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1º OFÍCIO GERAL – Boa Vista/RR

AO JUÍZO DA 3ª VARA FEDERAL DE JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA SJRR

Autos nº: 1002744-29.2019.4.01.4200


Autora: Maribel Montes Canas
Réus: União Federal, Estado de Roraima e Município de Boa Vista/RR
PAJ nº. 2019/005-01483

MARIBEL MONTES CANAS, já devidamente qualificada nos autos do


processo em epígrafe, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, assistida
pela DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO, por intermédio da Defensora Pública Federal
signatária, apresentar

CONTRARRAZÕES AO RECURSO DE APELAÇÃO

interposto pela UNIÃO em ID 498539867, e pelo MUNICÍPIO DE BOA


VISTA em ID 492915346. Nesse sentido, requer que sejam recebidas e processadas as
presentes contrarrazões e, ao final, que sejam encaminhadas à Egrégio Tribunal Regional
Federal da 1º Região.

Termos em que, pede deferimento.


Boa Vista/RR, 06 de maio de 2021.

RAQUEL GIOVANINI DE MOURA


Defensora Pública Federal

NATHÁLIA KAROLINE GOMES RODRIGUES


Estagiária da Defensoria Pública da União

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EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 1ª REGIÃO

RECORRENTE: UNIÃO FEDERAL, ESTADO DE RORAIMA E MUNICÍPIO DE BOA


VISTA/RR
RECORRIDO: MARIBEL MONTES CANAS
PROCESSO N°: 1002744-29.2019.4.01.4200
ORIGEM: 3ª VARA FEDERAL DE JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA SJRR

EGRÉGIO TRIBUNAL,
COLENDA CÂMARA,
ÍNCLITOS JULGADORES.

CONTRARRAZÕES À APELAÇÃO

I. SÍNTESE DO OCORRIDO

Por meio da presente demanda, a recorrida pleiteou em desfavor da União,


do Estado de Roraima e do Município de Boa Vista o fornecimento imediato do exame de
eletroneuromiografia.

Sentença julgando procedente o pedido autoral para condenar a parte ré a


fornecer à autora, de forma coordenada e solidária, julgou procedente a demanda,
resolvendo o mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC, para condenar o ESTADO DE
RORAIMA na obrigação – solidária com benefício de ordem em favor da UNIÃO e o
MUNICÍPIO DE BOA VISTA/RR – de providenciar o exame de eletroneuromiografia, nos
moldes constantes nos laudos médicos juntados com a inicial, ficando o processo extinto
com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I do NCPC.

II. DOS FUNDAMENTOS

a) Do cabimento e renovação do pedido de Tutela de Urgência.

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A demanda em tela se enquadra perfeitamente dentro das exigências do


sistema de antecipação de tutela pátrio, nos termos dos arts. 300 e ss. do CPC.
A concessão ou não da tutela de urgência limita-se à discricionariedade do
magistrado na análise da probabilidade do direito e perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo, o que se vislumbra no presente caso.

Percebe-se que o perigo de dano e de resultado útil ao processo estão


presentes considerando que a não obtenção da tutela jurisdicional gera, inegavelmente, o
atraso no tratamento da parte autora e, consequentemente, o agravamento do seu estado
de saúde e a continuidade do estado de extrema vulnerabilidade da cidadã.

Além disso, na petição inicial foi requerida a produção antecipada da prova


pericial e, após esta, a apreciação da tutela de urgência. Porém o próprio Juízo destacou
que “a requisição do exame (ID 103704884 - Pág. 18) se deu por médico integrante do
sistema público de saúde, sendo dispensável a prova pericial requerida”.

Verifica-se jurisprudência que se trata sobre tutela de urgência em casos


semelhantes:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO.


DIREITO À SAÚDE. EXAME. TUTELA ANTECIPADA. DEFERIMENTO.
Para o deferimento da tutela antecipada, deve-se analisar se estão
presentes os seus requisitos autorizadores, previstos no art. 300 do CPC,
quais sejam, a probabilidade do direito, bem como o perigo de dano ou
risco ao resultado útil do processo.Hipótese em que a necessidade e
urgência da realização do exame restou demonstrada, bem como a
impossibilidade de o agravante arcar com o custo daquele . AGRAVO
DE INSTRUMENTO PROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 70081424137,
Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Newton Luís
Medeiros Fabrício, Julgado em: 23-10-2019). (TJ-RS - AI: 70081424137 RS,
Relator: Newton Luís Medeiros Fabrício, Data de Julgamento: 23/10/2019,
Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: 25/10/2019). [g.n]

Portanto, diante da urgência do caso resulta-se indispensável a concessão


da tutela de urgência para que seja efetivado o bloqueio de valores suficientes para
realização do procedimento de forma particular, diante da informação da Secretaria Estadual
de Saúde no Ofício n. 3246/2019/GAB/SESAU, consistente na ausência de disponibilização
do exame de ENMG pelo SUS em Roraima.

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b) Da responsabilidade solidária dos entes federativos nas demandas prestacionais


na área da saúde.

Em suas razões de reforma, a União Federal alegou que cabe ao Estado


e, eventualmente, ao Município o fornecimento da realização do exame solicitado, sendo
ilegítima a inclusão do ente no polo passivo da presente demanda.

Ainda, ressaltou que, ainda que fosse responsabilidade somente de algum


ente do SUS, e descreveu com as seguintes palavras que: “é importante pontuar que a
obrigação da União em relação aos procedimentos de internação, cirurgia e exame cinge-se
ao co-financiamento de seu custo” (ID 498539867).

Palavras no qual observamos que foram retiradas do artigo publicado no


site Jus.com.br no ano de 2016, no qual abordava com o tema “Judicialização da saúde: a
qual ente público cabe o cumprimento de decisões judiciais referentes ao aspecto
prestacional do serviço público de saúde?”. 1

Corroborando com isto, conforme o próprio artigo publicado por Marcelo


Santos Correa, é elucidado em seu teor que sim, a União tem o papel de fazer os repasses
de valores e o cofinanciamento para o Estado, mas isso não retira também como é cediço, a
responsabilidade solidária dos entes federativos nas demandas prestacionais na área da
saúde que decorrem da própria Constituição Federal, que determina que a saúde é direito
de todos e dever do Estado.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 22, II, estatui ser competência
comum dos Entes da Federação “cuidar da saúde e assistência pública”. Nesse sentido,
obriga-se sim o Estado, em todas as esferas de governo, a assegurar a todos,
principalmente às pessoas desprovidas de recursos financeiros, o amplo acesso a
tratamento médico necessário para a cura de suas enfermidades.

Sobre o assunto, a jurisprudência é firme no sentido de que o fornecimento


gratuito de tratamentos e medicamentos ou realização de exames necessários à saúde de
pessoas hipossuficientes é obrigação solidária de todos os entes federativos, podendo ser

1
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/48899/judicializacao-da-saude-a-qual-ente-publico-cabe-o-
cumprimento-de-decisoes-judiciais-referentes-ao-aspecto-prestacional-do-servico-publico-desaude#:
~:text=Portanto%2C%20%C3%A9%20o%20ente%20municipal,ou%20n%C3%A3o%20fazer%20determinado
%20procedimento.>. Acesso em: 06 de maio de 2021.
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pleiteado em face de qualquer um deles, sendo que a repartição administrativa de


competência em nada interfere em tal premissa, veja-se:

RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


DIREITO À SAÚDE. TRATAMENTO MÉDICO. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERADOS. REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. REAFIRMAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. O tratamento
médico adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres do Estado,
porquanto responsabilidade solidária dos entes federados. O polo passivo
pode ser composto por qualquer um deles, isoladamente, ou conjuntamente.
(RE 855178 RG, Relator(a): Min. LUIZ FUX, julgado em 05/03/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-050
DIVULG 13-03-2015 PUBLIC 16-03-2015). [g.n]

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


DIREITO À SAÚDE. GARANTIA CONSTITUCIONAL. REALIZAÇÃO DE
EXAMES. PRINCÍPIO DA CO-GESTÃO. MANUTENÇÃO DA DECISÃO
AGRAVADA. Existindo nos autos os requisitos autorizadores da concessão
da tutela antecipada previstos no art. 273 do CPC, deve ser mantida a
decisão que deferiu a medida liminar. É dever do Poder Público, em
quaisquer de suas esferas de atuação, assegurar a todos os cidadãos,
indistintamente, o direito à saúde, à vida (art. 198, I, da CF/88). A saúde
constitui um direito de todos os indivíduos e um dever do Estado, a
quem compete implementar políticas sociais e econômicas visando ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação, em conformidade com o disposto pelos
artigos 6º e 196, da Constituição Federal. (TJ-MG - AI:
10647150102679001 MG, Relator: Belizário de Lacerda, Data de
Julgamento: 29/03/2016, Data de Publicação: 05/04/2016). [g.n]

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO À SAÚDE. FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTOS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DOS ENTES
FEDERATIVOS. É assente a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça no sentido de que o funcionamento do Sistema Único de Saúde
- SUS é de responsabilidade solidária da União, dos Estados e dos
Municípios, de forma que qualquer deles ostenta legitimidade para
figurar no polo passivo de demanda que objetive o acesso a
medicamentos. Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no AREsp:
526775 SC 2014/0135846-0, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data
de Julgamento: 21/10/2014, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação:
DJe 29/10/2014). [g.n]

Assim, resta patente a responsabilidade solidária dos entes


federados em custear o procedimento ora pleiteado, sendo certo que a repartição

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administrativa, decorrente da Lei n. 8.080/1990 não tem o condão de restringir essa


responsabilidade.

Diante do exposto, é notório que cabe a qualquer ente, por isso não
há qualquer, por exemplo, ILEGITIMIDADE em função do Município de Boa Vista. O
próprio documento de ID 492915346, expõe que o artigo 23 da CF/88 afirma que constitui
competência comum da União Federal, dos Estados e dos Municípios cuidar da saúde
(inciso II), competindo aos mesmos legislar concorrentemente sobre a defesa da saúde
(artigo 24, inciso XII).

Quanto a afirmativa no ID 498539867 (Pág. 8), que descreve que: “não se


vislumbra a urgência necessária para que a parte demandada salte na fila de espera”,
destacamos que a parte autora não pode esperar a boa vontade do Administrador Público
para que o Estado faça o referido exame ou volte a firmar contratos com prestadores de
serviços, pois corre o risco iminente de agravar a situação ortopédica do seus joelhos,
diante da não realização da cirurgia.

Perder o movimentos ou suprimir os membros inferiores que são


responsáveis por pela locomoção do ser humano é visto como critério de urgência por toda
comunidade médica, e conforme com o Instituto Trata “há perda funcional significativa 
quando não realizada a cirurgia quando essa é solicitada”, que é o caso da requerente.

Diante do exposto, resta claro que inexiste controvérsia acerca da


obrigatoriedade de disponibilização gratuita do procedimento no âmbito do Sistema Único de
Saúde. E, diante da ineficiência estatal na prestação do serviço de saúde adequado, faz-se
necessária a atuação do Poder Judiciário para garantir à autora o exercício de seu direito.

III. DO PEDIDO

Ante o exposto, requer que sejam apreciadas as Contrarrazões ao recurso


de Apelação e requer-se o total desprovimento dos recursos interpostos pela União Federal,
pelo Estado de Roraima e pelo Município de Boa Vista mantendo-se integralmente a
sentença recorrida.

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Boa Vista/RR, 06 de maio de 2021.

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NATHÁLIA KAROLINE GOMES RODRIGUES


Estagiária da Defensoria Pública da União

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