerimento administrativo junto ao INSS e este foi
negado.
228

Para que proponha a ação pleiteando a concessão do benefício previdenciário, é preciso que, antes, tenha
ocorrido uma das três situações abaixo:
1) O interessado requereu administrativamente o benefício, mas este foi negado pelo INSS (total ou
Página

parcialmente);

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2) O interessado requereu administrativamente o benefício, mas o INSS não deu uma decisão em um prazo
máximo de 45 dias;
3) O interessado não requereu administrativamente o benefício, mas é notório que, sobre esse tema, o INSS
tem posição contrária ao pedido feito pelo segurado.
STF. Plenário. RE 631240/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/8/2014 (repercussão geral) (Info 756).

É possível receber o benefício por incapacidade, concedido judicialmente, mesmo que o período coincida
com àquele em que o segurado estava trabalhando e aguardava o deferimento do benefício
Caso concreto: o segurado teve indeferido pelo INSS benefício por incapacidade (auxílio-doença ou
aposentadoria por invalidez) na via administrativa. Para conseguir se sustentar, teve que trabalhar após o
indeferimento e entrou com ação judicial para a concessão do benefício. O pedido foi julgado procedente para
conceder o benefício desde o requerimento administrativo, o que acabou por abranger o período em que o
segurado trabalhou. O INSS alegava que o benefício por incapacidade concedido judicialmente não poderia
ser pago no período em que o segurado estava trabalhando. Isso porque o benefício por incapacidade não
pode ser cumulado com salário. O STJ não concordou com a tese da autarquia.
O segurado foi obrigado a trabalhar, mesmo estando incapacitado, por culpa do INSS, que indeferiu o benefício
indevidamente. Esse trabalho realizado para o sustento, mesmo diante de uma situação de incapacidade é
chamado de “sobre-esforço”.
Tese fixada pelo STJ:
No período entre o indeferimento administrativo e a efetiva implantação de auxílio-doença ou de
aposentadoria por invalidez, mediante decisão judicial, o segurado do RGPS tem direito ao recebimento
conjunto das rendas do trabalho exercido, ainda que incompatível com sua incapacidade laboral, e do
respectivo benefício previdenciário pago retroativamente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.788.700-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 24/06/2020 (Recurso Repetitivo –
Tema 1013) (Info 675).

O acréscimo de 25% previsto no art. 45 da Lei 8.213/91 (grande invalidez) só se aplica para a aposentadoria
por invalidez (aposentadoria por incapacidade permanente), não podendo ser estendido para outras
espécies de aposentadoria
Não é possível a extensão do auxílio contido no art. 45 da Lei nº 8.213/1991, também chamado de auxílio de
grande invalidez ou auxílio-acompanhante, para todos os segurados aposentados que necessitem de ajuda
permanente para o desempenho de atividades básicas da vida diária.
Tese fixada pelo STF:
No âmbito do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), somente lei pode criar ou ampliar benefícios e
vantagens previdenciárias, não havendo, por ora, previsão de extensão do auxílio da grande invalidez a todas
as espécies de aposentadoria.
STF. Plenário. Plenário. RE 1221446/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 18/6/2021 (Repercussão Geral –
Tema 1095) (Info 1022).

O pagamento indevido feito ao segurado e que decorreu de erro administrativo é repetível e está sujeito a
desconto, salvo se o segurado, no caso concreto, comprovar a sua boa-fé objetiva
Os pagamentos indevidos aos segurados decorrentes de erro administrativo (material ou operacional), não
embasado em interpretação errônea ou equivocada da lei pela Administração, são repetíveis, sendo legítimo
o desconto no percentual de até 30% (trinta por cento) de valor do benefício pago ao segurado/beneficiário,
ressalvada a hipótese em que o segurado, diante do caso concreto, comprova sua boa-fé objetiva, sobretudo
com demonstração de que não lhe era possível constatar o pagamento indevido.
229

STJ. 1ª Seção. REsp 1.381.734/RN, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 10/03/2021 (Recurso Repetitivo
– Tema 979) (Info 688).
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Não é cabível a devolução de valores recebidos a maior a título de complementação de aposentadoria por
força de decisão judicial transitada em julgado, mesmo que ela seja posteriormente desconstituída

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Os valores de benefícios previdenciários complementares recebidos por força de tutela antecipada
posteriormente revogada devem ser devolvidos, observando-se, no caso de desconto em folha de pagamento,
o limite de 10% (dez por cento) da renda mensal do benefício previdenciário até a satisfação integral do valor
a ser restituído.
Situação diferente ocorre no caso em que os valores (parcelas de natureza alimentar) foram recebidos,
durante anos, por força de sentença transitada em julgado. Neste caso, é inequívoca a boa-fé objetiva da
parte.
STJ. 4ª Turma. AREsp 1775987-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 03/05/2022 (Info 735).

Súmula 576-STJ: Ausente requerimento administrativo no INSS, o termo inicial para a implantação da
aposentadoria por invalidez concedida judicialmente será a data da citação válida.

Aplica-se o fator previdenciário no cálculo da aposentadoria de professor


Incide o fator previdenciário no cálculo da renda mensal inicial de aposentadoria por tempo de contribuição
de professor vinculado ao Regime Geral de Previdência Social, independente da data de sua concessão,
quando a implementação dos requisitos necessários à obtenção do benefício se der após o início de vigência
da Lei nº 9.876/99, ou seja, a partir de 29/11/1999.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.808.156-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/02/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 1011) (Info 685).

Súmula 149-STJ: A prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade rurícola, para
efeito da obtenção de benefício previdenciário.

Certidão de casamento e início de prova material


A certidão de casamento onde conste que o cônjuge do requerente da aposentadoria é agricultor pode ser
considerada como início de prova material?
REGRA: SIM. A certidão de casamento na qual conste que o cônjuge do autor é lavradora é suficiente para
comprovar início de prova material. Essa é a posição tanto do STJ como da TNU (Súm. 06).
EXCEÇÃO: essa certidão de casamento não será considerada como início de prova material quando ficar
demonstrado que o cônjuge, apontado como rurícola, vem a exercer posteriormente atividade urbana.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.310.096-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 25/2/2014 (Info
538).
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1448871/SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 02/08/2018.

Súmula 577-STJ: É possível reconhecer o tempo de serviço rural anterior ao documento mais antigo
apresentando, desde que amparado em convincente prova testemunhal colhida sob o contraditório.

O termo inicial do auxílio-acidente deve recair no dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença que lhe deu
origem, conforme determina o art. 86, § 2º, da Lei nº 8.213/91
O termo inicial do auxílio-acidente deve recair no dia seguinte ao da cessação do auxílio-doença que lhe deu
origem, conforme determina o art. 86, § 2º, da Lei nº 8.213/91.
STJ. 1ª Seção. REsp 1729555-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 09/06/2021 (Recurso Repetitivo –
Tema 862) (Info 700).

Acumulação de auxílio-acidente com aposentadoria


Súmula 507-STJ: A acumulação de auxílio-acidente com aposentadoria pressupõe que a lesão incapacitante e
230

a aposentadoria sejam anteriores a 11/11/1997, observado o critério do art. 23 da Lei n. 8.213/1991 para
definição do momento da lesão nos casos de doença profissional ou do trabalho.
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A possibilidade de cumulação do auxílio-acidente com proventos de aposentadoria pressupõe que a eclosão
da lesão incapacitante, ensejadora do direito ao auxílio-acidente, e a concessão da aposentadoria sejam
anteriores à alteração do art. 86, §§ 2º e 3º, da Lei n. 8.213/1991, promovida em 11/11/1997 pela Medida
Provisória n. 1.596-14/1997, posteriormente convertida na Lei n. 9.528/1997, sendo irrelevante a data do
termo inicial do benefício.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1907861-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Regina Helena Costa, julgado
em 22/03/2022 (Info 731).

Súmula 340-STJ: A lei aplicável à concessão de pensão previdenciária por morte é aquela vigente na data do
óbito do segurado.

Súmula 416-STJ: É devida pensão por morte aos dependentes do segurado que, apesar de ter perdido essa
qualidade, preencheu os requisitos legais para a obtenção de sua aposentadoria até a data do seu óbito.

Súmula 336-STJ: A mulher que renunciou aos alimentos na separação judicial tem direito à pensão
previdenciária por morte do ex-marido, comprovada a necessidade econômica superveniente.

Não é possível estender a pensão por morte até os 24 anos de idade pelo fato de o filho beneficiário ser
estudante universitário.
STJ. 2ª Turma. Resp 1.347.272-MS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 18/10/2012.

O segurado da Previdência Social tem o dever de devolver o valor de benefício previdenciário recebido em
antecipação dos efeitos da tutela (art. 273 do CPC) a qual tenha sido posteriormente revogada.
Na devolução do benefício previdenciário recebido em antecipação dos efeitos da tutela que tenha sido
posteriormente revogada, devem ser observados os seguintes parâmetros: a) a execução de sentença
declaratória do direito deverá ser promovida; e b) liquidado e incontroverso o crédito executado, o INSS
poderá fazer o desconto em folha de até 10% da remuneração dos benefícios previdenciários em manutenção
até a satisfação do crédito.
STJ. 1ª Seção. Resp 1.384.418-SC, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 12/6/2013.

Súmula 78-TNU: Comprovado que o requerente de benefício é portador do vírus HIV, cabe ao julgador verificar
as condições pessoais, sociais, econômicas e culturais, de forma a analisar a incapacidade em sentido amplo,
em face da elevada estigmatização social da doença.
A aposentadoria por invalidez concedida pela via judicial, sem que o segurado tenha feito prévio
requerimento administrativo, deverá retroagir à data da citação do INSS
Caso o segurado proponha ação judicial para obter aposentadoria por invalidez sem ter requerido o benefício
administrativamente junto ao INSS, se o juiz julgar procedente o pedido, deverá conceder a aposentadoria de
forma retroativa à data da citação.
Para o STJ, a citação válida informa o litígio, constitui em mora a autarquia previdenciária federal e deve ser
considerada como termo inicial para a implantação da aposentadoria por invalidez concedida na via judicial
quando ausente a prévia postulação administrativa.
STJ. 1ª Seção. Resp 1.369.165-SP, Rel. Min. Benedito Gonçalves, j. em 26/2/2014 (recurso repetitivo) (Info 536).

É possível a ratificação da data de entrada do pedido de aposentadoria no curso da ação judicial


É possível a reafirmação da DER (Data de Entrada do Requerimento) para o momento em que implementados
os requisitos para a concessão do benefício, mesmo que isso se dê no interstício entre o ajuizamento da ação
231

e a entrega da prestação jurisdicional nas instâncias ordinárias, nos termos dos arts. 493 e 933 do CPC/2015,
observada a causa de pedir.
Página

STJ. 1ª Seção. Resp 1.727.064-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/10/2019 (recurso
repetitivo – Tema 995) (Info 661).

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Quadro comparativo:
DEVOLVERÁ OS
SEGURADO RECEBE O BENEFÍCIO POR FORÇA DE...
VALORES?
1ª) tutela antecipada, que é, posteriormente, revogada na sentença. SIM
2ª) sentença, que é, posteriormente, reformada em 2ª instância. SIM
3ª) sentença, que é mantida em 2ª instância, sendo, no entanto, reformada em Resp. NÃO
4ª) sentença transitada em julgado, que posteriormente, é reformada em AR. NÃO

O art. 115, II, da Lei 8.213/91 pode ser aplicado para cobrança de valores pagos pelo INSS por força de
decisão judicial posteriormente revogada?
O art. 115, II, da Lei 8.213/91 pode ser aplicado para cobrança de valores pagos pelo INSS por força de decisão
judicial posteriormente revogada?
• Antes da Lei 13.846/2019: NÃO
O STJ entendia que:
O art. 115, II, da Lei nº 8.213/91 não autorizava o INSS a descontar, na via administrativa, valores concedidos
a título de tutela antecipada (tutela provisória de urgência), posteriormente cassada com a improcedência do
pedido.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.338.912-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/5/2017 (Info 605).

O inciso II do art. 115 aplicava-se apenas para a recuperação de pagamentos feitos pelo INSS na via
administrativa, não podendo ser utilizado caso o pagamento tenha sido determinado por decisão judicial.
Quando o valor pago ao segurado ou beneficiário ocorreu por força de decisão judicial, o STJ afirmava que o
INSS deveria se valer dos instrumentos judiciais para ter de volta essa quantia.
Assim, o art. 115, II, não autorizava a Administração Previdenciária a cobrar, administrativamente, valores
pagos a título de tutela judicial, sob pena de afronta ao princípio da segurança jurídica.

• Depois da Lei 13.846/2019: a Lei afirma que SIM


O inciso II do art. 115 da Lei nº 8.213/91 foi alterado e passou a prever expressamente essa possibilidade. Veja
a redação do dispositivo:
Art. 115. Podem ser descontados dos benefícios:
(...)
II - pagamento administrativo ou judicial de benefício previdenciário ou assistencial indevido, ou além do
devido, inclusive na hipótese de cessação do benefício pela revogação de decisão judicial, em valor que não
exceda 30% (trinta por cento) da sua importância, nos termos do regulamento;

O prazo decadencial de 10 anos (art. 103 da Lei 8.213/91) aplica-se para o requerimento de benefício
previdenciário mais vantajoso, cujo direito fora adquirido em data anterior à implementação do benefício
previdenciário ora em manutenção
Incide o prazo decadencial previsto no caput do art. 103 da Lei nº 8.213/91 para reconhecimento do direito
adquirido ao benefício previdenciário mais vantajoso.
No âmbito da previdência social, é garantido ao segurado o direito adquirido sempre que, preenchidos os
requisitos para o gozo de determinado benefício, lei posterior o revogue, estabeleça requisitos mais rigorosos
para a sua concessão ou, ainda, imponha critérios de cálculo menos favoráveis a ele.
O direito de pleitear o benefício mais vantajoso e que não foi garantido no momento da concessão do
benefício atual, deve ser exercido por seu titular no prazo decadencial de 10 anos. Isso porque o
232

reconhecimento do direito adquirido ao benefício mais vantajoso equipara-se ao ato revisional e, por isso,
está submetido ao regramento legal.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.612.818-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 13/02/2019 (recurso
Página

repetitivo) (Info 643).

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AMPARO ASSISTENCIAL (LOAS)
Súmula 79-TNU: Nas ações em que se postula benefício assistencial, é necessária a comprovação das
condições socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de constatação lavrado por oficial
de justiça ou, sendo inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.

Súmula 80-TNU: Nos pedidos de benefício de prestação continuada (LOAS), tendo em vista o advento da Lei
12.470/11, para adequada valoração dos fatores ambientais, sociais, econômicos e pessoais que impactam na
participação da pessoa com deficiência na sociedade, é necessária a realização de avaliação social por
assistente social ou outras providências aptas a revelar a efetiva condição vivida no meio social pelo
requerente.

Para a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) à pessoa com deficiência, disciplinado na Lei
Orgânica da Assistência Social - LOAS, não cabe ao intérprete exigir requisitos mais rígidos do que aqueles
previstos para a sua concessão
Para a de concessão do Benefício de Prestação Continuada - BPC à pessoa com deficiência, disciplinado na Lei
Orgânica da Assistência Social - LOAS, não cabe ao intérprete da lei fazer imposição de requisitos mais rígidos
do que aqueles previstos para a sua concessão.
Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, o art. 20 da Lei nº 8.742/93 não exige
determinado grau de incapacidade para fins de configuração da deficiência, não cabendo ao intérprete da lei
a imposição de requisitos mais rígidos do que aqueles previstos para a sua concessão.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.962.868-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 21/3/2023 (Info 770).

Aplica-se o prazo prescricional de 5 anos, nos termos do art. 1º do Decreto nº 20.910/32, à ação de
ressarcimento de benefício previdenciário pago indevidamente, quando comprovada a má-fé do
beneficiário
A prescrição é a regra no ordenamento jurídico. Assim, ainda que configurada a má-fé do beneficiário no
recebimento dos valores, inexistindo prazo específico definido em lei, o prazo prescricional aplicável é o de 5
anos, nos termos do art. 1º do Decreto 20.910/1932, em respeito aos princípios da isonomia e simetria.
Enquanto não reconhecida a natureza ímproba ou criminal do ato causador de dano ao erário, a pretensão de
ressarcimento sujeita-se normalmente aos prazos prescricionais.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 1998744-RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 6/3/2023 (Info 768).
Estrangeiros residentes no Brasil têm direito ao BPC
Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência social prevista no art. 203, V, da
Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais.
STF. Plenário. RE 587970/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19 e 20/4/2017 (repercussão geral) (Info
861).

Não se exige incapacidade absoluta para conceder o benefício de prestação continuada


A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) não exige incapacidade absoluta de pessoa com deficiência para
concessão do Benefício de Prestação Continuada.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.404.019-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 27/6/2017 (Info 608).

INSS pode cancelar benefício assistencial concedido pela via judicial caso não mais estejam presentes as
condições que lhe deram origem
O INSS pode suspender ou cancelar administrativamente o “benefício de prestação continuada” (LOAS) que
havia sido concedido judicialmente, desde que garanta previamente ao interessado o contraditório e a ampla
233

defesa.
Não se aplica, ao caso, o princípio do paralelismo das formas.
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STJ. 2ª Turma. REsp 1.429.976-CE, Rel. Min. Humberto Martins, j. em 18/2/2014 (Info 536).

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O valor correspondente à participação do trabalhador no auxílio alimentação ou auxílio transporte,
descontado do salário do trabalhador, integra a base de cálculo da contribuição previdenciária
Os valores descontados dos empregados relativos à participação deles no custeio do vale-transporte e auxílio-
alimentação não constam no rol das verbas que não integram o conceito de salário de contribuição, listadas
no § 9º do art. 28 da Lei nº 8.212/91, razão pela qual devem constituir a base de cálculo da contribuição
previdenciária, de terceiros e do SAT/RAT a cargo da empresa.
STJ. 2ª Turma. REsp 2033904-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 7/2/2023 (Info 763).

É constitucional o art. 22-A da Lei nº 8.212/91, que prevê contribuição previdenciária das agroindústrias
incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção
É constitucional o art. 22-A da Lei nº 8.212/91, que prevê contribuição das agroindústrias à seguridade social
incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção, em substituição às contribuições
sobre a folha de salários de que tratam os incisos I e II do art. 22 da mesma lei.
Tese fixada pelo STF:
“É constitucional o art. 22-A da Lei nº 8.212/1991, com a redação da Lei nº 10.256/2001, no que instituiu
contribuição previdenciária incidente sobre a receita bruta proveniente da comercialização da produção, em
substituição ao regime anterior da contribuição incidente sobre a folha de salários.”.
STF. Plenário. RE 611601/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 281)
(Info 1080).

É constitucional o art. 10 da Lei 10.666/2003 que permite a redução ou majoração da alíquota do SAT por
decreto
É constitucional a delegação prevista no art. 10 da Lei nº 10.666/2003 para que norma infralegal fixe a alíquota
individual de forma variável da contribuição previdenciária destinada ao custeio do Seguro de Acidente do
Trabalho (SAT).
STF. Plenário. ADI 4397/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/11/2021 (Info 1037).

O valor correspondente à participação do trabalhador no auxílio alimentação ou auxílio transporte,


descontado do salário do trabalhador, integra a base de cálculo da contribuição previdenciária
O valor correspondente à participação do trabalhador no auxílio alimentação ou auxílio transporte,
descontado do salário do trabalhador, deve integrar a base de cálculo da contribuição previdenciária patronal.
STJ. 2ª Turma.REsp 1928591-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/10/2021 (Info 712).

Incide a contribuição previdenciária patronal sobre os valores pagos a título de Hora Repouso Alimentação
- HRA
A Hora Repouso Alimentação – HRA é paga como única e direta retribuição pela hora em que o empregado
fica à disposição do empregador. Ou seja, o trabalhador recebe salário normal pelas oito horas regulares e
HRA pela 9ª (nona) hora, em que ficou à disposição da empresa.
A HRA possui, assim, nítida natureza remuneratória, submetendo-se à tributação pela contribuição
previdenciária patronal, nos termos dos arts. 22, I, e 28 da Lei nº 8.212/91.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1619117-BA, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/11/2019 (Info 671).

Obs: a redação do art. 71, § 4º, da CLT foi alterada pela Lei nº 13.467/2017: “A não concessão ou a concessão
parcial do intervalo intrajornada mínimo, para repouso e alimentação, a empregados urbanos e rurais, implica
o pagamento, de natureza indenizatória, apenas do período suprimido, com acréscimo de 50% (cinquenta por
cento) sobre o valor da remuneração da hora normal de trabalho”.
234

Assim, o entendimento acima exposto abrange apenas os pagamentos e recolhimentos realizados antes da
entrada em vigor da Lei nº 13.467/2017, uma vez que a nova redação do art. 71, § 4º, da CLT não foi objeto
de discussão.
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PRINCIPAIS SÚMULAS DA TNU
Súmula 83-TNU: A partir da entrada em vigor da Lei n. 8.870/94, o décimo terceiro salário não integra o salário
de contribuição para fins de cálculo do salário de benefício.

Súmula 81-TNU: A impugnação de ato de indeferimento, cessação ou cancelamento de benefício


previdenciário não se submete a qualquer prazo extintivo, seja em relação à revisão desses atos, seja em
relação ao fundo de direito.

Súmula 79-TNU: Nas ações em que se postula benefício assistencial, é necessária a comprovação das
condições socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de constatação lavrado por oficial
de justiça ou, sendo inviabilizados os referidos meios, por prova testemunhal.

Súmula 78-TNU: Comprovado que o requerente de benefício é portador do vírus HIV, cabe ao julgador verificar
as condições pessoais, sociais, econômicas e culturais, de forma a analisar a incapacidade em sentido amplo,
em face da elevada estigmatização social da doença.

Súmula 77-TNU: O julgador não é obrigado a analisar as condições pessoais e sociais quando não reconhecer
a incapacidade do requerente para a sua atividade habitual.

Súmula 75-TNU: A Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) em relação à qual não se aponta defeito
formal que lhe comprometa a fidedignidade goza de presunção relativa de veracidade, formando prova
suficiente de tempo de serviço para fins previdenciários, ainda que a anotação de vínculo de emprego não
conste no Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS).

Súmula 74-TNU: O prazo de prescrição fica suspenso pela formulação de requerimento administrativo e volta
a correr pelo saldo remanescente após a ciência da decisão administrativa final.

Súmula 73-TNU: O tempo de gozo de auxílio-doença ou de aposentadoria por invalidez não decorrentes de
acidente de trabalho só pode ser computado como tempo de contribuição ou para fins de carência quando
intercalado entre períodos nos quais houve recolhimento de contribuições para a previdência social.

Súmula 72-TNU: É possível o recebimento de benefício por incapacidade durante período em que houve
exercício de atividade remunerada quando comprovado que o segurado estava incapaz para as atividades
habituais na época em que trabalhou.

Súmula 62-TNU: O segurado contribuinte individual pode obter reconhecimento de atividade especial para
fins previdenciários, desde que consiga comprovar exposição a agentes nocivos à saúde ou à integridade física.

Súmula 59-TNU: A ausência de declaração do objeto postado não impede a condenação da ECT a indenizar
danos decorrentes do extravio, desde que o conteúdo da postagem seja demonstrado por outros meios de
prova admitidos em direito.

Súmula 55-TNU: A conversão do tempo de atividade especial em comum deve ocorrer com aplicação do fator
multiplicativo em vigor na data da concessão da aposentadoria.

Súmula 50-TNU: É possível a conversão do tempo de serviço especial em comum do trabalho prestado em
qualquer período.
235

Súmula 49-TNU: Para reconhecimento de condição especial de trabalho antes de 29/4/1995, a exposição a
agentes nocivos à saúde ou à integridade física não precisa ocorrer de forma permanente.
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Súmula 48-TNU: A incapacidade não precisa ser permanente para fins de concessão do benefício assistencial
de prestação continuada.

Súmula 47-TNU: Uma vez reconhecida a incapacidade parcial para o trabalho, o juiz deve analisar as condições
pessoais e sociais do segurado para a concessão de aposentadoria por invalidez.

Súmula 46-TNU: O exercício de atividade urbana intercalada não impede a concessão de benefício
previdenciário de trabalhador rural, condição que deve ser analisada no caso concreto.

Súmula 37-TNU: A pensão por morte, devida ao filho até os 21 anos de idade, não se prorroga pela pendência
do curso universitário.

Súmula 34-TNU: Para fins de comprovação do tempo de labor rural, o início de prova material deve ser
contemporâneo à época dos fatos a provar.

Súmula 33-TNU: Quando o segurado houver preenchido os requisitos legais para concessão da aposentadoria
por tempo de serviço na data do requerimento administrativo, esta data será o termo inicial da concessão do
benefício.

Súmula 31-TNU: A anotação na CTPS decorrente de sentença trabalhista homologatória constitui início de
prova material para fins previdenciários.

Súmula 30-TNU: Tratando-se de demanda previdenciária, o fato de o imóvel ser superior ao módulo rural não
afasta, por si só, a qualificação de seu proprietário como segurado especial, desde que comprovada, nos autos,
a sua exploração em regime de economia familiar.

Súmula 29-TNU: Para os efeitos do art. 20, § 2º, da Lei n. 8.742, de 1993, incapacidade para a vida
independente não é só aquela que impede as atividades mais elementares da pessoa, mas também a
impossibilita de prover ao próprio sustento.

Súmula 27-TNU: A ausência de registro em órgão do Ministério do Trabalho não impede a comprovação do
desemprego por outros meios admitidos em Direito.

Súmula 17-TNU: Não há renúncia tácita no Juizado Especial Federal, para fins de competência.

Súmula 14-TNU: Para a concessão de aposentadoria rural por idade, não se exige que o início de prova material
corresponda a todo o período equivalente à carência do benefício.

DIREITO FINANCEIRO E TRIBUTÁRIO

É inconstitucional norma municipal que institui taxa em razão da fiscalização da ocupação e da permanência
de postes instalados em suas vias públicas
É inconstitucional lei municipal que, sob o fundamento do exercício do poder de polícia, institui taxa em razão
da fiscalização da ocupação e da permanência de postes instalados em suas vias públicas.
Essa norma viola a competência privativa da União para legislar sobre energia (art. 22, IV, CF/88) e a
competência exclusiva da União para fiscalizar os serviços de energia e editar suas normas gerais sobre sua
236

transmissão (arts. 21, XII, “b”; e 175, CF/88).


STF. Plenário. ADPF 512/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/05/2023 (Info 1095).
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O ICMS compõe a base de cálculo do IRPJ e da CSLL, quando apurados na sistemática do lucro presumido

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O ICMS compõe a base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre
o Lucro Líquido (CSLL), quando apurados na sistemática do lucro presumido.
A tese fixada pelo STF no Tema 69 da repercussão geral deve ser aplicada tão somente à Contribuição ao PIS
e à COFINS. Isso porque o raciocínio ali construído foi firmado extraído exclusivamente à luz do art. 195, I, “b”,
da CF, sendo indevida a extensão indiscriminada. Basta ver que o próprio STF, ao julgar o Tema 1.048, concluiu
pela constitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo da Contribuição Previdenciária sobre a Receita
Bruta (CPRB), que é uma contribuição social, mas de caráter substitutivo, que também utiliza a receita como
base de cálculo.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.767.631-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, Rel. para acórdão Min. Gurgel de Faria,
julgado em 10/5/2023 (Recurso Repetitivo – Tema 1008) (Info 774).

É constitucional o Decreto nº 11.374/2023, que restabeleceu as alíquotas originárias do PIS/Cofins sobre


receitas financeiras, previstas no Decreto 8.426/2015
O art. 1º do Decreto nº 8.426/2015 previa alíquotas de 0,65% e 4% para o PIS e Cofins incidentes sobre receitas
financeiras.
O Decreto nº 11.322, de 30/12/2022, alterou o art. 1º do Decreto nº 8.426/2015, reduzindo pela metade essas
alíquotas.
O Decreto nº 11.374/2023, que entrou em vigor no dia 02/01/2023, revogou o Decreto nº 11.322/2022 e disse
que a redação originária do art. 1º do Decreto nº 8.426/2015 deveria voltar a vigorar. Houve uma
repristinação.
O STF, ao apreciar liminar em ADC, decidiu que o Decreto nº 11.374/2023 é constitucional.
O Decreto nº 11.374/2023 restabeleceu a alíquota anterior no mesmo dia em que entraria em vigor a redução,
razão pela não pode ser equiparada a aumento de tributo. Logo, não incide o princípio da anterioridade
nonagesimal, que determina que o fisco só pode cobrar esses tributos 90 dias após sua majoração.
STF. Plenário. ADC 84 MC-Ref/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 9/5/2023 (Info 1093).

É necessário observar a regra da anterioridade nonagesimal quando o Poder Executivo modificar a alíquota
do PIS e da COFINS, ainda que dentro dos parâmetros previstos na lei autorizativa
Por configurar majoração tributária indireta, o redimensionamento dos coeficientes de redução das alíquotas
da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS promovido pelos Decretos nº 9.101/2017 e 9.112/2017
submete-se à anterioridade nonagesimal (art. 195, § 6º, CF/88).
Tese fixada pelo STF:
As modificações promovidas pelos Decretos nº 9.101/2017 e nº 9.112/2017, ao minorarem os coeficientes de
redução das alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre a importação e
comercialização de combustíveis, ainda que nos limites autorizados por lei, implicaram verdadeira majoração
indireta da carga tributária e devem observar a regra da anterioridade nonagesimal, prevista no art. 195, § 6º,
da Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 1390517/PE, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 13/4/2023 (Repercussão Geral – Tema 1.247)
(Info 1090).

A tendinite causada pelo trabalho desempenhado (Lesão por Esforço Repetitivo – LER) é considerada como
moléstia profissional para os fins da isenção de IR prevista no art. 6º, XIV, da Lei 7.713/88
Se comprovado por meio inequívoco que o contribuinte sofre de tendinite - Lesão por Esforço Repetitivo (LER)
ou Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT) - cuja causa (ou concausa) seja o trabalho
desempenhado (atividade laborativa) é certo que se trata de moléstia profissional, encontrando-se englobada
237

no art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88, de modo a deflagrar o direito líquido e certo à isenção de imposto de renda
pessoa física (IRPF) sobre os proventos de aposentadoria recebidos.
A isenção do imposto de renda em favor dos inativos portadores de moléstia tem como objetivo diminuir o
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sacrifício do aposentado, aliviando os encargos financeiros relativos ao tratamento médico.


STJ. 2ª Turma. REsp 2.052.013-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/5/2023 (Info 776).

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A alteração no programa fiscal REINTEGRA, por acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve
respeitar o princípio da anterioridade
Aplica-se o princípio da anterioridade tributária, geral e nonagesimal, nas hipóteses de redução ou de
supressão de benefícios ou de incentivos fiscais, haja vista que tais situações configuram majoração indireta
de tributos (STF. Plenário. RE 564225 AgR-EDv-AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2019).
Reintegra é um programa econômico instituído pelo governo federal com o objetivo de incentivar as
exportações. A redução ou supressão das vantagens decorrentes do REINTEGRA precisam respeitar o princípio
da anterioridade?
SIM. A redução ou supressão de benefícios ou incentivos fiscais decorrentes do Regime Especial de
Reintegração de Valores Tributários para Empresas Exportadoras (REINTEGRA) se sujeita à incidência dos
princípios da anterioridade tributária geral e da anterioridade nonagesimal, previstos no art. 150, III, “b” e “c”,
da Constituição Federal.
A alteração no programa fiscal REINTEGRA, por acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve
respeitar o princípio da anterioridade.
STF. 1ª Turma. RE 1253706 AgR/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/5/2020 (Info 978).
STF. 2ª Turma. RE 1091378 AgR, Rel. Edson Fachin, julgado em 31/08/2018.

Regra da anterioridade nonagesimal e lei de conversão da MP


Nos casos em que a majoração de alíquota tenha sido estabelecida somente na lei de conversão, o termo
inicial da contagem é a data da conversão da medida provisória em lei.
STF. Plenário. RE 568503/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 12/2/2014 (Info 735).

Norma que altera o prazo de pagamento do tributo


Súmula vinculante 50-STF: Norma legal que altera o prazo de recolhimento da obrigação tributária não se
sujeita ao princípio da anterioridade.

A revogação de benefício fiscal deverá obedecer ao princípio da anterioridade tributária


O ato normativo que revoga um benefício fiscal anteriormente concedido configura aumento indireto do
tributo e, portanto, está sujeito ao princípio da anterioridade tributária.
A jurisprudência do STF concebe que não apenas a majoração direta de tributos atrai a eficácia da
anterioridade nonagesimal, mas também a majoração indireta decorrente de revogação de benefícios fiscais.
Assim, a alteração em programa fiscal, quando acarretar indiretamente a majoração de tributos, deve
respeitar o princípio da anterioridade nonagesimal.
É a posição que prevalece.
STF. 1ª Turma. RE 1053254 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 26/10/2018.
STF. 1ª Turma. RE 983821 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 03/04/2018.
STF. 2ª Turma. RE 1091378 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 31/08/2018.

Obs: a redução ou a extinção de desconto para pagamento de tributo sob determinadas condições previstas
em lei, como o pagamento antecipado em parcela única, não pode ser equiparada à majoração do tributo
(STF. Plenário. ADI 4016 MC, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/08/2008).

A imunidade tributária do art. 149, § 2º, I, da CF/88 abrange o PIS/Cofins que incidiria sobre o frete
contratado por trading companies
238

Não incide a contribuição para o PIS e a COFINS sobre as receitas auferidas pelo operador de transporte com
o serviço de frete contratado por trading companies.
STF. Plenário. RE 1367071 AgR-EDv/PR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, redator do acórdão Min. Alexandre
Página

de Moraes, julgado em 17/02/2023 (Info 1083).

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Incide a imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal), no caso de contrato de
alienação fiduciária em que pessoa jurídica de direito público figure como devedora
Não incide IPVA sobre veículo automotor adquirido, mediante alienação fiduciária, por pessoa jurídica de
direito público.
STF. Plenário. RE 727851, Rel. Marco Aurélio, julgado em 22/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 685) (Info
985).

As Caixas de Assistência de Advogados gozam de imunidade tributária recíproca


As Caixas de Assistência de Advogados encontram-se tuteladas pela imunidade recíproca prevista no art. 150,
VI, “a”, da Constituição Federal.
A Caixa de Assistência dos Advogados é um “órgão” integrante da estrutura da OAB, mas que possui
personalidade jurídica própria. Sua finalidade principal é prestar assistência aos inscritos no respectivo no
Conselho Seccional (art. 62 da Lei nº 8.906/94).
As Caixas de Assistências prestam serviço público delegado e possuem status jurídico de ente público. Vale
ressaltar ainda que elas não exploram atividades econômicas em sentido estrito com intuito lucrativo. Diante
disso, devem gozar da imunidade recíproca, tendo em vista a impossibilidade de se conceder tratamento
tributário diferenciado a órgãos integrantes da estrutura da OAB.
STF. Plenário. RE 405267/MG, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/9/2018 (Info 914).

Os imóveis vinculados ao Programa de Arrendamento Residencial (PAR) estão sujeitos ao regime de


imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88)
Os bens e direitos que integram o patrimônio do fundo vinculado ao Programa de Arrendamento Residencial
(PAR), criado pela Lei nº 10.188/2001, beneficiam-se da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da
Constituição Federal.
STF. 1ª Turma. RE 928902/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 17/10/2018 (Info 920).

As organizações assistenciais religiosas podem ser abrangidas pela imunidade tributária prevista no art.
150, VI, “c”, da CF/88
As entidades religiosas podem se caracterizar como instituições de assistência social a fim de se beneficiarem
da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, ‘c’, da Constituição, que abrangerá não só os impostos sobre
o seu patrimônio, renda e serviços, mas também os impostos sobre a importação de bens a serem utilizados
na consecução de seus objetivos estatutários.
STF. Plenário. RE 630790/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/3/2022 (Repercussão Geral – Tema
336) (Info 1047).

CEBAS possui natureza declaratória, retroagindo seus efeitos


Súmula 612-STJ: O certificado de entidade beneficente de assistência social (CEBAS), no prazo de sua validade,
possui natureza declaratória para fins tributários, retroagindo seus efeitos à data em que demonstrado o
cumprimento dos requisitos estabelecidos por lei complementar para a fruição da imunidade.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 09/05/2018, DJe 14/05/2018 (Info 624).

A imunidade tributária estabelecida no art. 150, VI, “c”, da CF/88 abrange o IOF incidente inclusive sobre
operações financeiras praticadas pelas entidades mencionadas no dispositivo, desde que vinculadas às
finalidades essenciais dessas instituições
A imunidade assegurada pelo art. 150, VI, “c”, da Constituição da República aos partidos políticos, inclusive
239

suas fundações, às entidades sindicais dos trabalhadores e às instituições de educação e de assistência social,
sem fins lucrativos, que atendam aos requisitos da lei, alcança o IOF, inclusive o incidente sobre aplicações
Página

financeiras.

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STF. Plenário. RE 611510/SP, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 328)
(Info 1012).

Empresas públicas e sociedades de economia mista


Embora a CF/88 reconheça a imunidade recíproca apenas às pessoas políticas (Administração direta),
autarquias e fundações, a jurisprudência estende o benefício também às empresas públicas e às sociedades
de economia mista, desde que prestadoras de serviço público.
Assim, as empresas públicas e sociedades de economia mista que desempenham serviços públicos também
desfrutam da referida imunidade.
Por outro lado, se a empresa pública ou sociedade de economia mista explorar atividade econômica, não irá
gozar do benefício, porque a ela deve ser aplicado o mesmo regime jurídico da iniciativa privada (art. 173, §
1º, II, da CF/88).

Correios e IPVA
Os veículos automotores pertencentes aos Correios são imunes à incidência do IPVA por força da imunidade
tributária recíproca (art. 150, VI, “a”, da CF/88).
STF. Plenário. ACO 879/PB, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 26/11/2014 (Info
769).

Correios e Imunidade nos serviços de transporte de bens e mercadorias


Como vimos acima, os Correios gozam de imunidade tributária porque são uma empresa pública que
desempenha serviços públicos. Até aqui, tudo bem.
Ocorre que os Correios, além das atividades que desenvolvem de forma exclusiva, como é o caso da entrega
de cartas, também realizam alguns serviços em concorrência com a iniciativa privada (ex.: entrega de
encomendas).

Quando os Correios realizam o serviço de transporte de bens e mercadorias, concorrendo, portanto, com a
iniciativa privada, ainda assim gozam de imunidade? Ficam livres de pagar ICMS?
SIM. O STF decidiu que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos — ECT goza de imunidade tributária
recíproca mesmo quando realiza o transporte de bens e mercadorias.
Assim, não incide o ICMS sobre o serviço de transporte de bens e mercadorias realizado pelos Correios.
STF. Plenário. RE 627051/PE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/11/2014 (Info 767).

Correios, IPTU e presunção de que o imóvel é utilizado para as suas finalidades essenciais
Imagine que o Município cobrou IPTU dos Correios relativo a um imóvel pertence à empresa. Os Correios
invocaram sua imunidade tributária. O Município respondeu argumentando que a imunidade não poderia ser
aplicada em relação àquele imóvel porque ele não estaria relacionado às finalidades essenciais da empresa.
Para que a entidade goze de imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, “a”), ela terá que provar que o seu
imóvel está relacionado às suas finalidades essenciais ou existe uma presunção nesse sentido?
Existe uma presunção nesse sentido. Assim, o ônus de provar que o imóvel não está afetado a destinação
compatível com os objetivos e finalidades institucionais de entidade autárquica recai sobre o ente tributante.
Em palavras mais simples, se o Município quer tributar o imóvel pertencente à autarquia, fundação, empresa
pública ou sociedade de economia mista, ele é quem deverá provar que o referido bem não merece gozar da
imunidade.
Há uma presunção de que o imóvel da entidade está vinculado às suas finalidades essenciais STJ. 1ª Turma.
AgRg no AREsp 304.126-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 13/8/2013 (Info 527).
240

Sociedade de economia mista, cujas ações são negociadas na Bolsa, e que está voltada à remuneração do
Página

capital de seus controladores ou acionistas, não tem direito à imunidade tributária recíproca, mesmo que
preste serviço público

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Sociedade de economia mista, cuja participação acionária é negociada em Bolsas de Valores, e que,
inequivocamente, está voltada à remuneração do capital de seus controladores ou acionistas, não está
abrangida pela regra de imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição, unicamente em
razão das atividades desempenhadas.
STF. Plenário. RE 600867, Rel. Joaquim Barbosa, Relator p/ Acórdão Luiz Fux, julgado em 29/06/2020
(Repercussão Geral – Tema 508) (Info 993 – clipping).

Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de abastecimento de água
potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade tributária recíproca
Sociedade de economia mista estadual prestadora exclusiva do serviço público de abastecimento de água
potável e coleta e tratamento de esgotos sanitários faz jus à imunidade tributária recíproca sobre impostos
federais incidentes sobre patrimônio, renda e serviços.
Para a extensão da imunidade tributária recíproca da Fazenda Pública a sociedades de economia mista e
empresas públicas, é necessário preencher 3 (três) requisitos:
a) a prestação de um serviço público;
b) a ausência do intuito de lucro e
c) a atuação em regime de exclusividade, ou seja, sem concorrência.
STF. Plenário. ACO 3410/SE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2022 (Info 1051).

Empresa privada com finalidade lucrativa e que for arrendatária de imóvel público não goza de imunidade
tributária
A imunidade recíproca, prevista no art. 150, VI, “a”, da Constituição Federal, não se estende a empresa privada
arrendatária de imóvel público, quando seja ela exploradora de atividade econômica com fins lucrativos. Nessa
hipótese é constitucional a cobrança do IPTU pelo Município.
Ex: a União, proprietária de um grande terreno localizado no Porto de Santos, arrendou este imóvel para a
Petrobrás (sociedade de economia mista), que utiliza o local para armazenar combustíveis. Antes do
arrendamento, a União não pagava IPTU com relação a este imóvel em virtude da imunidade tributária
recíproca. Depois que houve o arrendamento, a Petrobrás passa a ter que pagar o imposto.
STF. Plenário. RE 594015/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 6/4/2017 (repercussão geral) (Info 860).

Isenção de imposto de renda sobre proventos oriundos de previdência privada complementar para
portadores de doenças graves
São isentos do imposto de renda os proventos percebidos de fundo de previdência privada a título de
complementação da aposentadoria por pessoa física acometida de uma das doenças arroladas no art. 6º, XIV,
da Lei 7.713/1988.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.507.320-RS, Rel. Min. Humberto Martins, j. em 10/2/2015 (Info 556).

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RELIGIOSA


Se a entidade religiosa possui um imóvel e o aluga a um terceiro, esse bem é imune (estará livre do
pagamento de IPTU)?
SIM, desde que o dinheiro seja utilizado nas atividades essenciais da Igreja.
Súmula vinculante 52-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente
a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas
atividades para as quais tais entidades foram constituídas.

Obs.: apesar da súmula referir-se à imunidade do art. 150, VI, c, seu enunciado também se aplica à imunidade
241

religiosa prevista no art. 150, VI, b.

A entidade religiosa goza de imunidade tributária sobre o cemitério utilizado em suas celebrações?
Página

Sim, desde que este cemitério seja uma extensão da entidade religiosa (STF. Plenário. RE 578.562, Rel. Min.
Eros Grau, julgado em 21/5/2008).

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No caso julgado pelo STF, o cemitério analisado era uma extensão da capela destinada ao culto da religião
anglicana, situada no mesmo imóvel.

Súmula 730-STF: A imunidade tributária conferida a instituições de assistência social sem fins lucrativos pelo
art. 150, VI, c, da Constituição, somente alcança as entidades fechadas de previdência social privada se não
houver contribuição dos beneficiários.

Súmula 657-STF: A imunidade prevista no art. 150, VI, d, da CF abrange os filmes e papéis fotográficos
necessários à publicação de jornais e periódicos.

Maçonaria e imunidade religiosa


A maçonaria goza da imunidade religiosa?
NÃO. A 1ª Turma do STF decidiu que as organizações maçônicas não estão incluídas no conceito de “templos
de qualquer culto” ou de “instituições de assistência social” para fins de concessão da imunidade tributária
prevista no art. 150, VI, b e c, da CF.
Segundo entendeu o STF, a maçonaria seria uma ideologia de vida e não uma religião.
Logo, as organizações maçônicas devem pagar IPTU e os demais impostos.
STF. 1ª Turma. RE 562351/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4/9/2012 (Info 678).

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DE ENTIDADES EDUCACIONAIS E ASSISTENCIAIS


Súmula vinculante 52-STF: Ainda quando alugado a terceiros, permanece imune ao IPTU o imóvel pertencente
a qualquer das entidades referidas pelo art. 150, VI, c, da CF, desde que o valor dos aluguéis seja aplicado nas
atividades para as quais tais entidades foram constituídas.

O fato de o imóvel estar vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para retirar a imunidade
tributária
E se o imóvel da instituição de ensino estiver vago ou não edificado, ele, mesmo assim, gozará da imunidade?
SIM. O fato de o imóvel estar vago ou sem edificação não é suficiente, por si só, para retirar a garantia
constitucional da imunidade tributária. Não é possível considerar que determinado imóvel está voltado a
finalidade diversa da exigida pelo interesse público apenas pelo fato de, momentaneamente, estar sem
edificação ou ocupação.
Em suma, essa imunidade tributária é aplicada aos bens imóveis, temporariamente ociosos, de propriedade
das instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos que atendam os requisitos legais.
STF. 1ª Turma. RE 385091/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/8/2013 (Info 714).
STF. Plenário. RE 767332/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 31/10/2013.

Entidade de assistência social que exerce atividade econômica


Determinada entidade de assistência social sem fins lucrativos que atende pessoas com deficiência explora
uma agência franqueada dos Correios. Em outras palavras, ela é proprietária de uma agência franqueada dos
Correios. A renda obtida com essa atividade é revertida integralmente aos fins institucionais dessa entidade.
A venda das mercadorias nessa agência franqueada será imune de ICMS?
NÃO. O STJ decidiu que não há imunidade nesse caso. Isso porque a atividade econômica fraqueada dos
Correios não está relacionada com as finalidades institucionais da entidade de assistência social, ou seja, o
serviço prestado não possui relação com seus trabalhos na área de assistência social, ainda que o resultado
das vendas seja revertido em prol das suas atividades essenciais. Logo, não se pode conceder a imunidade
porque não está preenchido o requisito exposto no ar. 150, § 4º da CF/88 e art. 14, § 2º do CTN.
242

STJ. 2ª Turma. RMS 46.170-MS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 23/10/2014 (Info 551).

LEI COMPLEMENTAR 187/2021: REGULAMENTA A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DO § 7º DO ART. 195 DA CF/88


Página

A Lei Complementar nº 187/2021:

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• regula os procedimentos referentes à imunidade de contribuições à seguridade social de que trata o § 7º do
art. 195 da Constituição Federal;
• dispõe sobre a certificação das entidades beneficentes.

A Constituição Federal conferiu imunidade para as entidades beneficentes de assistência social afirmando que
elas estão dispensadas de pagar contribuições para a seguridade social. Veja:
Art. 195 (...)
§ 7º - São isentas de contribuição para a seguridade social as entidades beneficentes de assistência social que
atendam às exigências estabelecidas em lei.

A lei a que se refere o § 7º é lei complementar ou ordinária?


Lei complementar.

Existe alguma lei que preveja os requisitos que deverão ser atendidos pela entidade para gozar da
imunidade de que trata o § 7º do art. 195 da CF/88?
• Antes da LC 187/2021: utilizava-se o art. 14 do CTN.
• Depois da LC 197/2021: os requisitos legais exigidos na parte final do § 7º do art. 195 passaram a ser aqueles
previstos na LC 197/2021, que foi editada para regulamentar esse dispositivo constitucional.

Os livros eletrônicos gozam de imunidade tributária


A imunidade tributária constante do art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal (CF), aplica-se ao livro eletrônico
(“e-book”), inclusive aos suportes exclusivamente utilizados para fixá-lo.
STF. Plenário. RE 330817/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/3/2017 (repercussão geral) (Info 856).

Os componentes eletrônicos que fazem parte de curso em fascículos de montagem de placas gozam de
imunidade tributária
A imunidade da alínea “d” do inciso VI do art. 150 da CF/88 alcança componentes eletrônicos destinados,
exclusivamente, a integrar unidade didática com fascículos.
STF. Plenário. RE 595676/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/3/2017 (repercussão geral) (Info 856).

O maquinário para impressão de livros não goza de imunidade tributária


A imunidade tributária prevista no art. 150, VI, “d”, da Constituição Federal, não abarca o maquinário utilizado
no processo de produção de livros, jornais e periódicos.
A imunidade tributária visa à garantia e efetivação da livre manifestação do pensamento, da cultura e da
produção cultural, científica e artística. Assim, é extensível a qualquer material assimilável a papel utilizado no
processo de impressão e à própria tinta especial para jornal, mas não é aplicável aos equipamentos do parque
gráfico, que não são assimiláveis ao papel de impressão, por não guardarem relação direta com a finalidade
constitucional do art. 150, VI, “d”, da CF/88.
STF. 1ª Turma. ARE 1100204/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 29/5/2018 (Info 904).

A imunidade tributária subjetiva é aplicada se a entidade imune for contribuinte de fato?


A imunidade tributária subjetiva aplica-se a seus beneficiários na posição de contribuinte de direito, mas não
na de simples contribuinte de fato, sendo irrelevante, para a verificação da existência do beneplácito
constitucional, a repercussão econômica do tributo envolvido.
• Se a entidade imune for contribuinte de direito: incide a imunidade subjetiva.
243

• Se a entidade imune for contribuinte de fato: não incide a imunidade subjetiva.


STF. Plenário. RE 608872/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, j. em 22 e 23/2/2017 (repercussão geral) (Info 855).
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Os requisitos para o gozo de imunidade devem estar previstos em lei complementar

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A lei complementar é forma exigível para a definição do modo beneficente de atuação das entidades de
assistência social contempladas pelo art. 195, § 7º, da CF, especialmente no que se refere à instituição de
contrapartidas a serem por elas observadas.
STF. Plenário. ADI 2028/DF, ADI 2036/DF, ADI 2228/DF, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac. Min. Rosa
Weber, julgados em 23/2 e 2/3/2017 (Info 855).
STF. Plenário. RE 566622/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 23/2/2017 (Info 855).

Imunidade tributária e obrigações acessórias


A entidade que goza de imunidade tributária tem o dever de cumprir as obrigações acessórias, dentre elas a
de manter os livros fiscais.
STF. 1ª Turma. RE 250844/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 29/5/2012.

É vedado que a base de cálculo da taxa seja idêntica à do imposto


Súmula vinculante 29-STF: É constitucional a adoção, no cálculo do valor de taxa, de um ou mais elementos
da base de cálculo própria de determinado imposto, desde que não haja integral identidade entre uma base
e outra.

Princípio da legalidade tributária e lei que delega a fixação do valor da taxa para ato infralegal, desde que
respeitados os parâmetros máximos
Não viola a legalidade tributária a lei que, prescrevendo o teto, possibilita o ato normativo infralegal fixar o
valor de taxa em proporção razoável com os custos da atuação estatal, valor esse que não pode ser atualizado
por ato do próprio conselho de fiscalização em percentual superior aos índices de correção monetária
legalmente previstos.
STF. Plenário. RE 838284/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 06/10/2016 (repercussão geral) (Info 842).

TEMAS DIVERSOS
Responsabilidade da sucessora em caso de sucessão empresarial
Súmula 554-STJ: Na hipótese de sucessão empresarial, a responsabilidade da sucessora abrange não apenas
os tributos devidos pela sucedida, mas também as multas moratórias ou punitivas referentes a fatos geradores
ocorridos até a data da sucessão.

Ausência de declaração do débito e início do prazo para constituição do crédito tributário


Súmula 555-STJ: Quando não houver declaração do débito, o prazo decadencial quinquenal para o Fisco
constituir o crédito tributário conta-se exclusivamente na forma do art. 173, I, do CTN, nos casos em que a
legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade
administrativa.

O concurso de preferência entre pessoas jurídicas de direito público previsto no parágrafo único do art. 187
do CTN e o parágrafo único do art. 29 da LEF não é compatível com a CF/88
O concurso de preferência entre os entes federados na cobrança judicial dos créditos tributários e não
tributários, previsto no parágrafo único do art. 187 da Lei nº 5.172/66 (Código Tributário Nacional) e no
parágrafo único do art. 29 da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais), não foi recepcionado pela Constituição
Federal de 1988.
A Súmula 563 do STF foi cancelada.
O entendimento contido na Súmula 497 do STJ está superado.
244

STF. Plenário. ADPF 357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2021 (Info 1023).
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Notificação do auto de infração

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Súmula 622-STJ: A notificação do auto de infração faz cessar a contagem da decadência para a constituição do
crédito tributário; exaurida a instância administrativa com o decurso do prazo para a impugnação ou com a
notificação de seu julgamento definitivo e esgotado o prazo concedido pela Administração para o pagamento
voluntário, inicia-se o prazo prescricional para a cobrança judicial.

Art. 170-A do CTN


O disposto no art. 170-A do CTN, que exige o trânsito em julgado para fins de compensação de crédito
tributário, somente se aplica às demandas ajuizadas após a vigência da LC 104/2001, a qual acrescentou o
referido artigo ao CTN.
STJ. 1ª Turma. AgRg no REsp 1.240.038-PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 8/4/2014 (Info 541).

Prazo para a restituição do valor pago indevidamente e tributo lançado por homologação
Qual é o prazo prescricional para obter a restituição do valor pago indevidamente no caso de tributos sujeitos
a lançamento por homologação?
• Para ações de repetição de indébito ajuizadas até 8/6/2005: 10 anos.
• Para ações de repetição de indébito ajuizadas a partir de 9/6/2005: 5 anos.
No dia 09/06/2005 entrou em vigor a LC 118/2005, que estabeleceu que, para efeito de repetição de indébito,
a extinção do crédito tributário ocorre, no caso de tributo sujeito a lançamento por homologação, no
momento do pagamento antecipado.
Obs: não importa se o pagamento indevido foi feito antes da LC 118/2005 (09/06/2005). O que interessa saber
é se a ação foi ajuizada antes da LC 118/2005 entrar em vigor.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.269.570-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 23/5/2012.

Pagamento indevido e restituição de tributos indiretos


1) O consumidor final de energia elétrica tem legitimidade ativa para propor ação declaratória cumulada com
repetição de indébito que tenha por escopo afastar a incidência de ICMS sobre a demanda contratada e não
utilizada de energia elétrica.
2) O usuário do serviço de energia elétrica (consumidor em operação interna), na condição de contribuinte de
fato, é parte legítima para discutir pedido de compensação do ICMS supostamente pago a maior no regime
de substituição tributária.
STJ. 1ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1.269.424-SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 23/10/2012.
STJ. 2ª Turma. AgRg no RMS 28.044-ES, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 13/11/2012.

Súmula 360-STJ: O benefício da denúncia espontânea não se aplica aos tributos sujeitos a lançamento por
homologação regularmente declarados, mas pagos a destempo.

Pedido de compensação ou de restituição e prazo prescricional


Súmula 625-STJ: O pedido administrativo de compensação ou de restituição não interrompe o prazo
prescricional para a ação de repetição de indébito tributário de que trata o art. 168 do CTN nem o da execução
de título judicial contra a Fazenda Pública.

Súmula 556-STJ: É indevida a incidência de imposto de renda sobre o valor da complementação de


aposentadoria pago por entidade de previdência privada e em relação ao resgate de contribuições recolhidas
para referidas entidades patrocinadoras no período de 1º/1/1989 a 31/12/1995, em razão da isenção
concedida pelo art. 6º, VII, b, da Lei n. 7.713/1988, na redação anterior à que lhe foi dada pela Lei n.
9.250/1995.
245

Comprovação necessária para o MS impetrado objetivando a declaração do direito à compensação


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tributária

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Tratando-se de Mandado de Segurança impetrado com vistas a declarar o direito à compensação tributária,
em virtude do reconhecimento da ilegalidade ou inconstitucionalidade da exigência da exação,
independentemente da apuração dos respectivos valores, é suficiente, para esse efeito, a comprovação de
que o impetrante ocupa a posição de credor tributário, visto que os comprovantes de recolhimento indevido
serão exigidos posteriormente, na esfera administrativa, quando o procedimento de compensação for
submetido à verificação pelo Fisco.
De outro lado, tratando-se de Mandado de Segurança com vistas a obter juízo específico sobre as parcelas a
serem compensadas, com efetiva investigação da liquidez e certeza dos créditos, ou, ainda, na hipótese em
que os efeitos da sentença supõem a efetiva homologação da compensação a ser realizada, o crédito do
contribuinte depende de quantificação, de modo que a inexistência de comprovação cabal dos valores
indevidamente recolhidos representa a ausência de prova pré-constituída indispensável à propositura da
ação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.715.256-SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 13/02/2019 (recurso
repetitivo) (Info 643).

É constitucional o protesto de CDA


O protesto das certidões de dívida ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo por não restringir de
forma desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir
sanção política.
STF. Plenário. ADI 5135/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 3 e 9/11/2016 (Info 846).

É possível o protesto de CDA


A Fazenda Pública possui interesse e pode efetivar o protesto da CDA, documento de dívida, na forma do art.
1º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/1997, com a redação dada pela Lei nº 12.767/2012.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.686.659-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 28/11/2018 (recurso repetitivo)
(Info 643).

Fazendas Públicas estadual ou municipal podem fazer o protesto de CDA mesmo que não exista lei local
autorizando
A validade do protesto de CDA emitida por Fazenda Pública Estadual ou Fazenda Municipal não está
condicionada à previa existência de lei local que autorize a adoção dessa modalidade de cobrança extrajudicial.
STJ. 1ª Turma. REsp 1895557-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 22/06/2021 (Info 702).

A adesão a programa de parcelamento tributário é causa de suspensão da exigibilidade do crédito e


interrompe o prazo prescricional
A adesão a programa de parcelamento tributário é causa de suspensão da exigibilidade do crédito e
interrompe o prazo prescricional, por constituir reconhecimento inequívoco do débito, nos termos do art. 174,
IV, do CTN, voltando a correr o prazo, por inteiro, a partir do inadimplemento da última parcela pelo
contribuinte.
STJ. 2ª Turma. REsp 1922063-PR, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 18/10/2022 (Info 754).
Obs: em verdade, o simples requerimento de parcelamento do crédito tributário já interrompe o prazo
prescricional. Nesse sentido: Súmula 653-STJ: O pedido de parcelamento fiscal, ainda que indeferido,
interrompe o prazo prescricional, pois caracteriza confissão extrajudicial do débito.

Fisco não pode aproveitar lançamento que tenha utilizado critério de base de cálculo inconstitucional,
mesmo que corrija o critério com uma base de cálculo válida, sendo necessário um novo lançamento
246

Se houve o pagamento do crédito tributário, mas, posteriormente, há declaração de nulidade do lançamento


em razão da inconstitucionalidade da base de cálculo utilizada pelo fisco, o contribuinte tem direito à
Página

restituição do que pagou indevidamente; e o fisco, se não decaído o direito de lançar e houver norma legal

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embasadora, deve constituir novo crédito tributário, por meio de outro lançamento, não se podendo
aproveitar o anterior, uma vez que não se admite a correção do critério jurídico anterior.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 2001298-PR, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 29/8/2022 (Info Especial
8).

O parágrafo único do art. 116 do CTN, incluído pela LC 104/2001, é constitucional


Art. 116 (…) Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos
praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos
constitutivos da obrigação tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária. A
previsão contida no parágrafo único do art. 116 do CTN não viola o texto constitucional.
Esse dispositivo não ofende os princípios constitucionais da legalidade, da estrita legalidade e da tipicidade
tributária, e da separação dos Poderes.
Em verdade, ele confere máxima efetividade a esses preceitos, objetivando, primordialmente, combater a
evasão fiscal, sem que isso represente permissão para a autoridade fiscal de cobrar tributo por analogia ou
fora das hipóteses descritas em lei, mediante interpretação econômica.
O dispositivo apenas viabiliza que a autoridade tributária aplique base de cálculo e alíquota a uma hipótese
de incidência estabelecida em lei e que tenha efetivamente se realizado.
STF. Plenário. ADI 2446/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 8/4/2022 (Info 1050).

Não é possível conceder, por via judicial, a suspensão da exigibilidade de parcelamento tributário sob o
argumento dos efeitos deletérios da Covid-19
Na ausência de legislação estadual específica que conceda o direito à postergação do vencimento ou à
suspensão da exigibilidade das prestações dos parcelamentos de tributos estaduais, não há como se estender
os efeitos de normas aplicáveis no âmbito dos tributos federais ou do Simples Nacional, ou mesmo benefícios
concedidos por outro Estado da Federação, aos tributos devidos em razão da pandemia (Covid-19).
STJ. 2ª Turma. RMS 67443-ES, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 15/03/2022 (Info 729).

O concurso de preferência entre pessoas jurídicas de direito público previsto no parágrafo único do art. 187
do CTN e o parágrafo único do art. 29 da LEF não é compatível com a CF/88
O concurso de preferência entre os entes federados na cobrança judicial dos créditos tributários e não
tributários, previsto no parágrafo único do art. 187 da Lei nº 5.172/66 (Código Tributário Nacional) e no
parágrafo único do art. 29 da Lei nº 6.830/80 (Lei de Execuções Fiscais), não foi recepcionado pela Constituição
Federal de 1988.
A Súmula 563 do STF foi cancelada.
O entendimento contido na Súmula 497 do STJ está superado.
STF. Plenário. ADPF 357/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2021 (Info 1023).

É possível condicionar o desembaraço aduaneiro de bens importados ao pagamento de diferenças apuradas


por arbitramento da autoridade fiscal, sem que isso afronte a Súmula 323 do STF, não configurando sanção
política
É constitucional vincular o despacho aduaneiro ao recolhimento de diferença tributária apurada mediante
arbitramento da autoridade fiscal.
STF. Plenário. RE 1090591, Rel. Marco Aurélio, julgado em 16/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 1042) (Info
994 – clipping).

As empresas nacionais que vendem mercadorias para a Zona Franca de Manaus possuem direito ao
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benefício fiscal do REINTEGRA


Súmula 640-STJ: O benefício fiscal que trata do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para
as Empresas Exportadoras (REINTEGRA) alcança as operações de venda de mercadorias de origem nacional
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para a Zona Franca de Manaus, para consumo, industrialização ou reexportação para o estrangeiro.

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STJ. 1ª Seção. Aprovada em 18/02/2020, DJe 19/02/2020.

É inconstitucional lei estadual que verse sobre a responsabilidade de terceiros por infrações de forma diversa
das regras gerais estabelecidas pelo CTN
É formalmente inconstitucional norma estadual que atribui ao contabilista a responsabilidade solidária,
quanto ao pagamento de impostos e de penalidades pecuniárias, no caso de suas ações ou omissões
concorrerem para a prática de infração à legislação tributária.
Tese fixada pelo STF: “É inconstitucional lei estadual que verse sobre a responsabilidade de terceiros por
infrações de forma diversa das regras gerais estabelecidas pelo Código Tributário Nacional”.
STF. Plenário. ADI 6284/GO, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 14/9/2021 (Info 1029).

ESPÉCIES DE TRIBUTOS
Não é possível excluir os benefícios fiscais relacionados ao ICMS da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, salvo
quando atendidos os requisitos previstos em lei; não se aplica para os benefícios fiscais em geral o
entendimento firmado nos ERESP 1.517.492/PR
1. Impossível excluir os benefícios fiscais relacionados ao ICMS, - tais como redução de base de cálculo,
redução de alíquota, isenção, diferimento, entre outros - da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, salvo quando
atendidos os requisitos previstos em lei (art. 10 da Lei Complementar nº 160/2017 e art. 30 da Lei nº
12.973/2014), não se lhes aplicando o entendimento firmado nos ERESP 1.517.492/PR que excluiu o crédito
presumido de ICMS das bases de cálculo do IRPJ e da CSLL.
2. Para a exclusão dos benefícios fiscais relacionados ao ICMS, - tais como redução de base de cálculo, redução
de alíquota, isenção, diferimento, entre outros - da base de cálculo do IRPJ e da CSLL, não deve ser exigida a
demonstração de concessão como estímulo à implantação ou expansão de empreendimentos econômicos.
3. Considerando que a Lei Complementar 160/2017 incluiu os §§ 4º e 5º ao art. 30 da Lei nº 12.973/2014 sem,
entretanto, revogar o disposto no seu § 2º, a dispensa de comprovação prévia, pela empresa, de que a
subvenção fiscal foi concedida como medida de estímulo à implantação ou expansão do empreendimento
econômico não obsta a Receita Federal de proceder ao lançamento do IRPJ e da CSSL se, em procedimento
fiscalizatório, for verificado que os valores oriundos do benefício fiscal foram utilizados para finalidade
estranha à garantia da viabilidade do empreendimento econômico.
STJ. 1ª Seção.REsp 1.945.110-RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 26/4/2023 (Recurso Repetitivo –
Tema 1182) (Info 772).

Não incidem IRPJ e CSLL sobre os juros decorrentes da mora na devolução de valores determinada em ação
de repetição do indébito tributário
Os valores relativos à taxa Selic recebidos pelo contribuinte na repetição de indébito tributário não compõem
a base de incidência do Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) ou da Contribuição Social sobre o
Lucro Líquido (CSLL).
Tese fixada pelo STF:
“É inconstitucional a incidência do IRPJ e da CSLL sobre os valores atinentes à taxa Selic recebidos em razão
de repetição de indébito tributário”.
STF. Plenário. RE 1063187/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/9/2021 (Repercussão Geral – Tema 962)
(Info 1031).

Pessoa com deficiência pode ser enquadrada como dependente, mesmo que seja apta a trabalhar, mas
desde que não receba remuneração que exceda as deduções legalmente autorizadas
Na apuração do imposto sobre a renda de pessoa física, a pessoa com deficiência que supere o limite etário e
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seja capacitada para o trabalho pode ser considerada como dependente quando a sua remuneração não
exceder as deduções autorizadas por lei.
STF. Plenário. ADI 5583/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em
Página

14/5/2021 (Info 1017).

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O art. 42 da Lei 9.430/96 é constitucional
É constitucional a tributação de valores depositados em conta mantida junto a instituição financeira, cuja
origem não for comprovada pelo titular — pessoa física ou jurídica —, desde que ele seja intimado para tanto.
Dessa forma, incide Imposto de Renda sobre os depósitos bancários considerados como omissão de receita
ou de rendimento, em face da previsão contida no art. 42 da Lei nº 9.430/96:
Art. 42. Caracterizam-se também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de
depósito ou de investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física
ou jurídica, regularmente intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos
recursos utilizados nessas operações.
STF. Plenário. RE 855649/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 30/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 842) (Info 1015).

O direito ao crédito presumido de IPI só surge na data de exportação e não na data de aquisição dos insumos
A Lei nº 9.363/96 pretendeu desonerar as exportações e elegeu como critério material para a fruição de
referido benefício fiscal exportar mercadorias nacionais.
Assim, o critério temporal para a incidência da norma só pode ser a data da exportação, que se verifica no
momento do registro junto ao SISCOMEX (Sistema Integrado de Comércio Exterior) e embarque da
mercadoria.
STJ. 1ª Turma. REsp 1168001-RS, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 17/11/2020 (Info 684).

Não é possível estender, pela via judicial, a isenção prevista no art. 6º, XIV, da Lei 7.713/88 aos
trabalhadores em atividade
O art. 6º, XIV, da Lei nº 7.713/88 prevê que as pessoas portadoras de neoplasia maligna ou outras doenças
graves e que estejam na inatividade não pagarão imposto de renda sobre os rendimentos recebidos a título
de aposentadoria, pensão ou reforma.
Essa isenção é devida apenas às pessoas que recebem aposentadoria, pensão ou reforma e não é possível que
o Poder Judiciário estenda o benefício aos trabalhadores que estão em atividade.
Os juízes e Tribunais não podem, mesmo a pretexto de estabelecer tratamento isonômico, conceder isenção
tributária em favor daqueles não contemplados pelo favor legal, porque isso equivaleria, em última análise, a
converter o Poder Judiciário em inadmissível legislador positivo.
A legislação optou por critérios cumulativos absolutamente razoáveis à concessão do benefício tributário,
quais sejam, inatividade e enfermidade grave, ainda que contraída após a aposentadoria ou reforma.
STF. Plenário. ADI 6025, Rel. Alexandre de Moraes, julgado em 20/04/2020 (Info 983 – clipping).

Não se aplica a isenção do imposto de renda prevista no inciso XIV do artigo 6º da Lei nº 7.713/88 (seja na
redação da Lei nº 11.052/2004 ou nas versões anteriores) aos rendimentos de portador de moléstia grave que
se encontre no exercício de atividade laboral.
STJ. 1ª Seção. REsp 1814919-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 24/06/2020 (Recurso Repetitivo – Tema
1037) (Info 676).

Havendo mero deslocamento para outro estabelecimento ou para outra localidade, permanecendo o
produto sob o domínio do contribuinte, não haverá incidência do IPI
O art. 46, II, do CTN prevê o seguinte:
Art. 46. O imposto, de competência da União, sobre produtos industrializados tem como fato gerador:
II - a sua saída dos estabelecimentos a que se refere o parágrafo único do artigo 51;
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A saída do estabelecimento a que refere o art. 46, II, do CTN, que caracteriza o aspecto temporal da hipótese
de incidência, pressupõe, logicamente, a mudança de titularidade do produto industrializado.
Havendo mero deslocamento para outro estabelecimento ou para outra localidade, permanecendo o produto
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sob o domínio do contribuinte, não haverá incidência do IPI.


STJ. 1ª Turma. REsp 1402138-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 12/05/2020 (Info 672).

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Os serviços de capatazia integram a base de cálculo do imposto de importação
Os serviços de capatazia estão incluídos na composição do valor aduaneiro e integram a base de cálculo do
imposto de importação.
Os serviços de capatazia integram o conceito de valor aduaneiro, tendo em vista que tais atividades são
realizadas dentro do porto ou ponto de fronteira alfandegado na entrada do território aduaneiro.
STJ. 1ª Seção. REsp 1799306-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, Rel. Acd. Min. Francisco Falcão, julgado em
11/03/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1014) (Info 671).

Não há direito ao crédito de IPI em relação à aquisição de insumos isento, não tributados ou sujeitos à
alíquota zero
Súmula vinculante 58: Inexiste direito a crédito presumido de IPI relativamente à entrada de insumos isentos,
sujeitos à alíquota zero ou não tributáveis, o que não contraria o princípio da não cumulatividade.
STF. Plenário. Aprovada em 24/04/2020.

Progressividade das alíquotas do ITR


É constitucional a progressividade das alíquotas do ITR previstas na Lei nº 9.393/96 e que leva em
consideração, de maneira conjugada, o grau de utilização (GU) e a área do imóvel.
Essa progressividade é compatível com o art. 153, § 4º, I, da CF/88, seja na sua redação atual, seja na redação
originária, ou seja, antes da EC 42/2003.
Mesmo no período anterior à EC 42/2003, era possível a instituição da progressividade em relação às alíquotas
do ITR.
STF. 1ª Turma.RE 1038357 AgR/ SP, Rel. Min Dias Tóffoli, julgado em 6/2/2018 (Info 890).

Portador de cegueira monocular e isenção de imposto de renda


Os proventos de aposentadoria ou reforma percebidos por portador de cegueira monocular também são
isentos de imposto sobre a renda.
STJ. 1ª Turma. REsp 1553931-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 15/12/2015 (Info 575).

Isenção de IR sobre proventos de previdência privada para doentes graves


São isentos do imposto de renda os proventos percebidos de fundo de previdência privada a título de
complementação da aposentadoria por pessoa física acometida de uma das doenças arroladas no art. 6º, XIV,
da Lei 7.713/1988.
STJ. 2ª Turma. REsp 1507320-RS, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/2/2015 (Info 556).

Base de cálculo do IPI nas vendas a prazo


A base de cálculo do IPI na venda a prazo é o preço "normal" da mercadoria (preço de venda à vista) mais os
eventuais acréscimos decorrentes do parcelamento.
A base de cálculo do IPI nas vendas a prazo, sem a intermediação de instituição financeira, é o valor total da
operação.
Situação diferente ocorre na chamada "venda financiada". Nesta, o comprador obtém recursos de instituição
financeira para pagar a aquisição da mercadoria e o IPI incide apenas sobre o valor efetivamente pago ao
vendedor do produto, não englobando os juros pagos ao financiador, sobre o qual incidirá apenas o IOF.
STJ. 2ª Turma. REsp 1586158-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 3/5/2016 (Info 584).
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Descontos incondicionais e sua não incidência na base de cálculo do IPI


Os descontos incondicionais não devem integrar a base de cálculo do IPI. Ex.: se o preço “cheio” do produto
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era 120, mas foi dado um desconto de 20 para o adquirente, a base de cálculo do IPI será 100 (e não 120).

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É inconstitucional, por ofensa ao art. 146, III, a, da CF/88, o § 2º do art. 14 da Lei 4.502/1964, com a redação
dada pelo art. 15 da Lei 7.798/1989, no ponto em que determina a inclusão de descontos incondicionais na
base de cálculo do IPI.
STF. Plenário. RE 567935/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 4/9/2014 (repercussão geral) (Info 757).

IR e CSLL
O STF, por maioria, julgou parcialmente procedente a ação, para conferir interpretação conforme, no sentido
de que o art. 74 da MP nº 2.158-35/2001 não se aplica às empresas “coligadas” localizadas em países sem
tributação favorecida (não “paraísos fiscais”), e que o referido dispositivo se aplica às empresas “controladas”
localizadas em países de tributação favorecida ou desprovidos de controles societários e fiscais adequados
("paraísos fiscais", assim definidos em lei).
Também, por maioria, o STF declarou inconstitucional a retroatividade prevista no parágrafo único do art. 74
da MP 2.158-35, de 2001. O dispositivo prevê que “os lucros apurados por controlada ou coligada no exterior
até 31 de dezembro de 2001 serão considerados disponibilizados em 31 de dezembro de 2002, salvo se
ocorrida, antes desta data, qualquer das hipóteses de disponibilização previstas na legislação em vigor”. Nesse
ponto, os Ministros destacaram que a retroatividade fica afastada tanto para controladas e coligadas situadas
em paraísos fiscais quanto para aquelas instaladas em países de tributação não favorecida.
STF. Plenário. ADI 2588/DF, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, 10/4/2013
(Info 701).

A multa por rescisão de um contrato de afretamento deve se submeter à alíquota de 15% para fins de
Imposto de Renda, nos termos do art. 70 da Lei 9.430/96
Caso concreto: GOLAR SPIRIT UK LTD é uma sociedade estrangeira cuja principal atividade é o transporte
marítimo. A Petrobrás celebrou contrato de afretamento de navio com a GOLAR SPIRIT para transporte de Gás
Natural, pelo período de 10 anos. A estatal optou por rescindir o contrato de afretamento antes de seu
vencimento. Por conta disso, a Petrobrás teve que pagar à GOLAR SPIRIT multa, denominada contratualmente
de “taxa de compensação” pelo encerramento antecipado.
A Petrobrás teve que remeter esses recursos ao exterior. Antes de enviar os valores, a Petrobrás efetuou a
retenção do Imposto de Renda, com base na alíquota de 15%, nos termos do art. 70 da Lei nº 9.430/96: “Art.
70. A multa ou qualquer outra vantagem paga ou creditada por pessoa jurídica, ainda que a título de
indenização, a beneficiária pessoa física ou jurídica, inclusive isenta, em virtude de rescisão de contrato,
sujeitam-se à incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de quinze por cento.”
A GOLAR SPIRIT defendia que não teria que pagar nada (alíquota zero), com base no art. 1º, I, da Lei nº
9.481/97: “Art. 1º A alíquota do imposto de renda na fonte incidente sobre os rendimentos auferidos no País,
por residentes ou domiciliados no exterior, fica reduzida para zero, nas seguintes hipóteses: I - receitas de
fretes, afretamentos, aluguéis ou arrendamentos de embarcações marítimas ou fluviais ou de aeronaves
estrangeiras ou motores de aeronaves estrangeiros, feitos por empresas, desde que tenham sido aprovados
pelas autoridades competentes, bem como os pagamentos de aluguel de contêineres, sobrestadia e outros
relativos ao uso de serviços de instalações portuárias;”
O STJ decidiu que deve incidir a alíquota de 15%, nos termos do art. 70 da Lei nº 9.430/96.
O art. 70 da Lei nº 9.430/96 é regra antielisiva específica.
Além disso, nem toda receita prevista no contrato de afretamento necessariamente se caracteriza como
“receita de afretamento”. A multa percebida em razão da rescisão antecipada, embora decorrente de um
contrato de afretamento, não é paga por uma prestação positiva na exploração e produção de petróleo e gás,
mas sim pela frustração parcial dessa prestação.
STJ. 1ª Turma. REsp 1940975-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 28/2/2023 (Info 765).
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A indenização correspondente à variação do preço da participação acionária e das bonificações são


indenizações a título de lucros cessantes correspondentes ao ganho de capital e devem ser tributadas pelo
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Imposto de Renda

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O ganho de capital (art. 43, I, do CTN) é em regra aferido a partir da diferença entre o custo de aquisição e o
valor de alienação.
O preço de aquisição corresponde ao valor pago pelo adquirente para a aquisição da participação acionária
(que não lhe foi entregue) e o preço de alienação corresponde ao valor da participação acionária entregue
posteriormente pela empresa ao adquirente em razão do comando dado na ação judicial em que foi vencedor.
O Imposto de Renda deverá incidir sobre essa diferença, se houver, pois ela indica ganho de capital (lucro
cessante). Se não houver diferença, a verba é meramente indenizatória (a título de dano emergente), pois
significa apenas a substituição de um capital por outro equivalente de forma tardia.
Dessa forma, a indenização correspondente à variação do preço da participação acionária e das bonificações
são indenizações a título de lucros cessantes correspondentes ao ganho de capital e devem ser tributadas pelo
Imposto de Renda, posto que consideradas rendimento bruto consoante os arts. 3º, 16 e 19, da Lei nº
7.713/88.
STJ. 2ª Turma. REsp 1697606-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 13/12/2022 (Info 761).

Não incide imposto de renda sobre o preço recebido em virtude de cessão com deságio de precatório
Nos casos de cessão de precatório, só haverá tributação caso ocorra ganho de capital, o que não se verifica
nos casos de alienação com deságio.
STJ. 2ª Turma. REsp 1785762-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 27/09/2022 (Info 751).

O IOF incide nas movimentações decorrentes das operações de “conferência internacional de ações” de
sociedade estrangeira no aumento do capital social de empresa brasileira
Do mesmo modo que a CPMF, o IOF incide nas movimentações decorrentes das operações de “conferência
internacional de ações” de sociedade estrangeira no aumento do capital social de empresa brasileira.
STJ. 2ª Turma. REsp 1671357-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 09/11/2021 (Info 717).

Incide imposto de renda sobre juros de mora?


REGRA: sim. Isso porque os juros de mora possuem natureza de lucros cessantes e, como vimos acima, incide
imposto de renda sobre lucros cessantes.
EXCEÇÃO 1: não incide IR sobre juros de mora relacionados com o pagamento em atraso de verbas
alimentares.
Os juros de mora decorrentes do pagamento em atraso de verbas alimentares a pessoas físicas escapam à
regra geral da incidência do Imposto de Renda, posto que, excepcionalmente, configuram indenização por
danos emergentes.
EXCEÇÃO 2: não incide IR sobre juros de mora se a verba principal é isenta ou fora do campo de incidência do
IR.
Escapam à regra geral de incidência do Imposto de Renda sobre juros de mora aqueles cuja verba principal
seja isenta ou fora do campo de incidência do IR.
STJ. 1ª Seção. REsp 1470443-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/08/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 878) (Info 706).

Não incide IOF quando o exportador realiza, com instituição financeira, o denominado Adiantamento sobre
Contrato de Câmbio (ACC), vinculado à exportação de bens e serviços
No Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC), a instituição financeira se obriga a pagar, em reais e no
momento estabelecido na avença, pela moeda estrangeira comprada a termo, ou seja, paga-se
antecipadamente, de forma total ou parcial, pelo valor correspondente ao câmbio, que se efetivará no futuro.
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No âmbito das exportações, a venda de mercadorias e serviços é formalizada, em regra, mediante um contrato
firmado entre a empresa nacional e o adquirente estrangeiro, sendo o pagamento realizado pela moeda do
país importador.
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Considerando que o exportador brasileiro deve receber o valor em moeda corrente brasileira, há de ser feita
a operação de câmbio, a ser intermediada por instituição financeira, podendo-se formular um ACC, para
antecipar esse valor, sujeitando-se aos seus consectários pertinentes.
O ACC não representa uma operação de crédito, embora não se negue a antecipação de numerário que ele
representa, cuidando, na verdade, de uma operação de câmbio de forma antecipada, e assim deve ser
tributada, pois vinculada a compra a termo de moeda estrangeira, de modo que se apresenta incabível a
pretensão de que incida IOF sobre crédito no momento da formalização desse contrato.
Em se tratando de operação de câmbio vinculada às exportações, sempre foi observada a alíquota (zero) de
IOF, seguindo a orientação constitucional de que não se exporta tributos (arts. 149, § 2º, I; 153, § 3º, III; e 155,
§ 2º, X, “a”, da Constituição Federal).
STJ. 1ª Turma. REsp 1452963-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 18/05/2021 (Info 697).

A isenção de quota condominial do síndico não configura renda para fins de incidência do Imposto de Renda
de Pessoa Física
O imposto de renda tem como fato gerador a aquisição da disponibilidade econômica ou jurídica de renda ou
de proventos de qualquer natureza.
Renda, para fins de incidência tributária, pressupõe acréscimo patrimonial ao longo de determinado período,
ou seja, riqueza nova agregada ao patrimônio do contribuinte.
A quota condominial é a obrigação mensal imposta a todos os condôminos para cobrir gastos necessários à
manutenção de um condomínio. Trata-se, portanto, de uma despesa, um encargo que é suportado pelos
condôminos.
Assim, a dispensa do pagamento das taxas condominiais concedida ao síndico pelo trabalho por ele exercido
não pode ser considerada como pró-labore, rendimento nem tampouco como acréscimo patrimonial. Logo,
não está sujeita à incidência do imposto de renda, sob pena, inclusive, de violar o princípio da capacidade
contributiva.
Quando o síndico deixa de pagar a quota condominial não há uma alteração entre o patrimônio preexistente
e o novo. Não há o ingresso de riqueza nova em seu patrimônio que justifique a inclusão do valor
correspondente à sua quota condominial como ganho patrimonial na apuração anual de rendimentos
tributáveis.
STJ. 1ª Turma. REsp 1606234-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 05/12/2019 (Info 662).

Cessionário de crédito-prêmio de IPI não pode suceder o cedente em execução contra a União
Não é possível a sucessão processual em razão de cessão de crédito de título judicial, referente a crédito-
prêmio de IPI, com a finalidade de oportunizar a compensação tributária pela cessionária.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1390228-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/09/2018 (Info 636).

Valor recebido pelo jogador a título de “direito de arena” sujeita-se ao IRPF


A remuneração percebida pelos atletas profissionais a título de direito de arena sujeita-se à incidência do
Imposto sobre a Renda de Pessoa Física - IRPF.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.679.649-SP, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 17/05/2018 (Info 626).

Isenção de IPI e pessoa com deficiência que teve o seu veículo roubado
Se uma pessoa com deficiência for adquirir um automóvel, ela não precisará pagar o IPI sobre o veículo
comprado. Isso fará com que o preço por ela pago seja menor. Essa isenção está prevista no art. 1º da Lei
8.989/95.
Vale ressaltar, no entanto, que essa isenção somente poderá ser utilizada uma vez a cada 2 anos, conforme
253

determina o art. 2º.


Imagine, no entanto, que uma pessoa portadora de necessidades especiais comprou o carro com isenção de
IPI e, alguns meses depois, ele é roubado. Ela poderá comprar novo veículo com isenção mesmo não tendo
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ainda se passado o prazo de 2 anos?

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SIM. A isenção de IPI para aquisição de automóvel por pessoa com necessidades especiais poderá ser
novamente concedida antes do término do prazo de 2 anos contado da aquisição se o veículo vier a ser
roubado durante esse período.
STJ. 1ª Turma. REsp 1390345-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 24/3/2015 (Info 559).

Não incidência de IPTU sobre imóvel com destinação rural localizado em área urbana
Não incide IPTU, mas ITR, sobre imóvel localizado na área urbana do Município, desde que comprovadamente
utilizado em exploração extrativa, vegetal, agrícola, pecuária ou agroindustrial (art. 15 do DL 57/1966).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.112.646/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 26/08/2009 (Recurso Repetitivo -
Tema 174).

Incidência de IR sobre adicional de 1/3 de férias gozadas


Incide imposto de renda sobre o adicional de 1/3 (um terço) de férias gozadas.
Essa verba tem natureza remuneratória (e não indenizatória) e configura acréscimo patrimonial.
STJ. 1ª Seção. REsp 1459779-MA, Rel. para acórdão Min. Benedito Gonçalves, julgado em 22/04/2015 (recurso
repetitivo) (Info 573).

Incide imposto de renda sobre juros de mora?


Incide imposto de renda sobre juros de mora?
REGRA: sim. Isso porque os juros de mora possuem natureza de lucros cessantes e, como vimos acima, incide
imposto de renda sobre lucros cessantes.
EXCEÇÃO 1: não incide IR sobre juros de mora relacionados com o pagamento em atraso de verbas
alimentares.
Os juros de mora decorrentes do pagamento em atraso de verbas alimentares a pessoas físicas escapam à
regra geral da incidência do Imposto de Renda, posto que, excepcionalmente, configuram indenização por
danos emergentes.
EXCEÇÃO 2: não incide IR sobre juros de mora se a verba principal é isenta ou fora do campo de incidência do
IR.
Escapam à regra geral de incidência do Imposto de Renda sobre juros de mora aqueles cuja verba principal
seja isenta ou fora do campo de incidência do IR.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.470.443-PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/08/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 878) (Info 706).

Portador de HIV, mesmo sem sintomas de Aids, goza da isenção do imposto de renda prevista no art. 6º,
XIV, da Lei 7.713/88
Independentemente de a pessoa diagnosticada como soropositiva para HIV ostentar sintomas da Síndrome
de Imunodeficiência Adquirida - SIDA/AIDS, deve o contribuinte ser abrangido pela isenção do Imposto sobre
a Renda da Pessoa Física - IRPF.
A isenção de imposto de renda sobre proventos de aposentadoria/reforma em razão de moléstia grave tem
por objetivo desonerar quem se encontra em desvantagem face ao aumento de despesas com o tratamento
da doença. No que diz respeito à contaminação pelo HIV, a literatura médica evidencia que o tempo de
tratamento é vitalício (até surgimento de cura futura e incerta), com uso contínuo de antirretrovirais e/ou
medicações profiláticas de acordo com a situação virológica (carga viral do HIV) e imunológica do paciente.
Logo, não deve haver diferença de tratamento jurídico entre a pessoas que possuem a SIDA/AIDS e aquelas
soropositivas para HIV que não manifestam os sintomas da SIDA/AIDS.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.808.546-DF, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/05/2022 (Info 737).
254

Princípio da não-cumulatividade e redução da base de cálculo equiparada a isenção parcial


A redução da base de cálculo de ICMS equivale à hipótese de isenção parcial, a acarretar a anulação proporcional
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de crédito desse mesmo imposto, relativo às operações anteriores, salvo disposição em lei estadual em sentido

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contrário. Assim, reduzida a base de cálculo, tem-se impossibilitado o creditamento integral, sem que se possa falar
em ofensa ao princípio da não-cumulatividade (art. 155, § 2º, II, “b”, da CF/88).
Para o STF, a redução de base de cálculo deve ser considerada como se fosse uma “isenção parcial”. Logo,
também acarreta a anulação proporcional do crédito do ICMS relativo às operações anteriores, salvo
disposição em lei estadual em sentido contrário.
Assim, se foi reduzida a base de cálculo do ICMS, não será permitido que a empresa faça o creditamento
integral, sem que se possa falar em ofensa ao princípio da não-cumulatividade (CF, art. 155, § 2º, II, “b”).
Em outras palavras, se houver redução na base de cálculo em uma das operações da cadeia de circulação de
mercadorias, aplica-se a regra do art. 155, § 2º, II, “b”, da CF/88.
STF. Plenário. RE 635688/RS, Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/10/2014 (repercussão geral) (Info 763).
STF. Plenário. RE 477323/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 16/10/2014 (Info 763).

Após a EC 33/2001, é constitucional o ICMS sobre a importação de bens


Após a EC 33/2001, é CONSTITUCIONAL a instituição do ICMS incidente sobre a importação de bens, sendo
irrelevante a classificação jurídica do ramo de atividade da empresa importadora. Antes da EC 33/2001 essa
prática era inconstitucional.
As leis estaduais anteriores à EC 33/2001 que previam a cobrança de ICMS importação para pessoas que não
fossem contribuintes habituais de imposto são inválidas, considerando que o sistema jurídico brasileiro não
contempla a figura da constitucionalidade superveniente.
Para ser constitucionalmente válida a incidência do ICMS sobre operações de importação de bens, as
modificações no critério material na base de cálculo e no sujeito passivo da regra-matriz deveriam ter sido
realizadas em lei posterior à EC 33/2001.
A súmula 660 do STF está superada.
STF. Plenário. RE 439796/PR; RE 474267/RS, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgados em 6/11/2013 (repercussão
geral) (Info 727).

ICMS e Leasing internacional


Há incidência de ICMS no caso de leasing internacional?
REGRA: NÃO. Em regra, não incide o ICMS importação na operação de arrendamento mercantil internacional,
uma vez que no leasing não há, necessariamente, a transferência de titularidade do bem. Em outras palavras,
pode haver ou não a compra. Assim, não incide o imposto se existe a possibilidade de o bem ser restituído ao
proprietário e o arrendatário não efetuar a opção de compra.
EXCEÇÃO: incidirá ICMS importação se ficar demonstrado que houve a antecipação da opção de compra. Isso
ocorre quando não existe a possibilidade de o bem ser restituído ao proprietário, seja por circunstâncias
naturais (físicas), seja porque se trata de insumo.
STF. Plenário. RE 540829/SP, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 11/9/2014 (repercussão geral) (Info
758).
STF. Plenário. RE 226899/SP, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em
1º/10/2014 (Info 761).

A isenção do art. 3º, II, da LC 87/96 alcança todo o processo de exportação, inclusive as operações e
prestações parciais, como o transporte interestadual
Súmula 649-STJ: Não incide ICMS sobre o serviço de transporte interestadual de mercadorias destinadas ao
exterior.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 28/04/2021, DJe 03/05/2021.
255

Não cabe ICMS sobre a operação de extração de petróleo e sobre a operação de circulação de petróleo desde
os poços de extração até a empresa concessionária
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São inconstitucionais leis estaduais que preveem a incidência do ICMS sobre a operação de extração de
petróleo e sobre a operação de circulação de petróleo desde os poços de extração até a empresa
concessionária.
STF. Plenário. ADI 5481/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/3/2021 (Info 1011).

Súmula 654-STJ
Na apuração do ICMS/ST para medicamentos destinados exclusivamente para uso de hospitais e clínicas,
não se aplicam os valores constantes da tabela de PMC publicada pela ABCFarma
Súmula 654-STJ: A tabela de preços máximos ao consumidor (PMC) publicada pela ABCFarma, adotada pelo
Fisco para a fixação da base de cálculo do ICMS na sistemática da substituição tributária, não se aplica aos
medicamentos destinados exclusivamente para uso de hospitais e clínicas.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 24/08/2022.

Creditamento de ICMS e nota fiscal posteriormente declarada inidônea


Súmula 509-STJ: É lícito ao comerciante de boa-fé aproveitar os créditos de ICMS decorrentes de nota fiscal
posteriormente declarada inidônea, quando demonstrada a veracidade da compra e venda.

O valor pago a título de ICMS não deve ser incluído na base de cálculo do PIS/PASEP e COFINS
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não compõe a base de cálculo para a incidência
da contribuição para o PIS e da COFINS.
STF. Plenário. RE 574706/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2017 (repercussão geral) (Info 857).

Não é possível que, por meio de simples decreto, a pretexto de fixar prazo de pagamento, se exija o
recolhimento antecipado do ICMS na entrada da mercadoria no Estado-membro
A antecipação, sem substituição tributária, do pagamento do ICMS para momento anterior à ocorrência do
fato gerador necessita de lei em sentido estrito.
A substituição tributária progressiva do ICMS reclama previsão em lei complementar federal.
STF. Plenário. RE 598677/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/3/2021 (Repercussão Geral – Tema 456)
(Info 1011).

É simultânea a contagem dos prazos das garantias fundamentais a que se referem os princípios da
anterioridade anual e nonagesimal tributárias, a partir da data da publicação da lei que institui ou majora
o tributo
I - No caso de um tributo sujeito duplamente à anterioridade de exercício e à noventena, a lei que institui ou
majora a imposição somente será eficaz, de um lado, no exercício financeiro seguinte ao de sua publicação e,
de outro, após decorridos noventa dias da data de sua divulgação em meio oficial. Logo, a contar da publicação
da lei, os prazos transcorrem simultaneamente, e não sucessivamente.
II - Não há desvio de finalidade no caso de lei ordinária alterar o aspecto temporal do IPVA para viabilizar, a
um só tempo, o respeito à garantia da anterioridade, inclusive nonagesimal, e viabilizar a tributação dos
veículos automotores pela alíquota majorada no exercício financeiro seguinte ao da publicação desse diploma
legal. Afinal, a finalidade da legislação é lícita e explícita.
III - O princípio da igualdade tributária não resta ofendido na hipótese de um veículo automotor novo
submeter-se a alíquota distinta de IPVA em comparação a outro automóvel adquirido em anos anteriores no
lapso referente aos 90 (noventa) dias da noventena, em certo exercício financeiro. Sendo assim, pela própria
sistemática de tributação do IPVA posta na legislação infraconstitucional, não se cuida de tratamento desigual
entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente.
256

STF. Plenário. ADI 5282/PR, Rel. Min. André Mendonça, julgado em 17/10/2022 (Info 1072).
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ICMS integra a base de cálculo da CPRBC

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É constitucional a inclusão do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS na base de cálculo
da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB.
STJ. 1ª Seção. REsp 1638772-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 27/04/2022 (Recurso Repetitivo –
Tema 994) (Info 734).

ITCMD pode ser progressivo


A lei pode prever a técnica da progressividade tanto para os impostos pessoais como também para os reais.
O § 1º do art. 145 da CF/88 não proíbe que os impostos reais sejam progressivos.
O ITCMD (que é um imposto real) pode ser progressivo mesmo sem que esta progressividade esteja
expressamente prevista na CF/88.
Ao contrário do que ocorria com o IPTU (Súmula 668-STF), não é necessária a edição de uma EC para que o
ITCMD seja progressivo.
STF. Plenário. RE 562045/RS, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia,
6/2/2013 (Info 694).

Incide ISS no fornecimento de programa de computador mediante contrato de licenciamento ou cessão do


direito de uso, tanto para os “softwares” padronizados quanto para aqueles produzidos por encomenda
Incide apenas o imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISS), e não o imposto sobre circulação de
mercadorias e serviços (ICMS), nas operações envolvendo o fornecimento de programas de computador
mediante contrato de licenciamento ou cessão do direito de uso, tanto para os “softwares” padronizados
quanto para aqueles produzidos por encomenda e independentemente do meio utilizado para a transferência,
seja por meio de “download” ou por acesso em nuvem.
STF. Plenário. ADI 5659/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/2/2021 (Info 1007).
STF. Plenário. ADI 1945/MT, Rel. Min. Cármen Lúcia, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
24/2/2021 (Info 1007).

A lista de serviços que podem ser objeto de ISS (atualmente prevista na LC 116/2003) é uma lista taxativa,
mas que comporta interpretação extensiva, para abarcar outros serviços correlatos (similares) àqueles ali
expressamente previstos
É taxativa a lista de serviços sujeitos ao ISS a que se refere o art. 156, III, da Constituição Federal, admitindo-
se, contudo, a incidência do tributo sobre as atividades inerentes aos serviços elencados em lei em razão da
interpretação extensiva.
STF. Plenário. RE 784439, Rel. Rosa Weber, julgado em 29/06/2020 (Repercussão Geral – Tema 296) (Info 991
– clipping).

ISS integra a base de cálculo da CPRB


A receita bruta, para fins de determinação da base de cálculo da CPRB, compreende os tributos sobre ela
incidentes.
Tese fixada pelo STF:
É constitucional a inclusão do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza–ISS na base de cálculo da
Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB.
STF. Plenário. RE 1285845/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 18/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1135) (Info 1022).

Se um imóvel é incluído dentro da abrangência de uma Estação Ecológica (Unidade de Conservação de


Proteção Integral), deixa de ser devido o pagamento de IPTU
257

A qualificação de imóvel como estação ecológica limita o direito de propriedade, o que afasta a incidência do
IPTU.
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A inclusão do imóvel do particular em Estação Ecológica representa uma evidente limitação administrativa
imposta pelo Estado, ocasionando o esvaziamento completo dos atributos inerentes à propriedade, retirando-
lhe o domínio útil do imóvel.
Além disso, o art. 49 da Lei nº 9.985/2000 estabelece que a área de uma unidade de conservação de proteção
integral é considerada zona rural para efeitos legais, motivo pelo qual não incide IPTU, mas sim ITR, sendo
este último tributo de competência tributária exclusiva da União.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.695.340-MG, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 17/09/2019 (Info 657).

Parcelamento de ofício não interfere no curso do prazo prescricional


O parcelamento de ofício da dívida tributária não configura causa interruptiva da contagem da prescrição,
uma vez que o contribuinte não anuiu.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.658.517-PA, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/11/2018 (recurso
repetitivo) (Info 638).

É constitucional a taxação de IPI sobre recipientes de água mineral


Os produtos destinados ao acondicionamento de bens essenciais não precisam necessariamente ter as
mesmas alíquotas dos produtos embalados. Assim, não fere o princípio da seletividade a taxação dos
recipientes de água mineral, ainda que a água ali acondicionada seja considerada produto essencial.
Tese fixada pelo STF: “É constitucional a fixação de alíquotas de IPI superiores a zero sobre garrafões, garrafas
e tampas plásticas, ainda que utilizados para o acondicionamento de produtos essenciais”.
STF. Plenário. RE 606314/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 11/5/2021 (Repercussão Geral – Tema
501) (Info 1016).

O imposto de renda não incide sobre juros de mora por atraso no pagamento de verbas salariais
Não incide imposto de renda sobre os juros de mora devidos pelo atraso no pagamento de remuneração por
exercício de emprego, cargo ou função.
STF. Plenário. RE 855091/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/3/2021 (Repercussão Geral – Tema 808)
(Info 1009).
Incide IPI sobre veículo importado para uso próprio, haja vista que tal cobrança não viola o princípio da não
cumulatividade nem configura bitributação
Incide o IPI em importação de veículos automotores por pessoa natural, ainda que não desempenhe atividade
empresarial, e o faça para uso próprio.
STF. Plenário. RE 723651/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3 e 4/2/2016 (repercussão geral – Tema
643) (Info 574).

Incide IPI sobre veículo importado para uso próprio, haja vista que tal cobrança não viola o princípio da não
cumulatividade nem configura bitributação.
STJ. 1ª Seção. REsp 1396488-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 25/09/2019 (recurso repetitivo –
revisão do Tema 695) (Info 657).

Comprovação de doença grave para fins de isenção de IR


Súmula 598-STJ: É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o reconhecimento judicial da
isenção do Imposto de Renda, desde que o magistrado entenda suficientemente demonstrada a doença grave
por outros meios de prova.
STJ. 1ª Seção. Aprovada em 08/10/2017.
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O IR e a CSLL incidem sobre a correção monetária das aplicações financeiras


O IR e a CSLL incidem sobre a correção monetária das aplicações financeiras, porquanto estas se caracterizam
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legal e contabilmente como Receita Bruta, na condição de Receitas Financeiras componentes do Lucro
Operacional.

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STJ. 1ª Seção. REsp 1986304-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 8/3/2023 (Recurso Repetitivo
– Tema 1160) (Info 766).

A cobrança do IRRF e da CSLL de entidades fechadas de previdência complementar, não abrangidas por
imunidades tributárias, é compatível com a Constituição Federal
É constitucional a cobrança, em face das entidades fechadas de previdência complementar não imunes, do
imposto de renda retido na fonte (IRRF) e da contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL).
STF. Plenário. RE 612686/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 28/10/2022 (Repercussão Geral – Tema 699)
(Info 1074).

É inconstitucional norma que prevê a incidência do imposto de renda sobre valores percebidos pelo
alimentado a título de alimentos ou pensão alimentícia
A materialidade do imposto de renda está necessariamente ligada à existência de acréscimo patrimonial.
Nesse contexto, os alimentos ou pensão alimentícia oriundos do direito de família representam, para os
alimentados, apenas entrada de valores, pois se revelam como montantes retirados dos acréscimos
patrimoniais auferidos pelo alimentante.
Assim, o recebimento de renda ou provento de qualquer natureza pelo alimentante ─ de onde ele retira a
parcela a ser paga ao credor dos alimentos ─ já configura, por si só, fato gerador do IR.
Por isso, submeter também os valores recebidos pelo alimentado representa nova incidência do mesmo
tributo sobre a mesma realidade, configurando bis in idem camuflado e sem justificação legítima, em evidente
violação ao texto constitucional.
STF. Plenário. ADI 5422/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/6/2022 (Info 1057).

Não deve incidir IPI sobre a venda de produtos, na hipótese de roubo ou furto da mercadoria antes da sua
entrega ao comprador
Na hipótese em que ocorrer roubo/furto da mercadoria após a sua saída do estabelecimento do fabricante
não se configura o evento ensejador de incidência do IPI.
Não deve incidir IPI sobre a venda de produtos, na hipótese de roubo ou furto da mercadoria, antes da sua
entrega ao comprador. Isso porque, neste caso, como não foi concluída a operação mercantil, não ficou
configurado o fato gerador.
STJ. 1ª Seção. EREsp 734.403-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 14/11/2018 (Info 638).

TRANSFERÊNCIA VOLUNTÁRIA DE RECURSOS FEDERAIS


Restrição para transferência de recursos federais a município que possui pendências no CAUC
A restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no Cadastro Único de
Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC) não pode ser suspensa sob a justificativa de que os recursos
destinam-se à reforma de prédio público. Essa atividade (reforma) não pode ser enquadrada no conceito de
ação social previsto no art. 26 da Lei 10.522/2002.
STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1.439.326-PE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. em 24/2/2015 (Info 556).

O termo inicial para efeito de detração da penalidade prevista no art. 7º da Lei 10.520/2002 (impedimento de
licitar e contratar com a União, bem como o descredenciamento do SICAF, pelo prazo de até 5 anos), aplicada
por órgão federal, coincide com a data em que foi publicada a decisão administrativa no Diário Oficial da União
– e não com a do registro no SICAF.
STJ. MS 20.784-DF, Rel. para acórdão Min. Arnaldo Esteves Lima, j. em 9/4/2015 (Info 561).
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Município não pode criar taxa de fiscalização de torres e antenas de transmissão


A instituição de taxa de fiscalização do funcionamento de torres e antenas de transmissão e recepção de dados
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e voz é de competência privativa da União, nos termos do art. 22, IV, da Constituição Federal, não competindo
aos Municípios instituir referida taxa.

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STF. Plenário. RE 776594/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 2/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 919)
(Info 1078).

É inconstitucional lei estadual que institua taxa de segurança para eventos a ser cobrada dos organizadores
de eventos com fins lucrativos pelo fato de as polícias, os bombeiros e o DETRAN prestarem serviços no local
Caso concreto: no Distrito Federal foi editada lei distrital instituindo taxa de segurança para eventos. O fato
gerador dessa taxa seria a prestação, em eventos com fins lucrativos e promocionais, de serviços da Polícia
Civil, da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar ou do Departamento de Trânsito.
O STF reputou inconstitucional essa previsão.
É inconstitucional a cobrança de taxa de segurança para eventos, visto que a segurança pública deve ser
remunerada por meio de impostos, já que constitui serviço geral e indivisível, devido a todos os cidadãos,
independentemente de contraprestação.
STF. Plenário. ADI 2692/DF, Rel. Min. Nunes Marques, julgado em 30/9/2022 (Info 1070).

É admissível o cálculo das custas judiciais com base no valor da causa, considerando que se respeita a
correlação com o custo da atividade prestada, e desde que haja a definição de valores mínimo e máximo
É legítima a cobrança das custas judiciais e das taxas judiciárias tendo por parâmetro o valor da causa, desde
que fixados valores mínimos e máximos.
A fixação desses valores mínimos e máximos deve ser feita para se atender ao entendimento sumulado do
STF:
Súmula 667-STF: Viola a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite
sobre o valor da causa.
STF. Plenário. ADI 5688/PB, Rel. Min. Edson Fachin, redator do acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em
22/10/2021 (Info 1035).

É inconstitucional a criação de taxa de combate a incêndios


A atividade desenvolvida pelo Estado no âmbito da segurança pública é mantida ante impostos, sendo
imprópria a substituição, para tal fim, de taxa.
STF. Plenário. ADI 4411, Rel. Marco Aurélio, julgado em 18/08/2020 (Info 992 – clipping).

CONTRIBUIÇÕES
É inconstitucional norma estadual que institui contribuição compulsória a ser paga por bombeiros e policiais
militares para custear serviços de saúde que serão prestados a eles
É inconstitucional preceito de lei estadual que institui contribuição compulsória de bombeiros e policiais
militares estaduais para compor fundo de assistência, com o objetivo de custear serviços de saúde a eles
prestados. Contudo, o legislador estadual pode estabelecer contribuição facultativa com o aludido fim.
STF. Plenário. ADI 5368/TO, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 28/10/2022 (Info 1074).

É constitucional a aplicação dos recursos arrecadados por meio de contribuição para o custeio da iluminação
pública na expansão e aprimoramento da rede
É constitucional a aplicação dos recursos arrecadados por meio de contribuição para o custeio da iluminação
pública na expansão e aprimoramento da rede.
STF. Plenário. RE 666404, Rel. Marco Aurélio, Relator(a) p/ Acórdão: Alexandre de Moras, julgado em
18/08/2020 (Repercussão Geral - Tema 696).

Impossibilidade de aproveitamento de créditos de PIS e Cofins no sistema monofásico


260

A técnica de creditamento, em regra, não se coaduna com o regime monofásico da contribuição ao PIS e
COFINS, só sendo excepcionada quando expressamente prevista pelo legislador.
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Em razão disso, o benefício instituído pelo art. 17 da Lei nº 11.033/2004 somente se aplica aos contribuintes
integrantes do regime específico de tributação denominado REPORTO e não alcança o sistema não cumulativo
desenhado para a COFINS e a Contribuição ao PIS.
STJ. 1ª Seção. EDv nos EAREsp 1109354/SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 14/04/2021 (Info 692).

É constitucional a contribuição de intervenção no domínio econômico destinada ao INCRA devida pelas


empresas urbanas e rurais, inclusive após o advento da EC 33/2001
O STF, ao julgar o Tema 495, decidiu que:
É constitucional a contribuição de intervenção no domínio econômico destinada ao INCRA devida pelas
empresas urbanas e rurais, inclusive após o advento da EC nº 33/2001.
STF. Plenário. RE 630898/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2021 (Repercussão Geral – Tema 495) (Info
1012).

O STJ que, anteriormente, tinha entendimento em sentido diverso, teve que se alinhar à posição do STF e
também passou a decidir que:
É constitucional a contribuição de intervenção no domínio econômico destinada ao INCRA devida pelas
empresas urbanas e rurais, inclusive após o advento da EC nº 33/2001.
STJ. 2ª Turma. REsp 737364-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 28/3/2023 (Info 765).

É constitucional a contribuição destinada ao SENAR sobre a receita bruta proveniente da comercialização


da produção rural (art. 2º da Lei 8.540/92)
É constitucional — pois preservada a sua destinação ao “Sistema S”, configurando pleno atendimento ao
critério da pertinência entre o destino efetivo do produto arrecadado e a finalidade da tributação — a
incidência da contribuição destinada ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) sobre a receita bruta
proveniente da comercialização da produção rural.
Tese fixada pelo STF:
“É constitucional a contribuição destinada ao Senar incidente sobre a receita bruta da comercialização da
produção rural, na forma do art. 2º da Lei nº 8.540/92, com as alterações do art. 6º da Lei 9.528/97 e do art.
3º da Lei 10.256/2001.”.
STF. Plenário. RE 816830/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/12/2022 (Repercussão Geral – Tema 801)
(Info 1080).

São constitucionais os dispositivos das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003, que restringiram o aproveitamento
de créditos de PIS/COFINS
O § 12 do art. 195 da CF/88 autoriza a coexistência dos regimes cumulativo e não cumulativos da contribuição
para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS/Pasep) e da
Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), contudo, ao exercer essa opção e ao
disciplinar o regime não cumulativo, o legislador deve ser coerente e racional, observando o princípio da
isonomia, a fim de não gerar desequilíbrios concorrenciais e discriminações arbitrárias ou injustificadas.
Teses fixadas pelo STF:
I. O legislador ordinário possui autonomia para disciplinar a não cumulatividade a que se refere o art. 195, §
12, da CF/88, respeitados os demais preceitos constitucionais, como a matriz constitucional das contribuições
ao PIS e Cofins e os princípios da razoabilidade, da isonomia, da livre concorrência e da proteção à confiança;
II. É infraconstitucional, a ela se aplicando os efeitos da ausência de repercussão geral, a discussão sobre a
expressão ‘insumo’ presente no art. 3º, II, das Leis 10.637/2002 e 10.833/2003 e sobre a compatibilidade, com
essas leis, das IN/SRF 247/2002 (considerada a atualização pela IN/SRF 358/2003) e 404/2004;
261

III. É constitucional o § 3º do art. 31 da Lei 10.865/2004.


STF. Plenário. RE 841979/PE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 25/11/2022 (Repercussão Geral – Tema 756)
(Info 1077).
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Titulares de serventias notariais e registrais não pagam salário-educação

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As pessoas físicas titulares de serviços notariais e de registro não se enquadram na definição de sujeito passivo
da contribuição para o salário-educação.
STJ. 2ª Turma. AgInt no REsp 2011917-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 9/11/2022 (Info 760).

O produtor rural pessoa física paga salário-educação?


O produtor rural, pessoa física inscrito no CNPJ é devedor da contribuição ao salário-educação.
Por outro lado, o produtor rural, pessoa física não inscrito no CNPJ não é contribuinte do salário-educação,
salvo se for um produtor que desenvolva atividade empresarial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1812828-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 16/8/2022 (Info Especial 8).

O valor total recebido por empresa, mediante venda por meio de cartão de crédito ou débito, ainda que
uma parte desse montante seja repassado à administradora do cartão, se insere na base de cálculo das
contribuições para o PIS e para a COFINS
É constitucional a inclusão dos valores retidos pelas administradoras de cartões na base de cálculo das
contribuições ao PIS e da COFINS devidas por empresa que recebe pagamentos por meio de cartões de crédito
e débito.
STF. Plenário. RE 1049811/SE, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 18/3/2022 (Repercussão Geral – Tema 1024) (Info 1047).

É legítima a inclusão do IPI na base de cálculo presumida do PIS e da Cofins, a ser considerada pelos
industriais e importadores de veículos, em regime de substituição tributária
É constitucional a inclusão do valor do IPI incidente nas operações de venda feitas por fabricantes ou
importadores de veículos na base de cálculo presumida fixada para propiciar, em regime de substituição
tributária, a cobrança e o recolhimento antecipados, na forma do art. 43 da Medida Provisória nº 2.158-
35/2001, de contribuições para o PIS e da Cofins devidas pelos comerciantes varejistas.
STF. Plenário. RE 605506/RS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 10/11/2021 (Repercussão Geral – Tema 303)
(Info 1037).

A tese fixada no RE 574706 (Tema 69) produz efeitos a partir de 15/3/2017, ressalvadas as ações judiciais e
administrativas protocoladas até essa data
O Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não compõe a base de cálculo para a incidência
da contribuição para o PIS e a COFINS.
STF. Plenário. RE 574706/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/3/2017 (Repercussão Geral – Tema 69)
(Info 857).

A tese, com repercussão geral, fixada no julgamento do RE 574706 (“O ICMS não compõe a base de cálculo
para fins de incidência do PIS e da Cofins”) produz efeitos a partir de 15/3/2017 (data da sessão de
julgamento), ressalvadas as ações judiciais e administrativas protocoladas até essa data.
STF. Plenário. RE 574706 ED/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 13/5/2021 (Info 1017).

ICMS integra a base de cálculo da CPRB


É constitucional a inclusão do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS na base de cálculo
da Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta – CPRB.
STF. Plenário. RE 1187264/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, redator do acórdão Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 24/2/2021 (Repercussão Geral – Tema 1048) (Info 1006).
STJ. 1ª Seção. REsp 1.638.772-SC, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 27/04/2022 (Recurso Repetitivo
262

– Tema 994) (Info 734).


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É constitucional a Lei 10.833/2003 (fruto da conversão da MP 135/2003), na parte que instituiu a cobrança
não-cumulatividade da COFINS

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É constitucional a previsão em lei ordinária que introduz a sistemática da não-cumulatividade a COFINS dado
que observa os princípios da legalidade, isonomia, capacidade contributiva global e não-confisco.
STF. Plenário. RE 570122/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em
2/9/2020 (Repercussão Geral – Tema 34) (Info 989).

Vedação imposta às pessoas jurídicas optantes do Simples Nacional de usufruir o benefício de alíquota zero
incidente sobre o PIS e a COFINS no regime de tributação monofásica
É constitucional a restrição, imposta a empresa optante pelo Simples Nacional, ao benefício fiscal de alíquota
zero previsto no parágrafo único do artigo 2º da Lei nº 10.147/2000, tendo em conta o regime próprio ao qual
submetida.
STF. Plenário. RE 1.199.021/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 8/9/2020 (Repercussão Geral - Tema
1050).

As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI com fundamento na Lei nº 8.029/90 continuam válidas
mesmo após a Emenda Constitucional 33/2001
As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI com fundamento na Lei nº 8.029/90 foram recepcionadas
pela Emenda Constitucional 33/2001.
STF. Plenário.RE 603624/SC, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
23/09/2020 (Repercussão Geral – Tema 325) (Info 992).

Não há reserva de lei complementar para o repasse do PIS e COFINS ao usuário de serviços públicos
concedidos, tais como telefonia e energia elétrica, cobrado nas respectivas faturas
Desnecessidade da exigência de lei complementar para o repasse de contribuições aos usuários de serviço
público. Inteligência do art. 146, III, a, da Constituição Federal
Há reserva de lei complementar apenas nos casos taxativamente indicados na Constituição Federal. Não há
reserva de lei complementar para a definição de fatos geradores, bases de cálculo e sujeitos passivos das
contribuições previstas no art. 149 da CF/1988.
O repasse do PIS/COFINS nas faturas de telefonia não altera a matriz de incidência tributária das contribuições.
O repasse do PIS/COFINS ao consumidor nas faturas do serviço de telefonia, nos termos do art. 9º, §3º, da Lei
8.987/1995, não ofende a Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 1.053.574/RS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 25/10/2019 (Repercussão Geral - Tema
415).

Serviços sociais autônomos não devem figurar no polo passivo de ação proposta pelo contribuinte discutindo
a exigibilidade das contribuições sociais
As entidades dos serviços sociais autônomos não possuem legitimidade passiva nas ações judiciais em que se
discute a relação jurídico-tributária entre o contribuinte e a União e a repetição de indébito das contribuições
sociais recolhidas.
Os serviços sociais são meros destinatários de subvenção econômica e, como pessoas jurídicas de direito
privado, não participam diretamente da relação jurídico-tributária entre contribuinte e ente federado.
O direito que tais entidades possuem à receita decorrente da subvenção não gera interesse jurídico a ponto
de justificar a ocorrência de litisconsórcio com a União. O interesse dos serviços sociais autônomos nesta lide
é reflexo e meramente econômico.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1.619.954-SC, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/04/2019 (Info 646).

A CSLL é constitucional
263

É constitucional a Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido (CSLL), instituída pela Lei nº 7.689/88, sendo
também constitucionais as majorações de alíquotas efetivadas pela Lei nº 7.856/89, por obedecerem à
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anterioridade nonagesimal.

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Por sua vez, a ampliação da base de cálculo, conforme o art. 1º, II, da Lei nº 7.988/89, a fim de se compatibilizar
com a anterioridade nonagesimal, só pode ser efetivada a partir do ano base de 1990.
STF. Plenário. RE 211446 ED-ED/GO, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 20/9/2018 (Info 916).

Instituições financeiras e majoração de alíquota da COFINS


É constitucional a majoração diferenciada de alíquotas em relação às contribuições sociais incidentes sobre o
faturamento ou a receita de instituições financeiras ou de entidades a elas legalmente equiparáveis.
STF. Plenário. RE 656089/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/6/2018 (repercussão geral) (Info 905).

Não incidência da contribuição ao PIS e à COFINS sobre os atos cooperativos típicos


Não incide a contribuição destinada ao PIS⁄COFINS sobre os atos cooperativos típicos realizados pelas
cooperativas.
STJ. 1ª Seção. REsp 1141667-RS e REsp 1164716-MG, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
27/4/2016 (Info 582).

Constitucionalidade da cobrança de alíquotas diferenciadas para instituições financeiras (art. 22, § 1º da Lei
nº 8.212/91)
É constitucional a previsão legal de diferenciação de alíquotas em relação às contribuições previdenciárias
incidentes sobre a folha de salário de instituições financeiras ou de entidade a elas legalmente equiparáveis,
após a edição da Emenda Constitucional 20/1998.
STF. Plenário. RE 598572/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 30/3/2016 (repercussão geral) (Info 819).

OUTROS TEMAS
Na emissão de CND ou CPEND aplica-se o tratamento de unicidade, não sendo distinta a relação entre e
matriz e filiais da mesma pessoa jurídica
Na emissão de CND ou CPEND aplica-se o tratamento de unicidade, não sendo distinta a relação entre e matriz
e filiais da mesma pessoa jurídica.
Logo, a Administração Tributária não deve emitir CND e/ou CPEND na hipótese em que há pendência fiscal
oriunda da matriz ou de outra filial.
STJ. 1ª Seção. EAREsp n. 2.025.237/GO, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 02/03/2023.

É possível a responsabilização dos sócios pelo inadimplemento do tributo no caso de micro e pequenas
empresas com base no art. 9 da LC 123/2006
No caso de micro e pequenas empresas é possível a responsabilização dos sócios pelo inadimplemento do
tributo, com base no art. 134, VII, do CTN, cabendo-lhe demonstrar a insuficiência do patrimônio quando da
liquidação para exonerar-se da responsabilidade pelos débitos.
STJ. 2 Turma. RESP 1876549, Rel. Min. Mauro Campbell, julgado em 03/05/2022

Contribuinte pode impetrar mandado de segurança pedindo que se reconheça o direito à compensação de
tributos indevidamente pagos nos 5 anos anteriores ao ajuizamento, sem que isso implique ofensa à Súmula
271 do STF
A pretensão em mandado de segurança que visa exclusivamente à declaração do direito à compensação de
eventuais indébitos recolhidos anteriormente à impetração, ainda não atingidos pela prescrição, não importa
em produção de efeito patrimonial pretérito, aproveitando apenas o valor referente a indébitos recolhidos
nos cinco anos anteriores ao manejo da ação mandamental.
Caso concreto: determinada Indústria forneceu a seus clientes diversas mercadorias a título de bonificações
264

(brindes). Fisco cobrou ICMS em relação a essas mercadorias e a indústria pagou. Depois disso, a indústria
impetrou mandado de segurança pedindo para que se reconheça que ela não deveria ter pagado ICMS sobre
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esses brindes e que se declare que ela tem direito de compensar o que pagou indevidamente nos últimos
cinco anos.

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O simples fato de se declarar que o contribuinte tem direito à compensação tributária dos créditos referentes
aos últimos cinco anos não significa concessão de efeitos patrimoniais pretéritos. A situação não se enquadra
na Súmula 271 do STF porque pretende simplesmente a declaração em abstrato do direito de compensar
(créditos de ICMS bonificação, não atingidos pela prescrição), para realizar o procedimento “futura e
administrativamente”.
Súmula 271-STF: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais, em relação a período
pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1770495-RS, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 10/11/2021 (Info 717).

Apenas a indisponibilidade de bens prevista na parte final do § 3º do art. 20-B da Lei 10.522/2002 é
inconstitucional; o restante do dispositivo é válido
A Lei nº 13.606/2018 acrescentou o art. 20-B à Lei nº 10.522/2002 prevendo um procedimento para o caso de
inscrição de créditos em dívida ativa da União.
A alteração que gerou controvérsia foi o § 3º do art. 20-B.
Esse dispositivo previu que, se depois de 5 dias contados da notificação, o devedor não pagar a dívida, a
Fazenda Pública poderá:
1) comunicar essa dívida para que seja anotada nos cadastros restritivos de crédito, como por exemplo,
SERASA e SPC. Com isso, o devedor do Fisco fica “negativado” e terá dificuldades de obter créditos e
financiamentos;
2) averbar a certidão de dívida ativa (CDA) nos registros públicos e, com isso, os bens e direitos do devedor
ficariam indisponíveis.
Veja a redação do dispositivo legal:
Art. 20-B (...)
§ 3º Não pago o débito no prazo fixado no caput deste artigo, a Fazenda Pública poderá:
I - comunicar a inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e cadastros relativos a
consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres; e
II - averbar, inclusive por meio eletrônico, a certidão de dívida ativa nos órgãos de registro de bens e direitos
sujeitos a arresto ou penhora, tornando-os indisponíveis.
Os incisos I e II do § 3º do art. 20-B da Lei nº 10.522/2002, acrescentados pela Lei nº 13.606/2018, são
constitucionais ou não?
O STF declarou:
• constitucional o inciso I do § 3º do art. 20-B da Lei 10.522/2002; e
• inconstitucional a parte final do inciso II do § 3º do mesmo art. 20-B, onde se lê “tornando-os indisponíveis”,
ambos na redação dada pela Lei nº 13.306/2018.

É constitucional lei que autoriza que o Fisco informe ao SERASA/SPC a relação dos devedores de tributos (inciso
I do § 3º do art. 20-B)
É constitucional a comunicação da inscrição em dívida ativa aos órgãos que operam bancos de dados e
cadastros relativos a consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres.

É constitucional lei que autoriza que o Fisco faça a averbação (“uma espécie de observação”) nos registros
públicos sobre a existência de CDA contra o titular daquele bem ou direito registrado (primeira parte do inciso
II)
É constitucional a averbação, inclusive por meio eletrônico, da certidão de dívida ativa (CDA) nos órgãos de
registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, relativamente aos créditos inscritos em dívida ativa
da União.
265

É inconstitucional a previsão da indisponibilidade de bens e direitos do devedor tributário pelo simples fato
de a CDA ter sido averbada no registro (segunda parte do inciso II)
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É inconstitucional a previsão legal que permite à Fazenda Nacional tornar indisponíveis, administrativamente,
bens dos contribuintes devedores para garantir o pagamento dos débitos fiscais a serem executados.

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STF. Plenário. ADI 5881/DF, ADI 5886/DF, ADI 5890/DF, ADI 5925/DF, ADI 5931/DF e ADI 5932/DF, rel. orig.
Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 9/12/2020 (Info 1002).

É inconstitucional o § 17 do art. 74 da Lei 9.430/96, que previa a aplicação de multa pelo simples fato de o
pedido de declaração de compensação não ter sido homologado
É inconstitucional — por violar o direito fundamental de petição e o princípio da proporcionalidade — a
aplicação de multa isolada pela mera não homologação de declaração de compensação quando não
caracterizados má-fé, falsidade, dolo ou fraude.
STF. Plenário. ADI 4905/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/03/2023 (Info 1087).

É inconstitucional a multa isolada prevista em lei para incidir diante da mera negativa de homologação de
compensação tributária por não consistir em ato ilícito com aptidão para propiciar automática penalidade
pecuniária.
STF. Plenário. RE 796939/RS, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 20/03/2023 (Repercussão Geral – Tema 736)
(Info 1087).

Bens das filiais podem ser penhorados para pagar dívidas tributárias da matriz
Os valores depositados em contas em nome das filiais estão sujeitos à penhora por dívidas tributárias da
matriz.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.355.812-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 22/5/2013 (recurso
repetitivo) (Info 524).

Revogada a medida liminar que suspendia a exigibilidade do crédito tributário, volta a correr o prazo
prescricional
A revogação de liminar que suspendeu a exigibilidade do crédito tributário ocasiona a retomada do lapso
prescricional para o Fisco, desde que inexistente qualquer outra medida constante do art. 151 do CTN ou
recurso especial / extraordinário dotado de efeito suspensivo.
STJ. 1ª Seção. EAREsp 407940-RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 10/5/2017 (Info 605).

Incidência de correção monetária em caso de mora injustificada ou irrazoável do Fisco em restituir ao


contribuinte os valores devidos
A mora injustificada ou irrazoável do Fisco em restituir o valor devido ao contribuinte caracteriza a resistência
ilegítima autorizadora da incidência da correção monetária.
STF. Plenário. RE 299605 AgR-ED-EDv/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/4/2016 (repercussão geral)
(Info 820).

Reclamação administrativa incapaz de suspender a exigibilidade do crédito tributário


A reclamação administrativa interposta contra ato de exclusão do contribuinte do parcelamento NÃO é capaz
de suspender a exigibilidade do crédito tributário, sendo inaplicável o disposto no art. 151, III, do CTN. Isso
porque as reclamações e recursos previstos nesse dispositivo legal são aqueles que discutem o próprio
lançamento tributário, ou seja, a exigibilidade do crédito tributário.
Sendo a reclamação proposta contra o ato que exclui o contribuinte do parcelamento, essa reclamação está
questionando a exclusão em si (e não o lançamento tributário). Logo, não suspende a exigibilidade do crédito.
STJ. 2ª Turma. REsp 1372368-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 5/5/2015 (Info 561).

PROCESSO ADMINISTRATIVO TRIBUTÁRIO


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Dever do contribuinte manter seus dados atualizados no cadastro fiscal


A jurisprudência do STJ é pacífica no sentido de ser dever do contribuinte manter seus dados atualizados no
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cadastro fiscal, assim, não sendo devido alegar nulidade na intimação pelo domicílio tributário eletrônico feito
pelo então diretor gerente administrativo da empresa.

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STJ. 1ªTurma. AgInt-RMS 59.479; Proc. 2018/0314370-7; ES; Rel. Min. Sérgio Kukina; julgado em 05/09/2022,
DJE 08/09/2022.

SÚMULAS SOBRE EXECUÇÃO FISCAL


Súmula 558-STJ: Em ações de execução fiscal, a petição inicial não pode ser indeferida sob o argumento da
falta de indicação do CPF e/ou RG ou CNPJ da parte executada.

Súmula 559-STJ: Em ações de execução fiscal, é desnecessária a instrução da petição inicial com o
demonstrativo de cálculo do débito, por tratar-se de requisito não previsto no art. 6º da Lei nº 6.830/1980.

Súmula 66-STJ: Compete à Justiça Federal processar e julgar execução fiscal promovida por conselho de
fiscalização profissional.

Súmula 515-STJ: A reunião de execuções fiscais contra o mesmo devedor constitui faculdade do juiz.

Súmula 190-STJ: Na execução fiscal, processada perante a Justiça Estadual, cumpre à Fazenda Pública
antecipar o numerário destinado ao custeio das despesas com o transporte dos oficiais de justiça.

Súmula 452-STJ: A extinção das ações de pequeno valor é faculdade da Administração, vedada a atuação
judicial de ofício.

Súmula 583-STJ: O arquivamento provisório previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, dirigido aos débitos
inscritos como dívida ativa da União pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, não se
aplica às execuções fiscais movidas pelos conselhos de fiscalização profissional ou pelas autarquias federais.

Súmula 58-STJ: Proposta a execução fiscal, a posterior mudança de domicilio do executado não desloca a
competência já fixada.

Súmula 414-STJ: A citação por edital na execução fiscal é cabível quando frustradas as demais modalidades.

Súmula 392-STJ: A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença
de embargos, quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito
passivo da execução.

Súmula 435-STJ: Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio
fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o
sócio-gerente.

É constitucional o art. 40 da Lei 6.830/80, que trata sobre a prescrição na execução fiscal; não era necessário
que a prescrição intercorrente fosse disciplinada em lei complementar
É constitucional — por não afrontar a exigência de lei complementar para tratar da matéria (art. 146, III, “b”,
CF/88) — o art. 40 da LEF — lei ordinária nacional — quanto à prescrição intercorrente tributária e ao prazo
de um ano de suspensão da execução fiscal. Contudo, o § 4º do aludido dispositivo deve ser lido de modo que,
após o decurso do prazo de um ano de suspensão da execução fiscal, a contagem do prazo de prescrição de
267

cinco anos seja iniciada automaticamente.


Tese fixada pelo STF:
É constitucional o art. 40 da Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execução Fiscal – LEF), tendo natureza processual o
Página

prazo de um ano de suspensão da execução fiscal. Após o decurso desse prazo, inicia-se automaticamente a
contagem do prazo prescricional tributário de cinco anos.

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STF. Plenário. RE 636562/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Repercussão Geral – Tema
390) (Info 1083).

A ineficácia do negócio jurídico decretada no juízo falimentar não impede prosseguimento da execução
fiscal
Caso hipotético: Fazenda Nacional ajuizou execução fiscal contra a empresa Alfa. A Alfa alienou seu
estabelecimento empresarial para Delta. Foi decretada a falência de Alfa e o juízo falimentar decretou a
ineficácia desse negócio jurídico. Mesmo assim, o juízo da execução fiscal entendeu que houve
responsabilidade tributária decorrente de sucessão empresarial e redirecionou a execução fiscal contra a
Delta.
O STJ considerou que a decisão foi correta.
Os atos considerados ineficazes pelo juízo falimentar não produzem qualquer efeito jurídico perante a massa.
Por outro lado, isso não vincula o juízo da execução fiscal. A decretação da ineficácia do negócio jurídico por
parte do juízo falimentar não impede que o juízo da execução fiscal continue decidindo que houve
responsabilidade tributária decorrente de sucessão empresarial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1822226-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 27/09/2022 (Info 753).

Não cabe agravo de instrumento em execuções fiscais cujo valor não supere cinquenta Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTNS
O art. 34 da Lei de Execuções Fiscais (Lei nº 6.830/80) prevê a seguinte regra:
Art. 34. Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor igual ou inferior a 50 (cinquenta)
Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, só se admitirão embargos infringentes e de declaração.
Assim, se o juiz julga uma execução fiscal cujo valor é igual ou inferior a 50 ORTN, contra esta sentença só se
admitirão embargos infringentes e de declaração. Em outras palavras, não cabe apelação.
Além da apelação, também não cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias.
Não há recurso para a segunda instância quando o valor executado for inferior ao valor de alçada (50 ORTNs),
de modo que, estando o valor da execução abaixo do estipulado, haverá exceção ao duplo grau de jurisdição,
seja para a Fazenda Pública, seja para o executado.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1751847-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 16/08/2022 (Info 745).

O sócio só pode ser atingido pelo redirecionamento fundado na dissolução irregular se ele era administrador
no momento dessa dissolução; se havia saído antes, em regra, não poderá ser responsabilizado
O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular da pessoa jurídica executada
ou na presunção de sua ocorrência, não pode ser autorizado contra o sócio ou o terceiro não sócio que,
embora exercessem poderes de gerência ao tempo do fato gerador, sem incorrer em prática de atos com
excesso de poderes ou infração à lei, ao contrato social ou aos estatutos, dela regularmente se retirou e não
deu causa à sua posterior dissolução irregular, conforme art. 135, III do CTN.
STJ. 1ª Seção. REsp 1377019-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 24/11/2021 (Recurso Repetitivo -
Tema 962) (Info 719).

Observado o princípio da causalidade, é cabível a fixação de honorários advocatícios em exceção de pré-


executividade, quando o sócio é excluído do polo passivo da execução fiscal, que não é extinta
É possível a fixação de honorários advocatícios, em exceção de pré-executividade, quando o sócio é excluído
do polo passivo da execução fiscal, que não é extinta.
STJ. 1ª Seção. REsp 1764405/SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 10/03/2021 (Recurso Repetitivo –
Tema 961) (Info 688).
268

É possível a inscrição em cadastro de inadimplentes do devedor que figura no polo passivo de execução fiscal
O art. 782, §3º, do CPC é aplicável às execuções fiscais, devendo o magistrado deferir o requerimento de
Página

inclusão do nome do executado em cadastros de inadimplentes, preferencialmente pelo sistema SERASAJUD,

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independentemente do esgotamento prévio de outras medidas executivas, salvo se vislumbrar alguma dúvida
razoável à existência do direito ao crédito previsto na Certidão de Dívida Ativa - CDA.
STJ. 1ª Seção. REsp 1807180/PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 24/02/2021 (Recurso Repetitivo – Tema
1026) (Info 686).

Redirecionamento da execução fiscal para cobrança de créditos tributários à incorporadora sem alteração
da CDA em caso de sucessão empresarial não oportunamente informada ao fisco
A execução fiscal pode ser redirecionada em desfavor da empresa sucessora para cobrança de crédito
tributário relativo a fato gerador ocorrido posteriormente à incorporação empresarial e ainda lançado em
nome da sucedida, sem a necessidade de modificação da Certidão de Dívida Ativa, quando verificado que esse
negócio jurídico não foi informado oportunamente ao fisco.
STJ. 1ª Seção. REsp 1848993-SP, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/08/2020 (Recurso Repetitivo – Tema
1049) (Info 678).

Forma de contagem do prazo da prescrição intercorrente prevista no art. 40, da LEF


Termo inicial do prazo de 1 ano: data da intimação da Fazenda Pública
O prazo de 1 (um) ano de suspensão do processo e do respectivo prazo prescricional previsto no art. 40, §§ 1º
e 2º da Lei nº 6.830/80 (LEF) tem início automaticamente na data da ciência da Fazenda Pública a respeito da
não localização do devedor ou da inexistência de bens penhoráveis no endereço fornecido, havendo, sem
prejuízo dessa contagem automática, o dever de o magistrado declarar ter ocorrido a suspensão da execução.
Sem prejuízo do disposto anteriormente:
1.1) nos casos de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo despacho
ordenador da citação tenha sido proferido antes da vigência da Lei Complementar n. 118/2005), depois da
citação válida, ainda que editalícia, logo após a primeira tentativa infrutífera de localização de bens
penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução; e,
1.2) em se tratando de execução fiscal para cobrança de dívida ativa de natureza tributária (cujo despacho
ordenador da citação tenha sido proferido na vigência da Lei Complementar nº 118/2005) e de qualquer dívida
ativa de natureza não tributária, logo após a primeira tentativa frustrada de citação do devedor ou de
localização de bens penhoráveis, o Juiz declarará suspensa a execução.

Encerrado o prazo de 1 ano, inicia-se automaticamente a contagem do prazo prescricional


Havendo ou não petição da Fazenda Pública e havendo ou não pronunciamento judicial nesse sentido, findo
o prazo de 1 (um) ano de suspensão, inicia-se automaticamente o prazo prescricional aplicável (de acordo com
a natureza do crédito exequendo), durante o qual o processo deveria estar arquivado sem baixa na
distribuição, na forma do art. 40, §§ 2º, 3º e 4º da Lei n. 6.830/1980 - LEF, findo o qual o Juiz, depois de ouvida
a Fazenda Pública, poderá, de ofício, reconhecer a prescrição intercorrente e decretá-la de imediato.

Para interrupção do prazo prescricional é necessário requerimento da Fazenda Pública que acarrete efetiva
constrição ou efetiva citação
A efetiva constrição patrimonial e a efetiva citação (ainda que por edital) são aptas a interromper o curso da
prescrição intercorrente, não bastando para tal o mero peticionamento em juízo, requerendo, v.g., a feitura
da penhora sobre ativos financeiros ou sobre outros bens. Os requerimentos feitos pelo exequente, dentro da
soma do prazo máximo de 1 (um) ano de suspensão mais o prazo de prescrição aplicável (de acordo com a
natureza do crédito exequendo) deverão ser processados, ainda que para além da soma desses dois prazos,
pois, citados (ainda que por edital) os devedores e penhorados os bens, a qualquer tempo - mesmo depois de
escoados os referidos prazos -, considera-se interrompida a prescrição intercorrente, retroativamente, na data
do protocolo da petição que requereu a providência frutífera.
269

Falta de intimação da Fazenda Pública e efetivo prejuízo


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A Fazenda Pública, em sua primeira oportunidade de falar nos autos (art. 278 do CPC/2015), ao alegar nulidade
pela falta de qualquer intimação dentro do procedimento do art. 40 da LEF, deverá demonstrar o prejuízo que

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sofreu (exceto a falta da intimação que constitui o termo inicial - Tema 566, onde o prejuízo é presumido), por
exemplo, deverá demonstrar a ocorrência de qualquer causa interruptiva ou suspensiva da prescrição.

Juiz, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá demonstrar os marcos que foram aplicados na
contagem
O magistrado, ao reconhecer a prescrição intercorrente, deverá fundamentar o ato judicial por meio da
delimitação dos marcos legais que foram aplicados na contagem do respectivo prazo, inclusive quanto ao
período em que a execução ficou suspensa.
STJ. 1ª Seção. REsp 1340553-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 12/09/2018 (Recurso
Repetitivo - Tema 566) (Info 635).

O sócio-gerente da época da dissolução irregular responde pelos débitos da empresa, mesmo que ele não
fosse o gerente da pessoa jurídica executada no momento do fato gerador do tributo inadimplido
O redirecionamento da execução fiscal, quando fundado na dissolução irregular da pessoa jurídica executada
ou na presunção de sua ocorrência, pode ser autorizado contra o sócio ou o terceiro não sócio, com poderes
de administração na data em que configurada ou presumida a dissolução irregular, ainda que não tenha
exercido poderes de gerência quando ocorrido o fato gerador do tributo não adimplido, conforme art. 135, III,
do CTN.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.645.333-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 25/05/2022 (Recurso Repetitivo
– Tema 981) (Info 738).

Termo inicial da prescrição para redirecionamento em caso de dissolução irregular da empresa


i) o prazo de redirecionamento da Execução Fiscal, fixado em cinco anos, contado da diligência de citação da
pessoa jurídica, é aplicável quando o referido ato ilícito, previsto no art. 135, III, do CTN, for precedente a esse
ato processual;
ii) a citação positiva do sujeito passivo devedor original da obrigação tributária, por si só, não provoca o início
do prazo prescricional quando o ato de dissolução irregular for a ela subsequente, uma vez que, em tal
circunstância, inexistirá, na aludida data (da citação), pretensão contra os sócios-gerentes (conforme decidido
no REsp 1.101.728/SP, no rito do art. 543-C do CPC/1973, o mero inadimplemento da exação não configura
ilícito atribuível aos sujeitos de direito descritos no art. 135 do CTN). O termo inicial do prazo prescricional
para a cobrança do crédito dos sócios-gerentes infratores, nesse contexto, é a data da prática de ato
inequívoco indicador do intuito de inviabilizar a satisfação do crédito tributário já em curso de cobrança
executiva promovida contra a empresa contribuinte, a ser demonstrado pelo Fisco, nos termos do art. 593 do
CPC/1973 (art. 792 do novo CPC - fraude à execução), combinado com o art. 185 do CTN (presunção de fraude
contra a Fazenda Pública); e,
iii) em qualquer hipótese, a decretação da prescrição para o redirecionamento impõe seja demonstrada a
inércia da Fazenda Pública, no lustro que se seguiu à citação da empresa originalmente devedora (REsp
1.222.444/RS) ou ao ato inequívoco mencionado no item anterior (respectivamente, nos casos de dissolução
irregular precedente ou superveniente à citação da empresa), cabendo às instâncias ordinárias o exame dos
fatos e provas atinentes à demonstração da prática de atos concretos na direção da cobrança do crédito
tributário no decurso do prazo prescricional.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.201.993-SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 08/05/2019 (recurso repetitivo -
Tema 444) (Info 662).

Súmula 430-STJ: O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a
responsabilidade solidária do sócio-gerente.
270

Súmula 560-STJ: A decretação da indisponibilidade de bens e direitos, na forma do art. 185-A do CTN,
pressupõe o exaurimento das diligências na busca por bens penhoráveis, o qual fica caracterizado quando
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infrutíferos o pedido de constrição sobre ativos financeiros e a expedição de ofícios aos registros públicos do
domicílio do executado, ao Denatran ou Detran.

Súmula 406-STJ: A Fazenda Pública pode recusar a substituição do bem penhorado por precatório.

Súmula 314-STJ: Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano,
findo o qual se inicia o prazo da prescrição quinquenal intercorrente.

Súmula 409-STJ: Em execução fiscal, a prescrição pode ser decretada de ofício (art. 219, §5º do CPC).

Súmula 153-STJ: A desistência da execução fiscal, após o oferecimento dos embargos, não exime o exequente
dos encargos da sucumbência.

Súmula 393-STJ: A exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal relativamente às matérias


conhecíveis de ofício que não demandem dilação probatória.

Súmula 497-STJ: Os créditos das autarquias federais preferem aos créditos da Fazenda estadual desde que
coexistam penhoras sobre o mesmo bem.

É possível que seja dispensada a garantia do juízo para o oferecimento dos embargos à execução se ficar
demonstrado que o devedor não possui patrimônio para isso
Deve ser afastada a exigência da garantia do juízo para a oposição de embargos à execução fiscal, caso
comprovado inequivocadamente que o devedor não possui patrimônio para garantia do crédito exequendo.
STJ. 1ª Turma. REsp 1487772/SE, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 28/05/2019 (Info 650).

O encargo do DL nº 1.025/69 não foi revogado pelo CPC/2015


O encargo do DL nº 1.025/69, embora nominado de honorários de sucumbência, não tem a mesma natureza
jurídica dos honorários do advogado tratados no CPC/2015, razão pela qual o novo CPC não revogou o DL, em
estrita observância ao princípio da especialidade.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.798.727-RJ, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 09/05/2019 (Info 650).

OUTRAS SÚMULAS
Súmula 590-STJ: Constitui acréscimo patrimonial a atrair a incidência do Imposto de Renda, em caso de
liquidação de entidade de previdência privada, a quantia que couber a cada participante, por rateio do
patrimônio, superior ao valor das respectivas contribuições à entidade em liquidação, devidamente
atualizadas e corrigidas.

Súmula 498-STJ: Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos morais.

Súmula 598-STJ: É desnecessária a apresentação de laudo médico oficial para o reconhecimento judicial da
isenção do Imposto de Renda, desde que o magistrado entenda suficientemente demonstrada a doença grave
por outros meios de prova.

Súmula 627-STJ: O contribuinte faz jus à concessão ou à manutenção da isenção do imposto de renda, não se
271

lhe exigindo a demonstração da contemporaneidade dos sintomas da doença nem da recidiva da enfermidade.

Súmula 386-STJ: São isentas de Imposto de Renda as indenizações de férias proporcionais e o respectivo
Página

adicional.

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Súmula 494-STJ: O benefício fiscal do ressarcimento do crédito presumido do IPI relativo às exportações incide
mesmo quando as matérias-primas ou os insumos sejam adquiridos de pessoa física ou jurídica não
contribuinte do PIS/PASEP.

Súmula 495-STJ: A aquisição de bens integrantes do ativo permanente da empresa não gera direito a
creditamento de IPI.

Súmula 508-STJ: A isenção da Cofins concedida pelo artigo 6º, II, da LC 70/91 às sociedades civis de prestação
de serviços profissionais foi revogada pelo artigo 56 da Lei 9.430/96.

Súmula 584-STJ: As sociedades corretoras de seguros, que não se confundem com as sociedades de valores
mobiliários ou com os agentes autônomos de seguro privado, estão fora do rol de entidades constantes do
art. 22, § 1º, da Lei n. 8.212/1991, não se sujeitando à majoração da alíquota da Cofins prevista no art. 18 da
Lei n. 10.684/2003.

Súmula 612-STJ: O certificado de entidade beneficente de assistência social (Cebas), no prazo de sua validade,
possui natureza declaratória para fins tributários, retroagindo seus efeitos à data em que demonstrado o
cumprimento dos requisitos estabelecidos por lei complementar para a fruição da imunidade.

Súmula 614-STJ: O locatário não possui legitimidade ativa para discutir a relação jurídico-tributária de IPTU e
de taxas referentes ao imóvel alugado nem para repetir indébito desses tributos.
Súmula 213-STJ: O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à
compensação tributária.

Súmula 460-STJ: É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária realizada pelo
contribuinte.

Súmula vinculante 8-STF: São inconstitucionais o parágrafo único do artigo 5º do Decreto-lei nº 1.569/1977 e
os artigos 45 e 46 da Lei nº 8.212/1991, que tratam de prescrição e decadência de crédito tributário.

Súmula vinculante 28-STF: É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade
de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.

JURISPRUDÊNCIA EM TESES
PARTE GERAL
O arrolamento de bens previsto no art. 64 da Lei n. 9.532/97 viabiliza o acompanhamento da evolução
patrimonial do sujeito passivo da obrigação tributária e não impede a livre disposição do patrimônio do
contribuinte.

A suspensão da exigibilidade do crédito tributário não implica o cancelamento do arrolamento de bens


previsto nos § § 8º e 9º do art. 64 da Lei n. 9.532/97.

O disposto no art. 170-A do CTN aplica-se também a indébitos tributários decorrentes de vício de
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inconstitucionalidade. (Recurso Repetitivo - Tema 346)

A extinção do crédito tributário por meio de compensação está sujeita à condição resolutória da sua
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homologação.

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IPI
Não incide Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI nos serviços de composição e de impressão gráfica.

Combustíveis, lubrificantes e energia elétrica, embora consumidos durante o processo de industrialização, não
podem ser considerados como matéria-prima, insumos ou produtos intermediários, para o fim de inclusão no
cálculo do crédito presumido de IPI.

Não incide Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI sobre a venda de produtos, na hipótese em que ocorre
roubo ou furto de mercadoria, antes da entrega ao comprador, porquanto não configurado o fator gerador,
com a efetivação da operação mercantil.

Em se tratando de ressarcimento de crédito-prêmio de IPI, a liquidação da sentença se dará por artigos,


oportunidade em que a parte deverá apresentar toda a documentação suficiente à comprovação da efetiva
operação de exportação, bem como do ingresso de divisas no País, sem o que não se habilita à fruição do
benefício, mesmo estando ele reconhecido na sentença.

IMPOSTO DE RENDA
Incide imposto de renda sobre os valores recebidos a título de complementação temporária de aposentadoria.

Não incide imposto de renda sobre os valores recebidos a título de licença-prêmio não gozada, verba de
natureza indenizatória que não implica acréscimo patrimonial.

Não incide imposto de renda sobre a verba paga a título de indenização por rompimento do contrato de
trabalho no período de estabilidade provisória.

Não incide imposto de renda sobre os proventos de aposentadoria e pensão dos anistiados políticos, nos
termos da Lei n. 10.559/2002.

PIS E COFINS
Não são dedutíveis da base de cálculo das contribuições ao PIS e COFINS o valor destinado aos acionistas a
título de juros sobre o capital próprio - JCP, na vigência da Lei n. 10.637/2002 e da Lei n. 10.833/2003. (Recurso
Repetitivo - Tema 454)

Os atos praticados pela cooperativa com terceiros estão no campo de incidência de contribuição ao PIS e à
COFINS.

O benefício fiscal do ressarcimento do crédito presumido do IPI relativo às exportações incide mesmo quando
as matérias-primas ou os insumos sejam adquiridos de pessoa física ou jurídica não contribuinte do PIS/PASEP.
(Súmula n. 494/STJ)

O repasse econômico do PIS e da COFINS realizados pelas empresas concessionárias de serviços de


telecomunicação é legal e condiz com as regras de economia e de mercado. (Recurso Repetitivo - Tema 293)

As despesas de frete somente geram crédito no pagamento do PIS/COFINS quando suportadas pelo vendedor
273

nas hipóteses de venda ou revenda, fato que não ocorre no transporte interno de mercadorias entre
estabelecimentos de uma mesma empresa.
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O valor suportado pelo beneficiário do serviço, nele incluindo a quantia referente ao ISSQN, compõe o
conceito de receita ou faturamento para fins de adequação à hipótese de incidência do PIS e da COFINS.
(Recurso Repetitivo Tema 634)

As vendas inadimplidas não se equiparam às vendas canceladas, pois o inadimplemento não descaracteriza o
fato gerador das contribuições do PIS e da COFINS.

Princípio da intranscendência e entidade integrante de consórcio público com pendência no CAUC


Se um consórcio público celebrou convênio com a União por meio do qual estão previstos repasses federais,
o fato de um dos entes integrantes do consórcio possuir pendência inscrita no CAUC não pode impedir que o
consórcio receba os valores prometidos. Isso porque o consórcio público é uma pessoa jurídica distinta dos
entes federativos que o integram e, segundo o princípio da intranscendência das sanções, as punições
impostas não podem superar a dimensão estritamente pessoal do infrator, ou seja, não podem prejudicar
outras pessoas jurídicas que não sejam aquelas que praticaram o ato. Assim, o fato de ente integrante de
consórcio público possuir pendência no Serviço Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias
(CAUC) não impede que o consórcio faça jus, após a celebração de convênio, à transferência voluntária a que
se refere o art. 25 da LC 101/2000.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.463.921-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 10/11/2015 (Info 577).

Inconstitucionalidade de lei estadual que amplia os limites máximos de gastos com pessoal fixados pela LRF
A Lei de Responsabilidade Fiscal, cumprindo o que determina o art. 169 da CF/88, estabelece, em seus arts.
19 e 20, valores máximos que a União, os Estados/DF e os Municípios poderão gastar com despesas de pessoal.
É inconstitucional lei estadual que amplia os limites máximos de gastos com pessoal fixados pelos arts. 19 e
20 da Lei de Responsabilidade (LC 101/2000). O art. 169 da CF/88 determina que a despesa com pessoal da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei
complementar. Esta lei complementar de que trata a Constituição é uma lei complementar nacional que, no
caso, é a LC 101/2000. A legislação estadual, ao fixar limites de gastos mais generosos, viola os parâmetros
normativos contidos na LRF, e, com isso, usurpa a competência da União para dispor sobre o tema.
STF. Plenário. ADI 5449 MC-Referendo/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 10/3/2016 (Info 817).

Pavimentação e drenagem também não são consideradas como ação social


A restrição para transferência de recursos federais a Município que possui pendências no Cadastro Único de
Exigências para Transferências Voluntárias (CAUC) não pode ser suspensa sob a justificativa de que os recursos
destinam-se à pavimentação e drenagem de vias públicas. Essas atividades (pavimentação e drenagem) não
podem ser enquadradas no conceito de ação social previsto no art. 26 da Lei 10.522/2002.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.372.942-AL, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 1º/4/2014 (Info 539).
STJ. 2ª Turma. REsp 1.527.308-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 16/6/2015 (Info 566).

Inconstitucionalidade e lei estadual que permita que Estado utilize verbas dos depósitos judiciais
Diversos Estados têm editado leis complementares estaduais prevendo que o Poder Executivo pode utilizar os
valores constantes dos depósitos judiciais não apenas relacionados com processos em que os Estados fossem
parte, mas também oriundos de outros feitos em que estivessem litigando somente particulares. Tais leis
estão sendo questionadas por meio de ADIs propostas pelo Procurador Geral da República. É o caso, por
exemplo, da LC 42/2015, do Estado da Bahia.
O STF tem entendido, ainda em um juízo sumário e provisório, que tais leis estaduais são inconstitucionais por
violarem:
274

1) O princípio da separação dos poderes.


2) A iniciativa privativa legislativa da União (art. 22, I, da CF/88).
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3) A LC federal 151/2015 apenas autoriza o levantamento de 70% dos valores que sejam objeto de depósitos
vinculados a processos em que os entes federados sejam parte.

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STF. Plenário. ADI 5409 MC-Referendo/BA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 25/11/2015 (Info 809).

É indispensável a efetiva participação do Poder Judiciário e do Ministério Público no ciclo orçamentário, não
podendo ser imposta limitação de despesas na folha complementar desses órgãos sem a sua participação
nessa estipulação
É indispensável a efetiva participação do Poder Judiciário e do Ministério Público no ciclo orçamentário, sob
pena da respectiva norma incidir em inconstitucionalidade por afronta à sistemática orçamentária e financeira
prevista na Constituição Federal (art. 99, § 1º; art. 127, §§ 3º a 6º; e art. 168, caput).
STF. Plenário. ADI 7340 MC-Ref/CE, Rel. Min. André Mendonça, julgado em 20/03/2023 (Info 1087).

É constitucional o art. 1º, § 8º da LC 156/2016; o dispositivo exige dos Estados/DF a desistência de ações
judiciais para a concessão de prazo adicional de até 240 meses para o pagamento de dívidas refinanciadas
com a União
É constitucional — por ausência de ofensa aos princípios da inafastabilidade da jurisdição e aos postulados da
razoabilidade e da proporcionalidade — dispositivo legal que, nos contratos de refinanciamento das dívidas
dos estados e do Distrito Federal com a União, impõe como condição para a concessão e a manutenção dos
benefícios previstos na lei a desistência e o não ajuizamento de ações judiciais que tenham por objeto a dívida
ou o contrato renegociado.
STF. Plenário. ADI 7168/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 17/02/2023 (Info 1083).

O chamado orçamento secreto é inconstitucional


É vedada a utilização das emendas do relator-geral do orçamento com a finalidade de criar novas despesas ou
de ampliar as programações previstas no projeto de lei orçamentária anual, uma vez que elas se destinam,
exclusivamente, a corrigir erros e omissões (art. 166, § 3º, III, alínea “a”, da CF/88).
STF. Plenário. ADPF 850/DF, ADPF 851/DF, ADPF 854/DF e ADPF 1.014/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgados em
19/12/2022 (Info 1080).

São inconstitucionais as decisões judiciais que determinam a constrição de receitas públicas da saúde
vinculadas ao pagamento de contratos de gestão firmados entre o Estado e uma organização social
São inconstitucionais — por violarem os princípios da separação de Poderes, da legalidade orçamentária, da
eficiência administrativa e da continuidade dos serviços públicos — decisões judiciais que determinam a
penhora ou o bloqueio de receitas públicas destinadas à execução de contratos de gestão para o pagamento
de despesas estranhas aos seus objetos.
STF. Plenário. ADPF 1012/PA, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 12/12/2022 (Info 1079).

É constitucional a indenização por incapacidade ou morte de profissionais da saúde em razão da pandemia


da Covid-19, instituída pela Lei 14.128/2021
É constitucional norma federal que prevê compensação financeira de caráter indenizatório a ser paga pela
União por incapacidade permanente para o trabalho ou morte de profissionais da saúde decorrentes do
atendimento direto a pacientes acometidos pela Covid-19.
STF. Plenário. ADI 6970/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 15/8/2022 (Info 1065).

É inconstitucional norma estadual que dispõe sobre valores correspondentes a depósitos judiciais e
extrajudiciais de terceiros, ou seja, em que o ente federado não é parte interessada
275

Lei do Estado de Pernambuco determinou que os depósitos judiciais e extrajudiciais, em dinheiro, à disposição
do poder judiciário estadual ou da Secretaria da Fazenda, deveriam ser efetuados em Conta Central de
Depósitos Procedimentais.
Página

Ao fazer isso, o legislador estadual usurpou a competência da União para legislar sobre: a) o Sistema Financeiro
Nacional (art. 21, VIII); b) a política de crédito e transferência de valores (arts. 22, VII, e 192); c) direito civil e

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processual (art. 22, I); e d) normas gerais de direito financeiro (art. 24, I), atuando, neste último caso, além
dos limites de sua competência suplementar, pois previu hipóteses e finalidades não estabelecidas em normas
gerais editadas pela União.
Quanto ao aspecto material, a lei violou a separação dos poderes ao possibilitar o uso e administração, pelo
Poder Executivo, de numerário de terceiros, cujo depositário é o Judiciário. O tratamento legal impugnado
ainda afronta o direito de propriedade dos jurisdicionados ─ pois configura expropriação de recursos a eles
pertencentes ─; caracteriza empréstimo compulsório não previsto no art. 148 da CF/88; bem como cria
endividamento fora das hipóteses de dívida pública permitidas pela Constituição.
STF. Plenário. ADI 6660/PE, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 20/6/2022 (Info 1060).

A progressão funcional não está elencada no rol de proibições do art. 22, parágrafo único, da LRF (limite
prudencial)
É ilegal o ato de não concessão de progressão funcional de servidor público, quando atendidos todos os
requisitos legais, a despeito de superados os limites orçamentários previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal,
referentes a gastos com pessoal de ente público, tendo em vista que a progressão é direito subjetivo do
servidor público, decorrente de determinação legal, estando compreendida na exceção prevista no inciso I do
parágrafo único do art. 22 da Lei Complementar n. 101/2000.
STJ. 1ª Seção. REsp 1878849-TO, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador Convocado do TRF da 5ª região),
julgado em 24/02/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1075) (Info 726).

São inconstitucionais atos de constrição, por decisão judicial, do patrimônio de estatais prestadoras de
serviço público essencial, em regime não concorrencial e sem intuito lucrativo primário, para fins de
quitação de suas dívidas
Os recursos públicos vinculados ao orçamento de estatais prestadoras de serviço público essencial, em regime
não concorrencial e sem intuito lucrativo primário, não podem ser bloqueados ou sequestrados por decisão
judicial para pagamento de suas dívidas, em virtude do disposto no art. 100 da CF/88, e dos princípios da
legalidade orçamentária (art. 167, VI, da CF/88), da separação dos poderes (arts. 2º, 60, § 4º, III, da CF/88) e
da eficiência da administração pública (art. 37, caput, da CF/88).
STF. Plenário. ADPF 789/MA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/8/2021 (Info 1026).

Constituição Estadual não pode impor tratar sobre as emendas parlamentares impositivas com percentuais
diferentes daquilo que está previsto na Constituição Federal
É inconstitucional norma estadual que estabeleça limite para aprovação de emendas parlamentares
impositivas em patamar diferente do imposto pelo art. 166 da Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 6670 MC/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/4/2021 (Info 1015).

Análise da constitucionalidade da Lei de Responsabilidade Fiscal


A Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (Lei Complementar nº 101/2000) é formalmente constitucional, não
houve qualquer vício na tramitação do projeto, tendo sido respeitado o devido processo legislativo.
No que tange ao aspecto material, o STF declarou a constitucionalidade dos arts. 4º, § 2º, II, e § 4º; 7º, caput
e § 1º; 11, parágrafo único; 14, II; 17, §§ 1º a 7º; 18, § 1º; 20; 24; 26, § 1º; 28, § 2º; 29, I, e § 2º; 39; 59, § 1º,
IV; 60; e 68, caput, da LRF.
Por outro lado, o STF julgou inconstitucionais o art. 9º, § 3º, o caput dos arts. 56 e 57 e o § 2º do art. 23.
Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, de
modo a obstar interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou cargo que estiver provido.
276

Art. 9º, § 3º
Veja o que diz o § 3º do art. 9º:
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Art. 9º Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o
cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os
Poderes e o Ministério Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias
subsequentes, limitação de empenho e movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela lei de
diretrizes orçamentárias. (...) § 3º No caso de os Poderes Legislativo e Judiciário e o Ministério Público não
promoverem a limitação no prazo estabelecido no caput, é o Poder Executivo autorizado a limitar os valores
financeiros segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias.
Com relação ao § 3º do art. 9º, o STF entendeu que a norma prevista não guarda pertinência com o modelo
de freios e contrapesos estabelecido constitucionalmente para assegurar o exercício responsável da
autonomia financeira por parte dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Ministério Público. Isso porque o
dispositivo estabelece inconstitucional hierarquização subserviente em relação ao Executivo, permitindo que,
unilateralmente, limite os valores financeiros segundo os critérios fixados pela Lei de Diretrizes Orçamentárias
no caso daqueles outros dois Poderes e instituição não promoverem a limitação no prazo fixado no caput.

Caput dos arts. 56 e 57


Esses dispositivos preveem o seguinte:
Art. 56. As contas prestadas pelos Chefes do Poder Executivo incluirão, além das suas próprias, as dos
Presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Chefe do Ministério Público, referidos no art.
20, as quais receberão parecer prévio, separadamente, do respectivo Tribunal de Contas.
Art. 57. Os Tribunais de Contas emitirão parecer prévio conclusivo sobre as contas no prazo de sessenta dias
do recebimento, se outro não estiver estabelecido nas constituições estaduais ou nas leis orgânicas
municipais.

O STF considerou que houve um desvirtuamento do modelo previsto nos arts. 71 e seguintes da CF/88.
A Constituição determina que as contas do Poder Executivo englobarão todas as contas, receberão um parecer
conjunto do Tribunal de Contas, e serão julgadas pelo Congresso.
No caso do Judiciário, do Ministério Público e do Legislativo, o Tribunal de Contas julga as contas, e não apenas
dá um parecer prévio.

Art. 23, § 1º e art. 23, § 2º


Veja a redação dos dispositivos:
Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites definidos
no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado
nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as
providências previstas nos §§ 3º e 4º do art. 169 da Constituição.
§ 1º No caso do inciso I do § 3º do art. 169 da Constituição, o objetivo poderá ser alcançado tanto pela extinção
de cargos e funções quanto pela redução dos valores a eles atribuídos.
§ 2º É facultada a redução temporária da jornada de trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga
horária.

Quanto ao § 1º do art. 23, da LRF, o STF declarou a inconstitucionalidade parcial, sem redução de texto, de
modo a obstar interpretação segundo a qual é possível reduzir valores de função ou cargo que estiver provido.
Quanto ao § 2º do art. 23, declarou a sua inconstitucionalidade.

É inconstitucional qualquer interpretação de dispositivos da Lei de Responsabilidade Fiscal que permita a


redução de vencimentos de servidores públicos para a adequação de despesas com pessoal.
É inconstitucional o § 2º do art. 23 da LRF, que faculta a redução temporária da jornada de trabalho com
277

adequação dos vencimentos à nova carga horária, caso sejam ultrapassados os limites definidos na lei para
despesas com pessoal nas diversas esferas do poder público. Essa possibilidade de redução fere o princípio
constitucional da irredutibilidade de vencimentos (art. 37, XV, da CF/88).
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STF. Plenário. ADI 2238/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 24/6/2020 (Info 983).

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Os Estados podem legislar sobre índices de correção monetária e taxas de juros incidentes sobre créditos
fiscais, desde que não seja superior ao índice estabelecido pela União.
Os estados-membros e o Distrito Federal podem legislar sobre índices de correção monetária e taxas de juros
de mora incidentes sobre seus créditos fiscais, limitando-se, porém, aos percentuais estabelecidos pela União
para os mesmos fins
STF. Plenário. ARE 1216078 RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 29/08/2019 - Repercussão Geral – Tema
1062.

Os Estados, DF e Municípios possuem direito à arrecadação do IR retido na fonte, incidente sobre


rendimentos pagos por eles, suas autarquias e fundações a pessoas físicas ou jurídicas contratadas para a
prestação de bens ou serviços
Pertence ao Município, aos Estados e ao Distrito Federal a titularidade das receitas arrecadadas a título de
imposto de renda retido na fonte incidente sobre valores pagos por eles, suas autarquias e fundações a
pessoas físicas ou jurídicas contratadas para a prestação de bens ou serviços, conforme disposto nos arts. 158,
I, e 157, I, da Constituição Federal.
STF. Plenário. RE 1293453/RS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 8/10/2021 (Repercussão Geral –
Tema 1130) (Info 1033).

É inconstitucional o bloqueio de recursos públicos federais transferidos às Associações de Pais e Professores


(APPs) pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a implementação do Programa
Dinheiro Direto na Escola (PDDE)
Ofendem os princípios da legalidade orçamentária, da separação dos Poderes e da continuidade da prestação
dos serviços públicos as decisões judiciais que, com o objetivo de satisfazer créditos trabalhistas, determinam
o bloqueio de recursos públicos federais transferidos às Associações de Pais e Professores (APPs) pelo Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para a implementação do Programa Dinheiro Direto na
Escola (PDDE).
STF. Plenário. ADPF 988/SC, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/10/2022 (Info 1072).

É constitucional norma estadual que prevê a assunção de obrigações financeiras resultantes de sentença
judicial proferida após a privatização de sociedade de economia mista prestadora de serviço público pelo
respectivo estado
A Lei Estadual 7.514/2000, do Maranhão, autorizou que o governo do Estado assumisse as obrigações
financeiras resultantes de sentença judicial proferida após a privatização da Companhia Energética do
Maranhão S.A. – CEMAR, sociedade de economia mista prestadora de serviço público.
A assunção excepcional de despesas extraordinárias, ocorrida no contexto do processo de desestatização,
traduz matéria pertinente ao direito administrativo, não caracterizando hipótese de competência legislativa
da União em matéria de direito civil.
As vedações indicadas nos incisos II, V e VII do art. 167 da CF/88 referem-se às condutas do administrador
público quanto à execução orçamentária, e não do legislador, responsável pela elaboração da lei impugnada.
O Estado não assumiu obrigações futuras da empresa, pois o âmbito de aplicação da lei estadual questionada
restringe-se às obrigações anteriores à privatização e decorrentes de decisões transitadas em julgado.
STF. Plenário. ADI 5271/MA, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 26/8/2022 (Info 1065).

Se o Estado-membro utiliza em outras áreas determinadas verbas que deveriam aplicadas na saúde, ele
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deverá ser condenado a aplicar agora a integralidade da quantia na saúde


O Estado-membro que desrespeita o mínimo constitucional que deve ser aplicado na saúde, realocando
recurso em programa diverso, deve devolvê-lo à sua área de origem em sua totalidade.
Página

STJ. 2ª Turma. REsp 1.752.162/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 13/04/2021 (Info 692).

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LC federal deve fixar os valores mínimos a serem aplicados anualmente pelos Estados, Distrito Federal e
Municípios em ações e serviços públicos de saúde, não podendo norma de Constituição estadual ou lei
orgânica prever esses percentuais
A LC federal 141/2012 fixa os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito
Federal e Municípios em ações e serviços públicos de saúde.
O art. 11 desta Lei estabelece que as Constituições dos Estados ou as Leis Orgânicas dos Municípios podem
fixar valores mais altos do que o previsto na LC 141/2012 de repasses em prol da saúde.
O STF julgou inconstitucional esse art. 11 da LC 141/2012 porque, segundo o art. 198, § 3º, I, da CF/88, os
percentuais mínimos que os Estados, DF e Municípios são obrigados a aplicar na saúde devem estar previstos
em lei complementar federal editada pelo Congresso Nacional, não podendo isso ser delegado para os
Estados/DF e Municípios.
Além disso, o STF afirmou que são inconstitucionais normas da Constituição Estadual que prevejam
percentuais de aplicação mínima na saúde em patamares diferentes daquele fixado pela Lei complementar
federal.
STF. Plenário. ADI 5897/SC, Rel. Min. Luz Fux, julgado em 24/4/2019 (Info 938).

DIREITO AMBIENTAL

A proprietária de uma pousada que existia no momento da criação do Parque Nacional de Jericoacoara deve
ser indenizada porque isso representou uma desapropriação
A transformação da área loteada por pousada no Parque Nacional de Jericoacoara se deu por desapropriação
e gera o dever do Estado de indenizar a proprietária do imóvel.
Como regra, a criação de Parque Nacional (arts. 8º e 11 da Lei 9.985/2000), importa desapropriação indireta,
considerando a transferência da propriedade do imóvel para o expropriante, sendo reconhecido o direito à
justa indenização.
O § 1º do art. 1º da Lei nº 9.985/2000 assevera que “O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo
que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei”.
Vale ressaltar, contudo, que o pagamento da indenização permitirá a afetação do bem (pousada) ao domínio
público, com todos os consectários decorrentes de tal ato, como a translação do domínio no competente
registro imobiliário.
STJ. 1ª Turma.REsp 1.340.335-CE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 18/4/2023 (Info 772).

É inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos ambientais e a polícia militar de destruírem e
inutilizarem bens particulares apreendidos em operações de fiscalização ambiental
É inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos ambientais e a polícia militar de destruírem e inutilizarem
bens particulares apreendidos em operações de fiscalização ambiental.
Essa lei viola a competência da União para legislar sobre normas gerais de proteção ao meio ambiente (art.
24, VI e VII, da CF/88) e a afronta a competência privativa da União para legislar sobre direito penal e
processual penal (e 22, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 7203/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/03/2023 (Info 1084).

O cumprimento da obrigação de reparar integralmente o dano ambiental (in natura ou pecuniariamente)


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não afasta a obrigação de indenizar os danos ambientais interinos


Os danos ambientais interinos (também chamados de intercorrentes, transitórios, temporários, provisórios
ou intermediários) não se confundem com os danos ambientais definitivos (residuais, perenes ou
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permanentes).

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Os danos definitivos somente se verificam, e são indenizáveis em pecúnia, se a reparação integral da área
degradada não for possível em tempo razoável, após o cumprimento das obrigações de fazer. Seu marco
inicial, portanto, é o término das ações de restauração do meio ambiente.
O marco inicial do dano intercorrente, por sua vez, é a própria lesão ambiental. Seu marco final é o da
reparação da área, seja por restauração in natura, seja por compensação indenizatória do dano residual, se a
restauração não for viável.
O dano residual compensa a natureza pela impossibilidade de retorná-la ao estado anterior à lesão.
O dano intercorrente compensa a natureza pelos prejuízos causados entre o ato degradante e sua reparação.
O poluidor deve não só devolver a natureza a seu estado anterior, mas reparar os prejuízos experimentados
no interregno, pela indisponibilidade dos serviços e recursos ambientais nesse período.
STJ. 2ª Turma. REsp 1845200-SC, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 16/8/2022 (Info Especial 8).

A indenização de dano ambiental deve abranger a totalidade dos danos causados, não sendo possível ser
decotadas em seu cálculo despesas referentes à atividade empresarial (impostos e outras)
Caso concreto: ACP ajuizada pela União objetivando condenação dos réus na obrigação de restauração de
área degradada e ao pagamento de valor total do lucro obtido com a extração ilegal de areia e argila. O TRF
fixou a indenização no montante de 50% do faturamento total da empresa proveniente da extração irregular
do minério, por ter descontado as despesas referentes à atividade empresarial (impostos e outras).
O STJ não concordou com o TRF. A indenização deve abranger a totalidade dos danos causados ao ente federal,
sob pena de frustrar o caráter pedagógico-punitivo da sanção e incentivar a impunidade de empresa infratora,
que praticou conduta grave com a extração mineral irregular.
STJ. 2ª Turma.REsp 1923855-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 26/04/2022 (Info 734).

A responsabilidade civil por dano ambiental é objetiva e solidária; nos casos em que o Poder Público
concorre para o prejuízo por omissão, a sua responsabilidade solidária é de execução subsidiária (ou com
ordem de preferência)
Caso adaptado: particulares desmataram vegetação nativa em área de preservação permanente para a
construção de casas. Mesmo após 6 anos, o Município não adotou providências para impedir a continuidade
da degradação ambiental e recuperação da área. Diante disso, o STJ reconheceu a responsabilidade do
Município diante de sua omissão. Essa responsabilidade é objetiva e solidária, mas de execução subsidiária
(ou com ordem de preferência).
STJ. 2ª Turma. AREsp 1756656-SP, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 18/10/2022 (Info 758).

Direito à informação ambiental e obrigação do Estado com a transparência


Tese A) O direito de acesso à informação no Direito Ambiental brasileiro compreende:
i) o dever de publicação, na internet, dos documentos ambientais detidos pela Administração não sujeitos a
sigilo (transparência ativa);
ii) o direito de qualquer pessoa e entidade de requerer acesso a informações ambientais específicas não
publicadas (transparência passiva); e
iii) direito a requerer a produção de informação ambiental não disponível para a Administração (transparência
reativa);

Tese B) Presume-se a obrigação do Estado em favor da transparência ambiental, sendo ônus da Administração
justificar seu descumprimento, sempre sujeita a controle judicial, nos seguintes termos:
i) na transparência ativa, demonstrando razões administrativas adequadas para a opção de não publicar;
ii) na transparência passiva, de enquadramento da informação nas razões legais e taxativas de sigilo; e
280

iii) na transparência ambiental reativa, da irrazoabilidade da pretensão de produção da informação


inexistente;
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Tese C) O regime registral brasileiro admite a averbação de informações facultativas sobre o imóvel, de
interesse público, inclusive as ambientais;

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Tese D) O Ministério Público pode requisitar diretamente ao oficial de registro competente a averbação de
informações alusivas a suas funções institucionais.
STJ. 1ª Seção. REsp 1857098-MS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 11/05/2022 (Tema IAC 13) (Info 737).

O art. 15 da Lei 12.651/2012 (Código Florestal) pode ser aplicado para situações consolidadas antes de sua
vigência
A eficácia retroativa da Lei nº 12.651/2012 permite o reconhecimento de situações consolidadas e a
regularização ambiental de imóveis rurais levando em conta suas novas disposições, e não à luz da legislação
vigente na data dos ilícitos ambientais.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 1668484-SP, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF da 5ª
Região), julgado em 5/12/2022 (Info 768).

Para que haja a apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental não é necessário que se
comprove que o bem era utilizado de forma específica, exclusiva ou habitual na prática de ilícitos ambientais
A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada no § 5º do art. 25 da Lei nº 9.605/98,
independe do uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada infracional.
Os arts. 25 e 72, IV, da Lei nº 9.605/98 estabelecem como efeito imediato da infração a apreensão dos bens e
instrumentos utilizados na prática do ilícito ambiental.
A exigência de que o bem/instrumento fosse utilizado de forma específica, exclusiva ou habitual para a prática
de infrações não é um requisito que esteja expressamente previsto na legislação. Tal exigência compromete
a eficácia dissuasória inerente à medida, consistindo em incentivo, sob a perspectiva da teoria econômica do
crime, às condutas lesivas ao meio ambiente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1814944-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/02/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 1036) (Info 685).

A multa aplicada pela Capitania dos Portos, em decorrência de derramamento de óleo, não exclui a
possibilidade de aplicação de multa pelo Ibama
Caso adaptado: houve um acidente com um navio atracado, ocasionando o vazamento de óleo no mar. O
IBAMA autuou a proprietária do navio, em razão de ela ter deixado de adotar medidas para conter/minorar o
dano ambiental, após o acidente (Lei nº 9.605/98).
A Capitania dos Portos (órgão da União) também multou a empresa, tendo como fundamento o fato de a
autuada ter lançado ao mar substâncias proibidas pela legislação que rege a matéria (Lei nº 9.966/2000).
Não há bis in idem porque a competência da Capitania dos Portos não exclui, mas complementa, a legitimidade
fiscalizatória e sancionadora dos órgãos de proteção ao meio ambiente. Ademais, o fundamento fático-jurídico
das multas aplicadas é diverso.
STJ. 1ª Turma. AgInt no REsp 2032619-PR, Rel. Min. Regina Helena Costa, julgado em 13/3/2023 (Info 768).

Análise da constitucionalidade da LC 140/2011


A LC 140/2011 foi declarada constitucional.
A repartição de competências comuns, instituída pela LC 140/2011, mediante atribuição prévia e estática das
competências administrativas de fiscalização ambiental aos entes federados, atende às exigências do princípio
da subsidiariedade e do perfil cooperativo do modelo de Federação, cuja finalidade é conferir efetividade nos
encargos constitucionais de proteção dos valores e direitos fundamentais.
Vale ressaltar, no entanto, que dois dispositivos da Lei merecem interpretação conforme:
§ 4º do art. 14 da LC 140/2011:
É inconstitucional regra que autoriza estado indeterminado de prorrogação automática de licença ambiental.
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Assim, a omissão ou mora administrativa imotivada e desproporcional na manifestação definitiva sobre os


pedidos de renovação de licenças ambientais instaura a competência supletiva do art. 15.
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§ 3º do art. 17 da LC 140/2011:

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A prevalência do auto de infração lavrado pelo órgão originalmente competente para o licenciamento ou
autorização ambiental não exclui a atuação supletiva de outro ente federado, desde que comprovada omissão
ou insuficiência na tutela fiscalizatória.
No exercício da cooperação administrativa cabe atuação suplementar — ainda que não conflitiva — da União
com a dos órgãos estadual e municipal.
STF. Plenário. ADI 4757/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 12/12/2022 (Info 1079).

É inconstitucional norma estadual que cria dispensa do licenciamento ambiental para atividade
potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente
É inconstitucional — por invadir a competência legislativa geral da União (art. 24, VI, §§ 1º e 2º, da CF/88) e
violar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, § 1º, IV, da CF/88) — norma estadual
que cria dispensa do licenciamento ambiental para atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente.
STF. Plenário. ADI 4529/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 21/11/2022 (Info 1076).

É inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos ambientais e a polícia militar de destruírem e
inutilizarem bens particulares apreendidos em operações de fiscalização ambiental
É inconstitucional lei estadual que proíbe os órgãos ambientais e a polícia militar de destruírem e inutilizarem
bens particulares apreendidos em operações de fiscalização ambiental.
Essa lei viola a competência da União para legislar sobre normas gerais de proteção ao meio ambiente (art.
24, VI e VII, da CF/88) e a afronta a competência privativa da União para legislar sobre direito penal e
processual penal (e 22, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 7203/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 01/03/2023 (Info 1084).

É inconstitucional lei estadual que remete o regramento do cultivo comercial e das atividades com
organismos geneticamente modificados à regência da legislação federal
A competência para legislar sobre as atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGM)
é concorrente (art. 24, V, VIII e XII, da CF/88).
No âmbito das competências concorrentes, cabe à União estabelecer normas gerais e aos Estados-membros
editar leis para suplementar essas normas gerais (art. 24, §§ 1º e 2º).
Determinado Estado-membro editou lei estabelecendo que toda e qualquer atividade relacionada com os
OGMs naquele Estado deveria observar “estritamente à legislação federal específica”.
O STF entendeu que essa lei estadual é inconstitucional porque significou uma verdadeira “renúncia” ao
exercício da competência legislativa concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras palavras,
o Estado abriu mão de sua competência suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88.
Essa norma estadual remissiva fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra o monopólio da
União, sem atentar para nuances locais.
STF. Plenário. ADI 2303/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/9/2018 (Info 914).

Viola a CF/88 lei municipal que proíbe o transporte de animais vivos no Município
Viola a Constituição Federal lei municipal que proíbe o trânsito de veículos, sejam eles motorizados ou não,
transportando cargas vivas nas áreas urbanas e de expansão urbana do Município.
Essa lei municipal invade a competência da União.
O Município, ao inviabilizar o transporte de gado vivo na área urbana e de expansão urbana de seu território,
transgrediu a competência da União, que já estabeleceu, à exaustão, diretrizes para a política agropecuária, o
que inclui o transporte de animais vivos e sua fiscalização.
282

Além disso, sob a justificativa de criar mecanismo legislativo de proteção aos animais, o legislador municipal
impôs restrição desproporcional.
Esta desproporcionalidade fica evidente quando se verifica que a legislação federal já prevê uma série de
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instrumentos para garantir, de um lado, a qualidade dos produtos destinados ao consumo pela população e,
de outro, a existência digna e a ausência de sofrimento dos animais, tanto no transporte quanto no seu abate.

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STF. Plenário. ADPF 514 e ADPF 516 MC-REF/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 11/10/2018 (Info 919).

Inconstitucionalidade de lei municipal que proíbe a queima da cana


O Município é competente para legislar sobre o meio ambiente, juntamente com a União e o Estado-
membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que esse regramento seja harmônico com a disciplina
estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88).
O STF julgou inconstitucional lei municipal que proíbe, sob qualquer forma, o emprego de fogo para fins de
limpeza e preparo do solo no referido município, inclusive para o preparo do plantio e para a colheita de cana-
de-açúcar e de outras culturas.
Entendeu-se que seria necessário ponderar, de um lado, a proteção do meio ambiente obtida com a proibição
imediata da queima da cana e, de outro, a preservação dos empregos dos trabalhadores que atuem neste
setor. No caso, o STF entendeu que deveria prevalecer a garantia dos empregos dos trabalhadores canavieiros,
que merecem proteção diante do chamado progresso tecnológico e da respectiva mecanização, ambos
trazidos pela pretensão de proibição imediata da colheita da cana mediante uso de fogo.
Além disso, as normas federais que tratam sobre o assunto apontam para a necessidade de se traçar um
planejamento com o intuito de se extinguir gradativamente o uso do fogo como método despalhador e
facilitador para o corte da cana. Nesse sentido: Lei 12.651/2012 (art. 40) e Decreto 2.661/98.
STF. Plenário. RE 586224/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. em 5/3/2015 (repercussão geral) (Info 776).

Empresa que deixou vazar amônia em rio e danos aos pescadores profissionais
A responsabilidade por dano ambiental é OBJETIVA, informada pela teoria do RISCO INTEGRAL. Não são
admitidas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a força maior, fato de terceiro ou culpa
exclusiva da vítima.
O registro de pescador profissional e o comprovante do recebimento do seguro-defeso são documentos
idôneos para demonstrar que a pessoa exerce a atividade de pescador. Logo, com tais documentos é possível
ajuizar a ação de indenização por danos ambientais que impossibilitaram a pesca na região.
Se uma empresa causou dano ambiental e, em decorrência de tal fato, fez com que determinada pessoa
ficasse privada de pescar durante um tempo, isso configura dano moral.
O valor a ser arbitrado como dano moral não deverá incluir um caráter punitivo. É inadequado pretender
conferir à reparação civil dos danos ambientais caráter punitivo imediato, pois a punição é função que
incumbe ao direito penal e administrativo. Assim, não há que se falar em danos punitivos (punitive damages)
no caso de danos ambientais.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.354.536-SE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/3/2014 (recurso repetitivo)
(Info 538).

Construção de hidrelétrica e prejuízo aos pescadores artesanais do local


João é pescador artesanal e vive da pesca que realiza no rio Paranapanema, que faz a divisa dos Estados de
São Paulo e Paraná. A empresa "XXX", após vencer a licitação, iniciou a construção de uma usina hidrelétrica
neste rio. Ocorre que, após a construção da usina, houve uma grande redução na quantidade de alguns peixes
existentes no rio, em especial "pintados", "jaú" e "dourados". Vale ressaltar que estes peixes eram os mais
procurados pela população e os que davam maior renda aos pescadores do local. Diante deste fato, João
ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a empresa (concessionária de serviço público)
sustentando que a construção da usina lhe causou negativo impacto econômico e sofrimento moral, já que
ele não mais poderia exercer sua profissão de pescador. O pescador terá direito à indenização em decorrência
deste fato?
Danos materiais: SIM.
283

Danos morais: NÃO.


STJ. 4ª Turma. REsp 1.371.834-PR, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. em 5/11/2015 (Info 574).
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Empresa de mineração que deixou vazar resíduos de lama tóxica

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Determinada empresa de mineração deixou vazar resíduos de lama tóxica (bauxita), material que atingiu
quilômetros de extensão e se espalhou por cidades dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, deixando
inúmeras famílias desabrigadas e sem seus bens móveis e imóveis.
O STJ, ao julgar a responsabilidade civil decorrente desses danos ambientais, fixou as seguintes teses em sede
de recurso repetitivo:
a) a responsabilidade por dano ambiental é objetiva, informada pela teoria do risco integral, sendo o nexo de
causalidade o fator aglutinante que permite que o risco se integre na unidade do ato, sendo descabida a
invocação, pela empresa responsável pelo dano ambiental, de excludentes de responsabilidade civil para
afastar sua obrigação de indenizar;
b) em decorrência do acidente, a empresa deve recompor os danos materiais e morais causados e
c) na fixação da indenização por danos morais, recomendável que o arbitramento seja feito caso a caso e com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico do autor, e, ainda, ao porte da
empresa, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e jurisprudência, com razoabilidade,
valendo-se de sua experiência e bom senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de
modo que, de um lado, não haja enriquecimento sem causa de quem recebe a indenização e, de outro, haja
efetiva compensação pelos danos morais experimentados por aquele que fora lesado.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.374.284-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 27/8/2014 (Info 545).

Dano moral coletivo no direito ambiental


Na hipótese de ação civil pública proposta em razão de dano ambiental, é possível que a sentença
condenatória imponha ao responsável, cumulativamente, as obrigações de recompor o meio ambiente
degradado e de pagar quantia em dinheiro a título de compensação por dano moral coletivo.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.328.753-MG, Rel. Min. Herman Benjamin, j. em 28/5/2013 (Info 526).

É proibida a utilização de qualquer forma de amianto


As leis estaduais que proíbem o uso do amianto são constitucionais.
O art. 2º da Lei federal nº 9.055/95, que autorizava a utilização da crisotila (espécie de amianto), é
inconstitucional.
Houve a inconstitucionalidade superveniente (sob a óptica material) da Lei nº 9.055/95, por ofensa ao direito
à saúde (art. 6º e 196, CF/88); ao dever estatal de redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas
de saúde, higiene e segurança (art. 7º, inciso XXII, CF/88); e à proteção do meio ambiente (art. 225, CF/88).
STF. Plenário. ADI 3937/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/8/2017
(Info 874).

Princípio da precaução, campo eletromagnético e legitimidade dos limites fixados pela Lei 11.934/2009
No atual estágio do conhecimento científico, que indica ser incerta a existência de efeitos nocivos da exposição
ocupacional e da população em geral a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos gerados por sistemas
de energia elétrica, não existem impedimentos, por ora, a que sejam adotados os parâmetros propostos pela
Organização Mundial de Saúde (OMS), conforme estabelece a Lei nº 11.934/2009.
STF. Plenário. RE 627189/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 8/6/2016 (repercussão geral) (Info 829).

Área de reserva legal e registro da sentença declaratória de usucapião


João é posseiro de um imóvel rural há muitos anos e propôs ação de usucapião a fim de se tornar o proprietário
do terreno.
A sentença foi julgada procedente, declarando que João adquiriu a propriedade.
Vale lembrar que a sentença de usucapião deve ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis para que
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nele fique consignado que o novo proprietário é aquela pessoa que teve em seu favor a sentença de usucapião.
Em outras palavras, João deverá averbar a sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis para ser
considerado proprietário.
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Ocorre que o juiz que sentenciou a ação de usucapião condicionou o registro da sentença no Cartório do
Registro de Imóveis ao prévio registro da Área Legal no CAR (Cadastro Ambiental Rural). Em outras palavras,
o juiz afirmou que a usucapião só poderia ser averbada se, antes, o autor inscrevesse a Área de Reserva Legal
no CAR.
Agiu corretamente o magistrado? Ele poderia ter feito essa exigência?
SIM. Para que a sentença declaratória de usucapião de imóvel rural sem matrícula seja registrada no Cartório de
Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal no Cadastro Ambiental Rural (CAR).
A Lei nº 12.651/2012 (novo Código Florestal) instituiu o Cadastro Ambiental Rural (CAR), que passou a
concentrar as informações ambientais dos imóveis rurais, sendo dispensada a averbação da reserva legal no
Registro de Imóveis (art. 18, § 4º). Assim, ante esse novo cenário normativo, como condição para o registro
da sentença de usucapião no Cartório de Registro de Imóveis, é necessário o prévio registro da reserva legal
no CAR.
A nova lei não pretendeu reduzir a eficácia da norma ambiental, pretendeu tão somente alterar o órgão
responsável pelo "registro" da reserva legal, que antes era o Cartório de Registro de Imóveis, e agora passou
a ser o órgão ambiental responsável pelo CAR.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.356.207-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 28/4/2015 (Info 561).

Negativa de autorização de queimada por órgão ambiental não gera dano moral
Não gera dano moral a conduta do IBAMA de, após alguns anos concedendo autorizações para desmatamento
e queimada em determinado terreno com a finalidade de preparar o solo para atividade agrícola, deixar de
fazê-lo ao constatar que o referido terreno integra área de preservação ambiental.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.287.068-RR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 10/9/2013 (Info 531).

Súmula 613-STJ: Não se admite a aplicação da teoria do fato consumado em tema de direito ambiental.

Obrigações ambientais
Súmula 623-STJ: As obrigações ambientais possuem natureza propter rem, sendo admissível cobrá-las do
proprietário ou possuidor atual e/ou dos anteriores, à escolha do credor.

Responsabilidade civil por dano ambiental


Súmula 629-STJ: Quanto ao dano ambiental, é admitida a condenação do réu à obrigação de fazer ou à de não
fazer cumulada com a de indenizar.

O erro na concessão de licença ambiental não configura fato de terceiro capaz de interromper o nexo causal
na reparação por lesão ao meio ambiente
Os danos ambientais são regidos pela teoria do risco integral. A pessoa que explora a atividade econômica
ocupa a posição de garantidor da preservação ambiental, sendo sempre considerado responsável pelos danos
vinculados à atividade. Logo, não se pode admitir a exclusão da responsabilidade pelo fato exclusivo de
terceiro ou força maior.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.612.887-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/04/2020 (Info 671).

É inconstitucional a concessão automática de licença ambiental para funcionamento de empresas que


exerçam atividades classificadas como de risco médio
É inconstitucional a concessão automática de licença ambiental no sistema responsável pela integração
(Redesim) para o funcionamento de empresas que exerçam atividades de risco médio nos termos da
classificação estabelecida em ato do Poder Público.
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O licenciamento ambiental dispõe de base constitucional e não pode ser suprimido, ainda que de forma
indireta, por lei. Também não pode ser simplificado a ponto de ser esvaziado, salvo se a norma que o
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excepcionar apresentar outro instrumento apto a assegurar a proteção ao meio ambiente com igual ou maior
qualidade.

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Nesse contexto, a simplificação do procedimento pelo argumento da desburocratização e desenvolvimento
econômico, com controle apenas posterior, configura retrocesso inconstitucional, pois afasta os princípios da
prevenção e da precaução ambiental. A automaticidade, por sua vez, contraria norma específica sobre o
licenciamento ambiental, segundo a qual as atividades econômicas potencial ou efetivamente causadoras de
impacto ambiental estão sujeitas ao controle estatal.
Não possui fundamento constitucional válido a vedação da coleta adicional, pelos órgãos competentes, de
dados que não tenham sido disponibilizados na Redesim previamente ou no ato do protocolo do pedido de
licenciamento.
STF. Plenário. ADI 6808/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 28/4/2022 (Info 1052).

A responsabilidade administrativa ambiental é de natureza subjetiva


A aplicação de penalidades administrativas não obedece à lógica da responsabilidade objetiva da esfera cível
(para reparação dos danos causados), mas deve obedecer à sistemática da teoria da culpabilidade, ou seja, a
conduta deve ser cometida pelo alegado transgressor, com demonstração de seu elemento subjetivo, e com
demonstração do nexo causal entre a conduta e o dano.
Assim, a responsabilidade CIVIL ambiental é objetiva; porém, tratando-se de responsabilidade administrativa
ambiental, a responsabilidade é SUBJETIVA.
STJ. 1ª Seção. EREsp 1318051/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 08/05/2019 (Info 650).
Para que haja a apreensão de veículo utilizado na prática de infração ambiental não é necessário que se
comprove que o bem era utilizado de forma específica, exclusiva ou habitual na prática de ilícitos ambientais
A apreensão do instrumento utilizado na infração ambiental, fundada no § 4º do art. 25 da Lei nº 9.605/98,
independe do uso específico, exclusivo ou habitual para a empreitada infracional.
Os arts. 25 e 72, IV, da Lei nº 9.605/98 estabelecem como efeito imediato da infração a apreensão dos bens e
instrumentos utilizados na prática do ilícito ambiental.
A exigência de que o bem/instrumento fosse utilizado de forma específica, exclusiva ou habitual para a prática
de infrações não é um requisito que esteja expressamente previsto na legislação. Tal exigência compromete
a eficácia dissuasória inerente à medida, consistindo em incentivo, sob a perspectiva da teoria econômica do
crime, às condutas lesivas ao meio ambiente.
STJ. 1ª Seção. REsp 1.814.944-RN, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/02/2021 (Recurso
Repetitivo – Tema 1036) (Info 685).

As autoridades ambientais podem apreender veículo utilizado para a prática de infração ambiental mesmo
que este bem seja alugado e quem tenha cometido o ilícito tenha sido o locatário
Ainda que se trate de bem locado ao real infrator, a apreensão do bem é possível. Não se pode dizer que
houve uma injusta restrição ao proprietário (que não deu causa à infração ambiental).
Ao alugar o veículo, o locador assume o risco decorrente da exploração da atividade econômica por ele
exercida.
Além disso, seja em razão do conceito legal de poluidor, seja em função do princípio da solidariedade que rege
o direito ambiental, a responsabilidade administrativa pelo ilícito recai sobre quem, de qualquer forma,
contribuiu para a prática da infração ambiental, por ação ou omissão.
Ademais, aquele que realiza a atividade de locação de veículos deve adotar garantias para a prevenção e o
ressarcimento dos danos causados pelo locatário. Não é possível admitir que o Judiciário comprometa a
eficácia da legislação ambiental e impeça a apreensão do veículo tão somente porque o instrumento utilizado
no ilícito originou-se de um contrato de locação, cessão ou de qualquer outro meio juridicamente previsto.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.084.396-RO, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/09/2019 (Info 659).
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O locador (proprietário) do bem apreendido tem o direito de se defender administrativamente


Após a medida de apreensão, a autoridade administrativa deverá notificar o proprietário do veículo locado
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para dar a ele a oportunidade de comprovar a sua boa-fé antes de decidir sobre a destinação do bem
apreendido pela prática de infração ambiental.

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Cabe ao proprietário do veículo comprovar sua boa-fé, demonstrando que, pelas circunstâncias da prática
envolvida e apesar de ter tomado as precauções necessárias, não tinha condições de prever a utilização do
bem no ilícito ambiental.
A autoridade administrativa deve notificar o proprietário do veículo locado para oportunizar que comprove a
sua boa-fé antes de decidir sobre a destinação do bem apreendido pela prática de infração ambiental.
STJ. 2ª Turma. AREsp 1.084.396-RO, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 19/09/2019 (Info 659).

O transporte em quantidade excessiva de madeira, não acobertada pela respectiva guia de autorização,
legitima a apreensão de toda a mercadoria
A empresa “Alta Vista Ltda.” estava transportando toras de madeira quando foi parada em uma fiscalização
do IBAMA. Os servidores da autarquia ambiental constataram que a empresa estava transportando madeiras
serradas em desacordo com a nota fiscal e com a licença de transporte que possuía. A empresa estava
transportando 4.000 m3 de madeira a mais do que estava autorizada. Isso significa que ela estava
transportando cerca de 10% a mais da carga que poderia. A legislação ambiental prevê a lavratura de auto de
infração e a apreensão da carga. Indaga-se: deverá ser apreendida a carga toda (todas as madeiras) ou apenas
aquelas que excederam a autorização prevista na guia de transporte?
A carga inteira. A gravidade da conduta de quem transporta madeira em descompasso com a respectiva guia
de autorização não se calcula com base apenas no quantitativo em excesso. Essa infração compromete a
eficácia de todo o sistema de proteção ambiental. Logo, a medida de apreensão deve compreender a
totalidade da mercadoria transportada.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.784.755-MT, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 17/09/2019 (Info 658).

Constituição Federal
Art. 20. São bens da União:
I - os que atualmente lhe pertencem e os que lhe vierem a ser atribuídos;
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das
vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um
Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem
como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e
as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas áreas afetadas ao
serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 46, de 2005)
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial;
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios a participação
no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia
elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona
econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 102, de 2019)
§ 2º A faixa de até cento e cinquenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada
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como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e
utilização serão reguladas em lei.
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Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas
à pesquisa e manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem
risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a
preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função
ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
VIII - manter regime fiscal favorecido para os biocombustíveis destinados ao consumo final, na forma de lei
complementar, a fim de assegurar-lhes tributação inferior à incidente sobre os combustíveis fósseis, capaz
de garantir diferencial competitivo em relação a estes, especialmente em relação às contribuições de que
tratam a alínea "b" do inciso I e o inciso IV do caput do art. 195 e o art. 239 e ao imposto a que se refere o
inciso II do caput do art. 155 desta Constituição. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 123, de 2022)
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo
com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas
ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos
causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem
a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias,
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que
não poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as práticas
desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do art. 215 desta
Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro,
devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos. (Incluído
pela Emenda Constitucional nº 96, de 2017)

Código Florestal define faixa não edificável a partir de curso d’água em áreas urbanas, não se aplicando os
limites menores previstos na Lei do Parcelamento do Solo Urbano
Na vigência do novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), a extensão não edificável nas Áreas de Preservação
Permanente de qualquer curso d'água, perene ou intermitente, em trechos caracterizados como área urbana
consolidada, deve respeitar o que disciplinado pelo seu art. 4º, caput, inciso I, alíneas a, b, c, d e e, a fim de
288

assegurar a mais ampla garantia ambiental a esses espaços territoriais especialmente protegidos e, por
conseguinte, à coletividade.
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STJ. 1ª Seção. REsp 1.770.760/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 28/04/2021 (Recurso Repetitivo
– Tema 1010) (Info 694).

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DIREITO EMPRESARIAL
Marca de alto renome
O titular de uma marca detém legítimo interesse em obter, por via direta, uma declaração geral e abstrata de
que sua marca é de alto renome. Cuida-se de um direito do titular, inerente ao direito constitucional de
proteção integral da marca.
O art. 125 da LPI não estabeleceu os requisitos necessários à caracterização do alto renome de uma marca,
sujeitando o dispositivo legal à regulamentação do INPI.
A sistemática imposta pelo INPI por intermédio da Resolução nº 121/05 somente admite que o interessado
obtenha o reconhecimento do alto renome de uma marca pela via incidental.
Há, portanto, uma lacuna existente na Resolução nº 121/05 considerando que ela prevê a declaração do alto
renome apenas pela via incidental. Essa omissão do INPI na regulamentação do art. 125 da LPI justifica a
intervenção do Poder Judiciário.
Vale ressaltar, no entanto, que ainda que haja inércia da Administração Pública, o Poder Judiciário não pode
suprir essa omissão e decidir o mérito do processo administrativo, mas apenas determinar que o
procedimento seja concluído em tempo razoável. Dessa forma, até que haja a manifestação do INPI pela via
direta, a única ilegalidade praticada será a inércia da Administração Pública, sendo incabível, nesse momento,
a ingerência do Poder Judiciário no mérito do ato omissivo.
Por outro lado, os atos do INPI relacionados com o registro do alto renome de uma marca, por derivarem do
exercício de uma discricionariedade técnica e vinculada, encontram-se sujeitos a controle pelo Poder
Judiciário, sem que isso implique violação do princípio da separação dos poderes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.162.281-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 19/2/2013 (Info 517).

A aquisição de distintividade de marca não gera como decorrência lógica, direta e automática a
exclusividade de seu uso
Marcas “fracas”, evocativas, descritivas ou sugestivas: são aquelas que apresentam baixo grau de
distintividade, por se constituírem a partir de expressões que remetem à finalidade, natureza ou
características do produto ou serviço por elas identificado. São formadas, portanto, por expressões de uso
comum, de pouca originalidade. Ex: “American Airlines” (empresa de serviços de transporte aéreo).
Em caso de marcas evocativas ou sugestivas, a exclusividade conferida ao titular do registro comporta
mitigação, devendo ele suportar o ônus da convivência com outras marcas semelhantes. Ex: “American
Airlines” teve que aceitar outra marca registrada como “America Air” (empresa brasileira que atua como táxi
aéreo). Isso porque no caso de uso de marcas evocativas ou descritivas, a anterioridade do registro não
justifica o uso exclusivo de uma expressão dotada de baixo vigor inventivo.
A “American Airlines” buscou anular o registro da marca nominativa “America Air” invocando a teoria da
“distintividade adquirida” (significação secundária ou secondary meaning). O fenômeno da distintividade
adquirida ocorre quando um signo de caráter comum, descritivo ou evocativo foi utilizado durante tanto
tempo, alcançando tantas pessoas, que passou a adquirir eficácia distintiva suficiente, a ponto de possibilitar
seu registro como marca.
O STJ não acolheu a tese. Diante do fato de as duas marcas serem evocativas e considerando que as empresas
prestam serviços distintos (não tendo sido constatada a possibilidade de confusão junto ao público), inexiste
qualquer razão jurídica que justifique a declaração de nulidade do registro marcário da “America Air”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.773.244/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 02/04/2019 (Info 646).

Direito de uso exclusivo de marca


289

A empresa “A” oferece serviços de orientação e reeducação pedagógica a alunos com dificuldades escolares.
Essa instituição registrou no INPI a expressão “CRESCER”, adquirindo o direito de uso da marca.
Alguns anos depois, foi inaugurada uma escola (empresa “B”) e passou a também utilizar a palavra “CRESCER”
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em suas atividades empresariais.

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O STJ entendeu que o uso da expressão “CRESCER” por parte da escola viola o direito de uso exclusivo de
marca pertencente à empresa “A”. Isso porque, embora as atividades exercidas sejam distintas, elas se
enquadram na mesma classe de serviços, a de serviços de educação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.309.665-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 4/9/2014 (Info 548).

Precedência de nome empresarial que não implica direito ao registro de marca


Determinada sociedade empresária registrou seu ato constitutivo na junta comercial de Blumenau (SC) com o
nome empresarial de “Multimed Distribuidora de Medicamentos Ltda.”.
Anos mais tarde, uma sociedade empresária do Rio Grande do Sul (“Multiclínica Serviços de Saúde Ltda.”)
registrou no INPI, como marca, a expressão “MULTIMED”.
O STJ entendeu que esse registro da marca MULTIMED foi válido, mesmo o nome empresarial da outra
empresa sendo igual. Isso porque as formas de proteção do nome empresarial e da marca comercial não se
confundem.
Em regra, a proteção do NOME EMPRESARIAL fica restrita ao Estado/DF de competência da Junta Comercial
em que foi registrado o ato constitutivo da empresa. Ex.: se a empresa “A” registrou seu ato constitutivo na
Junta Comercial de Blumenau, a proteção será apenas em Santa Catarina. Essa proteção poderá ser estendida
a todo o território nacional, desde que seja feito pedido complementar de arquivamento nas demais Juntas
Comerciais.
A proteção da MARCA é mais extensa e, depois do registro no INPI, apenas o titular desta marca poderá utilizá-
la em todo o território nacional.
Para que o nome empresarial da empresa “Multimed Distribuidora de Medicamentos Ltda.” pudesse impedir
que outra empresa registrasse no INPI a marca “MULTIMED”, seria necessário que ela tivesse feito pedido
complementar de arquivamento do seu nome empresarial nas demais Juntas Comerciais do país.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.184.867-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 15/5/2014 (Info 548).

Licenciamento da marca e obrigação de o licenciador zelar pela sua integridade e reputação


É possível ao titular do registro de marca, após conceder licença de uso, impedir a utilização da marca pelo
licenciado quando não houver observância à nova padronização dos produtos e dos serviços, ainda que o uso
da marca tenha sido autorizado sem condições ou efeitos limitadores.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.387.244-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 25/2/2014 (Info 538).

Ações envolvendo trade dress e nulidade de registro de marca


As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência desleal e outras demandas
afins, por não envolver registro no INPI e cuidando de ação judicial entre particulares, é inequivocamente de
competência da Justiça estadual, já que não afeta interesse institucional da autarquia federal. No entanto,
compete à Justiça Federal, em ação de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI, impor ao
titular a abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela provisória.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.527.232-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/12/2017 (recurso repetitivo)
(Info 618).

Impossibilidade de cumulação de ação de nulidade de registro com indenização por danos


É indevida a cumulação, em um mesmo processo, do pedido de reconhecimento de nulidade de registro
marcário com o de reparação de danos causados por particular que teria utilizado indevidamente marca de
outro particular.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.188.105-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 5/3/2013 (Info 519).
290

É nulo o registro de marca nominativa de símbolo olímpico ou paraolímpico


Caso concreto: uma empresa fabricante de álcool registrou, no INPI, a marca “Fogo Olímpico” para ser usada
em seus produtos.
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O STJ decidiu que esse registro não é válido porque não é registrável como marca nome, prêmio ou símbolo
de evento esportivo (art. 124, XIII, da Lei nº 9.279/96).
Além disso, o art. 15 da Lei nº 9.615/98 (Lei Pelé) conferiu às entidades de administração ou prática desportiva
a propriedade exclusiva das denominações e dos símbolos que as identificam, sendo tal proteção válida em
todo o território nacional, por tempo indeterminado, sem a necessidade de registro ou averbação no órgão
competente.
Logo, o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPOB) possuem a exclusividade
de uso de símbolos olímpicos e paraolímpicos, assim como das denominações “jogos olímpicos”, “olimpíadas”,
“jogos paraolímpicos” e “paraolimpíadas”.

Diante desse quadro, deve ser reconhecida a nulidade do registro marcário, tendo em vista:
a) a proteção especial, em todos os ramos de atividade, conferida pelo ordenamento jurídico brasileiro aos
sinais integrantes da “propriedade industrial Olímpica”, que não podem ser reproduzidos ou imitados por
terceiros sem a autorização prévia do COB;
b) o necessário afastamento do aproveitamento parasitário decorrente do denominado “marketing de
emboscada” pelo uso conjugado de expressão e símbolos olímpicos cujo magnetismo comercial é inegável; e
c) o cabimento da aplicação da teoria da diluição a fim de proteger o COB contra a perda progressiva da
distintividade dos signos olímpicos, cujo acentuado valor simbólico pode vir a ser maculado, ofuscado ou
adulterado com a sua utilização em produto de uso cotidiano.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.583.007-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/04/2021 (Info 693).

Em ação de nulidade de registro de marca, a natureza da participação processual do INPI, quando não
figurar como autor ou corréu, é de intervenção sui generis (ou atípica) obrigatória, na condição de assistente
especial
O INPI, se não for o autor da nulidade de registro de marca, deverá ser obrigatoriamente citado para intervir
no processo. Ao ser citado, o INPI irá analisar, com base no interesse público, se deve defender o registro que
foi realizado ou se é caso realmente de nulidade.
A participação do INPI na ação de nulidade não é necessariamente para defender o ato que concedeu o
registro. Ao contrário, o interesse jurídico do INPI se distingue do interesse individual de ambas as partes,
considerando que o objetivo da Instituição é de proteger a concorrência e o consumidor, direitos
essencialmente transindividuais.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.817.109-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/02/2021 (Info 686).

Termo inicial da prescrição pelo uso indevido de marca industrial


O termo inicial do prazo prescricional de cinco anos (art. 225 da Lei nº 9.279/96) para pleitear indenização
pelos prejuízos decorrentes do uso de marca industrial que imite outra preexistente, suscetível de causar
confusão ou associação com marca alheia registrada (art. 124, XIX), é a data da violação do direito à
propriedade industrial e se renova enquanto houver o indevido uso.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.320.842-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/5/2013 (Info 524).

Termo inicial do prazo prescricional de ação de abstenção de uso de marca


A pretensão de abstenção de uso de marca nasce para seu titular com a violação do direito de utilização
exclusiva.
No caso concreto, o titular da marca havia autorizado que terceiro a utilizasse até determinada data. A
pretensão inibitória nasceu a partir do momento em que este terceiro desrespeitou a data assinalada como
termo final de vigência da autorização.
291

STJ. 3ª Turma. REsp 1.631.874-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/10/2016 (Info 593).

Danos materiais e morais em caso de uso indevido de marca


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O uso indevido da marca acarreta dano material uma vez que a própria violação do direito revela-se capaz de
gerar lesão à atividade empresarial do titular. O uso indevido da marca provoca desvio de clientela e confusão
entre as empresas, acarretando indiscutivelmente dano material.
Desse modo, se ficar demonstrado o uso indevido de marca, o juiz deverá declarar a existência do dano (an
debeatur). O quantum debeatur, por sua vez, deverá ser apurado no âmbito da liquidação pelo procedimento
comum, haja vista a necessidade de comprovação de fatos novos, nos termos do art. 210 da LPI.
Quanto ao prejuízo extrapatrimonial, prevalece que o uso indevido da marca gera dano moral in re ipsa, ou
seja, sua configuração decorre da mera comprovação da prática de conduta ilícita - contrafação -, revelando-
se desnecessária a demonstração de prejuízos concretos ou a comprovação probatória do efetivo abalo moral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.327.773-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 28/11/2017 (Info 619).

Caducidade de marca (art. 143 da LPI)


A Lei 9.279/96 prevê a possibilidade de o registro da marca caducar se não for usada:
Art. 143. Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse se, decorridos 5
(cinco) anos da sua concessão, na data do requerimento:
I — o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou
II — o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos consecutivos, ou se, no mesmo prazo,
a marca tiver sido usada com modificação que implique alteração de seu caráter distintivo original, tal como
constante do certificado de registro.
Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa começa a fabricá-lo aqui no Brasil, mas ele só é
vendido para o mercado externo, nunca sendo comercializado aqui. Há risco de haver a caducidade da marca
com base no inciso I?
NÃO. Se o titular da marca registrada no Brasil industrializa, fabrica, elabora o produto em território nacional,
claramente inicia e faz uso da marca no Brasil, merecendo toda proteção legal, pois aqui empreende, gerando
produção, empregos e riqueza, sendo indiferente que a mercadoria aqui produzida seja destinada ao mercado
interno ou exclusivamente ao externo. Produzir no País o produto com a marca aqui registrada atende
suficientemente ao requisito legal de “uso da marca iniciado no Brasil”.
Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa (de grande porte) começa a fabricá-lo aqui no Brasil,
mas depois de mais de 5 anos, somente produziu cerca de 70 pacotes do produto. Há risco de haver a
caducidade da marca com base no inciso II?
SIM. É possível que se reconheça a caducidade do registro da marca quando, em um período de cinco anos, o
valor e o volume de vendas do produto relacionado à marca forem inexpressivos.
No caso analisado pelo STJ, o uso esporádico da marca, com escassas negociações no mercado, foi considerado
inexpressivo dentro da magnitude das operações bilionárias realizadas pela empresa, portanto, insuficiente
para configurar e comprovar o uso efetivo da marca.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.236.218-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 5/2/2015 (Info 563).

Honorários sucumbenciais em desfavor do INPI


Em ação de nulidade de registro de marca a que o INPI não deu causa nem ofereceu resistência direta, não
cabe condenação do instituto em honorários advocatícios sucumbenciais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.378.699-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 7/6/2016 (Info 585).

Ação de nulidade de registro de marca e responsabilidade do INPI pelos honorários sucumbenciais, custas
processuais e reembolso de despesas feitas pelo autor
Este julgado tratava sobre uma ação de nulidade de registro de marca proposta por uma sociedade empresária
("A") contra o INPI e contra outra empresa concorrente ("B"), titular da marca questionada na demanda. A
292

ação foi julgada procedente e discutiu-se se o INPI deveria pagar honorários advocatícios, custas e despesas
processuais. Foram expostas três conclusões:
I — Na ação de nulidade de registro de marca o INPI foi indicado como réu ao lado de sociedade empresária
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porque concedeu indevidamente o registro para a empresa "B" mesmo gerando confusão com a marca da
empresa "A" e também porque não deu andamento ao pedido administrativo formulado pela empresa "A"

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para anular o registro indevidamente concedido. Assim, diante disso, o referido Instituto deve responder
solidariamente pelos honorários advocatícios sucumbenciais mesmo que, na ação proposta, ele tenha
reconhecido a procedência do pedido formulada na Inicial.
II — Em ação de nulidade de registro de marca, o INPI é isento de pagamento de custas.
III — Em ação de nulidade de registro de marca em que o INPI for sucumbente, cabe a ele reembolsar as
despesas judiciais feitas pela parte autora.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.258.662-PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 2/2/2016 (Info 576).

A empresa que comercializa responde solidariamente com o fabricante de produtos contrafeitos pelos danos
causados pelo uso indevido da marca
A empresa que comercializa responde solidariamente com o fabricante de produtos contrafeitos pelos danos
causados pelo uso indevido da marca.
Ainda que a solidariedade não seja expressamente prevista na Lei nº 9.279/96, a responsabilidade civil é
solidária para todos os autores e coautores que adotem condutas danosas ao direito protegido de outrem,
conforme sistema geral de responsabilidade estabelecido no art. 942 do Código Civil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.719.131-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 11/02/2020 (Info 666).
A renúncia ao registro não enseja a perda do objeto da ação que veicula pretensão de declaração de
nulidade da marca
STJ. 3ª Turma. REsp 1.832.148-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

A ANVISA, no exercício do “ato de anuência prévia” do art. 229-C da Lei 9.279/96, podia adentrar no exame
de quaisquer aspectos dos produtos ou processos farmacêuticos
Em se tratando de pedido de patente de fármacos, competia à Anvisa analisar - previamente à análise do INPI
- quaisquer aspectos dos produtos ou processos farmacêuticos - ainda que extraídos dos requisitos de
patenteabilidade (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial) - que lhe permitam inferir se a outorga
de direito de exclusividade (de produção, uso, comercialização, importação ou licenciamento) poderá ensejar
situação atentatória à saúde pública.
Art. 229-C. A concessão de patentes para produtos e processos farmacêuticos dependerá da prévia anuência
da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA. (Incluído pela Lei nº 10.196/2001) (Posteriormente
revogado pela Lei nº 14.195/2021)
STJ. 4ª Turma. REsp 1.543.826-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 05/08/2021 (Info 703).

Propaganda comparativa
A propaganda comparativa é forma de publicidade na qual se compara, explícita ou implicitamente, produtos
ou serviços concorrentes, a fim de conquistar a escolha do consumidor.
Em nosso país, não há lei definindo o que seja publicidade comparativa.
A doutrina e o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária do CONAR afirmam que a publicidade
comparativa, em regra, é permitida, desde que não viole alguns princípios.
Segundo decidiu o STJ, é lícita a propaganda comparativa entre produtos alimentícios de marcas distintas e de
preços próximos no caso em que:
a) a comparação tenha por objetivo principal o esclarecimento do consumidor;
b) as informações vinculadas sejam verdadeiras, objetivas, não induzam o consumidor a erro, não depreciem
o produto ou a marca, tampouco sejam abusivas (art. 37, § 2º, do CDC); e
c) os produtos e marcas comparados não sejam passíveis de confusão.
A publicidade comparativa não é vedada pelo CDC, desde que obedeça ao princípio da veracidade das
informações, seja objetiva e não abusiva.
293

De igual forma, em regra, a propaganda comparativa não é proibida pela Lei 9.279/96 (LPI). Para que a
propaganda comparativa viole o direito marcário do concorrente, as marcas devem ser passíveis de confusão
ou a menção à marca do concorrente deve ser feita de forma depreciativa, acarretando a degradação
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(desgaste do outro produto) e o consequente desvio de clientela.

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STJ. 4ª Turma. REsp 1.377.911-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 2/10/2014 (Info 550).

Justiça Estadual não pode julgar improcedente pedido de abstenção de uso de marca, sob o argumento de
que o registro dessa marca tem uma nulidade e, portanto, não goza de proteção; falta competência à Justiça
Estadual para reconhecer essa nulidade
Não compete à Justiça estadual, em sede de reconvenção proposta na ação de abstenção de uso de marca,
afastar o pedido da proprietária da marca, declarando a nulidade do registro ou irregularidade da marca.
A Justiça Estadual não pode, ao julgar uma ação de abstenção de uso de marca, negar o pedido da proprietária
da marca utilizando como argumento que o registro dessa marca conteria uma nulidade ou irregularidade.
A competência para examinar eventual nulidade do registro de uma marca é da Justiça Federal. Isso porque,
nessa situação, haverá interesse jurídico do INPI na demanda, considerando que foi essa autarquia federal que
concedeu o registro, incidindo, portanto, na hipótese do art. 109, I, da CF/88.
Caso concreto: uma escola propôs ação pedindo para que outra empresa de educação não utilizasse o termo
“Poliedro” como marca; o TJ julgou o pedido improcedente afirmando que essa palavra não poderia ter sido
registrada como marca; logo, o registro seria nulo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.393.123-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 18/02/2020 (Info 667).

Requisitos para a concessão da patente “pipeline”


O registro sob o sistema “pipeline” não se submete à regra do art. 8º, ou seja, não se exige dele novidade,
atividade inventiva e aplicação industrial.
Os requisitos para a concessão da patente “pipeline” estão disciplinados nos 230 e 231 da Lei de Propriedade
Industrial e, uma vez concedida a patente “pipeline” por outra jurisdição, ela não poderá ser anulada
invocando-se a ausência de um dos requisitos de mérito previstos no art. 8º da LPI para a concessão das
patentes ordinárias (novidade, atividade inventiva e aplicação industrial).
Assim, uma patente “pipeline” concedida no exterior e revalidada no Brasil não pode ser anulada sob
fundamento de falta de um dos requisitos de mérito do art. 8º da Lei 9.279/96 (Lei de Propriedade Industrial
— LPI), mas apenas por ausência de requisito especificamente aplicável a ela (como, por exemplo, por falta
de pagamento da anuidade no Brasil) ou em razão de irregularidades formais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.201.454-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/10/2014 (Info 550).

O prazo de vigência das patentes concedidas pelo sistema mailbox é de 20 anos contados da data do
depósito
O sistema denominado mailbox consistiu em mecanismo transitório adotado para salvaguarda de pedidos de
patentes relacionadas a produtos farmacêuticos e produtos agroquímicos, cuja tutela jurídica resultou da
internalização no País, em 1/1/1995, do Acordo TRIPS (Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade
Intelectual Relacionados ao Comércio).
Tratando-se de patentes excepcionalmente requeridas pelo sistema mailbox, a Lei de Propriedade Industrial,
em suas disposições finais e transitórias, estabeleceu regra expressa assegurando proteção, a partir da data
da respectiva concessão, limitada ao prazo remanescente previsto no caput do seu art. 40 (20 anos contados
do dia do depósito). Assim, o legislador afastar a possibilidade de incidência do prazo excepcional do parágrafo
único do art. 40 (10 anos a partir da concessão).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.840.910-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660).

É inconstitucional o parágrafo único do art. 40 da Lei nº 9.279/96


É inconstitucional o parágrafo único do art. 40 da Lei nº 9.279/96:
Parágrafo único. O prazo de vigência não será inferior a 10 (dez) anos para a patente de invenção e a 7 (sete)
294

anos para a patente de modelo de utilidade, a contar da data de concessão, ressalvada a hipótese de o INPI
estar impedido de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada ou por motivo
de força maior.
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Essa norma contraria a segurança jurídica, a temporalidade da patente, a função social da propriedade
intelectual, a duração razoável do processo, a eficiência da administração pública, a livre concorrência e a
defesa do consumidor e o direito à saúde.
STF. Plenário. ADI 5529/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/5/2021 (Info 1017).

Obs: depois do julgado acima mencionado, a Lei nº 14.195, de 26 de agosto de 2021, revogou o parágrafo
único do art. 40 da Lei nº 9.279/96.

Em ação de infração de patente e desenho industrial, é possível a arguição incidental de nulidade de tais
direitos de propriedade industrial, como matéria de defesa, perante a justiça estadual
O art. 175 da Lei de Propriedade Industrial exige que a ação de nulidade do registro de marca seja ajuizada no
foro da Justiça Federal, devendo o INPI, quando não for o autor, necessariamente intervir no feito. Não há, na
lei, qualquer exceção a essa regra.
O mesmo, porém, não ocorre no que diz respeito à patente e ao desenho industrial.
Os arts. 56, § 1º, e 118, da Lei nº 9.279/96 preveem a possibilidade de arguição da nulidade de patentes e de
desenhos industriais como matéria de defesa em ações de infração, de competência da Justiça Estadual,
dispensando, nesses casos, a participação do INPI.
Vale ressaltar, por fim, que o reconhecimento da nulidade de patentes e de desenhos industriais pelo juízo
estadual, por ocorrer apenas incidenter tantum, não faz coisa julgada e não opera efeitos para fora do
processo, tendo apenas o condão de levar à improcedência do pedido veiculado na ação de infração.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.843.507-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 06/10/2020 (Info 682).

Os “privilégios do agricultor”, previstos no art. 10 da Lei nº 9.456/97, não se aplicam para o caso de processo
de inserção do gene na semente da soja
As limitações ao direito de propriedade intelectual constantes do art. 10 da Lei nº 9.456/97 - aplicáveis tão
somente aos titulares de Certificados de Proteção de Cultivares - não são oponíveis aos detentores de patentes
de produto e/ou processo relacionados à transgenia cuja tecnologia esteja presente no material reprodutivo
de variedades vegetais.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.610.728-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/10/2019 (Tema IAC 4) (Info 658).

Termo inicial para o pagamento da retribuição quinquenal prevista no art. 120 da Lei 9.279/96
O prazo para o pagamento da "retribuição quinquenal" prevista no art. 120 da Lei nº 9.279/96 conta-se da
data do depósito do pedido de registro do desenho industrial no INPI, e não da data do certificado de registro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.470.431-PR, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/2/2016 (Info 578).

Para que o pedido seja arquivado ou a patente extinta por falta de pagamento da retribuição, exige-se
notificação prévia do depositante ou titular
Para arquivamento de pedido ou extinção de patente por falta de pagamento da retribuição anual prevista no
art. 84 da Lei nº 9.279/96, exige-se notificação prévia do respectivo depositante ou titular.
Obs: retribuição anual é um valor que deve ser pago anualmente ao INPI pelo fato de o indivíduo ter pedido
ou já ser titular de uma patente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.669.131-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 27/6/2017 (Info 608).

Possibilidade de o INPI analisar as cláusulas dos contratos de transferência de tecnologia que são
submetidos a seu registro
Os contratos que impliquem transferência de tecnologia, para produzirem efeitos em relação a terceiros,
295

precisam ser registrados e/ou averbados no INPI (art. 211 da Lei nº 9.279/96).
O INPI, ao examinar os contratos que lhe são submetidos para averbação ou registro, pode e avaliar as
cláusulas contratuais exigindo a alteração daquelas que forem abusivas ou ilegais?
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SIM. O art. 211 da Lei nº 9.279/96 em conjunto com o art. 2º da Lei nº 5.648/70 (com redação dada pelo art.
240 da Lei nº 9.279/96) permitem que o INPI analise as cláusulas dos contratos de transferência de tecnologia
que lhe são submetidos para registro, podendo reprimir cláusulas abusivas e/ou ilegais.
O INPI pode intervir no âmbito negocial de transferência de tecnologia, diante de sua missão constitucional e
infraconstitucional de regulamentação das atividades atinentes à propriedade industrial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.200.528-RJ, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 16/2/2017 (Info 599).

Para analisar se houve violação do trade dress, é indispensável a prova pericial


Trade dress ou conjunto-imagem consiste no conjunto de elementos distintivos que caracterizam um produto,
um serviço ou um estabelecimento comercial fazendo com que o mercado consumidor os identifique.
A caracterização de concorrência desleal por confusão, apta a ensejar a proteção ao conjunto-imagem (trade
dress) de bens e produtos, é questão fática a ser examinada por meio de perícia técnica.
Ainda que se esteja diante de uma notória semelhança entre os dois produtos, é indispensável analisar se esta
similitude é aceitável do ponto de vista legal ou se estamos diante de um ato abusivo, usurpador de conjunto-
imagem alheio e passível de confundir o consumidor.
Ex: a empresa líder do mercado ajuizou ação contra a ré (empresa nova) afirmando que esta passou a utilizar
embalagem copiando as cores e o design da autora. Será necessária perícia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.353.451-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/09/2017 (Info 612).
Factoring não é instituição financeira
As empresas popularmente conhecidas como factoring desempenham atividades de fomento mercantil, de
cunho meramente comercial, em que se ajusta a compra de créditos vencíveis, mediante preço certo e
ajustado, e com recursos próprios, não podendo ser caracterizadas como instituições financeiras.
STJ. 3ª Seção. CC 98.062/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 25/08/2010.

Não é título executivo


O contrato de abertura de crédito rotativo, ainda que acompanhado dos extratos relativos à movimentação
bancária do cliente, não constitui título executivo.
Aplica-se a Súmula 233 do STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da
conta-corrente, não é título executivo.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.022.034-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 12/3/2013 (Info 520).

Construcard não é título executivo


O contrato particular de abertura de crédito a pessoa física visando financiamento para aquisição de material
de construção – Construcard –, ainda que acompanhado de demonstrativo de débito e nota promissória, não
é título executivo extrajudicial.
STJ. 4ª Turma. REsp 1323951-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/5/2017 (Info 606).

Contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital é título executivo extrajudicial


O contrato eletrônico de mútuo com assinatura digital pode ser considerado título executivo extrajudicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.495.920-DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 15/05/2018 (Info 627).

Súmula 258-STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em
razão da iliquidez do título que a originou.

Súmula 189-STF: Avais em branco e superpostos consideram-se simultâneos e não sucessivos.


296

Súmula 387-STF: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor
de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.
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Súmula 600-STF: Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas, ainda que não apresentado o cheque
ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a ação cambiária.

Súmula 475-STJ: Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por
endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu
direito de regresso contra os endossantes e avalistas.

Súmula 370-STJ: Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.

Súmula 299-STJ: É admissível a ação monitória fundada em cheque prescrito.

Súmula 503-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de cheque sem força
executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de emissão estampada na cártula.

Súmula 531-STJ: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável
a menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.

Súmula 504-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem
força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.

Trespasse: cláusula de não concorrência fixada por prazo indeterminado é abusiva


Nos contratos de trespasse (alienação do estabelecimento comercial) existe, de forma implícita, por força de
lei, uma cláusula de não concorrência (cláusula de não restabelecimento). Isso significa que, em regra, o
alienante não pode fazer concorrência ao adquirente.
Segundo o art. 1.147, o prazo da cláusula de não concorrência é de 5 anos.
As partes não podem prever que a cláusula de “não restabelecimento” será por prazo indeterminado. O
ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não aceita que cláusulas que limitem ou vedem
direitos sejam estabelecidas por prazo indeterminado. Logo, a cláusula de não restabelecimento fixada por
prazo indeterminado é considerada abusiva.
STJ. 4ª Turma. REsp 680.815-PR, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/3/2014 (Info 554).

Súmula 530-STJ: Nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente
contratada — por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos —, aplica-se a
taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma espécie, salvo se a taxa
cobrada for mais vantajosa para o devedor.

Súmula 381-STJ: Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das
cláusulas.

Súmula 72-STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem alienado


fiduciariamente.

Súmula 92-STJ: A terceiro de boa-fé não é oponível a alienação fiduciária não anotada no certificado de
registro do veículo automotor.

Súmula 233-STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente,
não é título executivo.
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Súmula 247-STJ: O contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do demonstrativo de


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débito, constitui documento hábil para o ajuizamento da ação monitória.

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Súmula 300-STJ: O instrumento de confissão de dívida, ainda que originário de contrato de abertura de
crédito, constitui título executivo extrajudicial.

Responsabilidade do endossatário em caso de vícios formais no título


Súmula 475-STJ: Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário que recebe por
endosso translativo título de crédito contendo vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu
direito de regresso contra os endossantes e avalistas.

Responsabilidade do endossatário em caso de endosso-mandato


Súmula 476-STJ: O endossatário de título de crédito por endosso-mandato só responde por danos decorrentes
de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário.

Protesto de títulos: responsabilidade pela baixa após o pagamento


Depois do título ter sido protestado, caso o devedor efetue a quitação da dívida, a responsabilidade por
promover o cancelamento do protesto não é do credor, mas sim do devedor ou de qualquer outro interessado,
bastando que faça a prova do pagamento junto ao tabelionato de protesto.
STJ. 4ª Turma. REsp 959.114-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/12/2012.

Protesto de títulos: responsabilidade civil por apontamento indevido


O simples apontamento do título, sem o efetivo registro do protesto, ainda que de forma indevida, é incapaz
de gerar dano moral a quem quer que seja.
O dano moral somente ocorrerá se o protesto indevido for efetivado, ou seja, se, após 3 dias da intimação,
não houver pagamento ou sustação, ocasião em que o protesto será lavrado.
Apenas com a efetivação do protesto, este é registrado e se torna público, trazendo efeitos negativos à pessoa
protestada, que será, inclusive, incluída nos cadastros negativos de crédito.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.005.752-PE, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/6/2012.

Prazo da ação monitória em caso de nota promissória sem força executiva


Súmula 504-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do emitente de nota promissória sem
força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte ao vencimento do título.

Competência para julgar falência de instituição sob a intervenção do BACEN


A competência para processar e julgar o pedido de falência de empresa em liquidação extrajudicial, ou seja,
sob intervenção do BACEN é da Justiça Estadual (e não da Justiça Federal).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.162.469-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 12/04/2012.

Competência
Compete à Justiça Estadual, e não à Justiça Federal, processar e julgar ação proposta em face de sociedade de
economia mista, ainda que se trate de instituição financeira em regime de liquidação extrajudicial, sob
intervenção do Banco Central.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.093.819-TO, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 19/3/2013 (Info 519).

Produtor rural pode pedir recuperação judicial?


Ao produtor rural que exerça sua atividade de forma empresarial há mais de dois anos, é facultado requerer
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a recuperação judicial, desde que esteja inscrito na Junta Comercial no momento em que formalizar o pedido
recuperacional, independentemente do tempo de seu registro.
STJ. 2ª Seção. REsp 1905573-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/06/2022 (Recurso Repetitivo –
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Tema 1145) (Info 743).

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Para fins de submissão à recuperação judicial, considera-se existente o crédito na data de seu fato gerador
ou no dia do trânsito em julgado da sentença que o reconhece?
Para o fim de submissão aos efeitos da recuperação judicial, considera-se que a existência do crédito é
determinada pela data em que ocorreu o seu fato gerador.
Ex: em janeiro/2017, Lucas consumiu leite estragado comprado no Supermercado BR. Em fevereiro/2017,
ajuizou ação de indenização contra o Supermercado. Em setembro/2017, o supermercado ingressou com
pedido de recuperação judicial. Em outubro/2017, o juiz julgou o pedido de Lucas procedente e condenou a
empresa a pagar R$ 50 mil. Houve o trânsito em julgado. Diante disso, Lucas ingressou com pedido de
habilitação de seu crédito na recuperação judicial. Esse crédito poderá ser habilitado na recuperação (art. 49
da Lei nº 11.101/2005) porque foi constituído na data do acidente de consumo (janeiro/2017) e não na data
da sentença, que apenas declarou uma obrigação já existente.
STJ. 2ª Seção. REsp 1842911-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 09/12/2020 (Recurso
Repetitivo – Tema 1051) (Info 684).

Compete ao Juízo da Recuperação manifestar-se acerca da natureza do crédito, definindo se está ou não
submetido aos efeitos da recuperação judicial; se ele devolver o crédito para o juízo de origem, caberá a
este efetuar o pagamento devido
Havendo manifestação do Juízo da recuperação judicial no sentido de que determinado crédito não integra o
patrimônio da recuperanda ou não está submetido aos efeitos da recuperação judicial, cabe ao Juízo a que
vinculada a conta judicial em que depositado este crédito ultimar os atos de pagamento.
STJ. 2ª Seção. CC 185966-AM, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 14/12/2022 (Info 762).

O Juízo da Recuperação Judicial não pode anular ou simplesmente desconsiderar ou suspender os atos de
constrição determinados pelo Juízo da Execução Fiscal
O Juízo da Recuperação Judicial não pode anular ou simplesmente desconsiderar ou suspender os atos de
constrição determinados pelo Juízo da Execução Fiscal, porque o novo regramento da questão exige dele
postura proativa, cooperativa, que também contemple os interesses da Fazenda Pública, somente se opondo
aos atos constritivos de forma fundamentada e razoável.
1) Compete ao Juízo da Execução Fiscal, determinar os atos de constrição judicial sobre bens e direitos de
sociedade empresária em recuperação judicial, sem proceder à alienação ou levantamento de quantia
penhorada, comunicando aquela medida ao juízo da recuperação, como dever de cooperação; e
2) Compete ao Juízo da Recuperação Judicial, tomando ciência daquela constrição, exercer juízo de controle e
deliberar sobre a substituição do ato constritivo que recaia sobre bens de capital essenciais à manutenção da
atividade empresarial até o encerramento do procedimento de soerguimento, podendo formular proposta
alternativa de satisfação do crédito, em procedimento de cooperação recíproca.
STJ. 2ª Seção. CC 187255-GO, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 14/12/2022 (Info 762).

É cabível a medida coercitiva atípica de apreensão de passaportes, em sede de processo de falência, quando
constatados fortes indícios de ocultação de patrimônio
A apreensão do passaporte do devedor é medida atípica e restritiva da liberdade de locomoção do indivíduo,
podendo caracterizar constrangimento ilegal e arbitrário, susceptível de análise em sede de habeas corpus,
como via processual adequada.
Em homenagem ao princípio do resultado na execução, o CPC/2015 inovou no ordenamento jurídico ao
prever, em seu art. 139, IV, a adoção de medidas executivas atípicas, tendentes à satisfação da obrigação
exequenda.
Sendo a falência um processo de execução coletiva decretado judicialmente, deve o patrimônio do falido estar
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comprometido exclusivamente com o pagamento da massa falida, de modo que se tem como cabível, de
forma subsidiária, a aplicação da referida regra do art. 139, IV, conforme previsto no art. 189 da Lei
11.101/2005.
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No caso concreto, o STJ considerou que a apreensão do passaporte do falido foi uma medida coercitiva dotada
de razoabilidade tendo em vista que determinada mediante decisão fundamentada e com observância do

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contraditório prévio, em sede de processo de falência que perdura por mais de dez anos, após constatados
fortes indícios de ocultação de vasto patrimônio em paraísos fiscais e que as luxuosas e frequentes viagens
internacionais do paciente são custeadas com patrimônio indevidamente transferido a familiares pelo próprio
falido, tudo como forma de subtrair-se pessoalmente aos efeitos da quebra.
STJ. 4ª Turma. HC 742879-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/09/2022 (Info 749).

O crédito constituído anteriormente à incorporação de empresa a grupo empresarial em recuperação


judicial deve se submeter ao juízo universal
No caso, o crédito foi constituído até a data do pedido da recuperação judicial, no entanto, a incorporação da
empresa pelo conglomerado de empresas em recuperação se deu posteriormente.
Mesmo que a empresa não estivesse no conglomerado de empresas que tiveram o pedido de recuperação
judicial deferido, deve prevalecer o princípio da preservação da empresa, razão pela qual o juízo universal
deve ser o único a gerir os atos de constrição e alienação dos bens do grupo de empresas em recuperação.
Sendo assim, o juízo universal deve exercer o controle sobre os atos constritivos sobre o patrimônio do grupo
em recuperação judicial, adequando a essencialidade do bem à atividade empresarial, independente da data
em que a empresa foi incorporada à outra, já em plano de recuperação judicial.
Nessa esteira, mesmo que a incorporação tenha ocorrido após a constituição do crédito e ao pedido de
recuperação judicial, deve se operar a força atrativa do juízo universal como forma de manter a higidez do
fluxo de caixa das empresas e, assim, gerenciar de forma exclusiva o plano de recuperação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1972038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 29/03/2022 (Info 733).

É possível a desconsideração da personalidade jurídica incidentalmente no processo falimentar,


independentemente de ação própria, verificada a fraude e a confusão patrimonial entre a falida e outras
empresas
Uma vez verificada a ocorrência de fraude e confusão patrimonial entre a falida e outras empresas, é possível
a desconsideração das personalidades jurídicas incidentalmente no processo falimentar, independentemente
de ação própria (anulatória ou revocatória), inclusive com o objetivo de arrecadar bens das sociedades
empresariais envolvidas na fraude reconhecida pelas instâncias ordinárias. Precedentes.
A desconsideração da personalidade jurídica, quando preenchidos os seus requisitos, pode ser requerida a
qualquer tempo, não se submetendo, à míngua de previsão legal, a prazos decadenciais ou prescricionais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1686123-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 22/03/2022 (Info 730).

Possibilidade de uma associação civil sem fins lucrativos se submeter a recuperação judicial
Associações civis sem fins lucrativos com finalidade e atividades econômicas detêm legitimidade para requerer
recuperação judicial.
STJ. 4ª Turma. AgInt no TP 3654-RS, Rel. Min. Raul Araújo, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
15/03/2022 (Info 729).

Ações envolvendo trade dress e nulidade de registro de marca


As questões acerca do trade dress (conjunto-imagem) dos produtos, concorrência desleal e outras demandas
afins, por não envolver registro no INPI e cuidando de ação judicial entre particulares, é inequivocamente de
competência da Justiça estadual, já que não afeta interesse institucional da autarquia federal. No entanto,
compete à Justiça Federal, em ação de nulidade de registro de marca, com a participação do INPI, impor ao
titular a abstenção do uso, inclusive no tocante à tutela provisória.
STJ. 2ª Seção. REsp 1527232-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 13/12/2017 (recurso repetitivo)
(Info 618).
300

Não há coisa julgada envolvendo ação cominatória e indenizatória por uso indevido, decidida na Justiça
Comum Estadual, com ação de nulidade de registro de marca, proposta pela mesma autora contra idêntica
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empresa e contra o INPI, decidida na Justiça Federal

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Não há coisa julgada envolvendo ação cominatória e indenizatória por uso indevido de marca proposta contra
empresa que utiliza marca semelhante à da autora, que tramitou na Justiça Comum estadual, e ação de
nulidade de registro de marca, proposta pela mesma autora contra idêntica empresa e contra o INPI, decidida
na Justiça Federal.
STJ. 2ª Seção. AgInt na AR 6868-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 9/11/2022 (Info Especial 9).

Termo inicial de correção monetária e de juros de mora em cobrança de cheque


Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a correção monetária incide a partir da
data de emissão estampada na cártula, e os juros de mora a contar da primeira apresentação à instituição
financeira sacada ou câmara de compensação.
STJ. 2ª Seção. REsp 1556834-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 22/6/2016 (recurso repetitivo) (Info
587).

O acionista minoritário não tem legitimidade extraordinária para buscar a responsabilização civil dos
controladores (art. 246 da Lei 6.404/76 – ação social ut singuli) enquanto não caracterizada a inércia da
companhia
Os acionistas minoritários não têm legitimidade extraordinária para promover procedimentos arbitrais
destinados à responsabilização civil dos controladores, com base no art. 246 da Lei nº 6.404/76, (ação social
ut singuli) enquanto não caracterizada a inércia da companhia, o que se verifica quando, convocada
assembleia geral para deliberar sobre a responsabilidade destes, há deliberação autorizativa e não são
promovidas as medidas cabíveis dentro dos três meses subsequentes ou quando há deliberação negativa.
STJ. 2ª Seção. CC 185702/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/06/2022 (Info 749).

É possível a penhora de quotas sociais de sócio por dívida particular por ele contraída, ainda que de
sociedade empresária em recuperação judicial
Não há vedação para a penhora de quotas sociais de sociedade empresária em recuperação judicial, já que
não enseja, necessariamente, a liquidação da quota.
STJ. 3ª Turma. REsp 1803250-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 23/06/2020 (Info 675).

Empresa de factoring pode emprestar dinheiro a juros (mútuo feneratício), mas os juros cobrados não
podem ultrapassar 12% ao ano, permitida apenas capitalização anual
Embora não constitua instituição financeira, não é vedado à sociedade empresária de factoring celebrar
contrato de mútuo feneratício, devendo apenas serem respeitadas as regras dessa espécie contratual
aplicáveis aos particulares, especialmente quanto aos juros devidos e à capitalização.
STJ. 3ª Turma. REsp 1987016-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/09/2022 (Info 750).

JURISPRUDÊNCIA EM TESES
Títulos de Crédito
A instituição financeira é responsável pelos danos resultantes de extravio de talonários de cheques utilizados
fraudulentamente por terceiros.

O estabelecimento bancário não está obrigado a verificar a autenticidade das assinaturas dos endossantes,
mas tem o dever de atestar a regularidade formal da cadeia de endossos.
301

A investigação da causa debendi é admitida nas hipóteses em que o cheque é dado como garantia, bem como
nos casos em que o negócio jurídico subjacente for constituído em flagrante desrespeito à ordem jurídica.
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A prescrição da pretensão executória de título cambial não enseja o cancelamento automático de anterior
protesto regularmente lavrado e registrado.

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Propriedade Industrial
Para se conceder a proteção especial da marca de alto renome, em todos os ramos de atividade, (art. 125 da
LPI) é necessário procedimento administrativo junto ao INPI.

Cabe ao INPI e não ao Poder Judiciário analisar os requisitos necessários à qualificação da marca como de alto
renome.

DIREITO ECONÔMICO E DE
PROTEÇÃO AO CONSUMIDOR
É possível o reconhecimento da figura do consumidor por equiparação na hipótese de danos individuais
decorrentes do exercício de atividade de exploração de potencial hidroenergético causadora de impacto
ambiental, em virtude da caracterização do acidente de consumo
Caso adaptado: a Usina Hidrelétrica de Pedra do Cavalo, localizada na Bahia e operada pelo Grupo Votorantim,
causou impactos ambientais significativos na região, afetando as atividades de pesca e mariscagem locais. Os
pescadores do local ajuizaram ação de indenização contra as empresas integrantes do Grupo.
Na hipótese de danos individuais decorrentes do exercício de atividadede exploração de potencial
hidroenergético causadora de impactoambiental, é possível, em virtude da caracterização do acidente
deconsumo, o reconhecimento da figura do consumidor por equiparação, oque atrai a incidência das
disposições do Código de Defesa do Consumidor.
Assim, os pescadores autores podem ser considerados como consumidores porequiparação (bystander), nos
termos do art. 17 do CDC.
STJ. 2ª Seção. REsp 2.018.386-BA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/5/2023 (Info 774).

Teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada


Embora consagre o critério finalista para interpretação do conceito de consumidor, a jurisprudência do STJ
também reconhece a necessidade de, em situações específicas, abrandar o rigor desse critério para admitir a
aplicabilidade do CDC nas relações entre os adquirentes e os fornecedores em que, mesmo o adquirente
utilizando os bens ou serviços para suas atividades econômicas, fique evidenciado que ele apresenta
vulnerabilidade frente ao fornecedor. Diz-se que isso é a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada.
Em suma, a teoria finalista mitigada, abrandada ou aprofundada consiste na possibilidade de se admitir que,
em determinadas hipóteses, a pessoa, mesmo sem ter adquirido o produto ou serviço como destinatária final,
possa ser equiparada à condição de consumidora, por apresentar frente ao fornecedor alguma
vulnerabilidade.
Existem quatro espécies de vulnerabilidade: a) técnica; b) jurídica; c) fática; d) informacional.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.195.642/RJ, Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2012.

Participantes ou assistidos de plano de benefício e entidade de previdência complementar


O Código de Defesa do Consumidor não é aplicável à relação jurídica entre participantes ou assistidos de plano
de benefício e entidade de previdência complementar fechada, mesmo em situações que não sejam
regulamentadas pela legislação especial.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.536.786-MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 26/8/2015 (Info 571).

Súmula 563-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às entidades abertas de previdência


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complementar, não incidindo nos contratos previdenciários celebrados com entidades fechadas.

Aplicação do CDC em ação proposta por condomínio contra construtora na defesa dos condôminos
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Aplica-se o CDC ao condomínio de adquirentes de edifício em construção, nas hipóteses em que atua na defesa
dos interesses dos seus condôminos frente a construtora ou incorporadora.

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STJ. 3ª Turma. REsp 1.560.728-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/10/2016 (Info 592).

É inaplicável o CDC ao contrato de franquia


A franquia é um contrato empresarial e, em razão de sua natureza, não está sujeito às regras protetivas
previstas no CDC.
A relação entre o franqueador e o franqueado não é uma relação de consumo, mas sim de fomento econômico
com o objetivo de estimular as atividades empresariais do franqueado.
O franqueado não é consumidor de produtos ou serviços da franqueadora, mas sim a pessoa que os
comercializa junto a terceiros, estes sim, os destinatários finais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.602.076-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 15/9/2016 (Info 591).

Responsabilidade por fraudes e delitos nas operações bancárias


Súmula 479-STJ: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
A declaração de ilegalidade de tarifas bancárias, com a consequente devolução dos valores cobrados
indevidamente, em ação ajuizada anteriormente, faz coisa julgada em relação ao pedido de repetição de
indébito dos juros remuneratórios incidentes sobre as tarifas
Caso concreto: a parte autora ajuizou a primeira ação pedindo a devolução em dobro de todos os valores
pagos com as tarifas declaradas nulas. Nessa ação é possível concluir que o pleito abarcou também os encargos
incidentes sobre as respectivas tarifas. Se a parte eventualmente esqueceu de deduzir, de forma expressa, a
pretensão de ressarcimento dos juros remuneratórios que incidiram sobre as tarifas declaradas nulas na
primeira ação, não poderá propor nova demanda com essa finalidade, sob pena de violação à coisa julgada.
O acessório (juros remuneratórios incidentes sobre a tarifa) segue o principal (valor correspondente à própria
tarifa), razão pela qual o pedido de devolução de todos os valores pagos referentes à tarifa nula abrange, por
dedução lógica, a restituição também dos respectivos encargos, sendo incabível, portanto, nova ação para
rediscutir essa matéria.
Desse modo, a declaração de ilegalidade de tarifas bancárias, com a consequente devolução dos valores
cobrados indevidamente, em ação ajuizada anteriormente com pedido de forma ampla, faz coisa julgada em
relação ao pedido de repetição de indébito dos juros remuneratórios incidentes sobre as referidas tarifas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1899115-PB, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/04/2022 (Info 733).

Saque indevido em conta bancária e dano moral


O banco deve compensar os danos morais sofridos por consumidor vítima de saque fraudulento que, mesmo
diante de grave e evidente falha na prestação do serviço bancário, teve que intentar ação contra a instituição
financeira com objetivo de recompor o seu patrimônio, após frustradas tentativas de resolver
extrajudicialmente a questão.
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 395.426-DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Rel. para acórdão Marco Buzzi,
julgado em 15/10/2015 (Info 574).

Ausência de dano moral in re ipsa pela mera inclusão de valor indevido na fatura de cartão de crédito
Não configura dano moral in re ipsa a simples remessa de fatura de cartão de crédito para a residência do
consumidor com cobrança indevida.
Para configurar a existência do dano extrapatrimonial, é necessário que se demonstre que a operadora de
cartão de crédito, além de ter incluído a cobrança na fatura, praticou outras condutas que configurem dano
moral, como por exemplo:
a) reiteração da cobrança indevida mesmo após o consumidor ter reclamado;
303

b) inscrição do cliente em cadastro de inadimplentes;


c) protesto da dívida;
d) publicidade negativa do nome do suposto devedor; ou
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e) cobrança que exponha o consumidor, o submeta à ameaça, coação ou constrangimento.

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STJ. 4ª Turma. REsp 1.550.509-RJ, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 3/3/2016 (Info 579).

Banco postal não precisa atender aos requisitos de segurança da Lei 7.102/83
A imposição legal de adoção de recursos de segurança específicos para proteção dos estabelecimentos que
constituam sedes de instituições financeiras (Lei nº 7.102/83) não alcança o serviço de correspondente
bancário (Banco Postal) realizado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Isso porque o
correspondente bancário não exerce atividade-fim e primária das instituições financeiras na forma definida
no art. 17 da Lei nº 4.595/64.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.497.235-SE, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 1º/12/2015 (Info 574).

Correios possuem responsabilidade por roubo ocorrido no interior de banco postal


A ECT é responsável pelos danos sofridos por consumidor que foi assaltado no interior de agência dos Correios
na qual é fornecido o serviço de banco postal.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.183.121-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 24/2/2015 (Info 559).
CEF não tem responsabilidade pela segurança de correspondente bancário que funciona em casa lotérica
A Caixa Econômica Federal — CEF não tem responsabilidade pela segurança de agência com a qual tenha
firmado contrato de permissão de loterias.
Como as casas lotéricas não são instituições financeiras, a CEF não é obrigada a adotar as mesmas normas de
segurança exigidas para as agências bancárias e que estão previstas na Lei nº 7.102/83. Além disso, o contrato
que é celebrado entre a CEF e os permissionários das casas lotéricas estabelece que a unidade lotérica assume
responsabilidade direta e exclusiva por todos e quaisquer ônus, riscos ou custos das atividades, inclusive por
indenizações de qualquer espécie reivindicadas por terceiros prejudicados.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.224.236-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 11/3/2014 (Info 536).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.317.472-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 5/3/2013 (Info 518).

Responsabilidade dos provedores de busca de produtos à venda on-line


O provedor de buscas de produtos à venda on-line que não realiza qualquer intermediação entre consumidor
e vendedor não pode ser responsabilizado por qualquer vício da mercadoria ou inadimplemento contratual.
Exemplos de provedores de buscas de produtos: Shopping UOL, Buscapé, Bondfaro.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.444.008-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/10/2016 (Info 593).

A inexistência de responsabilidade solidária por fato do produto entre os fornecedores da cadeia de


consumo impede a extensão do acordo feito por um réu em benefício do outro
Exemplo: Marina adquiriu um suco de caixinha industrializado no supermercado e, depois de tomar o primeiro
gole, percebeu que o produto estava contaminado com um corpo estranho. A consumidora ajuizou ação de
indenização por danos morais contra a fabricante do suco e o supermercado.
O comerciante (supermercado) resolveu fazer um acordo com a consumidora e pagou R$ 4 mil à autora. A
fabricante, por sua vez, não participou da transação.
O juiz, ao homologar a transação, irá extinguir o processo apenas no que tange ao supermercado,
prosseguindo o feito com relação à fabricante.
A ingestão parcial de produto contaminado configura hipótese de fato do produto, situação na qual o
comerciante não possui responsabilidade solidária, mas sim subsidiária (art. 13 do CDC). Sendo a
responsabilidade do supermercado subsidiária, o acordo por ele firmado não se estende necessariamente à
fabricante porque não se aplica o § 3º do art. 844 do CC (este dispositivo afirma que se a transação foi feita
entre um dos devedores solidários e seu credor, ela extingue a dívida em relação aos codevedores).
STJ. 3ª Turma. REsp 1968143-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 08/02/2022 (Info 724).
304

Envio de cartão de crédito sem prévia e expressa solicitação do consumidor


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Súmula 532-STJ: Constitui prática comercial abusiva o envio de cartão de crédito sem prévia e expressa
solicitação do consumidor, configurando-se ato ilícito indenizável e sujeito à aplicação de multa
administrativa.

Abusividade da cláusula-mandato que permite emitir título cambial


Nos contratos de cartão de crédito, é abusiva a previsão de cláusula-mandato que permita à operadora emitir
título cambial contra o usuário do cartão.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.084.640-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 23/9/2015 (Info 570).

Validade da cláusula-mandato que permite que o cartão tome empréstimos


A cláusula-mandato que, no bojo do contrato de cartão de crédito, permite que a administradora do cartão
de crédito tome recursos perante instituições financeiras em nome do contratante para saldar sua dívida é
válida.
STJ. 4ª Turma. AgRg no REsp 1256866/RS, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. p/ Acórdão Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 10/02/2015.

O limite de desconto do empréstimo consignado não se aplica aos contratos de mútuo bancário em que o
cliente autoriza o débito das prestações em conta-corrente
São lícitos os descontos de parcelas de empréstimos bancários comuns em conta-corrente, ainda que utilizada
para recebimento de salários, desde que previamente autorizados pelo mutuário e enquanto esta autorização
perdurar, não sendo aplicável, por analogia, a limitação prevista no § 1º do art. 1º da Lei nº 10.820/2003, que
disciplina os empréstimos consignados em folha de pagamento.
STJ. 2ª Seção. REsp 1863973-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 09/03/2022 (Recurso Repetitivo
– Tema 1085) (Info 728).

Dever de utilização do sistema braille por instituições financeiras


As instituições financeiras devem confeccionar em Braille os contratos de adesão que são assinados para
contratação de seus serviços a fim de que os clientes com deficiência visual possam ter conhecimento, por
meio próprio, das cláusulas contratuais ali contidas.
Os bancos devem também enviar os extratos mensais impressos em linguagem Braille para os clientes com
deficiência visual.
Além disso, tais instituições devem desenvolver cartilha para seus empregados com normas de conduta para
atendimentos ao deficiente visual.
A relutância da instituição financeira em utilizar o método Braille nos contratos bancários de adesão firmados
com pessoas portadoras de deficiência visual representa tratamento manifestamente discriminatório e tem o
condão de afrontar a dignidade deste grupo de pessoas gerando danos morais coletivos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.315.822-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. em 24/3/2015 (Info 559).

Súmula 595-STJ: As instituições de ensino superior respondem objetivamente pelos danos suportados pelo
aluno/consumidor pela realização de curso não reconhecido pelo Ministério da Educação, sobre o qual não
lhe tenha sido dada prévia e adequada informação.

Resolução de promessa de compra e venda e restituição imediata dos valores pagos


Súmula 543-STJ: Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel submetido
ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente
comprador — integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou
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parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento.


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Validade da cláusula de coparticipação

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Não é abusiva cláusula contratual de plano privado de assistência à saúde que estabeleça a coparticipação do
usuário nas despesas médico-hospitalares em percentual sobre o custo de tratamento médico realizado sem
internação, desde que a coparticipação não caracterize financiamento integral do procedimento por parte do
usuário, ou fator restritor severo ao acesso aos serviços.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.566.062-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/6/2016 (Info 586).

Súmula 602-STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos empreendimentos habitacionais


promovidos pelas sociedades cooperativas.

Súmula 608-STJ: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os
administrados por entidades de autogestão.

Súmula 597-STJ: A cláusula contratual de plano de saúde que prevê carência para utilização dos serviços de
assistência médica nas situações de emergência ou de urgência é considerada abusiva se ultrapassado o prazo
máximo de 24 horas contado da data da contratação.

Cobertura de home care por plano de saúde


João é cliente de um plano de saúde. Após ficar doente, ele foi internado no hospital, onde permaneceu por
algumas semanas. Até então, o plano de saúde estava pagando todas as despesas. O médico que
acompanhava seu estado de saúde viu que seu quadro clínico melhorou e recomendou que ele fosse para
casa, mas lá ficasse realizando tratamento domiciliar (home care) até que tivesse alta completa.
Ocorre que o plano de saúde não aceitou, afirmando que, no contrato firmado com João, havia uma cláusula
proibindo o serviço de home care. Segundo a operadora, apenas o tratamento hospitalar está incluído.
O plano de saúde pode ser obrigado a custear o tratamento domiciliar (home care) mesmo que isso não conste
expressamente do rol de serviços previsto no contrato? Mesmo que exista cláusula no contrato proibindo o
home care?
SIM. Ainda que, em contrato de plano de saúde, exista cláusula que vede de forma absoluta o custeio do
serviço de home care (tratamento domiciliar), a operadora do plano será obrigada a custeá-lo em substituição
à internação hospitalar contratualmente prevista, desde cumpridos os seguintes requisitos:
1) tenha havido indicação desse tratamento pelo médico assistente;
2) exista real necessidade do atendimento domiciliar, com verificação do quadro clínico do paciente;
3) a residência possua condições estruturais para fazer o tratamento domiciliar;
4) haja solicitação da família do paciente;
5) o paciente concorde com o tratamento domiciliar;
6) não ocorra uma afetação do equilíbrio contratual em prejuízo do plano de saúde (exemplo em que haveria
um desequilíbrio: nos casos em que o custo do atendimento domiciliar por dia supera a despesa diária em
hospital).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.378.707-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, j. 26/5/2015 (Info 564).
STJ. 3ª Turma. REsp 1.537.301-RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 18/8/2015 (Info 571).

Em regra, o plano de saúde não é obrigado a fornecer medicamentos de uso domiciliar


REGRA: em regra, os planos de saúde não são obrigados a fornecer medicamentos para tratamento domiciliar.
EXCEÇÕES: Os planos de saúde são obrigados a fornecer:
a) os antineoplásicos orais (e correlacionados);
b) a medicação assistida (home care); e
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c) outros fármacos incluídos pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) no rol de fornecimento
obrigatório.
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STJ. 3ª Turma. REsp 1.692.938/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/04/2021 (Info 694).

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Reajuste de mensalidade de seguro-saúde em razão de alteração de faixa etária
Em regra, é válida a cláusula prevista em contrato de seguro-saúde que autoriza o aumento das mensalidades
do seguro quando o usuário completar 60 anos de idade.
Exceções. Essa cláusula será abusiva quando:
a) não respeitar os limites e requisitos estabelecidos na Lei 9.656/98; ou
b) aplicar índices de reajuste desarrazoados ou aleatórios, que onerem em demasia o segurado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.381.606-DF, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João Otávio de
Noronha, julgado em 7/10/2014 (Info 551).

Usuário do plano de saúde fez o procedimento em um hospital não credenciado; o ressarcimento dos gastos
efetuados pelo usuário ocorrerá segundo o preço de tabela previsto pelo plano de saúde
É devida a limitação do reembolso, pelo preço de tabela, ao usuário que utilizar para o tratamento de terapia
coberta, os profissionais e estabelecimentos não credenciados, estejam eles dentro ou fora da área de
abrangência do município/área geográfica e de estar ou não o paciente em situação de emergência ou
urgência.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1933552-ES, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Marco Buzzi, julgado
em 15/03/2022 (Info 729).

Cancelamento de voos sem razões técnicas ou de segurança é prática abusiva


O transporte aéreo é serviço essencial e pressupõe continuidade.
Considera-se prática abusiva o cancelamento de voos sem razões técnicas ou de segurança inequívocas.
Também é prática abusiva o descumprimento do dever de informar o consumidor, por escrito e
justificadamente, quando tais cancelamentos vierem a ocorrer.
Nas ações coletivas ou individuais, a agência reguladora não integra o feito em litisconsórcio passivo quando
se discute a relação de consumo entre concessionária e consumidores, e não a regulamentação emanada do
ente regulador.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.469.087-AC, Rel. Min. Humberto Martins, j. em 18/8/2016 (Info 593).

Dano moral coletivo


O banco pode ser condenado a pagar reparação por dano moral coletivo, em ação civil pública, pelo fato de
oferecer, em sua agência, atendimento inadequado aos consumidores idosos, deficientes físicos e com
dificuldade de locomoção.
No caso concreto, o atendimento desses clientes era realizado somente no segundo andar da agência
bancária, cujo acesso se dava por três lances de escada.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.221.756-RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 2/2/2012.

Banco que tem muitos caixas eletrônicos inoperantes, com falta de numerário nos caixas e muito tempo de
espera nas filas é condenado a pagar indenização por danos morais coletivos
A inadequada prestação de serviços bancários, caracterizada pela reiterada existência de caixas eletrônicos
inoperantes, sobretudo por falta de numerário, e pelo consequente excesso de espera em filas por tempo
superior ao estabelecido em legislação municipal, é apta a caracterizar danos morais coletivos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1929288-TO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/02/2022 (Info 726).

É possível a condenação em danos morais coletivos de empreendimento que oferecia, de forma ilegal,
videobingos e caça-níqueis
O dano moral sofrido pela coletividade decorre do caráter altamente viciante de jogos de azar, passíveis de
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afetar o bem-estar do jogador e desestruturar o ambiente familiar.


A responsabilidade civil é objetiva, respondendo o réu, "independentemente da existência de culpa, pela
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reparação dos danos causados aos consumidores" (art. 12, caput, do CDC).

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O dano moral coletivo prescinde da comprovação de dor, de sofrimento e de abalo psicológico, pois tal
comprovação, embora possível na esfera individual, torna-se inaplicável quando se cuida de interesses difusos
e coletivos.
STJ. 2ª Turma. REsp 1464868/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/11/2016.

MP tem legitimidade para questionar informações em cadastro de inadimplentes


O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ACP com o objetivo de impedir que as empresas incluam
no cadastro de inadimplentes os consumidores em débito que estejam discutindo judicialmente a dívida.
Trata-se da defesa de direitos individuais homogêneos de consumidores, havendo interesse social (relevância
social) no caso.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.148.179-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/2/2013 (Info 516).

Responsabilidade por ausência de notificação de inscrição de correntista no CCF


Súmula 572-STJ: O Banco do Brasil, na condição de gestor do Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos
(CCF), não tem a responsabilidade de notificar previamente o devedor acerca da sua inscrição no aludido
cadastro, tampouco legitimidade passiva para as ações de reparação de danos fundadas na ausência de prévia
comunicação.

Súmula 359-STJ: Cabe ao órgão mantenedor do cadastro de proteção ao crédito a notificação do devedor
antes de proceder à inscrição.

Súmula 404-STJ: É dispensável o aviso de recebimento (AR) na carta de comunicação ao consumidor sobre a
negativação de seu nome em bancos de dados e cadastros.

Súmula 385-STJ: Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano
moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.

Súmula 323-STJ: A inscrição do nome do devedor pode ser mantida nos serviços de proteção ao crédito por
até o prazo máximo de cinco anos, independentemente da prescrição da execução.

Súmula 548-STJ: Incumbe ao credor a exclusão do registro da dívida em nome do devedor no cadastro de
inadimplentes no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e efetivo pagamento do débito.

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E PRIVADO

Desnecessidade de novo processo de extradição em caso de reingresso de extraditando foragido


Em caso de reingresso de extraditando foragido, não é necessária nova decisão jurisdicional acerca da entrega,
basta a emissão de ordem judicial.
STF. 2ª Turma. Ext 1225/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/11/2017 (Info 885).

Crime tributário, ausência de constituição definitiva e extradição


Se o estrangeiro está respondendo a ação penal por crime tributário no exterior, ele poderá ser extraditado
mesmo que ainda não tenha havido a constituição do crédito tributário no país requerente. O que se exige,
para o reconhecimento do pedido, é que o fato seja típico em ambos os países, não sendo necessário que o
308

Estado requerente siga as mesmas regras fazendárias existentes no Brasil.


STF. 2ª Turma. Ext 1222/República Federal da Alemanha, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/8/2013 (Info
716).
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Não é possível conceder a extradição se o crime está prescrito no Brasil

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O Governo da Itália pediu a extradição de nacional italiano que está no Brasil em virtude de ele ter sido
condenado por crimes de falência fraudulenta naquele país.
O STF negou o pedido já que houve a prescrição da pretensão executória da pena do referido delito segundo
a lei brasileira.
Em outras palavras, estando o crime prescrito, não é possível conceder a extradição por faltar o requisito da
dupla punibilidade (art. 77, VI, do Estatuto do Estrangeiro).
STF. 2ª Turma. Ext 1324/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).

Não se deve conceder a extradição se, na época do fato, a conduta imputada ao extraditando não era punida
como crime no Brasil
Não se deve conceder a extradição se, na época do fato, a conduta imputada ao extraditando não era punida
como crime no Brasil, ainda que, no momento do pedido de extradição, já exista lei tipificando como infração
penal. Isso porque seria uma ofensa à irretroatividade da lei penal brasileira.
Ex: extraditando financiou grupo terrorista em 2013; ocorre que a Lei de Terrorismo somente foi editada em
2016 (Lei nº 13.260/2016).
STF. 2ª Turma. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2019 (Info 946).

Não se deve conceder a extradição se a conduta do extraditando de financiar grupo terrorista que pretendia
tomar o poder caracteriza-se como crime político
Não se deve conceder a extradição se a conduta do extraditando de financiar grupo terrorista que pretendia
tomar o poder caracteriza-se como crime político, tendo em vista a vedação prevista no art. 5º, LII, da CF/88.
STF. 2ª Turma. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2019 (Info 946).

Não se deve conceder a extradição se o país requerente vem enfrentando um quadro de instabilidade
política
Não se deve conceder a extradição se o país requerente vem enfrentando um quadro de instabilidade política,
tendo ocorrido a demissão de juízes e a prisão de opositores do governo. Isso porque, neste caso, haveria o
risco de o extraditando ser submetido a um tribunal ou juízo de exceção (art. 82, VIII, da Lei nº 13.445/2017).
STF. 2ª Turma. Ext 1578/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 6/8/2019 (Info 946).

O fato de o Estado requerente ter qualificado os delitos do extraditando como de lesa-humanidade não
torna tais crimes imprescritíveis no Brasil
O Brasil não deverá deferir pedido de extradição se o delito praticado pelo extraditando estiver prescrito
segundo as leis brasileiras, considerando que deverá ser respeitado o requisito da dupla punibilidade (art. 77,
VI, do Estatuto do Estrangeiro).
O fato de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados ao extraditando como de lesa-humanidade
não torna tais crimes imprescritíveis no Brasil. Isso porque:
1) o Brasil não subscreveu a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra
a Humanidade, nem aderiu a ela;
2) apenas a lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibilidade de crimes no Brasil.
STF. Plenário. Ext 1362/DF, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, julgado em 9/11/2016
(Info 846).

Extradição supletiva
A pessoa que foi extraditada somente pode ser julgada ou cumprir pena no Brasil pelo(s) crime(s) contido(s)
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no pedido de extradição. Se o extraditando havia cometido outros crimes antes do pedido de extradição, em
regra, ele não poderá responder por tais delitos se não constaram expressamente no pedido de extradição. A
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isso se dá o nome de “princípio da especialidade”. Ex: o Brasil pediu a extradição mencionando o crime 1; logo,
em regra, o réu somente poderá responder por este delito; como o crime 2 tinha sido praticado antes do

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pedido de extradição, o governo brasileiro deveria ter mencionado expressamente não apenas o crime 1,
como também o 2.
Para que o réu responda pelo crime 2, o governo brasileiro deverá formular ao Estado estrangeiro um pedido
de extensão da autorização da extradição. Isso é chamado de “extradição supletiva”.
Assim, caso seja oferecida denúncia pelo Ministério Público por fato anterior e não contido na solicitação de
extradição da pessoa entregue, deve a ação penal correspondente ser suspensa até que seja julgado pedido
de extradição supletiva.
STJ. 5ª Turma. RHC 45.569-MT, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 4/8/2015 (Info 566).

Procedimento simplificado no caso de o extraditando concordar com o pedido


Em regra, o simples fato de o extraditando estar de acordo com o pedido extradicional e de declarar que
deseja retornar ao Estado requerente a fim de se submeter ao processo criminal naquele País não exonera
(não exime) o STF do dever de efetuar o controle da legalidade sobre a postulação formulada pelo Estado
requerente.
No entanto, é possível que ocorra uma peculiaridade. É possível que o tratado que rege a extradição entre o
Brasil e o Estado estrangeiro preveja um procedimento simplificado no caso de o extraditando concordar com
o pedido. É o caso, por exemplo, da “Convenção de Extradição entre os Estados Membros da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa”. Este tratado internacional estabeleceu regime simplificado de extradição, que
autoriza a entrega imediata do extraditando às autoridades competentes do Estado requerente, sempre que
o súdito estrangeiro manifestar, de forma livre e de modo voluntário e inequívoco, o seu desejo de ser
extraditado. Nesta hipótese, a tarefa do STF será a de homologar (ou não) a declaração do extraditando de
que concorda com a extradição.
STF. 2ª Turma. Ext 1476/DF, rel. Min. Celso de Mello, julgado em 9/5/2017 (Info 864).

Veja como o tema é tratado pela Lei nº 13.445/2017:


Art. 87. O extraditando poderá entregar-se voluntariamente ao Estado requerente, desde que o declare
expressamente, esteja assistido por advogado e seja advertido de que tem direito ao processo judicial de
extradição e à proteção que tal direito encerra, caso em que o pedido será decidido pelo Supremo Tribunal
Federal.

Os fatos incriminados que sejam investigados, anteriores a 24/12/2019, impõem, para fins de extradição, o
compromisso do Estado estrangeiro em estabelecer o cumprimento de pena máxima de 30 anos para o
extraditando
O art. 96, III, da Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017) prevê que, para que o Brasil conceda a extradição, o país
que está pedindo a medida deverá se comprometer, formalmente, em não permitir que o extraditando
cumpra pena por tempo superior a 30 anos.
Com o advento da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime), que modificou o art. 75 do CP, esse prazo foi
ampliado para 40 anos. Vale ressaltar, contudo, que esse novo limite temporal de 40 anos se aplica somente
para os crimes imputados ao extraditando praticados após a entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019.
STF. 1ª Turma. Ext 1652/Governo do Chile, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 19/10/2021 (Info 1035).

Poder Judiciário não pode examinar conveniência e oportunidade do ato de expulsão


O Poder Judiciário poderá avaliar a decisão de expulsão?
SIM, é possível. No entanto, como o ato de expulsão é considerado discricionário, somente cabe ao Poder
Judiciário analisar se ele foi praticado em conformidade ou não com a legislação em vigor (controle de
legalidade), não podendo examinar a sua conveniência e oportunidade, ou seja, não poderá realizar o controle
310

sobre o mérito da decisão.


Assim, o ato administrativo de expulsão, manifestação da soberania do país, é de competência privativa do
Poder Executivo, competindo ao Judiciário apenas a verificação da higidez do procedimento por meio da
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observância das formalidades legais.


STJ. 1ª Seção. HC 239.329/DF, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 28/05/2014.

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STJ. 1ª Seção. HC 333.902-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 14/10/2015 (Info 571).

Estrangeiro que tenha filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência não pode ser expulso
mesmo que o nascimento tenha ocorrido após os fatos que ensejaram a expulsão
Para a configuração das hipóteses legais de inexpulsabilidade não é exigível a contemporaneidade dessas
mesmas causas em relação aos fatos que deram ensejo ao ato expulsório.
Caso concreto: portaria de expulsão do estrangeiro foi publicada em 2017; enquanto aguardava a efetivação
da expulsão, esse estrangeiro teve um filho brasileiro, nascido em 2019; a Lei de Migração (Lei nº
13.445/2017), em seu art. 55, II, “a”, proíbe a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja
sob a sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva; muito embora a portaria de expulsão tenha sido
editada antes do nascimento do filho brasileiro, o certo é que não se pode exigir para a configuração das
hipóteses legais de inexpulsabilidade a contemporaneidade dessas mesmas causas em relação aos fatos que
deram ensejo ao ato expulsório.
STJ. 1ª Seção. HC 452.975-DF, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 12/02/2020 (Info 667).

Imunidade de jurisdição e ONU/PNUD


A Organização das Nações Unidas — ONU e sua agência Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
— PNUD possuem imunidade de jurisdição e de execução, abrangendo, inclusive, as causas trabalhistas.
STF. Plenário. RE 597368/MT, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 15/5/2013; RE
578543/MT, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 15/5/2013 (Info 706).

Homologação de sentença estrangeira e confisco de imóvel situado no Brasil


É possível a homologação de sentença penal estrangeira que determine o perdimento de imóvel situado no
Brasil em razão de o bem ser produto do crime de lavagem de dinheiro.
Ex: cidadão finlandês foi condenado em seu país pela prática de lavagem de dinheiro. Na sentença, determinou-se
o perdimento de imóvel situado no Brasil. Esta sentença estrangeira pode ser homologada pelo STJ.
Não há ofensa ao art. 23, I, do CPC/2015, pois a sentença estrangeira não tratou especificamente sobre a
situação dos bens imóveis, sobre a sua titularidade, mas sim sobre os efeitos civis de uma condenação penal,
determinando o perdimento de bens que foram objeto de crime de lavagem de capitais.
STJ. Corte Especial. SEC 10.612-FI, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 18/5/2016 (Info 586).

A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente à falta de interesse processual na homologação


de provimento estrangeiro
A ausência de jurisdição brasileira conduz necessariamente à falta de interesse processual na homologação
de provimento estrangeiro.
STJ. Corte Especial. SEC 8.542-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 29/11/2017 (Info 621).

Não cabe renúncia em processo de homologação de sentença estrangeira


É inadmissível a renúncia em sede de homologação de provimento estrangeiro.
STJ. Corte Especial. SEC 8.542-EX, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. em 29/11/2017 (Info 621).

Oitiva de estrangeiro, preso por ordem do STF em processo de extradição


A oitiva de estrangeiro, preso por ordem do STF em processo de extradição, enquadra-se como providência a
ser cumprida por meio de auxílio direto.
O pedido de cooperação jurídica internacional, na modalidade de auxílio direto, possui natureza distinta da
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carta rogatória.
Formulado pedido de assistência direta pelo Ministério Público português ao Parquet brasileiro, com base em
tratado internacional de mútua cooperação em matéria penal, firmado entre Brasil e Portugal – Decreto
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1.320/94 –, o cumprimento em território pátrio depende de mero juízo de delibação, sendo desnecessária a
atuação homologatória em exequatur pelo STJ.
STF. 1ª Turma. Pet 5946/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em
16/8/2016 (Info 835).

Condição para expulsão de refugiado


A expulsão de estrangeiro que ostente a condição de refugiado não pode ocorrer sem a regular perda dessa
condição. Assim, mesmo que o refugiado seja condenado com trânsito em julgado pela prática de crime grave,
antes de ele ser expulso deverá ser instaurado devido processo legal, com contraditório e ampla defesa, para
se decretar a perda da condição de refugiado, nos termos do art. 39, III, da Lei nº 9.474/97. Somente após
essa providência, ele poderá ser expulso.
STJ. 1ª Seção. HC 333.902-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 14/10/2015 (Info 571).

Lei aplicável para reger a sucessão causa mortis e bem imóvel situado no exterior
Aplica-se a lei brasileira para reger a sucessão de bem imóvel situado no exterior? A Justiça brasileira é
competente para julgar inventário e partilha de bem imóvel localizado em outro país?
NÃO. Ainda que o domicílio do autor da herança seja o Brasil, aplica-se a lei estrangeira da situação da coisa
(e não a lei brasileira) na sucessão de bem imóvel situado no exterior.
O art. 10 da LINDB afirma que a lei do domicílio do autor da herança regulará a sucessão por morte. Ocorre
que essa regra não é absoluta e deverá ser interpretada sistematicamente, ou seja, em conjunto com os
demais dispositivos que regulam o tema, em especial o art. 8º, caput, e § 1º do art. 12, ambos da LINDB e o
art. 89 do CPC 1973 (art. 23 do CPC 2015).
Desse modo, esses dispositivos revelam que a lei brasileira só se aplica para os bens situados no Brasil e
autoridade judiciária brasileira somente poderá fazer o inventário dos bens imóveis aqui localizados.
Mas no caso em que há um bem imóvel no Brasil e outro no exterior, como fazer?
Deverão ser abertos dois inventários: um aqui no Brasil para reger o bem situado em nosso território e outro
no exterior para partilhar o imóvel de lá.
STJ. 3ª Turma. Resp 1.362.400-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, j. em 28/4/2015 (Info 563).

Súmula 1-STF: É vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasileira, ou que tenha filho brasileiro,
dependente da economia paterna.

O tema é agora tratado pelo art. 55 da Lei nº 13.445/2017:


Art. 55. Não se procederá à expulsão quando:
(...)
II – o expulsando:
a) tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa
brasileira sob sua tutela;
b) tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou
legalmente;

Súmula 421-STF: Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditado casado com brasileira ou ter
filho brasileiro.

Súmula 420-STF: Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.
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Com a entrada em vigor do CPC/2015, tornou-se necessário que a sentença estrangeira esteja eficaz no país
de origem para sua homologação no Brasil.
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O art. 963, III, do CPC/2015, não mais exige que a decisão judicial que se pretende homologar tenha transitado
em julgado, mas apenas que ela seja eficaz em seu país de origem, tendo sido tacitamente revogado o art.
216-D, III, do RISTJ.
STJ. Corte Especial. SEC 14.812-EX, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/05/2018 (Info 626).

Os atos ilícitos praticados por Estados estrangeiros em violação a direitos humanos não gozam de
imunidade de jurisdição
A imunidade de jurisdição de Estado estrangeiro não alcança atos de império ofensivos ao direito internacional
da pessoa humana praticados no território brasileiro, tais como aqueles que resultem na morte de civis em
período de guerra. Tese fixada pelo STF: “Os atos ilícitos praticados por Estados estrangeiros em violação a
direitos humanos não gozam de imunidade de jurisdição”.
STF. Plenário. ARE 954858/RJ, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 20/8/2021 (Repercussão Geral – Tema 944)
(Info 1026).
STJ. 4ª Turma. RO 109-RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 07/06/2022 (Info 740).

HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA


Não é possível a homologação de sentença estrangeira se ela se mostra contrária ao conteúdo de decisão
judicial proferida no Brasil
A mera pendência de ação judicial no Brasil não impede a homologação da sentença estrangeira, mas a
existência de decisão judicial proferida no Brasil contrária ao conteúdo da sentença estrangeira impede a sua
homologação.
STJ. Corte Especial. AgInt na SEC 6362-EX, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 01/06/2022 (Info 739).

Em sede de homologação de decisão estrangeira, aplica-se a norma do § 8º do art. 85 do CPC, fixando-se os


honorários advocatícios por equidade
Não se aplica o § 2º do art. 85 do CPC, mas sim o § 8º (apreciação equitativa) porque o procedimento de
homologação de sentença estrangeira não tem natureza condenatória ou proveito econômico imediato.
O mérito da decisão homologada não é objeto de deliberação no STJ. Logo, não faz sentido que o Tribunal
utilize o proveito econômico ou o valor da causa como parâmetros para o cálculo dos honorários advocatícios
com base nos percentuais do § 2º do art. 85.
Vale ressaltar, no entanto, que, se o pedido de homologação de decisão estrangeira tiver por objeto demanda
de cunho patrimonial, o valor da causa julgada no exterior deverá ser usado como um dos critérios para
embasar a fixação dos honorários de sucumbência por equidade, conforme o § 8º do art. 85 do CPC.
Assim, no momento de fazer a apreciação equitativa, o STJ deverá levar em consideração também o valor da
causa como um dos critérios para definir a quantia a ser paga a título de honorários advocatícios
sucumbenciais, quando a causa originária, tratar de relações patrimoniais.
STJ. Corte Especial. HDE 1809/EX, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/04/2021 (Info 693).

É proibida a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja sob a sua guarda ou dependência
socioafetiva, o que pode ser comprovado por uma declaração da mãe da criança
É inviável a expulsão de estrangeiro visitante ou migrante do território nacional quando comprovado tratar-
se de pai de criança brasileira que se encontre sob sua dependência socioafetiva.
Vale ressaltar que, no caso concreto, a única prova trazida aos autos foi uma declaração fornecida pela
genitora da criança, na qual ela afirma que o paciente, em vias de ser expulso do Brasil, sempre assistiu, afetiva
e materialmente, o infante.
STJ. 1ª Seção. HC 666247-DF, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 10/11/2021 (Info 719).
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É proibida a expulsão caso o estrangeiro tenha filho brasileiro e ele esteja sob a sua guarda ou dependência
econômica ou socioafetiva, mesmo que isso tenha ocorrido após o fato ensejador do ato expulsório
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É inadmissível a expulsão de estrangeiro que possua filho brasileiro, dependente socioafetivo ou econômico,
mesmo que o crime ensejador da expulsão tenha ocorrido em momento anterior ao reconhecimento ou
adoção do filho. O Estado deve garantir a proteção especial à família e a proteção integral às crianças e aos
adolescentes, sendo o convívio familiar uma das mais expressivas projeções dos direitos sociais.
Além disso, a dependência econômica não é o único fator a impedir a expulsão de estrangeiros com filhos
brasileiros. A dependência socioafetiva também constitui fato juridicamente relevante apto a obstar o
processo expulsório. Nesse sentido, o art. 55, II, “a”, da Lei nº 13.445/2017 expressamente prevê que “Não se
procederá à expulsão quando o expulsando tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência
econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela”.
Evidencia-se, portanto, que o próprio legislador infraconstitucional erigiu a socioafetividade à condição de
causa impeditiva da expulsão.
STF. Plenário. RHC 123891 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23/2/2021 (Info 1007).

Se a vítima do sequestro não foi encontrada, o prazo prescricional não começou a correr
O crime de sequestro, por ser permanente, não prescreve enquanto não for encontrada a pessoa ou o corpo.
Assim, se o Estado requerer a extradição de determinado indivíduo pelo crime de sequestro, se a vítima ou o
corpo nunca foi encontrado, não terá começado a correr o prazo prescricional.
STF. 1ª Turma.Ext 1270/DF, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em
12/12/2017 (Info 888).

NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA


Aqui, infelizmente, eu não posso ajudar.

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