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JURISPRUDÊNCIA EM TESE

PROCESSO CIVIL
ESPECIAL
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO

EDIÇÃO N. 168: FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO PELO PODER PÚBLICO – I

1) O Ministério Público é parte legítima para pleitear tratamento médico ou entrega de medicamentos
nas demandas de saúde propostas contra os entes federativos, mesmo quando se tratar de feitos
contendo beneficiários individualizados, porque se refere a direitos individuais indisponíveis, na forma
do art. 1º da Lei n. 8.625/1993. (Recurso Repetitivo – Tema 766)

2) É possível submeter ao rito dos Juizados Especiais Federais as causas que envolvem fornecimento de
medicamentos/tratamento médico, cujo valor seja de até 60 salários mínimos, ajuizadas pelo Ministério
Público ou pela Defensoria Pública em favor de pessoa determinada.
Mas e a vedação prevista no art. 3º, § 1º, I, da Lei nº 10.259/2001?
Art. 3º (…). § 1º Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas: I - referidas no art.
109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de
divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre
direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;
O STJ entende que a exceção à competência dos Juizados Especiais Federais prevista no art. 3º, § 1º, I, da
Lei nº 10.259/2001 não se aplica se o Ministério Público ou a Defensoria Pública ajuízam ação civil pública
em favor de pessoa determinada porque nesse caso estão atuando na condição de substituto processual.

3) É cabível a atribuição de efeitos erga omnes à decisão de procedência proferida em ACP relativa ao
fornecimento de medicamentos, incumbindo a cada titular do direito o ônus de comprovar o seu
enquadramento na hipótese prevista pela sentença.
Exemplo: o MP ajuizou ACP para obrigar o Poder Público a fornecer os medicamentos Janumet 50/850mg
a todos os pacientes portadores de Diabetes Mellitus Tipo 2, que comprovem a adequação do referido
medicamento à sua situação, por meio de receituário médico.

4) O chamamento ao processo da União com base no art. 130, III, do CPC (devedores solidários), nas
demandas propostas contra os demais entes federativos responsáveis para o fornecimento de
medicamentos ou prestação de serviços de saúde, não é impositivo, mostrando-se inadequado opor
obstáculo inútil à garantia fundamental do cidadão à saúde. (Recurso Repetitivo - Tema 686).
Argumentos principais: 1) este art. 130, III, é típico de obrigações solidárias de pagar quantia, o que não é o
caso, uma vez que as ações para fornecimento de medicamento são para entrega de coisa certa; 2) o
chamamento revela-se medida protelatória, que não traz nenhuma utilidade ao processo.
5) A responsabilidade dos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), nas ações
que buscam o fornecimento de medicamentos, é solidária (art. 23, II, CF), podendo figurar no polo
passivo qualquer um deles em conjunto ou isoladamente.
OBS. 1: Magistrado pode direcionar o cumprimento e determinar o ressarcimento
Os entes da Federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente responsáveis nas
demandas prestacionais na área da saúde e, diante dos critérios constitucionais de descentralização e
hierarquização, compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição
de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.
STF. Plenário. RE 855178 ED/SE, Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2019 (Info 941).

OBS. 2: Exceção no caso do fornecimento de medicamentos sem registro na ANVISA (UNIÃO)


As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na ANVISA deverão
necessariamente ser propostas em face da União.
STF. Plenário. RE 657718/MG, Roberto Barroso, julgado em 22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).
MAS CUIDADO: A parte que pleiteia o fornecimento de medicamento não registrado na ANVISA não está
obrigada a ajuizar apenas contra a União. O que o STF decidiu é que a União obrigatoriamente deverá estar
no polo passivo. Ou seja, há obrigatoriedade de a União figurar no polo passivo, mas não uma
exclusividade.

OBS. 3: E se o medicamento tiver registro na ANVISA mas não tiver nos protocolos do SUS?
STJ: É prescindível a inclusão da União no polo passivo (2ª Turma. RMS 68602-GO, 26/04/2022 – Info 734).
STF: É obrigatória a inclusão da União e remessa à JF (1ª Turma. RE 1286407, 26/4/2022 – Info 1052).

O STF tem decidido que a UNIÃO deve compor o polo passivo OBRIGATORIAMENTE nos seguintes casos:
a) Medicamento não incorporado no SUS.
b) Medicamento incorporado no SUS com distribuição/financiamento sob a responsabilidade exclusiva da
UNIÃO (ex: altos custos dos medicamentos ou tratamentos oncológicos).
c) Medicamentos não registrados na ANVISA: UNIÃO no polo passivo (Tema 500).

Em demandas relativas a direito à saúde, o juiz pode determinar a inclusão da União no polo passivo da
demanda se a parte requerente optou pela não inclusão?
• STJ: NÃO. É incabível ao juiz estadual assim proceder se a parte requerente optar pela não inclusão, ante
a solidariedade dos entes federados. (CC 182080-SC. 1ª Seção. 22/06/2022).
• STF: SIM. 1ª Turma. RE 1286407, julgado em 26/4/2022 (Info 1052).

6) Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe ao Juiz adotar medidas eficazes à efetivação de


suas decisões, podendo, se necessário, determinar até mesmo o sequestro (ou bloqueio) de valores do
devedor (bloqueio), segundo o seu prudente arbítrio, e sempre com adequada fundamentação. (Recurso
Repetitivo - Tema 84)
OBS. 1: Os fundamentos são o art. 497 + 536, § 1º, todos do CPC.
OBS. 2: Mas os bens públicos não são impenhoráveis? Isso não seria uma forma de penhora de bens
públicos? Ademais, não haveria uma quebra na regra dos precatórios?
SIM. No entanto, entendeu-se que o direito à saúde, garantido constitucionalmente (arts. 6º e 196),
deveria prevalecer sobre princípios de Direito Financeiro ou Administrativo.

7) É possível conceder a antecipação dos efeitos da tutela contra a Fazenda Pública para obrigá-la ao
fornecimento de medicamento.
É possível a concessão de antecipação dos efeitos da tutela contra a Fazenda Pública para obrigá-la a
fornecer medicamento a cidadão que não consegue ter acesso, com dignidade, a tratamento que lhe
assegure o direito à vida, podendo, inclusive, ser fixada multa cominatória para tal fim, ou até mesmo
proceder-se a bloqueio de verbas públicas. (STJ. 2ª Seção. AgRg no REsp 1291883/PI).

8) Possibilidade de imposição de multa diária (astreintes) a ente público, para compeli-lo a fornecer
medicamento à pessoa desprovida de recursos financeiros. (TEMA 98).
O direito à saúde é um direito-meio que assegura o bem maior: a vida.
Outro fundamento: art. 537, CPC.

9) O valor da multa cominatória imposta em razão do descumprimento da obrigação de fornecer


tratamento e medicamentos adequados ao portador de doença grave deve ser revertido em favor do
credor independentemente do recebimento de perdas e danos.

10) É possível o reconhecimento do direito de sucessores ao recebimento de multa diária imposta em


demandas cujo objetivo é a efetivação do direito à saúde, pois referido valor não se reveste da mesma
natureza personalíssima que possui a pretensão principal, tratando-se de crédito patrimonial, portanto,
transmissível aos herdeiros.
TEMA CORRELATO: Súmula 642-STJ: O direito à indenização por danos morais transmite-se com o
falecimento do titular, possuindo os herdeiros da vítima legitimidade ativa para ajuizar ou prosseguir a ação
indenizatória.

EDIÇÃO N. 169: FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO PELO PODER PÚBLICO - II


1) É possível o fornecimento de medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS mediante
protocolos clínicos, quando comprovada a imprescindibilidade do tratamento prescrito, nos processos
iniciados antes de 4/5/2018.
2) A concessão dos medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS exige a presença
cumulativa dos seguintes requisitos (Recurso Repetitivo - Tema 106):
i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado expedido por médico que
assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia,
para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;
ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do medicamento prescrito;
iii) existência de registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados pela agência.

OBS. 1: Modulação dos efeitos:


a) Processos distribuídos na 1ª instância a partir de 04.05.18: aplica-se os três requisitos cumulativos.
b) Processos distribuídos na 1ª instância antes de 04.05.18: exige-se apenas a imprescindibilidade do med.

OBS. 2: não se pode admitir que regras burocráticas, previstas em portarias ou normas de inferior
hierarquia, prevaleçam sobre direitos fundamentais (STJ. AgInt no AREsp 405.126/DF).

OBS. 3: apontamentos sobre os requisitos


Requisito 1) O médico pode ser público ou particular, não precisa ser do SUS.
Requisito 2) Não é preciso demonstrar estado de pobreza, mas apenas insuficiência de recursos.
Requisito 3) Esse foi flexibilizado pelo STF (ver abaixo).
“Observados os usos autorizados pela agência”: permite o uso de medicamentos off label, se autorizados.
• Regra: não é possível que o paciente exija do poder público medicamento para uso off-label;
• Exceção: se esse uso fora da bula (off-label) tenha sido autorizado pela ANVISA.

# Plano de saúde:
• SUS: em regra, o poder público não é obrigado a fornecer medicamento off label (salvo autorização da
Anvisa).
• Saúde suplementar: em regra, o plano de saúde não pode negar tratamento prescrito pelo médico,
mesmo sendo off label.

OBS. 4: TESES julgadas pelo STF sobre medicamentos não registrados na ANVISA (RESUMO):

1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.


2. Regra: a ausência de registro na Anvisa impede o fornecimento de medicamento por decisão judicial.
3. Exceção: em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido + três requisitos:
a) a existência de pedido de registro no BR (salvo medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras);
b) a existência de registro em renomadas agências de regulação no exterior; e
c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.
4. As ações que demandem medicamentos sem registro na Anvisa devem ser propostas em face da União.
STF. Plenário. RE 657718/MG, Roberto Barroso, julgado em 22/5/2019 (repercussão geral) (Info 941).

1. Importação autorizada pela ANVISA


2. Comprovada incapacidade econômica do paciente
3. Imprescindibilidade do tratamento e inexistência de outro similar na lista do SUS
STF. Plenário. RE 1165959/SP, Moraes, julgado em 18/6/2021 (Repercussão Geral – Tema 1161).

3) Nas ações em que se busca o fornecimento de medicamentos, a escolha do fármaco compete a


médico habilitado e conhecedor do quadro clínico do paciente, podendo ser tanto um profissional
particular quanto um da rede pública.

4) A substituição ou complementação do medicamento pleiteado na inicial não configura inovação do


pedido ou da causa de pedir, mas mera adequação do tratamento para a cura da enfermidade do
paciente.
7) Não há ofensa à coisa julgada quando o autor pleiteia a substituição ou o complemento de
medicamento diverso do requerido na petição inicial, desde que relativo à mesma enfermidade, para fins
de mera adequação do tratamento, em atenção aos princípios da celeridade processual e da
instrumentalidade das formas.
Ex: MP ajuíza ação para que a Administração forneça o medicamento X. Depois, o MP requereu a troca do
fármaco para o medicamento Y, pois os médicos responsáveis modificaram a prescrição.

5) Não incorre em condenação genérica a decisão que determina ao Estado o fornecimento de


medicamento especificado na inicial, bem como de outros que se mostrem necessários no decorrer do
tratamento da doença objeto da ação, desde que devidamente comprovada a necessidade.

6) Não há julgamento extra petita no reconhecimento do direito de receber o medicamento reivindicado


conforme prescrito, considerando necessária a apresentação de receita médica como forma de
fiscalização, sobretudo em se tratando de sentença sujeita a reexame necessário.
Ex: João impetra MS pedindo medicamento X (aplicação de injeção a cada 6 semanas) ao Município. O juiz
julga procedente. Houve remessa necessária. O TJ reformou parcialmente a sentença apenas para
determinar que o impetrante, para receber o medicamento, deverá apresentar receita médica atualizada,
que ficará retida pelo órgão responsável. O STJ entendeu que esse julgamento do TJ não é extrapetita.
8) Nas ações em que se busca o fornecimento (contínuo) de medicamentos de forma gratuita, os
honorários sucumbenciais podem ser arbitrados por apreciação equitativa, tendo em vista que o
proveito econômico, em regra, é inestimável (= direito à saúde).
Ex: Pedro ajuizou ação contra o Município pedindo gratuita e continuamente um medicamento de R$ 200
mil. O valor da causa foi atribuído em R$ 200 mil. O juiz julgou procedente e condenou o Ente em
honorários de 10% com base no art. 85, § 3º, I, CPC. O juiz errou. Nas ações para fornecimento de
medicação gratuita e de forma contínua pelo Estado, para fins de tratamento de saúde, os honorários de
sucumbência deverão ser arbitrados por apreciação equitativa, tendo em vista que o proveito econômico
obtido, em regra, é inestimável, por se tratar de tutela da saúde.

9) Extinta a demanda que objetivava o fornecimento de medicamentos, sem resolução do mérito, em


decorrência do falecimento da parte autora, deve o ente estatal responder pelo pagamento das verbas
sucumbenciais, em razão do princípio da causalidade.

10) Nas ações em que se busca o fornecimento de medicamentos, a solidariedade reconhecida em um


dos pedidos não se estende aos ônus da sucumbência, pois a regra da proporcionalidade por despesas e
honorários apenas será afastada quando decidida expressamente na sentença.
Polêmica: julgado proferido sob a égide do CPC/73.
O CPC/2015, em seu art. 87, § 2º, diz que, se o juiz, na sentença, não fixar a proporcionalidade do
pagamento das despesas e honorários, deveremos considerar que essa obrigação é solidária. Assim, esse
novo § 2º do art. 87 – que não existia no CPC/1973 – parece contrariar o entendimento do STJ.

EXECUÇÃO FISCAL

EDIÇÃO N. 90:
DOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, ECONÔMICA E CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO – I
1) O expressivo valor do tributo sonegado pode ser considerado fundamento idôneo para amparar a
majoração da pena prevista no in

MANDADO DE SEGURANÇA

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JUIZADOS ESPECIAIS

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DIREITO COLETIVO

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