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MERITÍSSIMO JUÍZO DA 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE NOVA IGUAÇU

Processo nº: 0044057-18.2022.8.19.0038

MARCOS MORAES, já qualificado nos autos da Ação de


Obrigação de Fazer, em face do Estado do Rio de Janeiro e do Município de
Nova Iguaçu, vem, pela Defensora Pública em atuação junto a esse órgão,
apresentar RÉPLICA, em relação às contestações de fls. 62/69 e 87/94, expondo
e requerendo o que se segue:

Cuida-se de ação de obrigação de fazer através da qual pretende


a autora sejam os réus condenados a realizarem os Procedimentos Cirúrgicos
(com urgência) de Ressecção Transuretral de Próstata (RTU de próstata),
para tratamento de Hiperplasia. O autor foi inserido no sistema de regulação
(SISREG) em 18/04/2022 com classificação de risco vermelho, ou seja, “COM
URGÊNCIA”, com o prazo para regulação de 30 dias, porém até a presente
data não fora realizada.

DA SUPOSTA PERDA DO OBJETO

Alega o Estado em sua contestação, que o pleito ora aqui


acostado se depara em uma ordem cronológica estabelecida pelos sistemas de
regulação (SISREG) buscando obter decisão judicial que favoreça a parte autora
em detrimento de outros cidadãos, no entanto, cabe aqui destacar o caráter de
urgência da demanda pois faz mais de 6 meses que o paciente vem fazendo uso
de sonda pelo fato de não conseguir urinar.

O Município alega perda do objeto sob o argumento de que a


tutela foi cumprida vez que realizou procedimentos no Hospital Geral de Nova
Iguaçu e saiu à revelia no dia 20/05/2019.
Compete dizer que não há perda do objeto, tendo em vista que
não foi realizada a cirurgia requerida na inicial em 26/05/2022.

DA LEGALIDADE DA INTERNAÇÃO EM UNIDADE PRIVADA DE SAÚDE

O Estado sustenta a ilegalidade do custeio da internação do autor


em hospital particular, com o custeio dos réus, caso não haja hospitais na rede
pública capazes de realizar o tratamento.

Com a devida vênia ao demandado, a argumentação por ele


aduzida vem de encontro ao direito do autor, pois se nem o Município e nem o
Estado tiverem a capacidade de realizar a cirurgia em um dos seus hospitais,
patente é o direito do demandante em ter custeada a internação vital em um
hospital particular pelos entes federativos referidos.

Mais adiante, a peça de bloqueio do Estado cita artigos


infraconstitucionais, porém olvida a supremacia normativa da constituição,
mormente quando se está sub judice o direito à saúde e a dignidade da pessoa
humana.

Ademais, a lei referida pelo Estado é descumprida pelo próprio,


quando falha in concreto em cumpri-la, e no presente processo estamos diante de
mais um caso em que o poder público fracassa em uma das suas atividades
administrativas positivas mais importante: a prestação de serviço de saúde para
os administrados.

O Estado, em contestação, nos traz uma decisão referente a uma


moléstia de catarata

Portanto, se o Estado falha em seu mister, é de sua


responsabilidade pagar o tratamento necessário à sobrevivência de um ser
humano, mesmo se realizada em um hospital particular.

Em outro momento da contestação, afirma o Estado só pode haver


complementação da prestação de serviço de saúde por hospitais particulares
quando conveniados com a rede pública e, nesta linha de raciocínio, não pode o
autor escolher o hospital privado responsável pelo tratamento.
Primeiramente, o autor não escolheu nenhum hospital privado para a
realização do tratamento, mas pleiteia-se sua realização, ou pelos entes
federativos que integram o polo passivo da demanda, ou por um hospital da rede
privada, e os custos da cirurgia a serem custeados por ambos os réus.

Secundariamente, a lei infraconstitucional não tem o condão de


impedir a realização de normas constitucionais plenas, como o direito a saúde e a
proteção da dignidade da pessoa humana.

DO CABIMENTO DA FIXAÇÃO DE ASTREINTES

Alega o Estado a impossibilidade de fixação de astreintes em seu


desfavor. Não há nada no ordenamento jurídico que impeça a fixação de multa
diária contra os entes públicos, na hipótese de descumprimento de obrigação de
fazer, nos termos do art. 536, §1º do CPC, sendo relevante notar que no Estado
Democrático de Direito, todos, inclusive os entes federativos, devem obediência à
lei.

A fixação de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer


por parte de ente público é largamente utilizada e aceita pela jurisprudência.

Cumpre consignar, ainda, que o Juízo concedeu prazo razoável


para o cumprimento da obrigação.

Destaca-se que o autor se encontra em uma situação de alto risco


onde envolve órgãos vitais bem como a iminência de agravar seu quadro de
diagnóstico numa eventual recusa ou até mesmo a demora dos procedimentos
cirúrgicos.

Outrossim, fica configurado o descaso com a saúde do cidadão


indo de contra aos ditames constitucionais, arts. 195 inciso II , 196 e 198 inciso I e
II todos da Constituição Federal, já que até a presente data segundo o parecer do
NAT não existe nem se quer o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêutica do
paciente.

Nos traz também o referido Parecer que os pacientes que sofrem


por esta moléstia têm bastante dores no dia a dia interferindo diretamente nas
atividades qualquer que seja em sincronismo na perturbação do sono.
Diante do exposto, requer a Defensoria Pública a procedência
do pedido autoral.

Nova Iguaçu, 06 de setembro de 2022.

Natalie Bianchi Garcia


Defensora Pública
Mat. nº. 896777-0

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