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PREFEITURA MUNICIPAL DA SERRA

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO


PROCURADORIA GERAL

AO MM. JUÍZO 1ª. VARA DA INFANCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DA


SERRA - SERRA/ES.

Direcionamento do ônus –
Súmula 793 STF.
Perda do Objeto.
Internação realizada.

Processo n.º 5030433-50.2023.8.08.0048

MUNICÍPIO DE SERRA, pessoa jurídica de direito público


interno, inscrito no CNPJ sob o nº 27.174.093-0001-27, com
sede na Praça Dr. Pedro Feu Rosa, nº 01, Centro, Serra/ES,
neste ato representado por seu Procurador Municipal,
RICARDO MAULAZ DE MACEDO, OAB/ES 9.198, com endereço para
intimações e notificações na Procuradoria Municipal de
Serra, localizada na Rua Maestro Antônio Cícero, nº 239,
Centro, Serra/ES, 29176-100, vem à presença de Vossa
Excelência apresentar

CONTESTAÇÃO

à AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS


DE TUTELA proposta por ANA ALICE RANGEL LIMA (DN 18/08/2015), neste
ato representada por genitora PATRÍCIA ELESBÃO RANGEL, já
qualificadas, em desfavor do ESTADO DO ESPÍRITO SANTO e MUNICÍPIO
DA SERRA/ES, consoante os fatos e fundamentos que passa a expor:

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RESUMO DOS FATOS

Trata-se Ação de Obrigação de Fazer com pedido de concessão


de tutela de urgência ajuizada no intuito de alcançar ordem
judicial que determine aos Réus “o fornecimento de
atendimento/acompanhamento/tratamento com o médico
especialista em CIRURGIA OFTALMOLÓGICA.

Alega que o pleito se faz necessário em decorrência dos


motivos expostos na petição inicial.

A tutela de urgência foi deferida, determinando a


realização de:

“o IMEDIATO FORNECIMENTO de
atendimento/acompanhamento/tratamento com
médico especialista em CIRURGIA OFTALMOLÓGICA,
em benefício da autora, ANA ALICE RANGEL LIMA”

Assim, conforme informado à fl. 46, o atendimento requerido


foi devidamente providenciado pelo Estado do Espírito
Santo, ente competente para tanto, nos termos da Lei
8.080/90.

Destarte, data máxima venia, qualquer ônus e comando nesse


contexto deve ser direcionado ao Estado do Espírito Santo,
conforme os Enunciados das Jornadas de Direito da Saúde,
promovidas pelo Conselho Nacional de Justiça e o TEMA 793
do STF (Repercussão Geral), abaixo colacionado:

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Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO
EXTRAORDINÁRIO COM REPERCUSSÃO GERAL
RECONHECIDA. AUSÊNCIA DE OMISSÃO, CONTRADIÇÃO
OU OBSCURIDADE. DESENVOLVIMENTO DO PROCEDENTE.
POSSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE DE SOLIDÁRIA
NAS DEMANDAS PRESTACIONAIS NA ÁREA DA SAÚDE.
DESPROVIMENTO DOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. 1. É
da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
que o tratamento médico adequado aos
necessitados se insere no rol dos deveres do
Estado, porquanto responsabilidade solidária
dos entes federados. O polo passivo pode ser
composto por qualquer um deles, isoladamente,
ou conjuntamente. 2. A fim de otimizar a
compensação entre os entes federados, compete à
autoridade judicial, diante dos critérios
constitucionais de descentralização e
hierarquização, direcionar, caso a caso, o
cumprimento conforme as regras de repartição de
competências e determinar o ressarcimento a
quem suportou o ônus financeiro. 3. As ações
que demandem fornecimento de medicamentos sem
registro na ANVISA deverão necessariamente ser
propostas em face da União. Precedente
específico: RE 657.718, Rel. Min. Alexandre de
Moraes. 4. Embargos de declaração desprovidos.
(RE 855178 ED, Relator(a): LUIZ FUX, Relator(a)
p/ Acórdão: EDSON FACHIN, Tribunal Pleno,
julgado em 23/05/2019, PROCESSO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-090 DIVULG 15-
04-2020 PUBLIC 16-04-2020)

Enfim, apesar da perda do objeto e de inexistir motivos


para o ajuizamento da Ação em face deste Município, o que
não passa de praxe jurídica, tendo sido citado para
apresentar contestação, impugna os argumentos autorais
pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos.

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DAS PRELIMINARES

AUSÊNCIA DE PRETENSÃO RESISTIDA EM RELAÇÃO AO MUNICÍPIO DA


SERRA – AUTOR INCLUÍDO NA REGULAÇÃO – COMPETÊNCIA DO ESTADO
PARA DISPONIBILIZAÇÃO DE LEITO/INTERNAÇÃO

Vale registrar que não existe qualquer pretensão resistida


que justifique o pleito autoral em relação às competências
municipais no âmbito da saúde pública.

Destaque-se que, apesar da responsabilidade solidária, a


repartição de competências é entendimento pacificado por
nossa Corte Suprema.

Tendo isso em vista, cabe ao Estado atuar no presente caso,


razão pela qual o ente estatal providenciou e comprovou a
realização da consulta pleiteada pela autora, não
remanescendo razões para o Município figurar no polo
passivo da demanda.

Ademais, o entendimento não poderia ser outro, pois,


direcionar a responsabilidade ao Ente devido, não traz
prejuízo algum ao cidadão.

A regra é que os pleitos sejam incluídos no sistema de


regulação e atendidos dentro dos critérios de organização e
da disponibilidade.

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Destarte, a desnecessária e precipitada inclusão de todos


os Entes federativos no polo passivo da lide, apenas causa
uma movimentação desnecessária de toda máquina pública.
Além de prejuízos aos cofres dos entes não detentores da
competência para o objeto da lide, eis que acabam tendo que
arcar com custos para a defesa, e por diversas vezes, ônus
sucumbenciais (custas e honorários).

Enfim, é clara a inexistência de interesse processual da


parte Autora em relação ao Município da Serra. Assim,
requer a extinção do feito sem resolução do mérito em
relação a este Município.

DO MÉRITO

ad argumentandum, caso este juízo entenda de forma diversa


a questão acima tratada, passa-se a análise do mérito.

DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE URGÊNCIA CAPAZ DE SUBVERTER A


FILA DO SUS

Nobre julgador, tem-se ainda o fato de que a documentação


acostada pela parte Autora é incapaz de demonstrar
existência de urgência capaz de subverter a fila do SUS.

A existência de laudos médicos devidamente fundamentados e


capazes de demonstrar de forma inequívoca a urgência do
procedimento ou da providência é requisito essencial,
conforme jurisprudência oriunda de recente julgado das

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câmaras cíveis reunidas deste Estado:

EMENTA MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO À SAÚDE.


DIREITO CONSTITUCIONAL. NECESSIDADE DE
CIRÚRGIA. URGÊNCIA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO.
BURLA A FILA DO SUS. AUSÊNCIA DE DIREITO
LÍQUIDO E CERTO. SEGURANÇA DENEGADA.

1. É cediço que o Estado tem o dever de


assegurar a todos, indistintamente, o direito à
saúde, promovendo ações e serviços que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos,
nos termos do artigo 196 da Constituição
Federal.

2. Não obstante o dever constitucional do


Estado, tenho que, na presente hipótese, não
restou demonstrada a urgência necessária para a
determinação de realização imediata do
procedimento cirúrgico em detrimento dos demais
cidadãos que aguardam na lista de espera do
SUS.

3. Diante da ausência de laudo médico atestando


a urgência de realização da cirurgia, a
determinação judicial para que o Estado
disponibilize em favor Impetrante o tratamento
cirúrgico, representaria, em linhas
transversas, verdadeira burla à fila de espera
disponibilizada pelo SUS e ofensa ao Princípio
da Isonomia, beneficiando aquele que recorre ao
Poder Judiciário para realização de
procedimento cirúrgico sem qualquer caráter
emergencial, em detrimento dos demais cidadãos
que aguardam na fila do SUS.

4. Segurança denegada.
ACÓRDÃO VISTOS , relatados e discutidos estes
autos ACORDAM os Desembargadores do egrégio
Tribunal Pleno, nos termos da ata e notas
taquigráficas da sessão, à unanimidade, denegar
a segurança, nos termos do voto do Relator.
Vitória (ES), em ____ de ______________ de
2018. PRESIDENTE RELATOR

(TJES, Classe: Mandado de Segurança,


100180015719, Relator : ARTHUR JOSÉ NEIVA DE
ALMEIDA, Órgão julgador: SEGUNDO GRUPO CÂMARAS
CÍVEIS REUNIDAS, Data de Julgamento:
12/09/2018, Data da Publicação no Diário:
18/09/2018)

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Veja-se que a parte Autora teve seu pleito incluído na


regulação, disponibilizado e realizado pelo SUS de acordo
com os critérios de urgência que garantem o funcionamento e
organização do sistema.

A verdade é que diversas pessoas tem buscado no judiciário


a subversão da fila do SUS, burlando os critérios para se
sobrepor a urgência e necessidade de outros cidadãos, como
no caso em tela.

Porém, tal conduta não pode ser permitida.

Assim, novamente resta demonstrado que o pleito Autoral não


merece procedência.

DA SOLIDARIEDADE DOS ENTES PÚBLICOS NÃO SER REGRA ABSOLUTA

No presente momento, destaca-se o fato de que no Direito


Brasileiro inexiste lei ou princípio absoluto, devendo os
comandos e princípios ser interpretados e aplicados de
acordo com o caso concreto, aplicando as técnicas de
solução de conflitos de normas e ponderadoras de
princípios.

Destarte, apesar de a garantia a saúde dos cidadãos,


prevista na constituição de 1988, ser direcionada a todos
os Entes Federativos, a solidariedade dos entes não é
absoluta e isenta de normas reguladoras, necessárias,
inclusive, para preservação do erário, organização pública
e alcance da melhor eficiência.

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Diante do já exposto, merece ênfase a Lei Federal 8.080/90,


que proporciona organização ao sistema de saúde público,
definindo a competência de cada Ente e distribuindo
responsabilidades de acordo com a capacidade financeira de
cada um deles.

A Lei 8.080/90 é de imprescindível importância e deve ser


observada e aplicada, pois evita o colapso financeiro e
funcional do SUS e dos Entes com menor poder econômico.
Pois graças a Lei 8.080/90, os Entes têm incontroversas
suas responsabilidades, não podendo furtar-se as mesmas,
atribuindo-as aos demais entes públicos.

Afirma-se, a Lei supra é cristalina quanto à


responsabilidade dos Municípios nos limites de sua
competência, qual seja: manutenção da saúde básica, ex
positis:
Art. 30. Compete aos Municípios:

VII - prestar, com a cooperação técnica e


financeira da União e do Estado, serviços de
atendimento à saúde da população; (grifo
nosso).

Na disponibilização de consulta com especialidade


oftalmológica, como é o presente caso, a competência é
atribuída ao Estado por expressa dicção da Lei 8080/90.

Destaca-se que o entendimento aqui trazido também é


uníssono aos sustentados pelos Enunciados das Jornadas de

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Direito da Saúde, promovidas pelo Conselho Nacional de


Justiça, que definem que a repartição de competência entre
os gestores do SUS, deve ser observada sempre que possível,
vejamos:

ENUNCIADO N.º 8
Nas condenações judiciais sobre ações e
serviços de saúde devem ser observadas, quando
possível, as regras administrativas de
repartição de competência entre os gestores.

ENUNCIADO N.º 60
60 – Saúde Pública - A responsabilidade
solidária dos entes da Federação não impede que
o Juízo, ao deferir medida liminar ou
definitiva, direcione inicialmente o seu
cumprimento a um determinado ente, conforme as
regras administrativas de repartição de
competências, sem prejuízo do redirecionamento
em caso de descumprimento.

Por fim, deve-se destacar que em caso de procedência, o


direcionamento dos ônus ao ente detentor da competência na
forma da Lei 8.080/90, não causa qualquer prejuízo a parte
Autora, doutro viés, como destacado, preserva a organização
do SUS e financeira de cada ente, em especial do Município,
detentor do menor poder econômico entre os litisconsortes
passivos desta demanda.

Nesse sentido, pugna pela improcedência da Ação,


especialmente em face deste Município. Porém, caso o h.
juízo entenda pela procedência e pela responsabilidade do
ente municipal, que esta seja subsidiária, direcionando os
ônus da sentença ao Ente detentor da competência, no caso o
Estado, por todos os motivos já expostos.

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DO NECESSÁRIO DIRECIONAMENTO DOS EFEITOS DA SENTENÇA EM


CASO DE PROCEDÊNCIA DA DEMANDA

Por fim, apesar de entender que inexiste razão ao pleito


autoral, vale destacar que, caso o h. juízo entenda de
forma diversa, se faz necessário o direcionamento do
respectivo ônus ao ente devidamente competente.

O dever de direcionamento do ônus da obrigação no âmbito da


saúde é tema do STF (TEMA 793), tamanha sua importância
para a organização estatal no âmbito da saúde, sendo a tese
firmada nos seguintes te9rmos:

“Os entes da federação, em decorrência da


competência comum, são solidariamente
responsáveis nas demandas prestacionais na
área da saúde, e diante dos critérios
constitucionais de descentralização e
hierarquização, compete à autoridade
judicial direcionar o cumprimento conforme
as regras de repartição de competências e
determinar o ressarcimento a quem suportou
o ônus financeiro”.

O fornecimento de atendimento clinico especializado em


oftalmologia, como no presente caso, a competência é
atribuída ao Estado por expressa dicção da lei 8080/90.
Assim, caso entenda pela procedência da ação, o que não se
espera, requer o direcionamento da tutela de urgência ao
Ente legalmente competente.

DOS PEDIDOS

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Ante o exposto, requer:

1) O acolhimento da preliminar com a consequente


extinção do processo sem resolução de mérito em
relação ao Município de Serra;

2) Seja julgada improcedente a demanda, especialmente em


face deste Município, eis que o direito não assiste
ao Autor, inexistindo urgência ou emergência capazes
de subverter a fila do SUS;

3) Caso o Juízo entenda pela procedência da ação, pugna


seja o ônus direcionado ao ESTADO, tudo na forma
determinada pelo TEMA 793 do STF em consonância com a
Lei 8.080/90, a fim de se preservar a estrutura
organizacional do SUS;

4) Requer, ainda, a produção provas por todos os meios


em direito admitidos, especialmente documental
complementar, testemunhal, depoimento pessoal sob
pena de confissão e pericial.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Serra/ES, 19 de dezembro de 2023.

Ricardo Maulaz de Macedo


Procurador Municipal
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